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FERREIRA, Jorge & DELGADO, Lucília de Almeida Neves (orgs.). O Tempo da Nova República: Da transição democrática à crise política de 2016. V. 5. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018.
MÜLLER, Angélica; IEGELSKI, Ffrancine. O Brasil e o tempo presente
FREIRE, Rafael de Luna. O cinema brasileiro entre dois séculos.
Início da Nova República no período de democratização pós-ditadura acirra grave crise que já rondava o cinema brasileiro. Década de 1980, fechamento de cinemas de ruas, migração para cinemas especializados em filmes de sexo explícito. Classe média migrou para o videocassete doméstico (p.315) e mudanças de cinemas para shopping centers. Financiamento estatal por meio da Embrafilme era reduzido, tradicional divórcio entre a produção cinematográfica e a televisiva, meio à hegemonia da TV Globo (sucesso de filmes infanto-juvenis na década de 80 com Trapalhões e Xuxa). 1980 as opções de trabalho eram quase exclusivas na televisão, especificamente na Globo, para os profissionais do audiovisual e cinema (p.316).
Anos 1990, novos filmes dirigidos por jovens diretores, cinema pop carioca, novas questões voltadas à sexualidade e carreira. Diálogo entre gêneros como a ficção e o documentário, rica produção de curtas-metragens pela Lei do Curta. O recém-eleito Collor, extingui diversos órgãos federais de cultura, entre eles a Embrafilme (p.317) e o Concine. Sem alternativas, a produção e distribuição de obras cinematográficas sucumbiu. FHC cria editais públicos para o fomento à produção, momento chamado de Resgate do Cinema Brasileiro (p.318).
No final da década de 90 despontava uma empolgação com a volta das obras nacionais em premiações internacionais, acompanhadas por torcidas patrióticas (como indicação a Central do Brasil ao Oscar). A retomada do público se mostrava muito mais difícil, modelos multiplex de cinemas elitizou o acesso, aumento significativo do preço do ingresso. O cinema brasileiro ficava restrito à exibição no circuito alternativo. Muitos filmes dessa época apresentavam um retrato negativo do país (p.319). Um olhar esperançoso veio com um dos maiores sucessos da década, Central do Brasil. A crítica Ivana Bentes provocou polêmica ao destacar uma “cosmética da fome” em alguns filmes nesse período de retomada do cinema “seria uma visão apaziguadora dos conflitos e maquiadora dos problemas sociais em contraste com a estética da fome proposta por Glauber Rocha nos anos 1960” (p.320).
Na virada do século e com o fim do período da retomada, há a criação da ANCINE – Agencina nacional de cinema em 2001, que propunha uma nova organização da atuação do estado no setor cinematográfico (p.321). “O retorto da participação estatal na atividade cinematográfica em tempos de deslocamentos e ambiguidades políticas, econômicas e culturais (Bahia, 2012, p.112). O cinema brasileiro não esteve ligado ao estado, mas sim à televisão, principalmente após a criação do departamento voltado para produção de conteúdos da Globo – a Globo Filmes. “Sua principal modalidade de atuação veio aa ser associação com projetos de produtores de fora da TV Globo. Impossibilitada legalmente de captar recursos pelas leis de incentivo, a “Globo Filmes não desembolsa recursos pró´rops para financiar a produções, preferindo oferecer espaço em mídia no momento do lançamento. O capital oferecido, portanto, não é dinheiro, mas um ‘capital virtual’, que só se concretiza no momento da distribuição (Furtado, 2001, pp.75-76) Garantindo uma estrutura de divulgação nacional, a parceria com a Globo Filmes mostrou-se indispensável para qualquer produção brasileira com pretensão de atingir o grande público”. Força da Globo filmes ficou evidente com a participação nas produções de grandes filmes como Carandiru, Cidade de Deus (p.322)
