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Comunicação e Expressão Unidade 1: Texto e contexto Professora Doutora Débora Mallet Pezarim de Angelo Texto e contexto Nesta unidade, você vai encontrar pessoas que precisam adequar seus textos às situações de comunicação em que estão inseridas. Para tanto, será preciso estudar os seguintes temas principais: interlocutores; texto e gênero textual e funções da linguagem. E agora, o que eu faço? Ao passar para a terceira fase de seleção de uma vaga para a empresa X, Marta ouviu a seguinte instrução de André, um dos selecionadores de candidatos: “prepare, para amanhã, uma apresentação oral de quinze minutos, sobre qualquer tema que você achar oportuno”. Ela foi para casa e ficou pensando no objetivo daquilo e chegou à conclusão de que seria avaliada por sua capacidade de se expressar em público, sua desinibição, sua facilidade em falar com clareza, em ser lógica, em parecer natural, enfim, um turbilhão de ideais tomou conta de sua cabeça. Agora seu problema era: o que fazer? A situação vivida por Marta acontece com as pessoas com frequência: é preciso “fazer o relatório”, “a lista de compras”, “ligar para o namorado”, “conversar com a amiga sobre o que aconteceu ontem”. Desde as situações mais banais às mais complexas, como a que Marta está passando, os indivíduos, o tempo todo, vivem situações comunicativas e, a partir delas, interagem com os outros. Ao interagirmos com as pessoas, estamos organizando a linguagem: o que e por que vamos dizer, para quem, movidos por determinados objetivos. Todos esses desejos, vontades, valores que temos materializam-se nas situações de comunicação. Assim, somos responsáveis pelo que dizemos e pelo modo como o fazemos. As formas como nos expressamos são, de alguma forma, controladas. Isso é o que chamamos de locutor: quando alguém organiza sua interação em direção a alguém em dado contexto; já o receptor ou alocutário é essa pessoa que vai nos ouvir, mas não de forma passiva. Ela também tem valores, objetivos, vontades. Disso podemos concluir que, na comunicação, as pessoas se colocam como interlocutoras, pois estão, o tempo todo, materializando seus interesses na comunicação, se responsabilizando pelo que dizem. A seguir, serão apresentadas as definições de locutor, alocutário e interlocutores, extraídas do Dicionário de análise do discurso. Locutor e alocutário: “o locutor é o sujeito falante responsável pelo ato de linguagem e, portanto, exterior a este. Opõe-se, nessa mesma relação de exterioridade, ao sujeito que acolhe o ato de linguagem, que pode ser designado nos termos de receptor ou alocutário”. Definição de interlocutores: são “os parceiros de uma troca verbal, em que cada um deles toma a palavra. O interlocutor é sempre considerado como aquele que está, ao mesmo tempo, na posição de um ato de comunicação e de poder tomar a palavra em seu turno”. Testando 1 Na situação vivida por Marta, pode-se afirmar que: a) Marta é o locutor, pois ela pede orientações a André sobre o que deve ser feito na apresentação. b) André é o alocutário, pois orienta Marta sobre o que deve ser feito. c) Marta é o alocutário, pois recebe o que André diz e, de forma ativa, pensa sobre a situação. d) André é o locutor, pois está interessado em ouvir o que Marta tem a dizer. e) Marta e André são locutores, pois ambos expressam seus pontos de vista e inquietações na situação em que estão inseridos. Feedback: na situação, Marta ouve o que André diz. Ele materializa, em sua fala, seus objetivos, portanto é o locutor, o responsável por suas próprias palavras. Já Marta é o alocutário, uma vez que interage com o que André diz, não sendo passiva na situação. O problema do Pedro é o nosso Pedro é morador da cidade de São Paulo, vítima das enchentes que todos os anos assolam a cidade. Foi diversas vezes à subprefeitura de seu bairro questionar o que pode ser feito para que o córrego perto de sua casa não transborde nos dias de tempestade. Porém nada acontecia após o registro de suas reclamações. Pedro então, assistindo a um noticiário, resolveu que deveria procurar um jornal, para que pudesse explicar o que acontecia e ver se, com essa pressão, alguém tomava uma providência. Contudo, não sabia como fazer. Escreveria uma carta? Para quem? Que palavras usar? Como começar esse texto? Pedro, da mesma forma que Marta, está inserido em uma situação comunicativa. Ele tem um problema e quer resolvê-lo: para tanto, precisa organizar a linguagem para se expressar com clareza. Ele vai produzir um texto. Mas esse texto tem características próprias, que é justamente o ponto que Pedro está questionando nesse momento. Chamamos de “gênero textual” cada modo de organizar a linguagem, de acordo com as situações comunicativas que vivenciamos. No caso dele, o gênero chama-se “carta”. Conceito de texto: segundo Diana L. P. Barros, o texto “pode ser tanto um texto linguístico, indiferentemente oral ou escrito – uma poesia, um romance, um editorial de jornal, uma oração, um discurso político, um sermão, uma aula, uma conversa de crianças –, quanto um texto visual ou gestual – uma aquarela, uma gravura, uma dança – ou, mais frequentemente, um texto sincrético de mais de uma expressão – uma história em quadrinhos, um filme, uma canção popular.” Conceito de gênero textual: na definição de Marcuschi, é “uma noção propositalmente vaga para referir os textos materializados que encontramos em nossa vida diária e que apresentam características sociocomunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição característica. Se os tipos textuais são apenas meia dúzia, os gêneros são inúmeros. Alguns exemplos de gêneros textuais seriam: telefonema, sermão, carta comercial, carta pessoal, romance, bilhete, reportagem jornalística, aula expositiva, reunião de condomínio e assim por diante”. Uma carta é um gênero com algumas características: normalmente escrito em 1ª pessoa, nela seu autor diz o que pretende, dá informações, se dirige a alguém. Ele também precisa assinar e datar o texto. Há muitos outros gêneros. Na verdade, no dia a dia, estamos usando gêneros o tempo todo: escrevemos bilhetes, torpedos, recados no Facebook, temos conversas ao telefone, organizamos listas, lemos notícias na internet. Em suma: a linguagem está sempre organizada em um dado gênero textual e saber escolher qual é o mais adequado para a situação e como ele funciona é muito importante. Voltemos ao caso de Marta. Ela fará uma “apresentação oral”. Esse também é um gênero, com características diferentes da carta. Ela precisará conhecer o modo de organização desse texto para que se apresente da melhor forma e atinja seus objetivos. Importante! Todo profissional precisa se comunicar bem. Para tanto, dominará alguns gêneros que usa no dia a dia, seja para ler ou escrever, e, assim, atingirá seus objetivos. Essa consequência virá também porque, ao escolher o gênero certo para o momento correto, correspondemos às expectativas da situação. É mais ou menos como “usar a roupa certa para cada ocasião”. Boxe – texto de opinião Um gênero bastante comum que organizamos é o texto de opinião. Conheça algumas de suas características, de acordo com o jornalista Eugenio Bucci: 1. Defina que opinião irá defender De acordo com Bucci, antes de começar a escrever um artigo de opinião, o estudante deve definir o tema que deseja abordar com o texto. “Um artigo nada mais é do que a defesa de uma ideia. Por isso, é muito importante o jovem ter em mente o que pretende escrever e começar a reunir os argumentos necessários para criar essa defesa”, disse. No caso do Concurso Tempos de Escola, os estudantes deverão escrever sobre a importância da leitura em sua vida. O jornalista ressalta, ainda, queé preciso ter uma opinião formatada. “Para escrever artigos de opinião, é obrigatório tê-la. E ter opinião é difícil, é muito raro. Normalmente, o que temos por aí são repetidores de opinião”. 2. Monte uma sequência de argumentos Como toda defesa de opinião depende de argumentos, Bucci recomenda que o aluno defina uma sequência para conduzir sua tese. “Cada parágrafo deve conter um argumento, incorporando o anterior e preparando o seguinte. Como se pode ver, um artigo de opinião é construído, é preparado, não é algo que sai assim, sem mais nem menos, da cabeça do autor. O bom artigo de opinião é escrito e reescrito várias vezes antes de ser publicado”, explicou. 3. Evite escrever em primeira pessoa Por mais que o objetivo do artigo seja defender uma opinião, o jornalista sugere que o aluno evite escrever em primeira pessoa. “A primeira pessoa pode até atrapalhar. Se você quer convencer alguém de alguma coisa, tente não ficar falando de você mesmo o tempo todo”. Outro ponto importante, lembra Bucci, é tomar cuidado para não misturar os tempos verbais. 4. Seja claro para o leitor O professor recomenda que, ao escrever, o aluno sempre tenha em mente quem irá ler o artigo. “As principais características de um artigo de opinião são: clareza, elegância e simplicidade na argumentação. Ideias boas são lógicas. Lembre-se, diante de um bom artigo de opinião, quem deve se sentir inteligente é o leitor, não você”, explicou. 