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PSICOLOGIA E RELAÇÕES INTERÉTNICAS (EM DEBATE) DIÁLOGOS INTERDISCIPLINARES Organização Eleonora Vaccarezza Santos Patrícia da Silva PSICOLOGIA E RELAÇÕES INTERÉTNICAS (EM DEBATE) DIÁLOGOS INTERDISCIPLINARES Organização Eleonora Vaccarezza Santos Patrícia da Silva PSICOLOGIA E RELAÇÕES INTERÉTNICAS (EM DEBATE) DIÁLOGOS INTERDISCIPLINARES Membros e Colaboradoras/es do GT- Psicologia e Relação Interétnicas Ana Raquel Silva Santos Alves - CRP19/1455 Andréa dos Santos Dória- CRP19/2034 Angélica Oliveira Nascimento - CRP19/IP2737 Baruc Correia Fontes - CRP19/2890 Camilla Lima de Araújo - CRP19/2622 Carina Feitosa dos Santos - CRP19/1886 Cristiane de Souza Gonçalves - CRP19/2038 Genisson Sabino dos Santos - CRP19/IP3158 Guilherme Fernandes Melo dos Santos CRP19/1550 Laila Thaíse Batista de Oliveira Luíza Lins Araújo Costa - CRP19/2929 João Paulo Corumba de Santana - CRP19/2697 José Marcelo Barreto de Oliveira - CRP19/2385 Joseane dos Santos Bispo - CRP19/2606 Patrícia da Silva - CRP19/0878 Rozélia dos Anjos Oliveira Santos - CRP19/2529 Selma da Silva Santos Sônia Oliveira Santos Thaiane Santos Simões da Paixão - CRP19/2464 Thatiana Santos Menezes Tayane Nascimento Huber - CRP19/2148 III Plenário do Conselho Regional de Psicologia 19ª região Presidente Alan Santana Santos - CRP 19/2076 Vice-Presidente Frederico Alves de Almeida - CRP 19/2849 Tesoureira Lidiane dos Anjos Santos Andrade - CRP 19/1742 Secretária Vanessa Ramalho Ferreira Strauch - CRP 19/2339 Conselheira/os Efetiva/os Adriana de Moraes Teixeira - CRP19/2867 Bruna Santana Oliveira - CRP19/2870 Danilo Rocha Ribeiro - CRP19/1904 Jayane Pinheiro Andrade - CRP19/2010 Michelle da Conceição Silva - CRP19/1756 Conselheira/os Suplentes André Faro Santos - CRP19/0773 Baruc Correia Fontes - CRP19/2890 Claudson Rodrigues de Oliveira - CRP19/2764 Eleonora Vaccarezza Santos de Freitas - CRP19/2276 Maria Emília de Melo Boto - CRP19/1399 Paula Ferreira Marques - CRP19/1670 Petruska Passos Menezes - CRP19/0636 Tais Fernandina Queiroz - CRP19/0741 Conselho Regional de Psicologia 19ª região Comissão de Direitos Humanos Grupo de Trabalho Psicologia e Relações Interétnicas Rua Osvanda Oliveira Vieira, 128, CEP: 49000-000 – Aracaju – SE relacoesinteretnicas@crp19.org.br crp19@crp19.org.br mailto:relacoesinteretnicas@crp19.org.br mailto:crp19@crp19.org.br Eleonora Vaccarezza Santos Patrícia da Silva PSICOLOGIA E RELAÇÕES INTERÉTNICAS (EM DEBATE) DIÁLOGOS INTERDISCIPLINARES Todos os direitos de tradução, de reprodução e de adaptação desta edição em Língua Portuguesa reservados ao Conselho Regional de Psicologia 19ª região. Coordenação Editorial Dra. Patrícia da Silva Conselho Editorial Dr. Alexandro Dantas Trindade – (UFPR/BRA) Dr. Altair dos Santos Paim – (IFBA/BRA) Dra. Dalila Xavier de França – (UFS/BRA) Dra.Elizabeth Hordge-Freeman - (USF/EUA) Ma. Ionara Magalhães – (UFRB/BRA) Dra. Maria Batista Lima – (UFS/BRA) Dr. Roberto dos Santos Lacerda – (UFS/BRA) Revisão Allyce Gomes Correia Isabela Cristina Ramos Moraes Naiane França Projeto Gráfico Carlos Fabiano de Oliveira Fernandes Petruska Passos Menezes P974 Psicologia e relações interétnicas (em debate) : diálogos interdisciplinares / organização Eleonora Vaccarezza Santos, Patrícia da Silva. – Aracaju : Conselho Regional de Psicologia, 2017. 238 p. : il. ISBN: 978-85-54983-00-0 1. Psicologia. 2. Psicologia racial. 3. Etnopsicologia. 4. Racismo. 5. Negros – Educação – Sergipe (SE). I. Santos, Eleonora Vacca- rezza, org. II. Silva, Patrícia da, org. CDU: 159.922.4 Ficha Catalográfica elaborada por Luiz Marchiotti Fernandes – CRB-5/1644 Conselho Regional de Psicologia 19ª região Comissão de Direitos Humanos Grupo de Trabalho Psicologia e Relações Interétnicas Rua Osvanda Oliveira Vieira, 128, CEP: 49000-000 – Aracaju – SE relacoesinteretnicas@crp19.org.br crp19@crp19.org.br mailto:relacoesinteretnicas@crp19.org.br mailto:crp19@crp19.org.br SUMÁRIO PREFÁCIO .................................................................................................................... 12 PARTE 1 – ENSAIOS TEÓRICOS E EMPÍRICOS 16 INTRODUÇÃO............................................................................................................... 18 1. DISCRIMINAÇÃO DE CRIANÇAS NEGRAS NA ESCOLA............................................. Dalila Xavier de França 26 2. A EDUCAÇÃO DOS NEGROS EM SERGIPE: APONTAMENTOS HISTÓRICOS E ATUAIS DAS POLÍTICAS DE AÇÕES AFIRMATIVAS..................................................................... Sônia Oliveira Santos 45 3. DESCOLONIZAÇÃO DO PENSAMENTO E COMBATE AO RACISMO: CONTRIBUIÇÕES EPISTEMOLÓGICAS AFROCENTRADAS........................................................................ Roberto dos Santos Lacerda 58 4. ENTRE PLANTAS E ENTIDADES: O CONHECIMENTO ETNOBOTÂNICO DOS GUARANI-MBYA DE TEKOA PYAU………………………………………….………….. Luciana Galante 72 5. ENTRE O DISCURSO E A PRÁTICA: ATITUDES DOS PROFISSIONAIS DO DIREITO ACERCA DAS POLÍTICAS DE COTAS PARA NEGROS NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS...................................................................................................................... Patrícia da Silva Camila Lima de Araújo Luiza Lins Araújo Costa José Andrade Santos 87 6. AÇÕES AFIRMATIVAS NO MERCADO DE TRABALHO............................................. Valdenice Portela Silva Marcus Eugênio Oliveira Lima Patrícia da Silva 107 7. BRANQUITUDE E INTERSECCIONALIDADE………………………………………….. Ionara Magalhães de Souza Edna Maria de Araújo 123 8. ESTÉTICA NEGRA, CONSUMO E ASCENSÃO SOCIAL................................................. Neli Gomes da Rocha Eleonora Vaccarezza Santos 135 9. TRAJETÓRIAS E ESTRATÉGIAS DE MOBILIDADE SOCIAL DE MULHERES NEGRAS SERGIPANAS................................................................................................................ Eleonora Vaccarezza Santos Ionara Magalhães de Souza 156 10. RESOLUÇÃO 018/2002 DO CFP: DESAFIOS A SUA APLICAÇÃO NA ATUAÇÃO PSICOLÓGICA............................................................................................................... Marcelo Oliveira 173 11. RACISMO, INTOLERÂNCIA RELIGIOSA E ATUAÇÃO PSICOLÓGICA..................... Djean Ribeiro Gomes Valdisia Pereira da Mata 182 12. RELAÇÕES INTERÉTNICAS E POLÍTICAS PÚBLICAS NA ASSISTÊNCIA SOCIAL… Ana Raquel Silva Santos Alves Jéssica Francielle Resende de Jesus 196 PARTE 2 - REDAÇÕES E TRABALHOS PREMIADOS NO SEMPRI I 201 13. PRECONCEITO E RACISMO PÓS-ABOLIÇÃO: CONTEXTO HISTÓRICO E DISCUSSÃO DE MANIFESTAÇÕES VELADAS.................................................................................... Norton Cruz Machado Iza Fontes Carvalho 203 14. O RACISMO QUE O BRASIL DEIXA NAS ENTRELINHAS…………………………….. Rita de Cassia de Jesus Oliveira 208 15. PRECONCEITO, RACISMO E ESTEREÓTIPOS: O QUE A PSICOLOGIA TEM A VER COM ISSO?................................................................................................................... Maria Suely dos Santos Nascimento 212 16. “PSICOLOGIA DAS RAÇAS” E RELIGIOSIDADE NO BRASIL: UMA INTERSECÇÃO HISTÓRICA……………………………………………………………………………….. Tarciana Lôbo Menezes 218 SOBRE AS/OS AUTORAS/ES 223 ANEXOS 234 ANEXO A………………………………………………………………………………… 235 ANEXO B…………………………………………………………………………………237 12 PREFÁCIO Marcus Eugênio Oliveira Lima (Universidade Federal de Sergipe) s sociedades mais modernas e formalmente democráticas vivem um fenômeno estranho: o racismo sem racistas. Nos consideramos igualitários, afirmamos não vermos cores, mas pessoas, e condenamos com performática veemência qualquer forma de exclusão baseada na cor ou, “Deus me livre”, “raça”. Com efeito, pesquisas com amostras nacionais indicam que quase 90% dos brasileiros se considera não racista, ao mesmo tempo em que igual percentagem acredita que existe racismo no Brasil (Turra & Venturi, 1995). Camino, Silva, Machado e Pereira (2001) encontram resultados muito semelhantes em estudantes universitários. Vivemos uma “ficção sincera” (Bonilla-Silva, 2010), assim como os norte- americanos, acreditamos que o racismo é sempre um problema do outro, distante de cada um de nós. Seja porque “nós brancos”, enquanto atores sociais doutrinados nos valores do igualitarismo e da justiça da nossa formação democrática, consideramos o racismo uma falha do outro “xenófobo”; seja ainda porque “nós negros” achamos, em muitos casos, que as vítimas de racismo são outros que “não sabem sair ou entrar” e nunca nós mesmos (Lima & Vala, 2004). Todavia, o racismo é um problema de todos nós: perpetradores ativos, perpetradores passivos, beneficiários conscientes ou inconscientes e vítimas A PREFÁCIO 13 atentas ou desatentas. Um problema que, por ser simultaneamente político, social, econômico, cultural, histórico e psicológico, demanda um foco de análise psicossocial. Ou seja, um fenômeno que impõe para o seu entendimento e controle a articulação de níveis de análise e estratégias de ação. A psicologia, de forma geral, e a psicologia social, de forma mais específica, têm obrigações incontornáveis e contribuições fundamentais a dar no entendimento e combate do racismo. A análise do racismo na psicologia tem, ao longo dos anos, transitado de atitudes