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Amanda Costa Reis de Siqueira A hora do almoço na balança: um estudo sobre restaurantes a quilo no centro do Rio de Janeiro Dissertação de Mestrado Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Ciências Sociais da PUC-Rio como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ciências Sociais. Orientador: Prof. Roberto Augusto DaMatta Rio de Janeiro Abril de 2008 DBD PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0610488/CA Livros Grátis http://www.livrosgratis.com.br Milhares de livros grátis para download. Amanda Costa Reis de Siqueira A hora do almoço na balança: um estudo sobre restaurantes a quilo no centro do Rio de Janeiro Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da PUC- Rio. Aprovada pela Comissão Examinadora abaixo assinada. Prof. Roberto Augusto DaMatta Orientador Departamento de Sociologia e Política – PUC-Rio Profa. Laura Graziela Figueiredo Fernandes Gomes UFF Prof. Valter Sinder Departamento de Sociologia e Política – PUC-Rio Prof. Nizar Messari Coordenador Setorial do Centro de Ciências Sociais – PUC-Rio Rio de Janeiro, 28 de abril de 2008 DBD PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0610488/CA Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem autorização da universidade, da autora e do orientador. Amanda Costa Reis de Siqueira Graduou-se em Comunicação Social, com Habilitação em Jornalismo pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso em 2004. Cursou a Pós-Graduação (Latu-Sensu) em Sociologia, Política e Cultura na PUC-RIO em 2005. Cursou Mestrado em Sociologia, Política e Cultura em linha de pesquisa de Diversidades Culturais. Ficha Catalográfica Siqueira, Amanda Costa Reis de A hora do almoço na balança : um estudo sobre restaurantes a quilo no centro do Rio de Janeiro / Amanda Costa Reis de Siqueira ; orientador: Roberto Augusto Da Matta. – 2008. 84 f. ; 30 cm Dissertação (mestrado) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Sociologia e Política. Inclui referências bibliográficas. 1. Sociologia – Teses. 2. Comensalidade. 3. Hábitos alimentares. 4. Simbologia do poder da comida. I.Matta, Roberto Augusto da. II. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Departamento de Sociologia e Política. III. Título. CDD: 301 DBD PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0610488/CA Aos meus familiares e, em especial, ao meu namorado, Matheus. DBD PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0610488/CA Agradecimentos Desejo agradecer ao professor Roberto DaMatta por ter acolhido e incentivado, desde o início, como especial interesse, a idéia de trabalhar com o tema da Alimentação Brasileira e suas implicações antropológicas. Àqueles que integraram as bancas de qualificação e defesa, Enrique Reinteria, Laura Graziela Gomes e Valter Sinder, agradeço o carinho e a dedicação à leitura cuidadosa e atenta do meu trabalho. As sugestões, críticas e observações foram sempre muito enriquecedoras. Agradeço à CAPES pelo incentivo aos estudantes e a mim, particularmente, por acreditar na pesquisa que possibilitou a confecção desta dissertação. Agradecimentos especiais aos colegas de turma e futuros mestres que estiveram sempre comigo, dando sugestões e participando ativamente da elaboração de meu trabalho. DBD PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0610488/CA Resumo Siqueira, Amanda Costa Reis de; DaMatta, Roberto Augusto (Orientador). A hora do almoço na balança: um estudo sobre restaurantes a quilo no centro do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2008. 84p. Dissertação de Mestrado – Departamento de Sociologia Política e Cultura, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. O presente trabalho tem por objetivo discutir como formas alimentares são capazes de expressar hábitos sociais. A partir de pesquisa realizada em restaurantes a quilo no centro da cidade do Rio de Janeiro, surge o cotidiano da hora do almoço – que confere a fatores como a pressa, as misturas de alimentos improváveis de serem consumidos num mesmo prato, o dinheiro, elementos associados ao tradicional e ao moderno, tempero para o realizar das refeições. A partir de referenciais sociológicos e antropológicos diversos, são interpretados palavras, gestos e sentimentos em torno do ritual da alimentação. Emergem diversos elementos que demonstram o que se interpreta como tradicional e novo na alimentação, a partir da distinção entre “a casa e a rua” e também da utilização da noção de “mundialização”, através da qual é possível identificar sobreposições e convivência de valores culturais aparentemente conflitantes. A hora do almoço é mais do que a hora da comida; a escolha da comida, por sua vez, está ligada a fatores que extrapolam os aspectos financeiros, de conveniência ou mesmo critérios de classe ou de gênero. Ao desvendar como este modelo de restaurante se tornou um “espaço social alimentar”, revelam-se representações de valores da cultura brasileira e traços da nossa identidade social. Palavras-chave Comensalidade; hábitos alimentares; simbologia do poder da comida. DBD PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0610488/CA Abstract Siqueira, Amanda Costa Reis de.; DaMatta, Roberto Augusto (Advisor). Weighing lunch time: a study about kilo restaurants downtown Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2008. 84p. Dissertação de Mestrado – Departamento de Sociologia, Política e Cultura, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. This study intends to identify the ways in which eating may express social habits. Kilo restaurants downtown Rio de Janeiro show the daily lunch time and its various seasonings: time, money, surprising mixtures, tradition and modernity. The eating ritual, with its traditional and new patterns, is analyzed in light of the distinction between “the home and the street” and also taking the concept of “mundialization” into account. Such concept indicates that cultural values related to tradition and modernity coexist and overlap. Other sociological and anthropological references are ingredients also used to capture how cultural values that are apparently conflicting mingle at lunch time, as demonstrated by words, gestures and feelings towards eating. This research indicates that lunch time has become much more than eating time; similarly, the choice of food is related to elements that extend well beyond financial aspects, convenience or those related to gender and class criteria. This type of restaurant reveals a new type of “social locus” where Brazilian social values and identity traits are also on display. Keywords Commensality; eating habits; symbolism of the power of food. DBD PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0610488/CA Sumário 1. Introdução: Entrada 10 2. Prato principal 25 2.1. “Tempo” 26 2.1.1. Tempo de hoje, tempo de ontem 29 2.2. Relativizando 31 2.2.1. Aproveitar o pouco tempo com comida de verdade 32 2.3. O Centro da Cidade 33 2.4. Hora do almoço 34 3. Acompanhamentos 37 3.1. Dias da Semana 38 3.1.2. Fim-de-semana 40 3.2. Comida feminina, comida masculina 41 3.3. Feijão com arroz 44 3.4. Dinheiro 46 3.5. Acompanhamento à parte do menu 48 4. Sobremesa 54 4.1. Casa e Rua 55 4.2. Desfeita 59 4.3. Comida de casa, comida de rua 60 4.4. Misturas permitidas 62 DBD PUC-Rio - Certificação DigitalNº 0610488/CA 4.5. Repetir o prato 63 4.6. A rua entrando pela porta da frente 64 5. Um cafezinho 66 5.1. O local e o mundial 67 5.2. Fast-food x Comida tradicional 71 6. Conclusão 74 7. Referências bibliográficas 79 DBD PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0610488/CA 1 Introdução: Entrada “Muito mais que um ato biológico, a alimentação humana é um ato social e cultural [que] (...) implica representações e imaginários, envolve escolhas, classificações, símbolos que organizam as diversas visões de mundo no tempo e no espaço. Vendo a alimentação humana como um ato cultural, é possível pensá- la como um ‘sistema simbólico’ no qual estão presentes códigos sociais que operam no estabelecimento de relações dos homens entre si e com a natureza1”. Com este trecho inicio minha dissertação de Mestrado que tem a intenção de trazer, sob o tema dos restaurantes a quilo no centro do Rio de Janeiro, uma interpretação de como formas alimentares são capazes de dizer muito sobre nós mesmos. Para além das necessidades fisiológicas que os homens buscam suprir através da alimentação, há um potencial de expressão de hábitos sociais na cozinha de cada local e, no Brasil (incluindo o Rio de Janeiro), não seria diferente. Portanto, acompanhando a percepção do antropólogo Claude Lévi-Strauss que em seu livro Mitológicas2 observou que os alimentos não são apenas bons para se comer, mas, também para se pensar, meu trabalho de campo em restaurantes a quilo do centro da cidade do Rio de Janeiro tem como motivo a busca de uma maneira de comunicação com formas alimentares, tornando possível analisar mecanismos pelos quais o ritual da alimentação se dá na sociedade brasileira, ou pelo menos parte dela. Reforço o argumento da importância de pesquisas em locais onde os hábitos alimentares dialoguem com atos sociais que caracterizam um povo já que: A maneira como os homens concebem a satisfação de suas necessidades alimentares não poderia reduzir-se a lógicas utilitárias ou tecnológicas estritas. 1 BARBOSA, Lívia & Gomes, Laura Graziela. Culinária de Papel. In: Estudos Históricos: Alimentação, n.º 33, Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas, 2004, p. 25. 