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SUMÁRIO 
1 O surgimento do Serviço Social 9 
1.1 O surgimento do Serviço Social como profissão 9 
1.2 O surgimento do Serviço Social na Europa e nos Estados 
Unidos 12 
1.3 Principais bases teórico-metodológicas mundiais do Serviço 
Social 18 
 
2 Serviço Social no Brasil 24 
2.1 Constituição e desenvolvimento do Serviço Social no cenário 
brasileiro 24 
2.2 Surgimento da questão social e a sua relação com a profissão 29 
2.3 As políticas sociais e o Serviço Social 33 
 
3 Questão social: formas de expressão e enfrentamento 40 
3.1 Questão social no cenário contemporâneo 41 
3.2 Questão social e Serviço Social 45 
3.3 Questão social e suas expressões 47 
3.4 Enfrentamento da questão social 50 
 
4 Questão social e o Estado 55 
4.1 Estatização da questão social 55 
4.2 O Serviço Social no cenário da estatização brasileira 58 
4.3 Propostas de intervenção do Estado frente às novas expressões da 
questão social 61 
 
5 Movimento de reconceituação 66 
5.1 Movimento de reconceituação na América Latina 66 
5.2 Movimento de reconceituação no Brasil 73 
5.3 Congresso da Virada 80 
5.4 A prática do Serviço Social contemporâneo 82 
O surgimento do Serviço Social 9 
 
 
 
 
 APRESENTAÇÃO 
 
Este livro tem como objetivo apresentar os fundamentos teóricos e 
metodológicos do Serviço Social nos diferentes períodos de sua trajetória, desde 
seu surgimento até seus reflexos na contemporaneidade. É tratado o contexto 
mundial e, especificamente o da América Latina, para compreendermos a 
história da profissão como um todo. 
Assim, no primeiro capítulo, abordaremos os fundamentos que deram 
sustentação aos processos de trabalho do assistente social na Europa e nos Estados 
Unidos da América. Veremos que o Serviço Social teve sua origem com base em 
preceitos da Igreja e ações de caridade, com o objetivo de manter a ordem social, 
e que algumas correntes filosóficas interferiram na constituição do Serviço Social, 
devido ao avanço do capitalismo e ao agravamento das expressões da questão social. 
No segundo capítulo, trataremos da Constituição e do desenvolvimento do 
Serviço Social no Brasil. Compreenderemos o surgimento da questão social e 
a sua relação com o Serviço Social, além de identificar as políticas sociais no 
contexto brasileiro, para, desse modo, entendermos melhor essa questão e suas 
configurações nos dias atuais. 
O terceiro capítulo irá propor reflexões sobre as expressões da questão 
social como objeto de intervenção do assistente social. Para isso, ela foi 
contextualizada, abordando suas expressões e o modo como os assistentes 
sociais trabalham com elas. Destacamos a pobreza, principal expressão da 
questão social, e as políticas existentes para o seu enfrentamento. 
No quarto capítulo, apresentaremos a estatização da questão social e sua 
relação com a consolidação do Serviço Social. No Brasil, o fenômeno da estatização 
modificou a prática da profissão, trouxe alguns rótulos aos profissionais da época e 
impactou a formação dos assistentes sociais. Também veremos que a estatização 
trouxe novos campos de atuação para o assistente social com instituições do 
terceiro setor. 
No quinto capítulo, discutiremos o surgimento das primeiras escolas de 
Serviço Social na América Latina, assim como sua trajetória histórica até o 
momento de ruptura da profissão, marcado pelo movimento de reconceituação 
na América Latina e no Brasil. Conheceremos também alguns movimentos 
importantes que ocorreram no período de tensões devido ao regime militar 
vivido no Brasil. 
Desejamos que esta obra auxilie você a conhecer o processo de constituição 
histórica da profissão. Também esperamos que você possa entender as 
conjunturas que influenciaram a profissão ao longo dos anos, as quais foram 
essenciais para seu amadurecimento, redirecionamento e fortalecimento, visto 
que compreender a história permite compreender o posicionamento atual e a 
identidade profissional dos assistentes sociais. 
Que esta leitura inspire você! Bons estudos! 
10 Fundamentos teóricos e metodológicos do Serviço Social I 
O capitalismo surge e, com ele, emergem as desigualdades so- 
ciais. Para manter o controle dos trabalhadores, em uma parceria 
de Estado e Igreja, surgem os profissionais do Serviço Social, que 
deveriam trabalhar com a população vulnerável, buscando a orga- 
nização e o controle social dessa população. 
Neste capítulo, conheceremos os fundamentos que deram sus- 
tentação aos processos de trabalho do assistente social na Europa 
e nos Estados Unidos (EUA). Além disso, iremos analisar as primei- 
ras bases teóricas e metodológicas mundiais que tiveram interfe- 
rência na constituição do Serviço Social. 
No sistema capitalista, o mercado é regido pelo controle do capital, em que o dono 
dos meios de produção exerce domínio sobre o proletariado, o qual possui apenas sua 
força de trabalho. Para garantir sua sobrevivência, o proletariado vende sua força de 
trabalho aos donos do meio de produção, isto é, à burguesia. 
 