ou posturas de omissão, chancela e condenação. No final da década de 1980, Michael Billig, um psicólogo social britânico, escreveu um livro intitulado “Psychology, Racism & Fascism”. A questão que inquietava a Billig era a de entender a relação entre a produção de conhecimento psicológico e a evolução de tendências políticas subjacentes. De forma particular ele analisou as relações entre as teorias psicológicas da raça e crescimento do fascismo no Reino Unido. Billig cita um conjunto de publicações na psicologia que chancelavam o racismo político. O livro de Hans J. Eysenck “Race, Intelligence and Education”, publicado em 1971, no qual são analisadas diferenças de desempenho acadêmico e de QI entre brancos e negros nos Estados Unidos e é defendida a ideia de que a hereditariedade é um dos fatores explicativos importantes dessas diferenças. Na mesma direção, é publicado em 1958 o livro “The Testing of Negro Intelligence” de autoria de Audrey M. Shuey. O autor argumenta, ao longo das 600 páginas, que os negros são menos inteligentes que os brancos (Billig, 1979). A introdução desse livro foi feita por Henry Garrett, reconhecido por Shuey como a pessoa que encorajou tal publicação. O próprio Garrett tem um conjunto de publicações com as mesmas conclusões, inclusive um artigo publicado em 1961, intitulado "The Equalitarian Dogma", no qual defende a inferioridade genética dos negros. Durante muito tempo e até recentemente manuais de Garrett eram utilizados nos cursos de formação de psicólogos no Brasil. Na Europa e Estados unidos da década de 1950 e 1960 parte da psicologia assumia a atitude de chancela ao racismo. No Brasil, entretanto, a postura era de omissão. A psicologia nacional parecia estar contaminada pelo mito da democracia racial de Gilberto Freyre. Diferentemente da psicologia norte-americana, preocupada com esta questão desde as décadas de 1920 e 1930, seja para chancelar ou para condenar (Duckitt, 1992), a psicologia nacional não tinha interesse pelas questões raciais. Um estudo em que foram analisados 3862 artigos em 30 periódicos, 656 dissertações e 393 teses nas bibliotecas da USP e da PUC de São Paulo, num total de 4911 trabalhos realizados na área da psicologia a partir de 1987, indicou que apenas 12 deles, ou seja, 0.2%, estavam relacionados com o preconceito de cor, sendo que destes 12 trabalhos apenas 3 foram publicados (Ferreira, 1999). De fato, antes de 1987 apenas as ciências sociais procuravam analisar e denunciar o racismo no Brasil. Sacco, Couto e Koller (2016), numa busca mais Marcus Eugênio Oliveira Lima 14 ampla e atual nas bases de dados Scielo, PePSIC, Index Psi, LILACS e PsycINFO, utilizando os termos “racismo ou preconceito racial” em português e em inglês, publicados até agosto de 2014, encontram 77 artigos, tendo o mais antigo sido publicado em 2001. Ou seja, nenhum artigo em periódico científico publicado pela psicologia brasileira sobre racismo ou preconceito racial no século XX no país com a maior população negra não africana do mundo. É por tudo isso que iniciativas como estas, materializadas neste livro, envolvendo o apoio direto do Conselho Regional de Psicologia, fortalecem o movimento recente de entendimento e de combate ao racismo na e pela psicologia brasileira. O Seminário Psicologia e Relações Interétnicas (SEMPRI) tem produzido efeitos políticos e epistemológicos fundamentais em relação ao fenômeno do racismo no Brasil e, mais particularmente em Sergipe. Os efeitos políticos se referem ao rompimento do silêncio cúmplice que durante muito tempo foi a postura da psicologia e dos psicólogos nacionais sobre o racismo. Os efeitos epistemológicos remetem à criação de um ambiente científico de troca de informações, de estímulo à produção do conhecimento e de fomento ao encontro de pessoas e visões para o entendimento e combate ao racismo. O SEMPRI já se encontra na sua terceira edição. O primeiro seminário, realizado entre 5 e 7 de novembro de 2015, teve como tema: “Preconceito, racismo e estereótipos: O que a psicologia tem a ver com isso”. O segundo seminário, realizado entre 10 e 12 de novembro de 2016, teve como tema: “A psicologia e o papel social do(a) psicólogo(a) no enfrentamento do racismo e promoção da igualdade étnico-racial”. Os textos que compõem esta coletânea foram produzidos para o terceiro SEMPRI, realizado entre 9 e 11 de novembro de 2017, sob o tema: “15 anos de 018/2002 – atuação da psicologia frente ao preconceito e a discriminação racial: avanços e novas proposições”. O SEMPRI tem se constituído como o principal espaço na psicologia sergipana para debate sobre o racismo. Os temas dos três eventos já realizados demonstram o compromisso dessa área de conhecimento com a pesquisa e a ação contra essa forma de exclusão da alteridade. Neste último evento temos duas ótimas novidades: a produção deste livro, integrando os trabalhos que têm sido produzidos pelos grupos de pesquisa da região e de outros estados interessados na temática do preconceito racial e a publicação dos ensaios do 1º Prêmio de Psicologia e Relações Interétnicas. Finalizamos parabenizando o Conselho Regional de Psicologia pela iniciativa, os organizadores do SEMPRI pela ação e os autores dos textos da presente coletânea pela atualidade e relevância das reflexões apresentadas. REFERÊNCIAS Billig, M. (1979). Psychology, racism & facism: A searchlight booklet. Birmingham: A.F. & R. Publications. PREFÁCIO 15 Bonilla-Silva, E. (2010). Racism without Racists: Color-Blind Racism and the Persistence of Racial Inequality in the United States. Rowman & Litllefiel Publishers: Nova York. Camino, L., Silva, P., Machado, A., & Pereira, C. (2001). A face oculta do racismo no Brasil: Uma análise psicossociológica. Revista de Psicologia Política, 1, 13- 36.Duckitt, J. (1992). A historical analysis and integrative framework. American Psychologist, 47, 1182-1193. Ferreira, R.F. (1999). A construção da identidade do afro-descendente: a psicologia brasileira e a questão racial. In J. Bacelar & C. Caroso (Orgs.), Brasil, um país de Negros? (pp. 71-86). Rio de Janeiro: Pallus. Lima, M. E. O. & Vala, J. (2004). As novas formas de expressão do preconceito e do racismo. Estudos de Psicologia, 9(3), 401-411. Sacco, A.M., Couto, M.C.P. de P., & Koller, S.H. (2016). Revisão Sistemática de Estudos da Psicologia Brasileira sobre Preconceito Racial. Trends in Psychology / Temas em Psicologia, 24, 233-250. Turra, C., & Venturi, G. (1995). Racismo Cordial: a mais completa análise sobre preconceito de cor no Brasil. São Paulo: Ática. PARTE 1 ENSAIOS TEÓRICOS E EMPÍRICOS 18 INTRODUÇÃO Eleonora Vaccarezza Santos de Freitas Patrícia da Silva om o objetivo garantir o debate e consequente visibilidade dos efeitos psicossociais e dos fatores de sofrimento psíquico gerados pelo racismo, que no dia 11 de julho de 2015, durante a 22ª reunião do II Plenário do Conselho regional de Psicologia de 19ª região, foi apresentada a proposta para a criação do Grupo de Trabalho Relações Interétnicas, e no mesmo mês, no dia 25 de julho de 2015, o grupo iniciou suas atividades, com a realização da primeira reunião que teve por objetivo apresentar a proposta inicial aprovada pela plenária e traçar metas e próximos passos para o alcance dos objetivos propostos pelo referido coletivo. Composto por pesquisadoras/es, profissionais e estudantes dos programas de mestrado e doutorado da área de Psicologia Social, C INTRODUÇÃO 19 Comunicação Social, História e Sociologia das Universidades Federais de Sergipe e da Bahia. Atualmente se reúnem toda primeira quinta-feira do mês, na sede do CRP-19, para discutir propostas com vistas a garantir o debate e a sensibilização da categoria profissional, frente aos fatores de sofrimento gerados pelo racismo. O grupo propôs várias atividades, dentre elas se destaca o Seminário Psicologia e Relações Interétnicas ou como já ficou conhecido – SEMPRI. Outra iniciativa do grupo que merece ser louvada, partiu da professora Dra. Patrícia da Silva, presente no grupo desde seu início, para realizarmos o Prêmio Psicologia e Relações Interétnicas, e do qual este livro recebeu contribuições. Com vista a tornar a resolução 018/2002 que o GT- Relações Interétnicas, propôs a este CR, ainda no ano de 2015 a realização do I Seminário Psicologia e Relações Interétnicas, com vistas a alcançar o público- alvo a saber – profissionais, estudantes de psicologia e demais profissionais que demonstrem interesse pela temática étnico-racial. A proposta de um Prêmio de Redações cumpriria as funções de: (a) envolver psicólogos e estudantes na discussão do tema das relações étnico-raciais, reafirmando o compromisso da categoria com uma prática que promova a igualdade racial e a saúde psíquica para as vítimas do racismo brasileiro; (b) divulgar a resolução 018/2002 do Conselho Federal de Psicologia, que estabelece normas de atuação para as (os) psicólogas (os) em relação ao preconceito e à discriminação racial. Assim, o SEMPRI se tornava um espaço interdisciplinar, sem a qual, seria impossível pensar a temática a partir de referencial isolado dos saberes acadêmicos e sociais. Neste interim, o Seminário Psicologia e Relações Interétnicas, em sua primeira edição trouxe o tema – “Ninguém Nasce odiando o outro” para o cerne das discussões, levantadas ao longo dos três dias em que ocorreu o evento. Para alcançar os objetivos, abrimos inscrições para que estudantes de graduação, pós-graduandos e profissionais dissertassem sobre o tema: “Preconceito, Racismo e discriminação racial, o que a psicologia tem a ver com isso...”