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1 - RELATORIO DIGITAL DE ARQUITETURA E URBANISMO COMPLETO

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Prévia do material em texto

ii 
Ficha catalográfica 
B453e Beltrão, Kaizô I. (Kaizô Iwakami) 
Evidências do Enade e de outras fontes – mudanças no perfil do Bacharel em 
Arquitetura e Urbanismo / Kaizô Iwakami Beltrão; Luiza Naomi Iwakami; 
Ademir Pereira dos Santos; Ricardo Servare Megahós. 
Rio de Janeiro: Fundação Cesgranrio, 2020. 
92 p. : Il. – (Relatório Técnico. Fundação Cesgranrio, ISSN ; 03/2019) 
Inclui referências bibliográficas, gráficos e tabelas. 
Disponível também em versão impressa. 
ISBN: 978-85-85768-91-1 
1. Ensino Superior - Avaliação – Brasil. 2. Arquitetura – Estudo e Ensino – Brasil.
3. Evolução (Arquitetura) – Estudo e ensino - Brasil. 4. Arquitetura e Urbanismo –
Avaliação Assistida (Educação). 5. Formação de Professores em Arquitetura e
Urbanismo – Brasil. 6. Arquitetura e Urbanismo – Ensino Superior – Aspectos
Econômicos. 7. Arquitetura e Urbanismo – Ensino Superior – Aspectos Sociais.
8. Arquitetura e Urbanismo – Ensino Superior – Aspectos Econômicos. 9. Arquitetos –
Mercado de Trabalho. I. Iwakami, Luiza Naomi. II. Santos, Ademir Pereira dos.
III. Megahós, Ricardo Servare. IV. Título. V. Série
CDD 378.81 
CDU 378(81) 
Kaizô Iwakami Beltrão 
Doutor em Estatística. Professor da EBAPE/FGV e Chefe da Estatística do Departamento Acadêmico da Fundação Cesgranrio. 
Luiza Naomi Iwakami 
Arquiteta e urbanista (FAUUSP, 1980), mestra (UnB, 1988) e doutora em Arquitetura e Urbanismo (FAUUSP, 2003). É 
atualmente docente do curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. 
Ademir Pereira dos Santos 
Arquiteto e urbanista (UEL, 1986), mestre em História (UNESP, 1992) e doutor em Arquitetura e Urbanismo (FAUUSP, 2000). 
Professor do Departamento de Arquitetura da Universidade de Taubaté, e, do Mestrado em Arquitetura, Urbanismo e Design e 
do curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. 
Ricardo Servare Megahós 
Mestrando em População, Território e Estatísticas Públicas (ENCE/IBGE). Estatístico da Fundação Cesgranrio. 
Ficha catalográfica: Roseli Brito Baptista 
Projeto Gráfico: Denise Cordovil 
Diagramação: Annibal S. Neto 
Impressão: Gráfica Stamppa 
iii 
 
Conselho Diretor 
Carlos Alberto Serpa de Oliveira (Presidente) - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC/RJ 
Denise Pires de Carvalho - Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ 
Sidney Luiz de Matos Mello - Universidade Federal Fluminense – UFF 
Ricardo Silva Cardoso - Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO 
Ricardo Lodi Ribeiro - Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ 
Pe. Pedro Paulo de Carvalho Rosa - Universidade Católica de Petrópolis – UCP 
Paulo César Martinez Y Alonso - Universidade Santa Úrsula – USU 
André Figueiredo Moraes - Centro Federal de Educação Tecnológica do RJ – CEFET 
Antônio Carlos Dahbar Arbex - Fundação Educacional Dom André Arcoverde - FAA 
 
Presidência 
Presidente - Carlos Alberto Serpa de Oliveira 
Superintendente Geral - Claudino Victor Romeo do Espírito Santo 
Assessora Especial - Fátima Cunha 
Assessora Especial – Thereza Penna Firme 
Assessor Jurídico - José Carlos Bernardes 
Assessor de Projetos Especiais - Terezinha Saraiva 
Assessor de Planejamento - Rolf Stöller 
Chefe de Gabinete - Dulce Pirajá 
Assessora de Imprensa - Fabíola Melo Blaiso Feitosa (INTERINA) 
 
Departamento de Concursos 
Superintendente de Concursos - Álvaro Henrique Monteiro de Freitas 
Gerente Executivo - Avelino de Almeida Filho 
Gerente de Concursos – Oscar Garcia Cunha 
 
Departamento Acadêmico 
Superintendente do Departamento Acadêmico - Ana Carolina Letichevsky 
 
Departamento de Tecnologia da Informação 
Coordenação de TI–Carlos Henrique Costa Nogueira 
 
Centro de Avaliação 
Coordenador Centro de Avaliação - Nilma Fontanive 
Consultor em Avaliação Escolar - Ruben Klein 
 
Administrativo 
Gerente Administrativo - Alberto Lucas Rodriguez 
Gerente Financeiro - Antônio Luiz Maia dos Santos 
Gerente de Contabilidade – Paulo Creset 
Gerente de Recursos Humanos – Alexandre Martins Amorim 
 
Centro Cultural 
Secretário Executivo de Cultura – Leandro Bellini 
 
Faculdade Cesgranrio 
Diretor Geral – Carlos Alberto Serpa de Oliveira 
Vice-Diretor – Roberto Guimarães Boclin 
Diretor Administrativo – Claudino Victor Romeo do Espírito Santo 
Diretor Acadêmico – Paulo Alcantara Gomes 
Secretária Geral – Vanessa Coelho Garcia 
Ouvidor – Sérgio Flores da Silva 
 
Cursos 
Mestrado Profissional em Avaliação: 
Coordenadora - Ligia Gomes Elliot 
Curso Superior de Tecnologia em Gestão de Recursos Humanos: 
Coordenador – Marcelo Pereira Marujo 
Curso Superior de Tecnologia em Gestão de Avaliação: 
Coordenador – Glauco da Silva Aguiar 
Curso de Teatro – Bacharelado 
Coordenador – Eduardo Ferreira Chaves Vaccari 
Curso de Pedagogia – Licenciatura 
Coordenadora– Clarisse Olivieri de Lima 
Curso de Sistemas de Informação – Bacharelado 
Coordenador – Antonio José Dias da Silva 
Curso de Teatro – Licenciatura 
Coordenador – João Cícero Teixeira Bezerra 
 
iv 
 
 
v 
 
Mensagem do presidente 
 
A leitura deste relatório nos fará descobrir que uma boa parte de arquitetos e 
estudantes tem se dedicado a projetos de habitação para a população de baixa renda. Tal 
perspectiva profissional baseia-se na busca da moradia digna, que é um direito do brasileiro, 
conforme preconiza nossa Constituição Cidadã. Diversos cursos de Arquitetura e Urbanismo 
contam com núcleos, grupos de pesquisa ou Laboratórios de Habitação, justamente prevendo a 
prática da Assistência Técnica como uma estratégia profissional que combina aprendizado com 
extensão universitária e pesquisa sobre o habitat. 
É possível aprender, lendo este trabalho, que “a formação do profissional arquiteto e 
urbanista passou, em período recente, por transformações significativas, dado o avanço 
técnico dos meios de representação e de elaboração de projetos, incorporando processos 
digitais que, por sua vez, geraram também profundas alterações no trabalho do arquiteto e 
nos procedimentos utilizados nos escritórios de Arquitetura”. Sem dúvida, essa área caminha 
no sentido da construção de um novo paradigma para si. 
No entanto, o aprendizado com essa leitura pode ir além: é possível ver,em toda essa 
mudança, ecos de novas transformações. Mudanças na área da Educação, da Avaliação, da 
Arte: todas as áreas do saber humano devem estar atentas à evolução do homem. 
Com o foco na construção de mudanças, trazemos à luz este décimo Relatório Técnico: 
Evidências do Enade e de outras fontes – mudanças no perfil do Bacharel em Arquitetura e 
Urbanismo. A série teve início em 2014 com o Escolha de carreiras em função do nível 
socioeconômico: Enade 2004 a 2012. A partir de 2015, passamos a publicar relatórios que se 
voltavam especificamente para as várias áreas do saber. Em 2015, publicamos o perfil do 
biólogo graduado, seguindo-se o trabalho sobre o perfil do historiador (2017), do psicólogo, 
do pedagogo, do geógrafo e do filósofo graduado – estes quatro últimos publicados no ano de 
2018. 
Para buscar compreender a evolução dos cursos de graduação e pós-graduação em 
Arquitetura e Urbanismo, caracterizar o perfil dos concluintes e a posição dos bacharéis em 
Arquitetura e Urbanismo no mercado de trabalho (por sexo e faixa etária), foram utilizados os 
dados do Censo da Educação Superior (de 2000 a 2017), do Enade (de 2004 a 2017), da CAPES 
(Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e da pesquisa amostral do 
vi 
 