O começo dos anos 200 também despontaram dois gêneros fílmicos comercialmente promissores nas produções nacionais, as cinebiografias (como Olga e Cazuza) e as comédias (Como Se eu Fosse Você e de pernas para o ar) (p.323). Ambos os gêneros tinham sucesso técnico, com padrão globo de qualidade. Novos astros do humor saíram da internet e da televisão para o cinema. Mas não somente de riso viveu o cinema brasileiro, a violência urbana, frequentemente ligada ao tráfico de drogas foi um dos temas mais constantes em filmes caracterizados por um diálogo com uma estética realista e olhar crítico para o momento presente. Cinema documentário em diferentes abordagens, de Ônibus 174, o tema da criminalidade numa moldura de filme policial foi responsável por algumas das obras de ficção mais impactantes do cinema brasileiro. Empresários de classe média que botavam seus negócios acima da moral, Confrontação com a plateia de repetem em cidade de Deus (p.324) considerado por muitos críticos como uma nova fase do cinema brasileiro, se transformando em uma das principais referências do Brasil no exterior e motivo de acirradas polêmicas sobre representação das classes populares. Com foco nos personagens dos policiais e não nos criminosos, Tropa de Elite alcançou enorme repercussão e bilheteria, reafirmando o sucesso com 11 milhões de espectadores em Tropa de Elite 2. Mas o posto de maior bilheteria da última década ficou com os personagens bíblicos de Os dez mandamentos, quer mostrar a força da TV Record e seu circuito de promoção formado pelas igrejas evangélicas de todo o país. Outros filmes brasileiros religiosos de destaque foram o católico Maria, mãe do filho de deus e os espíritas Chico Xavier e o Nosso Lar (p.325).
Em resumo, há um aumento do circuito exibidor e produções nacionais, mas há de fato uma política industrialista, concentracionalista, surgindo um cinema brasileiro de baixo orçamento, de perspectiva autoral, vinculado às novas tecnologias digirais, descentralização da produção e com a expansão de festivais e mostras de cinema, alcançam uma repercussão maior, mas são poucos os filmes que conseguem circulação mais ampla (p.327).
Outros tipos de produção também ganham destaque, como as de questões sociais (Que horas ela volta) e com temas de relações homoafetivas (Hoje eu quero voltar sozinho). Golpe sofrido por Dilma também se refletiu nas produções cinematográficas, mostrando uma polarização crescente no meio, principalmente no Governo Temer com a extinção, depois revista, do Ministério da Cultura, havendo posicionamento crítico de diversos cineastas, como a equipe do filme Aquarius, no Festival de Cannes. Há ainda uma cobertura instantânea e em contraponto às imagens veiculadas pela grande mídia, que passam de documentários que rodam o processo de impeachment e também denunciando a ascensão do conservadorismo (Democracia em Vertigem). Outras obras, por outro lado, alimentam um cinema que a partir da popularidade do juiz Sergio Moro e da Operação Lava Jato. Filmes como Policia federal podem ser visto como o “recrudescimento de um reacionarismo latente numa parcela da sociedade e do cinema brasileiro contemporâneo – do moralismo fascista de Tropa de Elite à condescendência com as elites de Meu nome não é Johnny e a apologia a um mundo branco e rico de Se eu fosse você – mas que atualmente busca lucrar junto ao grande público, aproveitando o cenário atual de forças das tendências políticas mais conservadoras” (p.328).
MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Os lulismos e os governos do PT: ascensão e queda.
Eleições de 2002 surgiu um novo candidato, mais moderado, que se apresentou com a fórmula “Lulinha paz e amor”. (...). Desde os anos 1990 a liderança do partido vinha abandonado o radicalismo em proveito de uma perspectiva moderada e pragmática, mais inclinada a reformar o sistema econômico-social do que fazer uma revolução (p.415).
Para esse processo de aggiornamento contribuiu também a crise do “socialismo real”, mas, na verdade, o PT nunca havia definido claramente o seu programa. (...). foi recheado de crises internas, culminando em algns casos com a exclusão de alas mais esquerdistas do partido (REIS FILHO, 2007, pp.518-519). O programa moderado para as eleições de 2002 foi sacramentado na “Carta aos brasileiros”,que significava um compromisso com a estabilidade econômica e respeito aos contratos, inclusive com o capital estrangeiro. (...). tranquilidade dos capitalistas (...). O projeto eleitoral vitorioso do PT em 2002 deveu-se também à aliança com setores políticos moderados, consubstanciada na presença do político conservador e empresário José de Alencar como vice-presidente de Lula (...). destacando-se o slogan “A esperança vai vencer o medo” (...) especulações sobre provável fuga de capitais caso os petistas ganhassem (...). (p.416) 
Escolheu a negociação para desmobilizar a opinião contrária, em lugar de confrontar os adversários. Uma estratégia de acomodação recorrente na história brasileira ao ponto de podermos a formar que faz parte da cultura política (pp,416-417).