. E durante I SEMPRI, entregamos a premiação as/os autoras/es dos trabalhos selecionados nas categorias: 1) Mestra (e); 2) Graduada (o), Especialista/ Estudante de Mestrado e; 3) Estudante de Graduação. E foi assim que na sua primeira edição, o seminário reuniu estudantes, professores, pesquisadores de alguns estados do país como Bahia, Paraná e Sergipe, além de entidades de promoção da igualdade racial do estado e comunidade acadêmica. O seminário recebeu um número de inscrições bem acima do estipulado inicialmente pela organização, o que refletia para nós o interesse e a necessidade que, estudantes e profissionais da psicologia, manifestavam por informação e qualificação. Eleonora Vaccarezza Santos de Freitas Patrícia da Silva 20 Na mesa de abertura do I Seminário Psicologia e Relações Interétnicas SEMPRI-2015 – estavam presentes o então Conselheiro presidente do Conselho Regional de Psicologia – Adriano Ferreira Bastos, a coordenadora do GT- Psicologia e Relações Interétnicas – Eleonora Vaccarezza Santos de Freitas, o presidente da Comissão de Direitos Humanos do CRP-19 – Fernando Antônio Nascimento da Silva e a presidenta da Comissão Científica do I SEMPRI – Dra. Patrícia da Silva. Para as palestras de abertura e demais mesas contamos com a presença das/os convidadas/os: Dr. Marcus Eugênio Oliveira Lima (UFS); Dr. Marcos Emanoel Pereira (UFBA); Me. Roberto dos Santos Lacerda (UFS); Ma. Ionara Magalhães de Souza (UFRB); Ma. Neli Gomes da Rocha (UFPR); Dr. Hippolyte Brice Sogbossi (UFS); Dra. Dalila Xavier de França (UFS); Ma. Luciana Galante (UniAGES). Dra. Patrícia da Silva (UFS); Ma. e Yá Sônia Oliveira (OMOLÀIYÉ). Entre os selecionados ao prêmio estiveram: Khalil Costa – contemplado na categoria, mestre; Tarciana Lobô Menezes – contemplada na categoria, graduada, especialista ou estudante de mestrado; Rozelia dos Anjos Santos Oliveira – contemplada na categoria, graduada, especialista ou estudante de mestrado; Norton Cruz Machado – contemplado na categoria, estudante de graduação; Rita de Cássia de Jesus Oliveira – contemplada na categoria, estudante de graduação e; Maria Suely dos Santos Nascimento – contemplada na categoria, estudante de graduação. Durante a mesa de encerramento, a coordenadora do GT, realizou uma homenagem a todos que participaram da organização do evento, de modo direto ou indireto, entre elas podemos citar: Ma.Ana Raquel Silva Santos, Ma. Andréa dos Santos Dória, Baruc Correia Fontes, Ma. Carina Feitosa dos Santos, Ma.Cláudia Mara Oliveira Bezerra, Cristiane Gonçalves, Me. Guilherme Fernandes Melo, Me. Jorge Antônio Rodrigues Barbosa, José Marcelo Barreto de Oliveira, Laila Batista, Lidiane Drapala, Me.Rodrigo de Sena e Silva Vieira, Rozélia dos Anjos e Selma da Silva Santos. E até mesmo não estando fisicamente presentes, mas que colaboraram para a concretude do seminário, a exemplo de Camila Araújo e Luíza Lins Araújo. Já em sua segunda edição o SEMPRI superando nossas expectativas em termos de adesão, contabilizamos mais de 210 inscrições em menos de duas semanas. Este fato só reafirmou para nós como exemplo da carência e, consequente, necessidade de discussão da temática no âmbito de formação dessas/es atuais e futuras/os profissionais. E na tarefa que este grupo de trabalho estaria disposto a assumir, de chamamento da categoria para o necessário debate. Alguns dados que foram possíveis de serem apreendidos nesta edição, foi o perfil sociodemográfico das/os participantes. Assim, das/os 210 inscritas/os 79% eram mulheres e 21% homens. Destas/es 80% eram da área INTRODUÇÃO 21 da psicologia e 20% de outras áreas, sendo que 81,4% eram graduandas/os, 9% eram graduadas/os, 1,9% mestras/es, 2,4% Pós-graduadas/os ou especialistas e 1% de áreas de mestrado e doutorado. Com relação as áreas de atuação, tivemos profissionais da psicologia atuando nas seguintesáreas: 31,8% Psicologia Social; 13% na área de saúde mental; 18,2% Clínica; 18,2% formação em Psicologia; 4,5% Psicologia Organizacional e do Trabalho; 4,5% Psicologia escolar e Jurídica. Foram objetivos da segunda edição: visibilizar o fenômeno do racismo, suas consequências, estratégias de enfrentamento e promoção da igualdade étnico-racial, para psicólogas/os, estudantes de Psicologia e a comunidade em geral, através da realização II Seminário Psicologia e Relações Interétnicas (II SEMPRI-2016). E Especificamente: a) instituir Grupos de Discussão que abordem o tema do enfrentamento do racismo e da promoção da igualdade étnico-racial; b) ofertar palestras e cursos com atores envolvidos com o tema do enfrentamento dos estereótipos, preconceito e discriminação raciais; c) engajar estudantes e profissionais da psicologia e demais áreas, na discussão sobre a importância de uma atuação não discriminatória e que considere o sofrimento psicossocial gerado pelo racismo e suas formas de manifestação. Por isso, nesse ano, houve a formação de grupos de discussão (GD’s), cujos textos colaboram para a composição deste livro. Uma novidade naquela edição, foi a transição da plenária, e na mesa de abertura contamos com a presença da nova presidenta da Comissão de Direitos Humanos, Jayane Trindade. Nesta mesa também estavam presentes, o professor Me. José Alexandre Raad, então coordenador do curso de Psicologia da Universidade Tiradentes, instituição que apoiou o grupo na realização do evento; a coordenadora da Comissão Científica do II SEMPRI, Dra. Patrícia da Silva; a psicóloga e conselheira recém-empossada Eleonora Vaccarezza Santos de Freitas, coordenadora do GT- Psicologia e Relações Interétnicas e coordenação geral do II SEMPRI – 2016, que ao final do seu discurso ressaltou a importância do trabalho que o grupo vem realizando e de todas/os que ali estavam para apoiar o evento. As palestras tanto de abertura quanto dos demais dias, contaram com as contribuições das/os convidadas/os tanto da Psicologia como das demais áreas que contemplavam temas de pesquisa e atuação no enfreamento do racismo, assim tivemos a participação das/os seguintes convidadas/os: Dr. Leoncio Camino - (UFPB); Ma. Luíza Linz (UFS) e (GT-Psicologia e Relações Interétnicas); Promotor Luís Dias Fausto Valóis (MP/SE); Roberto Lacerda (UFS); Dra. Patrícia da Silva (UFS); Ma. Lívia Jéssica Messias de Almeida (UFS); Ma. Miraci Correia (Maurício de Nassau); Ma. Valdenice Portela (UFS); Ma. Eleonora Vaccarezza (CRP19/UFBA); Dra. Maria Batista Lima (UFS); psicóloga Rozélia dos Anjos (UFS/GT-Psicologia e Relações Interétnicas). Nos Grupos de discussão tiveram como colaboradoras/es: Ma. Ana Raquel Santos Eleonora Vaccarezza Santos de Freitas Patrícia da Silva 22 Silva (GT-Relações Interétnicas); da assistente social Jéssica Francielle Resende de Jesus (Unit/SE); Ma. Lívia Jéssica Messias de Almeida (UFS); Baruc Correia (CRP-19/UFS); do psicólogo Djean Ribeiro Gomes (CRP- 03/UFBA); Alessandra Santos da Graça (Auto-organização de Mulheres – Rejane Maria); Selma Santos (GT-Relações Interétnicas e Auto-organização de Mulheres – Rejane Maria); da psicóloga Thaiane Santos Simões da Paixão (GT-Relações Interétnicas); da psicóloga Joseane dos Santos Bispo (GT- Relações Interétnicas); do psicólogo José Marcelo Barreto de Oliveira (GT- Relações Interétnicas). Os grupos de trabalho tiveram seus temas propostos pelos participantes do I SEMPRI, de modo que foram contempladas as seguintes temáticas: 1) Psicologia, Políticas Públicas e Promoção da Igualdade étnico-racial; 2) A Clínica Psicológica e Enfrentamento a Intolerância Religiosa; 3) Resolução 018/2002 do CFP: desafios frente a sua aplicação; (4) Gênero e Relações Interétnicas. Os temas dos GD’s tiveram a seguinte adesão, a partir do total de participantes (210): 44,8% tinham interesse em discutir Psicologia, Políticas Públicas e Promoção da Igualdade étnico-racial; 22,9% demonstraram interesse no tema do Gênero e Relações Interétnicas; 26,7% para A Clínica Psicológica e Enfrentamento a Intolerância Religiosa e; apenas 5,2% dos inscritos indicaram o tema Resolução 018/2002 do CFP: desafios frente a sua aplicação para debate. Os GD's foram realizados no segundo dia do evento. As/os moderadores de um modo geral, eram membros do Grupo de Trabalho Psicologia e Relações Interétnicas ou profissionais convidadas/os, da Psicologia e de áreas afins que atuavam com a temática. Os capítulos presentes nesta publicação, divididos em duas partes, visam materializar as discussões que o SEMPRI e o Prêmio Psicologia e Relações Interétnicas suscitaram nestes últimos dois anos. Todas/os que fizeram parte de nossas edições foram convidadas/os a escreverem textos para esta edição do livro. O intuito desta produção é ampliar o espectro de alcance do SEMPRI e provocar a categoria a pensar sobre o nosso papel enquanto promotoras/es da saúde mental e do enfrentamento de fenômenos como o racismo brasileiro. Assim, no primeiro capítulo, “Discriminação de crianças