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Interdição Art. 747. A interdição pode ser promovida: I - pelo cônjuge ou companheiro; II - pelos parentes ou tutores; III - pelo representante da entidade em que se encontra abrigado o interditando; IV - pelo Ministério Público. Parágrafo único. A legitimidade deverá ser comprovada por documentação que acompanhe a petição inicial. - A partir da entrada em vigor da Lei 13.146/2015, conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência, as pessoas com deficiência começaram a ser vistas de outra forma, especialmente pelo claro objetivo da lei em facilitar a integração dessas pessoas na sociedade civil, independente da natureza do seu impedimento e/ou da duração dessa condição – curto ou longo prazo. - Por conta dessa significativa mudança, o instituto da interdição – atualmente chamado de “ação de curatela” – é um procedimento excepcional para que – os legitimados trazidos no artigo 747 do CPC – possa se valer no sentido de auxiliar, assistir e proteger o curatelado ou assistido na prática de determinados atos, já que o deficiente atualmente é considerado uma pessoa capaz. - Com isso, tem-se que os relativamente incapazes, especialmente aqueles deficientes, poderão – excepcionalmente – necessitar de apoio para a tomada de decisões para assuntos de natureza negocial e/ou patrimonial, a lhe ser prestado por pessoas eleitas pelo Poder Judiciário (curador) ou nomeada pelo próprio deficiente (tomada de decisão apoiada). - Nesse sentido, a depender do grau de incapacidade da pessoa com deficiência, dois são os meios pelos quais ela poderá receber assistência na gestão de seus negócios e patrimônio. Caso a situação seja de uma deficiência mais acentuada, o instituto a ser utilizado é o da curatela – previsto nos artigos 747 ao 758 do CPC, bem como nos artigos correspondentes do Código Civil. Lado outro, caso a deficiência seja em menor grau, poderá o próprio deficiente utilizar-se de um procedimento chamado de “tomada de decisão apoiada. - Esse último procedimento surge justamente dessa virada legislativa em relação à compreensão da pessoa com deficiência, isto é, entendimento de que esta pessoa é capaz e necessitará em alguns casos de assistência. Como dissemos, esse instituto é considerado menos invasivo na esfera existencial do sujeito e, a partir dela, a pessoa que necessita de assistência, elegerá duas pessoas idôneas, com as quais mantenha vínculo e goze de confiança, para prestar-lhe apoio na tomada de decisão sobre atos da vida civil, fornecendo-lhes os elementos e informações necessários para que possa exercer sua capacidade. - Esse procedimento – especialmente trazido por Gajardoni (2018) – seguirá um rito diferente, previsto nos artigos 720 a 724 do CPC de 2015. Aqui, o interessado formulará o pedido de tomada de decisão apoiada, apresentando nesse momento – tanto a pessoa com deficiência quanto seus apoiadores – termo que estabeleça os limites do apoio a ser oferecido, bem como os compromissos firmados pelos apoiadores e o prazo de vigência do acordo. Além disso, devem indicar também a ciência quanto às vontades, direitos e interesses da pessoa a quem pretendem apoiar. - O pedido de tomada de decisão apoiada será requerido pela pessoa a ser apoiada, com indicação expressa das pessoas aptas a prestarem o apoio previsto no art. 1.783-A do CC/02. Aqui, antes do magistrado pronunciar sobre o pedido, o juiz deverá ouvir o Ministério Público e uma equipe multidisciplinar – se for o caso – além de ouvir pessoalmente o requerente e as pessoas que lhe prestaram apoio. Caso não haja impedimento, o juiz homologará o pedido, que passará a ter validade a partir daquele momento, sendo possível a sua revogação a qualquer tempo, desde que requerido pela pessoa apoiada. - Por fim, o artigo 747, como dissemos anteriormente, estabelece as pessoas que tem legitimidade1 para solicitar a interdição. No caso específico do artigo 747, trata-se de uma legitimidade concorrente e disjuntiva, vez que um legitimado não depende da concordância do outro para agir, tampouco há preferência entre eles no ajuizamento da ação. - Nesse sentido, todos agem por legitimação extraordinária – considerando que defendem, em nome próprio, direito alheio (do incapaz) – devendo esse pedido estar acompanhado de documentação idônea, isto é, de documento2 que demonstrem a legitimidade estabelecida no caput do art. 747. Em razão disso, caso o pedido seja formulado por companheira(o), deve desde a propositura da ação, juntar comprovantes que demonstrem sua condição, como por exemplo, comprovantes de moradia em comum, fotos que indiquem união estável, certidão de nascimento de filhos comuns, etc. IMPORTANTE: Embora não se exija parentesco próximo, a doutrina majoritária entende que a propositura da ação deva ser por aqueles parentes que estariam apto a suceder o incapaz. 