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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

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Sumário 
 
Introdução ................................................................................. Erro! Indicador não definido. 
Aula 1 – Introdução ao Direito Penal. ................................................................................... 4 
1. Introdução ........................................................................................................................... 4 
2. Conceitos e fundamentos. .................................................................................................. 5 
3. Finalidade do Direito Penal ................................................................................................. 5 
4. Códigos do Brasil. (Cronologia do Direito Penal brasileiro) ................................................... 8 
5. Direito Penal objetivo e Direito Penal subjetivo ................................................................... 9 
Aula 2 – Fontes do direito penal, norma penal e interpretação da lei penal. ........................ 10 
1. Introdução ......................................................................................................................... 10 
2. Infração Penal. .................................................................................................................. 15 
3. Conceito de crime ............................................................................................................. 16 
3.1. Sujeitos do crime .......................................................................................................... 16 
3.2. Objeto do crime............................................................................................................ 16 
3.3. Punibilidade .................................................................................................................. 17 
3.4. Classificação doutrinária de crimes .............................................................................. 17 
4. Fato típico ......................................................................................................................... 19 
4.1. Tipo penal ................................................................................................................ 19 
4.2. Conduta ................................................................................................................... 19 
4.3. Crimes comissivos por omissão (omissivos impróprios) ......................................... 20 
4.4. Superveniência causal ............................................................................................. 20 
4.5. Resultado ................................................................................................................. 21 
5. Iter criminis (Crime consumado e crime tentado) ............................................................ 22 
5.1. Trajetória do crime o fato delituoso apresenta uma trajetória denominada iter 
criminis (termo latino cujo significado é “caminho do crime”), que se compõe de quatro 
etapas: 23 
5.2. Elementos da tentativa ........................................................................................... 24 
5.3. Espécies de tentativa ............................................................................................... 25 
5.4. Desistência voluntária, arrependimento eficaz ...................................................... 25 
5.5. Arrependimento posterior ...................................................................................... 25 
5.6. Crime impossível ..................................................................................................... 26 
Aula 3 – (Continuação). ...................................................................................................... 27 
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1. Dolo e culpa ...................................................................................................................... 27 
1.1. Crime doloso ........................................................................................................... 27 
1.2. Crime culposo .......................................................................................................... 28 
1.3. Espécies de culpa .................................................................................................... 28 
1.4. Crime preterdoloso ................................................................................................. 29 
2. Teoria do erro ................................................................................................................... 29 
3. Antijuridicidade (ilicitude) ................................................................................................. 30 
3.1. Causas de exclusão da antijuridicidade ................................................................... 31 
4. Imputabilidade .................................................................................................................. 31 
Aula 4 – (Continuação). ...................................................................................................... 32 
1. Concurso de pessoas ......................................................................................................... 32 
2. Ação penal......................................................................................................................... 33 
2.1. Finalidade ................................................................................................................ 33 
2.2. Fundamento legal .................................................................................................... 34 
2.3. Classificação ............................................................................................................ 34 
Aula 5 – (Continuação). ...................................................................................................... 37 
1. Homicídio .......................................................................................................................... 37 
2. Infanticídio ........................................................................................................................ 40 
3. Aborto ............................................................................................................................... 40 
4. Lesão Corporal .................................................................................................................. 42 
4.1. Calúnia ..................................................................................................................... 44 
4.2. Difamação................................................................................................................ 46 
Aula 6 – Crimes em Espécie (Continuação). ......................................................................... 48 
1. Injúria ................................................................................................................................ 48 
1.1. Constrangimento ilegal ........................................................................................... 49 
1.2. Ameaça .................................................................................................................... 50 
1.3. Maus Tratos ............................................................................................................. 51 
2. Sequestro e cárcere privado ............................................................................................. 52 
3. Violação de domicílio ........................................................................................................ 53 
4. Furto .................................................................................................................................. 54 
Aula 7 – Crimes em Espécie (Continuação). ......................................................................... 58 
1. Roubo ................................................................................................................................58 
1.1. Extorsão ................................................................................................................... 61 
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1.2. Extorsão mediante sequestro ................................................................................. 62 
1.3. Apropriação indébita ............................................................................................... 63 
2. Estelionato ........................................................................................................................ 64 
3. Receptação ........................................................................................................................ 65 
4. Estupro .............................................................................................................................. 68 
Aula 8 – Crimes em Espécie (Continuação). ......................................................................... 69 
1. Estupro de vulnerável ....................................................................................................... 69 
2. Apologia de crime ou criminoso ....................................................................................... 70 
3. Associação criminosa ........................................................................................................ 71 
4. Peculato ............................................................................................................................ 72 
Aula 9 – Crimes em Espécie (Continuação). ......................................................................... 76 
1. Concussão ......................................................................................................................... 76 
2. Corrupção passiva ............................................................................................................. 77 
3. Prevaricação ...................................................................................................................... 78 
4. Resistência ........................................................................................................................ 79 
Aula 10 – Crimes em Espécie (Continuação). ....................................................................... 81 
1. Desobediência ................................................................................................................... 81 
2. Desacato ........................................................................................................................... 82 
3. Tráfico de influência .......................................................................................................... 83 
4. Corrupção ativa ................................................................................................................. 84 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 86 
 
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 Aula 1 – Introdução ao Direito Penal. 
 
1. Introdução 
 
O presente estudo objetiva oferecer uma singela contribuição para a 
disciplina Direito Penal, ao realizar uma abordagem sistemática, segundo a ótica 
prevalente, dos delitos mais importantes, enfocando o que for estritamente necessário à 
compreensão da matéria. Os tópicos foram abordados, portanto, de forma a 
proporcionar ao leitor uma visão ampla, a fim de evitar equivocadas interpretações das 
leis e sua inadequada aplicação ao caso concreto. 
É possível perceber, portanto, numa análise criteriosa, que o Direito Penal, 
como veículo de tutela dos mais relevantes valores sociais, vem sofrendo um crescente 
desvio de caráter, perdendo sua função instrumental e assumindo uma forma simbólica, 
visando com isso ao restabelecimento da confiança nas instituições do Estado, ao ser 
utilizado como única resposta e possível solução aos anseios da população por uma 
sociedade mais justa. Portanto, esse desvio de finalidade tem levado o legislador a editar 
uma sucessão de normas penais nos textos de leis que disciplinam as mais diversas 
atividades da administração, gerando conflitos reais ou aparentes entre os preceitos 
legais. Desta forma, os frequentes erros nas construções dos tipos penais, por parte dos 
legisladores, são consequências diretas do desconhecimento da realidade a ser avaliada 
e tutelada pela norma penal, com nefastos resultados para seus destinatários. 
Por se tratar aqui de uma apostila, os temas são aflorados e indicados, não 
havendo intenção de esgotar lhes o conteúdo. Logo cabe ao estudante ir além do ponto a 
que o presente trabalho chegou se possível com o auxílio do professor. Não é, portanto, 
um estudo que tenha o objetivo de ser completo e definitivo, mas, unicamente, 
constituir-se em um instrumento que permita uma abertura para questionamentos e 
discussões. 
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2. Conceitos e fundamentos. 
 
A vida em sociedade exige um complexo de normas disciplinadoras que 
estabeleça as regras indispensáveis ao convívio entre os indivíduos que a compõem; ao 
conjunto dessas regras denomina-se direito positivo; já quanto à reunião das normas 
jurídicas pelas quais o Estado proíbe determinadas condutas, sob ameaça de sanção 
penal, estabelecendo ainda os princípios gerais e os pressupostos para a aplicação das 
penas e das medidas de segurança, dá-se o nome de Direito Penal. 
Como o Estado não pode aplicar as penas arbitrariamente, na legislação 
penal são definidos os fatos graves que passam a ser ilícitos penais (crimes e 
contravenções), estabelecendo-se as penas e as medidas de segurança aplicáveis aos 
infratores das normas jurídicas. 
Direito Penal é, portanto, o conjunto de normas jurídicas que o Estado 
estabelece para combater as infrações penais (crime e contravenção penal), através das 
penas e medidas de segurança. 
O fundamento básico de atuação do Direito Penal se limita aos bens 
jurídicos fundamentais e a criação de figuras penais típicas que correspondam à tutela 
de um bem consagrado na Constituição Federal - CF, ou seja, deve o legislador 
selecionar os bens mais importantes existentes em nossa sociedade para fins de proteção 
penal. 
A criminalização de comportamentos só deve ocorrer quando se constituir 
meio necessário e indispensável à proteção de bens jurídicos ou à defesa de interesses 
relativos a coexistência harmônica e pacífica da sociedade. 
A norma penal não pode servir como único instrumento de controle social. 
Ela só deve ser aplicada quando não existir outro meio eficaz para a solução de conflito, 
como por exemplo, a religião, a moral etc. Conclui-se, portanto, que o Direito Penal só 
deve ser avocado como ultima ratio, ou seja, em último caso. 
 