5. Busque referências Bucci explica que o estudante pode buscar referências em qualquer lugar, não somente em outros artigos. “Se ele opina sobre arte, deverá buscá-la na arte, mas não somente, porque a arte está em tudo. Para escrever, não precisamos olhar somente para coisas escritas. A inspiração deve vir do dia a dia, do que está ao redor. E, claro, o aluno deve olhar tudo com o senso crítico apurado”, disse. Disponível em: http://www.homolog.blogeducacao.web305.kinghost.net/2013/07/eugenio-bucci-fala-sobre- como-escrever-um-bom-texto-de-opiniao/. Acesso em julho de 2013. Funções da linguagem O que é linguagem? Define-se como linguagem qualquer sistema de signos socializado. Nesse sentido, podemos falar em linguagem da moda, linguagem do jornalismo, linguagem televisiva, linguagem cinematográfica, linguagem culinária, linguagem fotográfica, entre muitas outras. Desse modo, é possível perceber que as linguagens são formas de expressão humanas, representando valores de grupos de uma dada sociedade, que podem variar no tempo, no espaço etc. Em cada situação de comunicação, a linguagem organiza-se de acordo com certos objetivos. A partir dela, estaremos pondo em funcionamento uma ou mais funções da linguagem. Para Jakobson, cada função da linguagem está ligada a um dos elementos da comunicação. CONTEXTO (função referencial) REMETENTE MENSAGEM (função poética) DESTINATÁRIO (função conativa) CANAL (função fática) CÓDIGO (função metalinguística) Sintetizando as funções da linguagem, temos: http://www.homolog.blogeducacao.web305.kinghost.net/2013/07/eugenio-bucci-fala-sobre-como-escrever-um-bom-texto-de-opiniao/ http://www.homolog.blogeducacao.web305.kinghost.net/2013/07/eugenio-bucci-fala-sobre-como-escrever-um-bom-texto-de-opiniao/ Função Emotiva – É quando o texto, numa dada situação comunicativa, centram- se no emissor. Expresso, neste momento, meu sentimento de gratidão por toda a história que passei nessa empresa, todas as oportunidades que fizeram de mim o profissional que sou hoje. Função Conativa – É quando o texto, numa dada situação comunicativa, centram- se no receptor/destinatário. Função Poética – Diferentemente do que se pode imaginar, a função poética não deve ser associada apenas à poesia. Todo uso de linguagem que procura ir além apenas do sentido imediato da mensagem. É quando o texto é construído de forma mais sugestiva, despertando o imaginário do receptor. Função Referencial - Também chamada de denotativa, está ligada ao contexto da situação de comunicação. Não diz respeito ao “eu” emissor nem ao “você” receptor; associa-se ao “ele” ou “isso”, qualquer outra pessoa, assunto, acontecimento. Função Fática - Centrada no contato. São textos compostos para iniciar, manter ou encerrar uma dada comunicação. Segundo Vanoye, “a função fática manifesta essencialmente a necessidade ou desejo de comunicar”. - Alô! - Oi, Antônio, é a Clara, tudo bem? - Tudo bem e você? - Não estou ouvindo direito... - É, a ligação parece longe... Função metalinguística - Centrada no código. Novamente segundo Vanoye, “Tudo o que, numa mensagem, serve para dar explicações ou precisar o código utilizado pelo destinador (ou emissor) concerne a essa função”. VOLTA: de volta ou Lat. *volta < volvere s. f., acto de regressar a um lugar de onde se partira; acto de virar ou de se virar; regresso; mudança; movimento circular; giro; circuito; cada uma das curvas de uma espiral; feitio curvo de objecto; mudança de opinião; disposição diversa; aquilo que se dá para igualar uma troca; curva; sinuosidade; tira branca de pano de linho ou de algodão na parte superior do cabeção dos padres, dos seminaristas e lentes das Universidades; tira de pano ou renda pendente do pescoço, no uniforme de certos funcionários. Resumo da unidade Nesta unidade, centramos atenção nas situações comunicativas que nos envolvem o tempo todo e em alguns aspectos importantes que precisam ser considerados para que ela aconteça da melhor forma: como organizamos o texto para atingir nossos objetivos? Em que gênero devo organizá-lo? Sou responsável pelo modo como organizo meus textos e nele expresso meus valores e desejos. A mesma coisa acontece com meu receptor: ele, de forma ativa, interage com o que digo, materializando, também, seus objetivos em sua comunicação comigo. Referências bibliográficas CHARAUDEAU, P.MAINGUENEAU, D. Dicionário de análise do discurso. São Paulo: Contexto, 2004. BARROS, D. Teoria semiótica do texto. São Paulo: Ática, 2011. MARCUSCHI. L. “Gêneros textuais: definição em funcionalidade”. In: Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002. VANOYE, F. Usos da linguagem - problemas e técnicas na produção oral e escrita. São Paulo: Martins Fontes, 1998. Sites http://www.pucrs.br/gpt/argumentativo.php – Aqui você encontra diversas informações sobre os textos argumentativos, em que é preciso dar opinião sobre um tema. Vídeos http://www.youtube.com/watch?v=OQPw-xUK_tk – Aqui você encontra uma explicação didática sobre os gêneros textuais. http://www.pucrs.br/gpt/argumentativo.php http://www.youtube.com/watch?v=OQPw-xUK_tk Comunicação e Expressão Unidade 2: Variedades linguísticas Professora Doutora Débora Mallet Pezarim de Angelo Variedades linguísticas Nesta unidade, você vai encontrar pessoas usando a linguagem verbal – aquela que é composta por palavras – de diversas formas, tentando se adequar à situação. Para tanto, será preciso entender os seguintes conceitos: variedades ou normas linguísticas; norma padrão, norma coloquial, norma profissional e norma de espaço físico. Pegar um jacaré? Seu Paulo é biólogo e tem um neto surfista, Olavo. Um dia, Paulo ouviu seu neto dizer numa conversa ao telefone com um amigo que tinha tomado um caldo e que amanhã ia à praia pegar um jacaré. Sem entender muito bem, afinal o local onde eles estavam era de clima quente e não havia contexto para esse tipo de alimentação, foi conversar com o rapaz e questionar o porquê dessa escolha. Aproveitou para esclarecer que jacaré é um réptil que vive em água doce e que o rapaz não acharia nenhum jacaré no mar. Como Olavo explicaria a seu avôo que são esses termos? Ah, tá! A expressão “pegar jacaré” pode ser entendida como sinônimo de “surfar”. Na situação vivida pelo sr. Paulo e seu neto, Olavo, vemos que as pessoas se expressam usando a língua de modos diferentes: os dois entendem algumas palavras ou expressões de modo diverso, o que reflete suas faixas de idade, valores, adequação às situações comunicativas. No telefonema informal de Olavo a um amigo, “tomar caldo” e “pegar jacaré” são expressões que ambos compreendem e que cabem na conversa descontraída. Já em uma situação mais formal, o rapaz precisa se expressar de outro modo. Seu Paulo, por sua vez, usa as mesmas expressões com sentidos diferentes. Será que eles estão errados? Muitas pessoas, por diferentes razões (entre elas, certamente, pela formação escolar), acreditam que haja um único modo “certo” de falar e escrever a língua portuguesa e que todos os outros usos estão “errados”. Para entender melhor essa ideia, observe os textos a seguir. Nas duas imagens apresentadas, observa-se uma mesma personagem: uma mulher, em uma mesma situação (dando explicações para outra, que parece ser sua aluna). Na primeira cena, ela fala de acordo com a norma padrão da língua; na segunda, fala de maneira mais coloquial. Nesse contexto, é preciso perguntar: qual a forma mais adequada de falar? Todos nós passamos por situações como essas no dia a dia e fazemos escolhas linguísticas, de acordo com cada situação. Desse modo, pode-se compreender que não está “errado” mudar a forma de falar nas diferentes situações de comunicação vividas. Essa é apenas uma adaptação da fala ao contexto. É importante destacar que a variação na fala (e, às vezes, na escrita) das pessoas não se dá apenas de acordo com as situações. Há outros tipos de diferenças como a pronúncia, o tipo de vocabulário, o usos de palavras específicas de profissões, a maneira de organizar as frases, entre outras. De acordo com os modernos estudos linguísticos, não há “certo” ou “errado” para nenhum uso da língua, mas, sim, adequado ou inadequado ao contexto. Isso quer dizer que “nós vai” não é um erro de português? Observe o seguinte: Fala coloquial Fala padrão “Eu vou” “Eu vou” “Você vai” “Tu vais” “Ele(a) vai” “Ele(a) vai” “Nós vai” “Nós vamos” “Vocês vai” “Vós ides” “Eles(as) vai” “Eles(as) vão” Observa-se que na fala coloquial há uma regra diferente de uso da fala padrão. Mas há regras nas duas maneiras, pois cada falante, em qualquer situação de comunicação, não se expressa de um modo inventado naquele momento, mas de uma forma consagrada por ele e por muitos outros indivíduos de sua comunidade. A lógica que existe na primeira conjugação do verbo “ir” de nosso exemplo é a seguinte: • Apenas a 1ª pessoa do singular (eu) apresenta uma forma diferente das demais (provavelmente para marcar a diferença entre “quem fala” e os outros); • Nas demais pessoas, o verbo não varia, mas a ideia de singular ou plural fica no pronome. Assim, “você vai” é diferente de “vocês” vai”. Já na lógica da norma padrão, cada pessoa apresenta uma forma verbal diferente. Além disso, no plural (nós, vós e eles) há uma dupla marca de plural, na pessoa (nós, vós e eles) e no verbo (vamos, ides e vão). Concluindo: o que vemos aqui não são usos “certos” ou “errados” do português, mas usos que seguem regras diferentes. Todos os usos linguísticos seguem uma lógica de seus grupos usuários e não podemos dizer que a lógica do grupo “x” é melhor do que a lógica do grupo “y”. Elas são simplesmente diferentes. Uma norma ou variedade linguística é um conjunto de normas fixado, usado e consagrado por uma comunidade de falantes de um dado idioma. Todas as variedades linguísticas seguem princípios lógicos, não sendo, portanto, possível dizer que uma norma é melhor do que outra. No entanto, a norma padrão é a mais prestigiada socialmente, sendo exigida em situações mais formais de comunicação. Estudando algumas variedades Há diversas normas ou variedades linguísticas, mas vamos estudar algumas: 1) Norma de espaço físico Em cada região do país (e mesmo dentro de uma mesma região), as pessoas falam de forma diferente, seja no uso de palavras, na sonoridade (na forma de pronunciar cada termo) etc. Se você observar sua fala, verá que usa palavras ou pronúncias típicas de onde você vem ou mora. Essas diferenças, muitas vezes, levam alguns falantes a acreditar que “a maneira certa de falar é do lugar x”. Existe uma forma mais certa do que a outra? A resposta é não. Todas as diferentes maneiras de falar são legítimas, apresentando-se apenas como variedades do idioma. Isso, aliás, ocorre não só no Brasil, mas em todos os lugares do mundo onde há pessoas que falam português. Norma de espaço físico, portanto, é o conjunto de usos consagrados em uma dada localidade. 