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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL - ABUSO DE AUTORIDADE - AULA I

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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL – ABUSO DE AUTORIDADE 
PROFESSORES: RENATO BRASILEIRO (G7) 
AULA I – DATA: 13.08.2020 
 
 
LEI 4898/65 atual Lei 13.869/2019 
 
1. NOÇÕES INTRODUTÓRIAS ACERCA DA ORIGEM DA NOVA LEI 
DE ABUSO DE AUTORIDADE - A origem da Lei de Abuso de Autoridade 
está diretamente relacionada com os desdobramentos da Operação Lava 
Jato. Para muitos integrantes do Congresso Nacional seria necessário 
algum instrumento legal para frear o ímpeto da Polícia; do Ministério 
Público e do Judiciário. 
 
- Por mais que seja verdadeiro o fato de que o Congresso Nacional tenha 
aprovado a lei com a intenção de inibir a atividade persecutória do 
Estado, também é verdade que a antiga Lei de Abuso de Autoridade já 
estava ultrapassada (Lei nº 4898/95), tanto que a única pena privativa 
de liberdade contida na lei era a de 10 dias a 6 meses, contida no Art. 
6º. Daí se concluir que todos os crimes previstos na lei revogada eram 
de competência do Juizado Especial Criminal (JECRIM), já que se 
enquadravam na categoria de infrações de menor potencial ofensivo. 
 
- O maior problema da Lei de Abuso de Autoridade era em matéria de 
prescrição, já que uma pena como a do Art. 6º tinha prazo prescricional 
de 03 anos. 
 
RENATO BRASILEIRO: a despeito da já citada motivação do Congresso 
Nacional para aprovar a nova lei, deve-se reconhecer que esta foi 
editada em boa hora, visto que contribui para a diminuição de muitas 
condutas indesejáveis, como aqueles que espetacularizam o Processo 
Penal (ex.: exposição desnecessária do preso pelo policial ou promotor). 
 
 
 
2. BEM JURÍDICO TUTELADO 
 
- A doutrina sugere que estamos diante de um crime pluriofensivo, ou 
seja, tutela mais de um bem jurídico. 
 
- Quando o legislador criminaliza determinadas condutas como a 
decretação de uma medida privativa liberdade em manifesta 
desconformidade ou a demora demasiada para análise de processo em 
órgão colegiado, fica claro para a doutrina que se tratam de crimes 
pluriofensivos, isto é, que tutelam mais de um bem jurídico. Como 
regra, o primeiro bem jurídico tutelado sempre será o dever de 
probidade do agente público; já o segundo depende do tipo penal objeto 
de análise. 
 
• Bens jurídicos tutelados: 
 
(i) Dever de lealdade/probidade do agente público: quem exerce uma 
função pública tem a obrigação de respeitar princípios basilares como a 
legalidade, a moralidade, a publicidade e a eficiência. 
 
(ii) Liberdade de locomoção: Art. 9º - Juiz deixa de relaxar prisão 
ilegal / Art. 10º - Juiz decreta condução coercitiva manifestamente 
descabida; 
 
(iii) honra objetiva/subjetiva do agente: (Art. 13, I e II – Preso 
constrangido a exibir ou ter parte do seu corpo exibido a curiosidade 
pública); liberdade individual; assistência de advogado, dentre outros. 
 
(iv) liberdade individual 
 
(v) assistência de advogado 
 
 
 
 
Abuso de Autoridade: 
 O ato de abuso de autoridade enseja tríplice responsabilização: 
administrativa, penal e civil. Não é diploma exclusivamente penal, pois 
trata destas três esferas. 
 O artigo 6º, da Lei diz que as penas previstas nesta Lei serão 
aplicadas independentemente das sanções de natureza civil ou 
administrativa cabíveis. 
 
O direito de representação e o processo de responsabilidade 
administrativa, civil e penal contra as autoridades que, no exercício 
de suas funções, cometerem abusos, são regulados pela presente lei. 
 
Art. 6º: As penas previstas nesta Lei serão aplicadas 
independentemente das sanções de natureza civil ou administrativa 
cabíveis. Parágrafo único. As notícias de crimes previstos nesta Lei que 
descreverem falta funcional serão informadas à autoridade competente 
com vistas à apuração. 
Art. 7º: As responsabilidades civil e administrativa são 
independentes da criminal, não se podendo mais questionar sobre a 
existência ou a autoria do fato quando essas questões tenham sido 
decididas no juízo criminal. 
 
3. ELEMENTO SUBJETIVO ESPECIAL DOS CRIMES DE ABUSO DE 
AUTORIDADE: artigo 1º, parágrafo primeiro. 
 
§1º As condutas descritas nesta Lei constituem crime de abuso de 
autoridade quando praticadas pelo agente com a finalidade específica de 
prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por 
mero capricho ou satisfação pessoal (dolo específico) 
 
Elemento subjetivo geral do tipo: dolo genérico. 
 
 
Elemento subjetivo especial do tipo: dolo específico (especial fim de 
agir). Este elemento deverá estar presente em todos os crimes de abuso 
de autoridade. - O Art. 1º, §1º tem natureza de norma geral, aplicando-
se, como regra, a todos os crimes previstos na lei. 
 
- Para sua configuração, os crimes da Lei de Abuso de Autoridade 
devem contar com a presença não só do elemento subjetivo geral do tipo 
- elemento este que a doutrina clássica denominava de dolo genérico -, 
mas também do elemento subjetivo especial do tipo – chamado de dolo 
específico ou especial fim de agir pela mesma doutrina. 
 
Exemplo (furto): 
• Elemento subjetivo geral = dolo (vontade/consciência) de subtrair. 
• Elemento subjetivo especial/especial fim de agir = para si ou para 
outrem. 
 
Elemento Subjetivo: 
 O crime de abuso de autoridade somente é punido na forma 
dolosa. Não existe abuso de autoridade culposo. 
 Entretanto, além do dolo, é necessário ainda a finalidade 
específica acima mencionada. Significa dizer que se a autoridade, na 
justa intenção de cumprir o seu dever e proteger o interesse público, 
acaba por cometer algum excesso (excesso culposo), o ato é ilegal, mas 
não há crime de abuso de autoridade, pois faltou a intenção específica. 
A lei pune condutas deliberadamente abusivas, condutas com propósito 
claro de abusar. 
 
LEMBRE-SE: ainda que o dolo geral continue presente, a ausência do 
elemento subjetivo especial implica na atipicidade do crime. 
Exemplo: o promotor que deixa transcorrer o prazo de 15 dias e não 
oferece denúncia em caso de réu solto, não responderá pelo crime de 
prevaricação, uma vez que, a princípio, não há no caso concreto 
presença de nenhum elemento subjetivo especial. E, como o juízo 
 
 
acerca do elemento subjetivo especial está inserido no tipo da 
prevaricação (“para satisfazer interesse ou sentimento pessoal”). 
 
RENATO BRASILEIRO: o estudo acerca da necessidade de elemento 
subjetivo especial para a tipificação dos crimes da lei de abuso de 
autoridade revela que ela não é tão rigorosa quanto a mídia propaga. 
Assim, um juiz não será automaticamente denunciado porque decretou 
uma prisão e esta foi cassada pelo Tribunal logo em seguida. Há de se 
verificar neste caso se o especial fim de agir qualificado na lei está 
presente para que seja possível acusar e condenar. 
 
• Elementos subjetivos especiais do Art. 1º, §1º: 
(i) “prejudicar outrem”: o termo contém uma amplitude semântica 
muito grande, ainda mais se considerarmos que a prisão de uma pessoa 
ou a instauração de inquérito para investigá-la quase sempre implica 
prejuízo a ela. Por esta razão, a doutrina tem entendido que esse 
especial fim de agir qualificado deve se referir a um prejuízo que 
transcenda o exercício regular das funções do agente. Não basta, 
portanto, argumentar que a prisão é o prejuízo em si mesmo, mas sim 
que a sua decretação buscou prejudicar o indivíduo de outras formas. 
Exemplo: juiz que manda prender um rival político; delegado instaura 
inquérito contra o síndico do seu condomínio, pois possuem 
desavenças. 
 
(ii) “beneficiar a si mesmo ou a terceiro”: vale a mesma observação 
feita para o item anterior. O benefício deve ser interpretado como 
qualquer vantagem que o indivíduo possa obter, seja ela de ordem 
material; moral ou patrimonial. Exemplo (moral): agente público que 
pratica determinado ato para ganhar visibilidade em sua rede social 
(curtidas). Exemplo (material): agente público que pratica determinado 
ato como objetivo de aferir vantagem financeira. 
 
 
 
RENATO BRASILEIRO: a depender do benefício em questão é 
possível falar em “vantagem indevida”, desde que esta tenha sido 
exigida ou solicitada pelo agente. Neste caso, o indivíduo 
responderá não só pelo crime de previsto na lei de abuso de 
autoridade, mas também pelos crimes de concussão ou corrupção 
passiva, a despender do caso concreto (Arts. 316 e 317 do CP). 
Exemplo (Art. 17): desembargador que pede vista de um processo e 
demora em sua análise com o fim de obter vantagem indevida 
anteriormente solicitada ao réu. 
 
(iii) “por mero capricho ou satisfação pessoal”: segundo a doutrina, o 
capricho pode ser entendido como uma vontade repentina desprovida 
de qualquer justificativa. No tocante a satisfação pessoal, entende-se 
que ela nunca pode ser a causa da conduta, mas sim a consequência. 
 
Observações: 
Lei n. 13.869/19 Art. 29. Prestar informação falsa sobre procedimento 
judicial, policial, fiscal ou administrativo com o fim de prejudicar interesse 
de investigado: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e 
multa. 
 
DOUTRINA: o crime de falsa informação tipificado no Art. 29 utiliza um 
especial fim de agir. Todavia, ao contrário do que ocorre com a regra 
geral do Art. 1º, §1º, o texto do Art. 29 é um pouco mais restrito, 
deixando de mencionar as hipóteses do “beneficiar a si mesmo”; “mero 
capricho” e “satisfação pessoal”. Daí se conclui que o Art. 29, em sua 
parte final, seria uma norma especial quando comparada a regra do 
§1º do Art.1º, já que o seu especial fim de agir estaria restrito ao 
objetivo de “prejudicar o interesse do investigado”. 
- Vale notar que se a conduta tipificada no Art. 29 tivesse como fim de 
agir o benefício do investigado, haveria crime de prevaricação (Art. 319, 
CP). 
 