 
3. Finalidade do Direito Penal 
 
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A finalidade do Direito Penal é a proteção da sociedade e, mais 
precisamente, a defesa dos bens jurídicos fundamentais da pessoa (vida, integridade 
física e mental, honra, liberdade, patrimônio). 
Luiz Regis Prado ensina que “o pensamento jurídico moderno reconhece 
que o escopo imediado e primordial do Direito Penal radica na proteção de bens 
jurídicos - essenciais ao indivíduo e à comunidade”. (Bem jurídico-penal e 
Constituição. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1999, pág. 47). 
Na mesma linha, Rogério Greco afirma que “A finalidade do Direito Penal é 
proteger os bens mais importantes e necessários para a própria sobrevivência da 
sociedade, [...]. (Curso de Direito Penal – Parte Geral -, v.I, Rio de Janeiro: Impetus, 
2015, pág. 2.) 
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Exercícios: 
 
1. Considerando-se que o direito objetivo se constitui em um conjunto de regras 
jurídicas obrigatórias, em vigor no país, em determinada época, enquanto o direito 
subjetivo se trata da faculdade ou possibilidade que tem uma pessoade fazer 
prevalecer em juízo a sua vontade, analise o texto seguinte e indique os trechos que 
correspondem ao direito objetivo e ao direito subjetivo, respectivamente. Justifique 
sua resposta. 
Problema: O seu veículo, parado no semáforo, é atingido na parte traseira por 
outro. Há normas no Código Civil às quais você pode recorrer, através de uma ação, 
para fazer valer seu direito. 
2. Vivemos em um Estado democrático de direito, o qual assegura a igualdade entre 
os homens e possui, como uma de suas características, a submissão de todos ao 
império da lei. Tal igualdade é meramente formal, sem atuação efetiva e 
interventiva do Poder Público, no sentido de impedir distorções sociais de ordem 
material. Diante disto, podemos considerar que o Direito Penal se constitui em uma 
das formas mais eficazes de controle social, face ao seu caráter abstrato e impessoal. 
Assim: 
Problema: Compare e estabeleça as diferenças entre o conceito e a finalidade do 
Direito Penal. 
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4. Códigos do Brasil. (Cronologia do Direito Penal brasileiro) 
 
Após sua descoberta, o Brasil passou a se submeter às regras contidas nas 
ordenações do Reino de Portugal. As mais conhecidas foram as Ordenações Afonsinas, 
Manoelinas e Filipinas. 
Contudo, depois da Proclamação da Independência, ocorrida em 1822, o 
Brasil editou os seguintes Códigos na área penal: 
 Código Criminal do Império (Código Imperial), aprovado na data 
de 16.12.1830. (Obs.: Primeiro Código Penal sistematizado em toda 
a América Latina). 
 Código Penal dos Estados Unidos do Brasil (Código Republicano), 
aprovado pelo Decreto nº 847, de 11.10.1890. 
 Consolidação das Leis Penais, aprovada pelo Decreto nº 22.213, de 
14.12.1932. 
 Código Penal aprovado pelo Decreto-Lei nº 2.848, de 7.12.1940 - 
recebeu inúmeras alterações, contudo, encontra-se em vigor. 
 Código Penal aprovado pelo Decreto-Lei nº 1.004, de 21.10.1969 - 
que permaneceu cerca de nove anos em vacatio leqis, sendo 
revogado pela Lei nº 6.578, de 11.101978, sem entrar em vigor. 
 Reforma Penal de 1984. (Lei nº 7.209, de 11.07.1984). 
 
O Código Penal em vigor é composto por duas partes: a parte geral, do 
artigo 1º ao 120°, e a parte especial, do artigo 121° ao 361°. 
A primeira parte, a chamada geral, contém como o próprio nome sugere 
regras gerais a serem aplicadas aos crimes previstos na parte especial do Código Penal, 
bem como aos crimes constantes em toda a legislação especial, ou seja, àquelas normas 
que não estão contidas no corpo do Código, mas que também dispõem de matérias 
penais. A parte Especial prevê unicamente os crimes em espécie. 
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5. Direito Penal objetivo e Direito Penal subjetivo 
 
Denomina-se Direito Penal objetivo ao conjunto de normas que regulam a 
ação estatal, definindo os crimes e cominando as respectivas sanções. (É, portanto, o 
conjunto de leis penais em vigor). Somente o Estado, na sua função de promover o bem 
comum e combater a criminalidade, tem o direito de estabelecer e aplicar essas sanções. 
Sendo, assim, o único e exclusivo titular do direito de punir (jus puniendi), que 
constitui o que se denomina Direito Penal subjetivo. 
Você sabia? 
 
A criminalidade é um fenômeno social, presente em todas as sociedades. Assim, 
quando as violações aos interesses e direitos do indivíduo assumem determinadas 
proporções e os demais meios de controle social mostram-se insuficientes ou 
ineficazes para harmonizar o convívio das pessoas, surge o Direito Penal, buscando 
solucionar os conflitos. 
O Direito Penal é a proteção dos bens mais importantes e necessários para própria 
sobrevivência da sociedade. A pena é simplesmente uma consequência pelo 
descumprimento de um imperativo legal (norma implícita), não consistindo, assim, 
na sua finalidade. 
Diante disto, a Unidade I se constitui nas primeiras informações acerca do Direito 
Penal, discorrendo sobre seus conceitos e finalidade: ao traduzir que o Direito Penal 
é o ramo do Direito Público que se encarrega de selecionar condutas atentatórias aos 
mais importantes bens jurídicos; enfocando o Direito Penal objetivo e o Direito 
Penal subjetivo, esclarecendo ser o primeiro o conjunto de normas jurídicas que 
perfazem o sistema penal, enquanto o segundo corresponde ao direito de punir do 
Estado. 
Por fim, aborda o percurso do Direito Penal no Brasil, desde seu descobrimento até 
a presente data, indicando as normas mais importantes já editadas. 
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 Aula 2 – Fontes do direito penal, norma penal e 
interpretação da lei penal. 
 
1. Introdução 
 
Fonte é o lugar de onde provém o direito. Desta forma, as fontes do Direito 
Penal se dividem em: 
Materiais (de produção ou substanciais): referem-se ao órgão incumbido 
de sua elaboração. Exemplo: a União é a fonte de produção do Direito Penal (art. 22, l, 
Constituição Federal (CF)). 
Formais (de conhecimento): referem-se ao modo pelo qual o Direito Penal 
se exterioriza. 
 Imediatas: são as próprias leis, considerando-se: não há crime sem 
lei anterior que o defina nem pena sem prévia cominação legal (art. 
1º do Código Penal (CP)). 
 Mediatas: são os costumes, os princípios gerais do direito, a 
jurisprudência e a doutrina. 
SAIBA MAIS... 
 
Dispõe o art. 4º da Lei de Introdução do Código Civil: 
“Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os 
costumes e os princípios gerais de direito.” 
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 Analogia em Direito Penal 
A analogia é uma forma de preenchimento de lacunas (brechas) da lei. 
Consiste em aplicar - a um caso não previsto na lei, de modo direto e por uma norma 
jurídica - outra norma prevista para uma hipótese distinta, mas semelhante ao caso não 
contemplado. 
Em Direito Penal, contudo, somente se admite a analogia in bonam partem, 
ou seja, em benefício do sujeito ativo da infração penal. 
Norma penal 
Como vimos, a única fonte formal imediata do Direito Penal é a lei, isso 
em face do princípio da legalidade ou da reserva legal. Logo, a norma penal (ou lei), em 
sentido amplo, tanto define crimes e comina abstratamente penas, quanto amplia o 
sistema penal por meio de princípios gerais e disposições sobre limites e pela ampliação 
de normas incriminadoras. 
Já a norma penal em sentido estrito descreve uma conduta contrária ao 
ordenamento jurídico, cominando determinada pena ao seu infrator. Exemplo: art. 121 
do CP. 
Classificação das normas penais 
 Incriminadoras: descrevem as condutas puníveis e impõem as 
respectivas sanções. Exemplos: arts. 121, 155, 157, 213 do CP etc. 
 Permissivas: determinam que certa conduta, embora típica, seja 
impunível ou lícita. Exemplos: arts. 20 a 27, 28 § 1°, 128, 142, do 
CP. 
 Explicativas: visam a delimitar o âmbito de aplicação de uma norma 
ou explicam o conteúdo de outras. Exemplos: arts. 4°, 5°, 7°, do CP. 
 Norma penal em branco: na maioria dos casos, as normas penais 
incriminadoras possuem a definição e a sanção completas e podem 
ser aplicadas a partir de sua vigência. Todavia, algumas normas são 
incompletas e necessitam ser complementadas por outras normas 
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jurídicas (leis, regulamentos, portarias etc), embora o preceito 
secundário (sanção) já esteja cominado. E esse complemento poderá 
já existir ou ser posterior à publicação da norma penal em branco. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Interpretação da lei penal 
 
 
 
 
 
 
 
Toda lei deve necessariamente ser interpretada. O intérprete é o mediador 
entre o texto da lei e a realidade. A interpretação consiste, portanto, em extrair o 
significado e a extensão da norma em relação a um determinado caso concreto. Em 
resumo, ela visa a descobrir a vontade da lei. A natureza da interpretação, quanto ao 
sujeito que a faz,pode ser autêntica, doutrinária ou judicial. 
A interpretação autêntica procede do próprio órgão que criou a norma. Ela 
pode ser contextual, quando o legislador a faz no próprio texto da lei (exemplo: 
conceito de funcionário público, art. 327 do CP), ou posterior, realizada pelo sujeito da 
SAIBA MAIS... 
 