negras na escola” a autora discute a partir de uma pesquisa empírica que versa sobre alguns processos pelos quais perpassa a discriminação racial contra crianças negras no interior da escola, tendo atenção ao professor como seu perpetrador. O segundo capítulo, “A educação dos negros em Sergipe: apontamentos históricos e atuais das políticas de ações afirmativas”, busca compreender as políticas de ações afirmativas no âmbito educacional no município de Aracaju. Assim, este trabalho faz um apanhado histórico sobre a educação dos negros em Sergipe, especificamente a educação das crianças negras, tendo como INTRODUÇÃO 23 referencial a Sociedade Abolicionista Aracajuana, a Cabana de pai Thomaz. De modo que, a autora busca fomentar uma reflexão sobre a Educação para as Relações Étnicos Raciais como estratégia viável para a educação, versando a diversidade e um indicativo para quem busca estudar a relação entre raça e classe. Já no terceiro capítulo, “Descolonização do pensamento e combate ao racismo: contribuições epistemológicas afrocentradas” o autor traz a partir de um olhar afrocentrado críticas as narrativas hegemônicas, valorização da experiência afro-brasileira e elementos de fortalecimento da identidade e consciência racial imprescindíveis no combate ao racismo. Destaca-se no seu texto, a abordagem do termo: “afrocentricidade” ressalta a necessidade de modo a demarcar localização do sujeito para desenvolver um engajamento teórico próprio ao grupo social e fundamentado em sua experiência histórica e cultural. O quarto capítulo, “Entre plantas e entidades: o conhecimento etnobotânico dos Guarani-Mbya de Tekoa Pyau”, traz uma compreensão acerca dos instrumentos que as sociedades indígenas se munem para ordenar e perceber o universo em que se inserem. O quinto capítulo, intitulado: “Entre o discurso e a prática: atitudes dos profissionais do direito acerca das políticas de cotas para negros nas universidades públicas brasileiras”, as/os autoras/es, discutem, a partir de uma pesquisa empírica com juristas, advogados e professores de direito, sobre a legislação brasileira no que se refere as relações raciais. As/os autoras/os abordam, especificamente o conceito de igualdade e aplicabilidade constitucional das políticas de cotas para negros nas universidades públicas. “Ações afirmativas no mercado de trabalho”, aborda as medidas preventivas realizadas no domínio do emprego como combate às desigualdades de raça e gênero no mercado de trabalho sergipano, entre elas, a norma de responsabilidade social empresarial propagada pelo Instituto Ethos. Inicialmente, as/os autores situam historicamente as desigualdades de raça e gênero no mercado de trabalho sergipano, enfocando o processo de transição do trabalho escravo para otrabalho livre entre o período de 1850 e 1930. Para, em seguida, discutirem os conceitos de ações afirmativas, norma de responsabilidade social empresarial e normas sociais. No capítulo sete, “Branquitude e interseccionalidade”, as autoras discutem as ambiguidades e contradições envolvendo processos de racialização e as consequências materiais e simbólicas para os grupos envolvidos nos sistemas de subordinação. Nessa perspectiva, as autoras propõem explanar sobre a identidade racial do branco, situar o lugar da branquitude nas relações raciais e na atualização do racismo e, na dimensão da interseccionalidade, os privilégios interseccionais de ser branco no Brasil. Eleonora Vaccarezza Santos de Freitas Patrícia da Silva 24 “Estética negra, consumo e ascensão social”, é o oitavo capítulo deste livro, as autoras partem de proposições levantadas por outras autoras, ao afirmarem que os padrões estéticos atuais excluem a beleza negra. No trabalho de pesquisa apresentado, por elas, utiliza-se a metodologia de estudo de caso para compreender os significados atrelados ao cabelo crespo e cacheado para mulheres negras pertencentes à classe C. As discussões foram embasadas em referencial teórico da psicologia social e da sociologia que tratam do racismo, ideologia do branqueamento e ascensão social. O capítulo nove, “Trajetórias e estratégias de mobilidade social de mulheres negras”, as autoras abordam, a trajetória de mobilidade social de mulheres negras e os possíveis efeitos de fenômenos tais como o racismo, o preconceito e discriminação racial para o emocional desta mulher. As autoras apontam, que embora na literatura sobre relações raciais, o tópico da mobilidade social seja considerado fundamental para determinar se há preconceito ou discriminação racial, no Brasil esses estudos ainda não são numerosos. Neste sentido, o trabalho se propõe a compreender a trajetória de mobilidade social de mulheres negras e suas percepções em relação ao preconceito e a discriminação racial no que diz respeito ao mercado de trabalho. Já o capítulo dez, “Resolução 018/2002 do CFP: desafios a sua aplicação na atuação psicológica”, o autor propõe-se a expor e ampliar, a luz da resolução 018/2002, as discussões levantadas nos trabalhos realizados durante o II Seminário Psicologia e Relações Interétnicas (SEMPRI-2016). De igual modo, os autores do capítulo onze, “Racismo, intolerância religiosa e atuação psicológica” ampliam as discussões que foram iniciadas durante o Grupo de Discussão: “A clínica psicológica e o enfrentamento a intolerância religiosa” neste capítulo que trabalha a partir da tríade Psicologia, Relações Raciais e Intolerância Religiosa, datada de períodos longínquos. Para finalizar esta primeira parte, o capítulo doze, “Relações interétnicas e políticas públicas na assistência social”, as autoras propõem de modo semelhante, alargar as discussões travadas durante o Grupo de Discussão sobre “Psicologia, políticas públicas e promoção da igualdade étnico-racial”. Entendem que a vivência grupal é um espaço de trocas e aprendizado particularmente significativo e ao sistematizarem a experiência vivida. São nesses espaços de trabalho que, percebe-se como a relação de etnias diferentes refletem tanto nas condições de privilégio e de subestimação de outras por parte daqueles que se enquadram em padrões eurocêntricos. E no quanto a psicologia social e o serviço social atuam na luta da discriminação e do sofrimento psíquico, ao despertarem para o seu papel de protagonista social e ao auxiliarem no empoderamento da pessoa negra, enquanto sujeito de direitos. INTRODUÇÃO 25 A segunda parte deste, inicia-se com o capítulo treze, “Preconceito e racismo pós-abolição: contexto histórico e discussão de manifestações veladas” fruto da redação na qual os autores, a partir da pergunta: “esta é a realidade da sociedade pós Lei Áurea ou um recorte não muito distante do século XXI? ” Discorre sobre realidade das relações interétnicas no Brasil, de como o racismo afeta a pessoa negra em sua identidade, estética e oportunidades dentro de uma sociedade racista, machista, lesbofóbica e homofóbica. O capítulo quatorze, “O racismo que o Brasil deixa nas entrelinhas”, a autora, problematiza sobre questões relacionadas ao preconceito racial disseminado no Brasil. Na mesma linha, o capítulo quinze, “Preconceito, racismo e estereótipos: o que a psicologia tem a ver com isso? ”, trata da pergunta tema do prêmio nessa primeira edição. Neste capítulo, a autora discute sobre o papel da Psicologia e sua importância para o desenvolvimento de trabalhos que visem combater preconceitos, estereótipos e discriminações decorrentes do racismo. Baseia-se na Resolução 018/2002 e em autores da Psicologia Social. Por fim, o último capítulo, “Psicologia das raças e religiosidade no Brasil: uma intersecção histórica”, fruto de um ensaio teórico, no qual a autora discorre sobre as manifestações religiosas afrodescendentes e como ela é observada através da ciência psicológica no Brasil; menciona também a influência das teorias raciais e eugenistas, entre os séculos XIX e XX. CAPÍTULO 1 26 DISCRIMINAÇÃO DE CRIANÇAS NEGRAS NA ESCOLA Dalila Xavier de França o Brasil, a preocupação com as relações entre grupos virou pauta de debates e de políticas públicas. Essa questão foi transformada em leis de reformas educativas, como se pode verificar nos novos Parâmetros Curriculares Nacionais para a Educação, através da Lei n. 10.639, que incluiu dois artigos, os quais tornam obrigatório o ensino de História da África e da Cultura Afro-Brasileira em todo o currículo escolar (OLIVEIRA, 2008). A promulgação dessas leis vem no âmbito da constatação de que, para a superação do preconceito racial na escola, faz-se necessário um conhecimento da história do negro brasileiro, assim como um mapeamento de experiências ligadas às relações étnico-raciais na escola. O preconceito, entendido como uma antipatia baseada numa generalização falha e inflexível que pode ser sentida ou expressa, além de dirigida a um grupo em sua totalidade, ou a um indivíduo por fazer parte do referido grupo (ALLPORT, 1954), configura-se num fator que dificulta o acesso e a permanência da criança negra na escola. Assim, a psicologia, em particular, a psicologia social, em seus pressupostos teóricos relativos às relações entre grupos sociais, pode colaborar com a N DISCRIMINAÇÃO DE CRIANÇAS NEGRAS NA ESCOLA 27 compreensão dos processos que subjazem