 
 
Enunciado n. 19 do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais dos 
Ministérios Públicos dos Estados e da União (CNPG) e do Grupo 
Nacional de Coordenadores de Centro de Apoio Criminal 
(GNCCRIM): “O legislador, na tipificação do crime do art. 29 da Lei de 
Abuso de Autoridade, optou por restringir o alcance do tipo, 
pressupondo por parte do agente a finalidade única de prejudicar 
interesse do investigado. Agindo com finalidade de beneficiar, pode 
responder por outro delito, como prevaricação (art. 319 do CP), a 
depender das circunstâncias do caso concreto”. 
 
- O elemento subjetivo especial do injusto previsto no Art. 1º, §1º 
deve constar da peça acusatória sob pena de inépcia/rejeição. Exemplo: 
não basta que o promotor afirme que o juiz demorou na análise de um 
processo em específico. Há de se descrever de forma minuciosa qual foi 
o dolo específico do magistrado no caso. 
 
- O elemento subjetivo especial do injusto deve constar de eventual 
representação/notitia criminis, sob pena da pessoa que acusa a 
outra de abuso de autoridade de denunciação caluniosa. 
 
Enunciado n. 29 do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais dos 
Ministérios Públicos dos Estados e da União (CNPG) e do Grupo 
Nacional de Coordenadores de Centro de Apoio Criminal 
(GNCCRIM): “Representações indevidas por abuso de autoridade 
podem, em tese, caracterizar crime de denunciação caluniosa (CP, art. 
339), dano civil indenizável (CC, art. 953) e, caso o reclamante seja 
agente público, infração disciplinar ou político-administrativa”. 
 
- Todos os crimes de abuso de autoridade podem ser classificados como 
crimes de intenção ou delitos de tendência interna transcendente. 
Tais delitos exigem uma intenção adicional de obter um resultado 
ulterior distinto da realização do tipo penal. 
 
 
 
Ainda dentro da subdivisão dos crimes de intenção, o abuso de 
autoridade pode ser classificado como um delito de resultado cortado, 
cujo tipo penal é marcado pela realização de um ato que visa a 
produção de um resultado. Tal resultado, porém, fica fora do tipo e não 
conta com a intervenção do autor. Exemplo: a extorsão mediante 
sequestro (Art. 159, CP) é um exemplo de delito de resultado cortado, 
pois nela o agente possui uma meta. 
 
Todavia, essa meta não precisa ocorrer para que haja a consumação do 
delito. Ou seja, nos delitos de resultado cortado é necessário que a 
conduta seja praticada com o objetivo de atingir uma finalidade 
específica, mas essa finalidade não precisa acontecer para que o crime 
seja tido como consumado. 
 
Especial fim de agir e dolo eventual: o especial fim de agir não é 
incompatível com a figura do dolo eventual, isto é, com a assunção do 
risco pela produção do resultado pelo agente no momento da prática da 
conduta. Como regra, os crimes de abuso de autoridade podem ser 
punidos tanto a título de dolo direto quanto a título de dolo 
eventual. 
 
Exceções (dolo direto): alguns crimes da Lei de Abuso de Autoridade 
só podem ser punidos a título de dolo direto. Tais são os delitos 
contendo expressões do tipo “que sabe/“que deve saber”. Exemplo 
nesse sentido é o parágrafo único do Art. 19 (“ciente do impedimento”). 
Ao todo, são 03 os tipos penais que admitem punição apenas a 
título de dolo direto: Art. 19, parágrafo único; Art. 25, parágrafo único 
(“com prévio conhecimento da ilicitude”) e Art. 30 (“contra quem sabe 
inocente”). 
 
ATENÇÃO: não há nenhum crime culposo na Lei de Abuso de 
Autoridade. 
 
 
 
4. Vedação do crime de hermenêutica. 
 
- Na condição de agente público, o indivíduo se depara com certos 
problemas cuja solução depende, ora de uma atividade de 
interpretação da norma e ora de uma avaliação de fatos e provas. 
Ocorre, porém, que tanto em um caso quanto no outro há margem para 
o subjetivismo do agente, sobretudo quando a lei possui um grau de 
abertura muito grande do ponto de vista semântico (conceitos jurídicos 
indeterminados, princípios, etc...). Atento a isso o legislador inseriu a 
vedação ao crime de hermenêutica, pois, do contrário, o legislador 
estaria tipificando uma conduta eminentemente subjetiva e, a 
depender do caso, inviabilizando o exercício de determinadas 
funções. Trata-se de norma geral, aplicável a todos os crimes 
contidos na lei. 
 
Exemplo: promotor que tem que decidir se oferece ou não denúncia; se 
aplica ou não o princípio da insignificância no caso (ex.: furto de 
picanha argentina); etc... 
 
Lei n. 13.869/19 Art. 1º. (...) §2º A divergência na interpretação de lei 
ou na avaliação de fatos e provas não configura abuso de autoridade. 
 
JURISPRUDÊNCIA STJ: “(...) AÇÃO PENAL ORIGINÁRIA. ABUSO DE 
AUTORIDADE. ART. 4º, “A”, DA LEI N.º 4.898/65. DESEMBARGADOR. 
DECISÃO JUDICIAL. CONFRONTO COM DECISÃO DE RELATOR DO 
STF. CONDUÇÃO COMPULSÓRIA PARA LAVRATURA DE TERMO 
CIRCUNSTANCIADO. QUESTÕES ATINENTES À ATIVIDADE 
JUDICANTE. ATRIBUTOS DA FUNÇÃO JURISDICIONAL. 1. Faz parte 
da atividade jurisdicional proferir decisões com o vício in judicando e in 
procedendo, razão por que, para a configuração do delito de abuso de 
autoridade há necessidade da demonstração de um mínimo de “má-fé” e 
de “maldade” por parte do julgador, que proferiu a decisão com a 
evidente intenção de causar dano à pessoa. 2. Por essa razão, não se 
 
 
pode acolher denúncia oferecida contra a atuação do magistrado sem a 
configuração mínima do dolo exigido pelo tipo do injusto, que, no caso 
presente, não restou demonstrado na própria descrição da peça inicial 
de acusação para se caracterizar o abuso de autoridade. 3. Ademais, de 
todo o contexto, o que se conclui é que houve uma verdadeira guerra de 
autoridades no plano jurídico, cada qual com suas armas e poderes, 
que, ao final, bem ou mal, conseguiram garantir a proteção das 
instituições e dos seus representantes, não 8 www.g7juridico.com.br 
possibilitando a esta Corte a inferência da prática de conduta 
penalmente relevante. 4. Denúncia rejeitada”. (STJ, Corte Especial, APn 
858/DF, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 24/10/2018, DJe 
21/11/2018)- Nem toda interpretação pode ser incluída na causa de atipicidade 
contida no §2º, mas apenas a interpretação razoável. Se há limitação 
literal ou jurisprudencial. 
 
Exemplo (limitação literal): se a norma possui um grau alto de 
objetividade, não se pode atentar contra a sua literalidade. Assim, não 
se pode considerar a entrada em um domicílio ás 2h da manhã como 
não sendo abuso de autoridade nos termos do Art. 22 sob a justificativa 
de que o intérprete-aplicador considerava o horário como “dia” e não 
como “noite”. 
 
Exemplo (limitação jurisprudencial): quando o intérprete-aplicador 
verificar que não é necessário realizar mais qualquer tipo de 
interpretação, tento em vista que já há uma decisão de caráter 
vinculante dos Tribunais Superiores, e, a despeito disso, realizar 
interpretação contrária, há violação do limite jurisprudencial. Exemplo 
nesse sentido é a o juiz que manda prender o depositário infiel e cuja a 
conduta preenche os demais requisitos legais para a interpretação. 
 
 
 
Enunciado n. 2 do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais dos 
Ministérios Públicos dos Estados e da União (CNPG) e do Grupo 
Nacional de Coordenadores de Centro de Apoio Criminal 
(GNCCRIM): “A divergência na interpretação de lei ou na avaliação de 
fatos e provas, salvo quando teratológica, não configura abuso de 
autoridade, fixando excluído o dolo”. 
 
5. Sujeito ativo e passivo dos crimes de abuso de autoridade. 
 
Sujeito Ativo: É a autoridade pública para fins penais. Portanto, se 
trata de crime funcional; crime praticado por agente público que exerça 
cargo de autoridade. É crime próprio. 
 Quanto ao sujeito ativo, os crimes de abuso de autoridade são 
crimes próprios, dado que há necessidade de o autor da conduta ser um 
agente público. Cabe mencionar, entretanto, que o conceito de agente 
público não será aquele contido no Art. 327 do Código Penal, mas 
extraído da própria Lei de Abuso de Autoridade que o define em seu Art. 
2º. 
 
ATENÇÃO: para que seja possível falar em crime de abuso de 
autoridade, é indispensável apontar a existência de nexo funcional, isto 
é, demonstrar que o agente público praticou a conduta “no exercício 
de suas funções ou a pretexto de exercê-las” (crime propter 
officium). 
 
Exemplo¹.: não há abuso de autoridade se um promotor se desentende 
com um passageiro no aeroporto e, sem mencionar qualquer palavra 
acerca do cargo que ocupa ou fornecer qualquer justificativa, resolve 
prender o outro passageiro em flagrante. 
 
Exemplo².: não há abuso de autoridade quando o policial militar que 
fazia um bico de segurança em um supermercado prende uma pessoa, 
extrapolando um pouco durante o ato de prender. 
 
 
 
Lei n. 13.869/19, Art. 1º Esta Lei define os crimes de abuso de 
autoridade, cometidos por agente público, servidor ou não, que, no 
exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las, abuse do poder 
que lhe tenha sido atribuído. 
 
Lei n. 13.869/19, Art. 2º É sujeito ativo do crime de abuso de 
autoridade qualquer agente público, servidor ou não, da administração 
direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos 
Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e de Território, 
compreendendo, mas não se limitando a: I - servidores públicos e 
militares ou pessoas a eles equiparadas; II - membros do Poder 
Legislativo; III - membros do Poder Executivo; IV - membros do Poder 
Judiciário; V - membros do Ministério Público; VI - membros dos 
tribunais ou conselhos de contas. Parágrafo único. Reputa-se agente 
público, para os efeitos desta Lei, todo aquele que exerce, ainda que 
transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, 
designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou 
vínculo, mandato, cargo, emprego ou função em órgão ou entidade 
abrangidos pelo caput deste artigo. 
 
