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Resumo D Civil I - DOS BENS

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DOS BENS (art. 79/103 CC) 
1) INTRODUÇÃO 
O Código Civil iniciou tratando-se das pessoas naturais e jurídicas como titulares de direito. A partir do art. 
79 passou a tratar dos bens como objeto de direitos. 
 Filosoficamente falando coisas são tudo aquilo que existem no universo. Já bens são aquelas coisas que 
despertam interesse no homem e, em razão disso, ele estende sobre a mesma o seu poder de domínio (propriedade). 
Os bens são suscetíveis de apreciação econômica (bens têm valor). 
 O Código Civil ora utiliza a expressão coisas, ora utiliza a expressão bens, como sinônimas, ou seja, para 
designar aquilo que é objeto de direitos. 
 Bens são aquilo sobre os quais o homem estendeu o seu poder de domínio (propriedade), no entanto existem 
coisas que ainda não estão sob o poder de domínio do homem. São elas: 
A) Res Nullius (coisa de ninguém): são aquelas coisas que nunca foram objetos de apossamento pelo 
homem (ex.: objeto de caça; a pesca; areia da praia) 
B) Res Derelicta (coisa abandonada): são aquelas coisas que o seu dono se desfez da mesma com a intenção 
de não a ter mais para si. 
Quem se apossa da res nullius ou da res derelicta não comete qualquer ilícito de natureza civil ou penal. 
OBS: Res Desperdicta (coisa perdida): trata-se daquela coisa que o seu proprietário perdeu o contato físico 
com a mesma, e ele não sabe da sua localização. Quem se apossa da res desperdicta comete o ilícito civil esbulho 
possessório e o ilícito penal tipificado como apropriação de coisa achada (art. 169 inc. II CP). 
 
2) BENS CORPÓREOS E INCORPÓREOS 
 Corpóreos são aqueles bens que possuem existência física, material. São tangíveis pelo homem. 
 Incorpóreos são aqueles bens que não possuem existência física, não são tangíveis pelo homem, no entanto 
podem ser objeto de relações jurídicas (contratos), bem como são de elevado valor. Ex.: marca de um produto, nome 
de uma empresa, direito autoral, etc). 
 
3) CLASSIFICAÇÃO 
 A classificação dos bens é muito importante para que se possa saber qual deve ser a legislação que se aplica 
aos mesmos. Nesse contexto o código civil classificou os bens em. 
 3.1) Bens Considerados em Si Mesmos 
 Nesta classificação o legislador fez uma análise individual do bem e concluiu que eles podem ser. 
a. Bens Imóveis e Bens Móveis; 
b. Bens Fungíveis e Bens Infungíveis; 
c. Bens Consumíveis e Bens Inconsumíveis; 
d. Bens Divisíveis e Bens Indivisíveis 
e. Bens Singulares e Bens Coletivos. 
 
 3.2) Bens Reciprocamente Considerados: 
 Neste caso, o legislador analisou o bem comparando com outro bem (Análise Comparativa), chegando a 
conclusão que eles podem ser: Bens Principais; Bens Acessórios; 
 
 3.3) Bens em Relação ao Titular do Domínio: 
 Nesta classificação o legislador se importou com a propriedade do bem, qualificando-o em: Bens 
Particulares/Privados; Bens Públicos; 
 
EXPLICANDO 
 3.1) Bens Considerados em Si Mesmos: 
 A) Bens Imóveis e Bens Móveis (art. 79/84) 
 A.1) Diferenças entre Bens Imóveis e Bens Móveis/Importância do tema: 
 Os Bens Imóveis somente podem ser alienados por contrato escrito e através de instrumento público. 
Já os Bens Móveis podem ser alienados através de contrato celebrado na forma verbal ou na forma escrita. 
 A propriedade de Bens Imóveis somente pode ser transferida com o registro do título aquisitivo no 
cartório de registro de imóveis. Já a propriedade dos Bens Móveis se transfere pela simples tradição (entrega) (art. 
108,1.226 e 1.227). 
 A alienação onerosa de um Bem Imóvel constitui fato gerador de ITBI (imposto de transmissão de bens 
imóveis) de competência dos Municípios. 
 
 
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 Já a alienação de um Bem Móvel é fato gerador, em regra, de ICMS (imposto sobre circulação de 
mercadorias e serviços) de competência dos Estados membros. 
 A alienação de Bem Imóvel exige a autorização do outro cônjuge (outorga uxória ou ortiga marital se for 
do esposo), salvo se forem casados pelo regime da separação de bens. Já a alienação de Bem Móvel não exige a 
concordância do outro cônjuge. 
 A aquisição de Bens Imóveis pela usucapião exige prazos mais longos, de 5, 10 ou 15 anos. Já a aquisição 
de Bens Móveis pela usucapião exige prazos de 3 ou 5 anos. (art. 183 e 191, C.F. 88. Combinado com art. 1.238, 1.239, 
1.240, 1.242, 1.260 e 1.261, C.C.). 
 OBS: A Usucapião vem do Latim que significa tomar “capio" pelo uso “usu”. Significa que a posso 
prolongada de um bem, móvel ou imóvel, pelo prazo previsto na lei, sem oposição do proprietário, permite que o 
possuidor usucapiente adquira a propriedade do bem. 
 
 A.2) Bens Imóveis 
 No Código Civil de 1916, bens imóveis eram somente aqueles que não podiam ser removidos de um local para 
outro sem a destruição de sua substância. Este conceito não se aplica ao Código Civil de 2002 posto que, uma casa 
pré-fabricada que for levantada e movida para um outro local e ali assentada não perde a natureza de bem imóvel 
(Art. 81 CC). 
 Para o Código Civil e para a Doutrina, os bens imóveis podem ser: 
I) Bem imóvel por natureza: é o solo (art. 79 1ª parte CC). Nos termos do art. 1229 a propriedade 
do solo também abrange o subsolo e o espaço aéreo correspondente, a uma profundidade ou 
altitude que seja útil ao proprietário do solo. Pode-se afirmar que neste artigo o legislador 
adotou o “critério da utilidade”. 
 O legislador também retirou da propriedade dos solos as jazidas e os recursos minerais, os 
potenciais de energia hidráulica e os sítios arqueológicos, atribuindo à União a propriedade 
destes bens (art. 176 CF/88 cc art. 1230 CC). 
II) Bens Imóveis por Acessão Natural (art. 79 2ª parte do CC): acessão significa a aderência de uma 
coisa na outra, a justaposição. Portanto, considera-se imóvel por acessão natural tudo aquilo 
que for aderindo ao solo por força da natureza, tais como: a semente que cai na terra; as 
plantações que forem aderindo ao solo naturalmente; as ilhas que se formarem no leito do rio; 
o álveo abandonado etc. (art. 1248 CC) 
III) Bens Imóveis por Acessão Artificial ou Industrial (art. 79 2ª parte do CC): são aqueles que vão 
aderindo ao solo por força da ação do homem, tais como: as plantações; as construções etc. 
OBS: 
 • as árvores plantadas com a finalidade de corte não perdem a natureza de bem móvel (por 
antecipação). 
 • as edificações levantadas do solo e removidas para o outro local e ali novamente 
incorporadas ao solo não perdem a natureza de bem imóvel. 
 • os materiais de construção separados do solo para nele ser novamente reempregado não 
perdem a natureza de bem imóvel. 
OBS: os bens arrolados no art. 81 são fisicamente móveis, no entanto, são considerados pela lei 
(juridicamente) como bens imóveis. Para fins de furto “coisa móvel”, o legislador penal levou 
em consideração a mobilidade física da coisa, independentemente dela ser considerada pela lei 
como imóvel. 
IV) Bens Imóveis com Determinação Legal (art. 83 CC) 
A) As energias que têm o valor econômico (inc. I do art. 83 CC): Reforçando o art. 83, inc. I, o 
CP tipifica o furto ou subtração de energia elétrica ou qualquer forma de energia (§3º art. 
155 CP) 
B) Os direitos reais sob bens móveis e as respectivas ações (ex.: penhor). 
C) Os direitos pessoas de caráter patrimonial e as respectivas ações (art. 83 inc. III) (ex.: 
contratos). 
V) Bens Móveis por Antecipação: segundo a doutrina as árvores e demais plantações incorporadas 
ao solo pelo homem com a finalidade de corte/poda futura são consideradas bens móveis “por 
antecipação”. 
OBS: O navio e a aeronave são considerados bens móveis propriamente ditos, no entanto eles 
podem ser objeto de hipoteca, ou seja, são considerados imóveis apenas para hipoteca. 
 