2 LÉVI-STRAUSS, Claude. A Origem dos Modos À Mesa - Coleção Mitológicas Vol. III, Cosacnaify apud CERTAU, Michel de.; GIARD, Luce.; MAYOLl, Pierre. A invenção do cotidiano 2. Morar, Cozinhar. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003. DBD PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0610488/CA 11 A alimentação tem uma função estruturante da organização social de um grupo humano3. Em ruas movimentadas do centro carioca, nos dias úteis da semana e durante o horário do almoço, procurei observar como “o comportamento relativo à comida liga-se diretamente ao sentido de nós mesmos e à nossa identidade social”4. Acompanho o interesse de Mintz5 sobre o tema, pois: Não é de surpreender, portanto, que o comportamento comparado relativo à comida tenha sempre nos interessado e documentado a grande diversidade social. Também não espanta que os antropólogos, desde o começo, tenham se fascinado pela ampla gama de comportamentos centrados na comida. Raul Lody6 também partilha da opinião de que um olhar interessado para o tema da alimentação é capaz de trazer à tona traços relevantes de uma organização social: A alimentação é uma maneira de se chegar, interar e participar em diferentes momentos da vida de um povo, de uma sociedade. A comida tem essa vocação de socialização, de comunicação. Todos os grandes intérpretes da cultura olham para comida, porque é uma referência muito importante para compreender como se organiza, se representam os papéis sociais e a forma de identificarmos as pessoas, suas identidades, diferenças e características. Para localizar o tema sob um enfoque específico, que já foi posto acima como sendo a zona central do Rio de Janeiro, o trabalho a seguir conta com a relevância de como: As formas sociais de comer em casa, em refeitórios, em restaurantes, na rua envolvem aspectos relevantes para sua análise histórica ao serem abordadas em suas transformações ao longo do tempo7. 3 POULAIN, Jean-Pierre. Sociologias da Alimentação. Florianópolis, Editora da UFSC, 2006, p.19. 4 MINTZ, Sidney W. “Comida: uma breve revisão” In: Scielo, Revista Brasileira de Ciências Sociais, v.16, n. 47, São Paulo, 2001. 5 Op. cit. 6 http://www.malaguetacomunicacao.com.br 7 CARNEIRO, Henrique. Comida e Sociedade – Uma história da alimentação. Rio de Janeiro: Campus, 2003. http://www.malaguetacomunicacao.com.br/ DBD PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0610488/CA 12 Esta pesquisa propõe-se a encontrar para este modelo de restaurante um “espaço social alimentar8”, buscar nele um ambiente onde se possa encontrar representações de valores da cultura brasileira. A intenção de tratar do estilo brasileiro do ritual de alimentação a partir deste ângulo dos restaurantes a quilo cogita a possibilidade da mistura de hábitos culturais mundiais. Influências de culturas alimentares oriundas de outras partes do mundo se confrontam/convivem com temas que remetam à autenticidade dos hábitos alimentares brasileiros. Antigos e novos costumes brasileiros aparecem neste espaço dos restaurantes às vezes de forma conflitante, às vezes em convívio harmonioso e às vezes no que poderia se interpretar como uma reinterpretação do velho e do novo. Nesse sentido, aspectos novos que são caracterizados por aspectos externos que influenciam como se alimentam os brasileiros não se sobrepõem a antigos costumes, comidas. Pelo contrário, nesta mistura entre o “estrangeiro” ou o que o brasileiro classifica como tal e o nacional, ou o que o brasileiro assim classifica convivem e produzem uma interação posta de maneira peculiar neste “espaço social alimentar”. Sobre o trabalho de campo Este trabalho é resultado de pesquisa de campo em determinada rua do centro da cidade do Rio de Janeiro9. A pesquisa foi centrada em um local específico, escolhido depois de caminhadas por esta movimentada área. Nessas andanças, pude perceber que neste trecho definido havia todos os tipos de estabelecimentos alimentares (restaurantes à la carte, lanchonetes, restaurantes de pratos feitos, padaria e choperia), além de inúmeros restaurantes do modelo que desejava pesquisar, os restaurantes a quilo. Um universo que abrigasse restaurantes a quilo e demais tipos de estabelecimentos alimentares seria menos comprometedor para a pesquisa pois contaria com uma variedade que não fizesse do espaço um local de maioria de um 8 CONDOMINAS, G. L’espace social à propôs de l’Asie du sud-Est. Flammarion, Paris, 1980 apud POULAIN, Jean-Pierre. Sociologias da Alimentação. Florianópolis, Editora da UFSC, 2006. 9 O nome da rua será mantido sob sigilo pois esta foi uma garantia que fiz aos clientes, gerentes, donos e funcionários dos locais pesquisados. DBD PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0610488/CA 13 ou outro tipo de espaço de alimentação. A multiplicidade de locais se fez importante para perceber quais eram as características daqueles que escolhiam os restaurantes do tipo a quilo diante da oportunidade de opção de outros lugares. O método escolhido se dividiu em entrevistas com freqüentadores, cozinheiros e gerentes ou donos dos restaurantes, com perguntas previamente estipuladas em um questionário. Mesmo assim, não estava limitada a possibilidade de conversas abertas, com liberdade para que os entrevistados fizessem relatos pessoais. O questionário tinha a importância de me guiar e não me deixar esquecer questões relevantes sem que isso cerceasse a abertura para depoimentos longos, relatos de histórias de vida dos entrevistados, o que, de fato,aconteceu muitas vezes. Assim, nenhuma entrevista estaria previsível, com um roteiro pré- estabelecido de começo, meio e fim. Em comum, cada entrevista foi feita de acordo com um questionário com perguntas gerais como idade, sexo, estado civil, profissão e grau de escolaridade. Estes quesitos se fizeram presentes em todos os grupos de entrevistados. Estes grupos se dividiram em clientes, cozinheiros e gerentes ou donos dos restaurantes. No questionário reservado aos clientes havia perguntas referentes às vezes por semana que os entrevistados trabalhavam; quantas vezes por semana freqüentavam restaurantes do tipo a quilo; se era sempre o mesmo; desde quando freqüentava este tipo de restaurante; porque optou por este tipo de restaurante; quanto tempo teria para almoçar; o que costumava fazer na hora do almoço; como escolhia o que iria comer; se costumava almoçar acompanhado, entre outras. No questionário para os cozinheiros, havia questões sobre a escolha do cardápio do restaurante; qual ou que comida não poderia faltar no cardápio; quais eram as principais características deste tipo de restaurante; dúvidas sobre o funcionamento das cozinhas, entre outras. Também havia questões para gerentes ou donos dos estabelecimentos, perguntas sobre como eles definiam o que tipo de cliente de seu restaurante; horários em que o almoço deveria estar servido; definições sobre as principais características de seus estabelecimentos, curiosidades sobre a diferença entre o restaurante a quilo e o à la carte, entre outras. A maioria das entrevistas foi feita nos restaurantes por mim freqüentados durante o trabalho de campo – tarefa nada fácil, já que precisava abordar pessoas DBD PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0610488/CA 14 enquanto almoçavam, o que me rendeu uma receptividade nem sempre amigável por parte dos entrevistados. Ainda assim, era preciso que a abordagem fosse feita naqueles momentos, era preciso entrevistar aqueles “que participaram, viveram, presenciaram ou se inteiraram de ocorrências ou situações ligadas ao tema e que possam fornecer depoimentos significativos10”. A divisão em três distintos grupos me levou a diferentes partes do restaurante. Enquanto circulava pelos salões, a comunicação se dava com clientes, pelas cozinhas pude entrevistar os cozinheiros e, em áreas reservadas, como pequenos escritórios no interior dos restaurantes ou em mesas selecionadas, a entrevista se deu com gerentes e donos dos espaços. Dessa forma, as entrevistas me proporcionaram um conhecimento de todas as áreas de um restaurante e me forneceram uma visão ampla de todas as partes do local que se somam na sua dinâmica de funcionamento. Aqueles perfis que não foram encontrados durante os dias de pesquisa foram buscados fora da área dos restaurantes, tendo eu feito algumas entrevistas pessoalmente em ambientes que não o dos restaurantes e algumas por meio de correio eletrônico. Somando estes dois métodos de coleta de depoimentos, recolhi 40 entrevistas sendo elas de 18 homens e 22 mulheres. Dessa forma, procurei fazer uma pesquisa que equilibrasse a quantidade de homens e mulheres entrevistados. Apesar de optar pelo método de pesquisa qualitativo, que tem como critério a seleção de entrevistados conforme sua identificação com o tema de estudo, sem que isto signifique a necessidade de se buscar grande quantidade de entrevistados, segui o conselho de Daniel Bertaux11 sobre o critério do número de entrevistas a realizar. Segundo o autor, quando as entrevistas de uma pesquisa se tornam repetitivas significa que elas produzem pouca variedade de informação e, portanto, já estão na fase de serem encerradas. Com este método, aliei a escolha de pessoas que estivessem diretamente relacionadas ao tema em questão com a percepção do momento de encerrar o período de entrevistas e iniciar a etapa de interpretação dos dados recolhidos. 10 ALBERTI, Verena. Manual de História Oral, Rio de Janeiro, FGV, 2005, p. 32. 