Funcionário público por equiparação - Se o indivíduo é considerado 
funcionário público para o Código Penal, ele não é considerado agente 
público para fins de aplicação da LAA, pois seria uma analogia in malan 
parten trazer o §1º do Art. 327 do CP, cujo conteúdo o legislador não 
decidiu replicar no Art. 2º da LAA. 
CP, Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, 
quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, 
emprego ou função pública. §1º Equipara-se a funcionário público 
quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem 
trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada 
para a execução de atividade típica da Administração Pública (ex.: 
empregado que trabalha na coleta de lixo). (...) 
 
 
 
5.1. Concurso de agentes públicos com particulares (extraneus). - 
Um particular (= extraneus) pode responder por abuso de autoridade, 
desde que ele atue em conjunto com um agente público e tenha 
consciência da função ocupada por este último. Isso é possível, tendo 
em vista que a qualidade de agente público é uma elementar dos crimes 
de abuso de autoridade. 
 
- Nos termos do Art. 30 do CP, a elementar se comunica ao extraneus. 
LEMBRE-SE: as elementares são dados essenciais da figura típica cuja 
ausência pode produzir uma atipicidade absoluta ou relativa. 
 
Circunstâncias incomunicáveis Art. 30. Não se comunicam as 
circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando 
elementares do crime. 
 
 São autoridades quem exerce cargo, emprego ou função pública 
de natureza civil, ou militar, ainda que transitoriamente e sem 
remuneração, pertencente ou não à administração pública. Esse é o 
mesmo conceito trazido pelo artigo 327, do Código Penal. 
 
- Autoridade pública para fins penais é qualquer pessoa que exerça 
uma função pública gratuita ou remunerada, permanente ou ocasional 
que pertença ou não à administração. 
 
 Não são consideradas autoridades as pessoas que exercem 
munus público (é o encargo imposto pela lei ou pelo juiz para a defesa de 
interesses privados). Exemplo: curador, tutor, inventariante, 
administrador de falência, advogados particulares (segundo o EOAB). 
 
OBS.: Funcionário demitido e/ou exonerado não pode praticar abuso 
de autoridade. 
 
 
 
*** O particular que não exerce nenhuma função pública pode 
cometer abuso de autoridade? Sozinho jamais poderá cometer abuso 
de autoridade, mas se cometer o crime juntamente com um funcionário 
público, sabendo da sua condição, comete sim abuso de autoridade. 
Exemplo: soldado do estádio de futebol está batendo em um torcedor e 
o pipoqueiro também bate. O pipoqueiro responderá junto com o 
soldado pelo crime de abuso de autoridade. 
 
OBS.: O crime pode ser cometido no exercício da função ou em razão 
dela. 
 
Sujeito Passivo: os crimes de abuso de autoridade são crimes de dupla 
subjetividade passiva. Podem ser atingidos tanto o Estado quanto a 
Pessoa Física ou Jurídica*. *Exemplo de crime contra PJ é o do Art. 
36. 
 
Temos o sujeito passivo imediato (principal) e mediato (secundário). 
Sujeito Passivo Imediato ou Principal ou Eventual: É a pessoa física 
ou jurídica que sofre a conduta abusiva. 
 
Sujeito Passivo Mediato ou Secundário: O Estado, pois essa espécie 
de crime sempre significa uma irregular prestação de serviços públicos, 
ou seja, sempre acarreta um prejuízo na prestação dos serviços 
públicos, ou seja, não está representando o Estado corretamente. 
 
- Incapazes e estrangeiros podem ser vítimas de abuso de autoridade; 
enfim, qualquer pessoa física, nacional, estrangeira, capaz, incapaz. 
 
- Se a vítima for criança ou adolescente poderá ocorrer algum crime do 
ECA. 
 
*** Autoridade pública pode ser vítima de abuso de autoridade? 
Sim. Poderá vítima e infratora do crime. 
 
 
 
- Pessoas jurídicas de direito público ou de direito privado podem ser 
vítimas de abuso de autoridade. 
 
- É um crime de dupla subjetividade passiva: Dois sujeitos passivos. 
 
Objeto Jurídico:Se dividem em dois. 
Objeto Jurídico Principal ou Imediato: É a proteção dos direitos e 
garantias individuais e coletivos das pessoas físicas e jurídicas. 
Objeto Jurídico Secundário ou Mediato: É a normal e regular 
prestação dos serviços públicos. 
OBS.: Crime de dupla objetividade jurídica. 
 
6. Competência criminal para o processo e julgamento dos crimes 
de abuso de autoridade. 
Regra: pelo menos em regra, o abuso de autoridade será julgado em 1ª 
instância. Exceção: é possível que o abuso de autoridade seja praticado 
por uma autoridade detentora de foro, de modo que, neste caso, haverá 
competência originária dos Tribunais. Para isso, contudo, é preciso 
demonstrar que o crime foi praticado durante o exercício da função 
detentora de foro e em razão dela (regra da contemporaneidade). 
 
JUSTIÇA COMPETENTE: 
Regra: Justiça Estadual. Exceções: (i) Justiça Federal quando 
praticado por funcionário público federal (ex.: abuso cometido por 
delegado da policia federal, ou ainda, abuso praticado na qualidade de 
crime comum (estadual), mas em conexão/continência com um crime 
federal. (ii) Justiça Militar Súmula n. 172 do STJ: “Compete à Justiça 
Comum processar e julgar militar por crime de abuso de autoridade, 
ainda que praticado em serviço”. - Quando foi editada a súmula seguia a 
lógica de que o abuso de autoridade a época era crime comum, 
porquanto não estava previsto no Código Penal Militar. Além disso, 
neste período, a Justiça Militar só estava autorizada a julgar os crimes 
 
 
previstos no CPM. - A Lei 13491/17 alterou a competência da Justiça 
Militar, operando-se a superação do entendimento contido na Súmula 
172 do STJ (overruling – está lei está superada tendo em vista o advento 
da lei acima citada). 
 
CPM, Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: (...) 
II – os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação 
penal, quando praticados: (Redação dada pela Lei n. 13.491/17) (...) 
c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de 
natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à 
administração militar contra militar da reserva, ou reformado, ou civil; 
- Os crimes da legislação penal a que se refere o Art. 9º, II do CPM 
devem ser praticados em um dos contextos mencionados nas alíneas do 
inciso II para que seja considerados crimes militares. Exemplo: um 
Policial Militar que prende uma pessoa e a coloca em frente ao logo do 
batalhão para que possa filmá-la e ganhar visibilidade nas redes sociais 
pela prisão realizada será processado pelo crime do Art. 13, I da Lei 
13.869/19 c/c Art. 9º, II, (c) do CPM. 
 
*** E a Justiça Eleitoral? Segundo o STF, a Justiça Eleitoral tem uma 
força atrativa quase que universal, o que a autoriza a trazer para si, 
inclusive, crimes que são da competência da Justiça Federal. 
 
7. Ação penal nos crimes de abuso de autoridade. 
- O Art. 3º basicamente reproduz o que o próprio Código Penal já diz, 
motivo pelo qual muitos o consideram desnecessário. 
 
Lei n. 13.869/19, Art. 3º Os crimes previstos nesta Lei são de ação 
penal pública incondicionada. § 1º Será admitida ação privada se a 
ação penal pública não for intentada no prazo legal, cabendo ao 
Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia 
substitutiva, intervir em todos os termos do processo, fornecer 
elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de 
 
 
negligência do querelante, retomar a ação como parte principal. § 2º A 
ação privada subsidiária será exercida no prazo de 6 (seis) meses, 
contado da data em que se esgotar o prazo para oferecimento da 
denúncia. 
 
Condutas: Ação e omissão. 
 
Consumação e Tentativa: 
 Os crimes de abuso de autoridade não admitem tentativa, haja 
vista que a lei já pune o simples atentado como crime consumado – São 
os denominados crime de atentado (o atentado já configura 
consumação). 
 A consumação se dá com a prática de quaisquer das condutas 
previstas nos tipos penais. 
 
*** Crime de abuso de autoridade praticado por funcionário público 
federal: Justiça Federal. Nucci acha que é a justiça comum estadual. 
 
O STJ no HC 102.049 entendeu que a simples condição funcional de 
servidor federal não justifica a competência da justiça federal se não 
foram comprometidos bens, serviços e interesses da União. 
 
*** Crime de abuso de autoridade praticado contra funcionário 
público federal: Justiça Federal. 
 
Importantíssimo: Não revogação do artigo 350 do Código Penal: 
 Todos os doutrinadores dizem que o artigo 350 do CP que fala do 
exercício arbitrário e do abuso de poder está totalmente revogado pela 
Lei de Abuso de Autoridade. Entretanto, o STJ diz que esse artigo não 
está totalmente revogado, haja vista que continua em vigor o artigo 350, 
parágrafo único, inciso IV. HC 65499/STJ, julgado em 27.03.2008. HC 
48083/MG. 
 
 
Ementa - HABEAS CORPUS. PENAL E PROCESSO PENAL. "OPERAÇÃO 
ANACONDA". JUIZ FEDERAL. CONDENAÇÃO. ART. 350, PARÁGRAFO 
ÚNICO, INCISO IV (ABUSO DE PODER), E ART. 314 (EXTRAVIO, 
SONEGAÇÃO OU INUTILIZAÇÃO DE LIVRO OU DOCUMENTO), AMBOS DO 
CÓDIGO PENAL. ATIPICIDADE PENAL NÃO CONFIGURADA. REEXAME DO 
MATERIAL FÁTICO-PROBATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE. 1. A Lei n.º 
4.898/65 não trouxe dispositivo expresso para revogar o crime de abuso de 
poder insculpido no Código Penal. Assim, nos termos do art. 2.º, §§ 1.º e 2.º, 
da Lei de Introdução ao Código Civil, aquilo que não for contrário ou 
incompatível com a lei nova, permanece em pleno vigor, como é o caso do 
inciso IV do parágrafo único do art. 350 do Código Penal. 2. O Réu, na 
condição de Juiz Federal, agiu com abuso de poder, determinando a 
inutilização de provas relevantes para a investigação criminal em andamento. 
Essa conclusão a que chegou a instância ordinária, soberana na análise do 
material fático-probatório, é insuscetível de revisão por este Superior Tribunal 
de Justiça na estreita via do habeas corpus em que, como se sabe, não se 
admite dilação probatória. 3. O verbete "documento", por certo, não está 
restrito à idéia de escrito, como em tempos passados. Fitas cassetes, que 
continham gravações oriundas de monitoramento telefônico em investigação 
criminal, se enquadram na concepção de "documento"para fins da tipificação 
do crime do art. 314 do Código Penal. Ausência de ofensa ao princípio da 
reserva legal. 4. Ordem denegada. 
Ementa - HABEAS CORPUS. PENAL. ARTIGO 322 DO CÓDIGO PENAL. 
CRIME DE VIOLÊNCIA ARBITRÁRIA. EVENTUAL REVOGAÇÃO PELA LEI 
N.º 4.898/65. INOCORRÊNCIA. PRECEDENTES DO STF. 1. O crime de 
violência arbitrária não foi revogado pelo disposto no artigo 3º, alínea i, da Lei 
de Abuso de Autoridade. Precedentes da Suprema Corte. 2. Ordem denegada. 
 