Porém, seu partido conquistou apenas 17% das vagas na Câmara dos Deputados (...). Nessas condições, seria impossível governar sem fazer compromissos. (...) Situação econômica difícil herdada por Lula (...) Lula decidiu adotar fórmulas ortodoxas para agradar ao “mercado” e estabilizar a situação macroeconômica e financeira. Para alcançar tais objetivos, escolheu autoridades econômicas afinadas com o mercado financeiro, especialmente Henrique Meirelles (...). Além disso, foram mantidos os fundamentos econômicos básicos do Plano Real de FHC: valorização da moeda pop reio de mecanismos cambiais, manutenção de taxas de juros elevadas e controle dos gastos públicos, tendo como meta prioritária o combate à inflação (...). As medidas duras trouxeram os resultados esperados (...) dívida pública baixou de 76% do PIB em 2002 para 61% em 2010 (p.417).
Revalorização cambial do real (...), taxa de crescimento do PIB caiu de 2,7% em 2002 para 1,1% em 2003, primeiro ano do governo Lula (...). Taxa de desemprego caiu rapidamente (...) O novo governo reverteu as expectativas iniciais e ganhou a confiança do mercado financeiro e dos empresários, que voltaram a investir em quadro de estabilidade econômica. Foi fundamental também a situação internacional favorável, principalmente o aumento das importações chinesas de produtos primários e o chamado boom das commodities (...) Nesse período, a China tornou-se o principal parceiro econômico do Brasil (...). contribuiu para o acúmulo de grandes reservas em dólares (...). Para o jubilo do governo a dívida externa caiu e o Brasil passou de devedor do FMI a seu credor (p.418).
Adoção de políticas sociais mais generosas orientadas para a distribuição de renda que, a propósito, tiveram impacto positivo no crescimento econômico (...). Ressalta-se o paradoxo da situação (...). Foi abandonada a visão privatista dos governos anteriores e recuperado o papel do Estado como agente e planejador econômico. Fundamentalmente, o novo desenvolvimentismo passou pelo amento de gastos públicos (fruto do aumento da arrecadação) e por uma política de distribuição de renda para impulsionar a atividade econômica, assim como a aplicação de incentivos diversos para alavancar a indústria (p.419).
Políticas sociais e culturais: 
Sucesso crescimento econômico se deu também às políticas sociais dos governos petistas que, ao aumentarem a renda dos grupos mais pobres, ampliaram o mercado para os setores produtivos, abrindo novas oportunidades para negócios. (...). Compromisso social, criação do Ministério de Segurança Alimentar e Combate à Fome, primeiro projeto Fome Zero, reunião de vários programas sociais. Lançamento do Bolsa Família consolidou os programas anteriores e corrigiu falhas, aumentando a eficiência do sistema (Hall, 2006, p.697). (...). Programa social procurava conectar o combate à fone a melhoras educacionais e na saúde (p.420).
Teto máximo de 43 dólares por grupo familiar, modéstia dos valores, estado de miséria de muitos cidadãos, os resultados sociais eram importantes. Investimento no Bolsa Família em 2004 representava 0,4% do PIB, e os recursos beneficiavam 45 milhões de pessoas em 2006. Duras críticas visavam desgastar politicamente o governo. Governo Lula foi acusado de se beneficiar politicamente do programa e manipulá-lo com fins eleitorais. Votação no PT nas áreas mais atendidas pelos programas sociais aumentou, alterando o cenário eleitoral a partir de 2006. Critica simplista, que pode ser feita a outros governos que adotaram políticas (p.421) em benefício dos banqueiros ou das grandes empresas de mídia e ganharam o seu apoio eleitoral. (p.422).