A norma penal em branco é, portanto, uma espécie de norma penal incriminadora 
em que a definição do crime é incompleta, embora a sanção seja determinada. 
Exemplos: 
O art. 237 do CP incrimina a conduta de quem "contrair casamento conhecendo a 
existência de impedimento que lhe cause a nulidade absoluta" - os referidos 
impedimentos encontram-se no art. 1.521 do Código Civil (CC). 
O art. 269 do CP pune o médico que deixar de denunciar à autoridade pública 
doença cuja notificação é compulsória - a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) 
descreve as doenças profissionais cuja notificação pelo médico é compulsória. 
Você Sabia? 
 
É através do processo interpretativo das leis, que se deve expressar com clareza e 
objetividade o verdadeiro sentido e o alcance mais preciso da norma legal - 
essencialmente genérica e abstrata -, objetivando, em última análise, ajustá-la ao 
caso concreto individual. 
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regra que se interpreta depois de publicada a lei, com o fim de elidir incerteza ou 
obscuridade. 
A interpretação doutrinária, por sua vez, é a feita pelos estudiosos do 
Direito, ao escreverem livros, artigos ou comentários às leis. Já a interpretação judicial 
é a emanada dos órgãos judiciários (juízes ou tribunais). Não obriga os demais juizes à 
mesma decisão, a não ser para aquele caso julgado. Exceção é a súmula vinculante, que 
deve ser obedecida pelos demais órgãos do Poder Judiciário e pela Administração 
Pública direta ou indireta, em todas as esferas. 
No que se refere aos meios empregados, a interpretação pode ser 
gramatical, literal ou sintática, lógica ou teleológica. 
A interpretação gramatical é a chamada "ao pé da letra". Certamente, não é 
suficiente, devendo ser analisada em conjunto com a lógica ou teleológica, a qual, por 
sua vez, verifica a vontade ou a intenção descrita na lei - a lei sempre deverá visar aos 
fins sociais a que ela se destina e às exigências do bem comum (Lei de Introdução às 
Normas do Direito Brasileiro - LINDB). 
A interpretação lógica ou teleológica deve valer-se dos seguintes elementos: 
 Sistemático: deve ser comparado o preceito interpretado com os de 
outras normas relacionadas com o mesmo instituto, com o conjunto 
da legislação e mesmo com os princípios gerais do Direito. 
 Histórico: deve ser procurada a origem da lei (debates, trabalhos de 
estudos e as exposições de motivos). 
 Comparatista (Direito Comparado): há o confronto com o direito 
estrangeiro. 
 Extrapenal: devem ser levadas em conta as condições da vida atual 
(harmonia com os sistemas políticos). 
 Extrajurídico: há o estudo dos pressupostos políticos, econômicos, 
sociais, psiquiátricos etc. 
No que se refere ao resultado, a interpretação pode ser declarativa, restritiva 
e extensiva. 
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Pela interpretação declarativa, eventual dúvida se resolverá pela 
correspondência entre a letra e a vontade da lei, sem conferir à fórmula um sentido mais 
amplo ou mais restrito. Exemplo: art. 141, III, do CP - na presença de várias pessoas. 
Pergunta-se aqui: qual o mínimo exigido pela lei, duas ou mais pessoas? De acordo com 
essa interpretação, deve ser entendido que o mínimo exigido pela lei será superior a 
duas pessoas, porque sempre que a lei se contenta com duas pessoas ela o diz 
textualmente. 
A interpretação restritiva, por sua vez, deve ser empregada quando a lei diz 
mais do que deveria. Restringe, portanto, o alcance das palavras até o seu sentido real. 
Exemplo: art. 28, I e II, do CP - devem ser considerados os estados não patológicos, 
uma vez que, caso assim não se entenda, haveria flagrante contradição com o art. 26, 
caput, do CP. 
Por outro lado, a interpretação extensiva deve ser aplicada quando a lei diz 
menos do que pretendia. Exemplo: art. 235 do CP – bigamia – neste caso, certamente a 
poligamia também é alcançada pela lei. 
Há, também, a chamada interpretação progressiva, adaptativa ou 
evolutiva, segundo a qual os dispositivos contidos no Código Penal devem ser 
interpretados de acordo com as transformações sociais, políticas, científicas e jurídicas. 
Quando não for possível a correta interpretação da norma utilizando-se os métodos 
existentes, deve-se interpretá-la em favor do réu. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SAIBA MAIS... 
 
A aula nº 2, indica a origem do Direito Penal, através de suas fontes, estabelecendo 
a ligação destas com as espécies de normas penais, bem como permite ao leitor 
conhecer as inúmeras formas de interpretação da lei penal. 
Sabemos que fontes são os lugares de onde provém o direito, ou seja, são todas as 
formas ou modalidades por meio das quais são criadas, modificadas ou 
aperfeiçoadas as normas de um ordenamento jurídico. 
Sabemos, também, que a única fonte do Direito Penal é a própria lei e esta é 
composta por normas penais; contudo, lei e norma são instâncias distintas. 
O criminoso não infringe a lei, ao contrário: com a sua conduta, realiza exatamente 
o que a lei prevê. Na verdade, viola algo que está acima da própria lei, que é a 
norma jurídica. A norma, deste modo, é o conteúdo da lei. 
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2. Infração Penal. 
 
O Direito Penal é um ramo do Direito Público que define as infrações 
penais, estabelecendo as penas e as medidas de segurança. 
As infrações penais dividem-se em crimes e contravenções. Os crimes 
estão no Código Penal, nos artigos 121 a 360 e também nas leis especiais, as 
contravenções são, em sua maioria, previstas no Decreto-Lei nº 3.688, de 03.10.1941 
(conhecido como Lei das Contravenções Penais - LCP) e as medidas de segurança 
encontram-se nos artigos 96 a 99 do CP. 
Segundo Rogério Greco: “Na verdade, não há diferença substancial entre 
contravenção e crime. O critério de escolha dos bens que devem ser protegidos pelo 
Direito Penal é político, da mesma forma que é política a rotulação da conduta como 
contravencional ou criminosa.” (Obra cit., pág. 191). 
O crime e a contravenção se distinguem pela sua maior ou menor gravidade, 
ou seja, a diferença entre eles é meramente quantitativa, conforme se comprova através 
do critério de diferenciação adotado pelo legislador contido no art. 1º da Lei de 
Introdução ao Código Penal (Decreto-Lei nº 3.914, de 09 de dezembro de 1941), 
vejamos: 
Art. 1º Considera-se crime a infração penal a que a lei comina pena de 
reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a 
pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, penas 
de prisão simples ou multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente. 
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3. Conceito de crime 
 
O nosso Código Penal em vigor não conceitua crime, conforme faziam os 
Códigos de 1830 e 1890, deixando, portando, as definições a cargo da doutrina. 
Por sua vez, a doutrina conceitua o ilícito penal sob três aspectos: 
 Formal ou nominal => Crime é o fato típico e antijurídico. 
 Material ou substancial => Crime é a violação de um bem 
penalmente protegido. 
 Analítico ou dogmático => Crime á a ação ou omissão típica ilícita 
e culpável. 
3.1. Sujeitos do crime 
 
 Os sujeitos do crime são classificados como sujeito ativo ou sujeito 
passivo. 
 Sujeito ativo - É a pessoa que pratica a infração penal - autor, 
coautor ou partícipe (Ou seja, é aquele que pratica o fato típico e 
antijurídico). Só pode sê-lo se for o ser humano maior de dezoito 
anos (CF, art. 228 e CP, art. 27). As pessoas menores de dezoito 
anos que praticam fatos definidos como crime oucontravenção penal 
praticam atos infracionais, sujeitando-se às medidas socioeducativas 
(Lei nº 8069/90, arts. 2º, 103 e 112). 
 Sujeito passivo - É aquele que sofre as consequências da prática 
criminosa. É o titular do bem jurídico lesado. 
 
3.2. Objeto do crime 
 
O objeto do crime pode ser jurídico ou material. 
 Objeto jurídico do crime - também conhecido como objetividade 
jurídica, é o bem ou interesse protegido pela norma penal. 
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM 
 
 
17 | P á g i n a 
 
 Objeto material do crime - é o bem jurídico sobre o qual recai a 
conduta criminosa. 
3.3. Punibilidade 
 
A punibilidade é a consequência jurídica do crime. Com a violação da 
norma penal, surge para o Estado o direito de punir o sujeito ativo da infração. É o jus 
puniendi. 
 