2) Norma de grupos profissionais Outra variedade existente é a chamada norma de grupos profissionais, ou jargão. São os usos linguísticos específicos de uma dada profissão, sendo muito comuns as criações de vocábulos próprios da área. Entre os profissionais de um mesmo setor, um jargão costuma agilizar e precisar a comunicação, uma vez que os conhecimentos do grupo de falantes é comum. No entanto, ao entrar em contato com pessoas que não pertencem àquele grupo profissional, é preciso usar esses termos com cautela, pois eles podem dificultar o entendimento dos falantes que não dominam esses termos. 3) Norma coloquial Ela é o conjunto de usos da língua consagrados pelos falantes, mas que não seguem a mesma lógica da norma padrão. Quanto mais informal o contexto, mais pertinente o uso da norma coloquial. Há alguns temas que, particularmente, geram maiores diferenças de uso entre essa norma e a padrão. Por exemplo, a colocação de pronomes, a concordância e a regência verbais, a ortografia, a acentuação, a pontuação o uso do acento grave indicador de crase etc. Uma sugestão! Observando sua fala ou texto, ou mesmo contando com a ajuda de um professor ou alguém que apresente um bom domínio da norma padrão da língua portuguesa, procure detectar quais são suas maiores dificuldades com os usos formais do idioma. Faça uma lista e procure estudar esses tópicos. Você poderá encontrar exercícios em gramáticas normativas da língua portuguesa. Sempre que tiver uma dúvida, você pode usar duas estratégias: procurar resolvê-la com a ajuda de uma gramática, um dicionário, um professor etc. Dessa forma, você poderá aprender algo que será usado em outras situações de comunicação. Se a situação for de urgência e você não tiver um modo de resolvê-la, procure outra forma de expressar-se, evitando o uso que gerou dúvida naquele momento. 4) Norma padrão Deve ser compreendida como o conjunto de regras prescrito na gramática normativa da língua portuguesa. São os usos ditados pelas regras prescritas pelos gramáticos e usadas nas situações mais formais de comunicação. Assim, as falas e escritos profissionais, jornalísticos, políticos etc. costumam seguir as normas indicadas pelo uso padrão do idioma, o mais valorizado socialmente. Não é adequado, por exemplo, que você chegue ao trabalho e diga para o chefe “nós vai fazer reunião à tarde?”. Você não deve se expressar dessa forma em uma situação com alguma formalidade, pois o que se espera de você, nesse contexto, é queuse a norma padrão de nossa língua. Não porque essa forma de falar seja um erro, mas porque é uma maneira socialmente desprivilegiada, e, portanto, em qualquer situação formal de comunicação, deve ser evitada. Testando Leia o texto a seguir. Festa das funções As funções resolveram dar uma festinha. Várias delas apareceram: funções constantes, lineares, polinomiais e a exponencial que ficou meio fora de lugar porque não conseguia se integrar. Eis que, do nada, entra na festa o Operador Diferencial, vulgo derivada, que começa a atacar as funções. Quando ele encostava em uma função polinimial e, 'puf', ela caia de grau; já quando o operador tocava em uma função constante, 'puf', ela sumia. Foi então que a exponencial tomou coragem para enfrentar o operador diferencial e disse: - Pode ir parando com isso agora! O senhor deve ir embora dessa festa! - Quem é você para falar assim comigo sua atrevida? - perguntou a derivada. -Eu sou ex muito prazer. - Prazer, eu sou dy/dt. 'Puf'. O texto acima é uma piada. Contudo, a sua compreensão ficou dificultada pelo possível desconhecimento da linguagem usada, específica da matemática. Que nome recebe essa variedade? a) Norma de espaço físico. b) Norma coloquial. c) Norma padrão. d) Norma de grupos profissionais. e) Norma de faixa etária. Feedback: há falares próprios para grupos profissionais específicos, como os de uma mesma área (médicos, policiais, profissionais de informática, metalúrgicos, alfaiates, por exemplo). São os chamados jargões, caracterizados no texto pela linguagem específica de profissionais da matemática. Resumo da unidade Uma norma ou variedade linguística é um conjunto de normas fixado, usado e consagrado por uma comunidade de falantes de um dado idioma. Todas as variedades linguísticas seguem princípios lógicos, não sendo, portanto, possível dizer que uma norma é melhor do que outra. No entanto, a norma padrão é a mais prestigiada socialmente, sendo exigida em situações mais formais de comunicação. Foram destacadas quatro normas: de espaço físico; de grupos profissionais; coloquial e padrão. Referências bibliográficas BAGNO, Marcos. A língua de Eulália – uma novela sociolinguística. São Paulo: Contexto, 2000. BAGNO, Marcos. A norma oculta. São Paulo: Parábola, 2003. PRETI, Dino. Sociolinguística: os níveis da fala. São Paulo: Edusp, 2000. Sites http://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/variacoes-linguisticas-o-modo-de- falar-do-brasileiro.htm – Aqui você encontra algumas informações sobre as variedades linguísticas no Brasil. Vídeos http://www.youtube.com/watch?v=_Y1-ibJcXW0– Aqui você encontra um programa de televisão que aborda o tema das variedades linguísticas. http://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/variacoes-linguisticas-o-modo-de-falar-do-brasileiro.htm http://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/variacoes-linguisticas-o-modo-de-falar-do-brasileiro.htm http://www.youtube.com/watch?v=_Y1-ibJcXW0 Comunicação e Expressão Unidade 3: No mundo da fala Professora Doutora Débora Mallet Pezarim de Angelo No mundo da fala Nesta unidade, você vai encontrar situações em que as pessoas precisam se expressar oralmente, mas que não são do cotidiano. Para tanto, será preciso discutir os seguintes temas: ouvinte; tema; sequência e técnicas para uma boa apresentação. Falar em nome da turma? A festa de formatura de Eduardo estava chegando. Um de seus professores lembrou a classe que um aluno precisava ser o orador. Eduardo foi o escolhido pelo grupo. A orientação que recebeu foi a seguinte: seria preciso fazer uma retrospectiva dos 3 anos de Ensino Médio, recapitulando os grandes acontecimentos vividos pelo grupo; fundamental também era agradecer aos familiares, funcionários e gestores de sua escola, enfim. Eduardo era um ótimo aluno, escrevia textos excelentes, mas nunca precisou escrever um discurso para apresentar diante de centenas de pessoas. Ele estava inseguro, pois não sabia bem o que dizer e nem como dizer... A situação vivida por Eduardo revela um ponto importante da comunicação: a oralidade. Muitas pessoas acham que falar bem é um dom, algo espontâneo que alguns privilegiados conseguem fazer com maestria. Esse dom fica especialmente ressaltado se a fala estiver prevista para ser apresentada diante de um grande público, como é o caso de Eduardo. É evidente que alguns indivíduos têm facilidade para se comunicar oralmente; no entanto, da mesma forma que escrever ou ler, falar bem, independente do tamanho do público, é uma competência que todos podem desenvolver, de forma satisfatória. Mais do que isso: é uma necessidade humana. Há muitas situações pessoais e profissionais em que somos obrigados a falar diante de outras pessoas. Essa fala pode ser produzida a partir de uma situação de improviso ou de um evento previamente marcado. Se tivermos a oportunidade de preparar nossa apresentação oral, ela poderá ter um êxito maior frente a nosso público. “Falar em público” não é uma habilidade natural de alguns. Acreditamos que as apresentações orais, como qualquer outro gênero textual, podem ser preparadas por qualquer falante, que chegará a um bom resultado. A falta de preparo e o medo de enfrentar um público são elementos que, normalmente, interferem na apresentação oral, de tal forma que, muitas vezes, mesmo possuindo um bom conhecimento do assunto a ser tratado (elemento fundamental para o bom desempenho), as pessoas sentem imensa dificuldade em falar para uma plateia. O que é uma apresentação oral? Para Dolz, Schneuwly, Pietro e Zahnd A exposição ou apresentação oral é um discurso que se realiza numa situação de comunicação específica que poderíamos chamar de bipolar, reunindo o orador ou expositor e seu auditório. Assim, a exposição pode ser qualificada como um espaço- tempo de produção onde quem fala dirige-se ao destinatário, por meio de uma ação de linguagem que veicula um conteúdo referencial. Mas, se esses dois atores encontram-se reunidos nessa troca comunicativa particular que é a apresentação, a assimetria de seus