8. Efeitos da condenação. 
 - O Art. 4º da LAA prevê em seu inciso I um efeito extrapenal 
obrigatório, tal como previsto no Art. 91, I do CP, mas também dispõe 
sobre uma faculdade da parte quando menciona fixação de um valor 
mínimo para a indenização, tal como previsto no Art. 387, IV do CPP. 
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91614/código-penal-decreto-lei-2848-40
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91614/código-penal-decreto-lei-2848-40
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/104075/lei-de-abuso-de-autoridade-lei-4898-65
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91614/código-penal-decreto-lei-2848-40
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/103258/lei-de-introdução-ao-código-civil-decreto-lei-4657-42
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/103258/lei-de-introdução-ao-código-civil-decreto-lei-4657-42
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http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/104075/lei-de-abuso-de-autoridade-lei-4898-65
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/104075/lei-de-abuso-de-autoridade-lei-4898-65
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/104075/lei-de-abuso-de-autoridade-lei-4898-65
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/104075/lei-de-abuso-de-autoridade-lei-4898-65
 
 
Não havendo requerimento da parte, o juiz não poderá fixar o valor 
mínimo. 
 
RENATO BRASILEIRO: considerando que a LAA não fez nenhuma 
restrição quanto ao dano, pode-se entender que qualquer espécie de 
dano passível de reparação poderá ser fixado pelo juiz neste momento 
(material; moral; estético; dentre outros). 
 
DICA: o examinador pode querer confundir o candidato trabalhando 
com as disposições do Art. 4º, III da LAA e Art. 92, I do CP, que são 
próximas, mas distintas. Ao tratar do requisito para perda do cargo ou 
função, o Código Penal exige que a pena privativa de liberdade seja por 
um tempo igual ou superior a 1 (um) ano, requisito este que não foi 
transposto para a Lei de Abuso de Autoridade. É de se lamentar apenas 
que a LAA exija que a reincidência seja requisito para a perda do cargo. 
Além disso, não se trata de qualquer tipo de reincidência, mas 
reincidência em crime de abuso de autoridade. 
 
Lei n. 13.869/19 Art. 4º São efeitos da condenação: I - tornar certa a 
obrigação de indenizar o dano causado pelo crime (efeito extrapenal 
obrigatório), devendo o juiz, a requerimento do ofendido, fixar na 
sentença o valor mínimo para reparação dos danos causados pela 
infração, considerando os prejuízos por ele sofridos; II - a inabilitação 
para o exercício de cargo, mandato ou função pública, pelo período de 1 
(um) a 5 (cinco) anos; III - a perda do cargo, do mandato ou da função 
pública. Parágrafo único. Os efeitos previstos nos incisos II e III do 
caput deste artigo são condicionados à ocorrência de reincidência em 
crime de abuso de autoridade e não são automáticos, devendo ser 
declarados motivadamente na sentença. 
 
Art. 92 - São também efeitos da condenação: (Redação dada pela Lei 
nº 7.209, de 11.7.1984) I - a perda de cargo, função pública ou 
mandato eletivo: a) quando aplicada pena privativa de liberdade por 
 
 
tempo igual ou superior a um ano, nos crimes praticados com abuso de 
poder ou violação de dever para com a Administração Pública; b) 
quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 
(quatro) anos nos demais casos. 
 
9. Penas restritivas de direitos. 
- O Art. 5º é uma norma especial em relação ao Art. 43, VI do Código 
Penal. Logo, a pena restritiva contida no referido artigo do Código Penal 
não pode ser aplicada aos crimes de abuso de autoridade. Por outro 
lado, a LAA não traz requisitos de aplicação, motivo pelo qual entende-
se razoável o uso do Art. 44 do Código Penal. 
 
Lei n. 13.869/19 Art. 5º As penas restritivas de direitos substitutivas 
das privativas de liberdade previstas nesta Lei são: I - prestação de 
serviços à comunidade ou a entidades públicas; II - suspensão do 
exercício do cargo, da função ou do mandato, pelo prazo de 1 (um) a 6 
(seis) meses, com a perda dos vencimentos e das vantagens; III - 
(VETADO). Parágrafo único. As penas restritivas de direitos podem ser 
aplicadas autônoma ou cumulativamente. (NORMA ESPECIAL EM 
RELAÇÃO AO ARTIGO 43 DO CP) 
 
Art. 43. As penas restritivas de direitos são: VI - limitação de fim de 
semana. 
 
Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as 
privativas de liberdade, quando: I – aplicada pena privativa de liberdade 
não superior a quatro anos e o crime não for cometido com violência ou 
grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o 
crime for culposo; II – o réu não for reincidente em crime doloso; III – a 
culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do 
condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que 
essa substituição seja suficiente. § 1o (VETADO) § 2o Na condenação 
igual ou inferior a um ano, a substituição pode ser feita por multa ou 
 
 
por uma pena restritiva de direitos; se superior a um ano, a pena 
privativa de liberdade pode ser substituída por uma pena restritiva de 
direitos e multa ou por duas restritivas de direitos. § 3o Se o condenado 
for reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição, desde que, em face 
de condenação anterior, a medida seja socialmente recomendável e a 
reincidência não se tenha operado em virtude da prática do mesmo 
crime. § 4o A pena restritiva de direitos converte-se em privativa de 
liberdade quando ocorrer o descumprimento injustificado da restrição 
imposta. No cálculo da pena privativa de liberdade a executar será 
deduzido o tempo cumprido da pena restritiva de direitos, respeitado o 
saldo mínimo de trinta dias de detenção ou reclusão. § 5o Sobrevindo 
condenação a pena privativa de liberdade, por outro crime, o juiz da 
execução penal decidirá sobre a conversão, podendo deixar de aplicá-la 
se for possível ao condenado cumprir a pena substitutiva anterior. 
 
Crimes de Abuso de Autoridade: 
 
10. Decretação de medida de privação da liberdade em manifesta 
desconformidade com as hipóteses legais: Os crimes da LAA estão 
contemplados nos artigos 9º a 38, bem como no Art. 7º-B do Estatuto 
da OAB. 
 
Lei n. 13.869/19 Art. 9º Decretar medida de privação da liberdade em 
manifesta desconformidade com as hipóteses legais: Pena - detenção, de 
1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa 
 
Sujeito ativo: é qualquer agente público, não se restringindo, segundo 
parte da doutrina, a figura do magistrado, dado que o Policial Militar ou 
o Promotor também podem prender pessoas. 
 
Enunciado n. 5 do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais dos 
Ministérios Públicos dos Estados e da União (CNPG) e do Grupo 
Nacional de Coordenadores de Centro de Apoio Criminal 
 
 
(GNCCRIM): “O sujeito ativo do art. 9º, caput, da Lei de Abuso de 
Autoridade, diferentemente do parágrafo único, não alcança somente 
autoridade judiciária. O verbo núcleo ‘decretar’ tem o sentido de 
determinar, decidir e ordenar medida de privação da liberdade em 
manifesta desconformidade com as hipóteses legais”. 
 
- O termo medida de privação da liberdade é expressão ampla, que 
abarca todas as hipóteses em que o cidadão sofra um cerceamento em 
sua liberdade de locomoção (prisão em flagrante; prisão preventiva; 
etc...). Exemplo (medida decretada em manifesta desconformidade com 
a lei): imagine que um juiz tenha decretado, de ofício, uma prisão 
temporária durante o processo criminal, pela prática de um crime de 
furto simples. Neste caso, há flagrante ilegalidade, pois, em primeiro 
lugar, o juiz não pode decretar prisão oficiosamente, nem mesmo 
durante o processo, já que a prisão temporária cabe apenas durante as 
investigações. Além disso, não cabe prisão temporária nos crimes de 
furto simples, porquanto esse tipo de prisão restringe-se ao rol taxativo 
contido no Art. 1º, III da Lei 7960. 
 
RENATO BRASILEIRO: embora o dispositivo seja passível de crítica por 
utilizar de expressões vagas, há de se reconhecer que é inviável a 
criação de um tipo penal que detalhe de forma taxativa todas as 
hipóteses em que a medida estaria em manifesta desconformidade com 
a lei. 
 
- Os crimes com pena de 6 meses a 2 anos e multa como o do Art. 16 
são infrações de menor potencial ofensivo, sendo competência do 
JECRIM. Logo, cabe transação penal ou, pelo menos em tese, 
suspensão condicional do processo. Para os demaiscrimes, como o do 
Art. 9º, entende-se que a competência é do Juízo Comum. Como a pena 
máxima é igual a 4 anos, segue-se o procedimento comum ordinário, 
mas com um detalhe importante: deve-se observar a necessidade de 
 
 
defesa preliminar (Art. 514, CPP), já que os crimes de abuso de 
autoridade são crimes funcionais típicos. 
 
Acordo de não persecução penal: é cabível o acordo de não 
persecução penal nos crimes de 1 a 4 anos, desde que os crimes não 
tenham sido cometidos com violência. 
 