1 Legitimidade taxativa, mas não preferencial, para o requerimento de curatela dos incapazes. “Cinge-se a controvérsia a saber se a ordem prevista nos arts. 1.177 do Código de Processo Civil/1973 e 1.768 do Código Civil é exclusiva ou preferencial na fixação da legitimidade ativa para a propositura da ação de interdição. A enumeração dos legitimados é taxativa, mas não preferencial, podendo a ação ser proposta por qualquer um dos indicados, haja vista tratar-se de legitimação concorrente. A interdição pode ser requerida por quem a lei reconhece como parente: ascendentes e descendentes de qualquer grau (art. 1.591 do Código Civil) e parentes em linha colateral até o quarto grau (art. 1.592 do CC). A ação visa a curatela, que é imprescindível para a proteção e amparo do interditando, resguardando a segurança social ameaçada ou perturbada pelos seus atos. A existência de outras demandas judiciais entre as partes por si só não configura conflito de interesses. Tal circunstância certamente será considerada quando e se julgada procedente a interdição for nomeado curador” (STJ, REsp 1346013/MG, Rel. Ricardo Villas Bôas Cueva, 3.ª Turma, j. 13.10.2005). 2 Produção de antecipada de provas e interdição. “Em linha de princípio, somente pode ajuizar ação cautelar a parte legítima para a propositura da ação principal. Há de se reputar legítima a sobrinha que, pelo interesse sucessório e moral revelado na espécie, postula a produção antecipada de prova destinada ao aparelhamento do pedido de interdição de sua tia” (STJ, REsp 532864/RJ, Rel. Cesar Asfor Rocha, 4.ª Turma, j. 11.10.2005). Art. 748. O Ministério Público só promoverá interdição em caso de doença mental grave: I - se as pessoas designadas nos incisos I, II e III do art. 747 não existirem ou não promoverem a interdição; II - se, existindo, forem incapazes as pessoas mencionadas nos incisos I e II do art. 747. - Dentre as hipóteses pelas quais o MP3 será legitimado ativo é aquele no qual haja doença mental grave. Entretanto, diferentemente do que coloca o CPC, o artigo 1.769, I, do Código Civil, possibilita a atuação do MP em caso de deficiência mental ou intelectual. Por conta dessa divergência, Didier (2015), indica que o ideal é a prevalência do previsto no Código Civil, vez que possui natureza mais protetiva aos interesses da pessoa com deficiência. Art. 749. Incumbe ao autor, na petição inicial, especificar os fatos que demonstram a incapacidade do interditando para administrar seus bens e, se for o caso, para praticar atos da vida civil, bem como o momento em que a incapacidade se revelou. Parágrafo único. Justificada a urgência, o juiz pode nomear curador provisório ao interditando para a prática de determinados atos. - A propositura da ação de interdição – “ação de curatela” – deve seguir os preceitos do artigo 319 (no que couber), devendo o autor especificar os fatos que demonstram a incapacidade do interditando para administrar seus bens e, se for o caso, para praticar atos da vida civil, bem como o momento emque a incapacidade se revelou. - Por conta disso, compete ao autor indicar em sua petição inicial, qual das hipóteses do art. 1.767 do CC/02, justifica o pedido de reconhecimento da incapacidade e nomeação de curador. OBSERVAÇÃO: Por conta dessa nova perspectiva a partir do Estatuto da Pessoa com Deficiência, a curatela se estenderá apenas sobre aqueles atos negociais e patrimoniais que o incapaz precisar de auxílio, motivo pelo qual a descrição da capacidade e do discernimento dele deve ser precisa. 