3.4. Classificação doutrinária de crimes 
 
Os delitos podem ser classificados em conformidade com inúmeros 
critérios, levando-se em conta determinados aspectos da prática criminosa: 
 Crime formal: aquele que não requer a realização do resultado 
pretendido pelo agente, embora previsto em lei, consumando-se com 
a prática da ação ou da omissão. Exemplo: ameaça (art. 147 do CP - 
que se consuma com o conhecimento pelo sujeito passivo, 
independentemente de sua efetiva intimidação). 
 Crime material: aquele que requer um resultado separado da ação, 
descrito em lei (resultado material). Exemplo: homicídio (art. 121 do 
CP). 
 Crime de mera conduta (ou de simples atividade): aquele que não 
exige a ocorrência de um resultado. O legislador somente descreve a 
conduta do sujeito ativo. Exemplo: violação de domicílio (art. 150 
do CP). 
 Crime comissivo: aquele que exige uma atuação positiva do agente 
(ação). Exemplos: furto (art. 155 do CP). 
 Crime omissivo puro (ou próprio): aquele que exige uma conduta 
negativa do agente (omissão). Exemplo: omissão de socorro (art. 135 
do CP). 
 Crime comissivo por omissão (ou omissivo impróprio): aquele em 
que a omissão se caracteriza pela inobservância de um dever jurídico 
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18 | P á g i n a 
 
de evitar o resultado, praticando-se o crime (comissivo) pela 
abstenção. Exemplo: homicídio - art. 121 do CP - (p.ex. A mãe que 
deixa de alimentar o filho recém-nascido com a finalidade de matá-
lo por inanição). 
 Crime comum: aquele que pode ser praticado por qualquer pessoa. 
Exemplo: roubo (art. 157 do CP). 
 Crime tentado: aquele que, iniciada a execução, esta não se 
consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente (art. 14, lI, 
do CP). 
 Crime consumado: aquele em que se reúnem todos os elementos de 
sua definição legal (art. 14, I, do CP). 
 Crime doloso: aquele em que o agente quis o resultado (art. 18, I - 
1ª parte do CP). 
 Crime culposo: aquele em que o agente dá causa ao resultado por 
imprudência, negligência ou imperícia (art. 18, II, do CP). 
 Crime impossível: aquele que é impossível de ser consumado em 
razão da ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade 
do objeto (art. 17 do CP). 
 Crime próprio: aquele que somente pode ser praticado por 
determinada categoria de pessoas. Exemplos: peculato (art. 312 do 
CP) e infanticídio (art. 123 do CP). 
 Crime putativo: aquele em que o agente, por erro, supõe estar 
praticando um crime, quando, na verdade, não está praticando ilícito 
algum. Exemplo: mulher que, supondo-se grávida, pratica manobras 
abortivas (art. 124 do CP). 
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19 | P á g i n a 
 
 
4. Fato típico 
 
É o comportamento humano, positivo ou negativo, o qual provoca um 
resultado e está previsto na lei penal como infração. É aquele que se amolda 
perfeitamente nos elementos contidos no tipo penal. 
4.1. Tipo penal 
 
É a descrição de um comportamento criminoso. Exemplo: art. 121 do CP. 
4.1.1. Elementos do fato típico 
 
 Conduta dolosa ou culposa. 
 Resultado (só nos crimes materiais). 
 Nexo causal (só nos crimes materiais). 
 Enquadramento do fato material a uma norma penal incriminadora. 
 
4.2. Conduta 
 
É todo comportamento humano, consciente e voluntário, comissivo ou 
omissivo, doloso ou culposo, tendente a um fim. 
 
4.2.1. Formas de conduta 
 
A conduta apresenta duas formas: 
 Ação: atuação humana positiva voltada a uma finalidade. 
 Omissão: ausência de comportamento; a inatividade ou o não fazer. 
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM 
 
 
20 | P á g i n a 
 
Considerando-se que as condutas podem ser praticadas por ação ou por 
omissão, os crimes comissivos consistem em uma ação positiva (fazer) e os crimes 
omissivos consistem na abstenção da ação devida (não fazer). 
4.2.2. Crimes omissivos próprios (omissivos puros) 
 
Crimes de mera conduta ou de simples atividade, punindo a lei a simples 
omissão, independentemente de qualquer resultado; podem ser imputados a qualquer 
pessoa. Exemplo: art. 135 do CP. 
4.3. Crimes comissivos por omissão (omissivos impróprios) 
 
Crimes de resultado e só podem ser praticados por pessoas que, por lei, 
têm o dever de impedir o resultado e a obrigação de proteção e vigilância em relação a 
alguém. Os agentes são garantidores ou garante, conforme estabelece o parágrafo 2º, 
“a”, “b” e “c”, do art. 13 do CP. 
4.3.1. Nexo de causalidade (relação de causalidade) 
 
O nexo causal constitui-se em um dos elementos do fato típico. Trata-se do 
elo físico (material, natural) que se estabelece entre a conduta do agente e o resultado 
naturalístico. O CP, em seu art. 13, adotou a teoria da equivalência dos antecedentes, 
conhecida como teoria da conditio sine qua non, segundo a qual a causa é toda ação ou 
omissão anterior sem a qual o resultado não teria ocorrido. 
Aplica-se, para que se revele a causa de determinado evento, o processo 
hipotético de eliminação, por meio do qual se suprime mentalmente uma a uma as 
situações, sendo, então, possível verificar aquela sem a qual o resultado não teria 
ocorrido. 
4.4. Superveniência causal 
 
Constante no parágrafo 1º do art. 13 do CP, esta opera como uma restrição à 
teoria da conditio sine qua non, pois prevê a existência de causas absolutamente 
independentes e causas relativamente independentes. 
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM 
 
 
21 | P á g i n a 
 
As causas absolutamente independentes não podem ser atribuídas ao 
agente. Dividem-se em preexistentes, concomitantes e supervenientes. Exemplo: A e B 
atiram simultaneamente numa vítima, mas apenas A a acerta mortalmente, sendo que o 
tiro de B a atinge somente no braço. A responde pelo homicídio e B por tentativa de 
homicídio ou lesão corporal, conforme a sua intenção. 
Já as causas relativamente independentes excluem a imputação, quando 
determinarem por si mesmas o resultado. Dividem-se em preexistentes, concomitantes e 
supervenientes. Exemplo: A ferido por B, recolhe-se ao hospital, no qual vem a falecer 
em virtude de um incêndio lá ocorrido. 
Neste último caso, surge outro processo causal que, isoladamente, produz o 
evento, não obstante a causa seja relativamente independente, pois, se a vítima não 
tivesse sido ferida, não se encontraria no hospital. 
4.5. Resultado 
 
O resultado é outro elemento integrante do fato típico. Caracteriza-se como 
sendo toda modificação do mundo exterior provocada pelo comportamento humano 
voluntário. 
 
Exercícios: 
 
Sebastião Fernandes e Reinaldo Rezende durante longo tempo disputaram o amor 
de Veridiana Fagundes, sendo que, ao final, esta opta por ficar noiva do primeiro, o 
que levou Reinaldo a nutrir indisfarçável ódio por Sebastião. Em determinada 
ocasião, aproveitando-se de um descuido de Sebastião, Reinaldo, com a intenção de 
matar, efetua vários disparos de arma de fogo contra ele, seu desafeto. Ferido 
gravemente, Sebastião é levado a um hospital onde foi internado, e neste vem a 
falecer, não em razão dos ferimentos recebidos resultantes dos disparos de arma de 
fogo efetuados por Reinaldo, mas sim, queimado emum incêndio provocado por 
Severino Silva, que destrói a enfermaria onde se encontrava. Assim, diante do caso 
hipotético apresentado, Quais as consequências jurídicas advirão em razão do 
comportamento de Reinaldo? Justifique e fundamente. 
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM 
 
 
22 | P á g i n a 
 
4.5.1. Crime qualificado pelo resultado 
 
O crime qualificado pelo resultado são condutas cometidas pelo agente 
caracterizadas como crime, mas que possuem um resultado acrescentado, gerando um 
agravamento da sanção penal. 
4.5.2. Crime Preterdoloso 
 
O crime preterdoloso ou preterintencional, quando há dolo na conduta 
antecedente e culpa na conduta consequente. Exemplo: art. 129, § 3º, do CP. 
Assim, podemos ainda dizer que, crime qualificado pelo resultado é o 
gênero da espécie aqui estudada, o Crime Preterdoloso. 
Segundo Damásio E. De Jesus, em sua obra Direito Penal, Parte Geral , 20 
Ed, são preterintencionais aqueles crimes em que a ação causa um resultado mais grave 
que o pretendido pelo agente. 
Júlio Fabbrini Mirabete em seu Manual de Direito Penal, Parte Geral arts:1º 
a 120 do Código Penal, 16 Ed., considera preterdolosos um tipo de crime misto, pois há 
uma conduta dolosa que se dirige a um fim típico, que é culposa poque causa um outro 
resultado que não objeto do crime fundamental, por inobservância do cuidado objetivo. 
Exemplo clássico de preterdolosos é a lesão corporal seguida de morte, em que há a 
conduta antecedente dolosa – lesionar a vítima – e a consequente mais grave, culposa – 
a morte da mesma. 
 
5. Iter criminis (Crime consumado e crime tentado) 
 
O CP, em seu art. 14, define o crime consumado e o crime tentado. 
Vejamos: 
Art. 14. Diz-se do crime: 
Crime consumado 
I – consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal; 
Tentativa 
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM 
 
 
23 | P á g i n a 
 
II – tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias 
alheias à vontade do agente. 
 
O delito é consumado, portanto, quando existe a integral realização do tipo 
penal. 
Por sua vez, o crime é tentado quando, iniciada a execução, ela não se 
consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. 
Não há tentativa nos crimes culposos, nos de mera conduta, nos omissivos 
próprios e nos preterdolosos. Não é punível a tentativa de contravenção (art. 4°, Lei das 
Contravenções Penais - LCP). 
 
5.1. Trajetória do crime o fato delituoso apresenta uma trajetória denominada iter 
criminis (termo latino cujo significado é “caminho do crime”), que se compõe de 
quatro etapas: 
 
 Cogitação do crime - não se pune. 
 Atos preparatórios - não se punem. 
 Execução - interrompida nesta fase, pune-se a tentativa. 
 Consumação do crime - pune-se. 
 
