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Planejamento da Capacidade Planejamento da Capacidade Organizado por Universidade Luterana do Brasil Universidade Luterana do Brasil – ULBRA Canoas, RS 2016 Igor Roberto Borges Conselho Editorial EAD Andréa de Azevedo Eick Ângela da Rocha Rolla Astomiro Romais Claudiane Ramos Furtado Dóris Gedrat Honor de Almeida Neto Maria Cleidia Klein Oliveira Maria Lizete Schneider Luiz Carlos Specht Filho Vinicius Martins Flores Obra organizada pela Universidade Luterana do Brasil. Informamos que é de inteira responsabilidade dos autores a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem prévia autorização da ULBRA. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº 9.610/98 e punido pelo Artigo 184 do Código Penal. ISBN: 978-85-5639-041-7 Dados técnicos do livro Diagramação: Jonatan Souza Revisão: Igor Campos Dutra Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Setor de Processamento Técnico da Biblioteca Martinho Lutero – ULBRA/Canoas B732p Borges, Igor Roberto. Planejamento da capacidade / Igor Roberto Borges. – Canoas : Ed. ULBRA, 2015. 257 p. : il. 1. Administração da produção. 2. Sistemas de produção. 3. Planejamento. 4. Controle. 5. Programação. 6. ERP. I. Título. CDU 658.5 Caro(a) Aluno(a), Bem-vindo à disciplina de Planejamento da Capacidade! Nesse livro, es- tudaremos os conceitos que envolvem o planejamento, programação e controle da produção, itens que influenciam diretamente na capacidade produtiva da indústria. Abordaremos os sistemas de administração da pro- dução, a relação do PCP com o planejamento nos diferentes níveis hierár- quicos da organização e as informações necessárias ao planejamento efe- tivo da produção, tais como: previsão de vendas, estoques e capacidade. Por fim, abordaremos com mais ênfase os sistemas de gestão integrada, conhecidos como “ERP’s”. Ao final da disciplina, espera-se que você ad- quira as seguintes competências e habilidades: Competências  Conhecer, identificar e comparar os sistemas produtivos.  Compreender a importância de um planejamento assertivo quanto à utilização dos recursos de produção.  Compreender a relação entre planejar, programar e controlar a produção na busca do nível ótimo na produção de bens e serviços. Habilidades  Escolher entre os diferentes sistemas produtivos o que mais se adap- te ao modelo de negócio da empresa.  Planejar, programar e controlar a utilização dos recursos produtivos da organização.  Articular e ponderar com as demais áreas e níveis da organização o alcance dos objetivos da organização. Apresentação Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce Sumário 1 Sistemas de Administração da Produção ...............................1 2 Previsão da Demanda .........................................................31 3 Planejamento Estratégico da Produção ................................55 4 Planejamento-mestre de Produção ......................................80 5 Programação e Controle da Produção ...............................102 6 Planejamento da Capacidade ...........................................125 7 Emissão, Liberação, Acompanhamento e Controle da Produção .......................................................159 8 Planejamento da Necessidade de Materiais – MRP ............182 9 Programação Puxada da Produção – Sistema Kanban ........206 10 Sistemas ERP.....................................................................230 Sistemas de Administração da Produção ÂÂNo presente capítulo, estudaremos os conceitos, im-portância e horizontes dos sistemas de administração da produção. Espera-se que, ao final deste capítulo, você compreenda os principais conceitos da produção, suas relações com as funções de planejamento e controle da produção, bem como as informações indispensáveis para o seu correto planejamento e controle. Por fim, espera-se que você consiga relacionar o tipo de processo produtivo com as formas mais indicadas para planejar e controlar um processo produtivo que, conforme será visto neste ca- pítulo, irão variar conforme as diversas características ine- rentes a cada uma das tipologias. Capítulo 1 Igor Roberto Borges Vinicius Realce Vinicius Realce 2 Planejamento da Capacidade 1.1 Conceito, importância e horizontes dos sistemas de administração da produção As empresas geralmente são estudadas como um sistema que transforma, via processamento, entradas (insumos) em saídas (produtos e/ou serviços) úteis aos clientes. Esse sistema é cha- mado de sistema produtivo1. Já os chamados Sistemas de Administração da Produção são os sistemas de informação para apoio à tomada de de- cisões, em nível tático e operacional, que buscam elucidar as seguintes questões logísticas básicas2: • O que produzir e comprar? • Quanto produzir e comprar? • Quando produzir e comprar? • Com que recursos produzir? A resposta a essas questões é fundamental para atingir os objetivos estratégicos da organização, eis que a transformação de insumos em produtos e/ou serviços precisa ser pensada em termos de prazos de atendimento ao cliente. As questões rela- tivas à produção, compras e recursos influenciam diretamente nessa situação. O prazo é fundamental, pois pode influenciar na decisão de compra dos clientes da empresa, tornando-se van- 1 Tubino, 2009. 2 Côrrea, Gianesi e Caon, 2013. Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce Capítulo 1 Sistemas de Administração da Produção 3 tagem competitiva da mesma perante seus concorrentes. Desde que não afetem demasiadamente os custos, a qualidade dos produtos e serviços e a flexibilidade produtiva da organização. De maneira geral, pode-se dividir o horizonte de planejamen- to em três níveis: curto (em dias para a semana em curso), médio (em semanas com abrangência de meses à frente) e longo prazo (meses ou trimestre com alcance de anos). Na Figura 1, podem ser observados como esses prazos se relacionam às atividades estratégicas, táticas e operacionais das empresas e quais são os objetivos pretendidos com a execução dessas atividades3. Prazos Atividades Objetivos Longo Prazo Médio Prazo Curto Prazo Plano de Produção (Estratégico) Plano-mestre (Tático) Programação (Operação) Previsão de Vendas de LP Previsão de Vendas de MP Pedidos em Carteira Vendas Previsão de Capacidade de Produção Planejamento da Capaci- dade Produção Figura 1: Prazos, atividades e objetivos para tomada de decisão nas empresas. Fonte: Tubino, 2009, p. 1. 3 Tubino, 2009. Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce 4 Planejamento da Capacidade Algumas observações sobre o horizonte de planejamento fazem-se necessárias4:  Longo prazo (nível estratégico): os sistemas produtivos precisam montar um plano de produção com base na previsão de vendas de longo prazo observando em que nível de capacidade de produção o sistema precisará operar para atender os clientes. É estratégico, tendo em vista que se a empresa não tiver recursos físicos e finan- ceiros para efetivar o plano, terá seu futuro comprome- tido. Mediante injeção de capital, tendo em vista haver tempo suficiente, a empresa pode redirecionar seus re- cursos para praticamente qualquer estratégia produtiva que quiser.  Médio prazo (nível tático): a partir do plano de produ- ção já estruturado, o plano-mestre de produção (PMP) deve buscar táticas para operar de forma mais eficiente o sistema já montado, planejando o uso da capacida- de instalada de forma a atender às previsões de vendas de médio prazo, bem como os pedidos em carteira já negociados. É tático, porque o PMP deve observar dife- rentes formas de manejo do sistemaprodutivo disponível (adiantar a produção, definir horas por turno, terceirizar parte da produção etc.).  Curto prazo (nível operacional): esse nível trata da ope- ração, por isso operacional, do sistema produtivo que irá executar a Programação da Produção para produ- 4 Tubino, 2009. Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce Capítulo 1 Sistemas de Administração da Produção 5 zir produtos e/ou serviços e entregá-los aos clientes. Cabe ressaltar que mudança de tática no curto prazo implicará desbalanceamento entre os diferentes setores produtivos, visto que não haverá tempo hábil para a sin- cronização do processo. Em geral, a formação de esto- ques é oriunda desse desencontro entre os níveis tático e operacional. A eficiência de um sistema produtivo dependerá do quanto se consiga sincronizar a passagem de estratégias para táticas e de táticas para a operação de produção e venda dos produtos solicitados. No sentido de organizar os dados e a tomada de decisões relacionadas a atividades ao longo do tempo, as em- presas montam um setor, ou departamento, ligado à Direção Industrial, conhecido como PCP (Planejamento e Controle da Produção) ou PPCP (Planejamento, Programação e Controle da Produção)5. 1.2 Informações indispensáveis ao PCP O sistema de PCP corresponde a uma função de administra- ção que se estende desde o gerenciamento e controle do supri- mento de materiais e atividades de processo de uma empresa, no intuito de que produtos específicos sejam produzidos por métodos também específicos a fim de atender os programas de vendas preestabelecido6. 5 Tubino, 2009. 