 
 
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 B) Bens Fungíveis e Bens Infungíveis (Art. 85 CC) 
 São Bens Fungíveis aqueles que podem ser substituídos por outros de mesma espécie, qualidade e quantidade. 
Bens Infungíveis são aqueles que não podem ser substituídos, uma vez que os mesmos possuem características, 
qualidades que os tornam únicos. Dinheiro e o bem maisfungível. 
 B.1) Importância do tema 
 I) Contratos: No contrato de empréstimo se o bem emprestado for fungível, tem-se um contrato de 
empréstimo na modalidade de mútuo (Pego uma garrafa de vinho de um amigo, quando eu devolver devolvo outra 
e não a mesma). Por outro lado, se o bem emprestado for infungível, tem-se um contrato de empréstimo na 
modalidade de comodato (art. 579/792 CC) – pego emprestado o carro de um amigo, devo devolver o mesmo carro. 
 OBS: o contrato de empréstimo, seja ele de mútuo ou comodato, é gratuito. No entanto, se o bem emprestado 
for dinheiro e o mutuante estiver cobrando juros, tem-se um contrato de mútuo feneratício. 
 
 II) Obrigações: As obrigações fungíveis são aquelas impessoais, ou seja, podem ser executadas/cumpridas por 
qualquer pessoa. Ex.: pintar uma parede; limpar uma casa; concertar um veículo, etc.). Obrigações infungíveis, são 
aquelas que somente podem ser executadas pelo contratado, também são conhecidas como obrigações 
personalíssimas (intuito personae – show com artista famoso). 
 OBS: o contrato de trabalho é impessoal para o empregador, no entanto, ele é personalíssimo (intuito 
personae) para o empregado/trabalhador. 
 
 III) Fungibilidade das ações possessórias (são fungíveis entre si): se a pessoa invade bem alheio, tomando-lhe 
a posse, ela comete esbulho possessório e o proprietário deverá ajuizar uma ação judicial de reintegração de posse. 
Se a pessoa ameaçar a posse de outrem sem que haja a perda da posse, ela estará praticando turbação da posse e a 
ação judicial a ser ajuizada pela vítima denomina-se ação de manutenção de posse. Por derradeiro, se a pessoa apenas 
ameaçar, mas não praticar qualquer ato de violência a posse de outrem (esbulho ou turbação), a vítima deverá ajuizar 
ação de interdito proibitório. 
 As ações possessórias são fungíveis entre si, de forma que se a parte ajuizar uma determinada ação possessória 
(reintegração de posse, manutenção de posse ou interdito proibitório) e o juiz entender que para o caso é cabível 
uma outra ação possessória, ele não poderá extinguir o processo, mas deverá receber a ação da parte como sendo 
aquela que ele, juiz, entende cabível para o caso. 
 
 IV) Fungibilidade dos recursos: quando houver dúvidas razoáveis na doutrina e na jurisprudência sobre qual 
recurso é cabível para o caso, a parte poderá interpor o recurso que ela entende e, se o tribunal entender que a 
decisão deveria ser impugnada por um outro recurso, o tribunal deve aplicar o princípio da fungibilidade dos recursos 
e receber o recurso da parte como sendo aquele que o tribunal entende ser o adequado para o caso. 
 
 C) Bens Consumíveis e Bens Inconsumíveis (art. 86 CC) 
 São consumíveis os bens cujo uso importa na destruição imediata de sua substância (consuntibilidade fática), 
bem como aqueles bens destinados a alienação (consuntibilidade jurídica). Os bens inconsumíveis são opostos ao 
consumível, são aqueles usados várias vezes. 
 Ex.: gêneros alimentícios, combustíveis, etc. 
 
 C.1) Importância do tema 
 O CDC em seu artigo 26 dispõem que, o consumidor tem o prazo de 30 dias para reclamar sobre defeitos em 
produtos não duráveis; e o prazo de 90 dias para reclamar sobre defeitos em bens duráveis. 
 Por bens não duráveis, entenda-se bens consumíveis, e bens duráveis, bens inconsumíveis 
 
 D) Bens Divisíveis e Bens Indivisíveis (art. 87 e 88 CC) 
 Divisíveis são aqueles bens que podem ser fracionados e, cada nova fração forma um todo perfeito, ou seja, 
são aqueles bens que podem ser fracionados se que haja a alteração de sua substância, de sua destinação, ou a 
redução substancial de seu valor. 
 O art. 88 do CC dispõe que a indivisibilidade do bem pode decorrer: 
 I) Da natureza do bem: neste caso o bem é naturalmente indivisível. Ex.: cavalo; carro; cadeira; peças 
de roupa. 
 
 II) Por força da lei: neste caso, o bem é naturalmente divisível, no entanto, a lei proíbe a sua 
divisão/fracionamento. Ex.: um terreno urbano pode ser fracionado até a metragem mínima de 125 m2 de área, com 
 
 
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no mínimo 5 m de frente para a via pública, sendo que a partir dessa metragem ele se torna indivisível por 
determinação da lei de loteamento (lei 6.766/79); a área rural é bem naturalmente divisível, no entanto, as novas 
frações não poderão ter área inferior a 1 módulo rural. 
 
 III) Pela vontade das partes: neste caso, o bem é naturalmente divisível e não existe lei que proíbe a sua 
divisão, no entanto, através de contrato ou de um testamento as partes tornam esse bem indivisível. 
 
 D.1) Importância do Tema 
 I) Na extinção do condomínio, se o bem for divisível, cada condômino receberá a sua fração do bem, por outro 
lado, se o bem for indivisível, ele deverá ser alienado e o valor obtido com a sua venda deverá ser dividido entre os 
condôminos. 
 Ressalta-se que, na alienação o condômino tem direito de preferência/preempção na aquisição do bem. 
 
 II) No direito obrigacional, se o bem for divisível, cada devedor somente é obrigado a pagar a sua cota parte do 
bem, por outro lado, se o bem for indivisível, o credor poderá exigi-lo de qualquer devedor e, o devedor que entrega-
lo ao credor poderá exigir dos demais devedores a cota parte de cada um deles em dinheiro. 
 
 
 E) Bens Singulares e Bens Coletivos (art. 89/91 CC) 
 Bens singulares são aqueles que embora se encontrem reunidos a outros bens, eles conservam a sua 
individualidade. Ex.: livro; animais; árvores; bens móveis... 
 Bens coletivos são aqueles que resultam do agrupamento de vários bens individuais, agrupamento esse que se 
caracteriza em um bem coletivo. Ex.: biblioteca; rebanho; florestas – coletividade de bens de fato – herança; fundo 
de comércio; massa falida – coletividade de bens jurídicos. 
 O bem coletivo ou universalidade de bens pode ser de fato que é o bem coletivo que resulta do agrupamento 
de vários bens de mesma natureza, pertencente ao mesmo proprietário. Ex.: biblioteca; rebanho; floresta, etc. 
Também pode ser de direito/jurídico que é aquele que resulta do agrupamento de vários bens de espécies diferentes 
pertencentes ao mesmo proprietário. Ex.: massa falida; herança; fundo de comércio, etc. 
 
 E.1) Importância do Tema 
 A importância dessa matéria resulta que os bens, tanto na forma singular quanto na forma coletiva, podem ser 
objetos de relações jurídicas (contratos). 
 
3.2) Dos Bens Reciprocamente Considerados (art. 92/97 CC): 
 Nesta classificação, o legislador fez uma análise comparativa entre os bens, chegando à conclusão que eles 
podem ser (art. 92 do CC): 
I) Bens Principais: aqueles que existem por si só, independentemente da existência de outro bem. 
II) Bens Acessórios: aqueles cuja existência depende da existência de um outro bem. Ex.: a árvore é 
bem acessório se comparada com o solo, no entanto ela é principal se comparada com os frutos 
que ela produz. 
 A condição (no sentido de situação, daquele momento) de principal e acessório também se aplica às relações 
jurídicas. Ex.: o contrato de mútuo é principal, sendo que o contrato de fiança acessório; O contrato de aluguel é 
principal enquanto a fiança é acessório. 
 
 3.2.1) Importância do Tema 
 I) A natureza jurídica do bem acessório deve ser a mesma do bem principal; 
 II) O acessório segue o mesmo destino do principal. Ex.: se por qualquer razão o principal for extinto 
(pagamento, nulidade, prescrição, etc), o acessório também estará extinto; 
 III) O proprietário do principal, até prova em contrário, presume também ser o proprietário dos 
acessórios. Ex.: o proprietário do imóvel também presume ser proprietário dos imóveis que ali estão. 
 