A cogitação não é punida no Direito Penal, pois o que se passa no foro 
íntimo da pessoa não tem relevância criminal. Refere-se ao pensamento do agente em 
praticar o delito. 
Os atos preparatórios, por sua vez, são aqueles que se situam fora da 
esfera de cogitação do agente, embora ainda não se traduzam em início da execução do 
delito. Em regra, não são puníveis; contudo, poderão configurar, excepcionalmente, atos 
de execução de infrações penais autônomas. São aqueles que o agente planeja a 
execução do crime. Por exemplo: Um revólver será o meio pelo qual o agente matará a 
vítima, portanto, a aquisição dessa arma trata-se de ato preparatório para o crime de 
homicídio. Por outro lado, insta dizer que em algumas situações, o ato preparatório, por 
si só, está previsto como crime autônomo. É o caso , por exemplo, do agente que 
adquire uma arma de fogo com numeração raspada para matar seu desafeto, nesse 
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM 
 
 
24 | P á g i n a 
 
exemplo, embora a aquisição da arma de fogo seja um ato preparatório para o crime de 
homicídio, ela também configura o crime de posse ou porte de arma de fogo de uso 
restrito (art.16 do Estatuto do Desarmamento), ou seja, o ato preparatório também é um 
crime autônomo. 
 
A execução se inicia com o primeiro movimento que concretize a realização 
da ação descrita no tipo. A punição ocorre somente nas fases de execução e 
consumação. Na execução, o bem jurídico começa a ser atacado. O agente inicia a 
realização do núcleo do tipo e o crime já se torna punível. 
Na consumação, todos os elementos que se encontram descritos no tipo 
penal foram realizados. 
5.2. Elementos da tentativa 
 
São três os elementos da tentativa: 
 A ação, caracterizada por início da execução; 
 A interrupção da execução por circunstâncias alheias à vontade do 
agente, que pode se dar em qualquer momento antes da consumação; 
 O dolo, o elemento subjetivo do crime. 
 
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM 
 
 
25 | P á g i n a 
 
 
5.3. Espécies de tentativa 
 
 Tentativa perfeita ou acabada (ou crime falho ou frustrado): o 
agente consegue praticar todos os atos necessários à consumação, 
embora esta acabe não ocorrendo. 
 Tentativa imperfeita (ou inacabada): a ação do agente é 
interrompida na fase de execução. O agente não chega a esgotar sua 
capacidade ofensiva contra o bem jurídico visado. 
A desistência voluntária e o arrependimento eficaz (confira item 4.4), são 
espécies de tentativa abandonada. 
5.4. Desistência voluntária, arrependimento eficaz 
 
Na desistência voluntária, o agente voluntariamente interrompe a execução 
do crime, impedindo sua consumação (CP, art. 15, 1ª parte). A lei quer, com tal medida, 
estimular o agente a retroceder, o que não é possível nos crimes de mera conduta, nos 
quais a execução é a própria consumação. 
No arrependimento eficaz, o agente termina todo o processo de execução, 
porém evita a consumação (CP, art. 15, 2ª parte). 
Nos dois casos, o agente só responde pelos atos até então praticados. 
5.5. Arrependimento posterior 
 
O arrependimento posterior ocorre nos crimes cometidos sem violência 
ou grave ameaça à pessoa, nos quais o agente, voluntariamente, repara o dano ou restitui 
a coisa até o recebimento da denúncia ou queixa. 
Neste caso, a pena será reduzida de um a dois terços (CP, art. 16). Tratando-
se de causa objetiva de diminuição de pena, o arrependimento posterior não se restringe 
à esfera pessoal de quem o realiza, estendendo-se aos coautores e partícipes 
condenados pelo mesmo fato. 
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM 
 
 
26 | P á g i n a 
 
 
5.6. Crime impossível 
 
Ocorre o crime impossível quando o agente realiza uma conduta e não 
atinge o seu objetivo por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do 
objeto (pessoa ou coisa). 
O crime impossível configura causa de exclusão da adequação típica do 
crime tentado (natureza jurídica). 
O crime impossível pode ocorrer por: 
 Ineficácia absoluta do meio: o meio empregado ou instrumento 
utilizado para a execução do crime não é idôneo para levar à 
consumação (Exemplos: usar um copo contendo água para matar 
alguém envenenado ou tentar matar alguém com revólver de 
brinquedo). 
 Absoluta impropriedade do objeto: o objeto (pessoa ou coisa) 
sobre o qual recai a conduta é absolutamente inidôneo à produção de 
algum resultado lesivo. Exemplos: matar cadáver. 
Exercícios: 
 
1. Pretendendo matá-lo, Rui Santos coloca veneno no café de Nei Silva. Sem saber do 
envenenamento, Nei Silva ingere o café. Logo em seguida, Rui Santos, arrependido, 
prescreve o antídoto a Nei Silva, que sobrevive sem qualquer sequela. Diante disso, é 
correto afirmar que tal relato trata de hipótese de: 
(A) crime impossível, pois o meio empregado por Rui Santos era absolutamente ineficaz 
para a obtenção do resultado pretendido. 
(B) arrependimento eficaz, pois Rui Santos impediu voluntariamente que o resultado se 
produzisse. 
(C) tentativa, pois o resultado não se consumou por circunstâncias alheias à vontade de Rui 
Santos. 
 (D) arrependimento posterior, pois o dano foi reparado por Rui Santos até o recebimento da 
denúncia.2 - Assinale a alternativa correta: 
A figura do garantidor decorre da natureza jurídica dos crimes: 
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM 
 
 
27 | P á g i n a 
 
 
 Aula 3 – (Continuação). 
 
1. Dolo e culpa 
1.1. Crime doloso 
 
O dolo - elemento subjetivo do tipo - é a vontade de realizar a conduta 
típica, ou seja, é a vontade manifestada pela pessoa de realizar a conduta. 
Espécies de dolo: 
 Dolo direto (ou determinado): aquele em que o agente quer o resultado. 
 Dolo indireto (ou indeterminado): aquele em que a vontade do agente não 
é exatamente definida. 
 
O dolo indireto pode ser: 
 alternativo: aquele em que o objeto da ação se divide entre dois ou mais 
resultados. Exemplo: matar ou ferir - para o agente, tanto faz a produção 
de um ou outro resultado. 
 eventual: condutor de veículo automotor que , embriagado , dirige 
tresloucadamente , assumindo o risco de matar , o que acaba por 
acontecer . 
 
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM 
 
 
28 | P á g i n a 
 
 
1.2. Crime culposo 
 
Consiste na prática não intencional do delito, faltando o agente a um dever 
de atenção e cuidado. Na culpa há a não observância do dever de cuidado pelo sujeito, 
causando o resultado e tornando punível seu comportamento. Em regra, as condutas são 
punidas a titulo de dolo, porque a finalidade da legislação penal é, em primeiro lugar, 
coibir a própria intenção criminosa. Só existirá crime culposo quando for expressamente 
previsto na legislação, logo culpa é o elemento normativo do tipo. Não há compensação 
de culpas no Direito Penal. 
1.2.1. Pressupostos da culpa 
 
 Negligência: é a falta de cuidado. A displicência, o relaxamento 
(Exemplo: não observar a rua ao dirigir um carro). 
 Imprudência: é a conduta precipitada, a criação desnecessária de um 
perigo (Exemplo: dirigir um carro com excesso de velocidade). 
 Imperícia: é a falta de habilidade técnica para certas atividades (Exemplo: 
não saber dirigir um carro). 
 
1.3. Espécies de culpa 
 
 Culpa inconsciente: é a mais comum nas modalidades de negligência. O 
fato era previsível, mas o agente não o previu por falta da atenção devida. 
 Culpa consciente: é uma forma excepcional de culpa, cujo agente prevê o 
resultado, mas acredita que ele não ocorrerá, por confiar erradamente em 
sua perícia ou nas circunstâncias. Difere do dolo eventual, porque neste o 
agente prevê o resultado, mas não se importa que ele ocorra; na culpa 
consciente, embora prevendo o que possa vir a acontecer, o agente repudia 
essa possibilidade. 
 Culpa imprópria: é aquela em que o agente, por erro de tipo inescusável, 
supõe estar diante de uma causa de justificação que lhe permita praticar 
um fato típico licitamente. 
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM 
 
 
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1.4. Crime preterdoloso 
 
No crime preterdoloso, há dolo no antecedente e culpa no consequente. O 
agente tem sua intenção voltada para a produção de determinado resultado 
(antecedente), mas, por culpa, acaba ocasionando outro, mais grave (consequente) 
(Exemplo: lesão corporal seguida de morte). 
 
2. Teoria do erro 
 
Erro, em Direito Penal, corresponde a uma falsa representação da 
realidade, que tanto pode incidir sobre situação fática prevista como elementar ou 
circunstância do crime (erro de tipo), bem como sobre a ilicitude da conduta (erro de 
proibição). Desta forma, a pessoa a qual subtrai coisa de outra, acreditando ser sua - não 
sabe que subtrai coisa alheia - ou quando alguém, por exemplo, tem maconha em casa, 
na crença de que esta constitui outra substância, inócua (Exemplo: esterco), encontra-se 
em erro de tipo (art. 20 do CP); contudo, se souber da natureza da substância, a qual 
mantém por acreditar equivocadamente que o depósito não é proibido, incide no erro de 
proibição (art. 21, do CP). 
Vejamos as espécies de erro: 
 Erro sobre elemento constitutivo do tipo (CP, art. 20, caput): "O erro 
sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas 
permite a punição por crime culposo, se previsto em lei". Tal erro pode 
referir-se a uma situação de fato. (Exemplo: o caçador atira em uma pessoa 
pensando tratar-se de um animal perigoso). 
 Descriminantes putativas (CP, art. 20, § 1°): "É isento de pena quem, por 
erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato 
que, se existisse, tornaria a ação legítima". Trata-se do erro de tipo 
inevitável (invencível ou escusável) e, sendo assim, exclui a punição por 
dolo ou por culpa. O fato, portanto, é atípico. 
 