ao preconceito na escola. Este capítulo traz uma pesquisa empírica que versa sobre alguns processos pelos quais perpassa a discriminação racial contra crianças negras no interior da escola, tendo atenção ao professor como seu perpetrador. A discriminação é definida por Allport (1954) como o comportamento ou prática social baseada na depreciação, hostilização e impedimento de que determinados indivíduos ou grupos gozem dos seus direitos sociais, apenas pelo fato de terem certas características (consideradas desagradáveis) ou por serem membros desses grupos. A discriminação, assim como o preconceito, são motivadores de exclusão social não apenas do negro como daqueles considerados diferentes, como homossexuais, pessoas com dificuldades motoras, cognitivas ou em algum órgão sensorial. Nesse estudo examinamos como na escola, o professor pode contribuir para a exclusão social de base racial através da expressão do preconceito e da discriminação raciais. O objetivo do presente estudo é analisar o papel do professor no processo de discriminação de crianças negras. Este estudo se justifica pela importância da escola enquanto espaço de debate e crítica ao racismo e à discriminação. Para isso, é imprescindível entender como se processam as relações intergruposna escola, bem como a participação dos professores no manejo das questões raciais, especialmente no tratamento dado às crianças quando em seus conflitos as questões raciais estão salientes. Esse estudo sugere que a prática psicológica pode extrair guias e princípios para intervir em questões sociais amplas, como o preconceito e o racismo, a partir do conhecimento específico gerado pelas pesquisas sobre relações entre grupos sociais. Concordamos com estudos que admitem que o comportamento, as atitudes e os valores que perpassam a relação professor/aluno e, da mesma forma, as atitudes e expectativas dos professores, podem ter impactos nas atitudes étnicas da criança (FEITOSA DOS SANTOS, 2014), na formação de sua identidade (CAVALLEIRO, 2001) e no seu desempenho escolar (CHAGAS; FRANÇA, 2010; ZIVIANI, 2014). No interior da escola, o racimo pode se apresentar na dinâmica das relações interpessoais entre alunos e profissionais da educação (CAVALLEIRO, 2001). Racismo é a discriminação de base racial, ou seja, aquela associada a uma marca física externa e genética, que é ressignificada em característica cultural interna determinadora de padrões comportamentais, psicológicos e morais, produzindo a crença na inferioridade natural dos indivíduos ou grupos que possuem essas marcas em comparação àqueles que nãos as possuem (LIMA, 2003; REID, 1988). Aspectos como a cor da pele, cor e formato dos olhos, estilo de cabelo são exemplos de marcas físicas genéticas geradoras de racismo, um grupo alvo de racismo na nossa sociedade é o grupo Dalila Xavier de França 28 dos negros. De acordo com Oliveira (2008), a escola está impregnada de visões deturpadas e profundamente arraigadas sobre o negro, visões que prejudicam um olhar diferenciado para o indivíduo como pessoa (LINS RODRIGUES, 2013; MONTEIRO; VENTURA, 1997). Na escola, precisamente na educação básica, observa-se que o racismo se apresenta de diferentes formas, implícitas ou explícitas tornando a escola um ambiente inóspito para os indivíduos negros (CAVALLEIRO, 2001; ZIVIANI, 2014). As dificuldades enfrentadas pelas pessoas negras na escola vão desde o acesso às instituições de ensino até a vivência de situações de racismo, que se iniciam no ensino básico e atravessam o ensino médio e o universitário. Como argumenta Rosemberg (2000), crianças negras apresentam dificuldades nos estudos elementares e ingressam mais tarde na escola do que as crianças brancas. Esta autora mostra, com dados referentes aos anos de 1987 a 1995, que 63% das crianças negras, aos 11 anos, ainda estão na pré-escola, enquanto que entre as brancas este índice cai 36%. Ao analisar a situação educacional na qual os negros estão submetidos, Gomes (1997) observa que são eles os mais atingidos pelo fenômeno da evasão e repetência. Embora atualmente haja uma relativa facilidade de acesso à escola por parte das crianças negras, elas encontram mais dificuldade para se manter nela e concluir os estudos, o que leva essa população a compor o maior percentual daqueles que deixaram de se alfabetizar entre os 7 e os 14 anos (QUEIROZ, 2000). Na mesma perspectiva de Rosemberg (2000), Gomes (1997) e Queiroz (2000), Chagas e França (2010) realizaram um estudo relacionando a diferença na trajetória escolar de crianças negras e brancas em Sergipe ao racismo e preconceito. As autoras lançaram mão de indicadores de aprovação, reprovação, repetência, evasão e defasagem idade-série e verificaram que crianças negras se encontram em situação de desvantagem, pois a trajetória escolar delas é mais longa e acidentada do que a dos brancos. Também Menezes (2003) afirma que trajetória escolar de crianças negras e pardas é marcada pelo analfabetismo, baixo rendimento, e elevados índices de reprovação e evasão em comparação ao de crianças brancas. A escola, para muitas crianças negras, é vista como um referencial de fracasso. A autora chama atenção para o fato de a dificuldade de aprendizagem dessas crianças está mais relacionada à forma de inserção delas no espaço escolar do que a um impedimento cognitivo. As crianças negras passam por um processo de exclusão simbólica, ou seja, apesar sua entrada na escola ser permitida, através da matrícula e acesso à sala de aula, elas não se sentem aceitas por colegas e professores que, frequentemente, demonstram preconceito por meio de insultos baseados em suas características fenotípicas. DISCRIMINAÇÃO DE CRIANÇAS NEGRAS NA ESCOLA 29 Desse modo, segundo Menezes (2003), a escola reserva um lugar social específico para a criança negra, um lugar de ser que não merece reconhecimento, incapaz e inferior. A autora exemplifica como a escola leva as crianças negras a introjetarem essas concepções, através de um estudo com crianças pobres de periferia urbana e do meio rural. Nesse estudo, solicitou-se às crianças que desenhassem os lugares sociais de brancos e negros. Os resultados indicaram que o branco estava ligado à civilização, ao meio urbano, enquanto o negro estava associado ao meio rural, ao trabalho braçal. As representações no desenho opõem um mundo triste e alegre, o primeiro para os negros e o segundo para os brancos. Nesse estudo, investigou-se o relato da representação de si, e observa-se que a criança negra se descreve de modo depreciativo, avaliando-se em conformidade com o discurso dos colegas. As meninas referiam que aquelas de cabelos grandes e lisos eram mais desejadas pelos meninos do que as de cabelos curtos e cacheados. A desigualdade educacional é muitas vezes entendida como consequência das condições socioeconômicas dos negros, desconsiderando o racismo fora e dentro da escola. O que relembra a tese do class-over-race (ver PIERSON, 1942/1967 citado em DEGLER, 1971), a qual consiste na afirmação de que, se existe preconceito no Brasil, este é de classe social e não de cor, uma vez que “negros” e “brancos” pobres são igualmente discriminados nesta sociedade. Contudo, Rosemberg (1998) observa que os negros (pretos e pardos) frequentam as escolas de pior qualidade. Alguns indicadores de qualidade verificados são: baixa qualificação e informação dos educadores; espaço físico restrito e índices elevados de reprovação e atraso escolar. Como afirmam Hasenbalg e Silva (1990, p.12), “estas desigualdades não podem ser explicadas nem por fatores regionais nem pelas circunstâncias socioeconômicas das famílias”. A este respeito, Castro e Abramovay (2006) realizaram um estudo em 25 escolas públicas e particulares das cidades de Belém, Salvador, São Paulo, Porto Alegre e Distrito Federal, com o objetivo de analisar o racismo como produtor de desigualdades na escola. Especificamente, as autoras pretenderam investigar as práticas sutis de racismo existentes entre alunos e professores. Participaram do estudo alunos, professores, diretores e os pais dos alunos. As autoras evidenciaram, em seus resultados, a existência de desempenho inferior entre os alunos da escola pública comparados aos das escolas particulares, entre os alunos que têm nível socioeconômico mais alto, há uma diferença nos indicadores de desempenho, ou seja, os negros apresentam desempenho inferior aos brancos desse extrato social. Já entre os alunos de nível socioeconômico baixo, brancos e negros apresentam índices similares. Entretanto, pais, professores, diretores e alunos não percebem diferenças no desempenho escolar pautado na cor da pele ou raça. Dalila Xavier de França 30 Essa suposta dificuldade em perceber o racismo no ambiente escolar, ou mesmo desinteresse em tratar das relações raciais, é por vezes compreendida em termos do silenciamento imposto a análise da questão do racismo, que parece estar presente em vários lugares. De modo que, as dificuldades escolares de crianças negras são atribuídas a problemas comportamentais ou familiares destas crianças e nuncacomo decorrentes do preconceito que as atinge (CAVALLEIRO, 2001; WRIGHT, 1992). Assim, como afirma Munanga (2005), a maioria de nós não recebe da escola, da