6 Burbidge, 1983 apud Martins e Lugeni, 2005. Vinicius Realce Vinicius Realce 6 Planejamento da Capacidade O PCP pode ser considerado um sistema de transformação de informações, pois recebe informações sobre estoques exis- tentes, vendas previstas, linha de produtos, modo de produzir e capacidade produtiva, tendo como incumbência transformar tais informações em ordens de fabricação7. Como desempe- nha uma função de coordenação de apoio ao sistema pro- dutivo, o PCP, de forma direta ou indireta, relaciona-se com praticamente todas as funções da empresa, conforme pode ser observado na Figura 28. Previsão de Vendas Marketing Pedidos em Carteira Engenharia Estrutura do Produto Roteiro de Fabricação Compras Pedidos de Compras Fornecedores Estoques Clientes Fabricação e Montagem Planejamento Estratégico de Produção Planejamento mestre de Produção Programação de Produção • Administração dos Estoques • Sequenciamento • Emissão e Liberação Ordens de Compras Ordens de Fabricação Plano de Produção Plano-mestre de Produção Ordens de Montagem A co m pa nh am en to e C on tr ol e da P ro du çã o A m pl ia çã o de D es em pe nh o Figura 2: Fluxo de informações e o PCP. Fonte: Tubino, 2009, pg. 3. 7 Zacarelli, 1999 apud Martins e Lugeni, 2005. 8 Tubino, 2009. Vinicius Realce Capítulo 1 Sistemas de Administração da Produção 7 Conforme a Figura 2, podemos observar que as atividades de PCP são exercidas nos três níveis hierárquicos de planeja- mento e controle das atividades produtivas de um sistema de produção. No nível estratégico, o PCP participa do Planeja- mento Estratégico da Produção, gerando um Plano da Pro- dução. No nível tático, o PCP desenvolve o Plano-mestre de Produção. Já no nível operacional, o PCP prepara a Progra- mação da Produção, administrando os estoques, sequencian- do, liberando e emitindo as Ordens de Compras, Fabricação e Montagem, bem como executando o Acompanhamento e Controle da Produção, gerando um relatório de Avaliação de Desempenho9. A descrição dessas funções são desenvolvidas a seguir:  Planejamento estratégico da produção: consiste em um conjunto de objetivos e políticas de longo prazo, que dizem respeito à atividade de manufatura dentro da empresa que servem como um guia a todas às decisões nesse setor. Dentro do mesmo, devem ser observados alguns componentes, tais como: tecnologia do produto, tecnologia do processo, capacidade e localização das instalações, recursos humanos e suprimentos10. No Pla- nejamento Estratégico de Produção, é gerado o Plano de Produção, normalmente trabalhando com família de produtos, tendo por finalidade possibilitar a adequação dos recursos produtivos a demanda esperada, buscando atingir determinados critérios estratégicos de desempe- 9 Tubino, 2009. 10 Moreira, 2008. Vinicius Realce 8 Planejamento da Capacidade nho definidos, como custo, qualidade, confiabilidade, pontualidade e flexibilidade11.  Planejamento-mestre da produção: desen- volvido a partir do Plano de Produção, coordena a demanda de mercado de médio prazo com os recur- sos internos da empresa de forma a programar ta- xas adequadas de produção de produtos finais12. No Plano de Produção, são consideradas as famílias de produtos, já no Plano-mestre de Produção, são con- siderados todos os itens necessários a cada família com base nos Roteiros de Fabricação e nas Estruturas dos Produtos fornecidas pela Engenharia. O PCP deve analisar as necessidades de recursos produtivos com a finalidade de identificar possíveis gargalos que pos- sam inviabilizar a execução do plano no curto prazo. Caso necessário, o PMP deve ser refeito até chegar-se a um PMP viável.13  Programação da produção: a partir do PMP, nos registros e nas informações da Engenharia, a Progra- mação da Produção estabelece em curto prazo quando e quanto comprar, fabricar ou montar cada item neces- sário à composição dos produtos finais. Em função da disponibilidade dos recursos produtivos, a Programação da Produção se encarrega de fazer o sequenciamento 11 Tubino, 2009. 12 Côrrea, Gianesi e Caon, 2013. 13 Tubino, 2009. Vinicius Realce Vinicius Realce Capítulo 1 Sistemas de Administração da Produção 9 das ordens (tanto de compra, fabricação e montagem) de forma a otimizar a utilização dos recursos14.  Acompanhamento e controle da produção: por meio da coleta e análise dos dados, essa função do PCP busca garantir que o programa de produção seja exe- cutado a contento. Além disso, o Acompanhamento e Controle da Produção está encarregado de coletar da- dos (índice de defeitos, horas/máquina, horas/homem, consumo de materiais, índice de quebra das máquinas etc.) para apoiar outros setores do sistema produtivo15. Em termos operacionais, as funções executadas pelo PCP fazem parte de sistemas de informações integrados, adquiri- dos na forma de pacotes comerciais de software, chamados de ERP (Enterprise Resource Planning, ou planejamento dos recursos da empresa ou negócios). Tais software, permitem às organizações integrar grande parte de seus processos, tais como: PCP, suprimentos, manufatura, finanças, contabilidade, recursos humanos etc.). O ERP é uma evolução do sistema MRP (Material Requiriments Planning ou planejamento da ne- cessidade de materiais) e do posterior MRP II (Manufacturing Resource Planning ou planejamento dos recursos de manufa- tura). Ou seja, os pacotes de ERP, que integram diversas áreas da empresa, têm como base ainda o Planejamento-mestre e o cálculo de necessidade de materiais. Nesse livro, veremos em maiores detalhes esses tipos de software16. 14 Tubino, 2009. 15 Tubino, 2009. 16 Tubino, 2009. Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce 10 Planejamento da Capacidade Embora as atividades desenvolvidas pelo PCP sejam basi- camente as quatro citadas, o grau de complexidade de cada uma delas varia conforme o tipo de processo produtivo no qual o PCP está inserido. Logo, é indispensável classificarmos os diferentes sistemas produtivos e suas relações com o PCP17. 1.3 O PCP e sua relação com os diferentes sistemas produtivos Um sistema produtivo pode gerar como resultado final a ge- ração de bens ou serviços. Quando produzimos algo tangível, que pode ser tocado e visto, tais como carros,televisores, ce- lulares etc., diz-se que o sistema produtivo é uma manufatura de bens. Quando o resultado final da produção é algo in- tangível, podendo apenas ser sentido, tais como consultorias, aulas, instalação de equipamentos etc., diz-se que sistema de produção é um prestador de serviços. Ambos os sistemas são similares no que tange a transformar insumos em utilidades aos clientes. Para tanto, devem projetar seus produtos, prever suas vendas, balancear seu sistema produtivo, treinar sua mão de obra, vender seus produtos, alocar seus recursos e planejar e controlar suas operações. Todavia, há grandes diferenças no modo de como essas atividades são executadas conforme pode ser observado no Quadro 1. 17 Tubino, 2009. Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce Capítulo 1 Sistemas de Administração da Produção 11 Quadro 1 Características dos sistemas produtivos de manufatura de bens e prestador de serviços Produtos Serviços Orientação Para o produto. Para a ação. Resultado para o cliente Tangível, posse. Intangível, experiência. Estoques Pode haver produtos em estoque. Não há formação de estoques do serviço, tendo em vista que produção e consumo ocorrem simultaneamente. Contato com o cliente Produção separada do consumo, pode ser previamente executada. Produção e consumo ocorrem simultaneamente. Fonte: Adaptado de Tubino, 2009, pg. 5 Embora existam diferenças, hoje em dia, a maior parte das empresas está situada entre esses dois extremos, tendo em vis- ta a produção simultânea de bens e serviços. Por exemplo, uma empresa que fabrica ar-condicionado precisa se preocu- par com a instalação correta de seu produto. Mesmo que não a faça diretamente, terceirizando a prestação desse serviço, deve cuidar para que o mesmo seja feito a contento, sob pena do cliente não ficar satisfeito com o produto, quando o proble- ma é de instalação18. 18 Tubino, 2009. 12 Planejamento da Capacidade Feita essa diferenciação inicial, a classificação mais signifi- cativa quanto à produção está relacionada ao grau de padro- nização dos produtos e ao seu volume19. A Figura 3 apresenta um resumo das características de cada um dos sistemas pro- dutivos. Contínuos Massa Repetitivos em Lotes Sob Encomenda Alta Alta Demanda/Volume de Produção Baixa Baixa Curto Baixos Flexibilidade/Variedade de itens Lead Time Produtivo Custos Altos Longo Figura 3: Características básicas dos Sistemas Produtivos. Fonte: Tubino, 2009, p. 5. De maneira geral, os sistemas contínuos apresentam uma sequência linear para fazer o produto ou serviço20, onde os mesmos não podem ser identificados individualmente, e dis- cretos (em massa, em lotes e sob encomenda), que envolvem a produção de bens serviços que podem ser isolados, em lotes 19 Tubino, 2009. 20 Moreira, 2008. Capítulo 1 Sistemas de Administração da Produção 13 ou unidades, permitindo a particularização em relação aos de- mais itens produzidos21. Salienta-se que a classificação não depende do tipo de produto, mas da forma que o sistema é organizado para aten- der a procura. Por exemplo, uma fábrica de automóveis pode produzir em massa, como fazia Henry Ford com o Ford T, ou de forma artesanal em oficinas sob encomenda. Também é possível mesclar tais sistemas, como, por exemplo, uma fá- brica de geladeira que as monta em uma ou mais linhas de montagem (sistema em massa), e fabrica seus componentes em lotes repetitivos, em departamentos de injeção e prensa. Feita a classificação inicial, é hora de visualizar a relação entre esses diferentes sistemas de produção e o PCP. 1.3.1 PCP e sistemas contínuos Os sistemas contínuos são aqueles que apresentam uma se- quência linear para se fazer o produto ou serviço; os produtos são bastante padronizados e fluem de um posto de trabalho para o outro em uma sequência prevista22. É chamado de con- tínuo porque não se consegue facilmente identificar e separar dentro da produção uma unidade do produto das demais que estão sendo feitas23. O Quadro 2 apresenta as características peculiares a esse sistema de produção. 21 Tubino, 2009. 22 Moreira, 2008. 