 3.2.2) Espécies de Bens Acessórios do CC 
 I) Produtos (art. 95 do CC): são as utilidades que a coisa produz e, a sua extração provoca a redução da 
própria coisa/bem principal, ou seja, os produtos não se renovam. Ex.: extração de minério de uma mina; extração 
de pedras de uma pedreira. 
 
 
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 II) Frutos (art. 95 do CC): são as utilidades que a coisa produz e que se renovamperiodicamente, ou seja, 
a extração dos frutos em nada altera o bem principal. Os frutos podem ser Frutos Naturais que são aqueles produzidos 
pela força da natureza, tais como, a colheita, cria dos animais, o leite que o gado produz, etc.; Frutos Industriais que 
são aqueles que se originam em razão da atuação do homem sobre a matéria prima, transformando-a em uma nova 
utilidade, tal como a produção de uma fábrica. Frutos Civis são aqueles produzidos pela coisa (bem principal) em 
razão de sua utilização por outrem que não é o seu proprietário. Ex.: aluguéis (apartamento principal o aluguel é 
acessório); juros compensatórios. 
 O possuidor de boa fé tem direito de ficar com os frutos enquanto durar sua boa fé (devolve só a coisa 
os frutos permanecem). Já o possuidor de má fé tem que devolver o bem e todos os frutos que ela produziu, tendo 
direito apenas às despesas de custeio. 
 III) Pertenças (art. 93 do CC): são bens móveis que são adquiridos para serem usados em razão de um 
outro bem. Ex.: tratores e maquinários agrícolas adquiridos para uma fazenda; máquinas para uma indústria; cadeiras 
e mesas para a sala de aula, etc. 
 
 IV) Benfeitorias (art. 96 do CC): são os melhoramentos realizados pelo homem no bem. As benfeitorias 
podem ser: 
a. Necessárias: são aquelas realizadas para evitar que o bem se deteriore, se perca. Ex.: conserto 
de um telhado, conserto de um cano, pintura do imóvel, etc. 
 A doutrina entende que o pagamento do IPTU do imóvel é benfeitoria necessária. 
b. Úteis: são os melhoramentos realizados para facilitar/melhorar a utilização do bem. Ex.: 
construção de piscina na casa; construção de mais um banheiro; aumento da garagem. 
c. Voluptuárias: são os melhoramentos realizados para mero embelezando do bem, 
deleite/prazer de seu proprietário. 
 O possuidor de boa fé tem direito de ser indenizado pelas benfeitorias necessárias e úteis que ele tiver 
feito no bem, bem como terá o direito de levantar/retirar as benfeitorias voluptuárias. 
 Já o possuidor de má fé somente tem direito de ser indenizado pelas benfeitorias necessárias que ele 
realizar na coisa. 
 O locatário tem direito de ser indenizado pelas benfeitorias necessárias feitas no imóvel locado, já as 
benfeitorias úteis e voluptuárias, ele somente poderá realiza-las com a autorização do locador. 
 
 
 3.3) Bens considerados em relação aos titulares do domínio 
 Nesta classificação, o legislador analisou e classificou o bem segundo o seu proprietário, concluindo que 
eles podem ser: 
 I) Bens privados/particulares: o conceito de bens privados é obtido por exclusão, ou seja, de todos os 
bens existentes no Brasil retira-se aqueles que são públicos e os demais serão privados (art. 98 segunda parte CC) 
 II) Públicos: são os bens pertencentes as pessoas jurídicas de direito público (art. 98 primeira parte cc 
art. 41 do CC). Os bens públicos podem ser. 
a. De uso comum do povo: são aqueles nas quais as pessoas têm acesso livremente, ou seja, 
são abertos ao público. Ex.: praças; ruas; rodovias; bosques, praias, etc... 
 Embora os bens públicos sejam abertos, e em regra de uso gratuito, nada impede que o 
poder público cobre pela sua utilização (art. 103 CC). 
b. De uso especial: são aqueles bens públicos destinados ao uso do próprio poder público. 
Embora o cidadão possa ter acesso a esse bem, esse acesso não é livre. Ex.: repartição pública; 
escolas; hospitais; delegacias, etc. 
OBS: afetação – significa dizer que os bens de uso comum do povo e os bens de uso especial, 
possuem uma destinação/finalidade pública. 
 
III) Bens dominicais ou dominiais: são aqueles bens pertencentes ao poder público a título de direito 
real ou de direito pessoal. Estes bens não estão afetados, ou seja, não possuem 
finalidade/destinação pública. Ex.: bens recebidos em doações; bens decorrentes de herança 
jacente; demais bens que, por lei, perderam a finalidade pública, ou seja, foram desafetados. 
 
 
 3.3.1) Características dos bens públicos: 
 
 
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 I) Inalienabilidade: os bens públicos não podem ser alienados, posto que estão afetados a uma função 
pública (bens de uso comum do povo e bens de uso especial). Os bens dominicais que são públicos, mas não possuem 
finalidade pública, podem ser alienados desde que observados os seguintes requisitos: 
 a. haja lei autorizando alienação; 
 b. avaliação prévia; 
 c. processo de licitação. 
 
 II) Impenhorabilidade: os bens públicos não podem ser penhorados para pagamento de dívidas judiciais. 
Se isto ocorresse penhora de bens públicos, haveria a interrupção da prestação de serviços públicos ao cidadão. 
Portanto, em face do “princípio da continuidade dos serviços públicos”, os bens públicos são impenhoráveis. 
 As dívidas judiciais do poder públicos são quitadas através de precatórios (art. 100 da CF/88). 
 
 III) Imprescritibilidade: os bens públicos não podem ser adquiridos pela usucapião, ou seja, não 
prescreve. 
 
FATOS JURÍDICOS (art. 104/184 CC) 
1) Fatos 
 São todos os acontecimentos que ocorrem no mundo. Esses fatos podem ser naturais, decorrentes da 
natureza, ou seja, que ocorre naturalmente. Ex.: chuva; nascimento de uma pessoa; passar do tempo; morte. 
 Os fatos naturais podem ser ordinários, que são aqueles que ocorrem de forma comum, corriqueiramente. Ex.: 
chuva, nascimento, passar do tempo, etc. Também podem ser extraordinários que são aqueles eventos decorrentes 
da natureza, mas que são imprevisíveis. Ex.: terremotos, alagamentos, raios (força maior). 
 Se estes acontecimentos forem relevantes/ importantes para o direito, também são fatos jurídicos. 
 
1.2) Fatos Humanos 
 Os fatos jurídicos humanos são os acontecimentos que ocorrem em razão da vontade humana. 
a) Voluntários: são aqueles que decorrem da vontade humana e, os efeitos que eles produzem são 
desejados/ queridos pelas partes que os praticou. Estes fatos se dividem em: 
 a.1) Atos Jurídicos: são aqueles que decorrem da manifestação da vontade humana, cujos efeitos 
jurídicos que eles produzem são previstos na lei. Ex.: perdão; renúncia. 
 
 a.2) Negócios Jurídicos: são as manifestações de vontade das partes que tem por finalidade 
regulamentar relações jurídicas entre elas. Os efeitos dos negócios jurídicos são convencionados entre as 
próprias partes, ou seja, são elas que, através de sua manifestação de vontade, vão ditar/determinar quais 
serão os efeitos jurídico que o negócio jurídico celebrado entre elas irá produzir. Ex.: contratos (os negócios 
jurídicos têm conteúdo negocial). 
 
b) Involuntários: são aqueles fatos que decorrem da vontade humana, no entanto eles produzem efeitos 
jurídicos não desejados por quem os pratica. Ex.: responsabilidade penal que gera o dever de cumprir uma 
sanção penal (pena privativa de liberdade ou pecuniária), responsabilidade civil que fera o efeito/dever de 
indenizar o dano causado. 
 
2) Fatos Jurídicos 
2.1) Negócio Jurídico 
 São aqueles fatos jurídicos decorrentes da vontade humana, cujos efeitos jurídicos que eles irão produzir 
podem ser negociados entre as partes. 
 