educação transmitida por professores, o preparo necessário para lidar com questões de diversidade, racismo e preconceito. O silêncio ou denegação do preconceito pode ser observado ainda na essencialização das questões raciais, isto é, muitas vezes, os professores percebem o racismo como parte da “natureza humana”, sendo o próprio negro o responsável pela sua propagação. Como resultado, esses professores tornam-se coniventes com situações de exclusão das crianças negras que são rotuladas pejorativamente e de forma depreciativa e são recusadas como pares em filas, nas brincadeiras, nas festas (CAVALLEIRO, 2001; SANTANA; MÜLLER, 2011). Esse tratamento dado às crianças negras pelos professores foi encontrado também por Wright (1992), ao observar que as crianças negras inglesas são mais criticadas quando participam das discussões em sala de aula e sofrem desaprovação imediata no caso de mau comportamento quando comparadas às crianças brancas. As sanções aplicadas às crianças negras incluem ofensas verbais, exclusão da classe e retirada de privilégios, geralmente são feitas em público e vão além da disciplina, tornando-se ataques a pessoa. Em outro estudo, este norte-americano, com o objetivo de analisar a avaliação de desempenho de alunos latinos, negros e brancos observou-se que os professores brancos de escolas públicas são menos severos nos comentários e retorno sobre o desempenho de alunos latinos e negros comparados aos alunos brancos (HABER, 1998, 2004). O autor pressupõe que ocorre um viés da parte dos professores no momento de oferecer esse retorno, que pode ocorrer em virtude de motivos sociais gerados pelo esforço para evitar a tensão intergrupal e o contato interétnico, ou por motivos cognitivos, que estão baseados em crenças de que negros e latinos têm menos competência acadêmica do que os brancos. Assim, isso levaria os professores a automatizar as suas respostas quando avaliam indivíduos desses grupos. No caso dos professores brasileiros, ocorre igualmente a falta de preparo para lidar com as questões interétnicas na escola, ressaltando que a deficiência na sua formação os leva a agir negando as diferenças e, assim, DISCRIMINAÇÃO DE CRIANÇAS NEGRAS NA ESCOLA 31 reproduzindo práticas pedagógicas discriminatórias (LOPES, 1995; OLIVEIRA; LINS, 2008; SANTANA; MÜLLER, 2011). Coelho (2006) aponta três aspectos que fundamentam a deficiência na formação dos professores: 1) a produção intelectual orientada por uma perspectiva eurocêntrica, associada a uma imagem da nação como mestiça e plural que mascara as reais condições de discriminação vivida pela parcela não branca da população; 2) a formação voltada para a dimensão pedagógica do processo educacional, negando as dimensões humana e a sociopolítica, que contribui para a perpetuação de visões reprodutoras do preconceito e da discriminação, e 3) a formação não contempla aspectos da memória histórica da origem dos grupos, especialmente aqueles alvo de preconceito e discriminação, a fim de preparar profissionais atentos às questões colocadas pela lei n. 10.639 de 2003. Para Munanga (2005), esse despreparo impede os educadores de se apropriar de forma pedagógica das situações de preconceitos expressas pelos estudantes e utilizá-las como momentos para discutir a diversidade e conscientizá-los da riqueza que a diferença pode trazer para a cultura e a identidade. Outros processos psicológicos que entram em jogo e têm que ser considerados nesse contexto são as expectativas dos professores sobre os seus alunos. Sexo, raça, atratividade, entre outros fatores, podem influenciar as expectativas dos professores sobre o sucesso dos alunos (BREWER; CRANO, 1994). Ziviani (2014) analisou em seu estudo os processos de exclusão e inclusão escolar de crianças e adolescentes negros e não negros em Minas Gerais. Entre vários de seus importantes resultados, destaca-se as evidências colhidas da relação dos professores com seus alunos negros, consideradas pela autora como excludente e propagadora de preconceito. O estudo demonstra para além dos fatos já evidenciados em outras investigações, como se dirigir ao aluno negro através de apelidos pejorativos, utilizando insultos estigmatizadores como se referir aos meninos negros como violentos e uso do termo “safada” para se referir às meninas. E ainda a clara diferenciação de expectativa em relação a criança negra pelo professor que se recusa a vê-los no papel de leitores e escritores demonstrada pela desvalorização do conhecimento produzido pelos alunos desse grupo. Essas evidências são preocupantes pois as expectativas do professor podem levar à proliferação de profecias autorrealizadoras. Esse é um termo cunhado por Robert Merton (1948) e estudado experimentalmente por Rosenthal (1989) em escolas norte americanas, que consiste na concretização das expectativas do professor sobre seus alunos, quer positivas, quer negativas. Segundo Rosenthal (1989), as expectativas que o professor tem sobre o potencial acadêmico de seus alunos é acompanhada de resultados pertinentes com essas expectativas. Crano e Mellon (1978), estudando esse Dalila Xavier de França 32 fenômeno em crianças de escolas inglesas, observaram que crianças cujos professores tinham prazer em tê-las na sala de aula, provavelmente obtinham melhores notas em suas disciplinas do que as consideradas como tendo comportamento censurável. As profecias autorrealizadoras são também conhecidas como Efeito Pigmaleão (DIAZ-AGUADO, 1996). A avaliação que os professores fazem dos alunos estão sujeitas às expectativas que eles têm dos mesmos e podem ter efeitos não só sobre o desempenho, mas também sobre a auto estima da criança (CRANO; MELLON, 1978). As percepções e expectativas presentes no meio social não passam imperceptíveis pelas crianças e podem repercutir de modo negativo na percepção que têm do próprio grupo, é o que demonstra um estudo de França e Lima (2014) sobre identidade e estereótipos de crianças indígenas e quilombolas. As participantes desse estudo percebem as crianças brancas como mais bonitas, mais inteligentes e mais ricas do que as indígenas e quilombolas. Sobretudo as crianças negras afirmam que são as crianças brancas as que as (os) professoras (es) gostam mais. A criança negra foi percebida por ambos os grupos estudados como a mais briguenta, mais pobre e menos querida do (a) professor (a). Do mesmo modo, o apoio e a expectativa positiva advinda do meio social repercute positivamente na percepção que têm do próprio grupo. A este respeito um estudo de Lima e França (2012) mostra que o apoio governamental, através de políticas de ação afirmativa, fortalece a identidade étnica de crianças negras quilombolas e indígenas que sentem mais orgulho de sua etnia do que crianças negras não apoiadas por esses programas. Esses estudos demonstram que a escola é um espaço onde as relações intergrupais se apresentam, necessitando de uma atenção por parte dos estudiosos para diferentes aspectos desse contexto. Para o entendimento da discriminação racial no interior da escola, é imprescindível analisar o fenômeno do preconceito e do racismo em várias perspectivas, aprofundando-o e questionando-o, pois, o racismo produz efeitos graves para a identidade racial de crianças negras (FRANÇA; MONTEIRO, 2002), para seu desempenho acadêmico (ZIVIANI, 2014), para seu o bem-estar psicológico (KINDER; SEARS, 1981) e saúde geral (BALSA; MCGUIRE, 2003). Assim, consideramos a escola um importante espaço de gerenciamento das relações entre os diferentes grupos. De modo que, a articulação entre as teorias das relações intergrupais e da educação pode ser uma alternativa para traduzir,em forma de ação, o gerenciamento dessas relações. Como demonstra o estudo de Rutland, Brown e Cameron (2005) que visou traduzir achados de pesquisa em psicologia social em estratégias de redução do preconceito, o ato de contar história para as crianças que saliente as características culturais dos grupos (abordagem multicultural), as similaridades DISCRIMINAÇÃO DE CRIANÇAS NEGRAS NA ESCOLA 33 entre os grupos e suas pertenças comuns (abordagem do grupo comum) são medidas eficientes de redução do preconceito, sobretudo se essa prática se inicia na pré-escola. Esses autores comparam intervenções baseadas na abordagem multicultural e do grupo comum com as abordagens: color blind e do contraestereótipo. A intervenção baseada na abordagem do color blind desconsidera os pertencimentos grupais das pessoas e salienta suas individualidades enquanto a do contraestereótipo procura desconstruir as preconcepções existentes sobre os grupos, ensinando as crianças que os estereótipos atribuídos pelos adultos e crianças aos grupos são falsos (ver RUTLAND; BROWN, 2005, para uma revisão). Neste trabalho, deter-nos-emos no objetivo de analisar o papel do professor no processo de discriminação de crianças negras. Nesse estudo, a discriminação será evidenciada na relação professor-aluno, através da atribuição de notas diferenciadas para as crianças brancas e negras. Assim, levantamos a seguinte hipótese: os professores atribuirão, em suas avaliações, notas maiores às crianças brancas do que às crianças negras. MÉTODO Participantes Participaram da pesquisa 109 professores