Censo Populacional (2010). Diagnósticos como os que serão apresentados neste relatório 
podem contribuir para reflexões sobre políticas públicas associadas à oferta de cursos de 
graduação. 
Dessa forma, por intermédio desses dados, o relatório investiga se houve – e de que 
forma houve – evolução na oferta de profissionais na área de Arquitetura e Urbanismo. O 
estudo pesquisa também se a ampliação da autorização de cursos na modalidade a distância 
foisignificativa na área e se tais cursos alteraram significativamente o quantitativo de 
concluintes de Arquitetura e Urbanismo. Além disso, é possível acompanhar a evolução do 
perfil dos que terminaram o curso em 2005, 2008, 2011, 2014 e 2017 e como se deu a 
evolução da oferta dos cursos de pós-graduação (mestrado, mestrado profissional e 
doutorado). 
 O trabalho apresenta, por exemplo, um diagnóstico da evolução da oferta de cursos 
superiores de Arquitetura e Urbanismo, presenciais e a distância, do perfil socioeconômico dos 
concluintes e da colocação dos formados dos Arquitetos e Urbanistas, participantes da 
amostra do Censo Demográfico 2010, no mercado de trabalho. O trabalho aponta que o 
número de cursos presenciais em Arquitetura e Urbanismo cresceu 361,9% em 18 anos (8,87% 
ao ano): trata-se de um total de 134 cursos em 2000 contra 619 em 2018. Na rede pública, os 
números correspondentes foram 91,9% (3,69% a.a.), 37 e 71, e na rede privada, foram 464,9% 
(10,10% a.a.), 97 e 548. Cursos a distância estão circunscritos apenas em instituições privadas 
e no período 2016/2018. Os cursos em instituições públicas crescem, grosso modo, até 2012, e 
depois decrescem até o fim de 2018. 
Na análise dos dados para os cursos de pós-graduação stricto sensu (Mestrado 
Profissional, Mestrado Acadêmico e Doutorado), nos primeiros anos em análise, os cursos eram, 
exclusivamente, de Mestrado ou de Mestrado e Doutorado. A partir de 2010, começam a 
aparecer cursos de Mestrado Profissional. Quanto às matrículas, em todos os anos em análise, 
existem mais mestrandos do que doutorandos, embora a diferença tenha decrescido no tempo, 
indo de 2,87 para 1,37 mestrandos para cada doutorando em 2018. 
Enfim, a leitura deste relatório é de suma importância para todos os que estão 
envolvidos na área específica de Arquitetura e Urbanismo, mas também para os estudiosos da 
área de Educação e Avaliação, além, naturalmente, dos governantes de nosso país, que são 
essencialmente interessados na grandeza da nação. 
vii 
 
A Arquitetura se traduz como a técnica de organização dos espaços, visando à criação 
de ambientes que propiciem os diversos tipos de atividades humanas. Esta é uma definição que 
poderia estar num dicionário. Entretanto eu me permito – como engenheiro e educador que 
sou – ver a Arquitetura como uma metáfora de construção. E quando assim penso, vislumbro 
num país a construir, por intermédio da educação, por intermédio da propagação da cultura. 
Sei que reitero seguidamente estes conceitos, mas sei que devo reiterar também que é essa a 
missão da Fundação Cesgranrio na sociedade brasileira. 
 
 
Carlos Alberto Serpa de Oliveira 
Presidente da Fundação Cesgranrio 
 
viii 
 
 
ix 
 
Sumário 
Mensagem do presidente .................................................................................................................................................... v 
Sumário ............................................................................................................................................................. ix 
Resumo .............................................................................................................................................................. x 
Abstract ............................................................................................................................................................. xi 
Resumen ............................................................................................................................................................ xii 
1- Introdução ........................................................................................................................................................... 13 
2- Metodologia ........................................................................................................................................................... 14 
3 - Trajetórias dos cursos de Arquitetura e Urbanismo no Brasil................................................................... 16 
3.1 - Antecedentes ................................................................................................................................................ 16 
3.2 - O predomínio das Beauxs Arts durante o século XIX e as duas vertentes da formação do 
arquiteto e urbanista ................................................................................................................................................... 18 
3.3 - A afirmação de um projeto de modernização para o país .............................................................. 20 
3.4 - A formação do currículo específico e a relação com a realidade urbana e nacional .............. 24 
3.5 - A década de 1980 e a trajetória da nova LDB ..................................................................................... 26 
3.6 - As mudanças recentes nos cursos de Arquitetura e Urbanismo no Brasil e as avaliações do 
ensino ............................................................................................................................................................................. 28 
3.7 - As particularidades do ensino de Arquitetura e Urbanismo: seu currículo, o conteúdo e a 
condição atual................................................................................................................................................................ 29 
3.8 - A produção de pesquisas e a Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo .............................. 31 
4 - Evolução na oferta de cursos ............................................................................................................................. 32 
4.1 - Evolução na oferta de cursos ................................................................................................................... 32 
4.2 - Pós-graduação latu senso ........................................................................................................................ 51 
4.3 - Evolução na oferta de cursos de Pós-graduação ............................................................................... 52 
4.3.1- Corpo Docente dos cursos de Pós-graduação ................................................................................... 56 
5 - Características selecionadas dos cursos em 2017 ........................................................................................ 60 
6 - O perfil dos concluintes ....................................................................................................................................... 64 
7 - A atuação profissional dos graduados, mestres e doutores em Arquitetura e Urbanismo .............. 71 
8 - Rendimento Médio dos formados em Arquitetura e Urbanismo ocupados por categoria .............. 80 
9 - Considerações Finais ............................................................................................................................................. 87 
10 - Agradecimentos ..................................................................................................................................................... 89 
11 - Referências ........................................................................................................................................................... 90 
 
x 
 
Resumo 
Este estudo tem como objetivo contribuir para as reflexões sobre políticas públicas 
referentes aos cursos de graduação e pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo, 
apresentando um diagnóstico sobre a evolução da oferta, o perfil dos concluintes e a sua 
colocação no mercado de trabalho. Para tal, recorreu-se aos dados do INEP (Instituto Nacional 
de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), aos da CAPES (Coordenação de 
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e aos do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia 
e Estatística). Observou-se que, tanto na rede pública quanto narede privada, em geral, a 
expansão na oferta de cursos de Arquitetura e Urbanismo foi acompanhada pela procura de 
formação na área e, consequentemente, pelo aumento do número de concluintes na área. O 
número de cursos presenciais de Arquitetura e Urbanismo cresceu 361,9% em dezoito anos 
(8,87% a.a.).Nota-se que a oferta de cursos de pós-graduação stricto sensu aumentou, bem 
como a procura por vagas nesses cursos. Para a descrição do perfil socioeconômico dos 
concluintes, recorreu-se à Análise de Componentes Principais, com dados de todos os 
concluintes das áreas que realizaram o Enade (Exame Nacional de Desempenho dos 
Estudantes) de 2004 a 2017. Com os fatores obtidos, mostrou-se que os concluintes de 
Arquitetura e Urbanismo são os que possuem, em média, maior afluência socioeconômica 
dentre os das áreas de conhecimento avaliadas pelo Enade. A situação atual da oferta de 
cursos de graduação no que diz respeito a tamanho, à localização geográfica e o CPC está 
apresentada em um capítulo à parte. Por fim, a pesquisa amostral do Censo 2010 permitiu 
detectar que a carreira da maioria dos bacharéis em Arquitetura e Urbanismo está 
concentrada nas ocupações de “Arquitetura e Urbanismo e Construção”, sejam eles graduados 
ou mestres, ao passo que a carreira dos doutores está concentrada nas ocupações de “Ensino”. 
Este estudo é facilmente replicável para outras áreas do conhecimento. 
 
Palavras-chave: Ensino Superior; Arquitetura e Urbanismo; Perfil Socioeconômico; Mercado de 
trabalho. 
 
xi 
 
Abstract 
This study aims to contribute to the debates on public policies concerning under graduate 
and postgraduate courses in Architecture and Urbanism, offering diagnosis on the evolution 
of supply, the profile of graduates and their placement in the labor market. For achieving this 
goal, data from INEP (National Institute for Educational Studies and Research Anísio Teixeira), 
from CAPES (Coordination for the Improvement of Higher Education Personnel) and from 
IBGE (Brazilian Institute of Geography and Statistics) were used. It was observed that, both in 
the public and in the private network, in general, the increase in supply was accompanied by 
the demand for training in the area and, consequently by, the increase in the number of 
graduates in the area. The number of classroom courses in Architecture and Urbanism grew 
361,9% in 18 years (8,87% p.y.). It is noticed that the supply of stricto sensu postgraduate 
courses has increased, as well as the demand for vacancies in these courses. For the 
description of the socioeconomic profile of the graduates, it was used the Principal 
Component Analysis with data from all graduates of the areas evaluated by Enade (National 
Students Performance Exam) from 2004 to 2017. With the obtained factors, it was showed 
that Architecture and Urbanism graduates are among those with, on average, the highest 
socioeconomic affluence among the ones in the areas of knowledge evaluated by Enade. The 
status of undergraduate courses considering size, geographical location and CPC is presented 
in a separate chapter. Finally, the 2010 Census sample survey detected that the career of most 
bachelors in Architecture and Urbanism is concentrated in the occupations of “Architecture 
and Urbanism and Construction”, whether they are graduates or masters, meanwhile the 
career of doctors is concentrated in the “Teaching” occupations. This study is easily replicable 
for other areas of knowledge. 
 
Keywords: Higher Education; Law; Socioeconomic Profile, Labor Market. 
 
xii 
 
Resumen 
Este estudio tiene como objetivo contribuir a los debates de políticas públicas con respecto 
a los cursos de graduación y posgraduación en Arquitectura y Urbanismo, presentando un 
diagnóstico sobre la evolución de la oferta, el perfil de los graduados y su inserción en el 
mercado laboral. Para lograr ese objetivo, se utilizaron datos de INEP (Instituto Nacional de 
Estudios e Investigación Educativa Anísio Teixeira), de CAPES (Coordinación para la Mejora del 
Personal de Educación Superior) y de IBGE (Instituto Brasileño de Geografía y Estadística). Se 
observó que,tanto en las escuelas públicas como en las privadas, la expansión en la oferta de 
cursos de Arquitectura y Urbanismo fue acompañada por la demanda de capacitación en el 
área y, en consecuencia, por el aumento en el número de graduados en el área. El número de 
cursos presenciales en Arquitectura y Urbanismo creció 361,9% en 18 años (8,87% a.a.). Se 
percibe que la oferta de cursos de posgrado stricto sensu ha aumentado, al igual que la 
demanda de vacantes en estos cursos. Para la descripción del perfil socioeconómico de los 
graduados se utilizó el Análisis de Componentes Principales, con datos de todos los graduados 
de las áreas que realizaron el Enade (Examen Nacional de Desempeño de Estudiantes) de 2004 
a 2017. Con los factores obtenidos se mostra quelos graduados en Arquitectura y Urbanismo 
se encuentran entre aquellos con, en promedio, la mayor afluencia socioeconómica entre los 
graduados de las áreas de conocimiento evaluadas por Enade. El estado actual de los cursos de 
pregrado considerando tamaño, ubicación geográfica y CPC se presenta en un capítulo 
separado. Finalmente, la encuesta de la muestra del Censo de 2010 reveló que la carrera de la 
mayoría de los licenciados en Arquitectura y Urbanismo se concentra en las ocupaciones de 
"Arquitectura y Urbanismo y Construcción", sean graduados o maestros, mientras la carrera de 
los doctores está concentrada en las ocupaciones de "Enseñanza". Este estudio es fácilmente 
replicable para otras áreas del conocimiento. 
 