2.2) Requisitos essenciais de validade dos negócios jurídicos (art. 104 CC) 
 Se o negócio jurídico não observar estes requisitos, ele será nulo de pleno direito (art. 166 CC). 
 São eles: 
a) Capacidade do agente: para que a pessoa possa celebrar validamente o negócio jurídico, ela precisa ter 
capacidade civil (de fato ou de exercício). Os absolutamente incapazes podem celebrar negócios jurídicos 
válidos, desde que estejam representados ou assistidos. 
 Os deficientes mentais são considerados pessoas capazes, no entanto, se o negócio jurídico por ele 
praticado tiver conteúdo patrimonial, ele deverá ser complementado (lei 13146/2015). 
 
 
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 As pessoas jurídicas também podem celebrar negócio jurídico desde que estejam representadas por 
quem o seu ato constitutivo designar. 
 
b) Objeto: deve ser lícito, ou seja, não pode contrariar a lei, a ordem pública e os bons costumes. Ex.: contrato 
de compra de substânciaentorpecente, prostituição, etc. 
 - Possibilidade do Objeto: o objeto do negócio jurídico deve ser possível de ser executado. Se houver 
impossibilidade física de executar esse objeto, o contrato será nulo. 
 A impossibilidade pode ser jurídica, ou seja, o objeto do negócio jurídico é lícito e há possibilidade física 
de executá-lo, no entanto a lei proíbe a celebração desse negócio jurídico. Ex.: contrato tendo por objeto herança de 
pessoa viva (art. 426 CC). 
 - Objeto determinado: o objeto do negócio jurídico deve ser individualizado (obrigação de dar coisa certa 
art. 233/242 CC) ou passivo de determinação, ou seja, o negócio jurídico deve conter elementos que possibilitem a 
identificação de seu objeto (obrigação de dar coisa incerta art. 243/246 CC). Ex.: o negócio jurídico deve no mínimo, 
indicar a espécie e qualidade e quantidade do objeto. 
 
c) Forma do Negócio Jurídico: quando se trata da forma, o negócio jurídico pode ser celebrado na forma 
expressa, verbal, na forma expressa, por escrito através de instrumento particular ou público. Também 
pode ser celebrado na forma tácita, ou seja, as partes não expressam a sua vontade, no entanto, elas 
praticam atos compatíveis com a vontade de contratar. 
 Regulamentando a forma do negócio jurídico, existem 2 princípios: 
 c.1) Princípio do consensualismo: segundo o qual o negócio jurídico é valido com o simples 
consentimento das partes, ou seja, é válido celebrado de forma livre (qualquer das formas). 
 c.2) Princípio do formalismo: segundo o qual o negócio jurídico somente será válido se observar a forma 
exigida, pela lei. 
 O ordenamento jurídico adota o princípio do consensualismo (forma livre na celebração do negócio 
jurídico) e, excepcionalmente, em algum poucos casos adota o princípio do formalismo (a lei exige que o 
NJ seja celebrado através de determinada forma). Ex.: contrato de seguro deve ser celebrado na forma 
escrita; contrato de compra e venda de bem imóvel deve ser celebrado por escrito através de instrumento 
público. 
 Se o NJ celebrado não observar os requisitos do art. 104, ele será nulo de pleno direito (art. 166 CC 
“nulidade absoluta”) devendo as partes retornar ao “status quo ante”. 
 
2.3) Defeitos dos Negócios Jurídicos 
 Ao lado dos requisitos essenciais do NJ, cuja violação leva à nulidade absoluta (art. 104 e 165 CC), existe os 
defeitos do NJ, cuja existência leva à nulidade do NJ (nulidade relativa). 
 São defeitos do NJ: 
 • Erro ou ignorância – comprou um quadro achando que era original. 
 • Dolo – induziu ao erro para o cliente comprar o falto. 
 • Coação – ameaça para fazer NJ. 
 • Estado de perigo; 
 • Lesão. 
 
 Estes defeitos atingem a manifestação de vontade da parte, ou seja, o seu consentimento razão pelo qual são 
denominados vícios de consentimento. 
 - Fraude contra credores: esse defeito não atinge a vontade, mas o próprio NJ, razão pela qual é 
denominado vício social. 
 
 
FRAUDE CONTRA CREDORES 
(art. 158 / 165 C.C.) 
 
1. Conceito 
 Trata-se de um defeito do negócio jurídico no qual o devedor insolvente ou por ele reduzido a insolvência, 
aliena de forma gratuita (doação) ou de forma onerosa (compra e venda), bens de seu patrimônio; faz remissão 
(perdão) de créditos; paga dívida não vencida; dá bens de seu patrimônio em garantia de dívidas; causando prejuízos 
aos demais credores quirografários (Art. 158/159, 162/163 CC). 
 
 
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 Os credores prejudicados por tais negócios jurídicos, poderão ajuizar ação judicial revogatória ou pauliana 
visando anular estes atos fraudulentos. 
 
• Elementos da fraude contra credores 
 a) Objetivo “eventus danni” 
 Trata-se do prejuízo que a fraude deve causar aos credores. Desta forma se o devedor alienar bens de seu 
patrimônio, mas reservar patrimônio suficiente para pagar suas dívidas não há fraude contra credores. 
 
 b) Subjetivo “consilium fraudis” 
 Trata-se do acordo fraudulento entre o devedor insolvente e a terceira pessoa que com ele celebra negócio 
jurídico. Na ação revocatória ou pauliana, os credores poderão comprovar o consilium fraudis demonstrando que a 
insolvência do devedor era notória (de conhecimento público), tais como que ele tinha vários títulos protestados, 
várias ações ajuizadas contra ele, que o devedor insolvente e a pessoa que lhe adquiriu bens eram parentes próximos 
(possuíam grau de parentesco) 
Por outro lado, se o negócio jurídico for gratuito (doação), o consilium fraudis é presumido. (Não precisa ser provado 
pelos credores). 
 
 2) Negócios Jurídicos que caracterizam fraude contra credores 
 a) Transmissão onerosa de bens (contrato de compra e venda) 
 b) Transmissão gratuita de bens (doação) 
 c) Pagamento antecipado de dívida não vencida 
 d) Remissão de créditos 
 e) Constituição de garantia de dívidas 
 Credores quirografários 
 
3) Ação Revogatório ou Pauliana 
3.1 Conceito 
 Trata-se de uma ação judicial ajuizada pelos credores para anular negócio jurídico celebrado pelo devedor com 
fraude a seus credores. 
 
3.2 Legitimidade ativa 
 Esta ação pode ser ajuizada pelo credor individualmente ou pelos credores em litisconsórcio ativo facultativo. 
os credores que podem ajuizar esta ação, são aqueles que possuem créditos representados por títulos de créditos 
desprovidos de garantias. São denominados quirografários, representados por cheque, nota promissória, duplicata, 
letra de câmbio, etc. 
 
3.3 Legitimidade passiva 
 Esta ação deve ser ajuizada obrigatoriamente contra o devedor e contra a pessoa que com ele celebrou o 
negócio jurídico, em litisconsórcio passivo necessário. Deve-se incluir e citar todas as pessoas que de alguma forma 
estão envolvidas no negócio jurídico fraudulento (art. 161CC). 
 
5) Fraude não ultimada (concluída) 
 O adquirente do bem do devedor insolvente poderá evitar a ação anulatória desde que ele faça o depósito 
judicial do valor do bem (art. 160 CC). 
 
6) Negócios Jurídicos Celebrados de Boa-fé pelo Devedor Insolente 
 Aqueles atos de vendas celebrados de forma ordinária, são considerados válidos, pois são realizados de boa-fé 
pelo devedor insolvente (art. 164 CC). 
 
7) Diferenças entre Fraude Contra Credores e Fraude a Execução 
 Na fraude contra credores e na fraude à execução o devedor aliena bem para evitar que os mesmos sejam 
penhorados para saldar suas dívidas (semelhança). 
Ocorre que, na fraude à execução, o devedor já é réu (executado) numa ação de execução; a alienação do bem, 
constitui atentado à dignidade do próprio Poder Judiciário; esta fraude pode ser alegada por simples petição no 
processo de execução; reconhecida a fraude o juiz torna ineficaz a alienação do bem apenas para o processo de 
execução, não aproveitando-nos demais credores. 
 