Polêmicas quanto aos efeitos sociais dos programas de transferência de renda, baseados em preconceitos e privilégios arraigados. “os pobres não querem mais trabalhar”, viver das bolsas do governo. Encarecimento dos serviços domésticos, escassez de mão de obra e aumento contínuo do salário mínimo, em prejuízo de relações de exploração tradicionais herdadas da escravidão. O reconhecimento externo da relevância e impacto desses programas sociais atraiu apoio de entidades internacionais, participaram do financiamento. Política de transferência de renda tentaram reduzir as desigualdades sociais, implicando igualmente impactos econômicos positivos. Falta de empenho do governo petista em aprofundar reforma agrária, bandeira histórica das esquerdas brasileiras (p.422).
Uma das explicações é que os governos petistas mantiveram boas relações com o agronegócio. O tema da reforma agrária deixou de ser prioridade com o sucesso dos programas sociais, ao mesmo tempo que o governo evitada criar pontos de atrito com o poderoso e estratégico setor do agronegócio. O governo expandiu o financiamento para instituições privadas, ampliou programas já criados, Fies, Prouni (p.423).
Aumento no sistema de pós-graduação. Políticas afirmativas voltadas ao combate das desigualdades raciais, implementação de cotas sociais para ingresso no ensino superior e em carreiras do serviço público (p.424).
Ações voltadas à igualdade de gênero, programas de combate contra as mulheres. “Combinadas, a expansão econômica e a melhor distribuição de renda geraram um processo de ascensão social digno de nota. Estima-se, por exemplo, que cerca de 22 milhões de pessoas deixaram a condição de pobreza extrema, com o grupo considerado mais pobre baixando de 26% para 14% da população em 2010. Ao mesmo tempo, a ‘classe média’ (em uma classificação que considera apenas a renda familiar) aumentou em 2,5 milhões de pessoas, chegando a representar mais de 50% da população” (p.425-426).
Da crise do mensalão à reeleição 
Resultados positivos do primeiro governo petista nas áreas econômica e social não haviam despontado inteiramente quando surgiu a primeira crise grave, o escândalo de corrupção do “mensalão”. Da perspectiva privilegiada de quem sabe o desdobramento futuro dos eventos, podemos compreender melhor hoje que o caso “mensalão” foi impulsionado pelo desejo de desestabilizar o projeto de poder petista. Pode-se dizer que foi o primeiro round da “luta contra a corrupção” e também a primeira tentativa de destruir o projeto petista. Não se trata de defender os acusados de corrupção. Indícios de práticas desonestas no partido começaram a ser denunciados pelos seus próprios militantes, ainda nos anos 90 (Reis filho, 200, pp.520-521) por necessidades de financiar as campanhas eleitorais. O problema do caso “mensalão” e dos outros que vieram a seguir é o modo como foram realizadas e manipuladas as denuncias de corrupção. Além de versões exageradas e caricatas, os denunciantes demonstraras um viés seletivo, ou seja, só tinham olhos para os malfeitos do PT, as vezes atribuindo a esse partido a origem de todos os males (p.426).
Desproporção da cobertura jornalística, grande mídia com mais interesse de investigar as acusações contra o governo Lula do que havia feito no governo FHC. Chama atenção o timing político do escândalo, que se desenvolveu um ano antes da corrida presidencial. O caso mensalão estourou em 2005, a partir de declarações do deputado do PTB Roberto Jefferson, até então aliado do governo Lula. Denunciou um esquema de compra de apoio de deputados para obtenção de maioria governista na Câmara (Nobre, 2013, p.111). Principalministro, José Dirceu, foi apontado como comandante do esquema que envolveria ainda outras lideranças do PT; ministro da Fazenda, Palocci. O impacto político provocou demissão de Dirceu e Palocci. Incertezas sobre os procedimentos jurídicos do caso mensalão, não há dúvidas de que a liderança do PT se envolveu em esquemas ilícitos. Por que um partido popular acabou praticando o que condenava? Como o sistema partidário é pulverizado, o partido que elege o presidente da República nunca consegue maioria parlamentar, obter apoio envolve práticas ilícitas (p.427)
Liderança petista se adaptou a outras tradições arraigadas na cultura política brasileira, fenômeno complexo, mas possui dois traços muito marcantes: personalismo e acomodação. PT apenas conseguiu ganhar o comando do país a partir da liderança pessoal de Lula. Fenômeno parecido com Vargas, Prestes, Brizola, Jango. Acomodação trata-se de historicamente preservar a ordem e evitar rupturas sociais, à base de acordos interelites. Serviu para abrir caminhos a projetos de mudanças lentas. PT se adaptou a cultura política brasileira, ter chances de ganhar as eleições e de governar após a vitória eleitoral. Processo de mudanças ambíguo, arranjo que integrou setores conservadores ao governo de esquerda e manteve os piores aspectos do sistema político. Sem tais acordos, os benefícios não existiriam. Faltou estratégia para mudar o sistema político (p.428).