conhecimentos sobre o tema a ser exposto os separa: um, por definição, representa o “especialista”; o outro é mais difícil de caracterizar, mas, pelo menos, apresenta-se como alguém disposto a aprender alguma coisa. Podemos definir pois a exposição oral como um gênero textual público, relativamente formal e específico, no qual um expositor especialista dirige-se a um auditório, de maneira explicitamente estruturada, para lhe transmitir informações, descrever-lhe algo ou lhe explicar alguma coisa. (Dolz, Schneuwly, Pietro e Zahnd, 2011, p. 185) Uma boa preparação pode contribuir, de maneira significativa, na superação do medo de falar diante dos outros. Inicialmente, vamos pensar em três aspectos: o que falamos, com quem e de que modo. Com quem estamos falando? Como em qualquer ato comunicativo, é importante sabermos sobre o público a quem nos dirigimos. Por que estão ali? Que expectativas têm? Outro ponto importante é acompanhar a fala de acordo com as reações dos ouvintes: as expressões faciais, postura corporal, entre outros aspectos, podem auxiliar para um melhor direcionamento do que estamos apresentando. Do que estamos falando? Uma apresentação oral deve ser organizada em torno de um tema. No caso de Eduardo, ele precisa fazer uma retrospectiva da turma, apontando os principais pontos da trajetória do grupo que ele representa, dando especial atenção aos que ajudaram para que eles chegassem até ali. Ter clareza do tema, portanto, é a base de organização da apresentação. Qual é a sequência? O modo como conduzimos uma apresentação é fundamental para seu sucesso: • Apresentação da proposta: é precisocumprimentar o público, se apresentar, bem como o tema ser tratado. Além disso, para facilitar o entendimento, pode- se sintetizar, antes do início propriamente dito, o caminho que será percorrido. Nada impede, também, que, durante a apresentação, a cada novo momento que se inicia, você avise seus ouvintes de que outro tópico será destacado. • Fio de raciocínio: uma fala deve ter um fio, previamente estabelecido. Ao compor uma apresentação, organizamos uma série de informações sobre um dado assunto. Portanto, tão importante quanto dominar o assunto é saber como apresentá-lo. • Leituras: devem ser evitadas, especialmente de longos trechos. Quando necessário, fazê-las de modo que possam ser acompanhadas pelo público (em transparência, data show ou cópia entregue a cada participante). E agora, Laura? Uma grande empresa está realizando entrevistas para o cargo de recepcionista. Primeiro, é feita uma dinâmica em grupo, na qual o responsável pelo RH pede que todos se apresentem (dizer nome, idade, quais seus objetivos dentro da empresa, por que a escolha daquela empresa e como se imaginam daqui a 5 anos). Laura, que é muito tímida, acabou de entrar na faculdade, tem pouca experiência com entrevistas, percebe que suas concorrentes são mais velhas que ela. Ela está insegura. O que Laura pode fazer para viver momentos como esse de forma mais segura? Laura está vivendo uma situação muito comum: ela precisa falar em público, mas não se sente capaz. Está envergonhada, intimidada, não sabe o que dizer nem de que modo. Essa sensação parece estar paralisando a moça. De acordo com o especialista Reinaldo Polito, “Nós temos internamente dois oradores distintos: um real e outro imaginado. O real é o verdadeiro, aquele que as pessoas veem efetivamente. O imaginado é fruto da nossa imaginação, aquele que nós pensamos que as pessoas veem quando falamos. Esse orador imaginado é construído principalmente pelos registros negativos que recebemos — os momentos de tristeza, de derrota, de cerceamento que passamos ao longo da vida. Esses registros formam uma autoimagem negativa, distorcida, diferente da imagem verdadeira que possuímos”. Na tentativa de superar esses problemas, vamos apresentar algumas técnicas para apresentação oral, que podem nos auxiliar a persuadir nossos interlocutores. O que é persuasão? De acordo com Citelli (2000), todo texto tem algum grau de persuasão, uma vez que, de alguma forma, a pessoa que fala ou escreve sugere, de forma explícita ou implícita, ideias, valores, visões de mundo em seu texto. No entanto, há formas de expressão em que a tentativa de convencer o outro sobre algo é direta, clara, com argumentos que sustentam uma dada forma de pensar. É o caso das palestras e apresentações orais. Por vezes, por outro lado, é possível transmitir algumas ideias de forma mais indireta. Por exemplo, se alguém, em dada situação, apresenta uma imagem, uma música e diz a seu interlocutor “quero que esse texto lhe ajude a pensar no que dissemos”, a persuasão é mais implícita, pois o leitor vai ter alguma abertura no modo de interpretar a imagem ou o que a música sugere. Isso não significa, por outro lado, que ser implícito é menos persuasivo. Isso depende de cada situação comunicativa e dos interlocutores envolvidos. • É preciso ensaiar: em qualquer comunicação oral mais formal, devemos chegar preparados. Saber o que vamos dizer, em linhas gerais, em quanto tempo, de que modo. Para tanto, ensaiar a situação, diante de pessoas conhecidas, pode nos auxiliar a superar o medo de falar diante dos outros. • Cuidado com a aparência e postura: uma vestimenta adequada à situação, bem como postura e posicionamento corporais, interferem na recepção do público. Mesmo se a comunicação oral se dará apenas entre duas pessoas – por exemplo, um médico e seu paciente – é preciso causar uma boa impressão. • Interaja com a plateia: o olhar e a fala para a plateia também auxilia na interação com o público. Perceber suas reações, prever momentos em que as pessoas poderão fazer perguntas, provocar os ouvintes com questionamentos. Todos esses recursos colocam ao favor do apresentador uma característica básica da comunicação oral: estar diante de seu interlocutor. • Uso de recursos audiovisuais: quando usar transparência ou data show é fundamental que o texto esteja legível e sirva como apoio. Esses recursos, por si mesmos, não produzem a apresentação, servindo, apenas, como fonte de apoio. Além disso, espera-se que não apresentem erros (ortografia, acentuação, diagramação, etc.). • Atenção à Língua Portuguesa: a fala, devido à situação de interlocução, mostra-se, às vezes, um pouco menos formal do que a escrita. No entanto, opte, sempre, pelos usos do português padrão, sem exageros (você não precisa parecer erudito, tampouco deve usar gírias). • A citação de fontes: devem citar-se as fontes dos dados e informações que serão apresentadas na fala. Além disso, sempre que um elemento for mencionado literalmente, deve aparecer com a notação bibliográfica. • Apresentação programada: toda apresentação tem um tempo de duração. Portanto, é fundamental estabelecer como a fala será distribuída no tempo. Assim, seguindo o fio de raciocínio, deve-se estabelecer o tempo de duração de cada parte da fala. • Interação (falas em grupo): em algumas situações, uma apresentação é feita por um grupo. Nesses casos, é importante organizar previamente a ordem e o momento de fala de cada um. Um recurso complementar nessa organização é o “passar a palavra”, quando houver troca de orador; isso evita a sobreposição de falas, situação que deve ser evitada por poder gerar confusão de entendimento, demonstrar desorganização, insegurança etc. • Fale com emoção: é importante demonstrar aos ouvintes que você acredita no que está falando. Sem ser caricato ou piegas, em situações de comunicação oral é preciso se expressar de modo a transparecer que se acredita no que se diz e que aquele momento ali está sendo importante para o apresentador. Testando Leia as afirmações a seguir e observe a relação entre elas. Em seguida, com base nas explicações dadas na unidade, selecione a alternativa correta. Iniciar uma apresentação com uma imagem síntese do que se quer dizer pode ser um bom recurso persuasivo PORQUE Dependendo da situação comunicativa, uma sugestão implícita do que se quer transmitir pode ser tão ou mais eficiente do que dizer de forma clara e objetiva o que se quer transmitir. a) A primeira afirmação é verdadeira e a segunda é falsa. b) A primeira afirmação é falsa e a segunda é verdadeira. c) A primeira afirmação é verdadeira e a segunda justifica a primeira. d) A primeira afirmação é verdadeira e a segunda não justifica a primeira. e) As duas afirmações são falsas. Feedback: De acordo com o conteúdo instrucional, as duas afirmações estão corretas e há uma relação de causa e consequência entre elas. Resumo da unidade Nesta unidade, focamos nossa atenção no gênero “apresentação oral”, entendendo algumas de suas características. Acima de tudo, defendeu-se a ideia de que falar com os outros, para um público pequeno ou grande, em situação mais formal, não deve ser visto como uma situação espontânea. Falar bem exige preparação, para que o efeito de persuasão que se deseja seja alcançado. Referências bibliográficas CITELLI, Adilson. Linguagem e persuasão. São Paulo: Ática, 2000. Dolz, Schneuwly, Pietro e Zahnd. A exposição oral. In: Gêneros orais e escritos na escola. Campinas: Mercado de Letras, 2011. POLITO, Reinaldo. “Vença o medo de falar em público”, artigo publicado em 23/02/2007. http://noticias.uol.com.br/economia/carreiras/artigos/polito. Sites http://www.reinaldopolito.com.br/portugues/default.php – no sitedo professor Polito você encontra muitas informações para preparar sua apresentação oral. Vídeos http://www.youtube.com/watch?v=G6yf3lT-HDo – Aqui você encontra algumas informações sobre