11BERTAUX,Daniel. “L’approche biographique”. In: Cahiers Internationaux de Sociologie. Paris, PUF, 1980, p. 197-225 apud ALBERTI, Verena. Manual de História Oral, Rio de Janeiro, FGV, 2005, p. 36. DBD PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0610488/CA 15 Deste número total de entrevistas vale ressaltar que foi realizada também uma distinção de faixas etárias, já que pessoas de 18 a 65 anos participaram da pesquisa, e de profissões, que se mostraram múltiplas ao longo do trabalho. Sob alguns aspectos também se fez importante levar em consideração as diferenças de gênero nas idéias acerca do uso dos restaurantes do tipo a quilo e da hora do almoço. Foi sob forma hipotética que este tema chamou atenção para um possível surgimento de distintas visões sobre a freqüência nos locais visitados12. Com a ajuda tecnológica de um MP3, aparato compacto que aprendi a utilizar para substituir o antigo gravador que, por seu tamanho, poderia tornar a entrevista um pouco assustadora e acabaria por chamar a atenção de todos ao redor, obtive o registro da maioria das entrevistas e, assim, pude concluir esta etapa da minha pesquisa. Também utilizei do recurso antropológico de observação-participante para alcançar detalhes que pudessem escapar às entrevistas. Passei a almoçar em todos os restaurantes, costumando chegar no horário de abertura dos mesmos, geralmente às 11hs, e sair às 14hs, horário comum de fechamento. Um caderno de campo me acompanhava neste período da pesquisa. Ressalto sua importância, pois foi ele que me auxiliou na formação de impressões sobre a circulação nos salões dos restaurantes. Algo que escapava aos depoimentos e desenhos sobre a conformação dos ambientes são exemplos de materiais que foram identificados com a consulta ao meu caderno de campo. Os detalhes que pouco lembramos, o caderno de anotações pessoais não nos deixa esquecer. De forma geral, a construção de minha interpretação se deu através das palavras e situações mais recorrentes ao longo da pesquisa no centro da cidade do Rio de Janeiro. Os elementos-chave, sob forma de palavras, gestos e sentimentos foram as principais inspirações para a composição deste trabalho de campo. Por fim, e não menos importante, esta dissertação conta, ainda, com o apoio de bibliografias, artigos, revistas, músicas e endereços eletrônicos que tratam de alguma maneira da temática dos rituais em torno do tema da refeição. Através delas busquei refúgio para me apoiar e tentar alcançar a multiplicidade de 12 Este questionamento sobre a possibilidade de homens e mulheres usarem de maneiras distintas os restaurantes a quilo surgiu durante minha Qualificação de Mestrado, em intervenção feita pelos professores da banca Enrique Reinteria, Laura Graziela Gomes, Roberto DaMatta e Valter Sinder. DBD PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0610488/CA 16 percepções que se pode tirar de um salão por onde circulamos no instante de um dos rituais mais comuns de nossas vidas, o ritual da alimentação. Sobre os restaurantes a quilo... Embora pareça que eles sempre estiveram presentes nas ruas do Rio de Janeiro, os restaurantes a quilo mais antigos encontrados, sob formato no qual esta dissertação se propõe a analisar, datam não mais que vinte, vinte e poucos anos. Este modelo já faz parte do desenvolvimento do hábito de se alimentar na rua, mas nem sempre pareceu comum ao trabalhador: Nas décadas de 50 e 60 era considerável o número de pessoas que almoçavam em casa; outras quando saiam para o trabalho, comiam em pensões ou levavam lanches. Pouco a pouco, essas práticas são vistas como sinais de arcaísmo e caem em desuso. Os restaurantes e o fast-food tornam-se as opções preferenciais. Isso implica a redefinição do significado da refeição13. As mudanças e o aumento das atividadesrealizadas pelas pessoas que circulavam pelos centros urbanos são simbolizados pelo hábito que se cria de comer na rua. Retornar em casa para almoçar e retornar ao trabalho já não era mais tarefa fácil14: O self-service, o popular “quilo”, chegou na metade da década de 80 quando eram pouquíssimas as opções para quem precisava almoçar fora de casa. O cenário começou a mudar com a instalação de redes de fast-food e o surgimento dos restaurantes por quilo passou a permitir ao consumidor escolher entre várias opções como saladas, carnes e massas, pagando apenas pela quantidade consumida. A novidade não demorou muito a se espalhar por todo o país15. De variações que foram sendo estabelecidas, chega-se à conformação atual dos restaurantes a quilo. Caminho traçado após o surgimento dos cafés das 13 ORTIZ, Renato. Mundialização e Cultura. São Paulo, Editora Brasiliense, 1994, p. 85. 14 Há de se considerar também a importância da entrada da mulher no mercado de trabalho, fazendo com que o tempo que estas destinavam apenas às tarefas domésticas fosse sendo substituído por funções profissionais das ruas. Por esta razão, as refeições antes planejadas pela dona-de-casa deveriam ser realizadas fora dela, já que estavam elas trabalhando em esferas à parte do ambiente doméstico. 15 Dados obtidos no endereço eletrônico (http://www.primeiramao.com.br), site interligado ao Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) (www.sebrae.com.br). http://www.primeiramao.com.br/ http://www.sebrae.com.br/ DBD PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0610488/CA 17 crônicas de Luiz Edmundo16, das pensões com comida caseira oferecida aos homens que não tinham tempo de voltar às suas casas, dos restaurantes com cardápio fixo e das lanchonetes de fast-food, que eram novidade nos anos 60 no Brasil, até o que encontramos nos dias de hoje como opções de serviços. A partir deste momento chegamos ao ponto desejado: buscar definir características dos restaurantes a quilo. Vamos a elas. Restaurantes a quilo são estabelecimentos que oferecem grande variedade de comidas expostas em displays. O cliente caminha por um corredor repleto de opções e elege aqueles alimentos que deseja para formar seu prato. Em seguida, há uma balança onde o prato é pesado e um preço é estabelecido. Todos os produtos consumidos são identificados em uma cartela individual que é paga na saída do restaurante. A formação deste corredor de alimentos também pode variar de local para local. Em comum, há sempre no começo destes corredores variações de saladas e pratos frios e, ao longo do caminho percorrido pelo comedor, vão surgindo os pratos quentes. Alguns restaurantes dispõem de locais de churrasco, onde são servidas carnes, lingüiças, enfim, itens relacionados ao churrasco; outros possuem cozinheiros de massas, que as preparam na hora e ainda há lugares que possuem sushiman preparando especialidades japonesas solicitadas pelos clientes. Cada local elege os pratos que vai dispor em seu buffet, alguns promovem suas especialidades e as mesclam com pratos comuns como o arroz com feijão e saladas e ainda oferecem pratos variados conforme os diferentes dias da semana. Em alguns restaurantes, a bebida e a sobremesa são igualmente expostas próximas aos alimentos salgados e são inseridas na mesma bandeja. Noutros, há garçons que servem bebidas aos clientes e as sobremesas são servidas posteriormente; o cliente deve se dirigir a uma área onde elas estão expostas, escolhê-las conforme sua decisão e pesá-las. O cafezinho também pode ser servido de distintas maneiras. Em alguns locais são servidos por garçons, em outros são servidos pelo próprio cliente em garrafas térmicas dispostas no final do corredor de alimentos e há, ainda, 16 LUIZ EDMUNDO. O Rio de Janeiro do meu tempo. Rio de Janeiro, Conquista, Vol. I e III, 1957. DBD PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0610488/CA 18 restaurantes que dispõem de um coffeeshop próximo ao final do corredor de alimentos. Não há, portanto, um padrão estabelecido para a conformação destes locais. Em comum, são espaços onde se serve individualmente a comida que desejar, estando ela disposta em displays, e pesa-se o prato, estando o valor associado à quantidade de comida colocada nele. As outras características variam de espaço para espaço. O que está além desta estrutura física é a possibilidade destes espaços representarem simbolicamente modos da sociedade brasileira. Neste ponto, a descrição dá lugar a chances de interpretação de questões que envolvam como determinadas características culturais brasileiras possam estar embutidas nos hábitos alimentares nacionais. Esta é a hipótese que norteia este trabalho: encontrar nestes locais traços da cultura brasileira. Sobre os capítulos Os diferentes capítulos são divisões que fazem analogia a um cardápio que separa em seu conteúdo as várias possíveis etapas de uma refeição. Uma refeição completa cumpre todas estas fases e cada uma delas tem sua importância. Assim também classifico os capítulos que fazem por dividir por etapas interpretações a respeito do uso dos restaurantes a quilo, mas se completam na construção de uma análise deste objeto. No primeiro capítulo surgem as palavras mais citadas durante as entrevistas feitas aos clientes dos restaurantes a quilo, seus cozinheiros e responsáveis (gerentes ou donos). São elas: tempo, centro da cidade e hora do almoço. Sob a denominação de “Prato Principal”, este capítulo tem como proposta discutir a idéia de tempo, que estava sempre presente nas entrevistas. Sua aparição surge sob a alegação constante de falta de tempo, tanto para me conceder entrevista quanto para comer; para tratar da solução das tarefas do cotidiano; para compará-lo ao dinheiro. Este último, o dinheiro, é citado em medida comparativa com o tempo, ou seja, quando se falava em gastar pouco dinheiro também se propunha a fazê-lo em DBD PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0610488/CA 19 pouco tempo e, quando existia a possibilidade de maior tempo livre, o dinheiro ganhava mais valor. Em