Palabras Clave: Educación Superior, Derecho, Perfil socioeconómico, Mercado de Trabajo 
 
13 
 
1- Introdução 
No Brasil, a década de 1990 foi marcada pela implantação de levantamentos de dados 
educacionais por meio de censos e avaliações nacionais. A continuidade e o investimento para 
a coleta de dados só fazem sentido se, de alguma forma, eles forem usados em políticas para 
melhoria da educação. Afinal, ninguém coleta dados apenas para exibi-los. Os resultados da 
avaliação, por exemplo, devem possibilitar a melhoria dos processos de ensino e de 
aprendizagem. Para isso, é preciso que os dados e suas análises sejam entendidos pelos 
usuários em potencial. Em sintonia com Patton (1997), a utilização de resultados se refere a, 
como pessoas reais, no seu contexto real, aplicam os resultados e vivenciam o processo 
avaliativo. 
O Brasil possui uma característica peculiar, que é o fato de o Governo Federal implantar 
levantamentos de dados educacionais a nível nacional, gerar e disponibilizar grandes bases de 
dados como os Censos Educacionais (desde 1980) e avaliações nacionais da Educação Básica 
(desde 1990 - primeira edição do Saeb). A partir do final da década de 19901, esses tipos de 
levantamento foram sendo ampliados para todos os níveis e modalidades de ensino, além de 
terem ocorrido levantamentos especiais como o Censo do Professor (1997 e 2003), o Censo da 
Educação Profissional (1999) e o Censo Escolar Indígena (1999). Existe hoje uma vasta gama 
de dados, que podem ser utilizados para fins que extrapolam o desenho inicial do processo. O 
próprio governo tem incentivado, por meio do Observatório da Educação (Decreto nº 5.803, de 
8 de junho de 2006), a utilização desses dados e resultados em estudos e pesquisas, além de 
disponibilizar para a população em geral os microdados referentes a diferentes coletas de 
dados que vem conduzindo. 
Neste estudo, apresenta-se uma possibilidade de utilização dos dados do Censo da 
Educação Superior (de 2000 a 2017), do Enade (de 2004 a 2017), da CAPES (Coordenação de 
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e da pesquisa amostral do Censo Populacional 
(2010) para compreender a evolução dos cursos de graduação e pós-graduação em 
Arquitetura e Urbanismo, caracterizar o perfil dos concluintes e a posição dos bacharéis em 
Arquitetura e Urbanismo no mercado detrabalho, por sexo e faixa etária. A parte referente à 
caracterização socioeconômica dos concluintes do Ensino Superior é uma continuação de 
pesquisa realizada pelos autores, englobando todas as carreiras participantes do Enade 
(Beltrão & Mandarino, 2014), porém focando a área de Arquitetura e Urbanismo, utilizando 
uma série mais extensa e incluindo a oferta de cursos de pós-graduação na área. 
Por meio dessas informações, buscou-se responder às questões: Houve evolução na oferta 
de profissionais na área de Arquitetura e Urbanismo? De que forma? A ampliação da 
autorização de cursos na modalidade a distância foi significativa na área? Tais cursos 
alteraram significativamente o quantitativo de concluintes de Arquitetura e Urbanismo? Como 
 
1A partir de 1997 o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) foi reestruturado e 
transformado no órgão responsável pelos levantamentos censitários e de avaliação da educação brasileira. 
14 
 
evoluiu o perfil dos que terminaram o curso em 2005, 2008, 2011, 2014 e 2017? Como se deu 
a evolução da oferta dos cursos de pós-graduação (mestrado, mestrado profissional e 
doutorado)? Qual a ocupação principal no mercado de trabalho dos bacharéis em Arquitetura 
e Urbanismo em 2010, por sexo, faixa etária, e os respectivos rendimentos? 
O capítulo primeiro é esta introdução. O capítulo 2 faz uma apresentação resumida da 
metodologia utilizada. O capítulo 3 apresenta o ensino de Arquitetura e Urbanismo no Brasil 
em perspectiva, bem como um panorama da pós-graduação. O quarto capítulo discute a 
oferta e uma proxy de demanda dos cursos de graduação em Arquitetura e Urbanismo, na 
primeira seção. A seção seguinte do capítulo trata dos cursos de pós-graduação. O capítulo 5 
apresenta as informações sobre o CPC (Conceito Preliminar de Curso) para os cursos de 
graduação em Arquitetura e Urbanismo com os recortes de grande região, categoria 
administrativa e organização acadêmica. O perfil socioeconômico dos graduados está 
apresentado no capítulo 6, para os anos do Enade nos quais a área participou. A análise da 
colocação profissional dos bacharéis, mestres e doutores em Arquitetura e Urbanismo, por 
sexo e faixa, é discutida no capítulo 7. O capítulo 8 apresenta os rendimentos dos portadores 
de diploma na área nos diferentes graus: Graduação, Mestrado e Doutorado. As considerações 
finais encontram-se no capítulo 9, e a bibliografia, no 10. 
 
2- Metodologia 
Para responder à maioria das questões de pesquisa, recorreu-se aos dados disponibilizados 
pelo MEC/Inep2 dos Censos da Educação Superior, de 2000 a 2018, e do Enade, de 2005, 2008, 
2011, 2014 e 2017, anos nos quais a Área de Arquitetura e Urbanismo foi avaliada. Os dados 
da CAPES foram a fonte de informação para os cursos e alunos dos cursos de pós-graduação. 
Já para responder à última das questões (posição no mercado de trabalho), recorreu-se à base 
de dados da pesquisa amostral do Censo-20103. As bases de dados dos Censos da Educação 
Superior e do Enade foram tratadas usando-se o SPSS (Statistical Package for Social Sciences) 
versão 23 para Windows. 
Para os Censos da Educação Superior, foram filtrados os cursos de Arquitetura e Urbanismo 
e buscou-se descrever a evolução, ao longo de uma parte do período para o qual os dados 
estavam disponíveis (2000 a 2018), das seguintes variáveis: número de cursos, número de 
matrículas do respectivo ano e de concluintes, estratificadas por habilitação (Licenciatura e 
Bacharelado) e por modalidade (presencial e a distância). As sinopses, também disponibilizadas 
pelo Inep, contribuíram para a conferência dos valores encontrados. 
Com as bases do Enade, buscou-se caracterizar o perfil socioeconômico dos concluintes dos 
diversos cursos de graduação e de formação de tecnólogos que têm participado das edições do 
Enade, desde 2004 (Beltrão & Mandarino, 2014). Para isso, recorreu-se ao questionário 
 
2Disponível em: <portal.inep.gov.br/basica-levantamentos-acessar>. Acesso em 10/03/2013. 
3Microdados da amostra do Censo 2010. 
15 
 
socioeconômico do estudante. Apesar de ter sofrido algumas alterações desde a primeira 
edição do Enade, boa parte das 54 questões que compõem os questionários atuais (a partir de 
2008) já estavam presentes nos anos anteriores. Foram escolhidas e testadas algumas dessas 
questões, uniformizando as categorias de resposta, quando necessário, e transformando-as de 
variáveis ordinais em numéricas por meio da técnica conhecida como Escalamento Ótimo 
(Optimal Scaling), disponível no SPSS. A seguir, utilizando-se as bases de dados de todas as 
áreas, de todas as edições do Enade, aplicou-se a Análise de Componentes Principais (ACP) do 
SPSS às variáveis já uniformizadas e quantificadas. O objetivo foi obter fatores determinantes 
do perfil do aluno, usando um número menor de variáveis, os quais se constituem como 
combinação linear das variáveis iniciais e explicam a maior parte da variância4. As variáveis do 
questionário utilizadas para o ACP foram: escolaridade da mãe e do pai, renda familiar, 
jornada de trabalho, independência econômica, número de corresidentes e tipo de escola onde 
o concluinte cursou o Ensino Médio. Assim, foram identificados três fatores de caracterização 
do perfil dos alunos: fator 1, afluência socioeconômica, composto por escolaridade dos pais, 
escola onde o concluinte cursou o Ensino Médio e renda familiar; fator 2, autonomia 
financeira, com maior carga de jornada de trabalho e independência econômica; e, por último, 
o fator 3, que é explicado, principalmente, pelo número de familiares corresidentes, apesar de 
ser também influenciado pela renda familiar. Na seção 6, discute-se o perfil dos graduandos 
em Arquitetura e Urbanismo em função desses fatores e compara-se com os valores médios 
dos concluintes de outras áreas. 
Finalmente, recorreu-se à base de dados da pesquisa amostral do Censo-2010 para 
investigar a ocupação principal dos recenseados que declararam ter a maior formação na área 
de Arquitetura e Urbanismo: Graduação, Mestrado ou Doutorado. Para estes, levantaram-se 
sexo, idade, trabalho principal e ocupação. Para o IBGE, trabalho principal é considerado 
como: 
o único trabalho que a pessoa tinha na semana de referência. Para a pessoa que tinha mais de 
um trabalho na semana de referência, ou seja, para a pessoa ocupada em mais de um 
empreendimento nessa semana, adotaram-se os seguintes critérios, na ordem enumerada, para 
definir o principal: 1º) O trabalho principal era aquele ao qual a pessoa habitualmente dedicava 
maior número de horas por semana; 2º) No caso de igualdade no número de horas trabalhadas, 
o trabalho principal era aquele que proporcionava habitualmente o maior rendimento mensal; e 
3º) No caso de igualdade, também, no rendimento, o trabalho principal era aquele com mais 
tempo de permanência no empreendimento, contado até o último dia da semana de referência. 
(IBGE, 2012, p.36) 
Já a ocupação é relacionada ao trabalho principal e considerou-se como ocupação a 
função, cargo, profissão ou ofício exercido pela pessoa. Para a classificação das ocupações, 
utilizou-se a Classificação de Ocupações para Pesquisas Domiciliares – COD – que foi 
 
4Mais detalhes podem ser obtidos no Relatório Técnico “Perfil Socioeconômico dos Concluintes de Cursos 
Superiores de 2004 a 2012” (Beltrão et al, 2014). 
16 
 
desenvolvida pelo IBGE, tendo como referência a International Standard Classification of 
Occupations – ISCO-08 – da Organização Internacional do Trabalho – OIT (IBGE, 2012, p.37). 
 