 
9 
 Na fraude contra credores, ainda não existe processo contra o devedor; a alienação do bem viola interesses 
privados dos credores; esta fraude somente pode ser alegada através de ação própria (ação revocatória ou pauliana). 
Se o juiz reconhecer a fraude, o negócio jurídico é anulado e o bem volta para o patrimônio do devedor permitindo 
que todos o credores possam penhorá-lo para satisfazer seus créditos. 
 Identificado que o negócio jurídico foi celebrado com qualquer dos vícios: erro ou ignorância, dolo, coação, 
estado de perigo, lesão ou fraude contra credores, o prejudicado deverá no prazo de 4 anos ajuizar a ação anulatória 
do negócio jurídico celebrado, buscando a sua anulação 
 
 
- Nulidade relativa do contrato – 4 anos para entrar com ação para anular, senão o contrato vale. 
- PETIÇÃO: fez de má fé, doou tudo para o sobrinho depois de comprar um monte de coisa, para quando cobrarem 
ele não ter patrimônio. Tem que anular a doação. 
- Se não tenho patrimônio a divida continua gravitando até chegar 5 anos e ela prescrever (lembrar: morte não 
extingue dívida) 
- Ação revocatória ou pauliana que busca revogar o negócio jurídico feito pelo credor insolvente – o credor 
prejudicado pelo devedor que faz. 
- Quem será réu (será arrolado) na ação pauliana?• Devedor insolvente. 
 • Todas as pessoas que participaram do negócio jurídico têm que ser réu, pois vão gerar efeitos para todos. 
- Fraude Contra Credores – instituto de direito civil – CC. Cidadão fez várias dívidas e ainda não tem ação ajuizada 
(processo de execução) contra ele. Viole interesse privado dos credores. 
- Fraude a Execução – instituto de processo civil – CPC. Cidadão já é réu numa ação de execução. Juiz não anula venda, 
só a torna ineficaz para determinado processo. 
 
DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO 
1 – INTRODUÇÃO (Art. 138/154 c/c 171 a 184) 
 Ao lado dos requisitos essenciais do negócio jurídico, (capacidade do agente, licitude do objeto, possibilidade, 
determinação ou possibilidade de determinação do objeto), cuja inexistência levam a nulidade absoluta do negócio 
jurídico (Art. 104 c/c 166/170 C.C.) existem os chamados defeitos do negócio jurídico (art. 138/154) que levam a 
anulabilidade/nulidade relativa do negócio jurídico (art. 171/184C.C) 
 Quando o defeito do negócio jurídico atingir o querer (vontade) da parte, são chamados vícios do 
consentimento (erro ou ignorância, dolo, coação, lesão e estado de perigo). 
 Por outro lado, se o defeito atingir o próprio negócio jurídico, o mesmo é chamado de vicio social (fraude contra 
credores) 
 A simulação também constitui em um vício social, no entanto, ela leva a nulidade absoluta do negócio jurídico 
(art. 167 CC). 
 
2 – ERRO OU IGNORÂNCIA 
 É a falsa da percepção de realidade. Ignorância é o completo desconhecimento da realidade. Tanto o erro como 
a ignorância levam a anulabilidade do negócio jurídico. No erro ou ignorância a pessoa se equivoca sozinha e acaba 
por celebrar um negócio jurídico que lhe é totalmente prejudicial. 
 Se a pessoa não estivesse agindo com erro ou ignorância ela não teria celebrado o negócio jurídico 
 A anulação de negócio jurídico por erro e ignorância, não é muito comum, uma vez que é difícil de se provar 
que a pessoa agiu em erro. 
 
2.1) Espécies de Erro 
I) Erro Acidental: É aquele erro irrelevante, ou seja, ainda que a pessoa soubesse que ela estava agindo por erro, 
ainda assim, ela teria celebrado o negócio jurídico, mas em condições menos desfavoráveis a ela. 
 
II) Erro Substancial ou essencial: É o erro relevante, importante. É a causa determinante da celebração do negócio 
jurídico, de forma que, se a parte soubesse da existência desse erro, ela não teria celebrado o negócio jurídico. 
 O art. 139, do Código Civil, descreve alguns casos de erro substancial. 
 a) Erro quanto a natureza do negócio jurídico: neste caso, a pessoa erra e acaba por celebrar um negócio 
jurídico diverso daquele que ela pretendia celebrar (art. 139, I, 1ª. Parte, CC). Ex.: Celebrar contrato de empreitada, 
supondo ser um de trabalho; celebrar contrato de locação supondo ser de comodato. 
 
 
10 
 b) Erro quanto a natureza do objeto: a pessoa acaba por adquirir determinado objeto supondo tratar-se de 
outro (art. 139, I 2ª. Parte CC). Ex.: Comprar bijuteria supondo tratar-se de joia; comprar uma gravura supondo tratar-
se do quadro original, etc. 
 c) Erro quanto a identidade da pessoa: nesse caso, o erro recai sobre uma das pessoas que participa do negócio 
jurídico (art. 139, II, CC). O agente faz uma doação a uma pessoa supondo que é seu parente. 
 d) Erro de direito: Neste caso, a pessoa conhece a lei, mas faz interpretação errônea, equivocada dessa lei e 
acaba por celebrar negócio jurídico que lhe é prejudicial. Ex. pessoa interpretando errado a lei de porte de armas, 
compra para comércio arma de brinquedo (similar a arma real) supondo que isto não é proibido. 
 Erro de direito é diferente do desconhecimento da lei ignorantia legis (art. 3 LINDB). O Desconhecimento da 
lei não é motivo para deixar de cumpri-la. 
 
III) Erro inescusável (injustificado): É o erro grosseiro, injustificado de forma que, se a parte tivesse tomado as 
cautelas mínimas de um homem de conhecimento médio homo medius não teria se equivocado. Ex.: comprar 
bijuteria de uma barraca de feira supondo ser joia. Este erro não leva a anulabilidade do negócio jurídico 
 
IV) Erro escusável (justificável): É aquele erro que uma pessoa que de conhecimento médio homus médio nas 
mesmas situações, também cometeria. Art. 138. Este erro leva a anulabilidade do negócio jurídico. Se avalia o erro 
escusável ou inescusável, em consideração ao homem de conhecimento médio. 
 
V) Falso motivo: Motivo é a razão que leva a pessoa a celebrar o negócio jurídico. Se este motivo for falso, inexistente, 
e a parte que somente celebrou negócio jurídico em razão do motivo, poderá anulá-lo se este motivo for falso (art. 
140 CC). 
 Ex.: autor vende os seus livros, dizendo que a renda obtida será doada para instituição de caridade, motivo 
este que é falso, e somente foi utilizado para incrementar as vendas. 
 
VI) Retificação do erro: O erro leva a anulabilidade do negócio jurídico, no entanto, se a parte beneficiada por este 
erro se propor a executar o negócio jurídico em conformidade com a vontade da pessoa prejudicada, o negócio 
jurídico não pode ser anulado (art. 144) 
 
3 – DOLO (Art. 145/155 CC) 
 Trata-se da utilização do ardil, de qualquer meio fraudulento, para induzir uma pessoa em erro, fazendo com 
que ela celebre um negócio jurídico que lhe é prejudicial. 
 No erro, a vítima equivoca-se sozinha. No dolo, ela é induzida em erro pela parte beneficiada ou por terceira 
pessoa. 
 No direito penal, dolo trata-se da vontade de praticar a conduta criminosa e da intenção de se obter o seu 
resultado (vontade/intenção). Na responsabilidade civil, dolo consiste na prática do dano (patrimonial ou moral) de 
forma intencional. Como defeito do negócio jurídico, dolo significa a utilização de ardil, meio fraudulento para induzir 
uma das partes em erro, fazendo com que ela celebre negócio jurídico que lhe é prejudicial. 
 Como defeito do negócio jurídico, o dolo é semelhante ao crime de estelionato. 
 
3.1) Espécies de Dolo 
 I) Dolo Principal: É aquele que é a razão determinante da celebração do negócio jurídico, ou seja, se não 
houvesse o induzimento da vítima em equívoco, ela não teria celebrado o negócio jurídico. Ex.: vendedor induz o 
comprador a pensar que uma bijuteria é uma joia de ouro; vendedor que induz o comprador a pensar que ele está 
comprando um terreno em local valorizado, quando na verdade o terreno adquirido é outro que fica em local 
desvalorizado; art. 145 CC 
 II) Dolo acidental: É aquele que recai sobre circunstâncias irrelevantes do negócio jurídico, ou seja, ainda que 
a vítima soubesse de sua existência, ainda assim ela teria celebrado o negócio jurídico, mas em condições mais 
favoráveis a ela. Ex.: vendedor que induz comprador adquirir um veículo pensando que ele é da cor preta, quando o 
mesmo é da cor azul escuro; pessoa que é induzida em erro faz uma doação a uma outra pessoa pensando que ela é 
filha de sua irmã, quando na realidade é filha de seu irmão. 
 III - Dolus Bonus: Trata-se de um costume do comércio em geral, no qual o vendedor tem por hábito ressaltar 
as qualidades do produto vendido. Esta espécie de dolo não causa a anulabilidade do negócio jurídico uma vez que 
este hábito é de conhecimento geral. 
 No entanto, se o vendedor atribuir ao produto uma qualidade inexistente, sua conduta constitui propaganda 
enganosa, vedada pelo Código de Defesa do Consumidor. 
 