O acordo de não persecução penal, outrora previsto na Resolução 181 
do CNMP, está positivado atualmente no Art. 28-A do CPP. Não sendo 
cabível o acordo de não persecução penal é possível se cogitar de 
suspensão condicional do processo, já que à luz do Art. 89 da Lei dos 
Juizados Especiais o seu requisito básico é a pena mínima de 1 (um) 
ano. CPP “Art. 28-A. Não sendo caso de arquivamento e tendo o 
investigado confessado formal e circunstancialmente a prática de 
infração penal sem violência ou grave ameaça e com pena mínima inferior 
a 4 (quatro) anos, o Ministério Público poderá propor acordo de não 
persecução penal, desde que necessário e suficiente para reprovação e 
prevenção do crime, mediante as seguintes condições ajustadas 
cumulativa e alternativamente: (...) § 2º O disposto no caput deste artigo 
não se aplica nas seguintes hipóteses: I - se for cabível transação penal 
de competência dos Juizados Especiais Criminais, nos termos da lei; II - 
se o investigado for reincidente ou se houver elementos probatórios que 
indiquem conduta criminal habitual, reiterada ou profissional, exceto se 
insignificantes as infrações penais pretéritas; III - ter sido o agente 
beneficiado nos 5 (cinco) anos anteriores ao cometimento da infração, 
em acordo de não persecução penal, transação penal ou suspensão 
condicional do processo; e IV - nos crimes praticados no âmbito de 
violência doméstica ou familiar, ou praticados contra a mulher por 
razões da condição de sexo feminino, em favor do agressor. 
 
10.1. Condutas equiparadas do art. 9º, parágrafo único. Lei n. 
13.869/19 
 
 
Art. 9º (...) Parágrafo único. Incorre na mesma pena a autoridade 
judiciária que, dentro de prazo razoável, deixar de: I - relaxar a prisão 
manifestamente ilegal; II - substituir a prisão preventiva por medida 
cautelar diversa ou de conceder liberdade provisória, quando 
manifestamente cabível; III - deferir liminar ou ordem de habeas corpus, 
quando manifestamente cabível. 
 
- Como regra, os crimes da LAA são crimes comissivos. A leitura do 
Art. 9º, paragrafo único, no entanto, demonstra que tem-se aí a 
figura de um crime omissivo próprio, que só pode ser praticado pelo 
juiz (seja ele, o juiz das garantias, se a decisão em questão foi proferida 
na fase investigatória, ou o juiz da instrução). 
 
Exemplos (prisão ilegal durante o processo): (i) prisão preventiva que 
já dura a 5 anos (excesso de prazo); (ii) prisão preventiva cuja 
necessidade não foi avaliada no prazo de 90 dias (pacote anticrime). 
 
Prazo razoável: a expressão “prazo razoável” contida no parágrafo 
único do Art. 9º também traz problemas em razão de sua abertura. Ao 
observarmos o teor dos incisos I e II do mesmo dispositivo, é possível 
notar que se tratam de medidas previstas, respectivamente, nos incisos 
I e III do Art. 310 do CPP, que trata da convalidação judicial do 
flagrante, feita na audiência de custódia. 
 
Considerando que é na audiência de custódia que o juiz pode relaxar a 
prisão ou conceder liberdade provisória fica mais fácil compreender 
qual seria o prazo razoável exigido pela lei, o qual, neste caso, seria de 
24 horas. 
 
DOUTRINA: não sendo realizada a audiência de custódia, o prazo 
razoável pode ser equiparado àquele em que o juiz analisa a concessão 
da fiança, que é o de 48 horas (Art. 322, parágrafo único). Ora, se a 
fiança é uma das cautelares diversas da prisão, não há porque não 
 
 
tomar o prazo de sua concessão como aplicável as demais hipóteses, 
inclusive para fins de tipificação do crime do Art. 9º, parágrafo único da 
LAA. 
 
Obs. 1: não realização da audiência de custódia. A não realização da 
audiência de custódia tipifica crime de abuso de autoridade? A 
responsabilidade penal referida no §3º do Art. 310 do CPP suscita 
dúvidas. Questiona-se por qual crime a autoridade que deixa de realizar 
a audiência de custódia responderia. 
 
RENATO BRASILEIRO: há uma falta de diálogo entre a LAA (Lei 
13.869/19) e o Pacote Anticrime (Lei 13.964/19), pois se o pacote 
anticrime diz que a não realização da audiência de custódia sujeitará o 
juiz a uma responsabilização penal, o Art. 9º, parágrafo único da LAA 
deveria conter um quarto inciso, dispondo sobre a não realização da 
audiência de custódia. Diante do vazio legislativo constatado no Art. 9º, 
surgem duas posições: 1ª CORRENTE: não há crime de abuso de 
autoridade frente a não realização da audiência de custódia. Para essa 
posição, a justificativa não se restringe ao fato de que o legislador 
deixou de acrescentar mais uma hipótese no Art. 9º, mas, sobretudo, 
porque é sabido que na prática é possível a concessão de liberdade 
provisória pelo juiz tão logo ele tome contato com o auto de prisão em 
flagrante, dispensando a realização da audiência. E, como neste caso 
não há qualquer prejuízo ao preso, mas apenas benefício, não há 
porque criminalizar tal conduta. 2ª CORRENTE: a despeito do vazio 
legislativo na LAA, o §4º do Art. 310 do CPP regulamentou a 
consequência da não realização da audiência de custódia, prevendo que 
a sua não realização em até 48 horas implica em ilegalidade 
autorizadora de relaxamento da prisão. Logo, se a não realização da 
audiência acarreta a ilegalidade e esta impõe o relaxamento, pode-se 
concluir que o não relaxamento pelo juiz diante destas circunstancias 
fáticas caracteriza crime de abuso de autoridade, nos termos do Art. 9º, 
parágrafo único, I do CPP. CONCLUSÃO: o crime em si não seria a não 
 
 
realização da audiência de custódia, mas sim o fato da não realização 
da audiência de custódia acarretar a ilegalidade da prisão. 
 
CPP (Redação alterada pela Lei n. 13.964/19) Art. 310. Após receber 
o auto de prisão em flagrante, no prazo máximo de até 24 (vinte e 
quatro) horas após a realização da prisão, o juiz deverá promover 
audiência de custódia com a presença do acusado, seu advogado 
constituído ou membro da Defensoria Pública e o membro do Ministério 
Público, e, nessa audiência, o juiz deverá, fundamentadamente: § 3º A 
autoridade que deu causa, sem motivação idônea, à não realização da 
audiência de custódia no prazo estabelecido no caput deste artigo 
responderá administrativa, civil e penalmente pela omissão. § 4º 
Transcorridas 24 (vinte e quatro) horas após o decurso do prazo 
estabelecido no caput deste artigo, a não realização de audiência de 
custódia sem motivação idônea ensejará também a ilegalidade da 
prisão, a ser relaxada pela autoridade competente, sem prejuízo da 
possibilidade de imediata decretação de prisão preventiva.” 
 
11. Decretação de condução coercitiva de testemunha ou 
investigado manifestamente descabida ou sem prévia intimação de 
comparecimento ao juízo. 
- A condução coercitiva é cautelar pessoal diversa da prisão. Por meio 
da condução coercitiva, uma pessoa é conduzida a mando da 
autoridade e contra a sua vontade para a prática de ato que dependa de 
sua presença. 
 
Art. 10 Decretar a condução coercitiva de testemunha ou 
investigado manifestamente descabida ou sem prévia intimação de 
comparecimento ao juízo: Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) 
anos, e multa. 
 
ATENÇÃO: o STF entende que o delegado de polícia pode decretar a 
condução coercitiva. Todavia, disso não se pode extrair como conclusão 
 
 
que o delegado pode ser sujeito passivo do Art. 10 da LAA. Até porque, a 
luz do Art. 282 do CPP, apenas o juiz podedecretar medidas cautelares 
pessoais. Uma leitura constitucional nos leva a conclusão de que 
somente o juiz pode determinar medidas que impliquem restrição 
da liberdade de locomoção, ainda que temporariamente. 
 
- Podem ser submetidas a condução coercitiva: ofendido, perito, 
testemunhas e investigado/acusado (Arts. 201, 218, 411, 461, 260, 278 
do CPP). Todavia, para fins de tipificação do Art. 10, só pode restar 
caracterizado crime de abuso de autoridade quando a condução 
coercitiva for em relação a pessoa da testemunha ou do investigado. 
Não é possível, assim, que a condução coercitiva do perito ou do 
ofendido sejam consideradas abuso de autoridade, sob pena de analogia 
in malan parten. 
 
- A condução do investigado não pode ser feita de forma livre, sobretudo 
quando se deseja obter do acusado uma confissão. Esse tipo de 
condução, voltada a produzir um verdadeiro interrogatório, é vedada em 
homenagem ao conteúdo do princípio do nemo tenetur se detegere 
(“ninguém é obrigado a produzir provas contra si mesmo”). 
 
Art. 260, CPP. Se o acusado não atender à intimação para o 
interrogatório, reconhecimento ou qualquer outro ato que, sem ele, não 
possa ser realizado, a autoridade poderá mandar conduzi-lo à sua 
presença. (Vide ADPF 395)(Vide ADPF 444) Parágrafo único. O mandado 
conterá, além da ordem de condução, os requisitos mencionados no art. 
352, no que Ihe for aplicável. 
 
- A ADPF 395 tem força vinculante, de modo que o juiz que decretar a 
condução coercitiva para fins de interrogatório não poderá invocar a 
vedação ao crime de hermenêutica como argumento. Vale dizer, porém, 
que a ação em questão vedou a condução para a prática de ato 
protegido pelo direito ao silêncio. Logo, se o ato em questão não estiver 
 
 
protegido pelo princípio da não autoincriminação, não há que se falar 
em crime, já que neste caso a condução coercitiva não seria 
manifestamente descabida. Perfeitamente cabível, assim, a condução 
para fins de identificação criminal, porquanto o direito ao silencio não 
confere direito para falsear a identidade. 
 
STF: “(...) Arguição julgada procedente, para declarar a 
incompatibilidade com a Constituição Federal da condução coercitiva de 
investigados ou de réus para interrogatório, tendo em vista que o 
imputado não é legalmente obrigado a participar do ato, e pronunciar a 
não recepção da expressão “para o interrogatório”, constante do art. 260 
do CPP.” (STF, Pleno, ADPF 444/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 
14/06/2018, DJe 107 21/05/2019). 
 
- Só se admite a condução coercitiva quando houve intimação prévia 
para comparecimento e o indivíduo, a despeito disso, não compareceu. 
 