1 
 
O surgimento do 
Serviço Social 
 
 
1.1 O surgimento do Serviço 
Social como profissão 
Vídeo Se refletirmos sobre a história da humanidade, perceberemos que 
a desigualdade social e a pobreza sempre existiram, da mesma forma 
que sempre existiu quem se preocupasse com os indivíduos que so- 
friam com essas mazelas. Com o surgimento da sociedade capitalista, a 
exploração da força de trabalho e a má distribuição do que é produzido 
coletivamente, cresceu a preocupação com essa população e com os 
problemas sociais e políticos que ela poderia trazer à classe burguesa 
(ESTEVÃO, 2005). 
 
O surgimento do Serviço Social 11 
Artigo 
Acesso em: 12 fev. 2020. 
No artigo A presença da religião no exercício profissional de assistentes sociais, 
escrito por Patrícia V. Dutra e apresentado no I Congresso Internacional 
de Política Social: Desafios Contemporâneos, você vai compreender com 
maior clareza a presença e influência da religião na atuação profissional do 
assistente social. Encontrará também uma contextualização histórica mais 
aprofundada e direcionada para a história do Serviço Social brasileiro. 
http://www.uel.br/pos/mestradoservicosocial/congresso/anais/Trabalhos/eixo4/oral/53_a_presenca_da_religiao ...... pdf 
Com a chegada do capitalismo, emergiram também as desigualda- 
des sociais. A relação entre burguesia e proletariado foi marcada pela 
exploração. Não satisfeitos com essa relação, os proletários passaram 
a pedir melhores condições de vida, incomodando a tranquilidade dos 
burgueses, os quais pediram uma intervenção do Estado para mediar 
essa situação de revolta. O Estado, então, utilizou dispositivos legais 
para regular a relação capital-trabalho. Porém, conforme o capitalismo 
se enraizava na sociedade, deixava transparecer as desigualdades e a 
questão social. Com isso, a população menos favorecida nesse sistema 
passou a exigir um posicionamento das classes dominantes, Estado e 
Igreja, que se uniram para ajudar e organizar essa população. 
O Estado ficava responsável por impor a paz política e a Igreja 
encarregava-se do lado social, o de “fazer caridade”. A assistência social 
dessa época era realizada sem análise crítica da realidade, feita apenas 
por mera bondade. Não havia o pensamento de reformar o Estado ou 
suas políticas, mas de reformar o indivíduo. Assim, os pobres recebiam 
auxílio material e conselhos educativos e religiosos, pois acreditava- 
-se que, dessa forma, poderiam mudar sua própria condição de vida 
(ESTEVÃO, 2005). 
Após tantas manifestações do proletariado, a sociedade civil mo- 
dificou suas concepções de capital e trabalho, o que fez com que o 
Estado passasse a ter atenção com a classe trabalhadora e a inserisse 
no desenvolvimento de suas políticas. Nesse contexto, surge o Serviço 
Socialcomo uma resposta dos grupos dominantes à iminente questão 
social. Entretanto, ele devia servir ao Estado, à Igreja e à burguesia, e 
não ao proletariado, como uma maneira de manter o controle e a or- 
dem, ameaçados pela questão social (SANTOS; TELES; BEZERRA, 2013). 
Dessa forma, o Serviço Social surgiu como uma profissão socialmente 
Atividade 1 
Por que o Estado e a Igreja se 
uniram após a chegada do 
capitalismo? 
12 Fundamentos teóricos e metodológicos do Serviço Social I 
necessária, que busca compreender e intervir nas desigualdades so- 
ciais que impactam a vida dos trabalhadores. 
A definição de Serviço Social não pode ser generalizada para todos 
os países, visto que é necessário levar em consideração aspectos sin- 
gulares de cada país, como cultura e sociedade. Dessa forma, cada país 
possui uma definição da profissão adaptada à sua própria realidade. 
No Brasil, o Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), em 2010, lan- 
çou a seguinte proposta para definição da profissão: 
O/a assistente social ou trabalhador/a social atua no âmbito das 
relações sociais, junto a indivíduos, grupos, famílias, comunidade 
e movimentos sociais, desenvolvendo ações que fortaleçam sua 
autonomia, participação e exercício de cidadania, com vistas à mu- 
dança nas suas condições de vida. Os princípios de defesa dos di- 
reitos humanos e justiça social são elementos fundamentais para 
o trabalho social, com vistas à superação da desigualdade social e 
de situações de violência, opressão, pobreza, fome e desemprego. 
O CFESS (2010) define ainda que o trabalho social realizado pelos 
assistentes sociais deve apoiar-se em conhecimentos teóricos, empíri- 
cos e específicos da profissão. Esse conjunto de conhecimentos auxilia 
na compreensão da complexa relação social existente e da condição de 
vida dos indivíduos, permitindo aos assistentes sociais que analisem e 
intervenham em grupos, famílias, sujeitos, comunidades e movimen- 
tos sociais. Segundo o Conselho Regional de Serviço Social de Sergipe 
(CRESS), o Serviço Social atua na luta social e defende uma sociedade 
norteada pelos princípios de igualdade, liberdade e justiça social e por 
políticas públicas. 
A Federação Internacional dos Assistentes Sociais (FIAS) e a Associa- 
ção Internacional de Escolas do Serviço Social (AIESS) 
1 
aprovaram, em 
2014, uma definição global para a profissão: 
o Serviço Social é uma profissão de intervenção e uma disciplina 
acadêmica que promove o desenvolvimento e a mudança social, 
a coesão social, o empowerment 2 e a promoção da pessoa. Os 
princípios de justiça social, dos direitos humanos, da responsa- 
bilidade coletiva e do respeito pela diversidade são centrais ao 
Serviço Social. Sustentado nas teorias do serviço social, nas ciên- 
cias sociais, nas humanidades e nos conhecimentos indígenas, o 
serviço social relaciona as pessoas com as estruturas sociais para 
responder aos desafios da vida e à melhoria do bem-estar social. 
(IFSW; IASSW, 2014, tradução oficial) 
 