em formação, alunos dos terceiros e quartos anos de uma escola normal, sendo que seis (5,6%) são do’ sexo masculino, 102 (94,4%) são do sexo feminino e uma pessoa não declarou o gênero. As idades variaram de 18 a 52 anos, das quais 51 (48,1%) têm entre 18 e 25 anos de idade; 36 (34%) têm entre 25 e 35 anos de idade, 19 (17,9%) têm entre 36 a 52 anos de idade e três pessoas não declararam suas idades. O grupo racial dos participantes era atribuído pelos entrevistadores que classificavam o participante através de uma escala de cor que variava de um a sete (quanto maior o valor mais o participante era avaliado como mais negro). Foram categorizados como brancos 56,9% dos sujeitos (classificados nos valores que iam de um a quatro na escala de cor), e os classificados nos valores que iam de cinco a sete foram categorizados como negros (43,1%). No que diz respeito à renda familiar, 71,2% recebem entre um a dois salários mínimos; 22,1% , entre dois a cinco salários mínimos e 6,7%, acima de cinco salários mínimos. Instrumentos e procedimentos Os participantes foram abordados em sua própria escola, por quatro entrevistadoras. Foi solicitado aos participantes que avaliassem uma redação feita por um aluno escolhido ao acaso, indicando uma nota (de zero a dez) para Dalila Xavier de França 34 o seu desempenho. Anexo à redação havia a fotografia de uma criança que, em uma condição, era negra e, em outra, era branca e aparentava oito anos e meio de idade. As fotografias foram pré-testadas em estudo anterior (FRANÇA; MONTEIRO, 2002). Além da redação, havia um questionário com perguntas exploratórias sobre os critérios utilizados na avaliação. O instrumento foi disposto num documento de quatro páginas: na primeira, havia a apresentação da pesquisa e instruções; na segunda, havia uma única fotografia de uma criança branca ou negra no centro da folha e informações gerais sobre a criança embaixo da fotografia; a redação estava na terceira folha, com um espaço no canto superior direito para a colocação da nota, e, na quarta, um pequeno questionário e o levantamento sociodemográfico do participante. Os critérios utilizados na avaliação da criança pelos professores foram categorizados, com base nas respostas dos participantes, em cinco categorias: 1) Gramática e Caligrafia: as avaliações se pautaram no uso da gramática e da caligrafia; 2) Criatividade: as avaliações se pautaram na criatividade, na capacidade de construir o texto e na capacidade de expressão da criança; 3) Idade e Série: as avaliações consideraram a adequação entre idade e série da criança; 4) Tema escolhido: as avaliações foram baseadas no tema da redação; 5) Esforço: os participantes avaliaram com base no esforço do aluno, no seu interesse e em sua vontade de aprender. Foi dito aos professores que o estudo versava sobre a uniformidade na avaliação do desempenho escolar dos alunos pelo docente. Cada professor avaliava a redação de uma criança de um único grupo racial. Em cada turma também foi aplicado o questionário relativo a um único grupo racial, sendo que a mesma redação foi avaliada por todos os participantes, variando apenas o grupo racial da fotografia da criança afixada nos questionários. As variáveis do presente estudo foram: 1) a cor da pele da criança, manipulada através de duas fotografias, uma de uma criança branca e a outra de uma criança negra; 2) a discriminação, manipulada experimentalmente através da nota atribuída à redação pelos professores; 3) cor da pele e idade dos professores, a primeira avaliada pelo entrevistador através de uma escala de sete pontos e a segunda declarada pelo participante; 4) critérios para a nota atribuída declarada pelo participante. DISCRIMINAÇÃO DE CRIANÇAS NEGRAS NA ESCOLA 35 RESULTADOS Para análise das médias atribuídas pelos participantes às redações, retiraram-se os outliers severos, como recomenda Tabachnick e Fidel (2007). Nossa hipótese, a de que os professores atribuiriam notas mais altas às crianças brancas do que às crianças negras nas suas avaliações, foi testada utilizando-se uma análise de variância univariada (ANOVA). Usamos como variável dependente a nota atribuída pelos professores às redações, e como variáveis independentes, a cor da pele da criança avaliada, a idade e a cor da pele do professor. Verificou-se um efeito principal da cor da pele da criança avaliada F(1,104)= 3, 72, p= .05, o qual indica que a criança branca recebeu notas mais altas do que a criança negra (M= 7,8; M= 7,3 respectivamente). Estes resultados, que podem ser vistos na Figura 1, não foram influenciados pela idade do professor F(1,104)= .13, p= ns, nem pela cor de sua pele F(1, 104)= 1,75, p= ns. Figura 1 – Médias das notas atribuídas pelos professores às redações da criança branca e da negra. Para analisar os critérios utilizados pelos professores, realizamos uma análise de contingência (qui-quadrado) dos critérios utilizados pelos professores na atribuição de notas à redação da criança negra e à da criança branca em função da cor da pele da criança avaliada x2= 9.32; gl= 4; p > .05. Os resultados podem ser vistos na Tabela 1 e indicam que há uma diferença significativa na avaliação da criança branca e da criança negra com relação aos critérios utilizados. Os critérios adotados pelos professores em formação 7 7,1 7,2 7,3 7,4 7,5 7,6 7,7 7,8 7,9 Negro Branco 7,8 7,3 Dalila Xavier de França 36 para avaliação da criança branca foram, predominantemente, criatividade, expressão, construção textual, idade, série e tema escolhido. Para avaliar as crianças negras, eles utilizaram critérios como uso da gramática, caligrafia e, sobretudo, o esforço, conforme pode ser visualizado na Tabela 1. Tabela 1 – Frequência e percentual dos critérios utilizados pelos professores na avaliação do desempenho das crianças branca e negra. Condição Critérios Gramática e Caligrafia Criatividade Idade Série Tema Escolhido Esforço Branco 17 (38,6%) 12 (60%) 5 (62,5%) 13 (68,4%) 2 (22,2%) Negro 27 (61,4%) 8 (40%) 3 (37,5%) 6 (31,6%) 7 (77,8%) Total 44 (100%) 20 (100%) 8 (100%) 19 (100%) 9 (100%) DISCUSSÃOAs análises realizadas demonstram que os professores atribuem notas mais elevadas à criança branca do que à criança negra, confirmando nossa hipótese de que os professores atribuiriam notas mais altas à redação da criança brancas do que à da criança negra nas suas avaliações. Esta observação, realizada num nível comportamental e de forma experimental, foi vista através de observações por Cavalleiro (2001), nos estudos realizados nas escolas por ela investigadas, por Lopes (1995), em escolas de São Carlos, Ziviani (2014) em escolas de Belo Horizonte, e por Wright (1992), em escolas inglesas. Acreditamos que esses resultados demonstram a existência de preconceito na escola. O fato de os professores estarem despreparados quanto à compreensão dos processos históricos e políticos subjacentes à criação e perpetuação de diferenças entre os grupos, estes são colocados em situação de vulnerabilidade em relação ao preconceito, pois aceitam, sem crítica, as crenças difundidas sobre o grupo dos negros na sociedade, como a de que o Brasil é uma nação racialmente democrática, o que mascara as reais condições de discriminação vivida pelos negros. Dessa forma, como afirmam Coelho (2006), Lopes (1995) e Munanga (2005), o despreparo dos professores se revela como elemento pernicioso no processo de ensino–aprendizagem e de socialização ampla da criança. Esses resultados são diferentes daqueles observados por Haber (1998, 2004), em seu estudo sobre a avaliação de alunos negros e latinos. Embora nossos resultados apresentem-se diferentes daqueles de Haber, sua explicação de uma avaliação ligeira do grupo dos negros por parte dos DISCRIMINAÇÃO DE CRIANÇAS NEGRAS NA ESCOLA 37 professores, baseada na crença na incapacidade do grupo parece pertinente para analisar nossos resultados. Isso demonstra que esses professores utilizam critérios diferentes para avaliar os grupos, sendo os negros avaliados com base na expectativa de fracasso, ou mesmo na crença em sua incapacidade de gerar um produto de qualidade (Ziviani, 2014). Os resultados do presente estudo reafirmam os achados de Rosemberg (1998), de Cavalleiro (2001) e de Wright (1992) no que tange ao fato da carência de um adequado tratamento afetivo e julgamento igualitário às crianças negras por parte da escola. Estas crianças enfrentam o preconceito por diversas frentes, através de seus companheiros, seus professores e da sociedade. É importante que seja dado às crianças negras o direito de participarem de uma escola sem preconceitos. Isso pode ser possibilitado pela valorização da compreensão deste fenômeno por parte dos professores no seu processo de formação docente, assim como pela ampla discussão na escola dos processos que subjazem as diferenças entre os grupos. Pois a compreensão de que processos históricos, políticos e econômicos de cada época foram os produtores da supremacia de um grupo sobre outro, questionaria a crença na essencialização da diferença, ou na diferença como naturalizada. Entretanto, a compreensão da história do grupo, de sua cultura e seus valores, pode fornecer tanto a alunos quanto aos professores o entendimento das diferenças e