23 Tubino, 2009. Vinicius Realce 14 Planejamento da Capacidade Quadro 2 Características dos sistemas contínuos Características de um sistema produtivo Funcionamento no sistema contínuo Demanda Alta Automação dos processos Alta Flexibilidade de produção Baixa Mão de obra Empregada apenas para a condução e manutenção das instalações. Tipos de empresas mais comuns Energia elétrica, petróleo e derivados, aço, produtos químicos em geral. Lead time Baixo Diferenciação de produtos Pouca ou nenhuma. Variedade de matérias-primas Pequena Formação de estoques Grande, pois há demanda certa. Fonte: Adaptado de Tubino, 2009. Como nesse sistema são produzidos poucos produtos com demanda alta, a maioria das empresas utiliza-se de estoques à disposição dos clientes, eis que a venda é garantida. Sendo assim, com tempos de espera praticamente nulos, se consegue carregar rapidamente os recursos produtivos de forma a diluir os altos custos fixos aplicados, chegando-se a custos de pro- dução baixos24. A Figura 4 ilustra a estrutura de um sistema de produção contínuo. 24 Tubino, 2009. Capítulo 1 Sistemas de Administração da Produção 15 MP PA Processo Produtivo Dinâmica do PCP Es to qu es de M P Es to qu es de P A PMP define Velocidade do Fluxo Foco na Logística de Abastecimento de MP e Distribuição de PA Figura 4: PCP e Sistemas Contínuos. Fonte: Tubino, 2009, p. 6. O processo produtivo consiste em um sistema de transfor- mação no qual as várias etapas estão relativamente nivela- das, não exigindo estoques reguladores (supermercados) entre eles. O Plano de Produção para sistemas contínuos tem foco na redução de custos. Já a dinâmica de PCP em um sistema contínuo passa pela montagem em médio prazo de um Plano- -mestre de Produção, com base em previsões de demanda, obtidas do histórico de consumo de produtos acabados, que serve como base para alimentar a carga futura e regular o fluxo atual do sistema produtivo25. Tendo em vista que os lotes são muito grandes e geral- mente únicos, não há a necessidade de se desenvolver pro- gramação da produção de curto prazo com sequenciamento de ordens. Nesse caso, o Plano-mestre de Produção é basi- camente um sistema de cálculo de necessidade de materiais (MRP) em situações mais complexas de estrutura de produto, ou até mesmo por uma simples planilha de cálculo (Excell, 25 Tubino, 2009. 16 Planejamento da Capacidade por exemplo) nas situações mais simples, o que ocorre na maioria dos casos26. Como o foco são as extremidades do processo (matéria– prima e produtos acabados), a principal tarefa do PCP recai sobre a logística em como abastecer a fábrica de matéria- -prima e em como distribuir os produtos acabados. Nesse tipo de empresa, inclusive, dificilmente se encontra um depar- tamento de PCP. As atividades acabam, em geral, recaindo sobre a logística, na maioria das vezes, promovida a status de diretoria27. 1.3.2 PCP e sistemas em massa A produção em massa é caracterizada pela fabricação em larga escala, de poucos produtos com grau de diferenciação relativamente pequeno; automóveis, geladeiras, fogões e apa- relhos de ar condicionado etc.28 A diferença entre o sistema contínuo e o em massa é que o segundo não é passível de completa automatização, como nos processos contínuos, exi- gindo a participação mais intesiva de mão de obra especiali- zada na transformação do produto29. No Quadro 3, podemos visualizar mais características dessa tipologia de sistema pro- dutivo. 26 Tubino, 2009. 27 Tubino, 2009. 28 Moreira, 2008. 29 Tubino, 2009. Vinicius Realce Capítulo 1 Sistemas de Administração da Produção 17 Quadro 3 Características dos sistemas em massa Características de um sistema produtivo Funcionamentono sistema em massa Automação Alta, mas com uso mais intensivo de mão de obra que o sistema contínuo. Demanda Estável Flexibilidade de produção Baixa Diferenciação entre produtos Variação dá-se apenas na montagem final. Embora possam gerar infinidades de produtos acabados para os clientes, sob a ótima da produção, há grande padronização. Tipos de empresas mais comuns Montadoras de automóveis, eletrodomésticos, grandes confecções têxteis, abate e beneficiamento de aves, suínos e gado. Empresas prestadoras de serviço de larga escala, tais como transporte aéreo, editoração de jornais e revistas etc. Lead time Baixo Formação de Estoques Há, como forma de pronto atendimento nos pontos de vendas. Mão de obra Maior participação de mão de obra especializada. Variedade de matérias–primas Grandes Fonte: Adaptado de Tubino, 2009. 18 Planejamento da Capacidade Nesse sistema, assim como nos sistemas contínuos, tendo em vista a sincronização e a padronização das atividades nas li- nhas de montagem, pode-se afirmar que nos sistemas em mas- sa o lead time é baixo, e, por produzirem poucos produtos que possuem alta demanda, os estoques são utilizados como estra- tégia de pronto atendimento. O volume alto de produção faz os custos fixos serem diluídos, e os custos variáveis de matéria- -prima e componentes, negociados em grandes lotes, também serem menores, tendo como consequência custos finais baixos, quando comparados a sistemas sob encomenda ou em lotes. O foco do Plano de Produção de um sistema em massa também é a redução de custo, assim como os sistemas contínuos30. A Fi- gura 5 ilustra a estrutura de um sistema de produção contínuo. Supermercados MP ROP=TC ROP=TC ROP=TC ROP=TC ROP - TC ROP - TC ROP - TC ROP - TC Dinâmica do PCP PMP define a velocidade do fluxo. Foco na logística de abastecimento (MP e SM) e de entrega de PA. PA Es to qu es de P A Es to qu es de M P TC=TD/D Figura 5: PCP e Sistemas de Produção em Massa. Fonte: Tubino, 2009, p. 7. Conforme a Figura 5, nos sistemas em massa, há grande quantidade de estoques de matéria-prima na entrada do siste- 30 Tubino, 2009. Capítulo 1 Sistemas de Administração da Produção 19 ma e de componentes dentro da linha, nos chamados super- mercados de abastecimento. Na saída do sistema, existe outra grande quantidade de estoques de uma pequena variedade de produtos acabados. O processo de produção consiste em uma linha de montagem (ou várias com supermercados entre elas) em que pessoas são encarregadas de executar um conjunto de atividades, conhecidas de rotinas de operação-padrão, no produto dentro de um tempo de ciclo. Eventualmente, algum processo pode ser automatizado, como, por exemplo, a solda- gem de chassis feita por robôs. Tal automatização pode gerar redução da insalubridade ou aumento da segurança ou incre- mento da qualidade da operação31. O templo de ciclo é ponto fundamental no controle desse tipo de sistema produtivo, eis que ditará o ritmo da saída dos produtos da linha. É obtido pela divisão do tempo disponível de trabalho pela demanda a ser atendida pela linha. Tal ideia foi desenvolvida por Henry Ford, no início do século passado, onde cada operador deveria executar rotinas de operação – padrão, dentro desse tempo, sincronizando a velocidade da linha com a demanda32. Atualmente, nos sistemas de produção em massa, têm-se uti- lizado o conceito de Manufatura Enxuta, que aumentou e muito a produtividade das fábricas. Enquanto nos sistemas convencionais a mão de obra era superespecializada, executando uma ou duas tarefas, na Produção Enxuta, a mão de obra é multifuncional, desenvolvendo um conjunto maior de atividades, incluindo ativi- 31 Tubino, 2009. 32 Tubino, 2009. 20 Planejamento da Capacidade dades de controle e qualidade da produção, gerando rotinas de operação-padrão dentro de um tempo de ciclo maior, que, em conjunto com um layout mais flexível, permite um balanceamento entre rotinas de operação-padrão mais eficiente33. Há de se ressalvar que alguns autores preferem dividir o tem- po de ciclo em dois. Um seria o tempo de ciclo de mercado, chamado de takt-time, em que a demanda da fórmula seria a do cliente externo, e o outro seria o tempo dos centros de trabalho ou processos. Todavia, o foco das atividades de planejamento e controle da produção está voltado para a determinação do tem- po de ciclo, que determinará em que ritmo a produção deve ser sincronizada com fins de atender a demanda, que, por sua vez, tem sua origem na função de Planejamento-mestre da Produção. Caso haja necessidade de sequenciamento das linhas, em linhas mistas, ele se dará apenas no nível de produto acabado. Tal sin- cronização é conhecida como balanceamento da linha34. Assim como nos processos contínuos, o Planejamento- -mestre de Produção é usado para calcular as necessidades de materiais (MRP), ou em linhas de produtos muito simples, que fabricam um único produto, por planilhas eletrônicas de cál- culo. Dimensionados os pontos de abastecimento da linha e sequenciados os volumes a serem produzidos, o foco principal do PCP recai, também neste, em como administrar a logística de abastecimento das matérias-primas e dos supermercados junto aos fornecedores internos ou externos e a distribuição de 33 Tubino, 2009. 34 Tubino, 2009. Vinicius Realce Capítulo 1 Sistemas de Administração da Produção 21 produtos acabados, cuja responsabilidade é atribuída à área de logística da empresa, em geral, em nível de direção35. 1.3.3 PCP e sistemas em lotes Nesse tipo de sistema, como o próprio nome já diz, a produ- ção é feita em lotes. Ao término da fabricação do lote de um produto, outros tomam o seu lugar nas máquinas. Logo, o produto original só voltará a ser fabricado ou montado depois de transcorrido algum tempo, caracterizando, assim, uma pro- dução intermitente de cada um dos produtos36. Cabe salientar que cada lote segue uma série de operações que necessita ser programada conforme as operações anteriores forem sendo realizadas como pode ser observado na Figura 6. Estoques PC e MP Estoques de PA SM SM SM SM PA1 PA2 Dinâmica do PCP PMP define necessidades de PA MRP define necessidades de OC/OF/OM Foco no sequenciamento das ordens Figura 6: PCP e sistemas de produção repetitivos em lotes. Fonte: Tubino, 2009, p. 9. 