 
 
 
 
 
 1 
Em inglês: International Fede- 
ration of Social Workers (IFSW) 
e International Association of 
Schools of Social Work (IASSW), 
respectivamente. 
 
 2 
O empowerment é uma 
abordagem usada na área de 
administração de empresas e 
significa empoderamento ou 
delegação de poderes. Ele pro- 
põe que os funcionários tenham 
mais participação e autonomia 
nas atividades organizacionais e 
na tomada de decisões. 
Saiba mais 
Inicialmente, a assistência social 
era realizada por aqueles que 
tinham bens, ou seja, as damas 
de caridade, para aqueles que 
não possuíam. Com a crescente 
demanda por auxílios, surgiu 
a necessidade de se criarem 
instituições para organizar essas 
ações de caridade. Em 1869, 
foi fundada a Sociedade de 
Organização da Caridade, em 
Londres. Aos poucos, outros paí- 
ses capitalistas foram aderindo 
à ideia e abrindo suas próprias 
sociedades de caridade. Um 
diferencial dessas sociedades é 
que elas precisavam de pessoas 
que fizessem o trabalho com a 
população vulnerável, nascendo, 
então, a necessidade de se 
criarem instituições para formar 
essas pessoas. 
O surgimento do Serviço Social 13 
Atividade 2 
 
O livro O serviço social 
na contemporaneidade: 
trabalho e formação 
profissional, de Marilda 
V. Iamamoto, é uma 
ótima leitura para você 
ampliar seus estudos 
sobre o surgimento do 
Serviço Social, além de 
conhecer como ele se 
encontra na atualidade. 
São Paulo: Cortez, 2018. 
 
Por meio da postura e voz nas organizações re- 
presentativas, os profissionais de Serviço Social aca- 
baram chamando para si o papel de agentes ativos 
que buscam a promoção do bem-estar e da coesão 
social, com base em valores de justiça social, direitos 
humanos, responsabilidade coletiva e respeito pela 
diversidade (saberes, crenças, escolhas, etnias e cul- 
turas), adotando e buscando a mudança social para 
alcançar o desenvolvimento social justo. 
1.2 O surgimento do Serviço Social na 
Europa e nos Estados Unidos 
 Vídeo 
 
 
 