 
11 
 IV- Dolus Malus: Este se caracteriza como dolo grave, ou seja, a intenção maliciosa de induzir a outra parte em 
erro, fazendo com que ela celebre o negócio jurídico que lhe é prejudicial. Esta espécie de dolo, leva a anulabilidade 
do negócio jurídico. 
 V) Dolo comissivo ou positivo: Neste caso, o autor do dolo pratica atos para induzir a outra parte em erro. Sua 
conduta constitui em um fazer. 
 VI) Dolo omissivo ou negativo (art. 147 CC): Neste caso, diante do erro da outra parte, o autor do dolo 
permanece inerte, se omite, deixando de alertá-la quanto a seu equívoco. Ex.: o vendedor que toma conhecimento 
que o compradorestá adquirindo uma bijuteria ao invés de uma joia e nada faz para alertá-la. 
 VII) Dolo praticado por terceiro (art. ): Terceiro é a pessoa que não é parte do negócio, no entanto, ela 
induz uma das partes em equívoco/erro. Se a parte beneficiada sabia do dolo praticado por terceiro, o negócio jurídico 
é anulável (art. 148, 1ª., parte CC). Se nenhuma das partes sabia desse dolo, a parte prejudicada pelo negócio jurídico 
poderá ajuizar ação de perdas e danos contra o terceiro que a induziu ao dolo (Art. 148, 2ª., parte CC). 
 VIII) Dolo do representante: A representação ocorre quando uma pessoa, o representante, celebra negócio 
jurídico em nome de outra pessoa, o representado (art. 115 CC). 
 Na representação legal, que é aquela deferida pela lei ao incapaz, o representado (incapaz) somente responde 
pelo dolo praticado por seu representante, até o limite do benefício que ela (representado) obteve com a celebração 
do negócio jurídico (art. 149 , 1ª., parte CC). 
 Se a representação for convencional, decorrente de contrato de mandato (procuração), o representado 
responde solidariamente por perdas e danos que a vítima do dolo sofreu em razão da celebração do negócio jurídico 
(art. 149, 2ª., parte CC). Nesse caso, o representado escolheu mal culpa in eligiendo (culpa na escolha) de seu 
representante. 
 IX) Dolo bilateral: Neste caso, ambas as partes agiram com dolo na celebração do negócio jurídico, ou seja, 
uma induziu a outra em erro. Com base no princípio de quem ninguém pode se beneficiar da própria torpeza, a lei 
determina que nenhuma delas poderá pleitear a anulação desse negócio jurídico ou indenização. Há uma espécie de 
compensação de dolo. 
 
 
COAÇÃO (art. 151/155 CC). 
1) CONCEITO 
 Trata-se de ameaça ou pressão injusta exercida por uma das partes contra a outra, para obrigá-la a celebrar o 
negócio jurídico que lhe é prejudicial e, se não houvesse coação, ele não seria celebrado. 
 A coação se assemelha ao crime de ameaça. (Art. 151 a 155 C.C.) 
 O prazo para entrar com a ação anulatória de negócio jurídico celebrado mediante coação é de 4 anos (artigo 
178 CC). O ônus da prova é daquele que está alegar a coação, e se for provado, pode ser anulado. 
 
2) ESPÉCIES DE COAÇÃO 
I - Coação física vis absoluta: trata-se da utilização da força física para obrigar a parte a celebrar negócio jurídico 
contra a sua vontade. Este negócio jurídico é inexistente uma vez que a parte (vítima) não tinha vontade de celebrar 
este negócio jurídico. Ex.: através de tortura de uma das partes, alguém aponta arma de fogo para uma outra parte, 
obrigando a assinar um contrato. Essa espécie de coação gera defeito grave e a lei sequer reconhece o ato praticado 
como negócio jurídico. Ele inexiste para o mundo jurídico. 
 
II - Coação moral vis compulsiva: trata-se da utilização da ameaça ou pressão injusta para compelir a outra parte a 
celebrar um negócio jurídico que ela não celebraria se não existisse a coação. Aqui não há o emprego de força física, 
mas apenas da ameaça ou pressão injusta. Nesta espécie de coação o negócio jurídico celebrado tem existência 
jurídica, no entanto, o mesmo é passível de anulabilidade. (Art. 151 c/c art. 171, II, C.C.) 
 
III – Coação Acidental: É aquela irrelevante. Ainda que a mesma não existisse a parte teria celebrado o negócio 
jurídico. Ela não é a causa determinante da celebração do negócio jurídico 
 
IV – Coação Principal: É aquela que é a causa determinante da celebração do negócio jurídico. Se não houvesse esta 
coação, a vítima não teria celebrado o negócio jurídico. 
 Para a caracterização da coação principal são necessários os seguintes requisitos: 
 a) Causa determinante do negócio jurídico: deve haver uma relação de causalidade entre a celebração do 
negócio jurídico e a coação. 
 
 
12 
 b) Gravidade da coação: a ameaça de mal injusto e grave deve ser de forma a incutir na vítima medo de dano 
a sua pessoa, a alguém de sua família ou a seu patrimônio. 
 c) Injustiça da coação: a ameaça deve ser injusta, ou seja, deve contrariar o direito. Se a suposta ameaça 
caracterizar o exercício normal do direito ela não figura coação. Ex.: o empregado diz ao empregador que se ele não 
lhe der aumento salarial vai processá-lo perante a justiça do trabalho. 
 d) O dano deve ser atual ou iminente contra a pessoa da vítima, alguém da sua família ou a seus bens: dano 
atual ou iminente é aquele prestes a ocorrer. Desta forma se a ameaça for de um dano hipotético ou futuro não 
caracteriza coação. Ex.: assine este contrato, senão daqui 5 anos danificarei o seu carro. 
 A expressão família utilizada pelo Art. 151 do C.C. deve ser interpretada no sentido amplo de forma a abranger 
os parentes na linha reta (ascendentes ou descendentes), na linha colateral, ou cônjuge e o companheiro de uma 
união estável. 
 
3) COAÇÃO EXERCIDA CONTRA TERCEIRO 
 O artigo 151 menciona que a coação deve ser dirigida contra a pessoa da vítima ou alguém de sua família. Se 
esta coação (ameaça de dano injusto) for dirigida a uma terceira pessoa, ela pode anular o negócio jurídico desde que 
a vítima se sinta coagida. Caberá ao juiz avaliar se a coação exercida contra terceiro anula o negócio jurídico (parágrafo 
único do artigo 151 CC) 
 
4) COAÇÃO EXERCIDA POR TERCEIRO 
 Terceiro é a pessoa que não participa da celebração do negócio jurídico, no entanto, ela ameaça uma das partes 
a celebrá-lo. Se a parte beneficiada pelo negócio jurídico sabia desta coação, ela se tornou uma espécie de partícipe 
da coação, razão pela qual este negócio jurídico é anulável. 
Por outro lado, se nenhuma das partes sabia da coação, a parte prejudicada pelo negócio jurídico poderá processar 
o autor da coação por perdas e danos. (Art. 155, C.C.) 
 
5) AVALIAÇÃO DA COAÇÃO 
 Para avaliar a coação, o legislador adotou um critério concreto, impondo ao juiz avaliar se aquela vítima se 
sentiu coagida no caso concreto, para tanto, devendo levar em consideração o sexo, a idade, o estado de saúde, o 
grau cultural, o temperamento etc., da vítima (artigo 152, CC) 
Ressalta-se que, para avaliar o erro ou a ignorância, o legislador adotou o critério abstrato do homem médio homo 
medius. Ele retira a pessoa que se equivocou e coloca o homem médio na mesma situação e verifica se ele erraria ou 
não. 
 
6) TEMOR REVERENCIAL 
 Trata-se da relação de respeito e obediência que deve existir entre algumas pessoas, tais como, o filho 
relativamente com seus pais, do empregado relativamente ao seu empregador, do aluno em relação ao professor, 
etc. O temor reverencial não caracteriza coação, razão pela qual o mesmo não pode servir de fundamento para anular 
o negócio jurídico (artigo 153, 2ª. Parte CC). 
 