Enunciado n. 7 do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais dos 
Ministérios Públicos dos Estados e da União (CNPG) e do Grupo 
Nacional de Coordenadores de Centro de Apoio Criminal 
(GNCCRIM): “A condução coercitiva pressupõe motivação e 
descumprimento de prévia notificação”. 
 
12. OMISSÃO QUANTO À COMUNICAÇÃO DA PRISÃO EM 
FLAGRANTE À AUTORIDADE JUDICIÁRIA NO PRAZO LEGAL E 
CONDUTAS EQUIPARADAS. 
- A comunicação de qualquer prisão deve ser comunicada 
imediatamente a autoridade judiciária e, no caso de prisão em flagrante, 
tal comunicação deve se dar no prazo de 24 horas, sob pena de se 
recair no delito do Art. 12 da LAA. 
 
Lei n. 13.869/19 Art. 12. Deixar injustificadamente de comunicar 
prisão em flagrante à autoridade judiciária no prazo legal: Pena - 
 
 
detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. Parágrafo único. 
Incorre na mesma pena quem: I - deixa de comunicar, imediatamente, a 
execução de prisão temporária ou preventiva à autoridade judiciária que 
a decretou; II - deixa de comunicar, imediatamente, a prisão de 
qualquer pessoa e o local onde se encontra à sua família ou à pessoa 
por ela indicada; III - deixa de entregar ao preso, no prazo de 24 (vinte e 
quatro) horas, a nota de culpa, assinada pela autoridade, com o motivo 
da prisão e os nomes do condutor e das testemunhas; IV - prolonga a 
execução de pena privativa de liberdade, de prisão temporária, de prisão 
preventiva, de medida de segurança ou de internação, deixando, sem 
motivo justo e excepcionalíssimo, de executar o alvará de soltura 
imediatamente após recebido ou de promover a soltura do preso quando 
esgotado o prazo judicial ou legal. 
 
Sujeito ativo: é o agente público que tenha a obrigação de comunicar a 
prisão a autoridade judiciária, isto é, o delegado de polícia. 
 
Comunicação: o delegado de polícia deve comunicar a prisão em 
flagrante ao juiz das garantias (Art. 3º-B, I e II, LAA), que é quem detém 
a competência para a fase investigatória, isto é, até o recebimento da 
peça acusatória. 
 
Norma penal em branco: o prazo legal a que se refere o Art. 12 da LAA 
está previsto em outras normas, como o Art. 306 do CPP. Daí se 
concluir que o Art. 12 é espécie de norma penal em branco. 
 
DOUTRINA: o prazo legal a que se refere o Art. 12 é o que consta do 
Art. 306, §1º do CPP, que prevê um prazo de 24 horas para a remessa 
do Auto de Prisão em Flagrante para a autoridade judiciária. Trata-se, 
portanto, de norma penal em branco HOMOGÊNEA e 
HETEROVITELINA. É homogênea porque o complemento do Art. 12 é 
oriundo da mesma fonte legislativa que editou o preceito primário que 
precisa ser complementado (no caso em questão, o Congresso Nacional). 
 
 
É heterovitelina porque o complemento está contido em outro diploma 
legal. 
 
ATENÇÃO: se a lei utiliza palavras diversas é porque o legislador possui 
intenção diversa. Assim, por mais complicado que possa ser definir o 
que significa o termo IMEDIATAMENTE referido no inciso I, não é 
possível estabelecer para ele o mesmo prazo que o da prisão em 
flagrante (24 horas), dado que o cumprimento de um mandado de 
prisão preventiva ou temporária é muito mais rápido do que a lavratura 
de um auto de prisão em flagrante. Logo, o termo imediatamente tem 
sentido mais restritivo para os demais casos. 
Tutela da liberdade de locomoção: é fácil olhar para o Art. 12 e 
visualizar que ele como um todo tutela a liberdade de locomoção. Com 
efeito, de nada adianta a Constituição assegurar a assistência da 
família e de advogado se não houver uma norma penal que puna a 
conduta comissiva do agente público que não dá ao preso direito a esse 
acesso. 
 
Nota de culpa: a nota de culpa nada mais é do que um documento 
entregue ao preso em flagrante, com vistas a dar ciência a ele de quais 
são os motivos e quais são os responsáveis por sua prisão. Além disso, 
o nome das testemunhas também deve constar da nota de culpa. 
 
DOUTRINA: Em regra, o nome do condutor e das testemunhas devem 
constar da nota de culpa. Porém, excepcionalmente, é possível que o 
nome do condutor e das testemunhas não conste da nota de culpa sem 
que isso seja considerado como crime. O fundamento da exceção pode 
ser encontrado com base nas leis 12.890/12 (Lei das Organizações 
Criminosas) e 9.807/99 (Lei de Proteção às Testemunhas). 
 
Previsão expressa do período da prisão temporária: o Art. 2º, §4º-A 
da Lei 7960/89 (Lei da Prisão Temporária) estabelece que o mandado de 
prisão temporária conterá, necessariamente, o período de duração da 
 
 
prisão temporária, bem como o dia em que o preso deverá ser libertado. 
Se a prisão temporária não for prorrogada ou convertida em prisão 
preventiva, o indivíduo deve ser colocado em liberdade, sob pena do juiz 
recair no delito do Art. 12, IV, LAA, o qual restará caracterizado quando 
presente o dolo específico exigido. 
 
Enunciado n. 9 do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais dos 
Ministérios Públicos dos Estados e da União (CNPG) e do Grupo 
Nacional de Coordenadores de Centro de Apoio Criminal 
(GNCCRIM): “A execução imediata do alvará de soltura deve ocorrer 
após o cumprimento dos procedimentos de segurança necessários, 
incluindo a checagem sobre a existênciade outras ordens de prisão e da 
autenticidade do próprio alvará”. 
 
- O enunciado vem ao encontro dos casos em que existem dúvidas 
acerca da autenticidade do alvará, bem como em relação aqueles casos 
nos quais a autoridade tem dúvidas sobre a possível existência de 
outros mandados de prisão. 
 
13. CONSTRANGIMENTO DE PRESO OU DETENTO. 
 
Preso x detento: 
a lei utiliza duas palavras diversas (preso e detento) para significar 
situações distintas. Entende-se a situação de preso como aquela em 
que a prisão já foi formalizada (ex.: auto de prisão em flagrante já 
lavrado), ao passo que a situação do detento é aquela em que a prisão 
ainda não foi formalizada (ex.: policial deu voz de prisão a uma pessoa). 
 
Interesse público na exibição do preso: em geral, a exibição do preso 
não atende a nenhuma finalidade pública, sendo o objetivo da 
autoridade apenas se autopromover. Excepcionalmente, porém, pode 
ser que haja interesse público envolvido, como no caso de alguns crimes 
 
 
sexuais, nos quais a exibição do preso auxilia outras vítimas a 
identificarem o acusado e denunciarem. 
 
Exemplos (situação vexatória): (i) preso que é obrigado a bater palmas 
e cantar parabéns, pois foi recolhido a prisão no dia do seu aniversário; 
(ii) preso que é obrigado a vestir roupas de mulher; (iii) preso que é 
obrigado a sair pedindo desculpas para todos na rua e é filmado 
fazendo isso. 
 
ATENÇÃO: o flagrante é um constrangimento autorizado em lei. O que 
o inciso II incrimina é o constrangimento não autorizado. 
 
Exemplo.: se um diretor de presídio coloca o preso no RDD sem 
autorização, ele exerce uma espécie de constrangimento não autorizado 
em lei. 
 
ATENÇÃO: apesar do uso de algemas não ser um crime autônomo, é 
possível que tal uso seja criminalizado. 
 
Exemplo.: policial coloca algemas em uma pessoa de 95 anos que já 
está em cadeira de rodas. 
 
LEMBRE-SE: há entendimento sumulado no sentido de que o uso de 
algemas é uma medida de natureza excepcional, cabível apenas nos 
casos em que há um risco para os envolvidos na situação de perigo de 
fuga. 
 
- O inciso III do Art. 12 tutela não apenas o direito de não produzir 
provas contra si mesmo, mas também o direito de não produzir provas 
contra terceiros. 
 
Exemplo.: o preso que é obrigado a mostrar todas as suas mensagens 
de whatsapp para a autoridade que o prendeu. 
 
 
Lei n. 13.869/19 Art. 13. Constranger o preso ou o detento, mediante 
violência, grave ameaça ou redução de sua capacidade de resistência, a: 
I - exibir-se ou ter seu corpo ou parte dele exibido à curiosidade 
pública; II - submeter-se a situação vexatória ou a constrangimento não 
autorizado em lei; III - (VETADO). III - produzir prova contra si mesmo 
ou contra terceiro: Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e 
multa, sem prejuízo da pena cominada à violência. 
 
CPP (Redação dada pela Lei n. 13.964/19) Art. 3º-F. O juiz das 
garantias deverá assegurar o cumprimento das regras para o 
tratamento dos presos, impedindo o acordo ou ajuste de qualquer 
autoridade com órgãos da imprensa para explorar a imagem da pessoa 
submetida à prisão, sob pena de responsabilidade civil, administrativa e 
penal. Parágrafo único. Por meio de regulamento, as autoridades 
deverão disciplinar, em 180 (cento e oitenta) dias, o modo pelo qual 
as informações sobre a realização da prisão e a identidade do preso 
serão, de modo padronizado e respeitada a programação normativa 
aludida no caput deste artigo, transmitidas à imprensa, assegurados a 
efetividade da persecução penal, o direito à informação e a dignidade da 
pessoa submetida à prisão.’ 
 
ATENÇÃO: não se pode confundir o delito do Art. 13, III da LAA com o 
crime de tortura-confissão, na medida em que os dois diferenciam-se 
em, pelo menos, 03 (três) aspectos. Em primeiro lugar, o crime previsto 
na LAA é crime próprio (Art. 2º, LAA), o que não acontece com a tortura-
confissão que é crime comum. Em segundo lugar, o crime da LAA pode 
ser cometido mediante violência; grave ameaça ou violência imprópria, 
ao passo que o crime de tortura-confissão não admite a violência 
imprópria. Em terceiro lugar, na tortura-confissão, é necessário que 
haja um resultado (causação de sofrimento físico ou mental), o que não 
acontece com os delitos da LAA. Por fim, os crimes da LAA configuram-
se mediante a prática de um especial fim de agir (dolo específico) 
distinto daquele previsto para o crime de tortura-confissão. 
 