Em que contexto nasceram os 
movimentos sociais na Europa? 
Os problemas sociais aumentaram acentuadamente na maioria 
dos países europeus como resultado da Revolução Industrial e, con- 
sequentemente, da industrialização. A crescente diferença entre os 
grupos mais ricos da sociedade e os mais pobres com o aumento da 
pobreza e da miséria contribuiu para despertar a consciência social. 
Nesse contexto, greves, manifestações e movimentos sociais começa- 
ram a aparecer como uma reação a essa situação, e houve uma sen- 
 sibilização da sociedade sobre a situação em que milhões de pessoas 
viviam, o que levou à conscientização da responsabilidade social. 
Os problemas sociais já existentes, antemão à implementação do 
sistema econômico capitalista, levaram principalmente a Igreja Cató- 
lica a atuar em setores pobres das cidades, centros de vizinhança ou 
centros comunitários. Tivemos alguns atores importantes no contexto 
de atuação com a comunidade carente, os quais são considerados os 
pioneiros do Serviço Social europeu: 
Livro 
Saiba mais 
Você lembra o que foi a Revo- 
lução Industrial? Ela teve início 
no século XVIII, na Inglaterra, e 
foi o período em que ocorreu o 
desenvolvimento tecnológico, o 
que ocasionou o surgimento das 
indústrias, trouxe transformações 
econômicas, políticas e sociais 
e consolidou o processo de 
constituição do capitalismo. 
14 Fundamentos teóricos e metodológicos do Serviço Social I 
Figura 1 
Linha histórica dos precursores do Serviço Social na Europa 
 
 
Juan Luis Vives 
Criado e formado em instituições cristãs, 
começou a levantar críticas quanto ao 
posicionamento da Igreja diante da fome e 
miséria que assolava a Europa. No tratado De 
subventione pauperum, Vives propôs assistência 
aos pobres e, considerada ousada para a 
época, apresentou a sugestão de treinar quem 
 
 
1493 
1540 
1581 
1660 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1844 
1913 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1877 
1953 
São Vicente de Paulo 
Em sua vida como sacerdote, dedicou-se 
a ajudar os pobres. Em sua experiência 
com as famílias camponesas, percebeu que 
estavam em total abandono e viviam na 
miséria. Diante disso, passou a pregar 
missões e organizar instituições de caridade. 
Fundou a Congregação da Missão para 
evangelização e a Companhia das Filhas 
da Caridade para assistência espiritual e 
material aos pobres. Ficou conhecido como 
o pai dos pobres. 
 
 
 
 
Samuel Augustus Barnett 
Era pároco de uma Igreja no subúrbio da 
Inglaterra. O primeiro centro comunitário 
foi fundado em 1884, em Whitechapel, 
promovido por Barnett e sua esposa 
Henrietta. A experiência e o reconhecimento 
desses centros fez com que a ideia fosse 
replicada em outras cidades da Inglaterra. Esse 
projeto também foi expandido para outros 
países europeus e norte-americanos.René Sand 
Foi um médico belga que organizou e 
promoveu várias ações sociais durante o 
não possuísse qualificação para trabalhar 
em alguma função e, em troca, oferecer um 
valor mínimo que pagasse essas atividades e 
auxiliasse na sobrevivência. 
 
 
 
 
 
Octavia Hill 
Teve sua atuação marcada em uma das 
expressões sociais resultantes da Revolução 
Industrial, na qual, diante do rápido 
crescimento da população urbana e em busca 
de oportunidades nas indústrias, criou-se um 
grave problema habitacional. Nesse contexto, 
Hill surge com a ideia de reorganizar e construir 
habitações estruturadas nos subúrbios. 
 
 
 
 
 
Charles Stewart Loch 
Dedicou sua vida à Sociedade de Organização 
da Caridade, que tinha como lema “uma 
sociedade sem dependentes”. Acreditava em 
uma sociedade ideal na qual todos deveriam 
ganhar a vida por meio de seus próprios meios. 
Em seus inscritos, estabeleceu os primeiros 
conceitos sobre trabalho social. 
 
 
 
 
 
 
 
1838 
1912 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1849 
1923 
período entreguerras. Para ele, o Serviço Social 
não era contra a caridade nem a filantropia; a 
atuação dos profissionais ultrapassava essas 
práticas, pois ao reconhecer as realidades, 
os profissionais buscavam a causa de tais 
problemas sociais e se destacavam pelo campo 
possível de estudo diante de questões sociais e 
ações propostas. 
 