35 Tubino, 2009. 36 Moreira, 2008. 22 Planejamento da Capacidade No Quadro 4, podemos visualizar mais características des- sa tipologia de sistema produtivo. Quadro 4 Características dos sistemas em lotes Características de um sistema produtivo Funcionamento no sistema em lotes Automação Pequena, com uso de mão de obra polivalente. Demanda Flutuante Flexibilidade de produção Alta Diferenciação entre produtos Variação dá-se por lotes de produção. A fabricação é intermitente para cada um dos produtos. Tipos de empresas mais comuns Fornecedores da cadeia automobilística e da cadeia de eletrodomésticos, empresas do ramo metal mecânico etc. Empresas prestadoras de serviço de larga escala, tais como oficinas de reparo de automóveis e eletrônicos, laboratórios de análises químicas, restaurantes etc. Lead time Maior do que o sistema em massa. Formação de Estoques Há, como forma de pronto atendimento para as etapas seguintes da produção. Mão de obra Polivalente Variedade de matérias– primas Grande, considerando que para cada lote pode-se ter variadas matérias-primas. Fonte: Adaptado de Tubino, 2009. Capítulo 1 Sistemas de Administração da Produção 23 No sistema em lote, ao montar o Plano e Produção, busca- -se privilegiar os critérios associados ao desempenho de entre- ga (confiabilidade e velocidade) e à flexibilidade. O foco do PCP nos sistemas repetitivos em lotes está na função de progra- mação da produção, que busca organizar o sequenciamento das ordens da produção em cada grupo de recursos do centro de trabalho de forma a reduzir estoques e lead time produtivos. Essa programaçãoda produção pode ser realizada de forma empurrada ou puxada37. A Figura 7 apresenta a diferenciação entre as duas formas de realizar a programação da produção. PROGRAMAÇÃO EMPURRADA PROGRAMAÇÃO PUXADA Previsão da Demanda Planejamento-mestre da Produção – PMP Planejamento das Necessidades de Materiais – MRP Emitir OC – OF – OM Sequenciar – APS Dimensionar SM Operar Sistema Kanban Figura 7: Programação puxada x empurrada. Fonte: Tubino, 2009, p. 10. 37 Tubino, 2009. 24 Planejamento da Capacidade Conforme pode ser observado na Figura 7, nos sistemas de produção empurrada, os lotes de produção são obtidos da inclusão das demandas dos diferentes produtos acabados no Planejamento-mestre de produção, que gera as necessidades de produtos acabados no tempo. Tais necessidades são repas- sados para o planejamento da necessidade de que materiais calcular, conforme a estrutura dos produtos, as quantidades de materiais que serão compradas via ordem de compra, que serão fabricadas internamente via ordem de fabricação e que serão montadas via ordem de montagem. Uma vez dimensio- nadas as necessidades de ordens de fabricação e de monta- gem, as mesmas passam por um sistema de sequenciamento para gerar prioridades, ficando disponíveis para a emissão e liberação delas aos setores produtivos, que durante o período de programação as executarão. O sequenciamento pode ser informatizado via software, conhecidos como APS (Sistema de Programação Avançada)38. Já na programação puxada, as necessidades de materiais são utilizadas como previsão de demanda para o dimensiona- mento dos estoques (supermercados) que ficam a disposição dos centros de trabalho, clientes dentro da fábrica. A partir do momento em que os clientes precisam de itens para trabalhar, eles recorrem a esses supermercados para se abastecer, ge- rando um disparo de ordem padrão como o kanban para o centro fornecedor desse supermercado, que está autorizado a produzi-lo39. 38 Tubino, 2009. 39 Tubino, 2009. Capítulo 1 Sistemas de Administração da Produção 25 Cabe ressaltar que, atualmente, a partir do Sistema Toyo- ta de Produção, as organizações têm organizado seu layout produtivo em células, ao invés do modelo departamental. Isso acarreta em grande diminuição do desperdício, proporciona- do por setups minimizados, lotes econômicos de produção e lead time acelerado. Com isso, onde o PCP precisava plane- jar, programar e sequenciar ordens individualmente para cada uma das operações realizadas em cada um dos departamen- tos, com o layout celular, a programação é feita da célula como um todo, pois a mesma age como uma pequena linha de montagem, com necessidades de controle apenas na entra- da e saída. Embora não haja interdependência entre a produ- ção focalizada com células de fabricação e o sistema puxado, é nesse ambiente, conhecido como Manufatura Enxuta, que incrementa a produtividade, pois se complementam40. 1.3.4 PCP e sistemas sob encomenda Nos Sistemas sob Encomenda, as operações são ligadas a um cliente em particular, com o qual se discute preço e prazo de entrega da mercadoria em questão41. Uma vez concluída a encomenda, o sistema se volta para um novo projeto. Como os produtos são desenvolvidos de forma estreita com o cliente, atendendo suas especificações, a organização precisa atuar de forma dedicada ao projeto, que não pode ser preparada com antecedência, principalmente com a geração de estoques intermediários para acelerar o processo produtivo. Eventual- 40 Tubino, 2009. 41 Moreira, 2008. 26 Planejamento da Capacidade mente, a compra de matérias-primas e peças componentes podem ser feitas com antecedência42. No sistema em lote, ao montar o Plano e Produção, exige- -se alta flexibilidade dos recursos produtivos com foco no aten- dimento de especificidades dos clientes, normalmente à custa de certa ociosidade enquanto a demanda por bens e serviços não ocorrer, gerando custos produtivos mais altos que os siste- mas anteriores. Alguns exemplos de produção sob encomenda encontram-se na fabricação de bens, tais como navios, aviões, usinas hidroelétricas. Na prestação de serviços, são encontra- dos alguns exemplos, tais como: prestação de serviços de ad- vocacia, arquitetura etc.43. A Figura 8 ilustra um sistema sob encomenda. Dinâmica do PCP Vendas negocia com cliente (capacidade finita), visualiza carregamento do sistema. Foco no atendimento da data de entrega. PA?Estoques PC e MP Figura 8: PCP e sistemas de produção sob encomenda. Fonte: Tubino, 2009, p. 10. 42 Tubino, 2009. 43 Tubino, 2009. Capítulo 1 Sistemas de Administração da Produção 27 Conforme pode ser visto na Figura 8, nos sistemas sob en- comenda, os recursos produtivos são organizados por centros de trabalhos com foco na função executada. A dinâmica do PCP começa com a negociação de um projeto específico com o cliente, que necessita saber em quanto tempo a empresa consegue entregar seu projeto. Por exemplo, a encomenda de uma matriz para estamparia para uma montadora de automó- veis está atrelada à data-limite que a mesma tem para lançar um novo carro no mercado. Para que o PCP possa compro- meter-se com o prazo de entrega, é necessário um sistema de informações (APS), baseado no conceito de capacidade finita, ou seja, com um calendário do carregamento de recur- sos (gráfico de Grant), que permite simular um novo pedido frente ao carregamento atual do sistema e visualizar a data de conclusão da nova encomenda. Em geral, atrasos repercutem negativamente na imagem junto aos clientes e acarreta em pesadas multas contratuais 44. Recapitulando O Planejamento e Controle da Produção (PCP) é um setor de apoio, dentro do sistema produtivo. Suas atividades são exer- cidas nos três níveis hierárquicos e são desenvolvidas de acor- do com as decisões a serem tomadas nas empresas no curto, médio e longo prazo. No nível estratégico, o PCP participa do Planejamento Estratégico da Produção (longo prazo), gerando um Plano da Produção (longo prazo). No nível tático, o PCP 44 Tubino, 2009. Vinicius Realce 28 Planejamento da Capacidade desenvolve o Plano-mestre de Produção (médio prazo). Já no nível operacional, o PCP prepara a Programação da Produção (curto prazo), administrando os estoques, sequenciando, libe- rando e emitindo as Ordens de Compras, Fabricação e Mon- tagem, bem como executando o Acompanhamento e Controle da Produção (curto prazo), gerando um relatório de Avaliação de Desempenho. Os sistemas de produção podem ser clas- sificados em sistemas de produção contínua, em massa, em lotes ou sob encomenda. A empresa opta por algum deles de acordo com o mercado e respectiva demanda no qual está inserida. De acordo com cada um dos tipos de sistema, a que o PCP atuar irá variar. Referências Bibliográficas TUBINO, Dalvio F. Planejamento e Controle da Produ- ção: Teoria e Prática. São Paulo: Atlas, 2009. MOREIRA, Daniel A. Administração da Produção e Operações. São Paulo: Cengage Laeraning, 2008. CÔRREA, Henrique L.; GIANESI, Irineu G.N.; CAON, Mauro. Planejamento, Programação e Controle da Pro- dução: MRP II / ERP – Conceitos, uso e implanta- ção base para SAP, Oracle Applications e outros Softwares Integrados de Gestão. São Paulo: Atlas, 2013. MARTINS, Petrônio G.; LUGENI, Fernando P. Administração da Produção. São Paulo: Saraiva, 2005. Capítulo 1 Sistemas de Administração da Produção 29 Atividades 1) De maneira geral, do que depende a eficiência de um sis- tema produtivo? 2) Explique a interação do PCP com os diferentes níveis hie- rárquicos da organização. 3) Qual a diferença entre tempo de ciclo e takt-time? 4) Qual a principal diferença entre os sistemas contínuos e os sistemas em massa? 5) Como funciona a dinâmica do PCP em um sistema sob encomenda? Gabarito 1) Dependerá do quanto se consiga sincronizar a passagem de estratégias para táticas e de táticas para a operação de produção e venda dos produtos solicitados. No sentido de organizaros dados e a tomada de decisões relaciona- das a atividades ao longo do tempo, as empresas montam um setor, ou departamento, ligado a Direção Industrial, conhecido como PCP (Planejamento e Controle da Produ- ção) ou PPCP (Planejamento, Programação e Controle da Produção). 