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM 
 
 
30 | P á g i n a 
 
Importante lembrar que: "Não há isenção de pena quando o erro deriva de 
culpa e o fato é punível como crime culposo." (CP, art. 20, § 1°, parte final). 
 Erro determinado por terceiro (art. 20, § 2º, CP): "Responde pelo crime 
o terceiro que determina o erro". 
 Erro sobre a pessoa (art. 20, § 3°, CP): "O erro quanto à pessoa contra a 
qual o crime é praticado não isenta de pena. Não se consideram, neste 
caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra 
quem o agente queria praticar o crime". Ocorre quando, por exemplo, o 
agente mata A pensando tratar-se de B, fato que não altera a figura típica 
do homicídio. 
 Erro sobre a ilicitude do fato (art. 21, CP): "O desconhecimento da lei é 
inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; 
se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço. 
 
CP, art. 20, Parágrafo único: “Considera-se evitável o erro se o agente atua 
ou se omite sem a consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas 
circunstâncias, ter ou atingir essa consciência". 
 
 
3. Antijuridicidade (ilicitude) 
 
A antijuridicidade é um dos requisitos do crime. Constitui-se na relação de 
contrariedade entre o fato e o ordenamento jurídico. Não basta, para a ocorrência de um 
crime, que o fato seja típico (previsto em lei). É necessário também que seja 
antijurídico, ou seja, contrário à lei penal, que viole bens jurídicos protegidos pelo 
ordenamento jurídico. 
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM 
 
 
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3.1. Causas de exclusão da antijuridicidade 
 
Além de típico, para ser considerado crime o fato deve ser também 
antijurídico. 
O art. 23 do CP dispõe que não há crime quando o agente pratica o fato nos 
seguintes casos: 
 Estado de necessidade: o agente pratica o fato para salvar de perigo 
atual - que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo 
evitar - direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, 
não era razoável exigir-se. 
 Legítima defesa: quem, usando moderadamente dos meios 
necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu 
ou de outrem. Contra pessoas ou coisas, caracteriza legítima defesa. 
 Estrito cumprimento do dever legal: consiste na existência de um 
dever proveniente de lei que obriga o agente a determinada conduta 
(Exemplo: policial prende em flagrante delito). 
 Exercício regular de direito: ocorre quando o agente age dentro 
dos limites autorizadores pelo ordenamento jurídico (Exemplo: lesão 
corporal decorrente de violência desportiva). 
 
4. Imputabilidade 
 
Chama-se imputabilidade a capacidade do agente de entender o caráter 
ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. 
Consequentemente, denomina-se inimputabilidade a incapacidade do agente de 
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento, 
seja em virtude de doença mental ou desenvolvimento mental incompleto (menoridade 
penal) ou retardado, seja em virtude de embriaguez completa proveniente de caso 
fortuito ou força maior, conforme estabelecem os art. 26, 27 e 28 do CP. 
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM 
 
 
32 | P á g i n a 
 
 Aula 4 – (Continuação). 
 
1. Concurso de pessoas 
 
Normalmente o crime é praticado por uma única pessoa. Contudo, pode ser 
praticado por duas ou mais. Assim sendo, o CP utilizao termo concurso de pessoas, 
adotando a teoria unitária ou monista, segundo a qual, no concurso, existe um só 
crime, em que todos os participantes respondem por ele. 
O art. 29 do CP estatui: “Quem, de qualquer modo, concorre para o crime, 
incide nas penas a este cominadas na medida de sua culpabilidade”. Além disso, a lei 
penal distingue coautoria de participação (§ 1º, art. 29, CP). 
Ocorre a coautoria quando várias pessoas realizam a conduta principal do 
tipo penal, ou seja, há diversos executores. 
Por sua vez, existe a participação quando o sujeito concorre de qualquer 
modo para a prática da conduta típica, não realizando atos executórios do crime. O 
sujeito, chamado partícipe, realiza atos diversos daqueles praticados pelo autor, não 
cometendo a conduta descrita pelo preceito primário da norma. Pratica, entretanto, 
atividade - induz, instiga ou presta auxílio - que contribui para a realização do delito. 
Autor, portanto, é quem executa o núcleo da conduta típica. Exemplos: 
aquele que mata, rouba etc. Já partícipe, é quem concorre de qualquer modo para a 
realização do crime, praticando atos diversos dos do autor. Exemplos: ele vigia a rua 
enquanto o autor furta bens do interior da casa; ele empresta a arma para o autor matar a 
vítima etc. 
A participação pode ser, portanto, moral ou material. 
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM 
 
 
33 | P á g i n a 
 
Existe a participação moral quando o agente induz ou instiga o autor 
principal à prática do crime. Ocorre a participação material quando o agente auxilia de 
algum modo o autor principal na prática do crime. 
 
2. Ação penal 
 
Conceito: É o direito de pedir a tutela jurisdicional representada pela 
aplicação da lei penal ao caso concreto. 
Ensinam Alexandre Cebrian A. Reis e Victor Eduardo R. Gonçalves, que 
AÇÃO PENAL é o procedimento judicial iniciado pelo titular da ação quando há 
indícios de autoria e materialidade a fim de que o juiz declare procedente a 
pretensão punitiva estatal e condene o autor da infração penal. 
Durante o transcorrer da ação penal será assegurado ao acusado pleno 
direito de defesa, além de outras garantias como a estrita observância do procedimento 
previsto em lei, de só ser julgado pelo juiz competente, de ter assegurado o contraditório 
e o duplo grau de jurisdição etc. (Direito Processual Penal Esquematizado. São Paulo: 
Saraiva, 2012, pág. 71.) 
 
2.1. Finalidade 
 
Através da ação penal o Estado exercita o direito de punir em face do agente 
da infração penal. 
O Estado, detentor do direito de punir (jus puniendi), concede o direito 
exclusivo da iniciativa da ação penal ao Ministério Público (129, I, da CF e art. 24 
do CPP) ou à vítima (art. 30 do CPP), dependendo do tipo de delito cometido. 
Desta forma, para cada crime previsto na lei, o legislador estabeleceu 
previamente uma espécie de ação penal, ou seja, de iniciativa pública ou de iniciativa 
privada. 
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM 
 
 
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2.2. Fundamento legal 
 
A Ação Penal tem previsão legal no Código Penal/CP, art. 100,Código de 
Processo Penal/CPP, arts. 24 a 62 e na Constituição Federal- CF, art. 5.°,XXXV e LIX. 
2.3. Classificação 
 
A ação penal pode ser pública ou privada, conforme a iniciativa. 
Pública = Promovida pelo MP (denúncia). 
Privada = Iniciada pelo ofendido (queixa). 
A ação penal pública divide-se em incondicionada = a atuação do 
Ministério Público não está sujeita a nenhum tipo de condição, e condicionada = o MP 
só pode agir se houver representação da vítima (exemplos arts. 130, § 2º, 147, 
parágrafo único, etc., do CP) ou requisição do Ministro da Justiça (exemplo: art. 
141, I, do CP - confira art. 145, parágrafo único do mesmo diploma legal). 
Na ação penal pública condicionada a titularidade é do Ministério 
Público que, todavia, só pode oferecer a denúncia se estiver no caso concreto à 
representação da vítima ou a requisição do Ministro da Justiça que constituem, 
assim, condições de procedibilidade. 
Na ação penal pública condicionada, o ofendido (ou seus sucessores = 
CPP, art. 24, § 1.°), tem o prazo de seis meses, a contar da data em que souber quem é 
o autor do crime - art. 38, CPP -, para oferecer representação. Se não agir nesse 
período, ocorrerá a decadência = perda do direito de ação - e, consequentemente, 
provocará a extinção da punibilidade do autor do delito = CP, art. 107, IV-. 
Por ser regra no processo penal, no silêncio da lei, a ação será pública 
incondicionada. 
Importante salientar que nos crimes em que se procede mediante ação penal 
pública, havendo indícios de autoria e materialidade colhidos durante as investigações, 
o oferecimento da DENÚNCIA - pelo MP - é obrigatório. 
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM 
 
 
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Ação Penal Privada é aquela em que a iniciativa da propositura da ação é 
conferida à vítima. É certo que a peça inicial da ação se chama QUEIXA. 
Confira art. 145 1ª parte do CP “Nos crimes previstos neste Capítulo 
somente se procede mediante queixa, [...]”. 
A ação penal privada divide-se em: 
 EXCLUSIVA = A iniciativa da ação penal é da vítima. 
Se a vítima for criança, adolescente ou incapaz, a ação poderá ser proposta 
pelo representante legal. 
Na hipótese de morte da vítima, a ação poderá ser proposta por seus 
sucessores (cônjuge, companheiro, ascendente, descendente ou irmão - art. 31 do 
CPP). Se a vítima morrer quando a ação já estiver em andamento, estes (sucessores) 
poderão prosseguir com a ação. 
A ação privada deve ser intentada no prazo de seis meses, a contar da data 
em que o ofendido souber quem é o autor da infração penal - art. 38, CPP. Se nada for 
feito, ocorrerá a decadência=perda do direito de ação e extinção da punibilidade do 
autor do crime. 
 PERSONALÍSSIMA = A ação só pode ser proposta pela vítima. 
No caso de morte da vítima a ação NÃO PODERÁ ser proposta pelos 
sucessores. Se já tiver sido proposta ação, esta será extinta na data do falecimento da 
vítima.(Confira art. 236, parágrafo único do CP). 
 SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA = Nos casos em que a ação penal 
seja de iniciativa pública e o Estado, através do Ministério Público, 
não intenta a ação penal no prazo legal (cinco dias, em caso de 
indiciado preso e quinze dias, se estiver solto ou afiançado, 
conformeart. 46, CPP), o ofendido ou seu representante legal 
poderão SUBSIDIARIAMENTE, ajuizá-la. (Confira art. 5º, LIX, da 
CF; art. 29, do CPP e art. 100, § 3º, do CP). 
 