Fonte: Elaborada com base em Vieira, 1984; Mezzadri, 1996; Martinelli, 2013; Sand, 1931. 
O surgimento do Serviço Social 15 
 3 
A Segunda Guerra Mundial 
(1939-1945) foi um conflito de 
proporção global iniciado na 
Europa, mas que se espalhou por 
outros países, inclusive o Brasil. 
Esse período ficou marcado pelo 
Holocausto e o lançamento de 
bombas atômicas nas cidades de 
Hiroshima e Nagasaki. 
As consequências geradas às pessoas e famílias pela Segunda 
Guerra Mundial 
3 
afetaram o surgimento do Serviço Social, principal- 
mente com relação à saúde. Nessa época, ele foi promovido pela Igreja 
Católica, com uma orientação de bem-estar social. 
Na Europa, houve três momentos que geraram mudanças no Ser- 
viço Social, devido à importância deste e seus impactos na realidade. 
O primeiro foi a Revolução Industrial (1760-1840), quando nasceram 
os movimentos sociais focados em reformas e em iniciativas sociais. O 
segundo foi a Revolução Francesa (1789-1799), que resultou na ela- 
boração da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, a qual 
garantiu que todos os cidadãos (franceses) teriam direito à liberdade, à 
propriedade, à segurança e à resistência à opressão. Por fim, o terceiro 
momento foi a promulgação dos direitos humanos (1948), a qual vi- 
sava garantir a liberdade, a justiça e a paz mundial. 
Nesse contexto, foi gerado o pano de fundo que deu origem ao mé- 
todo de Serviço Social de Grupos, que, na Europa, se concentrava em 
ajudar grupos a superarem problemas comuns. Nos anos 1960, esse 
método cresceu e teve um grande impacto social. Ele era organizado 
em três fases: estudo, que consistia na coleta de informações; diagnós- 
tico social; e tratamento. Os centros comunitários criados na Europa 
contribuíram significativamente para o desenvolvimento do método de 
trabalho social de grupos, pois se tornaram um dos principais campos 
de aplicação. 
Nos Estados Unidos também temos alguns pioneiros notáveis para 
a gênese do Serviço Social; muitos deles foram destaques e seguidos 
pelo mundo todo. Eles trouxeram metodologias e inovações relaciona- 
das à profissão, desde a caraterização como profissão até métodos de 
atendimento a indivíduos, grupos ou comunidades. 
O primeiro centro comunitário nos EUA foi criado em 1886 na ci- 
dade de Nova York, com o nome de Neighborhood Guild – que anos 
depois mudou para University Settlement. Em 1889, Jane Addams 
(1860-1935) e Ellen Gates Starr (1859-1940) fundaram o centro Hull 
House – primeira casa de caridade – em Chicago, que se tornou o sím- 
bolo do movimento de centros comunitários e de vizinhança, graças 
aos escritos de Jane Addams. Esses escritos se referiam principalmen- 
te à filosofia dos centros e à experiência adquirida neles. Os centros 
se expandiram rapidamente, especialmente nos Estados Unidos e no 
16 Fundamentos teóricos e metodológicos do Serviço Social I 
Canadá: enquanto em 1891, havia seis centros comunitários nos EUA, 
nove anos depois, em 1900, havia mais de 400. 
Mary Richmond (1861-1928) apontou a necessidade de se formar 
pessoas que realizassem o trabalho social e sugeriu a elaboração de um 
curso (criado logo em seguida). Em seus textos, trouxe escritos sobre o 
estudo de caso. Seus livros Diagnóstico Social e O que é Serviço Social de 
Caso foram muito importantes para o Serviço Social mundial na época, 
uma vez que apresentavam uma metodologia de atuação para os pro- 
fissionais por meio da resolução de casos. Richmond também foi pio- 
neira em orientar e escrever sobre a visita domiciliar (ESTEVÃO, 2005). 
Mary Parker Follet (1868-1933) atuou como educadora e organiza- 
dora de serviços sociais e assistenciais em sua cidade. Tendo em vista 
essa atuação, começou a se preocupar com os problemas gerados pela 
má administração industrial. Ela conseguiu a liberação para utilizar os 
espaços da escola no período noturno, formando os centros educacio- 
nais e de lazer para crianças pobres (VIEIRA, 1984). 
Em 1912, Samuel Richard Slavson (1890-1981) reuniu crianças dos 
subúrbios e criou a primeira teoria do Serviço Social de Grupos com base 
na abordagem da Psicanálise, que realiza estudos de caso em cada indi- 