apresentações orais. http://noticias.uol.com.br/economia/carreiras/artigos/polito http://www.reinaldopolito.com.br/portugues/default.php http://www.youtube.com/watch?v=G6yf3lT-HDo Comunicação e Expressão Unidade 4: No mundo da escrita Professora Doutora Débora Mallet Pezarim de Angelo No mundo da escrita Nesta unidade, você vai encontrar pessoas que precisam escrever seus textos de forma adequada às situações de comunicação em que estão inseridas. Para tanto, os temas principais são: esquema de produção textual, parágrafo, coerência e coesão. Introdução da Unidade É urgente! Fernando precisava falar com seu chefe sobre a urgência da implantação de rotas de fuga, instalação de extintores e treinamento de incêndios a todos os funcionários, mas já tinha ouvido pelos corredores que o chefe estava muito ocupado e que não dava prioridade a esse tipo de assunto nesse momento, em que a empresa estava com muito trabalho. Fernando ligou e tentou agendar um horário com Carlos, seu chefe, mas a secretária disse que a agenda estava lotada e que o chefe só resolveria questões internas por e-mail. Como Fernando pode convencer Carlos a iniciar o treinamento? Fernando está vivendo um desafio que todos enfrentam no dia a dia: escrever um texto. No caso, ele deve escrever um e-mail para seu chefe, para convencê-lo sobre a urgência em iniciar os treinamentos contra incêndio na empresa em que trabalham. Temos, portanto, alguns elementos nessa situação: quem escreve é o subordinado; o chefe não está focado no assunto de interesse de seu colaborador; para quem vai escrever, o assunto é urgente. Assim, Fernando precisa ser persuasivo, mas de forma a não parecer inoportuno ou arrogante diante de seu superior. Boxe – Ser persuasivo Argumentação, ou persuasão pode ser definida como a soma dos procedimentos linguísticos utilizados em um dado texto que têm por objetivo convencer o receptor de alguma coisa. Platão e Fiorin propõe a seguinte definição de argumento: “observemos a origem do termo: vem do latim argumentum, que tem tema argu, cujo sentido primeiro é „fazer brilhar‟, „iluminar‟. É o mesmo tema que aparece nas palavras argênteo, argúcia, arguto etc. Pela sua origem, podemos dizer que argumento é tudo aquilo que faz brilhar, cintilar uma ideia. Assim, chamamos argumento a todo procedimento linguístico que visa a persuadir, a fazer o receptor aceitar o que lhe foi comunicado, a levá-lo a crer no que foi dito e a fazer o que foi proposto.” Voltando à situação de Fernando, para atingir seus objetivos e escrever um texto adequado, ele pode iniciar preparando um esquema de sua escrita. Vamos ver o que é isso? Segundo A. L. Pita e Sueli Pitta, “a função básica de um esquema é definir o tema e hierarquizar as partes de um todo numa linha diretriz, para torná-lo passível de uma visão global. Pelo esquema, pode-se atingir o todo numa única mirada”. No caso dos textos escritos, uma narrativa, por exemplo, pressupõe um esquema que organize a história que será contada. No caso dos escritores profissionais, a narrativa que se organizará é toda esquematizada antes de ser produzida, mesmo que seja apenas mentalmente. Mas, mesmo que o autor não pense na organização de sua história, ela acabará seguindo algum esquema. Podemos partir de perguntas como: qual a história que desejo contar? Como vou organizá-la? Como começa? Quais seus acontecimentos principais? Como vou terminá-la? Da mesma forma que nos textos narrativos, os argumentativos também são esquematizados por seu produtor. Isso significa dizer que um autor estabelece um fio de raciocínio que dará sustentação a seu ponto de vista. Diferentemente das narrativas, os textos argumentativos não estão preocupadas em contar fatos, mas, sim, em apresentar uma opinião, mais ou menos explícita, a partir de um tema dado. Assim sendo, seu esquema de construção indica um tema, o que o autor pensa sobre o assunto e os motivos que o levam a pensar assim, além de sua conclusão. Podemos partir de perguntas como: qual meu objetivo? Que ideia pretendo defender? Que argumentos tenho para sustentá-la? Os esquemas ajudam a compreender melhor o percurso do texto Transformando o esquema em texto: os parágrafos A clareza do texto deve-se, em grande parte, à forma como conseguimos organizar nossas ideias em parágrafos. Em termos de composição textual, é um caminho em etapas. Os parágrafos representam, de certa forma, cada um desses estágios a serem cumpridos. Conceito de parágrafo Luiz C. Figueiredo afirma que eles “são como „prateleiras‟ que dividem uma sequência de informações ou pensamentos. Servem para facilitar a compreensão e a leitura do texto, dar folga ao leitor, que acompanha, passo a passo, a linha de raciocínio desenvolvida pelo escritor.” Para que essa linha fique clara, especialmente se pensarmos no esforço de compreensão que será feito pelo leitor, a organização dos parágrafos torna-se fundamental. É preciso que o leitor seja apresentado ao tema, em um primeiro momento; depois, espera-se que cada ponto a ser destacado pelo autor seja desenvolvido em um ou mais parágrafos. Por fim, o leitor espera que haja um ou mais parágrafos de fechamento da ideia. E como cada “prateleira” é organizada? Para responder a essa pergunta, recorremos ao conceito de tópico frasal. De acordo com Figueiredo, “esse período orienta ou governa o resto do parágrafo; dele nascem outros períodos secundários ou periféricos; ele vai ser o roteiro do escritor na construção do parágrafo; ele é o período-mestre, que contém a frase-chave”. Observe os dois parágrafos a seguir, para identificação de seus tópicos: “(1) Boa parte de nossa infelicidade ou aflição nasce do fato de vivermos rodeados (por vezes esmagados ou algemados) por mitos. Nem falo dos belos, grandiosos ou enigmáticos mitos da Antiguidade grega. Falo, sim, dos mitinhos bobos que inventou nosso inconsciente medroso, sempre beirando precipícios com olhos míopes e passo temeroso. Inventam-se os mitos, ou deixamos que aflorem, e construímos em cima deles a nossa desgraça. (2) Por exemplo, o mito da mãe-mártir. Primeiro engano: nem toda mulher nas- ce para ser mãe, e nem toda mãe é mártir. Muitas são algozes, aliás. Cuidado com a mãe sacrificial, a grande vítima, aquela que desnecessariamente deixa de comer ou come restos dos pratos dos filhos, ou, ainda, que acorda às 2 da manhã para fritar (cheia de rancor) um bife para o filho marmanjo que chega em casa vindo da farra. Cuidado com a mãe atarefada que nunca para, sempre arrumando, dobrando roupas, escarafunchando armários e bolsos alheios sob o pretexto de limpar, a mãe que controla e persegue como se fosse cuidar, não importa a idade das crias. Essa mãe certamente há de cobrar com gestos, palavras, suspiros ou silêncios cada migalhinha de gentileza. Eu, que me sacrifiquei por você, agora sou abandonada, relegada, esquecida? E por aí vai...” (LUFT, Lya. “Faxina nos mitos”. Revista Veja, n. 1901, 20/04/2005) A escritora Lya Luft Em cada um dos parágrafos de Lya Luft, encontramos tópicos frasais diferentes. No primeiro, a ideia central é que vivemos cercados por mitos bobos que nos fazem infelizes. Ela está sintetizada no primeiro período do texto, seu tópico frasal (“Boa parte de nossa infelicidade ou aflição nasce do fato de vivermos rodeados por vezes esmagados ou algemados por mitos”). Já no segundo, o tema do texto continua o mesmo, mas uma nova ideia foi acrescentada. A autora nos apresentará um tipo específico de mito, o da “mãe- mártir”;esse parágrafo inteiro terá como tópico organizador esse tema. Para ter coerência e coesão Veja essas imagens? São textos coerentes? Na semana dele domingo não é dia! Será que eles descansam trabalhando? Como vemos, a coerência diz respeito à harmonia entre as partes de um texto; mas há outro aspecto ligado à coerência; ele diz respeito ao contexto. Leia a seguinte situação. Uma cliente escreveu para um plano de saúde nos seguintes termos: “Prezados senhores, gostaria de uma explicação detalhada sobre o aumento praticado na mensalidade de meu plano, ocorrida neste mês. Atenciosamente, Marli da Silva”. A resposta da empresa foi essa: “Cara senhora Marli, os planos alfa, gama e beta receberam, a partir deste mês, um aumento de 5%, de acordo com a legislação vigente. Atenciosamente, WW, central de atendimento ao cliente.” A cliente considerou a resposta dada como incoerente. Um primeiro ponto a ser destacado diz respeito à organização interna dos dois textos. É possível compreender as informações: o texto da cliente é um pedido e o da empresa é uma resposta a esse pedido. Nesse sentido, ambos são coerentes. Para tentarmos entender por que a cliente classificou a resposta do plano de saúde como incoerente, vamos analisar outro aspecto: a relação que o texto conseguiu estabelecer com ela na situação dada. Foi feito um pedido à empresa, solicitando uma “explicação detalhada” sobre o aumento praticado na mensalidade. Na resposta, afirma-se que o aumento seguiu “a legislação vigente”. Nada é informado sobre qual é a lei, onde pode ser encontrada, se este procedimento está previsto em contrato. A usuária solicitou que a empresa, prestadora de serviços, respondesse sua pergunta de forma detalhada, o que não ocorreu. Sob o ponto de vista dela, portanto, a coerência não se formou. A coerência, portanto, diz respeito à harmonia entre as partes do texto e do texto à situação de comunicação em que foi produzido. Outro assunto que costuma ser associado ao texto é a coesão. Em linhas gerais, podemos dizer que são o conjunto de