3 - Trajetórias dos cursos de Arquitetura e 
Urbanismo no Brasil 
3.1 - Antecedentes 
A formação do profissional arquiteto e urbanista associa-se de modo muito particular à 
configuração das cidades e à construção de edifícios que marcaram a história do país, e que se 
destacarampor motivos estéticos, pelo uso da técnica e pela sensibilidade social inerentes às 
suas atribuições. Considerando-se que a condição do exercício profissional remete à 
elaboração de projetos que expressam formalmente ideais e que desenham para concretizar a 
proposta, percebe-se, como poderá ser observado adiante, que a formação ampla e 
interdisciplinar do profissional se fez presente no processo de formação do arquiteto e 
urbanista, desde as primeiras referências registradas pela historiografia. 
A origem do ensino da Arquitetura no Brasil tem como referências o século XVII e a 
Engenharia Militar, devido à demanda da proteção e domínio da posse pelos portugueses. Rios 
(1977) aponta como marco inaugural a Aula de Fortificação do Rio de Janeiro e Aula de 
Fortificação da Bahia, iniciadas em 1699. Em Pernambuco, na Academia Militar, ministrava-se 
a Aula de Fortificação e a Aula de Geometria. O ensino do desenho, da geometria e do 
desenho de arquitetura que foram difundidos aqui tinham como referência, por sua vez, a 
Aula de Fortificação e Arquitetura Militar fundada em 1647, em Lisboa. 
Não por acaso, as principais e as primeiras edificações de porte construídas no período 
colonial foram as fortificações militares e os edifícios religiosos, desenhados por mestres 
portugueses, chamados também de “fortificadores". As cidades que foram estrategicamente 
associadas aos portos e às fortificações, como marcos da colonização ao longo da extensa 
costa marítima brasileira, foram ocupadas em função das atividades portuárias e da 
agricultura, baseada na monocultura, em consonância com o sistema colonial caracterizado 
pela exportação para a metrópole. 
A referência de um novo momento para o ensino de Arquitetura no país só foi estabelecida 
no século XIX com a transferência do reino português para o Rio de Janeiro, em 1808. Em 
1810, foi criada a Academia Real Militar, onde o ensino de Arquitetura Civil passou a figurar 
ao lado do Desenho, da Geometria, da Geometria Descritiva e da Perspectiva. 
Em 1816, a incorporação da Missão Artística Francesa deu início a uma outra vertente, a 
Beauxs Arts, que estabeleceu ao lado do ensino militar, uma tradição que deixou um legado 
marcante na paisagem e na formação dos profissionais arquitetos e urbanistas. A Escola Real 
de Ciências, Artes e Ofícios foi criada em 1816 e, em 1826, tornou-se Academia Imperial de 
17 
 
Belas Artes, integrada por Grandjean Montigny (1776 - 1850), eminente arquiteto da Missão 
Artística Francesa. 
Devido à necessidade de dotar a coroa portuguesa de edificações à altura dos demais reinos 
sediados na Europa, foi notável a influência exercida nos hábitos e na linguagem das 
edificações, na estética e na qualidade dos espaços públicos. 
A partir desse momento, as duas vertentes construtivas, que também são vertentes do 
ensino da Arquitetura, caminharam paralelamente. A primeira, ancorada na Engenharia e na 
Arquitetura Militar, própria à tradição dos empreendimentos de exploração marítima 
portuguesa, e a segunda, baseada na estética Beauxs Arts francesa, que transladou o 
Neoclássico para os trópicos, que contraditoriamente tornou-se aqui estilo de uma 
aristocracia. 
Percebe-se, portanto, que a formação de boa parte dos profissionais que se dedicavam ao 
projeto, ou seja, à concepção, ao desenho e à produção dos elementos construtivos capazes de 
permitir a execução de uma edificação, permaneceu durante séculos no Brasil associada ao 
conhecimento obtido diretamente pela prática – como produto da aprendizagem dos ofícios 
voltados à construção. 
Nota-se que o ensino de Arquitetura e Urbanismo foi fruto de um processo lento e tardio, 
ou seja, a afirmação da Arquitetura e do Urbanismo como campo disciplinar, conhecimento 
fundamental para a construção civil e do espaço urbano, restringiu-se durante os três 
primeiros séculos da história brasileira à construção de edifícios públicos de proteção e uso das 
elites que estiveram à frente e se beneficiaram do sistema colonial e imperial que, por sua vez, 
se traduziam em afirmação de poder. 
O ensino de arquitetura, portanto, restringiu-se a uma formação limitada às grandes obras 
de defesa e das residências das elites, assim como edifícios públicos, já que grande parte das 
construções habitacionais eram feitas por pequenos construtores, muitas vezes imigrantes que 
detinham conhecimento de pequenas edificações – não dependendo, portanto, de apuros 
técnicos ou de inovações construtivas. 
Deve-se destacar o papel desempenhado pelos Liceus de Artes e Ofícios na formação da 
mão de obra especializada, e, na própria construção da paisagem urbana no final do século 
XIX, quando se acelerava a crise do segundo Império e o processo de industrialização, e, 
consequentemente, de urbanização, fonte de demandas pela construção civil. 
Esse momento, o final do século XIX, é um marco de outra fase para a vertente do ensino 
de arquitetura associado à engenharia, no caso, as escolas de Engenharia Politécnicas e depois 
as de Engenharia Civil, já na virada do século XX e no seu início. 
 
 
18 
 
3.2 - O predomínio das Beauxs Arts durante o 
século XIX e as duas vertentes da formação 
do arquiteto e urbanista 
Dois anos após a chegada da família Real portuguesa ao Brasil, D. João VI realizou, em 
1810, a transferência da Academia Real Militar, com o objetivo de investir na formação de 
profissionais para atuarem na abertura de minas e construção de caminhos, portos e, 
principalmente, na adequação urbana, como os calçamentos e a infraestrutura adequada ao 
processo de urbanização. 
Em 1816, com a vinda da Missão Artística Francesa ao Brasil, foi criada a Escola Real de 
Ciências, Artes e Ofícios, porém esta não chegou a funcionar, apesar de várias tentativas de 
elaboração do seu processo de ensino (Schlee, 2010), sendo que somente em 1826, a fundação 
da Academia Imperial de Belas Artes se tornou a principal referência para a formação voltada 
para o campo das artes e da arquitetura. 
A Academia Imperial de Belas Artes foi orientada pelos mesmos preceitos da formação 
clássica francesa, responsável pela profusão do Neoclássico que se tornou recorrente na cidade 
do Rio de Janeiro, capital do Império, fundindo-se depois ao Ecletismo, a partir do final do 
século XIX. Coube aos integrantes da Missão Artística Francesa tornar o Rio de Janeiro, 
especialmente os espaços e as obras públicas, digno da capital do Reino Português. Sediado 
agora em uma colônia, assumiu, então, as feições adequadas para a abertura de seus portos 
para o mercado internacional. A única escola de arquitetura, a Escola Imperial de Belas Artes, 
tinha um só professor como responsável pela formação do futuro arquiteto. Foi inicialmente o 
mestre Grandjean de Montigny, que se baseava na formação que predominava na Europa, 
considerada "clássica": feita no atelier, cabendo ao aprendiz auxiliar e participar, 
gradativamente, da obra do mestre. Aprendia-se pela observação, pela cópia e pela repetição 
de modelos. 
A partir de 1890, a então Academia Imperial de Belas Artes foi denominada Escola 
Nacional de Belas Artes (ENBA), destacando-se no campo da Arquitetura e Urbanismo, à 
medida que intervenções urbanas foram projetadas e realizadas no período, como a 
inauguração de Belo Horizonte (1894-1897), assim como a reforma urbana de Pereira Passos 
no Rio de Janeiro, (1902-1906) e, mais tarde, a publicação da primeira revista brasileira de 
arquitetura, “Architectura no Brasil”, em 1921. (Schlee, 2010) 
Até a proclamação da República, o ensino de Arquitetura limitava-se a apenas um curso de 
arquitetura, o da ENBA, embora houvesse também o curso da Escola Politécnica do Rio de 
Janeiro que formava engenheiros e engenheiros-arquitetos. 
A Escola Politécnica do Rio de Janeiro foi criada em 1874, a partir da Escola Central, 
fundada em 1858, que por sua vez, teve como origem a Academia Real Militar (1810), criada 
por D. João VI. A Academia integrou um conjunto de instituições entre as quaisse destacaram 
a Escola Médico-Cirúrgica (1808), o Real Horto Botânico (1808), o Observatório Astronômicoe 
Metereológico (1809), a Imprensa Régia (1810) e a Biblioteca Nacional (1810). 
19 
 