3 Mandado de segurança contra a propositura da ação pelo MP. “O Ministério Público tem legitimidade ativa originária para propor ação de interdição fundamentada em anomalia psíquica, com base no art. 1.178, I, do Código de Processo Civil/1973. Improsperável a alegação de inépcia da petição inicial se o pedido de interdição encontra-se devidamente fundamentado, inclusive com respaldo em laudos médicos, o que justifica o prosseguimento do feito, com vistas à aferição da saúde mental do interditando, o qual, cumpre ressaltar, tem não apenas interesse, mas também o direito de provar que pode gerir sua própria vida, administrar seus bens e exercer sua profissão. O mandado de segurança, tendo em vista sua natureza excepcional, não comporta dilação probatória, fazendo-se necessário que a indigitada violação a direito líquido e certo reste evidenciada por prova pré-constituída, indene de dúvidas, a qual não se faz presente nos autos” (STJ, RMS 22679/RS, Rel. Min. Sidnei Beneti, 3.ª Turma, j. 25.03.2008). COMPETÊNCIA: Em regra, a demanda será ajuizada e processada no domicílio4 do incapaz. Porém, se no curso do processo o interditando muda de domicílio, a competência também mudará5. - Por fim, é importante dizer que em casos excepcionais, nos quais estejam presentes a relevância e a urgência, com intuito de proteger os interesses daquele que se aponta como incapaz, será lícito ao juiz – de ofício ou a requerimento – desde que ouvido o MP (art. 178, II), nomear curador provisório para a prática de alguns atos do interesse do incapaz. Art. 750. O requerente deverá juntar laudo médico para fazer prova de suas alegações ou informar a impossibilidade de fazê-lo. - Além dos requisitos que trouxemos acima, deve o autor da ação de curatela, trazer documentos indispensáveis à propositura, como laudo/relatório médico que indique a incapacidade e qual a extensão desta, além, é claro, da comprovação da legitimidade para promover a ação. OBSERVAÇÃO: Embora não esteja expressamente previsto, parcela da doutrina considera como necessário e, com isso ser documento essencial, a juntada de certidão de nascimento ou casamento atualizada do incapaz, para que o magistrado possa verificar se não há curatela já estabelecida. ATENÇÃO: Em que pese ser documento indispensável, em alguns casos poderá a ação ser ajuizada sem os documentos anteriormente mencionados, isto é, ajuizar a ação sem o exame médico e/ou certidão atualizada, desde que demonstre a incapacidade de custeio do exame médico ou a impossibilidade de realiza-lo e o levantamento da certidão atualizada. Assim, desde que demonstrado, a ação poderá ser proposta sem tais documentos que serão providenciados após a distribuição da petição inicial. 4 Competência territorial para a ação de reconhecimento da incapacidade e nomeação de curado. “O foro do domicílio do interditando é em regra o competente para o julgamento da interdição (art. 94 do CPC). A definição da competência em ação de interdição deve levar em conta, prioritariamente, a necessidade de facilitação da defesa do próprio interditando e a proteção de seus interesses. Em se tratando de duas ações de interdição, propostas por parentes diferentes em juízos distintos, o critério a ser adotado para definição da competência, há de levar em conta os interesses da interditanda, considerando-se seu domicílio o local onde ela de fato se encontra desde antes do ajuizamento das ações, de modo ininterrupto e por tempo indeterminado, priorizando-se a proteção de seus legítimos interesses” (STJ, AgRg no CC 100739/BA, Rel. Min. Sidnei Beneti, 2.ª Seção, j. 26.08.2009). 5 “[…] A competência nos procedimentos de interdição é fixada pelo domicílio do interditado, sendo relativizada a regra da perpetuatio jurisdictionis quando há alteração de sua residência, de forma a atender o melhor interesse do incapaz, facilitar o acesso à justiça e à ampla produção probatória. 3. Impossibilidade de declinação da competência de ofício. Princípio do juízo imediato. Recurso provido” (TJMG, AI 10694130015266001/MG, 5ª Câmara Cível, Rel. Áurea Brasil, j. 11.07.2013). “[…] Segundo orientação jurisprudencial emanada do STJ, a definição da competência em ação envolvendo incapaz deve levar em conta, prioritariamente, a proteção de seus interesses, de modo que o encaminhamento dos autos à comarca em que a interditada está domiciliada permitirá uma tutela jurisdicional mais ágil, eficaz e segura, prestigiando o princípio do juízo imediato. Conflito negativo de competência julgado improcedente” (TJRS, Conflito de Competência 70057557902, 8ª Câmara Cível, Rel. Ricardo