resumo, a palavra “tempo”, é utilizada sob múltiplas formas e é esta multiplicidade que se configura como elemento chave para entender a dinâmica destes restaurantes e seu entorno: o centro da cidade e a hora do almoço. O centro da cidade é um aliado dos restaurantes a quilo; é nesta área que este formato de estabelecimento é encontrado em grande quantidade. O espaço de localização destes restaurantes possui características como a ligação com o mundo do trabalho, o ambiente da rua, os trajes e as relações formais que reforçam a lógica da refeição a quilo. Estes elementos, considerados característicos das relações de trabalho nos centros urbanos, estão postados no local que abrange estes restaurantes. A hora do almoço é o último aspecto analisado neste capítulo. Hora em que não estamos em nossas casas, esta refeição é tida como impessoalizada, já que é realizada nos intervalos da jornada de trabalho com ruas do centro da cidade repletas de pessoas circulando até encontrarem o local onde desejam almoçar. O horário do almoço abrange o movimento das ruas neste período que os funcionários “descem” de seus ambientes laborais e visitam estes restaurantes. Mas, é neste tempo parcial de descanso no meio de um dia de expediente, capaz de rapidamente encher ruas de pessoas querendo almoçar, que também são realizadas outras atividades. Este intervalo ganhou variações de utilização maiores que o ato único de realizar uma refeição, já que é neste período que lojas, bancos, academias recebem um grande público. Sendo assim, o almoço, em si, divide com outras tarefas o uso da hora do almoço nos centros urbanos pois é preciso incluir neste trecho do dia todoo movimento de uma hora do dia a dia de trabalho. O capítulo seguinte segue com aspectos que também são relevantes para a construção das características deste tipo de restaurante. Estas características são os dias da semana, o dinheiro, o feijão com arroz, questões sobre diferença de gênero e classe. São os chamados “acompanhamentos” do prato principal. São eles uma variedade de elementos que ajudam na formação da idéia desta refeição. Os dias da semana são uma divisão pré-estabelecida dos dias úteis, aqueles em que temos que sair para trabalhar. Cada um destes dias assume sua DBD PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0610488/CA 20 importância pois estão mais ou menos perto dos dias de descanso, o final de semana. É esta relação de proximidade e afastamento com o sábado e com o domingo que faz com que os dias “comuns” da semana não sejam iguais; eles estão valorados conforme sua ordem, uma seqüência sob a qual estão inseridos durantes os sete dias da semana. Esta “escala de valor” dos dias da semana se traduz nos cardápios, que vão variando conforme os dias se passam. Para os dias do início da semana, pratos leves, para afastar o peso da comida mais pesada consumida durante o fim de semana e, para os dias que se aproximam do final de semana, já é permitido “um pouco mais”, comidas mais pesadas e, ao mesmo tempo mais aconchegantes, que remetam aos dias de descanso que estão por vir. Nada melhor que uma feijoada às sextas-feiras... Porém, há também certa fixidez durante todos os cinco dias úteis da semana. Esta está, por exemplo, na certeza da presença do arroz com feijão nos buffês de todos os restaurantes. O prato típico do dia a dia brasileiro está no cardápio de todos os restaurantes e não pode faltar dia algum. É uma das formas de manutenção dos hábitos tradicionais na alimentação. Embora a intenção deste texto esteja voltada para as características comuns que os restaurantes a quilo possam apresentar, ou seja, para aquilo que envolve a maioria das pessoas no que se refere ao ritual da refeição da hora do almoço, um elemento que poderia ser considerado “off menu” recebeu menção neste capítulo: são as idéias acerca da diferenciação de classes que podemos encontrar na freqüência de distintos restaurantes. Questões como a classificação de preços17 e o perfil de clientes de cada local foram levadas em consideração na percepção da ocorrência ou não de critérios de divisão de classes no tocante à freqüência destes locais. As diferenças entre as preferências de homens e mulheres também surgiram ao longo da pesquisa. Apesar dos restaurantes não se classificarem como “femininos” ou “masculinos”, a circulação de maioria de apenas um dos sexos em alguns locais e vice-versa era empiricamente visível. 17 O menor valor encontrado para 100g foi de R$ 1, 39 e o maior valor foi de R$ 3, 29. Esta distância entre os valores sinaliza que indivíduos com condições financeiras distintas têm possibilidade de freqüentar este modelo de restaurante. DBD PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0610488/CA 21 Mesmo não fazendo parte da conformação da maioria dos locais, que tinha como intenção mesclar a presença de público masculino e feminino, alguns locais se definiam como restaurantes freqüentados por uma maioria de mulheres e outros como restaurantes freqüentados por uma maioria de homens. Questões como os cardápios dos restaurantes, com comidas que fazem parte de uma dieta corporal para dar “boa forma”, no caso de restaurante feminino, e dieta para dar “sustância” e para “se manter de pé o dia todo”, no caso de restaurante masculino, surgiram em locais que classificaria como pólos opostos já que não configuram a composição da maioria dos restaurantes. A casa e a rua em pauta. Este é o terceiro capítulo. Nele estarão em discussão as diferenças e semelhanças do comer em casa e comer na rua. Para enfatizar o modo como as pessoas costumam agir na rua, é preciso entender a diferença através das atitudes reveladas quando se está em casa. Não seria possível entender como alguém reage a situações na rua se não houvesse um local distinto onde ficasse clara a diferença, no caso, a casa. Mas esta divisão não se configura tão simples assim. A mistura de elementos de ambos os ambientes é perceptível nos restaurantes do tipo a quilo. Tanto imagens comuns ao ambiente da rua quanto imagens do ambiente da casa podem ser identificadas no local. Com isso, veremos que situações que remetem a sentimentos que expressamos no ambiente de nossas casas, como o sentimento em relação à preparação das comidas, a interação com pessoas de que gostamos em torno da mesa, estão postas nos restaurantes a quilo tanto quanto situações como a pressa e o dinheiro, capazes de impessoalizar o ritual da refeição. O quarto capítulo aponta para as especificidades de cada local e as suas variadas maneiras de absorverem manifestações mundiais. Mesmo com a possibilidade de formação de padrões mundiais de alimentação, de formas de servir pratos, cada espaço adapta estas influências de acordo com suas regras. No caso brasileiro, as atitudes ao se alimentar – dentro do recorte do horário do almoço, visto sob perspectiva dos restaurantes a quilo do centro carioca - acompanham a aceleração da vida urbana, mas, ao mesmo tempo, mesclam elementos da chamada “cultura fast-food”, ou cultura da pressa, com expressões tradicionais brasileiras, num hibridismo que faz com que os traços tradicionais não sejam sobrepostos por traços culturais estrangeiros. DBD PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0610488/CA 22 Quando num mesmo cardápio se encontram práticas que são vistas como presentes na formação da cultura brasileira, como, por exemplo, o arroz com feijão, com aspectos característicos a uma cultura mundial, como a rapidez no servir e no consumir uma refeição, se promove a interação entre manifestações culturais que estão sendo difundidas mundialmente com manifestações que se constituem como importantes para a manutenção de culturas locais. Por fim, o último capítulo tem como intenção produzir um desfecho que reitere o que de relevante foi discutido ao longo do texto. Sob o título de “...e a conta”, expressão que normalmente utilizamos quando queremos terminar uma refeição em visita a um restaurante, busco reforçar o argumento de que como, onde, quando, a que horas e com quem se come “é tão importante quanto o que se come18”. Comensal x Comedor Comensal é um indivíduo ou cada um dos indivíduos que comem juntos; o comedor é aquele que come19. O comensal é aquele que faz do comer um ato de interação enquanto o comedor é qualquer indivíduo que simplesmente exerce a ação de comer: O comensal é aquele que exerce a comensalidade, que significa respeitar a seqüência das refeições, superar o naturalismo da hora de comer encontrando horas predeterminantes para as refeições20. Ao longo do texto, o sentido de comensal vai determinar aqueles que fazem da refeição uma ação que ganha valor social, um ato de interação e comunicação em torno das práticas alimentares: A comensalidade faz com que aquilo que circula tenda a reproduzir, em situações recorrentes, os mesmo pratos e elaborações culinárias, num amplo espaço social de reciprocidades. Aquilo que nos dá conforto 21. 18 CARNEIRO, Henrique. Comida e Sociedade – Uma história da alimentação. Rio de Janeiro: Campus, 2003, p. 148. 19 POULAIN, Jean-Pierre. Sociologias da Alimentação. Florianópolis, Editora da UFSC, 2006, p. 20. 20 SIMMEL, Georg. Sociologia da Refeição. I In: Estudos Históricos: Alimentação n.