À Academia Real Militar sucedeu a Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho, 
um marco do ensino superior brasileiro cuja criação, em 1792, pôs fim às chamadas “Aulas”, 
cursos isolados que, desde o século XVII, destinavam-se a formar militares para atuar nas 
fortificações distribuídas ao longo da extensa costa litorânea. Telles (1994), em sua História da 
Engenharia no Brasil—Sec. XVI a XIX, afirma que se tratava de 
“um verdadeiro instituto de ensino superior, como organização comparável aos congêneres de 
sua época, como se depreende de seus estatutos. Foi assim o antecedente mais remoto da 
futura famosa Escola Politécnica e da atual Escola de Engenharia da UFRJ, que dela descendem 
em linha direta”.(Telles, 1994: 87) 
A Escola Central, que teve como origem a Escola Militar, cujos estatutos e currículo foram 
estabelecidos em 1842, integrou um amplo processo de atualização e reestruturação do ensino 
militar no país, separando a engenharia civil da militar.(Barata, 1973) 
No âmbito da Corte, ficariam concentrados na Escola Central, sediada no centro da cidade, 
motivo da sua denominação, o ensino das Matemáticas e das Ciências Físicas e Matemáticas, 
fundamentais às engenharias militar e civil. Caberia ainda à Escola Central formar engenheiros 
que atendessem às necessidades crescentes do poder público e da sociedade civil na 
implementação das atividades industriais e comerciais, principalmente. Destacam-se nesse 
contexto o desenvolvimento das ferrovias e os desmembramentos e demandas da implantação 
desse sistema de transporte para a urbanização e construção civil. 
Telles destaca que, no programa da Escola Central de 1858, 
“pela primeira vez era empregada a expressão Engenharia Civil para designar um curso, e 
também que se iniciava o ensino das estradas de ferro, sendo que o Brasil já tinha, por essa 
época, três estradas de ferro em operação”.(Grifo do autor). No entanto, a completa 
desvinculação da sua origem militar só se deu em 1874, quando a Escola Central foi 
transformada na Escola Polytechnica, dedicando-se exclusivamente ao ensino da Engenharia e 
da Arquitetura Civil.” (Telles, 1994: 109) 
Havia também a Academia de Belas Artes na Bahia, funcionando desde 1877, fruto de um 
importante processo de investimento na formação dos ofícios da construção, por meio do 
Liceu de Artes e Ofícios, que funcionava em paralelo à Academia. Por ordem cronológica da 
data de fundação, havia: o Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro (1856), o de Salvador 
(1872), o de Recife (1880), o de São Paulo (1882), o de Maceió (1884) e o de Ouro Preto 
(1886). Os Liceus tinham como objetivos formar e treinar a mão-de-obra especializada para 
determinadas áreas. Essa iniciativa vinha de entidades da sociedade civil e de recursos 
provenientes de doações de seus sócios. (Schlee, 2010) 
No ano de 1894, a Escola Politécnica de São Paulo foi fundada, tendo início as atividades 
do curso de engenheiro-arquiteto, representando um grande investimento na formação 
técnica e tecnológica da construção civil, assim como na formação em urbanismo. Anos 
depois, foi criada a Escola Politécnica da Bahia em 1897 e, nos primeiros anos do século XX, a 
Escola Politécnica de Pernambuco (1912). 
20 
 
Conforme destaca Motta (1977), as duas vertentes principais de ensino de Arquitetura 
afirmaram-se com o desenvolvimento populacional e industrial no final do século XIX, 
contribuindo assim para a alteração da imagem das cidades remanescentes do Brasil Colônia, 
que persistiam durante o Brasil Império. 
A primeira vertente, originária da ENBA, a tradicional Beauxs Arts, e a outra vertente, 
associada à Engenharia, foram incrementadas pela fundação das escolas politécnicas, de tal 
modo que se distinguiam os profissionais do trabalho artístico dos outros, mais afeitos ao 
trabalho fabril. 
Foi nos marcos desse quadro que também surgiram os cursos de Arquitetura e Urbanismo 
derivados das escolas de Engenharia, como foram o caso da Escola de Engenharia de Porto 
Alegre, criada em 1987, e o da Escola de Engenharia do Mackenzie College em São Paulo, 
criada em 1896. 
No início do século XX, foram abertos novos cursos de Arquitetura, acompanhando um 
período de efervescência econômica associado à industrialização tardia do Brasil, o que deu 
início a um outro momento de expansão dos cursos de Arquitetura e Urbanismo. Naquele 
período, a profissão do arquiteto e do urbanista se afirmava com a criação de associações 
profissionais no Rio de Janeiro e em São Paulo, resultando na criação do Instituto de 
Arquitetos do Brasil (IAB) em 1924. 
"Em 1914, em Porto Alegre, foi criada a Escola Profissional Dominical e Noturna 
(GewerbeSchule), que fazia da arquitetura e da construção o foco de suas preocupações 
didáticas. Em 1928, começou a funcionar o curso de Arquitetura da Academia de Belas Artes, 
em São Paulo. Dois anos mais tarde foram criadas a Escola de Belas Artes e a Escola de 
Arquitetura, em Minas Gerais. O curso sediado em Belo Horizonte foi o primeiro específico para 
a formação em Arquitetura e Urbanismo." (Gutierrez; 2013, 21) 
Enfim, pode-se afirmar que um novo momento para a história do ensino de Arquitetura e 
Urbanismo foi inaugurado nas primeiras décadas do século XX com os cursos de Arquitetura, 
desvinculados das duas vertentes (Belas Artes e Politécnica). 
 
3.3 - A afirmação de um projeto 
de modernização para o país 
A realização da Semana de Arte Moderna, em 1922, em São Paulo, reunindo diversos 
artistas que contestaram os modelos tradicionais da concepção artística, assim como a 
necessidade de integrar as diferentes expressões – tanto plásticas, musicais, literárias e de 
arquitetura, estabeleceram uma referência vigorosa para que novos desdobramentos 
ocorressem posteriormente. 
Em 1925, os arquitetos Gregori Warchavchic e Rino Levi lançaram manifestos apresentando 
e defendendo a modernização da Arquitetura, tendo sido Warchavchic o autor da pioneira 
21 
 
casa modernista em São Paulo, em 1927, visitada por Le Corbusier, em 1929. Estabeleceram-se, 
desde então, o diálogo e a sintonia dos arquitetos brasileiros com o Movimento Moderno no 
plano internacional, abrindo novos caminhos para a atuação dos arquitetos e urbanistas, fato 
que repercutirá, posteriormente, na revisão do ensino de Arquitetura, como será visto. A 
Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas à presidência, proporcionou grandes mudanças 
institucionais no país, com a criação de novas legislações, principalmente, na área do trabalho 
e da educação, que implicaram a criação do Ministério da Educação e Saúde – MES, do 
Ministério do Trabalho e de Indústria e Comércio, assim como a implantação do Estatuto das 
Universidades Brasileiras em 1931, no qual se afirmava a necessidade de se ter pelo menos três 
cursos em cada instituição de ensino superior. 
Apesar da iniciativa dos cursos de Arquitetura autônomos no final dos anos de 1920, o 
curso de Arquitetura e Urbanismo era visto, naquele momento, como um curso limitado às 
preocupações apenas estéticas das edificações, sem capacidade de respostas reais às 
construções efetivas de porte. Preponderavam os cursos de Engenharia que formavam os 
engenheiros-arquitetos, politécnicos ou egressos dos cursos de Engenharia. O título de 
arquiteto era obtido com o acréscimo de um ano a mais no currículo do engenheiro civil. 
Entendia-se por “autonomia” nesse contexto, a criação de um curso de Arquitetura e 
Urbanismo que não tivesse sua espinha dorsal formado pelas matérias do curso de Engenharia 
Civil ou de Artes, pois ambos reservavam as matérias de Arquitetura e Urbanismo apenas para 
o(s) último(s) ano(s), colocando-se, portanto, de maneira secundária. 
Devem ser destacadas atitudes pioneiras, como a do curso de Arquitetura da Belas Artes de 
SãoPaulo. A Academia de Belas Artes começou a funcionar em 1926, e o curso de Arquitetura 
foi oferecido somente dois anos depois, em 1928. O quadro de professores contava com a 
presença de profissionais egressos da Escola Politécnica de São Paulo e da Escola de 
Engenharia do Mackenzie. Ali se enfatizavam as características artísticas, mas teve vida curta, 
no período de 1928 até 1934, quando formou sua última turma. Foi fechado em meio a uma 
polêmica que envolvia a criação da USP, Universidade de São Paulo (1934), e o funcionamento 
do CREA, que passou a atuar em 1933. 
“Apesar de sua curta duração, o curso de Arquitetura da Academia de Belas Artes de São Paulo 
não pode deixar de ser considerado em um panorama histórico do ensino de Arquitetura em 
São Paulo na primeira metade do século XX. Afinal foi a Belas Artes que porcentualmente 
formou mais arquitetos no período: trinta e nove profissionais, em quatro turmas de 1931 a 
1934. E mais, foi a única que os formou em uma escola de belas artes. Situação semelhante 
ocorreria em São Paulo apenas cinquenta anos depois e novamente na própria Belas Artes, a 
qual voltou a oferecer um curso de Arquitetura em 1979.” (Ficher, s.d., p.1) 
O período compreendido entre os anos de 1930 a 1960 foi marcado pela transição e 
afirmação do projeto elaborado pelos arquitetos associados ao Movimento Moderno, que 
conjugou o ensino de Arquitetura e Urbanismo ao projeto de construção da nação, cabendo às 
edificações e às cidades, expressarem esses propósitos. O ponto culminante foi a construção de 
Brasília e a afirmação internacional dos arquitetos brasileiros depois da Segunda Guerra 
Mundial. 
22 
 