 
Lei n. 9.455/97 Art. 1º. Constitui crime de tortura: I – constranger 
alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe 
sofrimento físico ou mental: a) com o fim de obter informação, 
declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa; (...) 
 
14. CONSTRANGIMENTO A DEPOR, SOB AMEAÇA DE PRISÃO, DE 
PESSOA QUE DEVA GUARDAR SEGREDO OU RESGUARDAR SIGILO 
EM RAZÃO DE FUNÇÃO, MINISTÉRIO OU PROFISSÃO, E FIGURAS 
EQUIPARADAS. 
 
Natureza do constrangimento: algumas pessoas tem o segredo como 
elemento essencial da função por elas exercidas. Desta forma, a ideia do 
tipo penal contido no Art. 15 é obstar que tais pessoas sejam 
constrangidas a depor (Art. 207, CP). Não se trata, contudo, de qualquer 
constrangimento, mas um constrangimento exercido por meio da 
ameaça de prisão. 
 
Natureza do interrogatório contido no tipo: o parágrafo único do Art. 
15 não existe constrangimento, pois seu tipo objetivo é tão somente 
prosseguir com o interrogatório. Cabe mencionar que o interrogatório 
aqui aludido abrange, pelo menos em tese, tanto o interrogatório 
policial quanto o judicial. 
 
RENATO BRASILEIRO: se o investigado/acusado já advertiu a 
autoridade de que permanecerá em silêncio, esta não poderá prosseguir 
com as perguntas, sob pena de responsabilização criminal, desde que 
presente o dolo específico. Além disso, não poderá ser tido como 
prejudicial o fato de o réu permanecer em silêncio ou as razões pelas 
quais a pessoa pretende exercer esse direito. Infelizmente, a criação do 
tipo penal na LAA não foi acompanhada da mudança correspondente no 
CPP. 
 
 
 
LEMBRE-SE: o direito ao silêncio não abarca a 
qualificação/identificação do investigado/acusado. 
 
Presença obrigatória de advogado: Na mesma toada do Art. 7º, XXI do 
EOAB (Lei 8.906/94), o Art.15, II da LAA criminaliza a conduta 
daquele que impede que o investigado/acusado seja assistido por 
advogado durante o ato. No interrogatório judicial, a presença do 
advogado é obrigatória. O grande problema está no caso do 
interrogatório policial/ministerial, onde a presença do advogado não era 
exigida até a edição da LAA. Também no caso desta mudança a 
criminalização não foi acompanhada da necessária mudança no CPP, 
que previsse a obrigatoriedade nos dois casos de um modo expresso. 
Deve-se ter cuidado, porém, pois a presença só será obrigatória se o 
investigado/acusado optar por ser assistido por um advogado. 
 
Lei n. 13.869/19 Art. 15. Constranger a depor, sob ameaça de prisão, 
pessoa que, em razão de função, ministério, ofício ou profissão, deva 
guardar segredo ou resguardar sigilo: Pena - detenção, de 1 (um) a 4 
(quatro) anos, e multa. Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem 
prossegue com o interrogatório: I - de pessoa que tenha decidido exercer 
o direito ao silêncio; ou II - de pessoa que tenha optado por ser assistida 
por advogado ou defensor público, sem a presença de seu patrono. 
 
CPP Art. 207. São proibidas de depor as pessoas que, em razão de 
função, ministério, ofício ou profissão, devam guardar segredo, salvo se, 
desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar o seu testemunho. 
 
CPP Art. 191. Havendo mais de um acusado, serão interrogados 
separadamente. 
 
CPPM Art. 305. (...) Parágrafo único. Consignar-se-ão as perguntas 
que o acusado deixar de responder e as razões que invocar para não 
fazê-lo. 
 
 
 
15. OMISSÃO DE IDENTIFICAÇÃOOU IDENTIFICAÇÃO FALSA AO 
PRESO. 
 
Objetivo da criminalização: todo preso tem direito a identificação dos 
responsáveis por sua prisão. Portanto, nada mais natural do que a LAA 
tipificar uma conduta nesse sentido. Trata-se de falsa identificação que, 
em geral, é praticada pelo agente público de modo a evitar possível 
responsabilização por alguma tortura ou outro ato criminoso que ele 
praticar naquele momento. A figura do Art. 16 da LAA é muito próxima 
a figura do Art. 307 do CP. 
Lei n. 13.869/19 Art. 16. Deixar de identificar-se (= conduta omissiva) 
ou identificar-se falsamente (= conduta comissiva) ao preso por ocasião 
de sua captura ou quando deva fazê-lo durante sua detenção ou prisão: 
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. Parágrafo 
único. Incorre na mesma pena quem, como responsável por 
interrogatório em sede de procedimento investigatório de infração penal, 
deixa de identificar-se ao preso ou atribui a si mesmo falsa identidade, 
cargo ou função. 
 
16. SUBMISSÃO DE PRESO A INTERROGATÓRIO POLICIAL 
DURANTE O PERÍODO DE REPOUSO NOTURNO. Proteção da 
liberdade de autodeterminação do interrogando: no Brasil, não há 
muita regulamentação sobre a proteção da liberdade de 
autodeterminação do interrogando. Nesse sentido, o crime de 
submissão de preso a interrogatório policial durante o período de 
repouso noturno vem ao encontro da proteção deste princípio. Também 
essa mudança não veio acompanhada da necessária alteração no CPP, 
que tal como o Código de Processo Penal Militar, deveria prever em qual 
período a pessoa poderia ser interrogada e durante quanto tempo. 
 
Lei n. 13.869/19 Art. 18. Submeter o preso a interrogatório policial 
durante o período de repouso noturno, salvo se capturado em flagrante 
 
 
delito ou se ele, devidamente assistido, consentir em prestar 
declarações: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. 
 
Elemento normativo do tipo (“repouso noturno”): o delito do Art. 18 
também é marcado pela presença de um conceito jurídico 
indeterminado, qual seja, o repouso noturno. O Art. 155, §1º do CP traz 
o repouso noturno como uma qualificadora do furto. Ao tratar do 
assunto, a doutrina menciona que a expressão pode ser melhor 
compreendida como uma espécie de costume, já que o período de 
repouso noturno em um lugar (ex.:São Paulo capital) não é o mesmo de 
outro (ex.: cidade do interior de Minas Gerais). No que toca a LAA, o 
ideal é entender que o conceito pode ser encontrado na própria lei, pois 
a própria lei, ao tratar do crime de violação a domicílio, conceitua o que 
pode ser entendido como “noite”. A partir desta observação, podemos 
entender o repouso noturno como o período compreendido entre 21h e 
ás 5h. Por isso, como regra, o interrogatório não poderá ser feito 
durante este período, salvo raras exceções, como a prisão em flagrante – 
cujo prazo de comunicação ao juiz é muito exíguo – e quando o 
indivíduo, estando devidamente assistido (advogado?), aceitar a prestar 
depoimento. 
 
Lei n. 13.869/19 Art. 22. (...) §1º Incorre na mesma pena, na forma 
prevista no caput deste artigo, quem: III – cumpre mandado de busca e 
apreensão domiciliar após as 21 (vinte e uma) horas ou antes das 5 
(cinco) horas. 
 
Enunciado n. 11 do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais dos 
Ministérios Públicos dos Estados e da União (CNPG) e do Grupo 
Nacional de Coordenadores de Centro de Apoio Criminal 
(GNCCRIM): “Para efeitos do art. 18 da Lei de Abuso de Autoridade, 
compreende-se por repouso noturno o período de 21h00 a 5h00, nos 
termos do art. 22, §1º, III, da mesma Lei”. 
 
 
 
Enunciado n. 12 do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais dos 
Ministérios Públicos dos Estados e da União (CNPG) e do Grupo 
Nacional de Coordenadores de Centro de Apoio Criminal 
(GNCCRIM): “Ressalvadas as hipóteses de prisão em flagrante e 
concordância do interrogado devidamente assistido, o interrogatório 
extrajudicial do preso iniciado antes, não pode adentrar o período de 
repouso noturno, devendo ser o ato encerrado e, se necessário, 
complementado no dia seguinte.” 
 
17. IMPEDIMENTO OU RETARDAMENTO DO ENVIO DE PLEITO DE 
PRESO À AUTORIDADE JUDICIÁRIA COMPETENTE. 
Lei n. 13.869/19 Art. 19. Impedir ou retardar, injustificadamente, o 
envio de pleito de preso à autoridade judiciária competente para a 
apreciação da legalidade de sua prisão ou das circunstâncias de sua 
custódia: Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
Parágrafo único. Incorre na mesma pena o magistrado que, ciente do 
impedimento ou da demora, deixa de tomar as providências tendentes a 
saná-lo ou, não sendo competente para decidir sobre a prisão, deixa de 
enviar o pedido à autoridade judiciária que o seja. 
 
- Muitas vezes, o preso tem grandes dificuldades de manter contato com 
o mundo exterior, sobretudo se não tem assistência da família; de um 
procurador ou quando não conta com a colaboração da polícia penal ou 
dos agentes penitenciários. Nesse sentido, a lei visa coibir a conduta do 
agente público que obsta o envio do pleito formulado pelo preso ao juiz 
competente. O problema aqui está na palavra pleito, cujo significado é 
determinante neste caso. A palavra pleito é sinônimo de questão 
judicial; litígio ou demanda. Ainda assim, fica difícil identificar o que 
pode vir a ser uma demanda formulada por um preso. Uma leitura da 
integralidade do Art. 19, contudo, nos permite realizar um paralelo 
entre pleito e a legalidade da prisão/custódia, o que nos autoriza inferir 
que o pleito em questão pode ser equiparado a uma petição de habeas 
corpus. 
 
 
 
18. RESTRIÇÃO, SEM JUSTA CAUSA, DA ENTREVISTA PESSOAL E 
RESERVADA DO PRESO COM SEU ADVOGADO. 
 
- De nada adianta o Estatuto da OAB prever que o individuo tem direito 
de se entrevistar privada e reservadamente com seu advogado se não há 
instrumento coibindo a restrição injustificada dessa entrevista. Tal 
entrevista é essencial para que o advogado colha os fundamentos de 
sua defesa técnica e, ao mesmo tempo, oriente seu cliente no sentido do 
melhor exercício da defesa técnica. 
 