víduo. Em 1934, a assistente social Grace Coyle (1892-1962) escreveu o 
livro Estudos em comportamento de grupo, no qual levanta alguns funda- 
mentos teóricos sobre o Serviço Social de Grupos. Em 1935, o método 
Serviço Social de Grupos foi oficialmente incluído como parte da profissão, 
e Grace Coyle apresentou o primeiro trabalho na área, intitulado Serviço 
Social de Grupo e Mudança Social. 
Também é importante mostrar que, antes da Segunda Guerra 
Mundial, a intervenção predominante do Serviço Social era de maneira 
preventiva e, após esse período, era necessário trabalhar uma perspec- 
tiva de restauração e reabilitação para grupos. 
Foi então que, em 1940, o escopo e as funções do Serviço Social 
de Grupos começaram a ser definidos mais precisamente. Durante 
esse período, houve a falta de um corpo ordenado de conhecimentos, 
quadros de referência, proposições teóricas organizadas e concepções 
sistemáticas. Gradualmente, os assistentes sociais – conscientes do es- 
tado de desenvolvimento desse método e da necessidade de identificar, 
sistematizar e fortalecer o conhecimento – dedicaram seus esforços ao 
desenvolvimento de teorias que orientariam a prática profissional. 
Atividade 3 
Qual foi a importância de Mary 
Richmond no Serviço Social? 
O surgimento do Serviço Social 17 
Em 1946, a especificidade metodológica e acadêmica do Servi- 
ço Social de Grupos foi trabalhada com maior rigor como disciplina 
científica. Grace Coyle ministrou o primeiro curso de Serviço Social de 
Grupos e escreveu seu trabalho intitulado Processo Social em Grupos 
Organizados, com uma abordagem psicoterapêutica (saúde mental) e 
intrapsiquiátrica. Foi ela quem apresentou os primeiros trabalhos so- 
bre Serviço Social de Grupos na Conferência Nacional de Serviço Social. 
Gisela Konopka (1910-2003), assistente social e psicanalista ale- 
mã, desenvolveu, em 1949, a teoria metodológica do Serviço Social de 
Grupos, incorporada em seu livro Trabalho em Grupo Social. Em 1963, 
ela propôs valores básicos para a prática do Serviço Social de Grupos, 
destacando a participação, a cooperação, a liberdade de expressão, a 
iniciativa e o valor da individualização. 
No momento, mostrando maturidade metodológica, foram realizadas 
conferências especializadas de Serviço Social de Grupos, além de publica- 
ções especializadas.Ainda, em 1963, Robert Vinter (1921-2006) concei- 
tuou e classificou os grupos sob o modelo corretivo, e William Schwartz 
(1916-1982) conceituou e classificou os grupos de ajuda mútua. 
Em 1966, foram estudados e organizados os tipos de grupos sob os 
critérios de finalidade, por tratamento para promover a ajuda mútua, 
criando a conscientização do cidadão. 
Outro autor importante é Charles Garvin (1929-), que estuda gru- 
pos por valores e papéis em várias e diferentes circunstâncias e os clas- 
sifica em quatro grupos ou categorias: 
• grupos para reduzir a anomia; 
• grupos para enriquecer o desempenho de funções; 
• grupos de controle social; 
• grupos para desenvolver papéis alternativos. 
Na década de 1970, o treinamento de assistentes sociais nos EUA 
era ministrado nos níveis de graduação, mestrado e doutorado, de 
uma perspectiva integracionista ou generalista. Em 1980, alguns auto- 
res tentaram agrupar todos os tipos de grupos existentes, apresentan- 
do duas grandes categorias: 
Glossário 
anomia: ausência de objetivos, 
leis ou regras. Também pode ser 
considerada como a perda de 
identidade, causada pelas trans- 
formações sociais no mundo. 
18 Fundamentos teóricos e metodológicos do Serviço Social I 
Artigo 
Acesso em: 12 fev. 2020. 
Gostou de conhecer um pouco sobre a história do Serviço Social? O artigo 
A origem do Serviço Social no mundo e no Brasil, publicado por Sandra N. dos 
Santos, Silvia B. Teles e Clara A. A. S. Bezerra nos Cadernos de Graduação: 
Ciências Humanas e Sociais, poderá aprofundar seus conhecimentos sobre 
o contexto histórico da profissão. As autoras fazem uma análise mundial e a 
aproximam da realidade brasileira, até a criação de escolas de Serviço Social 
no país. 
https://periodicos.set.edu.br/index.php/cadernohumanas/article/view/844/517 
 