Em 1930, Lúcio Costa foi convidado para dirigir o curso de arquitetura da ENBA, Escola 
Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro, que foi criada como Escola Real das Ciências, Artes 
e Ofícios (1816), denominada como Academia Imperial de Belas Artes em 1826, e depois, em 
1890, no contexto político da República como Escola Nacional. Seguindo ainda a tradição 
Beauxs Arts, o currículo da ENBA era voltado para a estudo e a reprodução da estética 
classicista, colocando em segundo plano as questões construtivas e também os problemas 
urbanos. Lúcio Costa convidou nomes importantes para a reestruturação do curso: como 
assistentes, os jovens arquitetos Affonso Eduardo Reidy e Atílio Correia de Lima; artistas, Leon 
Putz, o escultor Celso Antonio; e os arquitetos estrangeiros: o russo radicado em São Paulo, 
Gregori Warchavchic e o alemão Alexander Buddeus. As propostas de Lúcio Costa buscavam 
suplantar a linha academicista que predominava na escola. (Pinheiro, 2005, s.p.) Lúcio Costa 
foi demitido da direção do curso de Arquitetura da ENBA em 1931, porém, as mudanças 
curriculares que foram iniciadas sofreram pequenas alterações, permitindo a continuidade da 
linha de ensino proposta, que apontava para a incorporação da concepção modernista de 
Arquitetura e do Urbanismo, principalmente. 
A formação do arquiteto na ENBA tinha como base a composição, que se dividia em 
diferentes escalas de acordo com a incorporação dos conhecimentos das disciplinas técnicas 
ao longo do curso, além de disciplinas de conteúdo histórico e das práticas artísticas. Para 
Lúcio Costa, a organização curricular dos cursos de Arquitetura no interior das escolas de 
Engenharia era inaceitável, à medida que os quatro primeiros semestres, considerados básicos, 
eram voltados para a formação em Engenharia e somente nos três últimos anos é que eram 
cursadas as disciplinas específicas de Arquitetura e de Urbanismo. Além disso, a importância 
do trabalho em equipe como prática profissional teria que ser destacada no processo de 
aprendizagem em curso universitário de Arquitetura (Koatz, 2003). 
Nesse período, houve grandes avanços para a formação universitária à medida que Gustavo 
Capanema, como ministro da Educação e Saúde desde 1934, trabalhou pela integração de 
diferentes unidades para a construção de Cidade Universitária, tendo sido a Universidade de 
São Paulo a pioneira, fundada neste mesmo ano, com a formação de Faculdade de Filosofia, 
Ciências e Letras. 
Em 1937, foi criada a Universidade do Brasil, incorporando a Escola Nacional de 
Arquitetura, a Escola Nacional de Belas-Artes e a Escola Nacional de Engenharia. (Schlee, 
2010) 
O reconhecimento do arquiteto como profissão ocorreu somente em 1933, quando foi 
instituído o Conselho de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA) em meio a uma 
conjuntura econômica em transformação, principalmente pela complexidade que envolveu o 
rápido processo de industrialização no país, assim como pelas disputas políticas. 
Na década de 1940, o modernismo tornou-se uma forte referência e suas manifestações 
arquitetônicas estavam presentes na paisagem das duas maiores cidades do Brasil, Rio de 
Janeiro e São Paulo, acompanhando o movimento em nível internacional que passava por 
momentos de grandes turbulências devido à Segunda Guerra Mundial (1939-1945), e, 
23 
 
tornando-se ainda mais presente, depois, com a reconstrução pós-guerra, quando se lançou 
mão dos recursos da industrialização da construção, preconizados pela vanguarda modernista. 
Amparado no Movimento Moderno em ascensão, o I Congresso Brasileiro de Arquitetos, 
realizado em 1945, recomendou a autonomia dos cursos de Arquitetura e Urbanismo com 
grande ênfase. Essa diretriz já estava em pauta desde o 3o Congresso Pan-Americano, realizado 
no início do mês de julho de 1927, em Buenos Aires, que contou com a participação de 
arquitetos do Rio de Janeiro e São Paulo. (Ficher, s.d.) 
Essa década registrou também a fundação do curso de Arquitetura na Escola de Engenharia 
de Porto Alegre em 1945 e, em 1946, foi criado o curso de Arquitetura em Recife, na Escola de 
Belas Artes de Pernambuco. 
Por outro lado, em 1947, foi criada a Faculdade Nacional de Arquitetura, desvinculando-se 
da Escola Nacional de Arquitetura (1937). Nesse ano, ocorreu também o reconhecimento da 
Faculdade de Arquitetura do Mackenzie em São Paulo, constituída a partir do curso de 
Engenharia Civil. No mesmo ano, foi fundado o curso de Urbanismo do então Instituto Belas 
Artes de Porto Alegre. 
Conforme apontado por Schlee (2010), são três os cursos que se tornaram referências para 
a estruturação dos atuais cursos de Arquitetura e Urbanismo no Brasil. 1) A Faculdade 
Nacional de Arquitetura de 1945, da Universidade do Brasil (criada em 1937), marcando sua 
autonomia até mesmo pela localização (na Praia Vermelha), desvinculando-se fisicamente dos 
demais cursos.2) A Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, a 
FAUUSP, fundada em 1948, desvinculando-se do curso de Engenharia Civil da Escola 
Politécnica de São Paulo. 3) FAUUNB, concebida com uma forte proposta de inovação no 
processo de ensino, foi criada em 1962, na esteira do processo da construção de Brasília, tendo 
sido Oscar Niemeyer como o primeiro coordenador, e contando com os seguintes professores 
que participaram da elaboração do seu currículo: Edgar Graeff, Ítalo Campofiorito e João 
Filgueiras Lima (o Lelé). A particularidade da FAUUNB consistiu no estabelecimento de três 
grandes troncos: a teoria, a composição e a tecnologia, mas com atividades práticas voltadas 
para a execução de projetos a serem desenvolvidos nos edifícios do campus universitário. 
Vale destacar que a FAUUSP passou em 1957 por uma reformulação do conteúdo 
curricular, liderada pelos professores Abelardo de Souza, Hélio Duarte, Vilanova Artigas e Rino 
Levi. O atelier foi adotado como a espinha dorsal do curso e a atividade projetual como a 
principal condutora do processo formação do arquiteto, subdividida em quatro grandes áreas 
de intervenção: a) Comunicação Visual; b) Desenho Industrial; c) Edificações e d) Urbanismo. 
Por sua vez, a organização da FAUUSP foi feita a partir de três Departamentos, o de 
História da Arquitetura e Estética do Projeto, o Departamento de Tecnologia e o Departamento 
de Projeto. 
Por sua vez,a FAUUNB sofreu já no início do seu funcionamento diversas invasões do 
comando militar após o golpe militar de 1964, não conseguido implementar plenamente a 
concepção do projeto de ensino, concebido por Darcy Ribeiro e Anísio Teixeira. Pontuam a 
história da instituição perseguições, delações e expulsões de docentes, além da demissão de 16 
professores em 1965, quando 233 docentes, portanto, 79% dos professores, se retiram de suas 
24 
 
funções acadêmicas, solidários e em defesa da autonomia universitária (Salmeron, 1999 apud 
Schlee, 2010). 
3.4 - A formação do currículo específico e a 
relação com a realidade urbana e nacional 
É natural, como pode ser verificado acima, o processo de formação dos cursos e faculdades 
de Arquitetura que se tornaram referências para a elaboração do conteúdo curricular no país, 
que proporcionou comparações e promoveu debates em torno das mais adequadas condições e 
do perfil desejado para formação profissional do arquiteto e urbanista. 
Se por um lado a realidade social e a qualidade dos espaços construídos se constituíram em 
objetos de investigação e intervenção das próprias escolas de Arquitetura, por outro lado, a 
contribuição dos profissionais arquitetos e urbanistas incorporou-se à paisagem e à realidade 
política e econômica, materializada em obras e espaços urbanos, que foram construídos a 
partir de um processo de elaboração projetual. 
Em 1962, foi instituído o Currículo Mínimo, estabelecendo conteúdo elementar para os 
cursos de Arquitetura e Urbanismo. O Currículo Mínimo tinha como base um conjunto de 
disciplinas que compreendiam conhecimentos técnicos, históricos e estéticos – que deveriam 
ser sintetizados pelo estudante e resultar em proposições projetuais de Arquitetura. A 
formação do arquiteto tinha, até então, como referência maior, o currículo da Faculdade 
Nacional de Arquitetura, e somente após um longo processo de debate, que se arrastou por de 
cerca de uma década, considerando a necessidade de inovações “apontou para uma visão de 
formação generalista, única do arquiteto e urbanista”. (Schlee, 2010: 65). 
O golpe militar de 1964 representou uma interrupção nos debates que tomavam corpo no 
campo do ensino da Arquitetura, ainda que a referência da construção de Brasília (1961) se 
fizesse presente como um marco saliente da capacidade do arquiteto, exemplificando também 
qual seria o papel social na construção de um país moderno, mesmo com todas as 
contradições políticas e sociais presentes. 
Em 1965, a Portaria Ministerial no 159 definiu o número mínimo de 4.050 horas aula, a 
serem cumpridas no prazo mínimo de cinco anos para os cursos de Arquitetura e Urbanismo 
no Brasil. 
Após decretação do Ato Institucional no 5, em 1968, houve um recrudescimento da 
ditadura militar, comprometendo a construção conjunta de professores e alunos no ensino 
universitário. Em 1969, um novo currículo mínimo foi lançado para os cursos de Arquitetura e 
Urbanismo, e apresentava a divisão entre a "formação básica", na primeira etapa, e a 
"profissionalizante", constituindo uma segunda etapa. “As normas para sua aplicação 
denotavam uma visão tecnocrática e padronizadora indiferente às dinâmicas de mudanças de 
procedimentos didático-pedagógicas em andamento nos cursos”. (Schlee, 2010: 69) 
25 
 