º 33, Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas, 2004. DBD PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0610488/CA 23 O termo comedor servirá para identificar o indivíduo em sua ação naturalde comer. Não está imposto ao comedor necessidade de comunhão ou interação em torno do ritual da alimentação. Trata-se de designação daquele que exerce o ato biológico de comer. Assim, durante a leitura, os momentos em que for designado o termo comensal propõem que o leitor busque enxergar a possibilidade de desnaturalização do ato de comer, enquanto ao comedor cabe o sentido biológico que integra fazer uma refeição. Sobre a leitura do texto A forma dada ao texto a seguir foi definida por duas razões. A primeira delas veio de uma inspiração que tive após uma aula do curso de Mestrado, denominada Seminários de Dissertação, ministrada pelo professor Valter Sinder, onde ele sugeriu a mim e aos meus colegas de turma a leitura de um livro interessante que foi publicado com base no texto final do Mestrado de um renomado antropólogo brasileiro. O peculiar deste texto22 é que mostrava a prioridade do pesquisador em adequar linguagem e forma com o tema. Ou seja, a intenção do autor era criar uma narrativa que mostrasse de maneira clara e interessante o objeto de estudo, de modo que a construção textual fosse um aliado do leitor no entendimento e interação com o campo. Curiosa com o feito, me adiantei para ler o livro e decidi, audaciosamente, fazer uma dissertação nestes moldes. Dessa maneira, gostaria de, pelo menos, elaborar uma forma de situar o meu tema de modo que o leitor acompanhe o trabalho de campo de maneira que possa reconhecer as características dos restaurantes a partir da interpretação por mim elaborada e, melhor ainda, que com isso possa tornar a leitura um tanto mais agradável. 21 CASTRO, Celso & DURÃO, Susana. Entrevista com Joaquim Pais de Brito. In: Estudos Históricos: Alimentação, n.º 33, Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas, 2004. 22 SILVA, Hélio. Travestis: entre o espelho e a rua. Rio de Janeiro, Rocco, 2007. DBD PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0610488/CA 24 A segunda razão me apareceu quando certo dia, minha mãe volta de uma livraria com o livro Dom Quixote, de Miguel de Cervantes23, num formato que para mim era diferente: o livro tinha cada página escrita em português, e, logo abaixo, dentro da mesma página, havia a tradução para o espanhol. Desta maneira o leitor poderia ler primeiramente o livro inteiro apenas na língua portuguesa ou, se preferisse, ler todo em espanhol, ou ainda, poderia ler cada página em português e o original logo abaixo para a língua espanhola, dentre outras tantas maneiras que este formato proporcionava. Tive então a idéia de arriscar uma confecção de texto que tivesse forma similar. Sob os moldes desta proposta, o início de minha dissertação descreve as etapas de uma refeição e, logo em seguida, após o corte que optei por intitular de “Trocando em miúdos” segue uma interpretação antropológica do campo por mim pesquisado. Assim, tomando emprestada a idéia de construção do livro de Cervantes, a primeira parte do texto é uma introdução em forma de “descrição gastronômica metafórica” do argumento antropológico que segue logo adiante. Uma espécie de degustação do que está para surgir. De trás pra frente, de frente pra trás, começando apenas pela “descrição gastronômica metafórica” ou pelo argumento antropológico, cabe ao leitor optar pelo modo mais interessante de se debruçar sobre o texto. 23 SAAVEDRA, Miguel de Cervantes. O engenhoso fidalgo D. Quixote de La Mancha. Editora 34, São Paulo, 2002. DBD PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0610488/CA 2 Prato principal (...) Me perdoe a pressa, é a alma dos nossos negócios! - Oh! Não tem de quê! Eu também só ando a cem! - Quando é que você telefona? Precisamos nos ver por aí! - Pra semana, prometo, talvez nos vejamos... Quem sabe? - Quanto tempo! Paulinho da Viola, Sinal Fechado Feito de ingredientes que parecem sólidos, o prato principal vai desmanchando na boca à medida que o degusta. Cada mastigação o faz dissolver ainda mais. A vontade é de que ele não se desmanchasse, para mantê-lo o máximo possível na boca. O sentimento constante durante esta degustação é de que prato já se está acabando, uma sensação de que aquilo está prestes a chegar ao seu final, desde a primeira garfada. É preciso aproveitar cada momento, pois tudo está se dissolvendo tão facilmente na boca que já é possível prever seu fim. Esta sensação é suficiente para entender a proximidade do término, não é necessário nenhum tipo de aviso formal, pois a dinâmica da degustação já se encarrega disto. Envolto em um molho que combina perfeitamente com ele, a sensação vai se tornando cada vez mais nítida. Este molho é feito de ervas esfumaçantes e animais sadios, que circulam por áreas movimentadas. Áreas cercadas por um sabor todo especial; sabor de refeição preparada em forno quente, de grande circulação, a todo vapor. Para beber, foi aconselhado um vinho que facilita ainda mais a ingestão do prato. Este vinho lembra momentos de pausa, um cheiro de relaxamento no meio de uma vida intensa. Um vinho que harmoniza com o prato que, embebido num molho especial, se desmancha a cada tilintar dos talheres. O vinho facilita ainda mais a digestão do prato, pois cria uma atmosfera que remete ao fim da refeição, ao pré-estabelecimento de algo demarcado para terminar, de que é preciso voltar para a rotina após esta refeição. Todas as características do vinho trazem uma dinâmica implícita de agilidade da refeição. Mas, é mesmo assim preciso enfatizar que esta agilidade DBD PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0610488/CA 26 não diminui a sensação de que se está em um momento de refeição real. Aqui se come comida de verdade, comida para se lembrar, que nos deixa ativo por todo o dia. Trocando em miúdos... 2.1. “Tempo” Meu trabalho de campo foi marcado por entrevistas curtas, pois os freqüentadores dos restaurantes a quilo sempre tinham o mesmo argumento na hora da entrevista: a falta de tempo. A preciosidade dos minutos fazia com que os entrevistados apenas concordassem em falar caso isto tomasse poucos instantes da sua hora de almoço. Uma segunda aparição do uso da palavra tempo surge durante as entrevistas quanto ele, o tempo, é citado como um dos principais fatores para a eleição destes restaurantes: “onde se pode comer rápido, sem perder tempo”, segundo os entrevistados. De tão presente como palavra nas entrevistas, passei a contar, então, o tempo que as pessoas disponibilizavam para sua refeição da hora do almoço. Assim, criei uma nova forma de usar este elemento. O “tempo”, palavra tão marcante em todas as entrevistas, me saltou como algo digno de observação e, como minha participação no campo requeria uma presença durante todo o horário de almoço nos restaurantes, passei a prestar atenção na duração das refeições nas mesas ao meu redor, chegando até mesmo a cronometrar algumas delas. A constante presença desta palavra ao longo de todas as argumentações, pelos mais variados motivos, a torna integrante do Prato Principal. O tempo como palavra mais usada pelos entrevistados, de ambos os sexos e das mais diferentes faixas etárias, aponta para sua representação enquanto algo quase concreto, mas que ao mesmo tempo está a todo tempo escapando e tendo que ser aproveitado. DBD PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0610488/CA 27 Como palavra cujas interpretações o colocam próximas a algo palpável, quase concreto, encontra-se o tempo tão precioso aos entrevistados. Aquela uma hora que normalmente é disponibilizada para o almoço se transforma num horário condensado, que ganha forma. Por isso, quando todos saem de seus escritórios, salas comerciais e demais espaços laborais com o estabelecimentopré- determinado do tempo a se gastar, os segundos, minutos, se tornam material contável. Dessa forma, há uma hora do dia que se converte em algo mais “concreto”, já que a pré-determinação do horário a se gastar durante a refeição da hora do almoço confere ao trabalhador sentido de prazo, de maior percepção de um período com a fixação de início e fim. Essa “condensação do tempo” normalmente é encontrada no horário de meio-dia às 13h. Este é, não por coincidência, também o período de maior movimentação nos restaurantes do centro da cidade do Rio de Janeiro. Apesar de abrirem às 11h, o movimento neste horário é quase nulo, tendo eu encontrado em alguns restaurantes funcionários almoçando neste período. Após as 14h acontecia o mesmo, o fluxo de clientes também já estava muito reduzido. Esta baixa circulação antes do meio-dia e após as 14h se tornava ainda mais perceptível com a divulgação de promoções que contemplam com desconto no preço do quilo os clientes que decidam almoçar nestes horários. Segundo um dos gerentes entrevistados, “é uma hora de pouco movimento e não muito convencional de se almoçar. Poucas pessoas entendem este tempo como o de almoço e, portanto, apenas com promoções estes horários conseguem ficar um pouco mais atrativos”. É “no horário mais movimentado, de meio-dia às 13h” que se pode notar a dinâmica dos restaurantes. Ela se dá para conseguir atender rapidamente todos aqueles que desejam disponibilizar apenas parte de sua uma hora de intervalo para estarem naquele local: O mundo atual vinculou os horários das refeições aos de outras atividades consideradas mais relevantes, como o trabalho e o estudo, sendo que as pausas para alimentação intercalam-se no decorrer do dia, a fim de atender os compromissos assumidos. A jornada diária foi estipulada com um intervalo para almoço, refeição principal que normalmente tem duração de uma hora e pode ser realizada entre meio-dia e 14h, horários que correspondem ao grande movimento observado em praças de alimentação, especialmente durante a DBD PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0610488/CA 28 semana de trabalho. Já o jantar, uma refeição mais descontraída e, em