a compreensão destas diferenças como construídas histórica e socialmente. A discriminação de que são vítimas as crianças negras independe da cor da pele e da idade do professor. Sendo assim, poderíamos esperar que professores negros discriminassem menos a criança negra por se identificarem com elas. Entretanto, nossos dados demonstram que isso não acontece. Ao que tudo indica, professores brancos e negros participam de um mesmo contexto de relações raciais e sendo o preconceito e a discriminação fenômenos sociais aprendidos via processo de socialização1, podemos imaginar que esses professores, por estarem vivendo numa sociedade em que o racismo é experienciado numa idade precoce, sequer percebam que foram vítimas ou que estão vitimando (ALLPORT, 1954). Como demonstram os estudos de Cavalleiro (2001), os professores essencializam as questões raciais, considerando-as imutáveis. Castro e Abramovay (2006) chamam atenção para o fato de o preconceito na nossa sociedade ser sutil e, muitas vezes, passa imperceptível, como no seu estudo em que professores pais, diretores e alunos não percebem as diferenças de rendimento escolar entre os 1 Processo através do qual a criança se torna membro de uma sociedade, referindo-se à aprendizagem das regras, crenças, proibições, valores e modos de comportamento compartilhados por seu grupo social (GUIMOND, 2000). Dalila Xavier de França 38 alunos negros e brancos. Esse viés, na percepção da defasagem em função da cor, pode ainda ser interpretado como uma forma de essencialização. Já na análise dos critérios utilizados pelos professores para avaliar as crianças, a discriminação ocorre de maneira mais sutil, porém não imperceptível. Observamos o uso de critérios superficiais na avaliação da criança negra, enquanto que para a criança branca os critérios lembram sua capacidade de pensar e agir inteligentemente. Como afirmam Fiske e cols. (2002), nas avaliações intergrupais, há uma tendência a utilizar características de competência ao grupo dominante e a analisar os grupos dominados através de critérios superficiais, o que representa uma forma de inferiorização do outro. Como no estudo de Haber (1998, 2004) o esforço para evitar a tensão intergrupal pode explicar os critérios escolhidos para avaliar a criança negra, ou seja, os professores avaliam a criança negra de modo menos severo e mais superficial. Também motivos cognitivos baseados em crenças de que negros têm menos competência acadêmica do que os brancos levariam a essa avaliação diferenciada da criança negra. Como afirmado nos estudos de Haber (1998, 2004) e Ziviani (2014) os professores automatizariam as suas respostas quando avaliam indivíduos desses grupos, ou seja, se recusam a dedicar tempo a eles. Já a criança branca é avaliada segundo os moldes do grupo dominante, ou seja, como criativa, que sabe construir porque é inteligente e capaz. Fundamentalmente, essas formas de avaliar os grupos se propõem a manter o status quo dos grupos, limitando seu campo de trabalho e de poder. Assim, o que se pode depreender desses dados é que as impressões que os professores têm das pessoas negras é de que elas não precisam alimentar expectativas, pois seu lugar social está previamente definido. Como afirma Menezes (2003), a escola reserva um lugar social de fracasso para a criança negra e, através de uma série de comportamentos partilhados por muitos do corpo escolar, levam-nas a internalizarem concepções negativas sobre si mesmas. Considerando-se que as crianças constroem seu lugar social, amparando-se no que é refletido a partir de seu contexto social, e a escola é um importante contexto de projeção, é necessário discutir o preconceito e a discriminação na escola a fim de reduzir o preconceito racial no seu interior e na sociedade (ZIVIANI, 2014). Para isso, faz-se necessário, ainda, como afirma Coelho (2006), zelar pela formação dos professores preparando profissionais atentos tanto para a dimensão pedagógica quanto para as dimensões humana e sociopolítica do processo educacional. DISCRIMINAÇÃO DE CRIANÇAS NEGRAS NA ESCOLA 39 CONSIDERAÇÕES FINAIS No espaço escolar, reúnem-se diferentes grupos e suas diferenças muitas vezes não são consideradas como importantes elementos de análise, causando, assim, uma pressão que tem impactos diversos. O objetivo deste estudo é o de analisar o papel do professor no processo de discriminação de crianças negras. As análises feitas indicam que, provavelmente, as crianças negras estão submetidas, nas escolas, à forte pressão que é exercida em forma de crenças depreciativas e atitudes discriminatórias mantidasnão somente por seus colegas, mas também por seus professores. Esta experiência tem efeitos sobre o comportamento, a autoestima e a percepção de si mesmo e das relações raciais, levando-as a perceber o ambiente social como hostil (CAVALLEIRO, 2001; LIMA; FRANÇA, 2012). A escola não é apenas um espaço para a aprendizagem de conteúdos acadêmicos, mas também é um espaço de socialização para as atitudes raciais. Sendo assim, é importante preocupar-se com os valores sociais e as crenças difundidas nesse contexto, haja vista que o manejo inadequado das relações raciais pode criar um ambiente de proliferação da inferioridade pessoal e disseminar profecias autorrealizadoras. Com base nas considerações de Merton (1948), Rosenthal (1989), Crano e Mellon (1978) e Diaz-Aguado (1996), podemos, portanto, afirmar que, se as crianças se sentem inferiorizadas, indesejadas ou como elementos estranhos ao contexto escolar, há uma forte possibilidade de evadirem-se da escola ou terem insucesso nesse contexto. Se dentro desse contexto perpassam crenças e ações que levem à diferenciação de grupos, seja pelo gênero, seja pela raça, seja pela classe, os indivíduos discriminados podem estar sob pressão. O resultado da pressão grupal é, em muitos casos, a diminuição da autoestima, e a luta pela sua proteção pode fazer indivíduos de baixo status diferenciar-se, negar ou evadir- se de seus grupos. O professor é uma figura de identificação e detém o conhecimento dentro da escola. Em seu papel de socializador, espera-se que o professor tenha a preocupação de promover a igualdade entre os alunos, considerando suas diferenças raciais, culturais, religiosas, etc., evitando ser perpetuador de visões deturpadas e arraigadas sobre os grupos (OLIVEIRA, 2008). Enquanto educador, o professor precisa estar aberto para discutir as diferentes visões que as crianças apresentam sobre os grupos que compõem a sociedade. É importante refletir sobre suas próprias opiniões, pois elas serão transmitidas por sua expressão, postura do corpo e impostação da voz. Se a criança sente que é percebida como incapaz, poderá encarar isso como verdade. O resultado é a consubstanciação de uma profecia autorrealizadora que terá efeitos nocivos talvez em diversas áreas da vida. Dalila Xavier de França 40 Como afirma Haber (1998), a avaliação do aluno pelo professor deve ser tanto vertical (baseado nos seus conhecimentos) quanto horizontal (baseado na sensibilidade e respeito a dignidade da pessoa) visando proteger sua autoestima e moral, de modo que ele deve estar atento no momento de suas avaliações para manter seu viés sob controle. Tendo em vista que a educação que a criança recebe no estágio inicial é de grande importância e forma base para seu desenvolvimento emocional, social e intelectual, preparar os professores para o manejo das questões raciais no interior da escola pode ser um modo de reduzir as desvantagens sofridas por crianças negras nesse estágio. Algumas medidas podem ser empreendidas visando a redução dos preconceitos na escola. Em conformidade com os estudos de Rutland, Brown e Cameron (2005), fornecer aos professores e alunos informações sobre as características culturais dos distintos grupos e sobre as bases dos preconceitos através do ato de contar histórias, que podem estar associadas a ênfase no que há de comum nos grupos existentes em determinado contexto; ter atenção a implementação da Lei n. 10.639 e ampliar o alcance de seus efeitos para outros grupos vulneráveis; elaborar ações que atinjam toda a escola no sentido de atuar junto todo corpo escolar, sobretudo, professores e alunos, na redução do preconceito na escola, semelhante ao estudo desenvolvido por Souza (2005). Estudos futuros podem centrar-se na formação dos professores para o aprimoramento ou aquisição de estratégias de redução do preconceito e à discriminação no contexto escolar, à luz dos novos Parâmetros Curriculares Nacionais para a Educação, através da Lei n. 10.639 e seu possível subsídio a estratégias de redução do preconceito e discriminação. REFERÊNCIAS ALLPORT, G.W. The nature of prejudice. Massachussets: Addison-Wesley, 1954. BREWER, M.; CRANO, W. Social psychology. Minneapolis/St. Paul: West Publishing Company, 1994. BALSA, A. I.; MCGUIRE, T. G. Prejudice, clinical uncertainty and stereotyping as souces of health disparities. Journal of Health Economics, 22(1), 2003, p. 89-116. Disponível em: <http://www.rwj.harvard.edu/papers/mcguire.pdf>. CASTRO, M. G.; ABRAMOVAY, M. Relações raciais na escola: reprodução de desigualdades em nome da igualdade. 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