Grupo de 
tratamento 
 
Subgrupos 
educacionais, de 
crescimento, corretivos 
e socializantes. 
Grupo de 
tarefas 
Subgrupos formados pelos 
comitês: administrativos, 
conselhos de delegados, 
equipes geralmente 
interdisciplinares, 
conferências de tratamento e 
grupos de ação social. 
 
 
 
Para finalizar a jornada cronológica e a abordagem do processo pe- 
los Estados Unidos, é importante afirmar que, em meados do século XX, 
três métodos clássicos do Serviço Social foram implementados e profis- 
sionalizados: o Serviço Social de Caso, pautado nos estudos de Mary 
Richmond, Porter Lee e Gordon Hamilton, preocupa-se com a per- 
sonalidade do cliente (assim eram chamados os usuários do Serviço 
Social); o Serviço Social de Grupos, cujos autores de maior influência 
foram Gisela Konopka e Robert Vinter, busca auxiliar os sujeitos em 
seu autodesenvolvimento e no ajuste a valores e normas vigentes no 
ambiente em que vivem; e, por fim, o Serviço Social de Comunidade 
objetiva desenvolver os indivíduos socialmente e promover relações 
eficientes entre eles, para que haja um desenvolvimento equilibrado e 
harmonioso (ANDRADE, 2008). 
O surgimento do Serviço Social 19 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 2 
1.3 Principais bases teórico-metodológicas 
mundiais do Serviço Social 
 Vídeo O Serviço Social teve sua origem e seu desenvolvimento na socie- 
dade capitalista e estava diretamente relacionado à doutrina social da 
Igreja. Trata-se, então, de uma área que se institucionalizou como um 
recurso do Estado para exercer o controle e a regulação da questão 
social, tendo como base os ideais da Igreja. 
Em suas origens, o Serviço Social foi fortemente influenciado pela 
filosofia das doutrinas tomista e neotomista, explicadas a seguir. Toda 
a visão de homem e mundo, adotada pela profissão, aconteceu com 
base na doutrina católica, sendo ela, inclusive, a responsável pelo sur- 
gimento das primeiras escolas de Serviço Social. É importante estudar- 
mos essas correntes para compreendermos a atuação profissional em 
seu início, visto que a forte influência dos ideais cristãos que estava 
Os estudos de Tomás de 
Aquino deram origem ao 
Tomismo 
presente na filosofia tomista, depois retomada na filosofia neotomista, 
estava presente também na ação dos assistentes sociais. 
1.3.1 Tomismo 
Nascido na Itália (c. 1225), Tomás de Aquino foi 
um teólogo e filósofo católico pertencente à Ordem 
dos Pregadores, sendo o principal representante da 
tradição escolar e fundador da Escola Tomística de 
Teologia e Filosofia. Ele também é conhecido como 
doutor angélico ou doutor comum e é considerado 
santo pela Igreja Católica. 
Sendo a escola filosófica e teológica que surgiu 
como legado de Tomás de Aquino, a palavra Tomismo 
deriva do nome de seu autor. Tomás de Aquino se de- 
dicou à explicação da relação entre verdade revelada e 
filosofia, buscando a verdade entre a fé e a razão. Para 
o filósofo, Deus deveria ser a primeira realidade a ser 
compreendida, visto que seria a fonte de tudo, e ape- 
Fonte: LAFUENTE, L. M. Santo Tomás de Aquino. 1795. Pintura a óleo, color., Museu 
de Huesca, Huesca. 
nas depois desse entendimento seria possível estudar 
 