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM 
 
 
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A existência da ação penal privada susidiária da pública constitui garantia 
constituicional do ofendido contra possível desídia ou arbitrairedade do Estado 
(representado pelo MP). 
Esta deve ser ajuizada no prazo máximo de seis meses (art. 38, parte final, 
CPP); se não o fizer, cabe apenas ao MP promovê-la, desde que a punibilidade não 
esteja extinta pelo decurso do prazo prescricional (art. 109 do CP). 
 Exercícios: 
Assinale a alternativa correta. 
Maria compareceu perante a autoridade policial, para comunicar que seu marido 
praticou conjunção carnal com a filha de ambos, a qual soma nove anos de idade. 
Os três constituem uma família muito pobre. Do ponto de vista jurídico, a 
autoridade policial poderá: 
(A) colher a comunicação de Maria como representação, reduzindo-a a termo e 
instaurando o devido inquérito policial, por ser tratar de crime de ação penal pública 
condicionado à representação. 
(B) não instaurar inquérito policial, por ser tratar de um problema de família, e 
apenas encaminhar as partes à Vara de Família ou da Infância e Juventude, 
conforme o caso concreto. 
(C) orientar Maria a fazer o requerimento para instauração de inquérito policial e, 
oportunamente, a oferecer queixa-crime perante o juiz, por se tratar de ação penal 
privada. 
(D) instaurar o inquérito policial independente de representação ou requerimento de 
Maria, por ser tratar de crime de ação penal pública incondicionada.LEGISLAÇÃO PENAL COMUM 
 
 
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 Aula 5 – (Continuação). 
 
O Código Penal brasileiro, instituído pelo Decreto-lei nº 2.848, de 7 de 
dezembro de 1940, entrou em vigor no dia 1º de janeiro de 1942 e está dividido em 
duas partes distintas: a parte geral (art. 1º ao 120°) e a parte especial (art. 121° ao 361°). 
Na primeira delas, estão previstas as regras aplicáveis a todos os crimes tratados na 
parte especial. Na segunda parte, encontram-se os crimes em espécie – art. 121° ao 359° 
-, cujo desenvolvimento se dá através da definição dos crimes, com suas respectivas 
sanções. 
Como aqui se trata de uma apostila, abordaremos somente os tipos penais 
mais importantes e com maior incidência nos dias atuais. Os temas são indicados, não 
havendo, diante disto, a intenção de esgotar lhes o conteúdo. O presente trabalho 
objetiva unicamente constituir-se em um instrumento que propicie uma abertura para 
questionamentos e discussões. 
Vamos aos crimes: 
1. Homicídio 
 
Tipo penal (art. 121): matar alguém. Pena: reclusão de seis a vinte anos. 
Bem jurídico: vida humana. 
Sujeito ativo: qualquer pessoa. 
Sujeito passivo: qualquer ser humano com vida. 
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Tipo objetivo: matar alguém (outro ser humano) por qualquer meio. 
Admite-se o recurso a meios variados - diretos ou indiretos físicos ou morais -, desde 
que idôneos à produção do resultado morte. 
Tipo subjetivo: dolo, direto ou eventual. 
Consumação e tentativa: consuma-se com a morte da vítima; a tentativa, 
neste caso, é admissível. 
 Homicídio privilegiado: ocorre quando o agente comete o crime 
impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o 
domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação 
da vítima (art. 121, § 1°, CP). 
 Homicídio qualificado: verifica-se quando cometido (art. 121, § 2°, 
CP): 
I - mediante paga ou promessa de recompensa ou por outro motivo torpe; 
II - por motivo fútil (que é a desproporção entre a causa e o resultado). 
Exemplo: o sujeito A dirigindo seu veículo, colide com a traseira do veículo conduzido 
por B, e este, enfurecido com o pequeno dano sofrido, acaba por matar A; 
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, através de asfixia, tortura ou 
outro meio insidioso ou cruel ou de que possa resultar perigo comum (exemplo: colocar 
em risco a vida ou integridade física de diversas pessoas); 
IV - à traição, de emboscada ou mediante dissimulação ou outro recurso que 
dificulte ou torne impossível à defesa do ofendido; 
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou a vantagem de 
outro crime. 
 Homicídio culposo: a produção do resultado (morte) decorre da 
inobservância, pelo agente, do cuidado objetivamente devido, da 
diligência indispensável em face das circunstâncias, agindo, diante 
disto, com imprudência, negligência ou imperícia (art. 121, § 3°, 
CP). 
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM 
 
 
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Exercícios: 
 
Sérvulo, perigoso assaltante, vendo-se cercado por vários policiais, dispara sua arma 
de fogo contra um deles. Esse policial porta, entretanto, em um dos bolsos da 
camisa, o seu distintivo da polícia, em consequência do qual não sofre qualquer 
lesão. Restringindo-se, exclusivamente, à conduta descrita, o marginal deverá 
responder: 
(A) Por periclitação de vida. 
(B) Por crime de disparo de arma de fogo. 
(C) Por tentativa de homicídio. 
(D) Por crime impossível. 
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM 
 
 
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2. Infanticídio 
 
Tipo Penal: (art. 123): matar, sob influência do estado puerperal, o próprio 
filho, durante o parto ou logo após. Pena: reclusão, de dois a seis anos. 
Bem jurídico: vida humana. 
Sujeito ativo: somente a mãe. 
Sujeito passivo: o ser humano nascente ou recém-nascido. 
Tipo objetivo: matar, sob influência do estado puerperal (critério 
fisiopsíquico), o próprio filho, durante o parto ou logo após (elemento normativo). 
Obs.: Indispensável à prova pericial da vida extrauterina. 
Tipo subjetivo: dolo, direto ou eventual. 
Consumação e tentativa: consuma-se com a morte do filho nascente ou 
recém- nascido; a tentativa, neste caso, é admissível. 
Observação: Estado puerperal: Puerpério é o período que vai do 
deslocamento e expulsão da placenta até a volta do organismo materno às condições 
pré-gravídicas. Sua duração é variável. A mulher, mentalmente sadia, mas abalada pela 
dor física do fenômeno obstétrico, fatigada, enervada, sacudida pela emoção, vem a 
sofrer um colapso do senso moral, uma liberação de impulsos maldosos, chegando a 
matar o próprio filho. 
3. Aborto 
 
É a interrupção da gravidez fisiológica, com a consequente morte do ovo, 
embrião ou feto, com ou sem a expulsão do concepto. 
Tipo penal (art. 124): provocar aborto em si mesma ou consentir que 
outrem lho provoque. Pena: detenção, de um a três anos. 
Bem jurídico: vida humana intrauterina. 
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM 
 
 
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Sujeito ativo: no autoaborto, a própria gestante. Nas demais modalidades, 
qualquer pessoa. 
Sujeito passivo: o ser humano em formação. No aborto não consentido e no 
aborto qualificado pelo resultado, a gestante também poderá figurar como vítima do 
delito. 
Tipo objetivo: provocar aborto - morte do nascituro no útero materno ou 
fora deste - pelas manobras abortivas ou pelo estágio de sua evolução. 
Objeto material: é o produto vivo da concepção, em qualquer fase de seu 
desenvolvimento. O termo inicial para a prática do delito é o início da gravidez 
(nidação) e o termo final, o início do parto. A gravidez deve ser normal. Indiferente o 
meio executivo empregado, desde que idôneo. 
Tipo subjetivo: dolo, direto ou eventual. 
Consumação e tentativa: consuma-se com a morte do produto da 
concepção. Prescindível sua expulsão. A tentativa, neste caso, é admissível. 
Espécies de aborto: 
 Autoaborto: provocar aborto em si mesma (art. 124, CP). 
 Aborto consentido: consentir que outrem lho provoque (art. 124, 
CP). 
 Aborto provocado por terceiro: sem o consentimento da gestante 
(art. 125, do CP) ou com o seu consentimento (art. 126, CP). 
 Aborto qualificado pelo resultado: se, em consequência do aborto 
praticado com ou sem o consentimento da gestante ou devido aos 
meios empregados para provocá-lo, aquela sofre lesão corporal 
grave ou lhe sobrevém a morte (art. 127, CP). 
 Aborto necessário ou terapêutico: praticado por médico, se não há 
outro meio de salvar a vida da gestante - estado de necessidade 
justificante (art. 128, I, CP). 
 Aborto sentimental ou humanitário: praticado por médico, se a 
gravidez resulta de estupro. Deve ser precedido de consentimento da 
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM 
 
 
42 | P á g i n a 
 
gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal - estado de 
necessidade exculpante (art. 128, II, CP). 
 Aborto eugenésico: realizado quando existirem riscos fundados de 
que o produto da concepção será portador de graves anomalias 
genéticas de qualquer natureza ou de outros defeitos físicos ou 
psíquicos decorrentes da gravidez (aborto excludente de 
culpabilidade). 
 