Essa orientação tinha como base a Reforma Universitária MEC/USAID (United States 
Agency for International Developement), na qual as universidades brasileiras teriam um 
comprometimento menor do Estado, abrindo espaço para o setor privado a iniciativa de 
ampliação do Ensino Superior. 
No período de 1960 a 1971, houve um crescimento significativo do número de alunos, 
chegando a triplicar o corpo discente em relação ao número de professores nos cursos de 
Arquitetura e Urbanismo, diminuindo a relação entre o número de professores por aluno. 
Registrou-se no período também o primeiro grande crescimento do número de instituições de 
Ensino Superior privadas, comprometendo a qualidade do ensino (Monteiro, 2007) 
 A reflexão sobre as transformações da realidade urbana e o desenvolvimento econômico 
tornaram-se ainda mais escassas 
“(...) apesar do inconformismo e espírito de luta que marcaram gerações de arquitetos, 
urbanistas e estudantes no país, as dificuldades interpostas ao livre debate e às atividades 
associativas contribuíram para um esgarçamento entre o universo profissional e o acadêmico”. 
(Schlee, 2010: 71) 
Surgiram, no entanto, nas instituições privadas e em cenário político impróprio, 
experiências pedagógicas que marcaram profundamente a história recente do ensino de 
Arquitetura e Urbanismo. Em 1969, a FVE, Fundação Valeparaibana de Ensino, lançou o curso 
de Arquitetura e Urbanismo, em São José dos Campos, cidade situada a pouco mais de 100 km 
de São Paulo. Reunia professores egressos da FAU UNB, FAUUSP entre outras instituições que 
haviam implementado experiências pedagógicas importantes. Para lá acorreram estudantes da 
capital paulistana e de outros estados. Na FAU SJC, procurou-se fundir Arquitetura, 
Comunicação e Artes no IPC, Instituto de Projeto e Comunicação. De acordo com Pronsato 
(2008) 
“O IPC introduziu o postulado de que o conhecimento deveria ser construído com base no 
agrupamento de áreas gerais e que era conveniente formatar um curso de dois anos, em que os 
alunos pudessem fazer as primeiras experiências, contatos, observar e criar dentro da arte. Os 
três últimos anos seriam no campo estritamente profissional, resultando numa formação com 
ampla base de conhecimentos." (Pronsato, 2008: 235) 
A FAU SJC iniciou suas atividades em 1970 e encerrou-as no ano de 1974, sem formar a 
primeira turma, e, sem explicações convincentes para o fechamento. 
Na esteira das inovações do acordo MEC/USAID, "Até 1974 entraram em funcionamento 
doze escolas na rede particular e duas na pública e gratuita.” Em 1970, entraram em 
funcionamento a Santa Úrsula, RJ, a FAU São José dos Campos, SP, a Fundação Educacional 
Rosemar Pimentel, Barra do Piraí, RJ. Em 1971, a Universidade Brás Cubas, Mogi das Cruzes, 
SP, e a Universidade Católica de Santos, SP, Universidade do Rio dos Sinos, São Leopoldo, RS, 
Silva e Souza, RJ. Em 1972, a Bennet e a Gama Filho, RJ. Em 1973, a Universidade Farias Brito, 
Guarulhos, SP. Em 1974, a Universidade Católica de Campinas e a Universidade de Mogi das 
Cruzes, SP. “Os dois cursos públicos foram o da Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande 
26 
 
do Sul, fundado em 1971, e o da Universidade Federal Fluminense, em 1972” (Gutierrez, 
2013: 22) 
Na década de 1970, já com um número maior de escolas de Arquitetura, alguns fatos se 
destacam, tais como o controle e o acompanhamento mais intenso das escolas de Arquitetura 
pelo MEC, por meio da criação de Comissão de Especialistas em Arquitetura e Urbanismo 
(Portaria Ministerial nº 699/1973) – que vigorou de 1973 a 1978. Foi realizado um convênio 
com a FAUUSP, em 1974, para essa finalidade e, em 1975, foi criada a Associação Brasileira de 
Escolas de Arquitetura - ABEA no interior do IAB, Instituto de Arquitetos do Brasil, passando a 
realizar encontros e debates no campo do ensino de Arquitetura. 
Em 1977, havia 31 cursos de Arquitetura e Urbanismo no Brasil, quando foi realizado um 
encontro em Ouro Preto, promovido pelo IAB, a ABEA e a FNA (Federação Nacional dos 
Arquitetos) para debater o ensino de Arquitetura e Urbanismo. O currículo mínimo foi 
questionado e foram aprovadas novas diretrizes para o ensino na área, registradas em 
manifesto do encontro. 
Em 1981, por meio do PIMEG (Programa Institucional de Melhoria do Ensino de Graduação 
em Arquitetura e Urbanismo), promovido pela Secretaria de Educação Superior do MEC, foi 
estabelecido um sistema de pontuação e de objetivos que deveriam ser alcançados pelas 
instituições, tais como apoio aos docentes em cursos de aperfeiçoamento (especialização, 
mestrado, doutorado, etc.), realização de seminários e intercâmbios entre instituições, assim 
como, melhorias nasinstalações e na rede funcional de bibliotecas. Neste programa foram 
elencadas as Universidades que tinham representatividade e abrangência regional (UFCE, UFPE, 
UFBA, PUC-GO, UNB, UFMG, UFRJ, USP e UFRS), porém a concentração de investimentos para 
essas universidades acarretou a quase inexistência de apoio para outras instituições de ensino 
em franca expansão. 
Em 1985, a ABEA, que era constituída por coordenadores ou diretores de escolas de 
Arquitetura e Urbanismo, foi reestruturada, passando a ser constituída também por 
professores e estudantes, tornando-se entidade de Ensino de Arquitetura e não mais de Escolas 
de Arquitetura, fato que permitiu o estabelecimento de um processo mais abrangente e 
representativo. 
 
3.5 - A década de 1980 e a trajetória 
da nova LDB 
Após o final da ditadura militar, na construção do processo constituinte com participação 
da sociedade civil, foi aberto um debate sobre a educação, resultando no Fórum Nacional pela 
Educação em 1988, que culminou na Lei de Diretrizes e Bases - LDB, aprovada no Senado a 
partir de um substitutivo do então senador, Darcy Ribeiro, em 1993. 
27 
 
É importante apontar também a participação dos arquitetos no processo constituinte no 
que diz respeito à reforma urbana, desregulamentação das profissões e exame da Ordem. 
Em 1996, o Congresso Nacional aprovou e sancionou a nova LDB, com um processo de 
elaboração das novas diretrizes curriculares, tendo em vista a superação do currículo mínimo 
no caso dos cursos de Arquitetura e Urbanismo, em que diversas entidades promoveram 
debate para sua formulação específica, como a FENEA (Federação Nacional dos Estudantes de 
Arquitetura), ABEA e CONFEA. 
No entanto, desde 1994, fruto de um longo debate na ABEA, já haviam sido instituídas as 
Diretrizes Curriculares para os cursos de Arquitetura e Urbanismo, por meio da Portaria N° 
1770 (MEC, de 21 de dezembro de 1994). Essa portaria abriu um novo ciclo para os cursos de 
Arquitetura e Urbanismo, facilitando ainda mais a abertura de cursos de Arquitetura e 
Urbanismo pela iniciativa privada. 
Embora a Resolução das diretrizes curriculares para o Ensino de Arquitetura e Urbanismo 
tenha sido publicada em 1994, ela tramitou durante 8 anos no Conselho Nacional da 
Educação. A Portaria No 1770 foi reeditada por meio da Resolução No 6, de 2 de fevereiro de 
2006, que por sua vez é a origem da atual Resolução No 2, de 17 de junho de 2010, em vigor 
atualmente. 
Mantendo como paradigma o perfil do profissional generalista em Arquitetura e 
Urbanismo, foi introduzida a necessidade de compreender e identificar as particularidades 
regionais e individuais de cada instituição, resguardadas as competências e habilidades 
requeridas para a formação do arquiteto, estabelecidas pelas atribuições profissionais, revistas 
quando foi criado o CAU, Conselho de Arquitetura e Urbanismo em 2010 
Resolução No 2, de 17 de junho de 2010, estabeleceu que os cursos de Arquitetura e 
Urbanismo devem ser estruturados a partir de três componentes curriculares: o Núcleo de 
Conhecimentos de Fundamentação, o Núcleo de Conhecimentos Profissionais e o Trabalho de 
Curso. 
A Resolução estabelece que o Projeto Pedagógico, elaborado pela instituição de ensino, 
deve reunir todas as informações e características do curso, devendo ser objeto de avaliação e 
chancela por parte dos órgãos específicos do MEC. 
Apesar dos esforços despendidos no debate sobre a formação do arquiteto e urbanista, é 
possível ainda vislumbrar em tais "núcleos de conhecimento", resquícios do Currículo Mínimo, 
uma vez que a concorrência entre as instituições privadas, em vez de resultar em diversidade, 
tem apresentado homogeneização, sendo raros os casos que excedem o limite mínimo de 
3.600 horas aulas. 
 
28 
 
3.6 - As mudanças recentes nos cursos de 
Arquitetura e Urbanismo no Brasil e as 
avaliações do ensino 
Deve-se destacar que, no processo de redemocratização do país, a aprovação da LDB foi 
objeto de intensos debates, e nos cursos de Arquitetura e Urbanismo, esse debate incorporou 
discussões anteriores que remetem não só ao estabelecimento do currículo mínimo (de 1962 e 
de 1969, no quadro da Reforma Universitária), mas também ao Manifesto de Ouro Preto, de 
1977, quando se questionou a qualidade do ensino, submetido às leis do mercado. 
A partir da recriação das Comissões de Especialistas de Ensino (Portaria no 287/92 da 
Secretaria de Educação Superior – Sesu do MEC), que estabeleceu que cada área de 
conhecimento deveria trazer os elementos para avaliação e articulação entre as entidades 
representativas próprias, foi instituída, em 1993, a Comissão de Especialista de Ensino em 
Arquitetura e Urbanismo – CEAU – que identificou, a partir de um inventário e de 
levantamentos realizados pela ABEA, uma série de precariedades relativas ao apoio necessário 
para o bom funcionamento dos cursos existentes, tais como em bibliotecas e laboratórios. 
Seguiram-se diversos seminários regionais e nacionais procurando elaborar respostas para o 
quadro de crescente precarização, promovidas pela CEAU, e também um seminário nacional, 
promovido pela ABEA no ano seguinte, 1994. Nesse período, havia no Brasil 51 cursos de 
Arquitetura e Urbanismo em funcionamento. 
Diversos debates ocorreram em encontros para que os currículos das escolas de Arquitetura 
tivessem o aprimoramento necessário, levando-se em conta que seria essa a base referencial 
para que os novos cursos fossem criados a partir de parâmetros mínimos de qualidade. 
A LDB, acrescida pela elaboração de diretrizes específicas para cada área, deveria, portanto, 
atender esta finalidade. Nesse período, que adentra o início do século XXI, presenciou-se um 
crescimento exponencial jamais visto de aberturas de novos cursos de Arquitetura e 
Urbanismo, em uma clara demonstração do privilégio dos interesses privados para transformar 
o ensino em uma condição rentável, sem que o acompanhamento da qualidade fosse possível, 
dada a escala atingida (Monteiro, 2013). 
No que diz respeito à avaliação e ao acompanhamento dos cursos, desde 1996 ficou 
estabelecido que haveria um processo de verificação periódica para aferição e reconhecimento 
da qualidade dos cursos de Arquitetura e Urbanismo em expansão, por meio do diagnóstico 
elaborado pela CEAU e ABEA. No entanto, nos primeiros anos do século XXI, o sistema de 
avaliação passou a ser realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais 
Anísio Teixeira (INEP), deixando de ser a atribuição do Sesu/MEC. No ano de 2002, os cursos de 
Arquitetura e Urbanismo passaram pela primeira avaliação institucional do chamado Provão – 
Exame Nacional de Cursos. 
A existência desse processo de avaliação, transformada posteriormente em ENADE, Exame 
Nacional de Desempenho de Estudantes, em 2004, passou a estabelecer aferições periódicas 
29 
 