geral, menos sujeita à pressão do tempo, prolonga-se das 18h30 às 22h, apresentando um movimento constante nesse período24. Dessa forma, ainda que estabelecida a hora do almoço, sempre havia entre os entrevistados a justificativa de que seu tempo para almoçar deveria ser prático, sem a necessidade de que se tomasse uma hora para fazê-lo. Aqui se estabelece esta vertente do tempo, que deve ser aproveitado para realizar a refeição como também para outros afazeres. Este ritmo passa a ser “uma questão fundamental do mundo moderno25”. Como a “sociabilidade urbana” introjeta a idéia do “perder tempo”, que significa estar em descompasso com a ordem das coisas em um “conjunto de atividades entre elas: morar, vestir, fazer compras, trabalhar, passear” estes momentos do dia estão sempre com pessoas em movimento, preocupadas com a pressa26. Não seria diferente com a hora do almoço no centro urbano, que está envolta nesta mesma lógica e poderia estar inclusa neste “conjunto de atividades” acima enumerado. A dinâmica do ato de comer e sair nestes restaurantes levava em torno de 20 minutos, com exceção de algumas mesas animadas, normalmente formadas por grandes grupos onde as pessoas levavam no máximo 30 minutos para se retirarem. Mas, de maneira geral, em 40 minutos, todos os clientes já haviam sido substituídos por novos clientes. Este é o exemplo da rotatividade, do movimento constante já que a rapidez de entrada e saída de pessoas era incessante. Sob esta agilidade, está o controle do relógio, onde se confere a todo momento que horas são, numa regulação constante do tempo que se deve permanecer no local. Nesse sentido, o relógio expressa a uniformização de um tempo “vazio”, que foi quantificado de maneira a determinar zonas do dia, como a jornada de trabalho27. Torna-se quase palpável a sensação de tempo, pois se cria uma intenção de uso do local a partir de minutos marcados, contados. Eles determinam as atividades; têm-se a imaginação de um cronômetro correndo e inúmeras tarefas a serem cumpridas num período determinado. 24 COLLAÇO, Janine Helfst Leicht. Restaurantes de comida rápida, os fast-foods, em praças de alimentação de shopping centers: transformações no comer. In: Estudos Históricos: Alimentação, n.º 33, Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas, 2004, p. 124. 25 ORTIZ, Renato. Mundialização e Cultura. São Paulo, Editora Brasiliense, 1994, p. 82, 83. 26 Op. cit, p. 82, 83. 27 GIDDENS, Anthony. As conseqüências da modernidade. São Paulo, UNESP, 1991, p.26. DBD PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0610488/CA 29 Durante meu trabalho de campo, foi possível presenciar que nenhum cliente passava esta uma hora de almoço a que tinha direito à mesa. Para comprovar isto, passava horas dentro dos restaurantes e sempre recebia olhares de estranheza, como se todos se questionassem sobre o porquê de eu estar tanto tempo ali. Estava eu, de certa forma, “denegrindo a lógica” do ambiente que deixava implícitas ações como comer em um período curto, sem que se tomasse com isso todo o horário reservado ao almoço: Na cidade moderna, a necessária sincronização das atividades estabelece a ditadura do horário e a importância do relógio28. As pessoas, em teoria, poderiam ficar o quanto quisessem no local, mas a estrutura deste é montada a lhe conferir movimentação. O serviço é realizado de maneira a que se sirva rapidamente a comida, que se pese, consuma e se pague de modo muito ágil. É pegar um prato para se servir, eleger o que colocar nele, comer e pagar. Estas ações estão tão introjetadas, que são capazes de produzir esta dinâmica de rotatividade que promovem “discretamente” o uso e, porque não, a agilidade do local. Não há nenhuma regra imposta que faça com que as pessoas utilizem o local assim, mas a forma como a comida, as mesas e os caixas para pagamento estão dispostos constroem um espaço aberto a este tipo de rotatividade permanente. 2.1.1. Tempo de hoje, tempo de ontem Quando as entrevistas mostram que o freqüentador leva em consideração o tempo na hora de escolher onde vai fazer sua refeição, este não é exatamente um aspecto novo no depoimento de trabalhadores do centro da cidade. Basta ver este trecho do período imperial brasileiro, onde o número de restaurantes crescia na cidade e a demanda por cozinheiros era grande; “ocupados com seus negócios e 28 LESSA, Carlos. “Trajetórias da cidade moderna”. In: Rio de Janeiro: panorama sociocultural, Rio de Janeiro, Editora Rio, 2004, p. 11. DBD PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0610488/CA 30 sem tempo para voltar pra casa para o ‘jantar do meio dia’ [os cariocas] comiam na rua29”. E também em depoimento pessoal sobre a pressa das cidades brasileiras, Câmara Cascudo já criticava a falta de tempo no realizar das refeições do cotidiano urbano: Precisamos comer depressa, digerir depressa, abandonar a mesa como a um assento de brasa. Vida prática. Essências. Sumos. Comprimidos. Lataria. Pé no acelerador. Avião hipersônico. Olho no relógio30. Semelhanças à parte nos depoimentos, onde a idéia de não perder tempo foi apontada como não sendo de todo nova31 aos trabalhadores dos centros urbanos, a maneira de se comunicar através da cozinha, que, também neste caso, mostra que ações que acompanham o ritual da refeição da hora do almoço se repetem até os dias de hoje, não são estanques: Assim pode-se pensar a cozinha (e a culinária) como um vetor de comunicação, um código complexo que permite compreender os mecanismos da sociedade à qual pertence, da qual emerge e qual lhe dá sentido32. Isto querdizer que pontos em comum caminham ao lado de constantes “redefinições do significado da refeição33”. Tomando como ilustrativo: Nas décadas de 50 e 60 era considerável o número de pessoas que almoçavam em casa; outras, quando saíam para o trabalho, comiam em pensões ou levavam lanches. Pouco a pouco, essas práticas são vistas como sinal de arcaísmo, e caem em desuso. O restaurante e o fast-food tornam-se as opções preferenciais34. 29 Jornal do Commercio, Suplemento, Rio de Janeiro de 1849, p. 04 apud BRUIT, Héctor Hernán; EL-KAREH, Almir Chaiban. Cozinhar e comer, em casa e na rua: culinária e gastronomia na Corte do Império do Brasil. In: Estudos Históricos: Alimentação, n.º 33, Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas, 2004, p. 87. 30 CASCUDO, Câmara. História da Alimentação no Brasil (Volume I e II), São Paulo, Cia. Ed. Nacional, 1983, p. 418. 31 História da Alimentação no Brasil, de Câmara Cascudo, segundo o site http://www.historiaecultura.pro.br , foi escrito entre 1962 e 1963 e Rio de Janeiro do meu tempo, de Luiz Edmundo, teve sua primeira edição em 1938, fonte do site http://www.estantevirtual.com.br. 32 BARBOSA, Lívia & GOMES, Laura Graziela. Culinária de Papel. In: Estudos Históricos: Alimentação, n.º 33, Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas, 2004, p. 26. 33 ORTIZ, Renato. Mundialização e Cultura. São Paulo, Editora Brasiliense, 1994, p. 85, 86. 34 Op. cit DBD PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0610488/CA 31 Em resumo, há exemplos de pontos em comum sobre a complexidade da idéia de tempo, que é algo vazio que foi sendo preenchido por significados sociais capazes de torná-lo cheio, dotados de valores culturais que fazem dele uma fonte de entendimento para a maneira como agimos diante de situações como trabalhar, se alimentar, etc. Porém, estas formas de preenchimento dos significados do tempo estão em constantes mudanças, são o contrário da fixidez e recebem novas interpretações conforme as transformações sociais. 2.2. Relativizando O papel principal que a idéia de tempo desempenha na escolha destes restaurantes é notável. Mas, no entanto, é preciso relativizar o discurso de que estes restaurantes são muito freqüentados simplesmente porque permitem que se coma em poucos minutos. Se houvesse apenas esta razão, outros locais, como muitas lanchonetes localizadas na mesma rua dos restaurantes pesquisados, por exemplo, também acolheriam este mesmo público, pois têm a mesma função da rapidez no servir da comida. Isto quer dizer que, apesar da relevância do aspecto da agilidade na hora de servir a refeição, é preciso buscar outros elementos que justifiquem as visitas a este local. Uma das razões que podem relativizar este discurso do tempo como fator primordial para escolha do ambiente da refeição está expressa no tópico a seguir, denominado “Aproveitar o pouco tempo com comida de verdade”. Nele veremos que esta busca do comer rápido se alia a outros fatores que influenciam a eleição destes locais para se almoçar. A soma da dinâmica dos restaurantes com a oferta de comidas que no imaginário dos comensais fazem parte daquelas que classificam como “comidas de verdade” resulta na grande freqüência dos restaurantes a quilo. Comidas que estão no topo da lista de suas escalas pessoais de valor se unem à agilidade do ato de comer. Esta interação entre elementos modernos e elementos tradicionais da cultura brasileira estará posta na conformação destes restaurantes. A possibilidade DBD PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0610488/CA 32 de comer de maneira rápida é um dos elementos modernos que são levados em consideração durante o ritual da refeição realizada nos centros urbanos, enquanto comidas classificadas como elementos tradicionais na representação da cultura brasileira também são representadas nestes mesmos salões. 