2) No nível estratégico, o PCP participa do Planejamento Es- tratégico da Produção (longo prazo), gerando um Plano da Produção (longo prazo). No nível tático o PCP desenvolve 30 Planejamento da Capacidade o Plano-mestre de Produção (médio prazo). Já no nível operacional, o PCP prepara a Programação da Produção (curto prazo), administrando os estoques, sequenciando, liberando e emitindo as Ordens de Compras, Fabricação e Montagem, bem como executando o Acompanhamento e Controle da Produção (curto prazo), gerando um relatório de Avaliação de Desempenho. 3) O takt-time, é o tempo de ciclo de mercado em que a de- manda da fórmula seria a do cliente externo, e o tempo de ciclo seria o tempo dos centros de trabalho ou processos. 4) A diferença, entre o sistema contínuo e o em massa, é que o segundo não é passível de completa automatização, como nos processos contínuos, exigindo a participação mais intensiva de mão de obra especializada na transfor- mação do produto. 5) A dinâmica do PCP começa com a negociação de um projeto específico com o cliente, que necessita saber em quanto tempo a empresa consegue entregar seu projeto. Por exemplo, a encomenda de uma matriz para estamparia para uma montadora de automóveis está atrelada à data- -limite que a mesma tem para lançar um novo carro no mercado. Para que o PCP possa comprometer-se com o prazo de entrega, é necessário um sistema de informações (APS), baseado no conceito de capacidade finita, ou seja, com um calendário do carregamento de recursos (gráfico de Grant), que permite simular um novo pedido frente ao carregamento atual do sistema e visualizar a data de con- clusão da nova encomenda. Previsão da Demanda ÂÂNo capítulo anterior, vimos que o sistema produtivo é organizado para atender a demanda dos clientes. Mas quanto o cliente demandará de nossos produtos e/ ou serviços? Para responder a essa questão, as empresas buscam informações acerca do valor das vendas futuras de um item ou de um conjunto de itens, o que consiste na chamada Previsão da Demanda. Para explicar como esse processo funciona, estudaremos primeiramente seus con- ceitos básicos, atividades e informações necessárias para que o processo de previsão não acarrete em armadilhas. No segundo tópico, abordaremos as diferentes abor- dagens, quantitativas e qualitativas, e respectivos métodos para prever a demanda. Finalmente, abordaremos como elaborar uma previsão sob as diferentes metodologias para tal fim. Igor Roberto Borges Capítulo 2 Vinicius Realce Vinicius Realce 32 Planejamento da Capacidade 2.1 Conceitos básicos de previsão da demanda A previsão da demanda consiste em um processo racional de busca de informações acerca do valor das vendas futuras de um item ou de um conjunto de itens. Tanto quanto possível, a previsão deve fornecer também informações sobre a qualida- de e a localização (lugar onde serão necessários) dos produtos no futuro1. A previsão da demanda é a base para o planejamento es- tratégico da produção, vendas, recursos humanos e finanças de qualquer empresa. Partindo da previsão da demanda, as empresas podem desenvolver seus planos de capacidade, de fluxo de caixa, de vendas, de produção, de estoques, de mão de obra, de compras etc. A responsabilidade pela prepara- ção da previsão da demanda, normalmente, é do setor de Marketing. Todavia, é fundamental que o PCP esteja atento a como a mesma é realizada. Primeiramente, porque a pre- visão de demanda é a principal informação empregada pelo PCP na elaboração de suas atividades, e afeta de forma direta o desempenho esperado de suas funções de planejamento e controle do sistema de produção2. Previsões são, normalmente, o resultado de um encadea- mento de atividades que envolve3: 1 Moreira, 2008. 2 Tubino, 2009. 3 Corrêa, 2010. Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce Capítulo 2 Previsão da Demanda 33  Coleta de informações relevantes.  Tratamento dessas informações.  A busca de padrões de comportamento, muitas vezes, fazendo uso de métodos quantitativos de tratamento de séries temporais do passado.  Consideração de fatores qualitativos relevantes.  A projeção de padrões de comportamento.  A estimativa de erros de previsão. Com relação às informações a serem consideradas pelo sistema de previsão, normalmente são necessárias as seguin- tes:  Dados históricos de vendas, período a período.  Dados históricos de vendas perdidas, possivelmente por não disponibilidade do produto.  Informações relevantes que expliquem comportamen- tos atípicos das vendas passadas.  Dados de variáveis correlacionadas às vendas que aju- dem a explicar o comportamento das vendas passadas.  Situação atual de variáveis que podem afetar o com- portamento das vendas no futuro ou estejam a ele re- lacionados.  Previsão da situação futura de variáveis que podem afetar o comportamento das vendas no futuro ou este- jam a ele correlacionados. 34 Planejamento da Capacidade  Conhecimento sobre a conjuntura econômica atual e previsão da mesma no futuro.  Informações de clientes que possam indicar seu com- portamento de compras futuras.  Informações relevantes sobre a atuação de concorren- tes que influenciam o comportamento das vendas.  Informações sobre decisões da área comercial que po- dem influenciar o comportamento das vendas. Há de se observar que os dados históricos das vendas devem ser analisados com extremo cuidado, caso contrário, o processo de previsão pode acarretar em armadilhas. Um dos pontos fundamentais é que os dados das vendas sejam referentes às quantidades e momentos em que o cliente gos- taria de receber o produto e não às quantidades efetivas da entrega. Se isso não for garantido, os dados de vendas pas- sadas poderão representar aquilo que a empresa conseguiu entregar e não necessariamente o que os clientes gostariam de ter recebido. Outro aspecto é a coleta de informações de eventos relevantes que possam explicar comportamentos atípicos das vendas no passado. No caso de tais eventos não terem grande probabilidade de ocorrerem no futuro, devem ser expurgados para não comprometerem o tratamento esta- tístico e projeção de futuro4. A Figura 9, apresenta um modelo de processo de previsão de vendas. 4 Côrrea, 2010. Vinicius Realce Capítulo 2 Previsão da Demanda 35 Projeto melhoramento contínuo do processo de gerar previsões Processo Informações da conjuntura econômica Decisões da área comercial Outras informações do mercado Informações de clientes Informações de concorrentes Tratamento quantitativo dos dados de vendas e outras variáveis Tratamento qualitativo das informações Reunião de Previsão Comprometimento das áreas envolvidas Tratamento das informações disponíveis Avaliação crítica do processo de gerar previsões Previsão de vendas Informações que expliquem comportamento atípico Dados históricos de vendas Dados de variáveis que expliquem as vendas Figura 9: Modelo do processo de previsão de vendas. Fonte: Côrrea, 2010, p. 244. Conforme a Figura 9, temos primeiramente a busca das informações relevantes ao processo de vendas, depois o trata- mento dos dados qualitativos e quantitativos, após a reunião 36 Planejamento da Capacidade de previsão com alto comprometimento das áreas envolvidas e finalmente a previsão de vendas. Todavia, é recomendável que o processo não pare por aí, por isso a avaliação crítica do último processo de revisão deve ser realizado em um processo de melhoria contínua para as próximas previsões. 2.2 Métodos de previsão Para realizar previsões, existem diversos métodos disponíveis, que em um primeiro momento podem ser empregadosem quaisquer circunstâncias dependendo dos seguintes fatores5:  Disponibilidade de dados, tempo e recursos: há métodos mais sofisticados, normalmente envolvendo modelos matemáticos, que exigem além dos dados dis- poníveis profissionais capacitados para trabalhar com esses modelos, bem como o emprego de computadores, dependendo do número e variedade de produtos, é ne- cessário; e  Horizonte de previsão: conforme o horizonte de previsão (curto, médio e longo prazo), há métodos que se mostram melhores para um ou outro horizonte. Embora diferentes, os métodos de previsão apresentam al- gumas características em comum, entre elas, temos: os mé- todos de previsão assumem que as mesmas causas que es- tiveram presentes no passado sobre a demanda, também se 5 Almeida, 2008. Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce Capítulo 2 Previsão da Demanda 37 farão presentes no futuro, logo, o comportamento passado é a base para projetar o futuro; e os métodos não conduzem a resultados perfeitos, e a probabilidade de erro é tanto maior quanto o horizonte da previsão, isso acontece devido a fatores aleatórios que nenhuma previsão consegue captar que possa incorrer em maior influência, como exemplo, a temperatura muito acima da média no verão, acarretando em um consumo também muito acima da média de bebidas6. 2.2.1 Classificação dos métodos de previsão Para tratar as informações disponíveis, podem ser usadas duas abordagens complementares: as abordagens quantitativas (ba- seadas em padrões de séries históricas extrapoladas para o futuro seguindo algum método) e as abordagens qualitativas (baseadas em fatores subjetivos ou de julgamento). Em geral, os modelos quantitativos necessitam de longos históricos para que possam identificar padrões para o futuro. Por isso, são mais úteis para prever a demanda de itens maduros, com mais tempo de mercado. Enquanto que os modelos qualitativos prestam-se melhor para previsão de produtos novos ou lançamentos, dos quais não se tem histórico longo. Outro fator a considerar, na utilização de uma ou outra abordagem, é o horizonte de previ- são, conforme já mencionado, no qual quanto maior o horizon- te, menos válida é a hipótese de que o comportamento passado se repetirá no futuro. Logo, os modelos quantitativos tendem a ser mais adequados para previsões de curto prazo7. 