com foco nas instituições de ensino, sendo que os alunos da área de Arquitetura e Urbanismo 
foram avaliados em 2005, 2008 e 2011, 2014 e 2017. 
A ABEA tem se mantido como entidade que acompanha a trajetória dos cursos de 
Arquitetura com preocupação na qualidade do ensino e essa tem sido a ação constante para os 
novos cursos que chegam atualmente a mais de 550. Dados os parâmetros via LDB que 
superam a formulação do currículo mínimo, passaram a vigorar, assim, o direcionamento para 
que a formulação do projeto pedagógico seja realizada pela própria instituição de ensino, 
passando a ser o elemento fundamental para a sua aprovação junto ao MEC e posterior 
funcionamento. A condição de acompanhamento dada a quantidade dos cursos que, em 
menos de duas décadas (2000 a 2017), saltou de 154 para 551 cursos, apresentando um 
crescimento de mais de 310%, instala um novo tipo de preocupação quanto aos novos 
desafios para se avaliar a qualidade dos cursos de Arquitetura e Urbanismo. 
 
3.7 - As particularidades do ensino de 
Arquitetura e Urbanismo: seu currículo, o 
conteúdo e a condição atual 
Se forem visualizados emretrospectiva os conteúdos e as particularidades do processo de 
formação dos cursos de Arquitetura e Urbanismo, verifica-se que a preocupação se voltou 
principalmente para as condições materiais necessárias para o desenvolvimento adequado da 
experimentação necessária no campo do fazer (a prática do projeto), portanto, trata-se de 
espaços físicos, - de laboratórios, de maquetaria, além da biblioteca com o mínimo necessário 
– temas recorrentes tratados em diversos momentos no debate que proporcionou a 
reformulação do Currículo Mínimo e na formulação específica dessa área do conhecimento no 
contexto da LDB. 
A formação do profissional arquiteto e urbanista passou, em período recente, por 
transformações significativas, dado o avanço técnico dos meios de representação e de 
elaboração de projetos, incorporando processos digitais que, por sua vez, geraram também 
profundas alterações no trabalho do arquiteto e nos procedimentos utilizados nos escritórios 
de Arquitetura, de pequeno ou grande porte,aspectos de grande interesse para as condições 
físicas do ensino e da aprendizagem, visto que a necessidade de equipamentos, de software e, 
principalmente,de acesso à rede mundial de computadores, a internet, que se tornou 
ferramenta e ambiente de trabalho e pesquisa. Por outro lado, apesar dos grandes ícones da 
arquitetura terem se destacado devido a peculiaridades na sua formação, predominam no 
processo de formação do arquiteto, escolhas específicas no amplo espectro de conteúdos 
advindos de diversas áreas de conhecimento (estéticas, técnicas, sociais e históricas) e relativas 
a cada escala do projeto. 
 
30 
 
O percurso da afirmação da profissão do arquiteto e urbanista passou pela progressiva 
valorização de seu desempenho no quadro da construção de edifícios marcantes nos centros 
urbanos e na procura constante de aprimoramentos para o melhor ensino. Considerando-se as 
diferentes atribuições profissionais do arquiteto e urbanista (paisagismo, desenho industrial e 
de interiores, programação visual, patrimônio histórico e cultural, planejamento urbano, 
projeto urbano e projeto de edificações), a multiplicação do número de cursos de graduação 
passou a ser motivo de uma preocupação constante dos profissionais do ensino, dada a 
dificuldade de se avaliar a qualidade do curso e os resultados do processo educativo no seu 
conjunto. 
Se por um lado, houve resistência e negação à implantação de exame equivalente ao 
denominado “Exame da Ordem” (tal como praticado pelos advogados, após a conclusão do 
curso), por outro lado, há uma avaliação institucional em nível nacional vigorando e sendo 
realizada de forma indireta e parcial, o exame do Enade, que aplica provas específicas para os 
alunos concluintes dos cursos de Educação Superior. A instituição acaba sendo avaliada por 
conceitos (de 1 a 5), conforme desempenho dos alunos, que por sua vez, é associada a uma 
avaliação das instalações físicas e da qualificação dos docentes (níveis de pós-graduação). 
O Trabalho Graduação Interdisciplinar (TGI) foi implantado em 1971, na FAUUSP, como 
elemento de conclusão do curso no qual cada estudante, individualmente, apresenta para uma 
banca o que seria um trabalho-síntese do conhecimento adquirido, participando dessa banca, 
um profissional externo à Instituição. 
O TGI tornou-se uma referência para os demais cursos de Arquitetura e Urbanismo e, ao 
longo dos anos, foi denominado também como Trabalho Final de Graduação (TFG) ou, 
simplesmente, Trabalho de Graduação (TG), além de ser incorporado na legislação de 1994, 
2006 e na atual Resolução No 2, de 17 de junho de 2010. Cogitou-se, no VII Conselho Nacional 
da ABEA, 1995, inclusive a possibilidade desse trabalho ser considerado como elemento de 
avaliação institucional, substituindo o “Provão” que se implantava naquele período. 
Ainda que o número de cursos de Arquitetura e Urbanismo tenha dobrado na última 
década, um elemento de grande preocupação é a avaliação do ENADE, que passou a funcionar 
como balizador e parâmetro para os rankings, e inevitavelmente, para as comparações acerca 
da qualidade do ensino ministrado. 
São escassos hoje os debates e as reflexões sobre o quadro geral do ensino de Arquitetura e 
Urbanismo, ainda que a ABEA tenha prosseguido atuante e realizando encontros e debates 
regulares, porém com temáticas específicas. 
Há que se destacar ainda que uma parcela significativa de arquitetos e estudantes tem se 
dedicado a projetos de habitação para a população de baixa renda. Essa perspectiva 
profissional baseia-se na busca da moradia digna, prevista como direito do cidadão, conforme 
a Constituição Federal de 1988. Trata-se da lei que estabelece a Assistência Técnica voltada 
para a Habitação de Interesse Social (ATHIS), promulgada em 2008 – Lei Federal 11.888/2008 - 
debatida em diversos momentos pelas entidades representativas dos arquitetos, porém de 
efetivação pequena. Por outro lado, há diversos cursos de Arquitetura e Urbanismo que 
31 
 
contam com núcleos, grupos de pesquisa ou Laboratórios de Habitação, justamente prevendo a 
prática da Assistência Técnica como uma estratégia profissional que combina aprendizado com 
extensão universitária e pesquisa sobre o habitat. 
Por fim, cabe salientar que a criação do Conselho de Arquitetura e Urbanismo – CAU - (Lei 
no 12.378/ 2010), desvinculando o exercício da Arquitetura da Engenharia e da Agronomia 
(CREA), representou um passo importante para a autonomia profissional. No entanto, tal 
autonomia, não se traduziu ainda no amplo acesso ao trabalho do arquiteto, pois as questões 
que envolvem o exercício do profissional arquiteto e urbanista e as relações com a produção 
do espaço edificado e a gestão das cidades são complexas e envolvem uma gama de problemas 
de ordens diversas, nos planos políticos, econômicos e sociais. 
 
3.8 - A produção de pesquisas e a Pós-graduação 
em Arquitetura e Urbanismo 
O sistema de pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo (SPAU) foi instituído em 1980, 
portanto, é bastante recente, se for comparada à trajetória dos cursos de graduação, já 
existentes desde o início do século, como se buscou esboçar. 
A pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo é resultado de uma primeira geração de 
pesquisadores, arquitetos e teve como referencial, principalmente, os estudos urbanos, 
produzidos por outros profissionais. (Lara, Loureiro e Marques, 2005). 
Na FAUUSP, foi aberto o curso de mestrado em 1971 e o curso de doutorado em 1980, 
sendo que havia uma estrutura semelhante à da graduação, conforme reforma realizada em 
1968, primando pela interdisciplinaridade e, credenciado como uma concentração em 
“Estruturas Ambientais Urbanas”, formada pelas subáreas de Planejamento Urbano e Regional; 
Projeto de Edificações; História da Arquitetura e Teoria da Urbanização; Tecnologia da 
Arquitetura, Programação e Comunicação Visual; Desenho Industrial e Projeto do Produto. 
(Katinsky, 2000) 
A produção de pesquisas, que se intensificou a partir da criação dos cursos de pós-
graduação na área de Arquitetura e Urbanismo, tem foco principalmente nas questões 
urbanas, e, considerando a compreensão de que nelas reside uma complexidade maior por se 
tratar da cidade, portanto, indo além dos domínios da Arquitetura. Nota-se que havia uma 
expectativa em aprofundar a prática e o conhecimento em planejamento urbano desde os 
períodos do SERFHAU (Serviço Federal de Habitação e Urbanismo, criado em 1964). Nota-se 
que havia uma expectativa em aprofundar a prática e o conhecimento em planejamento 
urbano desde os períodos que antecederam o SERFHAU, e que quando este se tornou 
referência para a assistência técnica aos municípios, empresas privadas de consultoria se 
constituíram em principais elementos para a elaboração de diversos planos urbanos. A prática 
de planejamento urbano fora das instituições públicas, portanto, determinaram a formação 
técnica de muitos profissionais (Feldmann, 2005). 
32 
 
Por outro lado, a produção de pesquisas

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