Exemplo: no presídio de segurança máxima é possível a restrição de 
uma entrevista em período noturno. O mesmo se diga dos casos em que 
o preso se encontra em RDD, onde o acesso é restrito. 
 
Lei n. 13.869/19 Art. 20. Impedir, sem justa causa, a entrevista 
pessoal e reservada do preso com seu advogado: Pena - detenção, de 6 
(seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. Parágrafo único. Incorre na mesma 
pena quem impede o preso, o réu solto ou o investigado de entrevistar-
se pessoal e reservadamente com seu advogado ou defensor, por prazo 
razoável, antes de audiência judicial, e de sentar-se ao seu lado e com 
ele comunicar-se durante a audiência, salvo no curso de interrogatório 
ou no caso de audiência realizada por videoconferência. 
 
- Geralmente, quando o advogado é constituído, é comum que o preso já 
tenha se entrevistado com ele, o que pode não acontecer no caso de 
Defensor Público. Neste segundo caso, pode ser que a primeira 
oportunidade de contato entre preso e defensor seja a audiência, motivo 
pelo qual o juiz deve conceder a eles a oportunidade da entrevista em 
prazo razoável. Novamente tem-se o problema de um conceito aberto 
quando há menção do termo “prazo razoável”. 
 
 
 
Extensão do direito de comunicação (1): o acusado é garantido o 
direito de comunicar-se com o seu defensor durante a audiência. 
Quando esse direito é restringido, configura-se o crime do Art. 20 da 
LAA, tal como quando não se concede que a entrevista seja feita em 
prazo razoável. Extensão do direito de comunicação (2): durante o 
interrogatório não há direito de comunicação. O mesmo se diga no caso 
da videoconferência. Interpretação sistemática do direito de 
comunicação para tipificação do Art. 20 da LAA: uma lei não pode 
mandar o que a outra proíbe. Logo,se o Art. 217 do CP possibilita a 
retirada do acusado da sala de audiência, o acusado não ficará sentado 
ao lado de seu defensor, não configurando-se o crime do Art. 20 da LAA 
nesta hipótese. 
 
19. MANUTENÇÃO DE PRESOS DE AMBOS OS SEXOS NA MESMA 
CELA OU ESPAÇO DE CONFINAMENTO. 
 
Caso Abaetetuba/PA: em meados de 2007, uma menina de 15 anos foi 
presa e colocada em uma cela com 20 homens durante 26 dias, sendo 
estuprada inúmeras vezes, na maioria dos casos para que ela tivesse 
acesso a comida e materiais de higiene. Lei n. 13.869/19 Art. 21. 
Manter presos de ambos os sexos na mesma cela ou espaço de 
confinamento: Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem mantém, na mesma 
cela, criança ou adolescente na companhia de maior de idade ou em 
ambiente inadequado, observado o disposto na Lei n. 8.069/90 
(Estatuto da Criança e do Adolescente). 
 
- O Art. 21 da LAA vem ao encontro da própria Constituição, cujo Art. 
5º, XLVIII garante que a pena será cumprida em estabelecimentos 
distintos de acordo com a natureza do delito; a idade e o sexo do 
apenado. A Lei de Execução Penal também esboça a mesma garantia 
em seu Art. 82, §1º. 
 
 
 
Portaria interministerial nº 210/2014: o Ministério da Justiça instituiu 
a chamada politica nacional de atenção às mulheres em situação de 
privação de liberdade. 
 
Resolução Conjunta nº1/2014 do Conselho Nacional de Politica 
Criminal e Penitenciaria e do Conselho Nacional do Combate a 
Discriminação: trata dos parâmetros de acolhimento de pessoas LGBT. 
 
JURISPRUDÊNCIA - Ao falarmos em divergência de sexos há de se 
observar a questão da identidade de gênero. STF: “(...) a identidade de 
gênero é manifestação da própria personalidade da pessoa humana e, 
como tal, cabe ao Estado apenas o papel de reconhecê-la, nunca de 
constituí-la. A pessoa transgênero que comprove sua identidade de 
gênero dissonante daquela que lhe foi designada ao nascer por 
autoidentificação firmada em declaração escrita desta sua vontade 
dispõe do direito fundamental subjetivo à alteração do prenome e da 
classificação de gênero no registro civil pela via administrativa ou 
judicial, independentemente de procedimento cirúrgico e laudos de 
terceiros, por se tratar de tema relativo ao direito fundamental ao livre 
desenvolvimento da personalidade”. (STF, Pleno, ADI 4.275/DF, Rel. 
Min. Edson Fachin, j. 01/03/2018, DJe 45 06/03/2019). 
 
HC nº 152.491/STF: neste julgado, o Ministro Luís Roberto Barroso 
concedeu a ordem para que presos transexuais fossem colocados em 
estabelecimentos compatíveis com as orientações da Portaria acima 
referida, de modo que se quer se exigiu a observância do gênero 
constante do registro civil, mas apenas do gênero social. 
 
ATENÇÃO: o paragrafo único não menciona nada sobre o sexo, pois o 
seu objetivo é coibir a colocação de criança ou adolescente junto a 
pessoas maiores de idade como forma de evitar a promiscuidade, pouco 
importando se a pessoa maior é ou não do mesmo sexo. 
 
 
 
20. VIOLAÇÃO DE DOMICÍLIO EM UM CONTEXTO DE ABUSO DE 
AUTORIDADE. 
 
 - O Art. 22 da LAA trata do crime de violação de domicilio em um 
contexto de abuso de autoridade, motivo pelo qual todas as outras 
discussões atreladas ao tipo penal podem ter como base o crime do Art. 
150 do Código Penal. 
 
Conceito de “casa” para fins de tipificação do crime da LAA: o 
conceito de casa é retirado do Art. 150, §§4º e 5º do Código Penal. Nesse 
sentido, podem ser considerados como casa um escritório; um barracão 
e, até mesmo, um supermercado (nesta última hipótese apenas na parte 
que não é aberta ao público). 
 
Lei n. 13.869/19 Art. 22. Invadir ou adentrar, clandestina ou 
astuciosamente, ou à revelia da vontade do ocupante, imóvel alheio ou 
suas dependências, ou nele permanecer nas mesmas condições, sem 
determinação judicial (= cláusula de reserva de jurisdição) ou fora das 
condições estabelecidas em lei (= norma penal em branco homogênea 
heterovitelina): Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
§ 1º Incorre na mesma pena, na forma prevista no caput deste artigo, 
quem: I - coage alguém, mediante violência ou grave ameaça, a 
franquear-lhe o acesso a imóvel ou suas dependências; II - (VETADO); 
III - cumpre mandado de busca e apreensão domiciliar após as 21h 
(vinte e uma horas) ou antes das 5h (cinco horas). § 2º Não haverá 
crime se o ingresso for para prestar socorro, ou quando houver 
fundados indícios que indiquem a necessidade do ingresso em razão de 
situação de flagrante delito ou de desastre. 
 
Norma penal em branco homogênea heterovitelina: o Art. 22, caput 
da LAA contém uma norma penal em branco homogênea heterovitelina, 
pois coloca a necessidade de se buscar em outra norma os requisitos 
para o cumprimento de um mandado judicial, ou seja, quais são as 
 
 
condições para que a polícia possa ingressar na casa de alguém. Grosso 
modo, essas condições estão previstas no Art. 245 do CPP. 
 
Mandado genérico: o mandado genérico é vedado pelo ordenamento, 
uma vez que todo mandado deve ser individualizado. 
 
Exemplo (mandado genérico).: “dou autorização para que a polícia 
possa entrar em qualquer casa do bairro “X” Constituição Federal Art. 
5º. (...) (...) XI – a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela 
podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de 
flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, 
por determinação judicial. 
• Elemento normativo “dia” - O termo “dia” sempre foi objeto de 
discussão por 3 correntes distintas: 
 
1ª CORRENTE: período compreendido entre o nascer e o pôr do sol. 
2ª CORRENTE: período compreendido entre 6 e 18h. 
3ª CORRENTE: período em que há luminosidade solar. 
 
- A LAA oferece um conceito de noite em seu Art. 22, III. O problema é 
que tal conceito é muito restritivo, tendo em vista que seria muito difícil 
sustentar que alguns horários fora do período fornecido pela LAA 
seriam tidos como dia. 
 
Aqui também existem 3 correntes: 
1ª CORRENTE: o legislador recaiu em inconstitucionalidade, pois 
ampliou excessivamente o conceito de dia. 
2ª CORRENTE: o inciso III é válido, mas desde que interpretado 
conforme a Constituição. 
3ª CORRENTE (Renato): o inciso III é plenamente constitucional sem 
que haja a necessidade do elemento “lumisosidade solar” para a sua 
interpretação. A razão da Constituição exigir o cumprimento da ordem 
 
 
judicial durante o dia é respeitar o repouso noturno. Logo, ás 20h59, 
por exemplo, dificilmente alguém está dormindo. 
 
Além disso, vivemos em um país de dimensões continentais, de modo 
que em muitas localidades já é dia ás 5h. 
 
RENATO BRASILEIRO: é melhor ter um conceito de dia definido em lei 
– ainda que este desagrade alguns – do que depender da boa vontade do 
intérprete-aplicador ou do critério atrelado a luz solar. Mal ou bem esse 
critério fornece segurança jurídica e, ainda que um pouco exagerado, 
está dentro de uma margem de razoabilidade exigida da atuação 
legislativa. 
 
JURISPRUDÊNCIA - Nos últimos anos, os Tribunais Superiores tem 
exigido a chamada causa provável para o ingresso na casa quando se 
tratar de hipótese de flagrante delito, pouco importando se o agente 
encontre algo ou não. A LAA positiva a necessidade desta causa 
provável em seu Art. 22, §2º, LAA. 
 
ATENÇÃO: no caso da chamada exploração de local – na qual coloca-se 
um grampo na casa de alguém durante a diligência com objetivo de 
promover ali uma escuta ambiental - é possível ingresso no período 
noturno (Inquérito nº 2424, STF). 
 
Parâmetro para a tipificação (“início do cumprimento do 
mandado”): para fins de tipificação do delito contido no Art. 22, III, 
LAA, interessa o início do cumprimento do mandado, pois a doutrina 
sempre entendeu que o mandado deve ter início durante o dia, mas 
pode

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