elementos que garantem a articulação entre as partes do texto. Veja um exemplo: Todos os automóveis que temos estão aqui. Eles ficam em exposição na frente da agência, porque no pátio interno só ficam os carros para conserto. Nesse pequeno texto, os termos “eles” e “carros” são elementos coesivos referenciais, porque retomam o termo “automóveis”. Veja como eles só fazem sentido no texto a partir do termo que os antecedeu. O mesmo ocorre com “na frente da agência” que retoma “aqui”. Conceito de coesão textual Coesão textual Segundo Charaudeau e Maingueneau, “A palavra coesão designa (...) o conjunto dos meios linguísticos que asseguram as ligações intra e interfrásticas que permitem a um enunciado oral ou escrito aparecer como um texto.” Assim, vemos que coesão e coerência não fazem parte do mesmo fenômeno, mas muitas vezes caminham juntos dentro da textualidade. Testando Observe o anúncio a seguir. a) Não podemos considerar o anúncio coerente, pois não é possível relacionar a imagem da pimenta com o sobrenome “Pimenta”, escrito no recado. b) Há coerência, construída quando o leitor observa o anúncio do início completo e entende a relação do recado de Pimenta e a mensagem do Hortifruti. c) Há coerência contextual, pois Priscila é um nome muito comum, assim como o sobrenome Pimenta; “Hortifruti” também é um termo muito usual. d) Não há coerência, pois a imagem dos alimentos não se relaciona com a mensagem passada pelo texto verbal. b) Há coerência somente entre o texto verbal “A Hortifruti quer se entregar para você” e as imagens dos alimentos . Feedback: há coerência, pois, quando o leitor observa o texto escrito por Pimenta para Priscila fala “dar o melhor de mim”, a mesma ideia está retomada na mensagem do Hortifruti (“quer se entregar para você”). As imagens dos alimentos, por sua vez, têm relação direta com os produtos vendidos e entregues pelo anunciante. Resumo da unidade Nesta unidade, discutimos um pouco como organizar textos adequados à situação comunicativa em que estamos. Descobrimos que, inicialmente, é preciso um esquema, um rascunho de ideias gerais que indicam um percurso. Na sequência, entendemos que o parágrafo é fundamental para materializar essa trilha. Por fim, compreendemos que a coerência e a coesão de um texto se dão por sua organização interna e adequação ao contexto. Referências bibliográficas CHARAUDEAU, P., MAINGUENEAU, D. Dicionário de análise do discurso. São Paulo: Contexto, 2004. FÁVERO, L. Coerência e coesão textuais. São Paulo: Ática, 2006. FIGUEIREDO, L. A redação pelo parágrafo. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1999. FIORIN, J. SAVIOLI, F. Lições de texto: leitura e redação. São Paulo: Ática, 2006. PITA, Ana Lucia, PITTA, Suely. Registro oral e registro escrito. São Paulo: Anhembi Morumbi (documento em PDF). Sites http://www.algosobre.com.br/redacao/coesao-e-coerencia.html – Aqui você encontra explicações mais detalhadas sobre coesão. http://www.portugues.com.br/redacao/a-estruturacao-paragrafo-.html - Aqui você encontra algumas informações sobre a organização do parágrafo. http://www.algosobre.com.br/redacao/coesao-e-coerencia.html http://www.portugues.com.br/redacao/a-estruturacao-paragrafo-.html Vídeos http://www.youtube.com/watch?v=wmDQamQb0xA – Aqui você encontra explicações sobre coerência e coesão textuais. http://www.youtube.com/watch?v=rAiH4tX99js – Aqui você encontra orientações para organização de parágrafos. http://www.youtube.com/watch?v=wmDQamQb0xA http://www.youtube.com/watch?v=rAiH4tX99js Comunicação e Expressão Unidade 5: Intertextualidade Professora Doutora Débora Mallet Pezarim de Angelo Intertextualidade Nesta unidade, você vai encontrar situações em que o ponto central a ser observado será o diálogo entre diferentes textos. Para tanto, será preciso entender os seguintes conceitos: intertextualidade explícita e implícita; paráfrase, estilização e paródia. Criativo, eu? Carlos, aluno do curso de publicidade, precisava criar um slogan para um produto removedor de manchas; depois de pensar em alguns títulos, escreveu: “Removec, duas mil e uma utilidades”. Seu professor de redação publicitária, ao receber o exercício, disse que essa frase estava era “muito próxima da original”. Então, Carlos fez outra: “Removec, mil e muitas utilidades”; novamente o professor de Carlos interveio e disse que, para a atividade que estavam fazendo, essas estilizações tão simples não bastavam. Carlos, então, ficou intrigado: como criar uma frase que já não tenha sido criada? “Mil é uma utilidades” é um slogan que consagrou a palha de aço Bombril. Quando Carlos escreveu seus slogans, de forma consciente ou não, seus textos estavam dialogando com o do famoso produto. Produto, aliás, que dialoga com um texto ainda mais famoso e muito antigo, “As mil e uma noites”. A intertextualidade é um fenômeno da linguagem em qualquer uma de suas manifestações textuais. Conhecer um pouco sobre seus processos pode auxiliar na composição e leitura de textos, os mais variados, em qualquer setor profissional. Ao realizarmos qualquer atividade comunicativa, temos a impressão de que o que estamos produzindo é único e original. Sem dúvida, cada pessoa tem seu estilo e ele deixa marcas em todas as suas produções. No entanto, mesmo que não se perceba, tudo o que cada ser humano manifesta é, de alguma forma, a “recombinação” de algo que já foi visto, lido, ouvido, sentido em algum outro lugar: na conversa com a família, no jornal, no rádio, na televisão, no contato com os amigos, entre muitos outros. Assim, pode-se afirmar que é característico da linguagemhumana esse diálogo permanente com o que já existe. Se, neste momento, for solicitado a você que escreva ou diga qualquer coisa, como foi o caso do Carlos, é provável que reflita um pouco e busque, em sua mente, uma série de informações sobre o tema pedido. Nesse processo tão rápido, muitas fontes de onde você retirou tal ou tal informação não serão lembradas, pois esse não é seu objetivo; no entanto, seria ingênuo afirmar que elas são completamente novas ou que “vieram do nada”. Quando, nesse processo, é possível reconhecer de forma clara ou levantar hipóteses sobre quais fontes estão sendo retomadas, ocorre o que denominamos intertextualidade. Dizendo de outro modo, é quando um texto, de qualquer natureza, retoma outro (ou mais de um), de alguma forma. Esse diálogo entre textos pode ser explícito ou implícito, conforme veremos. Intertextualidade explícita De acordo com Koch, Bentes e Cavalcante, “A intertextualidade será explícita quando, no próprio texto, é feita menção à fonte do intertexto, isto é, quando outro texto ou um fragmento é citado, atribuído a outro enunciador; ou seja, quando é reportado como sendo dito por outro ou por outros generalizados (...).” Intertextualidade explícita, portanto, é um tipo de diálogo entre textos no qual é possível reconhecer o texto fonte dentro do texto derivado. Isso ocorre pois há marcas textuais claras de seu autor, da obra, entre outras possibilidades. Veja um exemplo: "O auto da Compadecida" - Resumo da obra de Ariano Suassuna 03/09/2012 21h 13 A peça retoma elementos do teatro popular, contidos nos autos medievais, e da literatura de cordel para exaltar os humildes e satirizar os poderosos e os religiosos que se preocupam apenas com questões materiais. http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/literatura/auto-compadecida- resumo-obra-ariano-suassuna-700311.shtml O título do resumo faz intertexto explícito com a obra de Ariano Suassuna, representada aqui pela capa do livro. Nesse caso, mesmo que o leitor não saiba nada sobre o autor e sua peça, poderá encontrar as fontes, explicitamente citadas no resumo. Passemos, agora, à intertextualidade implícita. Intertextualidade implícita Para Koch e Elias, “a intertextualidade implícita ocorre sem citação expressa da fonte, cabendo ao interlocutor recuperá-la na memória para construir o sentido do texto (...). Nesse caso, exige-se do interlocutor uma busca na memória para a identificação do intertexto e dos objetivos do produtor do texto ao inseri-lo no seu discurso. Quando isso não ocorre, grande parte ou mesmo toda a construção do sentido fica prejudicada.” Como podemos notar, no caso da intertextualidade implícita a fonte não está expressamente indicada no texto derivado. Veja um exemplo: http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/literatura/auto-compadecida-resumo-obra-ariano-suassuna-700311.shtml http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/literatura/auto-compadecida-resumo-obra-ariano-suassuna-700311.shtml Nessa publicidade da rede Horti Fruti, o texto faz uma “brincadeira” com a obra de Ariano Suassuna, “O auto da Compadecida”. No entanto, se o leitor não conhece a obra e seu autor, pode não entender o intertexto, base central do humor dessa propaganda. É claro que, com a internet e as redes sociais, a possibilidade de encontrarmos os intertextos, mesmo que implícitos, ficou muito maior; no entanto, isso não muda o fato de que a fonte mencionada não está explícita nesses casos. O que mudou foi a facilidade com que os leitores podem relacionar diferentes textos com as buscas virtuais. Fique atento! - A questão do repertório Segundo Koch e Elias, “a intertextualidade é elemento constituinte e constitutivo do processo de escrita/ leitura e compreende as diversas maneiras pelas quais a produção/ recepção de um dado texto depende de conhecimentos de outros textos por parte dos interlocutores, ou seja, dos diversos tipos de