 
ESTADO DE PERIGO (artigo 156 CC) 
 
1 – Conceito 
 Ocorre o estado de perigo quando a pessoa tem a extrema necessidade de salvar a sua vida ou de salvar a vida 
de alguém de sua família acaba por celebrar negócio jurídico que lhe é excessivamente oneroso, com terceira pessoa 
que sabia dessa situação de extrema necessidade do prejudicado (artigo 156 CC). Ex.: pai que necessitando pagar o 
resgate de filho sequestrado, aliena bem por valor muito inferior a seu valor real; pessoa que está se afogando 
promete fortuna (promessa de recompensa) a quem lhe salvar; pessoa que necessitando de atendimento médico 
urgente, assina contrato de honorários médicos e internação com valores muito elevados, etc. 
 Estes negócios jurídicos: alienação de bens, promessa de recompensa, contrato de prestação de serviços, 
podem ser anulados pela existência do estado de perigo. 
 
2 – Requisitos do Estado de Perigo 
I) Uma situação de extrema necessidade de salvamento da própria vida ou de alguém de sua família; 
 Se a necessidade for salvar a vida de um terceiro, caberá ao juiz decidir, verificando se o negócio jurídico 
somente foi celebrado pelo estado de perigo de terceiro (parág. Único do artigo 156 CC). 
 
 
13 
II) Iminência de ocorrer dano grave. 
III) Nexo de causalidade entre o negócio jurídico celebradoe a situação de perigo, ou seja, o negócio jurídico somente 
foi celebrado em razão da existência do estado de perigo. 
III) Conhecimento da outra parte, ou seja, a parte beneficiada pelo negócio jurídico, sabendo da extrema necessidade 
da outra parte, deveria adotar uma atitude humanitária e ajudá-la, no entanto, movida por egoísmo, vê na situação 
de extrema necessidade da outra parte, uma oportunidade de ganho, de realização de negócios vantajosos 
 A parte prejudicada pelo estado de perigo poderá, no prazo de 4 anos, ajuizar ação visando anular o negócio 
jurídico celebrado ( ação anulatória de negócio jurídico – artigo 171, II c/c artigo 178 CC). 
 
LESÃO (Art. 157 C.C.) 
1 – Conceito 
 Ocorre a lesão quando a pessoa é movida pela premente necessidade de salvar qualquer interesse, ou é 
movida pela inexperiência, acaba por celebrar negócio jurídico no qual irá receber/obter contraprestação totalmente 
desproporcional a prestação que ela assumiu (artigo 157 CC). Ex.: empresário que, necessitando salvar sua empresa 
da falência, celebra contrato de mútuo com juros elevadíssimos (premente necessidade); pessoa que recebe em 
herança empresa ou bens valiosos e desconhecendo essa situação acaba por vende-los por valores ínfimos 
(inexperiência). 
Ressalta-se que no estado de perigo, a vítima tem a necessidade de salvar a própria vida ou de alguém de sua família. 
Na lesão, a necessidade é a de salvar qualquer outro interesse, que não seja a vida ou a pessoa é movida pela 
inexperiência. 
 
2 – Requisitos da Lesão 
I) Subjetivo: inexperiência ou extrema necessidade da vítima 
II) Objetivo: desproporcionalidade entre a contraprestação da vítima e a sua prestação (desigualdade). 
 
3 – Efeitos da Lesão 
I) Revisão do negócio jurídico: Neste caso, a parte beneficiada se propõe a igualar prestação e contraprestação 
(parág. 2º., artigo 157 CC). 
II) Anulação do negócio jurídico: Se a parte beneficiada se recusar a equilibrar prestação e contraprestação, o juiz 
deverá anular o negócio jurídico (artigo 171, II c/c artigo 178 CC). 
 
FRAUDE CONTRA CREDORES (artigos 158/165 CC). 
CONCLUSÃO 
 Identificado que o negócio jurídico foi celebrado com qualquer dos vícios: Erro ou ignorância, dolo, coação, 
estado de perigo, lesão ou fraude contra credores, o prejudicado tem o prazo decadencial de 4 anos ajuizar a ação 
anulatória do negócio jurídico celebrado, buscando a sua anulação (artigo 171, II c/c artigo 178 CC). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
JURISPRUDÊNCIA 
ERRO OU IGNORÂNCIA 
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA 
AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 934.897 - DF (2016/0155509-8) RELATORA : MINISTRA MARIA ISABEL GALLOTTI AGRAVANTE 
: CELSO ANTONIO MATSUNAGA DA SILVEIRA AGRAVANTE : CLARICE MIEKO MATSUNAGA DA SILVEIRA ADVOGADO : RICARDO 
ROESCH MORATO FILHO - DF030354 AGRAVADO : LEANDRO GARCIA BUENO SILVA AGRAVADO : MARCOS GUILHERME CUNHA 
ADVOGADO : ANTÔNIO CARLOS DE SOUZA - GO025714 DECISÃO. 
 Trata-se de agravo manifestado por Celso Antônio Matsunaga da Silveira e outra contra decisão que negou seguimento a recurso 
especial, interposto pelo artigo 105, III, a, da Constituição Federal, no qual se alegou violação dos artigos 112, 113, 171, III, 421, 
422, 441, 444, 445, § 6º, 446, 476 e 2.035 do Código Civil, impugnando acórdão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos 
Territórios, com a seguinte ementa: DIREITO CIVIL. CONTRATO. APELAÇÃO. AÇÃO DE ANULAÇÃO DE CONTRATO. ALEGAÇÃO DE 
VÍCIO DE CONSENTIMENTO. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO. HIPOTECA. VÍCIO REDIBITÓRIO. INOCORRÊNCIA. LITIGÂNCIA DE MÁ-
FÉ. INOCORRÊNCIA. 
 O erro ou ignorância alegado por aquele que, por sua própria negligência, dá causa ao desconhecimento de eventuais vícios é 
inescusável, não havendo que se cogitar a incidência do disposto no art. 171, II, do CC. O alegado desconhecimento da hipoteca 
do imóvel antes da assinatura do contrato não autoriza a anulação do negócio jurídico, mormente porque decorreu de fato que 
deve ser imputado exclusivamente aos apelantes. Impede salientar que a existência de hipoteca não pode ser classificada como 
vício redibitório, uma vez que o vício redibitório é aquele oculto, ao passo que a hipoteca, por ser averbada na matrícula do imóvel, 
é de fácil conhecimento, bastando que o interessado diligencie no cartório de registro de imóvel. Não há que se falar em 
condenação por litigância de má-fé se não restou cabalmente demonstra a ocorrência de qualquer situação prevista no art. 17 do 
CPC. Recurso conhecido e não provido. Afirmaram que contrataram com os recorridos a compra de clínica médica e que, não 
obstante, não foram informados da pendência de hipoteca sobre o imóvel, ao que requereram a anulação do negócio, seja por 
conta de erro, vício redibitório ou, ainda, violação aos princípios contratuais gerais, tal como a boa-fé objetiva e sua função social. 
Assim delimitada a controvérsia, decido. O Tribunal local consignou: "que o objeto do contrato compreenderia apenas os móveis 
e utensílios da supracitada clínica, não abrangendo o imóvel no qual estava situado o estabelecimento (cláusula 1ª e parágrafo 
único). Ademais, a previsão contratual acerca da necessidade de entrega do estabelecimento objeto do contrato livre e 
desembaraçado de quaisquer ônus não abrange o imóvel em si, mas apenas os móveis e utensílios da clínica" (e-STJ, fl. 124). 
Concluiu, assim, que: "cumpre destacar que a existência de hipoteca na matrícula do imóvel não enseja a ocorrência de vício na 
manifestação de vontade dos apelantes, razão pela qual não se mostra possível a anulação do negócio jurídico. Isso porque, apesar 
de o objeto do contrato não ser o imóvel em si, caberia aos apelantes, antes da assinatura do contrato, realizar diligências no 
cartório de registro de imóvel em que estava averbada a matrícula do imóvel para saber se existia alguma anotação na matrícula. 
Não se pode olvidar que o erro ou ignorância alegado por aquele que, por sua própria negligência, dá causa ao desconhecimento 
de eventuais vícios é inescusável, não havendo que se cogitar a incidência do disposto no art. 171, II, do CC" (e-STJ, fl. 224). Não 
houve, portanto, compra e venda de imóvel, mas apenas da clínica médica, ou seja, as instalações desta, de modo que a existência 
da hipoteca gravando o imóvel em que funcionava não poderia macular o negócio jurídico, além de a ignorância acerca da 
mencionada garantia teria decorrido de negligência dos próprios agravantes. Por fim, a alegação dos recorrentes no sentido de 
que várias dívidas anteriores poderiam levar à determinação para a desocupação do imóvel não foi confirmada pelo acórdão 
distrital, que se limitou a verificar que, em "relação à alegação da existência de débitos com empresa de telefonia, cumpre 
destacar que o documento de f. 100 demonstra que os apelados pagaram a referida conta, ainda que com pequeno atraso" (e-
STJ, fl. 225), atraso este que foi aceito pelos agravantes, porquanto não se insurgiram no momento oportuno. Como se vê, 
indiscutivelmente a questão foi resolvida à luz dos elementos informativos do processo, cujo reexame encontra os óbices de que 
tratam os verbetes n. 5 e 7 da Súmula desta Corte. Diante do exposto, nego provimento ao agravo. Intimem-se. Brasília (DF), 1º 
de fevereiro de 2017. MINISTRA MARIA ISABEL GALLOTTI Relatora. 
 