Ao manterem acordos políticos escorados na corrupção, esses governos montaram uma base de apoio frágil (Motta, 2016). Por que o governo Lula se salvou? Não houveram denúncias diretas contra o presidente, apenas com o segundo escalão do governo. Talvez as forças de oposição acreditavam que o estrago era suficiente para derrotar lula nas eleições de 2006. Situação econômica positiva e tendia a melhorar. O PT sofreu perda importante de popularidade nas cidades, entre os setores mais escolarizados e lideranças sociais. A perda de votos nas áreas mais urbanizadas e desenvolvidas foi compensado pela ampliação de sua popularidade nas áreas pobres e tradicionalmente excluídas. Outro deslocamento ocorreu na política de alianças de Lula, que depois do mensalão se aproximou mais do PMDB. Com o apoio do PMDB e sua enorme bancada, ganhou muitos cargos e vantagens na máquina do Estado, inclusive o posto de vice em 2010 e 2014, buscando uma maior estabilidade que funcionou por um tempo, mas tal aliança viria a cobrar um preço enorme anos depois, no processo que culminou no impeachment de 2016 (p.429).
Segundo mandato foi a fase áurea de Lula. Resultados das políticas sociais com mais destaque. Consolidação do modelo desenvolvimentista, ações em infraestrutura e energia, PAC, que serviu para popularizar a imagem da gestora Dilma como sucessora. Maneira heterodoxa de Lula lidar com a crise econômica de 2008: ampliou os gastos públicos e tomou medidas para estimular a atividade econômica, ampliou crédito, baixou taxa de juros, reduziu impostos sobre indústrias e aumentou investimento mesmo com queda da receita estatal. Final de 2009 lançado o programa Minha Casa, Minha Vida (p.430).
Efeitos negativos da crise internacional persistiram e voltaram com mais força no governo seguinte, que não conseguiu responder bem aos novos desafios econômicos. Outro fato marcante dos governos petistas foi sua política externa, trouxe prestígio a Lula, divulgou imagem internacional positiva do Brasil, sexta maior economia do mundo. Se afastou do alinhamento com os Estados Unidos e buscou o multilateralismo. Afirmou liderança brasileira na América do Sul e fortalecer os mecanismos de integração regional. Recusou a criação da Alca, contornar hegemonia norte-americana, fortaleceu laços com países vizinhos, ampliou Mercosul, criação da Unasul, e projetos de cooperação acadêmica. Formação do Brics, buscou liderar países emergentes nas negociações comerciais com países ricos, questionando o protecionismo das nações mais poderosas. Ponto mais favorável para prestígio de Lula foi o crescimento econômico durante os dois mandatos, redução significativa da taxa de desemprego. 87% de aprovação popular (pp.431-432).
 O fracasso do lulismo sem lula 
No quadro das eleições de 2010, popularidade de Lula, grande capital político e eleitoral acumulado, não havia sucessor natural. Dilma tinha perfil mais técnico do que político, não era petista histórica (p.432).