relações que um texto mantém com outros textos.” Como indicam as autoras, o repertório do leitor, em geral, faz toda a diferença no momento de reconhecer e compreender as intertextualidades. Nesse sentido, muitas vezes, quando lemos os mais diversos textos, sentimos algumas dificuldades de compreensão, devido à quantidade ou complexidade dos intertextos que eles estabelecem. Uma forma de auxiliar esse processo é, antes de iniciar uma leitura, fazer uma pesquisa sobre o autor, a obra, o contexto em que se inserem; outro ponto importante, no caso de livros, é ler os textos introdutórios ou de apresentação. Neles, muitas vezes, encontramos informações importantes para a compreensão geral da obra. Alguns processos intertextuais Os intertextos, explícitos ou implícitos, podem ser construídos de várias formas. Vamos estudar três delas: a paráfrase, a estilização e a paródia. Paráfrase Há diversas formas de paráfrase, que é um tipo de relação intertextual entre dois ou mais textos. Ela ocorre quando o texto fonte é retomado pelo texto derivado, de tal maneira que muito do original é mantido. São exemplos de paráfrases as citações, os resumos, algumas traduções, transcrições etc. Para Othon Garcia, “(...) paráfrase corresponde a uma espécie de tradução dentro da própria língua, em que se diz, de maneira mais clara, num texto B o que contém um texto A, sem comentários marginais, sem nada acrescentar e sem nada omitir do que seja essencial, tudo feito com outros torneios de frase e, tanto quanto possível, com outras palavras, e de tal forma que a nova versão – que pode ser sucinta sem deixar de ser fiel – evidencie o pleno entendimento do texto original.” Como destaca Othon Garcia, na paráfrase não há comentários, acréscimos ou omissões dos elementos fundamentais do texto fonte. Existe, sim, um respeito muito grande ao original, que é bastante preservado. Resumo do livro “O monge e o executivo” O livro narra a história de John Daily, um executivo bem sucedido, técnico voluntário de um time de beisebol, casado e pai de dois filhos. Desde o início de sua vida John se via perseguido por um nome: “Simeão”. De todos os fatos e coincidências, ele não compreendia porque, sempre ao longe dos anos, tinha o mesmo sonho que lhe transmitia a mesma mensagem: “Ache Simeão e ouça- o!”. Após um movimento sindical em sua fábrica, as constantes reclamações de sua esposa e a insubordinação de seus filhos, John começa a ver que nem tudo estava como planejara. Diante disso sua esposa sugere que ele vá se aconselhar com o pastor de sua igreja, que o indica a participar de um retiro num pequeno e relativamente desconhecido mosteiro cristão chamado João da Cruz, localizado perto do lago Michigan. Um resumo como esse é um caso típico de paráfrase: o enredo do livro foi preservado, em linhas gerais. Não há comentários do autor sobre a qualidade da obra ou qualquer outro aspecto. Parafrasear, portanto, é um tipo de diálogo entre textos em que se preserva a essência dos valores originais de um texto em outro. Estilização A estilização é uma forma de diálogo em que se acrescentam, no texto que cita outro, outros elementos que não pertenciam a esse original. As imagens associada à marca “Quaker” mostram bem esse fenômeno: de 1877 a 1972, as imagens guardam semelhanças. A original, pois que é a primeira, de 1877, é retomada nas outras. Mas há acréscimo de cores, formatos, formas de mostrar a imagem principal (corpo inteiro, meio corpo, rosto). Paródia Leia o texto a seguir. Oração do internauta Satélite nosso que estais no céu, Acelerado seja o vosso link, Venha a nós o nosso host, Seja feita vossa conexão, Assim em casa como no trabalho. O download nosso de cada dia nos daí hoje, Perdoai nosso tempo perdido no Chat, Assim como nós perdoamos os banners de nossos provedores.Não nos deixeis cair a conexão e livrai-nos do Spam, Amém! Esse texto faz um diálogo bastante explícito com a oração do “Pai Nosso”, acompanhando sua estrutura linha a linha. Mas, diferentemente dos casos anteriores, há aqui uma subversão muito grande dos valores do texto original. Como estrutura, como dissemos, ele está ali, preservado. No entanto, seus valores foram muito adulterados. De uma oração religiosa, de maior texto de fé da comunidade católica, passa a ser uma oração de internautas, que, no lugar de Deus, instauram o “satélite”. De acordo com Fávero, “na paródia, a linguagem torna-se dupla (...): é uma escrita transgressora que engole e transforma o texto primitivo: articula-se sobre ele, reestrutura-o, mas, ao mesmo tempo, o nega”. É exatamente o que ocorre no texto da oração. Essa imagem é uma paródia, baseada na série “Crepúsculo” Sintetizando Para Affonso Romano de Sant’Anna, “(...) a diferença entre esses termos está em que a paródia deforma, a paráfrase conforma e a estilização reforma. (...) Sem dúvida, a paródia deforma o texto original subvertendo sua estrutura ou sentido. Já a paráfrase reafirma os ingredientes do texto primeiro conformando seu sentido. Enquanto a estilização reforma esmaecendo, apagando a forma, mas sem modificação essencial da estrutura”. Testando Pode-se afirmar que, no anúncio, a intertextualidade é: a) implícita, pois o receptor não é informado de que o filme “Kill Bill” é retomado no anúncio. b) explícita, pois o receptor sabe que se trata de um intertexto com o filme “Kill Bill”. c) implícita, pois o receptor é informado de que o filme “Kill Bill” é retomado no anúncio. d) explícita, pois há a indicação clara, no anúncio, de que trata-se de uma referência ao filme “Kill Bill”. e) implícita, pois o anunciante pode não ter pensando no filme “Kill Bill” para produzir o anúncio. Feedback: pode-se dizer que o anúncio retoma o filme “Kill Bill” de forma implícita, pois é necessário que o receptor conheça o filme para reconhecê-lo, em alguns de seus elementos (cor, ação de personagem, nome do filme) no anúncio. Resumo da unidade Nesta unidade, estudamos o fenômeno da intertextualidade, seja em sua manifestação implícita ou explícita. Assim, compreendemos que o diálogo entre textos ocorre a todo o momento e, dependendo da situação, é mais adequado citar nossas fontes; já em outros contextos, essa não é a melhor estratégia. Compreendemos ainda que esse diálogo pode se dar em três grandes níveis de transformação do texto original no texto derivado: paráfrase (alteração mínima), estilização (alteração média) e paródia (grande alteração). Nos três casos, o mais importante é observar que a alteração se dá, em uma instância, nos valores que o texto original transmite. Referências bibliográficas FIORIN, J. L., SAVIOLI, F. P. Lições de texto; leitura e redação. São Paulo: Ática, 1996. GARCIA, O. M. Comunicação em prosa moderna. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2003. KOCH, I. V., BENTES, A. C., CAVALCANTE, M. M. Intertextualidade: diálogos possíveis. São Paulo: Cortez, 2007. SANT’ANNA, A. R. Paródia, paráfrase & cia. São Paulo: Ática, 2003. Sites http://www.pucrs.br/gpt/intertextualidade.php– Aqui você encontra algumas explicações análises textuais com base no conceito de intertextualidade. Vídeos http://www.youtube.com/watch?v=TSvX4ZnntZc– Aqui você encontra algumas explicações didáticas sobre a intertextualidade. http://www.pucrs.br/gpt/intertextualidade.php http://www.youtube.com/watch?v=TSvX4ZnntZc Comunicação e Expressão Unidade 6: Estratégias textuais Professora Doutora Débora Mallet Pezarim de Angelo Estratégias textuais Nesta unidade, você vai encontrar pessoas inseridas em situações de comunicação e compreender que, para atingir seus objetivos e transmitir sua mensagem, precisa usar diferentes recursos de linguagem. Para tanto, será preciso conhecer as estratégias cognitivas, sociointeracionais e textuais. Como se comunicar com o pessoal? Gustavo precisa escrever um comunicado para todos os frequentadores da biblioteca onde trabalha, esclarecendo informações sobre como devem comportar-se naquele ambiente, prazos e quantidades de livros emprestados, a importância da organização, a implantação da busca informatizada, e que qualquer dúvida os usuários da biblioteca podem procurar os demais funcionários no balcão de informações. Como Gustavo deve escrever esse comunicado? Para quais informações ele deve dar prioridade? Que tipo de linguagem ele deve utilizar, pois a biblioteca é pública e possui frequentadores de diferentes idades? Gustavo quer se comunicar com as pessoas. Há uma série de informações que quer transmitir, mas ele sabe que apenas organizar tudo em um texto não vai, necessariamente, atingir seu público, composto por pessoas de diferentes idades e interesses. Será preciso usar a linguagem de forma diversificada, para que a mensagem dê conta de transmitir o que se quer e, ao mesmo tempo, sensibilizar as pessoas. Quando falamos, escrevemos ou lemos, estamos mobilizando uma série de estratégias, formas pensadas de usar a linguagem para atingir o objetivo que desejamos. Ter maior consciência delas pode nos auxiliar a compor e entender melhor os diferentes textos com os quais estabelecemos contato. Essas estratégias aparecerão em uma situação de comunicação qualquer, pois, ao produzir ou ler um texto, uma fala, estaremos em interação com o outro, nosso interlocutor. Portanto, articular a comunicação é importante para todos, tanto os que estão produzindo como os que estão tentando compreender uma dada mensagem. Segundo Ingedore Koch, as estratégias dividem-se em cognitivas, sociointeracionais e textuais. Estratégias cognitivas Ao compormos ou lermos