DOLO 
Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro TJ-RJ – 
APELAÇÃO : APL 0015630-54.2004.8.19.0066 RJ 0015630-54.2004.8.19.0066 
Ementa: COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA. IMÓVEL OCUPADO POR TERCEIRO E COM DÉBITOS FISCAIS. OMISSÃO DOLOSA 
DO PROMITENTE VENDEDOR QUANTO A ESSES ASPECTOS. ART. 147, DO CC/02. ANULAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO POR DOLO 
SUBSTANCIAL (ART. 145, DO CC/02). INDENIZAÇÃO. DIREITO. 
I- Ação de anulação do negócio jurídico, cumulada com o ressarcimento da quantia paga. Compromisso de Compra e Venda de 
um terreno em Angra dos Reis, ocupado por terceiro e com débitos fiscais. 
II- Acervo probatório que corrobora a tese autoral, no sentido de que houve silêncio sobre tais informações no momento da 
contratação.Silêncio intencional de uma das partes quanto a aspecto relevante do contrato, que configura dolo, na forma do art. 
145, do Código Civil. 
III- Desprezo ao princípio da boa fé e silêncio sobre circunstância que a natureza do negócio exigia fosse conhecida, que impõe a 
anulação do contrato e a restituição do valor comprovadamente pago. 
IV- Danos morais caracterizados. Conduta que afronta a legítima expectativa criada no promitente comprador. 
V -Indenização fixada em obediência ao critério do lógico-razoável, não merecendo modificação. 
 VI - Recurso a que nega seguimento, nos moldes do art. 557, caput, do C.P.C. 
 
COAÇÃO 
 
 
15 
TJ-DF - 20150111452658 DF 0042524-18.2015.8.07.0001 (TJ-DF) 
Data de publicação: 08/06/2017 
Ementa: CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO. DOAÇÃO DE POSSE DE UM LOTE NÃO ESCRITURADO. COAÇÃO MORAL RELIGIOSA. 
NÃO COMPROVAÇÃO. DIREITOS POSSESSÓRIOS. AUSÊNCIA DE VÍCIO FORMAL. RECURSO IMPROVIDO. 
 1.Ação de conhecimento, com pedido de anulação de contrato de doação de posse sobre lote. 1.1. Alegação de coação moral, de 
cunho religioso, e vínculo de confiança e amizade. 1.2. Sentença de improcedência, por ausência de prova quanto à coação. 
2. O art. 538 do Código Civil conceitua o contrato de doação como: "Considera-se doação o contrato em que uma pessoa, por 
liberalidade, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra." 2.1. A anulabilidade dos negócios jurídicos por 
coação é prevista no art. 151 do Código Civil , onde consta que: "A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que 
incuta ao paciente fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens." 3. A coação 
capaz de implicar na anulação do contrato de doação exige que o donatário influencie na vontade do doador, de forma física ou 
moral, compelindo-o à prática do ato, sob pena de sofrimento ou penalidades. 3.1. No caso, inexiste qualquer prova de 
intimidação, moral ou física, que possa ser considerada como coação, apta à anulação do ato praticado. 3.2. Justamente por 
tratar-se de um negócio jurídico não oneroso, ou gratuito, a doação consuma-se por interesse filantrópico, afetivo e ainda e como 
no caso, religioso. 4. No caso, não há se falar em necessidade de escritura nem em falta de aceitação por parte da donatária. 4.1. 
Trata-se de um pequeno lote não escriturado, tendo como objeto da doação eventuais direitos sobre um lote de 700 m2. 5.Apelo 
improvido. 
Encontrado em: NEGAR PROVIMENTO. UNÂNIME 2ª TURMA CÍVEL Publicado no DJE : 08/06/2017 . Pág.: 177-213 - 8/6/2017 
20150111452658 DF 0042524-18.2015.8.07.0001 (TJ-DF) JOÃO EGMONT 
ESTADO DE PERIGO 
STJ - RECURSO ESPECIAL REsp 1680448 MG 2017/0061174-8 (STJ) 
Data de publicação: 29/08/2017 
Ementa: CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS MÉDICOS-HOSPITALARES. AÇÃO DE COBRANÇA. 
ESTADO DE PERIGO. OCORRÊNCIA. O estado de perigo é vício de consentimento dual, que exige para a sua caracterização, a 
premência da pessoa em se salvar, ou a membro de sua família e, de outra banda, a ocorrência de obrigação excessivamente 
onerosa, aí incluída a imposição de serviços desnecessários, conscientemente fixada pela contraparte da relação negocial. O tão-
só sacrifício patrimonial extremo de alguém, na busca de assegurar a sua sobrevida ou de algum familiar próximo, não caracteriza 
o estado de perigo, pois embora se reconheça que a conjuntura tenha premido a pessoa a se desfazer de seu patrimônio, a 
depauperação ocorrida foi conscientemente realizada, na busca pelo resguardo da própria integridade física, ou de familiar. 
Atividades empresariais voltadas especificamente para o atendimento de pessoas em condição de perigo iminente, como se dá 
com as emergências de hospitais particulares, não podem ser obrigadas a suportar o ônus financeiro do tratamento de todos que 
lá aportam em situação de risco à integridade física, ou mesmo à vida, pois esse é o público-alvo desses locais, e a atividade que 
desenvolvem com fins lucrativos é legítima, e detalhadamente regulamentada pelo Poder Público. Se o nosocômio não exigir, 
nessas circunstâncias, nenhuma paga exagerada, ou impor a utilização de serviços não necessários, ou mesmo garantias 
extralegais, mas se restringir a cobrar o justo e usual, pelos esforços realizados para a manutenção da vida, não há defeito no 
negócio jurídico que dê ensejo à sua anulação. Recurso especial provido 
 
LESÃO 
Tribunal de Justiça de Minas Gerais TJ-MG - Apelação Cível : AC 10145130073920001 MG 
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DO CONSUMIDOR. DÉBITO CONSTITUÍDO PELA CEMIG. TERMO DE ACORDO E 
RECONHECIMENTO DE DÍVIDA - TARD. CLÁUSULA ABUSIVA. NULIDADE. VANTAGEM EXCESSIVA. VÍCIO POR ERRO. 
- Padece de nulidade por estabelecer vantagem excessiva em favor do prestador de serviço a cláusula de reconhecimento de 
débito relativo a fornecimento de energia elétrica em valor manifestamente desproporcional ao consumo mensal da unidade e 
atribuído a erro de medição do aparelho em desfavor do consumidor. 
- Embora firmado pelo consumidor Termo de Acordo e Reconhecimento da Dívida, a posterior apuração em avaliação, do aparelho 
de medição, de indício de erro no medidor constitui vício hábil a fundamentar a anulação do acordo. 
- Recurso não provido. 
FRAUDE CONTRA CREDORES 
TJ-RS - Apelação Cível AC 70073647893 RS (TJ-RS) 
Data de publicação: 20/11/2017 
Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. AÇÃO PAULIANA; A ação pauliana é o meio processual 
adequado para anulação de atos jurídicos praticados em fraude contra credores, devendo ser comprovados os seguintes 
requisitos: a) dívida anterior ao ato de transmissão; b) o eventus damni; c) o consilium fraudis. No caso, a parte autora logrou 
comprovar tais requisitos, ônus que lhe incumbia, devendo ser mantida a sentença de procedência. NEGARAM PROVIMENTO À 
APELAÇÃO. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº 70073647893, Vigésima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Walda Maria 
Melo Pierro, Julgado em 08/11/2017).

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