Principal estratégia da oposição fora açular os tremores dos conservadores, recuperou temas caros à tradição anticomunista. Passado guerrilheiro de Dilma e acusada de apoiar causas contrárias a moralidade religiosa. Ataques unilaterais, outro candidato, José Serra, também militara na esquerda nos anos 1960. PT contava com o aliado PCdoB e pragmático PMDB com Temer como vice. A presença do PMDB na chapa era desdobramento do estrago político provocado pelo mensalão, e visava a aumentar o apoio parlamentar ao governo e dar-lhe mais estabilidade. O esquema funcionou bem na primeira gestão de Dilma, mas, depois, ajudou a provocar o desastre. Dilma desejava distanciar-se da imagem de Lula e ganhar autonomia. O novo governo manteve a essência das políticas de Lula, dando continuidade ao desenvolvimento com viés social baseado em fortes investimentos estatais e nas políticas de transferência de renda (p.433).
Tema importante na gestão de Dilma: políticas de memória e de reparação no que concerne à violência repressiva da ditadura. Ampliaram iniciativas de FHC, investigar as violações de direitos humanos. Ações de reparação financeira e de busca da verdade, abertura de acervos documentais apostando na transparência. Continuou a evitar a busca por justiça penal e a respeitar o conceito de anistia recíproca, para não confrontar os setores que preferem esquecer os crimes contra os direitos humanos praticados na ditadura. Comissão Nacional da Verdade. Enfrentou turbulências internas e muitas polêmicas, concluiu seu relatório em dezembro de 2014 com recomendações ao Estado para que os criminosos da ditadura fossem julgados. Politicamente inviável. No campo econômico, Dilma herdou o desafio da crise internacional de 2008. Objetivo principal de segurar a inflação e melhorar contas públicas, reduzir o crédito e aumentar as taxas de juros, esperando uma queda suave da atividade econômica. Mas a situação internacional se agravou, baixas nos preços das commodities e queda nas exportações. Período Lula PIB deve expansão para 4%, e no último ano do primeiro mandato de Dilma, o PIB estava em 0,5%. Tendência contínua de redução da atividade industrial, acirramento da competição internacional, sobrevalorização da moeda brasileira. Ampliou política de renúncia fiscal: baixar os impostos e outros tipos de tarifas em benefício de certos seguimentos produtivos. Resultados negativos, forte perda de receita do governo não compensada em aumentos de investimentos das empresas beneficiadas. Mesmo que o cenário econômico piorasse, alguns fundamentos da economia brasileira continuaram positivos. Ao fim do primeiro mandato de Dilma não parecia provável que houvesse uma crise grave no horizonte (p.435)
O que veio a seguir causou muita surpresa. Os problemas mais graves fermentavam no campo político e aí se encontram as razões principais para queda de Dilma. O primeiro sintoma de que a insatisfação lavrava entre alguns setores sociais apareceu em junho de 2013, ciclo de protestos de rua cujo tema inicial era denúncia dos gastos públicos com grandes eventos esportivos. Porém, não foram contra o governo e sim contra a máquina pública, denuncias contra a má qualidade dos transportes e da educação pública, críticas à corrupção. A insatisfação genérica, junto com perda de ritmo no crescimento econômico tornaram as eleições de 2014 mais acirradas que as anteriores. No decorrer da disputa dois fenômenos se destacaram: o crescimento da opinião de direita e a manipulação eleitoral da operação Lava Jato. Tradição anticomunista, “vai pra Cuba”, grupos se apropriaram de discursos proferidos em 1964, convidando mais uma vez os militares a livraremo país do comunismo. Trabalho de propaganda pela internet. Necessário perceber que o crescimento da direita foi uma resposta aos governos petistas (p.436)
Algumas de suas políticas afrontaram valores da direita conservadora e da liberal, como o aumento do intervencionismo estatal, as bolsas e cotas sociais, os programas visando à igualdade de gênero e racial, bem como as políticas em defesa das minorias sexuais. Outro fenômeno marcante das eleições de 2014 foi a Operação Lava Jato, que em março de 2014 começou a investigar a corrupção na Petrobras a partir de doleiros que faziam “lavagem” de dinheiro desviado. Mecanismo de delação premiada, oferecer informações sobre os esquemas de corrupção em troca de redução nas suas penas. Embora as investigações tivessem fundamentos sólidos e respondessem ao interesse público – exatamente por isso atraíram grande apoio social -, o seu uso eleitoral lançou dúvidas sobre as reais intenções. Notícias sobre as investigações, vazamento seletivo de informações que constrangiam figuras do PT e poupavam seus adversários. O timing eleitoral das informações vazadas para a imprensa pela Lava Jato indicava não estar em jogo apenas o combate à corrupção. Dois dias antes da votação do segundo turno, a revista Veja publicou matéria de capa com base em depoimentos colhidos sob o título “eles sabiam de tudo” (Almeida, 2016, p.38). Declaração vaga e especulativa que deveria ser investigada foi transformada em dinamite. Manipulação política da operação estava apenas começando. A oposição foi majoritária nas regiões mais ricas e entre as classes médias e superiores, estratégia agressiva, níveis apelativos em redes sociais, acirramento da disputa e rivalidade (Almeida, 2016) (p.437)