6 Almeida, 2008. 7 Côrrea, 2010. Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce 38 Planejamento da Capacidade A Figura 10 apresenta as duas abordagens e métodos cor- respondentes às mesmas. Técnicas de previsão Quantitativas Quantitativas Intrínsecas Médias móveis Suavizamento exponencial Projeção de tendências Decomposição Extrínsecas Regressão múltipla Regressão simples Métodos Delphi Júri de executivos Força de vendas Pesquisa de mercado Analogia histórica Figura 10: Abordagens para métodos de tratamento de informações em previsões. Fonte: Côrrea, 2010, p. 247. Na decisão de qual método utilizar, não há receita objetiva, visto que até mesmo conceitos podem variar, como o hori- zonte de planejamento, no qual, para empresas que fabricam processadores para computadores, um ano pode ser conside- rado longo prazo, visto que logo um processador pode ficar Vinicius Realce Vinicius Comentário do texto QUALITATIVA !!! Capítulo 2 Previsão da Demanda 39 obsoleto, enquanto que, na siderurgia, o mesmo longo prazo significa de 10 à 15 anos, tendo em vista que a tecnologia empregada no setor evolui mais lentamente e os produtos têm flutuação mais suave8. Cabe ressaltar que se pode utilizar mais de um método, mas, em linhas gerais, poderíamos afirmar que os métodos mais usuais de acordo com os horizontes de previ- são encontram-se na Figura 11. Horizonte de previsão Curto prazo Médio prazo Longo prazo Predominância de métodos Quantitativos Intrínsecos Quantitativos Extrínsecos Qualitativos tempo Figura 11: Métodos de previsão predominantemente usados em cada horizonte de previsão. Fonte: Côrrea, 2010, p. 248. 2.2.1.1 Métodos qualitativos Os métodos qualitativos são baseados no julgamento e na experiência de pessoas que possam, por suas características e conhecimentos próprios, emitir opiniões sobre eventos futuros. 8 Côrrea, 2010. Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce 40 Planejamento da Capacidade Nesse sentido, o uso do julgamento pessoal não se restringe a previsões de demanda, podendo analisar movimentos dos negócios internacionais, futuras condições sociais, políticas e econômicas etc.9 2.2.1.1.1 Método Delphi Consiste na reunião de um grupo de pessoas que deve opinar sobre um certo assunto, dentro de regras determinadas para a coleta e depuração da opiniões10. Propõe-se ao grupo uma determinada pergunta bem específica sobre alguma variável que se deseja prever. Coletam-se as várias opiniões de forma sigilosa e individual e, após, se retorna com o tratamento es- tatístico das opiniões aos participantes. Estes são solicitados a refazerem suas estimativas e o processo se repete até que se atinja o consenso11. 2.2.1.1.2 Júri de executivos Esse método procura captar a opinião de pequenos grupos, geralmente, de executivos do nível estratégico sobre alguma variável que se pretenda prever12. Normalmente, o interesse do grupo está normalmente em previsões de longo prazo, envolvendo um ou outro aspecto do Planejamento Estratégi- co da organização, inclusive desenvolvimento de novos pro- dutos, processos e planejamento estratégico de produção. A vantagem é a reunião de talentos com diferentes visões do 9 Almeida, 2008. 10 Almeida, 2008. 11 Côrrea, 2010. 12 Côrrea, 2010. Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce Capítulo 2 Previsão da Demanda 41 assunto, elevando qualidade e precisão. Por outro lado, a desvantagem é que pessoas com personalidades mais forte exerçam influência exagerada sobre o grupo, impondo a opi- nião própria13. 2.2.1.1.3 Estimativa da força de vendas A partir do fato de que a força de vendas está envolvida diretamente com os produtos da empresa e consumidores, é natural que conheçam o histórico e percebam as evolu- ções do mercado14. Nesse sentido, cada vendedor emite sua estimativa individual que somadas às dos demais forma a estimativa global15. Como problemas citam-se: conflito de interesses porque as previsões estipulam cotas mínimas de vendas, o que pode produzir baixas estimativas; se as ven- das têm sido boas, tendem a superestimar e se ruins a su- bestimar; e o pessoal de vendas pode não distinguir muito bem entre o que os clientes querem fazer e o que realmente farão16. 2.2.1.1.4 Pesquisa de mercado Esse método solicita diretamente dos clientes ou consumi- dores sua intenção de compra futura17. A lógica por trás disso é que, no fundo, são eles que determinam a deman- da. Quando o público-alvo é pequeno, nos negócios entre 13 Almeida, 2008 14 Almeida, 2008. 15 Côrrea, 2010. 16 Almeida, 2008. 17 Côrrea, 2010. Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce 42 Planejamento da Capacidade empresas, por exemplo, é possível realizar com a população como um todo. Mas quando é grande demais, normalmente se recorre a pesquisa de mercado, a partir de amostragem. Se bem conduzido, o método pode e geralmente dar bons resultados18. 2.2.1.1.5 Analogia histórica Esse método procura identificar produtos similares dos quais se possuam dados históricos para, por analogia, melhor esti- mar, por exemplo, um produto novo19. 2.2.1.2 Métodos quantitativos Os métodos quantitativos são baseados em séries de dados históricos nas quais se procura, por meio de análises, identi- ficar padrões de comportamento para que esses padrões se- jam projetados para o futuro. Em geral, são mais adequados para previsões de curto e médio prazo, tendo em vista que o poder de explicaçãodos dados do passado é máximo para horizontes mais curtos. Normalmente, o tratamento de uma série temporal pressupõe análise, ou seja, a decomposição da série em seus elementos20. 18 Almeida, 2008. 19 Côrrea, 2010 20 Côrrea, 2010. Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce Capítulo 2 Previsão da Demanda 43 2.2.1.2.1 Decomposição de séries temporais Uma série temporal é uma sequência de observações da demanda (também aplicável a outras variáveis) ao longo do tempo. Em geral, as observações são espaçadas igualmente (dias, semanas, meses e anos etc.) Não se irá associar a demanda a qualquer outra variável da qual supostamente pode depender; a hipótese básica é que os valores futuros podem ser estimados a partir dos valores passados21. Uma série temporal de dados, em geral, tem três princi- pais componentes22:  Tendência: é a orientação geral, de estabilidade, para cima ou para baixo, dos dados históricos;  Ciclicidade: são padrões de variação dos dados de uma série que se repetem a cada determinado intervalo de tempo;  Aleatoriedade: são “erros” ou variações da série his- tórica de dados que não são devidos a variáveis pre- sentes no modelo de previsão. Nesse caso, quanto melhores os modelos de previsão, menores os erros na mesma. De forma a exemplificar, vejamos a Figura 12, que mostra uma série temporal de vendas. 21 Almeida, 2008. 22 Côrrea, 2010. Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce 44 Planejamento da Capacidade Figura 12: Série histórica de dados para a venda de um livro. Fonte: Côrrea, 2010, p. 249. Na Figura 12, nota-se a presença dos três componentes: uma tendência geral de crescimento, uma sazonalidade (ci- clicidade anual) e uma componente aleatória de erro. A ale- atoriedade explica as diferenças entre a curva de ciclicidade média identificada, que se sobrepõe à curva de tendência crescente, e as vendas reais23. 2.2.1.2.2 Modelos quantitativos para demanda relativamente estável Os modelos quantitativos mais simples para previsão são aqueles que assumem que a demanda encontra-se relativa- mente estável, flutuando aleatoriamente em torno de um pata- mar que se deseja estimar24. 23 Côrrea, 2010. 24 Côrrea, 2010. Vinicius Realce Vinicius Realce Capítulo 2 Previsão da Demanda 45 2.2.1.2.2.1 Método de médias móveis No método da média móvel, a previsão no período futuro é calculada como a média de n períodos anteriores. Devendo- -se escolher sobre quantos períodos a média será calculada25. Há de se ressalvar que modelos de médias móveis são ade- quados apenas para demandas sem tendências de crescimen- to ou decrescimento. A fórmula do cálculo é26: Média móvel = ∑ demanda nos n períodos prévios n A Figura 13 ilustra o emprego da fórmula de médias mó- veis dos três últimos meses, trazendo então a previsão de de- manda via média aritmética simples. Vendas reais de copos Média móvel de 3 períodos MM3 Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro 154 114 165 152 176 134 123 154 134 156 123 145 (154 + 114 + 165)/3 = 144,3 (114 + 165 + 152)/3 = 143,7 (165 + 152 + 176)/3 = 164,3 (152 + 176 + 134)/3 = 154,0 (176 + 134 + 123)/3 = 144,3 (134 + 123 + 154)/3 = 137,0 (123 + 154 + 134)/3 = 137,0 (154 + 134 + 156)/3 = 148,0 (134 + 156 + 123)/3 = 137,7 Figura 13: Exemplo de cálculo da média móvel de uma série histórica. Fonte: Côrrea, 2010, p. 250. 25 Martins e Laugeni, 2005. 26 Côrrea, 2010. Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce 46 Planejamento da Capacidade Cabe ressaltar que também é possível utilizar uma média ponderada, em que se pode atribuir maiores pesos para períodos mais recentes, 3 para o mês passado, 2 para dois meses atrás e 1 para três meses atrás. Dessa forma, aumenta-se a influência dos meses mais recentes na geração das previsões27. A Figura 14 ilustra um exemplo de cálculo com a média ponderada. Vendas reais de copos Média móvel de 3 períodos ponderada com pesos 3, 2 e 1 Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro 154 114 165 152 176 134 123 154 134 156 123 145 [(1*154) + (2*114) + (3*165)]/6 = 146,2 [(1*114) + (2*165) + (3*152)]/6 = 150,0 [(1*165) + (2*152) + (3*176)]/6 = 166,2 [(1*152) + (2*176) + (3*134)]/6 = 151,0 [(1*176) + (2*134) + (3*123)]/6 = 135,5 [(1*134) + (2*123) + (3*154)]/6 = 140,3 [(1*123) + (2*154) + (3*134)]/6 = 138,8 [(1*154) + (2*134) + (3*156)]/6 = 148,3 [(1*134) + (2*156) + (3*123)]/6 = 135,8 Figura 14: Exemplo de cálculo de média móvel ponderada de uma série histórica. Fonte: Côrrea, 2010, p. 250. 2.2.1.2.2.2 Suavizamento exponencial Um caso particular das médias ponderadas de dados pas- sados, com peso de ponderação caindo exponencialmente, quanto mais antigos forem os dados, é o resultante da téc- nica de suavizamento exponencial (também conhecido como método de Winter). Sua fórmula é28: 27 Côrrea, 2010. 28 Côrrea, 2010. Vinicius Realce Vinicius Realce Capítulo 2 Previsão da Demanda 47 Nova previsão = [(demanda real do último período x (a)] + [(última previsão) x (1-a)] Onde:  (a) é a chamada constante de suavização, que consiste em um número entre 0 e 1 que dá a influência percentual da demanda real do último período na previsão do próximo período;  (1-a) é a taxa exponencial a partir da qual caem os pesos de ponderação dos dados históricos, de a (referente ao mês passado mais recente “t”) para a (1-a) para o mês anterior “t-1” para a (1-a)2 para o mês “t-2” e assim por diante. A Figura 15 ilustra um exemplo de cálculo. Em situações prá- ticas, os valores das constantes giram em torno de 0,05 e 0,35. Figura 15: Exemplo de cálculo de previsões usando suavizamento exponencial para uma série histórica, com a = 0,1 e com a = 0,8. Fonte: Côrrea, 2010, p. 251. 48 Planejamento da Capacidade 2.2.1.2.2.3 Erros ou incerteza de previsão É sempre importante acompanhar dois tipos de erros de previ- são: a “amplitude”, ou o “tamanho dos erros”, e o chamado “viés” dos erros29. Existe um erro de viés na previsão quando esta se mantém constante acima (superestimativa) ou abaixo (subes- timativa) do valor real da demanda30. Isso ocorre em geral pela influência de alguma variável deixada de fora do modelo e que está influenciando significativamente os erros de previsão. Nesses casos deve-se investigar as causas e eliminá-las, por exemplo, incorporando a variável causadora no modelo de previsão. Acompanhamento dos erros do tipo “viés” Para acompanhar as ocorrências de possíveis ocorrências de viés de previsão, utiliza-se o chamado sinal de rastreabilidade ou tracking sinal. Baseada no exemplo anterior (Figura 15), a Figura 16 ilustra um exemplo de cálculo. Vendas reais de copos (V) Previsão MM 3 (P) Erro acumulado (V – P) Erro aritmético acumulado EArA Erro absoluto |V – P| Erro absoluto acumulado EAA Erro médio absoluto (EAA/n) EMA Tracking signal EArA/EMA TS Janeiro 154 Fevereiro 114 Março 165 Abril 152 144,3 –7,7 –7,7 7,7 7,7 7,7 –1,0 Maio 176 143,7 –32,3 –40,0 32,3 40,0 20,0 –2,0 Junho 134 164,3 30,3 –9,7 30,3 70,3 23,4 –0,4 Julho 123 154,0 31,0 21,3 31,0 101,3 25,3 0,8 Agosto 154 144,3 –9,7 11,7 9,7 111,0 22,2 0,5 Setembro 134 137,0 3,0 14,7 3,0 114,0 19,0 0,8 Outubro 156 137,0 –19,0 –4,3 19,0 133,0 19,0 –0,2 Novembro 123 148,0 25,0 20,7 25,0 158,0 19,8 1,0 Dezembro 145 137,7 –7,3 13,3 7,3 165,3 18,4 0,7 Figura 16: Cálculo do sinal de rastreabilidade (tracking sinal) para acompanhamento de viés de previsão. Fonte: Côrrea, 2010, p. 252. 29 Côrrea, 2010. 30 Almeida, 2005. Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce Capítulo 2 Previsão da Demanda 49 A Figura 16, permite acompanhar o cálculo do sinal de rastreabilidade passo a passo. Período a período calcula-seo erro aritmético (subtração da ocorrência real do mês pela pre- visão que havia sido feita para o mesmo). A seguir, calcula-se o erro aritmético acumulado (EArA). Repare que, em abril, na coluna do EarA, consta o valor -7,7. Já em maio esse valor é de -40,0, que é o resultado acumulado (soma) dos meses de abril (-7,7) e maio (-32,3). Após, calcula-se o erro absoluto, que é o valor em módulo, do erro aritmético. A coluna a seguir é o erro absoluto acumulado (EAA), que é o acumulado dos erros absolutos até o momento. A partir do EAA, é possível, mês a mês, ir-se calculando o erro médio absoluto (EMA) até o momento. O que se faz nesse cálculo é dividir o EAA pelo nú- mero de meses ao qual se refere. Veja que, no mês de junho, o valor de EAA é 70,3/3=23,431. O sinal de rastreabilidade é calculado dividindo-se o EArA pelo EMA. Essa variável é acompanhada e deve encontrar- -se sempre entre os valores de -4 e +4. Se o valor em al- gum momento for inferior que –4 ou maior que +4, deve- -se investigar com maior profundidade a questão, eis que é grande a probabilidade do modelo estar gerando previsões enviezadas. No exemplo em questão, não há indícios de viés. Porém, se um viés for identificado e a causa for eliminada, o cálculo de TS deve ser reiniciado, abandonando-se os dados anteriores32. 31 Côrrea, 2010. 32 Côrrea, 2010. 50 Planejamento da Capacidade 2.2.1.2.2.4 Acompanhamento da “amplitude dos erros” São diversas as formas de acompanhar a amplitude dos erros de previsão. As mais comumente utilizadas são o erro médio absoluto e o erro médio quadrático. A Figura 17, baseada na Figura 15, ilustra os cálculos do erro médio absoluto e quadrático. Em suma, os desvios absolutos são as diferenças entre previsão e vendas reais, mas em módulo (desconside- rando o sinal). Os desvios quadráticos são esses valores de desvio elevados ao quadrado. A linha de desvios médios traz os valores dos desvios absolutos e quadráticos. Foram calcu- lados na Figura 15 os desvios para as previsões feitas pelo método de suavizamento exponencial com valores de a de 0,1 e 0,8. Figura 17: Ilustração de cálculo de erro médio absoluto e erro médio quadrático. Fonte: Côrrea, 2010, p. 253. Vinicius Realce Vinicius Realce Capítulo 2 Previsão da Demanda 51 2.2.1.2.2.5 Considerações sobre os métodos de previsão Não se pretende esgotar os métodos de previsão nessa obra, por isso, a quem interessar possa, recomenda-se a obra de Henrique Luiz Côrrea, indicada na bibliografia deste capítulo, para a calibração de modelos de previsão, para o uso de mé- todos quantitativos com a presença de tendência e ciclicida- de, e para a gestão de receitas, muito utilizada pela indústria hoteleira e de linhas aéreas que influencia, além das receitas, a demanda também. Finalmente, dentro dos métodos quan- titativos, encontra-se uma subdivisão chamada de métodos causais, que busca previsionar a demanda a partir de regres- sões, tema da disciplina de Estatística, e que também pode ser vislumbrada a obra de Daniel Moreira, também indicada na bibliografia do presente capítulo. Recapitulando A previsão da demanda consiste em um processo racional de busca de informações acerca do valor das vendas futuras de um item ou de um conjunto de itens, sendo a base para o pla- nejamento estratégico da produção, vendas, recursos huma- nos e finanças de qualquer empresa. Partindo da previsão da demanda, as empresas podem desenvolver seus planos de ca- pacidade, de fluxo de caixa, de vendas, de produção, de esto- ques, de mão de obra, de compras etc. Para realizar previsões, existem diversos métodos disponíveis que, em um primeiro mo- Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce 52 Planejamento da Capacidade mento, podem ser empregados em quaisquer circunstâncias dependendo de dois fatores fundamentais: disponibilidade de dados, tempo e recursos e horizonte de previsão. Para tratar as informações disponíveis, podem ser usadas duas abordagens complementares: as abordagens quantitativas (baseadas em padrões de séries históricas extrapoladas para o futuro seguin- do algum método) e as abordagens qualitativas (baseadas em fatores subjetivos ou de julgamento). Em geral, os modelos quantitativos necessitam de longos históricos para que pos- sam identificar padrões para o futuro. Por isso, são mais úteis para prever a demanda de itens maduros, com mais tempo de mercado. Enquanto que os modelos qualitativos prestam-se melhor para previsão de produtos novos ou lançamentos, dos quais não se tem histórico longo. Todavia, nada impede e é até aconselhável utilizá-los de forma complementar. Referências Bibliográficas CÔRREA, Henrique L. Gestão de Redes de Suprimen- to: Integrando cadeias de suprimento no mundo globalizado. São Paulo: Atlas, 2010. MARTINS, Petrônio G.; LUGENI, Fernando P. Administração da Produção. São Paulo: Saraiva, 2005. MOREIRA, Daniel A. Administração da Produção e Operações. São Paulo: Cengage Laeraning, 2008. TUBINO, Dalvio F. Planejamento e Controle da Produ- ção: Teoria e Prática. São Paulo: Atlas, 2009. Thompson, 1995. Vinicius Realce Vinicius Realce Ver página 38. Vinicius Realce Ver página 38. Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce Capítulo 2 Previsão da Demanda 53 Atividades 1) Em que consiste a chamada previsão da demanda? 2) Quais são abordagens disponíveis para tratar as informa- ções disponíveis de forma a prever a demanda? 3) Embora complementares, quando é melhor utilizar uma ou outra abordagem? 4) Embora os métodos de previsão sejam diferentes, o que tem em comum? 5) Quais são os principais componentes presentes em uma série temporal? Explique-os. Gabarito 1) A previsão da demanda consiste em um processo racional de busca de informações acerca do valor das vendas futu- ras de um item ou de um conjunto de itens, sendo a base para o planejamento estratégico da produção, vendas, re- cursos humanos e finanças de qualquer empresa. 