4. Lesão Corporal 
 
Tipo penal (art. 129): ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem. 
Pena: reclusão, de três meses a um ano. 
Bem jurídico: incolumidade física e psíquica do ser humano. 
Sujeito ativo: qualquer pessoa. 
Sujeito passivo: qualquer ser humano vivo, a partir do início do parto. 
Tipo objetivo: ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem. Lesão 
corporal é a alteração prejudicial - anatômica ou funcional, física ou psíquica, local ou 
generalizada - produzida, por qualquer meio, no organismo alheio. 
Tipo subjetivo: dolo, direto ou eventual. 
Consumação e tentativa: consuma-se com a efetiva ofensa à integridade 
corporal ou à saúde de outrem. A tentativa, neste caso, é admissível, salvo nas 
hipóteses previstasno art. 129, parágrafos 1°, II, 2°, V, 3° (lesão corporal seguida de 
morte) e 6° do CP (lesão corporal culposa). 
Apenas a mulher grávida pode ser sujeito passivo das lesões previstas no 
artigo 129, parágrafos 1°, IV, e 2°, V do CP. 
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM 
 
 
43 | P á g i n a 
 
 
Espécies de lesão corporal: 
 Lesão corporal leve ou simples: compreende os danos à 
incolumidade física ou psíquica que, por exclusão, não integram as 
hipóteses previstas como lesões graves e gravíssimas. 
 Lesão corporal grave: se da ofensa à integridade corporal ou à 
saúde de outrem resulta (art. 129, § 1°, CP): 
a) Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias; 
b) Perigo de vida; 
c) Debilidade permanente de membro, sentido ou função; 
d) aceleração de parto. 
 Lesão corporal gravíssima: se da ofensa à integridade corporal ou à 
saúde de outrem resulta (art. 129, § 2°, CP): 
a) Incapacidade permanente para o trabalho; 
b) Enfermidade incurável; 
c) Perda ou inutilização de membro, sentido ou função; 
d) Deformidade permanente; 
e) Aborto. 
 Lesão corporal seguida de morte: se da ofensa à integridade 
corporal ou à saúde resulta morte e as circunstâncias evidenciam que 
o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo. É 
um misto de dolo (antecedente) e culpa (consequente). 
 
 Lesão corporal culposa: a produção do resultado material externo 
(ofensa à integridade corporal ou à saúde de outrem), não querido 
pelo agente, decorre da inobservância de dever objetivo de cuidado. 
 
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM 
 
 
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 Violência doméstica: se a lesão for praticada contra ascendente, 
descendente, irmão, cônjuge ou companheiro ou com quem conviva 
ou tenha convivido o agressor ou, ainda, prevalecendo-se o agente 
das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade. 
 
a) Causas de diminuição de pena: se o agente comete o crime impelido 
por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, 
logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto 
a um terço (art. 129, § 4°, CP). 
b) Causas de aumento de pena: culposa a lesão, a pena aumenta-se de um 
terço, se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício ou 
se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as 
consequências do seu ato ou foge para evitar prisão em flagrante. Dolosa a lesão 
corporal, a pena é igualmente aumentada de um terço, se o crime é praticado contra 
pessoa menor de quatorze anos ou maior de sessenta anos (art. 129, § 7°, CP). 
Nos casos previstos nos parágrafos 1° e 3° do artigo 129 do CP, se as 
circunstâncias são as indicadas no parágrafo 9° deste artigo, aumenta-se a pena em um 
terço (art. 129, § 10, CP). 
4.1. Calúnia 
 
Tipo penal (art. 138): Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato 
definido como crime. Pena: reclusão, de seis meses a dois anos, e multa. 
Bem jurídico: a honra. 
Sujeito ativo: qualquer pessoa. 
Sujeito passivo: apenas a pessoa física, inclusive os inimputáveis e 
desonrados. 
Tipo subjetivo: o dolo, direto (art. 138, caput e § 1°, CP) ou eventual (art. 
138, § 1°, CP), além do propósito de ofender (elemento subjetivo especial do tipo). 
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM 
 
 
45 | P á g i n a 
 
Consumação e tentativa: consuma-se com o conhecimento da imputação 
falsa por terceira pessoa. A tentativa, neste caso, é inadmissível, salvo se a calúnia é 
feita por escrito. 
Retratação: o querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da 
calúnia fica isento de pena (art. 143, CP). A retratação - completa e incondicional - pode 
ser feita pelo próprio ofensor ou por seu procurador com poderes especiais até a 
publicação da sentença, extinguindo a punibilidade (art. 107,VI, CP). 
Pedido de explicações: se de referências, alusões ou frases se infere 
calúnia, quem se julga ofendido pode pedir explicações em juízo. Aquele que se recusa 
a dá-las ou, a critério do juiz, não as dá satisfatórias, responde pela ofensa (art. 144, 
CP). 
Causa de aumento de pena: as penas aumentam-se de um terço, se a 
calúnia é cometida contra o Presidente da República ou contra chefe de governo 
estrangeiro; contra funcionário público, em razão de suas funções; na presença de várias 
pessoas ou por meio que facilite a divulgação da calúnia; contra pessoa maior de 
sessenta anos ou portadora de deficiência (art. 141, I a IV, CP). Se o crime é cometido 
mediante paga ou promessa de recompensa, aplica-se a pena em dobro (art. 141, 
parágrafo único, CP). 
Na calúnia irrogada contra os mortos, são sujeitos passivos seus cônjuges, 
ascendentes, descendentes ou irmãos. 
A falsidade exigida pode referir-se tanto ao próprio fato como à sua autoria. 
O fato imputado deve ser definido como crime e ser determinado. Na mesma pena 
incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala, propaga, espalha ou divulga - a 
torna pública ou notória (art. 138, § 1°, CP). 
Admitem-se vários meios de execução (palavras, escritos, desenhos, gestos 
etc). É prescindível que a imputação ocorra na presença do ofendido. É punível a 
calúnia contra os mortos (art. 138, § 2°, CP). 
 
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM 
 
 
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4.2. Difamação 
 
Tipo penal (art. 139):difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua 
reputação. Pena: detenção, de três meses a um ano, e multa. 
Bem jurídico: a honra. 
Sujeito ativo: qualquer pessoa. 
Sujeito passivo: a pessoa física, inclusive os inimputáveis e desonrados, ou 
jurídica. Não é punível a difamação contra os mortos. 
Tipo objetivo: difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua 
reputação. A difamação não está condicionada à falsidade da imputação e não pode 
versar sobre fato definido como crime. O fato ofensivo à reputação da vítima deve ser 
determinado. Admitem-se vários meios de execução (palavras, gestos, canções, escritos, 
desenhos etc). 
Tipo subjetivo: dolo - direto ou eventual - e o propósito de ofender - 
elemento subjetivo especial do tipo. 
Consumação e tentativa: consuma-se com o conhecimento da imputação 
ofensiva por terceira pessoa. A tentativa, neste caso, é inadmissível, salvo se a 
difamação for feita por escrito. 
Exclusão do crime: não constituem difamação, pela exclusão da tipicidade 
(art.142, CP): 
1) A ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu 
procurador; 
2) A opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo 
quando inequívoca a intenção de difamar; 
3) O conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação 
ou informação que preste no cumprimento de dever do ofício. Na primeira e terceira 
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM 
 
 
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hipóteses, responde pela difamação quem lhe dá publicidade (art. 142, parágrafo único, 
CP). 
Retratação: o querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da 
difamação, fica isento de pena (art. 143, CP). A retratação - completa e incondicional - 
pode ser feita pelo próprio ofensor ou por seu procurador com poderes especiais até a 
publicação da sentença, extinguindo a punibilidade (art. 107,VI, CP). 
Pedido de explicações: se, de referências, alusões ou frases, se infere 
difamação, quem se julga ofendido pode pedir explicações em juízo. Aquele que se 
recusa a dá-Ias ou, a critério do juiz, não as dá satisfatórias, responde pela ofensa (art. 
144, CP). 
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM 
 
 
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 Aula 6 – Crimes em Espécie (Continuação). 
 
1. Injúria 
 
Tipo penal (art. 140): injuriar alguém, ofendendo lhe a dignidade ou o 
decoro. Pena: detenção, de um a seis meses, ou multa. 
Bem jurídico: a honra. 
Sujeito ativo: qualquer pessoa. 
Sujeito passivo: apenas as pessoas físicas, inclusive os inimputáveis, se 
podem perceber o caráter ultrajante da palavra ou gesto que lhe são endereçados. Não é 
punível a injúria contra

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