Moreira Lins Pastl, j. 20.03.2014). Art. 751. O interditando será citado para, em dia designado, comparecer perante o juiz, que o entrevistará minuciosamente acerca de sua vida, negócios, bens, vontades, preferências e laços familiares e afetivos e sobre o que mais lhe parecer necessário para convencimento quanto à sua capacidade para praticar atos da vida civil, devendo ser reduzidas a termo as perguntas e respostas. § 1º Não podendo o interditando deslocar-se, o juiz o ouvirá no local onde estiver. § 2º A entrevista poderá ser acompanhada por especialista. § 3º Durante a entrevista, é assegurado o emprego de recursos tecnológicos capazes de permitir ou de auxiliar o interditando a expressar suas vontades e preferências e a responder às perguntas formuladas. § 4º A critério do juiz, poderá ser requisitada a oitiva de parentes e de pessoas próximas. - Apresentados os requisitos para ajuizamento da ação, é necessário analisar o procedimento de interdição (ação de curatela). Assim, a partir da propositura da ação, o curatelando será citado PESSOALMENTE, por oficial de justiça (art. 247) para que em dia designado, compareça perante o juiz para ser entrevistado sobre sua vida, negócios e outros assuntos que forem necessários para formar o convencimento quanto a capacidade para praticar atos da vida civil. OBSERVAÇÃO: Caso o oficial de justiça constate a incapacidade de compreensão pelo citando, procederá na forma do artigo 245 do CPC, descrevendo de maneira detalhada a ocorrência. - Caso o curatelando não possa se deslocar, o juiz o ouvirá no local em que estiver. Além disso, se julgar necessário, poderá o magistrado fazer-se acompanhado de especialista e/ou equipe multidisciplinar, além do emprego de recursos tecnológicos, tudo isso para conseguir alcançar uma “verdade real” sobre a condição do interditando, possibilitando que este expresse por si suas vontades e preferências, além de oportunizar que responda perguntas eventualmente formuladas. De modo a formar o convencimento, o magistrado poderá requisitar a oitiva de parentes e/ pessoas próximas, especialmente pessoas indicadas pelo incapaz como possíveis apoiadores ou curadores. IMPORTANTE: Por ser um procedimento de jurisdição voluntária e, portanto, regido pelo regramento geral desse procedimento (artigos 719 a 725), pode o magistrado, nos termos do artigo 723, parágrafo único, adotar medidas específicas6 para cada caso que lhe seja exigido a solução, podendo afastar a legalidade estrita a seu critério. Aqui, diante da particularidade do caso e mediante fundamentação, pode o juiz, à luz da equidade, eleger qual o melhor procedimento para a sua atuação em sede de jurisdição voluntária, alterando, excluindo ou acrescentando ato processual àquelesjá existentes. Nesse sentido, em se tratando de curatela, em caráter excepcional, poderá o juiz dispensar a entrevista do curatelando quando, por exemplo, o oficial de justiça ao proceder a citação, 6 Flexibilização procedimental e impossibilidade de se suprimir o direito de defesa do incapaz. “O art. 1.109 do CPC/1973 abre a possibilidade de não se obrigar o juiz, nos procedimentos de jurisdição voluntária, à observância do critério de legalidade estrita, abertura essa, contudo, limitada ao ato de decidir, por exemplo, com base na equidade e na adoção da solução mais conveniente e oportuna à situação concreta. Isso não quer dizer que a liberdade ofertada pela lei processual se aplique à prática de atos procedimentais, máxime quando se tratar daquele que representa o direito de defesa do interditando” (STJ, REsp 623047/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, 3.ª Turma, j. 14.12.2004). já constatar um estado vegetativo do incapaz. Entende-se aqui que fazer uma entrevista, sabendo previamente da condição do incapaz, seria ferir-lhe ainda mais a dignidade. Art. 752. Dentro do prazo de 15 (quinze) dias contado da entrevista, o interditando poderá impugnar o pedido. § 1º O Ministério Público intervirá como fiscal da ordem jurídica. § 2º O interditando poderá constituir advogado, e, caso não o faça, deverá ser nomeado curador especial. § 3º Caso o interditando não constitua advogado, o seu cônjuge, companheiro ou qualquer parente sucessível poderá intervir como assistente. - Dentro do prazo de 15 dias – contados da entrevista – o interditando