2) Para tratar as informações disponíveis, podem ser usadas duas abordagens complementares: as abordagens quan- titativas (baseadas em padrões de séries históricas extra- poladas para o futuro seguindo algum método) e as abor- dagens qualitativas (baseadas em fatores subjetivos ou de julgamento). 54 Planejamento da Capacidade 3) Em geral, os modelos quantitativos necessitam de longos históricos para que possam identificar padrões para o futu- ro. Por isso, são mais úteis para prever a demanda de itens maduros, com mais tempo de mercado. Enquanto que os modelos qualitativos prestam-se melhor para previsão de produtos novos ou lançamentos, dos quais não se tem his- tórico longo. Todavia, nada impede e é até aconselhável utilizá-los de forma complementar. 4) Os métodos de previsão apresentam algumas característi- cas em comum, entre elas, temos: os métodos de previsão assumem que as mesmas causas que estiveram presentes no passado sobre a demanda, também se farão presentes no futuro, logo, o comportamento passado é a base para projetar o futuro; e os métodos não conduzem a resultados perfeitos, e a probabilidade de erro é tanto maior quanto o horizonte da previsão. 5) Uma série temporal de dados em geral tem três principais componentes: tendência, que é a orientação geral, de es- tabilidade, para cima ou para baixo, dos dados históricos; ciclicidade, que são padrões de variação dos dados de uma série que se repetem a cada determinado intervalo de tempo; e aleatoriedade que são “erros” ou variações da série histórica de dados que não são devidos a variá- veis presentes no modelo de previsão. Nesse caso, quanto melhores os modelos de previsão, menores os erros na mesma. Igor Roberto Borges Capítulo 3 Planejamento Estratégico da Produção ÂÂNo Capítulo 1, vimos que o PCP está diretamente li-gado aos níveis estratégico, tático e operacional. No nível estratégico, o PCP participa do Planejamento Estra- tégico da Produção e a formalização desse planejamento a partirda elaboração do Plano da Produção. Tal plano é a base para os ajustes de longo prazo do sistema de pro- dução no intuito de atender à demanda futura. No primeiro tópico, abordaremos de forma generalista o Planejamento Estratégico, a partir da elaboração da missão, visão, estratégia corporativa e competitiva, essenciais para a escolha da estratégia de produção. Ambos os planos serão abordados no presente capítulo. No segundo tópico, abor- daremos a montagem do plano de produção relacionando com os critérios competitivos adotados pela organização. 56 Planejamento da Capacidade 3.1 Planejamento estratégico O Planejamento Estratégico é o processo administrativo que proporciona sustentação metodológica para se estabelecer a melhor direção a ser seguida pela empresa, visando otimizar o grau de interação com o ambiente e atuando de forma inova- dora e diferenciada1. O mesmo busca maximizar os resultados das operações e minimizar os riscos na tomada de decisão das organizações2. Nesse contexto, a produção, assim como as demais áreas, exerce papel fundamental para garantir meno- res custos de produção que incidem diretamente no resultado da operação, por exemplo. No âmbito estratégico, há três níveis de estratégias, que são ligadas e interdependentes3:  Estratégia corporativa: definida pelo nível corpora- tivo, que decide quais negócios a empresa deve partici- par e como o grupo de atividades pode ser estruturado e administrado, onde, por exemplo, a empresa poderá focar em um único produto ou serviço ou trabalhar com um mix dos mesmos, até mesmo pode diversificar com negócios não relacionados.  Estratégia competitiva: estabelecida no nível de unidade de negócios buscando criar e manter vantagem competitiva em cada uma das áreas organizacionais, 1 Oliveira, 2001. 2 Tubino, 2009. 3 Thompson, 1995. Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce Capítulo 3 Planejamento Estratégico da Produção 57 sendo obtida a partir de uma única função ou da com- binação de diversas.  Estratégia funcional: estabelecida no nível funcio- nal, onde cada uma das áreas estabelece as políticas de operação no intuito de consolidar as estratégias corpo- rativa e competitiva. Como pode ser observado, o Planejamento Estratégico deve ser desdobrado por todas as áreas da empresa, em que no nível funcional são elaborados os planos que visam atender a missão e visão e as estratégias estipuladas pela alta adminis- tração. Na área de produção não é diferente. Nesse sentido, o Planejamento e Controle da Produção, como setor de apoio, atua dentro dos três níveis de decisão. No nível estratégico, colabora com a formulação de um Plano de Produção consolidado com os Planos de Marketing, Recur- sos Humanos e Financeiro. No nível tático, desmembra o Pla- no de Produção em um Plano-mestre de Produção e no nível operacional programa e acompanha a implementação desse plano-mestre4. No presente capítulo, o foco é o Plano de Produção e as questões relacionadas a sua integração ao nível estratégico. Para tanto, inicialmente, abordaremos de forma breve a for- mulação da visão e missão corporativa e as estratégias corpo- rativa, competitiva e funcional. 4 Tubino, 2009. Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce 58 Planejamento da Capacidade 3.1.1 Missão e visão corporativa A missão e a visão da empresa são as bases norteadoras da empresa. Enquanto a missão é a razão de existir, de ser da empresa, a visão representa o que a mesma quer ser no futuro. A definição da missão da empresa é o ponto inicial para o estabelecimento das macroestratégias e macropolíticas, forne- cendo a direção e os limites em que a organização irá atuar. O estabelecimento da missão deve seguir alguns critérios bá- sicos5:  Suficientemente empreendedora para ter impacto no comportamento da empresa.  Mais focada na satisfação do cliente do que nas carac- terísticas do produto fabricado.  Capaz de refletir as habilidades essenciais da empresa.  Entendível, realista, flexível e motivadora. Além disso, na hora de escrever, é importante ter em mente a finalidade, campo de atuação e abrangência da organiza- ção. Um bom exemplo de missão que atende a tais critérios é o da ONG Parceiros Voluntários do Rio Grande do Sul, cuja missão que pode ser encontrada em seu site, a qual é: “Promo- ver, ampliar e qualificar o atendimento das demandas sociais pelo trabalho voluntário visando a melhoria da qualidade de vida no Rio Grande do Sul.” O Quadro 5, desmembra a mes- ma a partir dos critérios supracitados. 5 Oliveira, 2001. Vinicius Realce Vinicius Realce Capítulo 3 Planejamento Estratégico da Produção 59 Quadro 5 Critérios para elaboração da missão Critérios Desmembramento da missão pelos critérios Finalidade Promover, ampliar e qualificar o atendimento das demandas sociais. Campo de atuação Trabalho voluntário Abrangência Rio Grande do Sul Fonte: do autor, 2014. Como dito anteriormente, a visão da empresa estabelece para onde a mesma quer ir no futuro. Nesse sentido, a sua es- crita procura traduzir as expectativas dos acionistas, conselhei- ros e elementos da alta administração da empresa, geralmente começando com a palavra ser, como, por exemplo, a visão da Gerdau, que pode ser encontrada em seu site, a qual é: “Ser uma empresa siderúrgica global, entre as mais rentáveis do setor”. Cabe ressaltar que a visão deve ser plausível, ou seja, algo que se possa alcançar, caso contrário, torna-se desmo- tivadora. Também é recomendável estabelecer-se prazo para o público interno a fim de motivá-lo, mas não para o externo, para não alertar a concorrência a respeito do tempo em que se visa atingir a visão. Feito um breve esboço da elaboração da missão e visão, cabe salientar que seus estabelecimentos tornam-se os objeti- vos a ser alcançados por toda a empresa e, portanto, devem ser operacionalizados por meio das estratégias corporativa, competitiva e funcional. 60 Planejamento da Capacidade 3.1.2 Estratégia corporativa A partir da estratégia corporativa é que são definidas as áreas de negócio em que a empresa irá atuar e como ela deverá ad- quirir e priorizar os recursos corporativos no sentido de atender a cada unidade de negócios. Nesse sentido, é a estratégia cor- porativa que proporciona que os diversos negócios da empresa tenham sentido comum, evitando sobreposições e estimulando colaborações entre as unidades de maneira que atinjam resul- tados superiores de forma global e não apenas local6. Entre as decisões no nível de estratégia corporativa, pode- mos citar a decisão ou não pela diversificação de negócios, onde caberá aos responsáveis por sua elaboração encontrar evidências, tais como: retorno do investimento, custos, compe- titividade etc., que estimulem ou não a diversificação. Nesse contexto, é muito importante a experiência que a organização tem em cada unidade, e como tal experiência pode ser absor- vida pela nova diversificação a qual a empresa pretende. Ten- do em vista que a competitividade ocorre no nível das unida- des de negócios, é nesse nível que as estratégias corporativas serão desdobradas conforme veremos a seguir7. 3.1.3 Estratégia competitiva A definição da estratégia competitiva dá-se no nível das unida- des de negócios, as quais podem ser conceituadas como or- ganizações semiautônomas que atuam dentro de determinada área do negócio. Conforme a estrutura da corporação podem 6 Tubino, 2009. 7 Tubino, 2009. Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce Vinicius Realce Capítulo 3 Planejamento Estratégico da Produção 61 ser divisões do grupo, empresas em particular, unidades fabris ou até mesmo minifábricas dentro de uma mesma fábrica, in- seridas na ideia de produção focalizada8. A estratégia competitiva busca propor as bases sobre as quais os diferentes negócios da empresa irão competir no mer- cado, suas metas de desempenho
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