um texto, ao ler uma notícia, travar um diálogo etc. vamos estabelecendo hipóteses. Imagine uma situação: você precisa escrever um relatório. Ao compor o texto, você levará em conta, entre outros aspectos: • seu objetivo ao escrever o texto; • a quantidade de informação que precisa transmitir; • suas crenças, opiniões e atitudes diante das informações. Estratégias cognitivas, portanto, é o modo como organizamos as informações que nosso texto pretende transmitir. Sugestão: montando um esquema para o texto Uma boa forma de iniciar a produção de um texto é esquematizar alguns itens que comporão o formato final. Seguindo as referências dadas anteriormente, você pode: • indicar seu objetivo central para a escrita do texto; • anotar, em itens em sequência, quais informações ou ideias pretende desenvolver; • anotar os valores, crenças ou atitudes que pretende valorizar em seu texto. Observação importante: seu texto não será a fusão pura e simples dessas anotações. Elas funcionam apenas como um roteiro para que você tenha clareza do que deseja transmitir. Da mesma forma que o produtor, o interlocutor também mobiliza estratégias de compreensão das mensagens. Portanto, ao estabelecer algum contato com um texto, oral ou escrito, o interlocutor também tem: • um objetivo para sua audição ou leitura da mensagem; • a necessidade de compreender certa quantidade de informações passadas pelo texto; • suas próprias crenças, valores e atitudes. Essas são as estratégias cognitivas do leitor: o modo como ele procura compreender o texto. Sugestão: iniciando o contato com o texto Para iniciar o contato com o texto, procurando partir dos três elementos anteriormente mencionados, deve-se, a princípio, procurar entender o motivo que me leva àquela leitura ou a ouvir aquela fala. Com o objetivo em mente, pode-se passar para a observação dealguns elementos, tais como: • Títulos; • Subtítulos; • Imagens; • Trechos em destaque (sublinhados, negritados, em itálico, aspas, tamanho e tipo de letra etc.); • observar referências bibliográficas (se houver); • observar índice, sumário (se houver). Buscar esses elementos pode ajudar a destacar algumas informações essenciais do texto, bem como valores, crenças ou atitudes do produtor da mensagem. Estratégias sociointeracionais Só ter clareza de seus objetivos, do conteúdo da mensagem e de valores ou crenças não é a única estratégia mobilizada em uma dada situação de comunicação. A interação entre pessoas implica também no conhecimento e obediência a certas normas socialmente estabelecidas. Alguns exemplos de estratégias interacionais são: • Atos preparatórios: é preciso preparar o interlocutor para a comunicação que se estabelecerá. É preciso, portanto, introduzir o assunto, de tal forma que ele possa nos compreender. O interlocutor, por sua vez, também tem a expectativa do ato preparatório, pois quer saber de antemão do que se trata a mensagem. • Mudanças de tópico: em todo texto, falado ou escrito, é muito comum e esperado que haja marcas que indiquem quando o produtor está mudando de tópico. Isso facilita sua própria clareza de raciocínio e ajuda o interlocutor a compreender a mensagem. Observe os elementos negritados no texto a seguir. Eles servem para indicar uma mudança de tópico. Isso favorece a clareza entre os interlocutores, facilitando a compreensão das ideias. Passemos agora a questão do currículo. Um primeiro aspecto a ser destacado é a concisão das informações, pois ninguém aguenta ler mais do que três páginas de um texto como esse. Um segundo aspecto é colocar nome, endereço e telefone logo no início da primeira página; caso contrário, será difícil encontrá-lo. Um outro aspecto ainda diz respeito à síntese de sua experiência profissional. Ela deve ser rápida e destacar as experiências que, de fato, relacionam-se com seu objetivo (pense no cargo que almeja com aquele currículo). Por fim, eu destacaria a aparência do currículo: bem escrito, bem impresso, bem diagramado, enfim, ele é seu cartão de visitas. • Polidez: é fundamental, em qualquer situação de comunicação, usar formas polidas de se dirigir ao outro. Isso indica respeito e pode interferir positiva ou negativamente para a compreensão da mensagem. Uma consultora escreveu o seguinte e-mail para um cliente: Senhor XX Já pedi mil vezes para que me mande a lista com as cores que gostaria de usar. Sem elas, não há como dar andamento a seu projeto. Espero retorno, Atenciosamente, Paula Y O cliente, certamente, não ficará contente com essa mensagem. Pelo que é possível compreender, Paula já havia pedido a lista ao cliente outras vezes e não obteve resposta. Isso não dá a ela o direito de usar maneiras pouco polidas como “já pedi mil vezes que me mande” (ou seja, está chamando o cliente de desligado, no mínimo) ou “sem elas, não há como dar andamento a seu projeto” (está dizendo “o interesse é todo seu”). Com essa falta de polidez de Paula, as consequências de sua mensagem serão, provavelmente, negativas. • Negociação: em uma dada situação comunicativa, os interlocutores sempre negociam posições, argumentando de acordo com seus pontos de vista. Estratégias textuais As estratégias textuais estão ligadas ao modo de organização linguística do texto. Ao produzirmos ou lermos/ouvirmos uma mensagem, devemos ter em mente alguns aspectos ligados à organização de nosso texto (ou que ouviremos/ leremos de outra pessoa). Em um dado texto, há sempre a combinação de dois fatores: informações dadas e informações novas que o texto vai acrescentando. Tanto do ponto de vista de quem produz como do ponto de vista de quem lê/ouve, é fundamental perceber que os textos conjugam esses dois elementos. Quanto mais clara pretende ser a comunicação, maior deve ser o equilíbrio entre o já visto no texto e o novo. Vamos destacar duas: • Formulação: ao expor as informações e ideias, o produtor normalmente insere explicações, justificativas, exemplos e ilustrações. Essas inserções não são as informações essenciais, mas são formas de explicar melhor sua mensagem. Além disso, muitas vezes, o autor do texto corrige ou repara algo que disse. Essa correção também é uma estratégia para tornar a mensagem mais clara. • Referenciação: são as palavras ou expressões que retomam outras já escritas ou faladas, possibilitando que a mensagem seja compreendida pelo leitor. Sintetizando... As estratégias dividem-se em três grupos: a) Cognitivas b) Sociointeracionais c) Textuais Todas elas podem estar presentes no ato comunicativo, tanto do ponto de vista de quem produz como do ponto de vista de quem lê/ouve a mensagem. Quanto maior a consciência que tivermos dessas estratégias, maior nossa capacidade de organizar nossos textos ou compreender os dos outros, uma vez que entraremos em uma situação de comunicação qualquer de forma mais organizada. Testando Leia as afirmações a seguir, que trazem definições de elementos das três estratégias textuais estudadas na Unidade". I – Em todo texto, falado ou escrito, é muito comum e esperado que haja marcas que indiquem quando o produtor está mudando de assunto. São os atos preparatórios. II – Em qualquer situação de comunicação, é importante usar formas cortesas de se dirigir ao outro. Essa recurso chama-se “Polidez”. III – Essas inserções não são as informações essenciais, mas são formas de explicar melhor sua mensagem. Trata-se das formulações. De acordo com os temas estudados nesta unidade, está correto o que se afirma em: a) I, apenas. b) II, apenas. c) III, apenas. d) I e II. e) II e III. Feedback: Quando, em um texto, falado ou escrito, há marcas que indicam quando o produtor está mudando de assunto está dentro da chamada “Mudança de tópico”. Resumo da unidade Nesta unidade, você conheceu as estratégias textuais, que tentam garantir, em diferentes aspectos, a comunicação efetiva, a partir da elaboração de um texto, que pode ser falado ou escrito. Elas se classificam em cognitivas (apresentação das principais ideias), sociointeracionais (recursos linguísticos empregados para garantir a adesão de nosso interlocutor) e textuais (garantem a fixação das informações principais). Referências bibliográficas FIORIN, José L. Linguagem e ideologia. São Paulo: Ática, 1997. KOCH, Ingedore V. O texto e a construção dos sentidos. São Paulo: Contexto, 2007. VAN DIJK, Teun. Cognição, discurso e interação. São Paulo: Contexto, 1999. Sites http://epealufal.com.br/media/anais/466.PDF – Aqui você encontra uma interessante reflexão sobre o caráter sociointerativo da linguagem. Vídeos http://www.youtube.com/watch?v=8tvzFlzo7wc&list=PLBB61BC5BD4251AE9 – Aqui você encontra mais informações sobre estratégias de interação. http://epealufal.com.br/media/anais/466.PDF http://www.youtube.com/watch?v=8tvzFlzo7wc&list=PLBB61BC5BD4251AE9 Comunicação e Expressão Unidade 7: Estratégias de leitura Professora Doutora Débora Mallet Pezarim de Angelo Estratégias de leitura Nesta unidade, você vai encontrar estratégias de leitura, que podem ser utilizadas para ler qualquer gênero textual. Para tanto, será preciso conhecer algumas estratégias e compreender a estrutura do resumo, exercício muito comum de entendimento de textos. Introdução da Unidade Não estou entendendo... Dona Lúcia comprou um tablet, porém, após uma semana de uso, e não estava conseguindo entender como usar alguns atalhos. Resolveu, depois de hesitar um pouco, ligar na central de atendimento para saber como proceder. O atendente explicou, mas eram muitos detalhes. Após algumas
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