poderá impugnar o pedido, constituindo advogado para apresentar defesa. Caso não o faça, deverá ser nomeado curador especial ao curatelando, encargo ordinariamente exercido pela Defensoria Pública ou quem lhe faça as vezes (advogados dativos, p.ex.). - Aqui é importante dizer que, caso não haja impugnação por parte do incapaz, não importa em presunção de veracidade dos fatos alegados na inicial (revelia), considerando a indisponibilidade do direito em debate. - Por fim, caso o curatelando não constitua advogado – ou ainda que constitua – sem prejuízo da nomeação de curador especial para apresentação da sua defesa técnica, poderá o cônjuge, companheiro ou qualquer parente – desde que sucessível – intervir como assistente, nos termos do art. 119 do CPC. Art. 753. Decorrido o prazo previsto no art. 752, o juiz determinará a produção de prova pericial para avaliação da capacidade do interditando para praticar atos da vida civil. § 1º A perícia pode ser realizada por equipe composta por expertos com formação multidisciplinar. § 2º O laudo pericial indicará especificadamente, se for o caso, os atos para os quais haverá necessidade de curatela. Art. 754. Apresentado o laudo, produzidas as demais provas e ouvidos os interessados, o juiz proferirá sentença. - Decorrido prazo para apresentação de defesa, o juiz determinará, de ofício, a produção de prova pericial7 para avaliação da capacidade do interditando para a prática dos atos da vida civil. Essa perícia pode ser realizada por equipe composta por expertos com formação multidisciplinar, e o laudo indicará, especificamente, se for o caso, os atos para os quais haverá a necessidade de curatela. 7 Flexibilização procedimental e possibilidade de dispensa da perícia. “Constatado pelas instâncias ordinárias que o interditando, por absoluta incapacidade, não tem condições de gerir sua vida civil, com amparo em laudo pericial (extrajudicial) e demais elementos de prova, inclusive o interrogatório de que trata o art. 1181 do Código de Processo Civil/1973, a falta de nova perícia em juízo não causa nulidade, porquanto, nesse caso, é formalidade dispensável (art. 244 do CPC/1973)” (STJ, REsp 253733/MG, Rel. Min. Fernando Gonçalves, 4.ª Turma, j. 16.03.2004). - Importante dizer que, não sendo o caso de gratuidade judiciária, competirá a antecipação dos honorários periciais – que poderão ser suportados pelo patrimônio do incapaz beneficiado pela ação de curatela. - Além da prova pericial, caso haja necessidade, poderá ser produzidas outras provas, seja com intuito de atacar o laudo, seja para demonstrar quem tem melhor condição de ser nomeado curador. Enfim, importante é destacar que todas as provas são possíveis de serem produzidas, inclusive novo pedido de entrevista do curatelando. Art. 755. Na sentença que decretar a interdição, o juiz: I - nomeará curador, que poderá ser o requerente da interdição, e fixará os limites da curatela, segundo o estado e o desenvolvimento mental do interdito; II - considerará as características pessoais do interdito, observando suas potencialidades, habilidades, vontades e preferências. § 1º A curatela deve ser atribuída a quem melhor possa atender aos interesses do curatelado. § 2º Havendo, ao tempo da interdição, pessoa incapaz sob a guarda e a responsabilidade do interdito, o juiz atribuirá a curatela a quem melhor puder atender aos interesses do interdito e do incapaz. § 3º A sentença de interdição será inscrita no registro de pessoas naturais e imediatamente publicada na rede mundial de computadores, no sítio do tribunal a que estiver vinculado o juízo e na plataforma de editais do Conselho Nacional de Justiça, onde permanecerá por 6 (seis) meses, na imprensa local, 1 (uma) vez, e no órgão oficial, por 3 (três) vezes, com intervalo de 10 (dez) dias, constando do edital os nomes do interdito e do curador, a causa da interdição, os limites da curatela e, não sendo total a interdição, os atos que o interdito poderá praticar autonomamente. - A decisão que determinar a interdição, isto é, estabelecer a curatela, deverá, além de fundamentar as razões pelas quais assim a decide, indicar os termos da curatela, conforme as potencialidades da pessoa tida como relativamente incapaz. - Nesse sentido, a sentença que reconhecer a incapacidade relativa, é uma decisão constitutiva, com efeitos