Quadro de polarização se agravava. Antipetismo radical, não aceitariam a derrota, fizeram protestos ruidosos o início de 2015, lançaram estratégia de desestabilização do governo Rousseff. Intenção de “sangrar o governo” do que o retirá-lo do poder. Deterioração econômica, derretimento da base de apoio do governo, as forças de oposição tiveram a oportunidade de golpear mais fundo. A condução da crise econômica e política foi errática e incompetente, facilitando o trabalho da oposição. Presidente nomeou ministro da Fazenda alinhado ao mercado financeiro, aplicou medidas ortodoxas, na contramão das expectativas do eleitorado de Dilma. As medidas não trouxeram melhora na situação econômica, que se agravou rapidamente. Grave retração do PIB, elevação do desemprego, inflação disparou, déficit público e desvalorização do real. Quadro econômico foi agravado pelo bloqueio da oposição no Congresso, que impediu ou atrasou a aprovação de medidas planejadas para atenuar a crise. O próprio PT hesitava em apoiar medidas econômicas de caráter liberal. Estragos provocados pela Lava jato foram se aprofundando com novos escândalos e revelações. Prisão de dirigentes de empresas estatais e de executivos de grandes empresas privadas (p.438).
Paralisação de obras de porte agravaram recessão econômica. Empresários arredios para investir na atividade produtiva. Rousseff não mostrou habilidade para vencer desafios impostos, não tinha a habilidade de Lula para negociar conflitos e acomodar interesses diversos. De um lado há crítica da presidente ser teimosa, autoritária, pouco aberta ao diálogo, e por outro, defendiam a dificuldade dela em aceitar arranjos políticos tradicionalmente corruptos. Exemplo é o choque com Eduardo Cunha, papel chave na aprovação do impeachment. Cunha é apenas um episódio, mas central, no processo de desmantelamento da base parlamentar do governo Rousseff. PMDB e partidos menores aliados entraram em rota de colisão com o governo que faziam parte há anos. Oportunismo político, ex-ministros e o vice-presidente conspiraram em favor do impeachment. Temer aproximou o PMDB do bloco de oposição liderado pelo PSDB (p.439).
 Temer tenta justificar com argumento de que foi tratado sem a devida consideração por Dilma. Explicação definitiva para o fenômeno da erosão política do governo Rousseff demandará mais pesquisas, mas alguns aspectos são claros: afastamento dos partidos aliados do PT. Falta de disposição de diálogo de Dilma, tentativa de diminuir a dependência do governo e relação ao PMDB, erro estratégico, pois não se construiu base de poder alternativa. Governo via com bons olhos inicialmente as investigações contra corrupção, Dilma não fez nada para impedir as investigações, os governos petistas ampliaram a autonomia do MP e da PF. No entanto, contradição grave: governo dependia das alianças políticas corruptas e fisiológicas para governar. Dilma não conseguiu desmantelar os esquemas de corrupção e tampouco construiu base alternativa estável para governar. Razão principal para desmonte da base parlamentar não foi a falta de diálogo de Rousseff e sim uma conjunção de fatores: crescente pressão da opinião direitista (conservadora e liberal) e antipetista, grave crise econômica e o medo de lideranças quanto as investigações da Lava jato. Falta de liderança e base alternativa, incapacidade de lidar com crise política e econômica. (p.440)
A situação seria desafiadora para qualquer político. Última tentativa de reconstruir base parlamentar, Dilma convidou Lula para ocupar um ministério. Decisão polêmica do STF sob alegação de que o real motivo era garantir a Lula foro privilegiado nas ações criminais que estava como réu. Analisar a atuação do Poder judiciário do MP na crise: no STF, decisões tornaram difícil o governo encontrar saídas, enquanto permitia Cunha já sob investigação continuasse no comendo da Câmara por tempo suficiente para conduzir o impeachment, e apenas após fora destituído e encarcerado. STF omitiu-se também em tolher ações de Sérgio Moro ao fugir da lei e alegar boa-fé, para atingir objetivos moralizadores contra a corrupção. A Operação Lava Jato alcançou feitos inéditos na história do Brasil. Relevou como a maior empresa do país teve recursos desviados para financiar partidos políticos de base aliada do governo. Desvelaram conexões corruptas com as maiores empresas privadas do país. Conduzir e condenar empresários mais ricos do Brasil. Mas ao final, deverá ser considerar não apenas os procedimentos judiciais questionáveis (escutas telefônicas ilegais, prisões abusivas, pressões e vantagens exageradas para obter delações, divulgações antecipadas à imprensa, timing adequado para prejuízo político ao governo petista), como também os desdobramentos políticos e econômicos. As investigações contribuíram para piorar a situação econômica (p.441).