2.2.1. Aproveitar o pouco tempo com comida de verdade Ainda que haja busca pelo aproveitamento total de algo - o “tempo” - que está mais no trânsito entre o concreto e o abstrato que especificamente num e noutro, se enfatiza o fato de se estar comendo comida de verdade. Ou seja, mesmo com a tentativa de aproveitar ao máximo o tempo disponível neste intervalo do trabalho, que é a hora do almoço, se está num lugar que oferece comida e não alimento para “tapear o estômago” e “sem sustância”. Apesar da velocidade do comer, estes restaurantes não são considerados fast-foods35 simplesmente; são locais onde se come “comida de verdade”, refeições que realmente “sustentam” as pessoas: Para nós, brasileiros, nem tudo que alimenta é sempre bom ou socialmente aceitável. Do mesmo modo, nem tudo que é alimento é comida. Alimento é tudo aquilo que pode ser ingerido para manter a pessoa viva; comida é tudo que se come com prazer, de acordo com as regras mais sagradas de comunhão e comensalidade36. Quando os clientes revelam que encontram nestes locais “comida de verdade”, apontam para a manutenção de oferta de pratos que percebem como comida, ou seja, como algo que produz interação, sentimento de reconhecimento e de identificação entre os pratos e a composição da cultura brasileira. Em outros estabelecimentos que possuem a mesma agilidade no servir de uma refeição, falta este sentimento da comida; o que se serve é apenas alimento, 35 POULAIN, Jean-Pierre. Sociologias da Alimentação. Florianópolis, Editora da UFSC, 2006. Fórmula norte-americana de comer rápido e a preços módicos que espalhou-se por diversos países. Também são associadas a esta expressão comidas industrializadas, consideradas sem alma e que são servidas de maneira sistemática nos balcões de lanchonetes e outros estabelecimentos que representam o servir destas refeições. 36 DAMATTA, Roberto. O que faz do brasil, Brasil? , Rio de Janeiro: Rocco, 1991, p. 55. DBD PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0610488/CA 33 algo que deve ser servido a qualquer comedor e não é visto como prato capaz de manter “energia suficiente para todo um dia de trabalho”37. É a opção da rapidez aliada a costumes que já estavam bem estabelecidos entre nós nos rituais de refeição que fazem destes restaurantes uma fórmula contagiante, que tomou as ruas do centro urbano do Rio de Janeiro. 2.3. O Centro da Cidade O molho desta mistura do Prato Principal é o centro da cidade. Capaz de envolver as várias possibilidades de uso do termo “tempo”, é ele quem ajuda na significação do mesmo, pois é o local de trabalho de grande parte da população carioca. É neste ambiente onde a circulação de trabalhadores é constante que estão localizados os restaurantes pesquisados e onde o espaço de ruas e avenidas pode revelar muito sobre o ritual da alimentação que envolve a hora do almoço durante os dias úteis da semana. Quando o assunto é o centro da cidade, a importância desta localidade vai além de ser simplesmente o local geográfico onde se instalaram estes estabelecimentos. Lá se está diretamente associado ao mundo do trabalho, pois, distante de nossas casas e para onde vamos quando saímos para trabalhar, temos com ele uma relação distinta, que não encontramos quando estamos no mundo de nossas casas. Estamos na rua, local onde todos circulam, onde esbarramos com “todo tipo de gente”, lugar que não é de uso exclusivo nosso e onde não escolhemos quem será convidado. Esta lógica do horário do almoço nos restaurantes a quilo situa-se numa relação de tempo-espaço que perpassa a lógica interna destes estabelecimentos e alcança a dinâmica do movimento do centro da cidade: Um horário, tal como uma tabela que marca as horas em que correm os trens, pode parecer à primeira vista meramente um mapa temporal. Mas na verdade é um dispositivo de ordem tempo-espaço, indicando quando e onde chegam os37 Trecho retirado de um depoimento de jovem estagiário de uma empresa estatal. DBD PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0610488/CA 34 trens. Como tal, ele permite a complexa coordenação de trens e seus passageiros e cargas através de grandes extensões de tempo-espaço38. No caso da área central do Rio de Janeiro, que segundo Carlos Lessa39 está “se projetando com personalidade na pós-modernidade”, não haveria local melhor para se encontrar esta modalidade de restaurante: Outra criação carioca é a comida a quilo. A invenção consiste não no fato de haver sido criado um bufê variado a preço por grama e auto-serviço; é universal. O gênio local se apresenta na notável antropofagia expressa na composição criativa do prato pessoal, pelo carioca comum, que combina arroz e feijão com a salada verde, carne grelhada, com algum pastel, espaguete, e até mesmo sushis, sashimis... Sendo o brasileiro propenso literalmente a misturar tudo, é provavelmente o único no mundo a combinar sashimis, farofa e feijão. Foi genial a fixação de preço por grama, de qualquer combinação de alimentos, o que permite a liberdade individual ao antropófago40. A localização e as especificidades da cidade carioca fizeram por transformar os restaurantes que atendem o público da hora do almoço num local integrador de características universais do self-service (auto-serviço) com temas da “criatividade brasileira”, como as misturas de comidas que normalmente não são consumidas em conjunto. 2.4. Hora do almoço E o vinho é a hora do almoço, hora bem definida onde os restaurantes estão lotados de pessoas a fim de fazerem sua refeição. É neste momento que a lotação das ruas e dos restaurantes que nela se localizam promovem a chance de olhares sobre o que fazem as pessoas em seu “tempo livre”41. 38 FRIDMAN, Luis Carlos. Vertigens pós-modernas. Rio de Janeiro, Relume Duamará, 2000, p. 28. 39 LESSA,Carlos. O Rio de todos os Brasis: uma reflexão em busca de auto-estima. Rio de Janeiro, Record, 2005, p. 427. 40 Op. cit, p. 425, 426. 41 O tempo livre em questão está entre aspas, pois, apesar de ser o tempo de almoço um período que permite ao indivíduo abertura na decisão do que fazer dele é também intervalo do trabalho, que se refere à obrigação, a deveres. Dessa forma o tempo livre do almoço não está em contraposição ao tempo de trabalho, ele está inserido na jornada diária dos trabalhadores. DBD PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0610488/CA 35 Em se tratando da hora do almoço nos restaurantes a quilo, pode-se dizer que ela revela um pouco mais do nosso comportamento fora de casa. Almoçamos em trajes de trabalho; nos preocupamos com o tempo que temos para comer e com outros compromissos; compartilhamos da refeição com pessoas com as quais mantemos relações de formalidade, enfim, encontramos elementos que reforçam a relação com o ambiente da rua. O tempo livre do almoço não é visto como uma refeição que segue um ritual que dura a exata uma hora disponível a trabalhadores e estudantes. Pelo contrário, esta nova modalidade de restaurante traduz essa nova relação das pessoas com o espaço de tempo livre que conseguem no intervalo do trabalho. A exemplo do uso do tempo da hora do almoço para outras tarefas que não apenas a refeição, uma das entrevistadas revela que “mesmo com uma hora para almoçar, nunca gasto este tempo todo apenas para comer. Mesmo quando não preciso resolver alguma coisa importante, vou a uma loja, a uma livraria”. É preciso destacar que a hora do almoço tem características que estão além da alimentação. Neste horário, no meio de um dia de trabalho, como se costuma dizer, é comum que se resolvam outros tipos de compromisso. As filas dos bancos lotam de pessoas pagando suas contas, as academias de ginástica recebem os mais preocupados com o corpo, os consultórios recebem pacientes, as lojas recebem consumidores, as “casas de massagem” também recebem seus clientes. Ou seja, a hora do almoço virou um horário para os mais variados tipos de tarefas. As “casas de massagem” são locais onde se oferecem serviços sexuais. No centro da cidade, elas existem em grande quantidade e, inclusive, ocupam salas de edifícios comerciais. Estes locais recebem grande movimento justamente no horário de almoço e, segundo um colega de Mestrado que trabalha em uma empresa também no Centro, seus colegas se referem a uma ida a este local como “fazer um lanche rápido” 42. Isso não quer dizer que tenha se perdido toda a ligação do almoço com rituais que envolvem uma refeição; pelo contrário, estes restaurantes servem de 42 Esta associação entre comida e sexualidade também é um tema interessante no Brasil, para saber mais sobre ele ver CARNEIRO, Henrique. Comida e Sociedade – Uma história da alimentação. Rio de Janeiro: Campus, 2003; DAMATTA, Roberto. O que faz do brasil, Brasil? , Rio de Janeiro: Rocco, 1991; DOUGLAS, Mary. Pureza e Perigo. São Paulo, Perspectiva, 1976 e QUEIROZ, Maria José de. A Literatura e o gozo impuro da comida. Rio de Janeiro, Topbooks, 1994. DBD PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0610488/CA 36 exemplo para uma dinâmica onde o protagonismo da refeição esbarra em outros personagens tão importantes quanto aquele. Em outras palavras, os restaurantes do tipo a quilo possibilitam que trabalhadores do centro da cidade dividam seu espaço da refeição com outros afazeres. O que é chamado de hora do almoço não se destina apenas à ação de comer; também é neste intervalo que outras tarefas do cotidiano são resolvidas. A valorização do curto espaço de tempo, onde deve-se realizar o maior número de atividades possível, a espacialidade do centro da cidade que comporta locais para que esta dinâmica de aproveitamento do tempo seja cumprida e um horário estipulado, onde se sente o cronômetro correr, fazem os restaurantes a quilo característicos desta lógica. Afinal, eles estão inseridos no contexto de agilidade e do não perder tempo no fazer da refeição; são