ex nunc (imediatos). Isso significa dizer que os atos negociais praticados anteriormente, mesmo que sem a assistência do curador são anuláveis e não mais nulos, como era anteriormente. - Além disso, a sentença estabelecerá o estado e o desenvolvimento mental da pessoa, além dos limites da curatela, descrevendo os atos de natureza negocial ou patrimonial que dependerão de assistência. Para tanto, deverá considerar as características pessoais do incapaz, observando suas potencialidades. - Ao mesmo tempo em que delimita a curatela, também será nomeado curador, atribuindo- se o encargo àquele que melhor possa atender aos interesses do curatelado. Por conta desse último fator, o juiz levará em conta a vontade e as preferências do interditando, a ausência de conflito de interesses e de influência indevida, além de proporcionar e adequar às circunstâncias individuais. ATENÇÃO: No caso de pessoa em situação de institucionalização (internação), ao nomear curador, o juiz deve dar preferência às pessoas que tenham vínculo de natureza familiar, afetiva ou comunitária com o curatelado. Além disso, é possível o estabelecimento de curatela compartilhada. - A partir do momento que há o reconhecimento da incapacidade, deverá ser averbado – imediatamente – no registro da pessoa a sua condição de incapaz, além de dar máxima publicidade por diversos meios sobre a decisão e situação na qual se encontra o curatelado. - Por fim, como dissemos que a decisão possui efetios ex nunc e que ela deve ser averbada imediatamente, apesar de ser guerreada por meio de apelação, esta não possui efeito suspensivo imediato, vez que os efeitos da decisão que estabelece a curatela são imediatos. Art. 756. Levantar-se-á a curatela quando cessar a causa que a determinou. § 1º O pedido de levantamento da curatela poderá ser feito pelo interdito, pelo curador ou pelo Ministério Público e será apensado aos autos da interdição. § 2º O juiz nomeará peritoou equipe multidisciplinar para proceder ao exame do interdito e designará audiência de instrução e julgamento após a apresentação do laudo. § 3º Acolhido o pedido, o juiz decretará o levantamento da interdição e determinará a publicação da sentença, após o trânsito em julgado, na forma do art. 755, § 3º , ou, não sendo possível, na imprensa local e no órgão oficial, por 3 (três) vezes, com intervalo de 10 (dez) dias, seguindo-se a averbação no registro de pessoas naturais. § 4º A interdição poderá ser levantada parcialmente quando demonstrada a capacidade do interdito para praticar alguns atos da vida civil. - Aqui há uma discussão doutrinária a respeito da formação ou não da coisa julgada, especialmente por ser um procedimento de jurisdição voluntária e, no caso da interdição, permitir que a decisão que estabeleceu a curatela seja revista a qualquer tempo. - Independente do posicionamento adotado, o que deve ser entendido aqui é que a curatela poderá ser levantada ou ter a extensão modificada a partir da apresentação de novas provas ou realização de novos exames. - Esse pedido de levantamento da curatela pode ser feito por qualquer legitimado para propor a ação de interdição (ação de curatela). Sim, temos uma interpretação extensiva do previsto no § 1º do art. 756, especialmente em razão do enunciador nº. 57 do CJF8. - O procedimento será formulado de modo parecido com aquele visto para o pedido interdição, devendo trazer laudo médico que demonstre a mudança da condição do curatelado – melhora ou piora. IMPORTANTE: A ação de levantamento/modificação da curatela deve ser promovida, preferencialmente, perante o mesmo juízo que a decretou (competência funcional), distribuindo-se por dependência. Contudo, tendo em vista o melhor interesse do incapaz, caso ele e seu curador não mais vivam no foro onde se processou a ação de interdição, esta demanda poderá ser proposta no foro do domicílio do representante, caso em que a 8 Enunciado nº.: 57 das Jornadas de Direito Processual Civil do Conselho da Justiça Federal: “Todos os legitimados a promover a curatela, cujo rol deve incluir o próprio sujeito a ser curatelado, também o são para realizar o pedido do seu levantamento”. inicial deverá ser instruída e, caso necessário, pode haver requisição judicial para obter os documentos da ação de interdição.
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