Argumentos de que os alvos deveria ser apenas os líderes empresariais e não as companhias. Não há duvidas de que a Lava Jato foi politicamente orientada e utilizada para destruir a imagem dos governos petistas e seus líderes, contribuindo para a ebulição nas redes sociais e as grandes manifestações de rua favoráveis ao impeachment no primeiro semestre de 2016, Milhões de pessoas foram às ruas protestar contra a corrupção atribuída aos governos petistas. Um dos episódios mais marcantes da operação foi a condução coercitiva do ex-presidente Lula em 4 de março de 2016, levado por policiais federais para um simples depoimento. O exagero do aparato repressivo – devidamente divulgada por órgãos da imprensa e autoridades responsáveis – gerou a sensação de Lula estava sendo preso, e isso já era o suficiente como prova de corrupção. O trabalho da lava jato abriu caminho para o impeachment ao criar a imagem de que os petistas seriam os verdadeiros culpados pela corrupção no país. Os efeitos na opinião pública foram poderosos (Datafolha 19/03/2016 – 68% da população seria favorável ao impeachment). Curiosamente esse clima politico radicalizado gerou um movimento contrário ao efetivo combate à corrupção, muitos parlamentares acusados de corrupção votaram a favor do impeachment na esperança de que o vice Temer fosse capaz de deter a Lava jato, restringindo as punições à orbita do PT, uma vez que Dilma não tinha interesses ou capacidade de conter as investigações. Segundouma expressão usada pelo senador Romero Jucá em conversa gravada pela polícia, que se tornaria célebre, a saída de Dilma seria para “estancar a sangria”. A acusação formal do impeachment não passou de mera formalidade (p.442).
Impedida supostamente por cometer crimes de responsabilidade, porém as ações alegadas não configuram efetivamente crime (as pedaladas fiscais e créditos suplementares sem aprovação do congresso), pois se fosse, a mesma pena deveria ter sido aplicada a presidentes anteriores ou governadores em exercício, que adotaram os mesmos recursos. As razões reais foram a crise política e econômica, com muito atores acreditando, ingenuamente, que a remoção de Dilma traria rapidamente solução para os problemas. Menos ingenuamente, uma parte da liderança política acreditou que a derrubada de Dilma tornaria mais fácil conter as investigações e proteger-se. Significativamente, a ruidosa Lava Jato não encontrou indícios de corrupção envolvendo Dilma, que tornou as acusações de crime de responsabilidade ainda mais farsescas. O impeachment de 2016 – sem dúvidas um golpe parlamentar – desmoralizou as instituições ao revelar as entranhas corruptas do sistema político, especialmente dos poderes legislativo e executivo, mas também lançou descrédito ao poder judiciário por sua conduta parcial. 
ALMEIDA, Rodrigo de. À sombra do poder: bastidores da crise que derrubou Dilma Rousseff. São Paulo> Leya, 2016.
HALL, Anthony. From Fome Zero to Bolsa Familia: Social policies and poverty alleviatin under Lula.

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