locais bem fixados no centro urbano carioca e atendem àqueles que utilizam parcialmente a hora do almoço para efetivamente almoçar. Apesar da importância do Prato Principal na descrição dos restaurantes a quilo no Rio de Janeiro, a refeição não se encerra por aqui. Ainda temos outras degustações para atravessar. DBD PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0610488/CA 3 Acompanhamentos “O cotidiano é aquilo que nos é dado a cada dia.” Michel de Certau Além do prato principal, são oferecidos acompanhamentos. Complementos ao que de mais significativo se revela em uma refeição; outros ingredientes, formando outros alimentos que acompanham a comida de marca maior. Entre estes acompanhamentos, há a possibilidade de inúmeras opções. Mas há aqueles que são mais pedidos pelos clientes, que são mais lembrados e considerados mais saborosos e dignos de menção. Primeiramente, destaque para aqueles acompanhamentos mais usuais, que não deixam nunca de ser companhia do prato principal, mais tradicionais que, mesmo nos ambientes mais modernos e arrojados, não podem faltar. São acompanhamentos que fizeram parte da mesa de todas as gerações e de valor inestimável, que perpassam as barreiras de tempo e continuam afirmando sua importância nos cardápios dos dias de hoje. Para não cair na mesmice, a sugestão é sempre ir mesclando os acompanhamentos conforme os diferentes dias de refeição. Alguns acompanhamentos se casam melhor conforme a atmosfera de cada dia, são os famosos “pratos do dia”. Assim, durante a semana pode-se optar por uma das várias combinações de sabores, só depende do dia da visita. Para aqueles que queiram se sentir mais exclusivos, há comidas que não estão divulgadas no menu, mas que podem ser servidas conforme a vontade do cliente. Uma sugestão à parte é pedirpara ser servido de algo que a princípio não está no menu oficial, mas, cujos ingredientes podem ser encontrados na cozinha e preparados conforme o gosto do comensal. O que se deve notar é que os acompanhamentos não são meros coadjuvantes; sejam eles quais forem, ajudam a compor o prato de maneira peculiar e conferem a ele um paladar todo especial. DBD PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0610488/CA 38 Trocando em miúdos... 3.1. Dias da Semana O primeiro acompanhamento revela a temporalidade desta refeição: os dias da semana. Isso porque estas refeições são realizadas nos chamados dias úteis – que vão de segunda a sexta-feira -, onde nossa rotina está pautada em categorias como “trabalho, obrigações, responsabilidade44”: A totalidade dos dias da semana é o trabalho. Durante o período que se estende de segunda a sexta, o trabalho se torna o elemento regulador das ações individuais. (...) Os dias de semana são aqueles em que se trabalha. Em que a maior parte do tempo é passada fora do ambiente doméstico, “na rua”, um local público, de trabalho, e regido por leis impessoais, onde as “pessoas da casa”, são tratadas como indivíduos. Onde o valor dominante é o trabalho e a hierarquia45. De segunda a sexta-feira a lógica das refeições é compatível com a rotina de trabalho, mas, ainda assim, cada dia útil tem as suas especificidades: Os dias da semana, com sua sucessão regular, nomes e distinções: à parte o seu valor prático de identificar as divisões de tempo, cada um deles tem um significado como parte de um padrão. Cada dia tem seu significado próprio e se há hábitos que estabelecem a identidade de um dia particular, estas observâncias regulares têm o efeito de um ritual. O domingo não é simplesmente um dia de descanso. É o dia anterior à segunda, e igualmente a segunda em relação à terça. Na verdade, não podemos experimentar a terça se, por alguma razão, não tivermos formalmente recebido a segunda46. A comida também acompanha esta variação dos dias da semana. Todos os restaurantes da pesquisa tinham, além de uma base fixa de opções de comida, variações conforme os dias da semana. O gerente de um dos locais definiu assim a variação de alimentos: 44 BARBOSA, Lívia Neves de Holanda. Porque hoje é sábado... Um estudo das representações dos dias da semana, Rio de Janeiro, Boletim do Museu Nacional, n.º 49, 1984, p. 15. 45 Idem, p. 32, 35. 46 DOUGLAS, Mary. Pureza e Perigo. São Paulo, Perspectiva, 1976, p. 83. DBD PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0610488/CA 39 Segunda-feira é um dia que temos comidas mais leves, porque todo mundo quer maneirar, já que exagerou no final de semana. Quando vai chegando mais perto do fim-de-semana, o cardápio vai ficando mais pesado. Penso que as pessoas vão ficando mais relaxadas, felizes com a chegada dos dias de descanso e comemoram também na hora de escolher a comida. Noutro restaurante também fica explícita a relação da comida com os diferentes dias da semana. Segundo a gerente de um famoso restaurante árabe do centro da cidade: Aqui temos um cardápio árabe fixo. Mas às segundas servimos massas; terças e quintas temos cozinha mineira; quarta é cozido e sexta-feira é feijoada. Sexta- feira tem feijoada47 em praticamente todos os lugares; as pessoas estão mais descontraídas, querem comer alguma coisa especial e estão mais animadas, o que combina direitinho com a feijoada. Dessa forma, os dias da semana, são exemplos de uma seqüência regular: com experiências divididas em cada um dos dias. Nesta seqüência regular, cada dia possui uma função diferenciada, pois, segundo Mary Douglas, o que confere sentido às especificidade de cada dia está exatamente numa forma de sucessão onde há um ordenamento capaz de qualificar os dias, tanto de acordo com a proximidade com o dia que passou quanto com a proximidade o com o dia que vai sucedê-lo. Se utilizarmos o exemplo da sexta-feira para qualificá-la como um dia diferente da quinta e próximo do sábado, é possível verificar que durante as sextas-feiras as pessoas se permitiam “um pouco mais”. Um pouco mais de tempo no almoço, um pouco mais de tempo conversando com os colegas, um pouco mais de dinheiro para gastar, um pouco mais de novidade no cardápio. Portanto, foi numa sexta-feira em que estava visitando pela primeira vez o restaurante árabe da rua que escolhi para realizar o trabalho de campo, que quatro mulheres com média etária de 30 anos, numa mesa animada, decidiram, segundo uma das entrevistadas, “arriscar uma comida diferente e um restaurante novo, fora 47 MACIEL, Maria Eunice. Uma cozinha à brasileira. In: Estudos Históricos: Alimentação n.º 33, Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas, 2004, p. 33. “A feijoada, o mais conhecido dos chamados ‘pratos nacionais’ (...) pode-se afirmar que a feijoada é o principal prato identitário nacional (...) é um prato reservado às ocasiões especiais, como convite aos amigos, implicando assim comensalidade”. Para saber mais ver CASCUDO, Câmara. História da Alimentação no Brasil (Volume I e II), São Paulo, Cia. Ed. Nacional, 1983 e FRY, Peter. “Feijoada e soul food 25 anos depois”. In: Fazendo Antropologia no Brasil. Editora DP&A, Rio de Janeiro, 2001. DBD PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0610488/CA 40 da rotina de restaurantes que costumamos freqüentar na hora do almoço”, reiterando que o melhor dia para fazê-lo era mesmo numa sexta-feira. Assim como neste depoimento, outras declarações apoiaram esta expectativa diferenciada em relação aos dias da semana. Se alguns deles estão mais próximos do final da semana, a comida e a interação entre os comensais se estabelece com maior comunhão, conforto e possibilidade de experiências inovadoras. Enquanto os dias que se aproximam do sábado e do domingo têm cardápios como a feijoada e o cozido, “que deixam o dia mais animado”, podendo “gastar mais e demorar mais para comer”, os dias que anunciam que o final de semana ainda não se aproxima têm cardápios com comidas mais “práticas” e menos robustas, consideradas mais leves, fáceis de serem consumidas em menos tempo e que são mais baratas. A refeição oscila entre um intervalo para se alimentar com comida e repor as forças para o trabalho com um momento de prazer associado ao não-trabalho, definindo as escolhas. Conforme se chega mais perto do final de semana, as escolhas tendem a ser definidas pela proximidade com os momentos de lazer e, nos dias onde não se sente próximo o sábado e o domingo, as escolhas são “menos passionais” com pratos mais distantes daqueles que simbolizam momentos de descanso de tarefas de trabalho. 3.1.2. Fim-de-semana A relação direta dos dias úteis com o mundo do trabalho é diferente do fim-de-semana. No que se refere às refeições, muitos entrevistados se diziam cansados de comer em restaurante a quilo, alguns preferiam comer em casa, outros em restaurantes de outros tipos, como à la carte, churrascarias, pizzarias e outros, considerados locais onde se pode comer devagar, sem pressa, com amigos e familiares com os quais não se pode encontrar durante os dias úteis. Os poucos entrevistados que iam a restaurantes a quilo nos fins-de-semana revelaram traços de intimidade com o local e afirmaram passar mais tempo neles; faziam uso destes restaurantes de forma com que eles se aproximassem do modelo DBD PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0610488/CA 41 de restaurante citado como os “restaurantes de final de semana”. Ou seja, utilizam o restaurante a quilo com outra dinâmica, sem priorizar a lógica da pressa e das informalidades em torno da refeição. “No fim-de-semana ficamos mais tempo dentro de um restaurante, também acabamos comendo e gastando mais! Mas não me importo, pois é o tempo que estou com minha família e amigos”.
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