A obra mais conhecida de Tomás de Aquino é a Summa Theologiae, um tratado no qual ele pretende expor a doutrina católica 
de maneira ordenada. Trata-se de um dos documentos mais influentes em Teologia e Filosofia medievais, estudada até hoje, 
especialmente, nas universidades católicas. 
20 Fundamentos teóricos e metodológicos do Serviço Social I 
o homem, composto de duas substâncias incompletas: a alma e o corpo. 
Juntas, elas resultariam no ser humano, diferente de todos os outros se- 
res, pois seria dotados de razão, capaz de escolher e saber. Por possuir 
inteligência, ele seria a existência mais perfeita do universo, tanto no fator 
físico quanto no espiritual (AGUIAR, 1989). 
O Tomismo argumenta que a fé (crença na autoridade divina) e a 
razão (fundamentada na demonstração) são diferentes, não devem ser 
confundidas e não são contraditórias entre si, porque ambas vêm de 
Deus. A filosofia do Tomismo tem como base a disciplina da sabedoria e 
procura cientificamente fornecer respostas para as certezas naturais do 
raciocínio, os princípios do conhecimento humano e o realismo integral. 
Dessa forma, é a unificação da verdade e fé reveladas, da razão natural 
e do senso comum. Como dote da natureza, coerência de princípios bá- 
sicos e racionalidade (e não senso imaginário desprovido de valor filosó- 
fico), o senso comum seria o uso correto da inteligência, da qual nasce 
espontaneamente, sendo uma razão natural (STRAUSS, 2014). 
No que diz respeito à ética tomista, Tomás de Aquino adaptou o 
princípio da ética com os ensinamentos morais vindos dos evangelhos. 
Uma distinção feita por ele é que a clareza seria manifestada na razão 
e na obscuridade, sendo um princípio da vida eterna e da fé. 
Ainda dentro do Tomismo, podemos destacar que acreditava-se 
que o homem, além de ser um “animal social”, era também um “animal 
político”. Mesmo após ser expulso do paraíso, o homem não perdeu 
sua natureza social e começou a se organizar em comunidade, criou 
as leis e instituiu as hierarquias, nascendo assim um poder político 
(AGUIAR, 1989). Logo após instituir o poder político, foi estabelecido o 
Estado em busca do bem comum, trazendo a autoridade, ainda dentro 
de preceitos cristãos, pois acreditava-se que “toda forma de autoridade 
deriva de Deus, respeitá-la é respeitar a Deus” (SCIACCA apud AGUIAR, 
1989, p. 43). Desse modo, toda forma de governo deveria ser respeita- 
da, bem como deveria garantir os direitos das pessoas e o bem-estar 
das comunidades, sendo assim merecedora de respeito. 
Essa visão de autoridade e Estado foi reafirmada pelo Neotomismo, 
que trouxe a explicação sobre a posição inicial dos assistentes sociais, 
a qual não questionava a ordem vigente, mas buscava apenas refor- 
mar a sociedade, de acordo com os preceitos da Igreja e do Estado. As 
correntes tomista e neotomista influenciaramprincipalmente os países 
latino-americanos, em destaque o Brasil, que esteve presente desde 
sua primeira escola. 
Saiba mais 
A Patrística – corrente filosófica 
cristã que buscava a expansão 
do cristianismo e recebeu esse 
nome por ser desenvolvida por 
padres e teólogos – de Santo 
Agostinho precedeu os estudos 
de Tomás de Aquino e fez as 
primeiras tentativas de igualar 
fé e razão. Para isso, retomou o 
pensamento filosófico grego, 
particularmente Platão, mas 
finalmente deduziu que a fé está 
acima da razão. Ao contrário 
de Santo Agostinho, Tomás de 
Aquino concluiu que é pela 
razão que podemos manifestar 
nossa fé. 
Curiosidade 
Na encíclica Angelici Doctoris, o 
papa Pio X alertou que os ensi- 
namentos da Igreja não podem 
ser entendidos, em seu sentido 
preciso, sem os fundamentos 
filosóficos e teológicos básicos 
das principais teses de Tomás de 
Aquino. Em Sacrorum Antistitum, 
ele trata também da promoção 
dos ensinamentos de São Tomás 
de Aquino nas escolas católicas, 
de modo que o Tomismo seja 
estabelecido como o funda- 
mento de estudos filosóficos e 
teológicos. A encíclica Aeterni 
Patris, do Papa Leão XIII, trata da 
restauração da filosofia cristã, 
de acordo com a doutrina de 
Tomás de Aquino, e recomenda o 
estudo do Tomismo. 
O surgimento do Serviço Social 21 
1.3.2 Neotomismo 
O Neotomismo surgiu como uma tentativa de retomada da filosofia 
de Tomás de Aquino no século XIX. Acreditava-se que essa filosofia aju- 
daria a compreender os problemas da época, principalmente a miséria 
e a exploração que assolavam a Europa, resultantes da industrialização 
e do desenvolvimento do sistema econômico capitalista. Esses proble- 
mas sociais levaram a Igreja a se posicionar, uma vez que a situação 
da sociedade estava sendo vista como uma decadência da moral e dos 
costumes cristãos. Nesse sentido, ela resolveu investir e incentivar o 
ressurgimento da filosofia tomista, tendo em vista que suas ideias ser- 
viriam para buscar o enfrentamento da realidade posta. 
A filosofia neotomista identifica que o homem é dotado de razão e 
capacidade escolher, podendo aperfeiçoar sua condição material e es- 
piritual, pois sua perfeição seria inspirada em Deus. O ser, que consiste 
nas qualidades morais, pessoais, ideológicas e filosóficas dos sujeitos, 
estaria sobre o saber, isto é, a ciência e a racionalidade, características 
presentes na filosofia de Tomás de Aquino (ORTIZ, 2007). 
O homem, na perspectiva neotomista, por ser dotado de inteligência, 
podia orientar a si e a outros homens sobre os valores cristãos. O homem 
é visto como ser social e deve buscar a perfeição para o coletivo, pois o 
bem comum deve estar sempre acima das necessidades individuais. 
Nesse contexto, os assistentes sociais se expressam por meio de 
ações que reforcem o altruísmo, o dom de si, o respeito à livre ini- 
ciativa etc. O Neotomismo influenciou a formação do Serviço Social, 
destacando-se inclusive da tradição conservadora, que incentivava que 
as relações sociais fossem constituídas pela busca do bem comum, dei- 
xando de lado as dimensões políticas. 
Os assistentes sociais, ao se posicionarem a favor de um pro- 
jeto de sociedade que pudesse reconstruir a ordem social des- 
truída pelo desrespeito à dignidade humana, situavam a prática 
profissional em uma perspectiva idealista vinculada às diretrizes 
da Igreja Católica daquele período. Postulavam uma ação profis- 
sional pautada na reeducação moral, seguido de um mínimo de 
bem-estar ou de atividade profissional que assegurasse condi- 
ções mínimas de sobrevivência, tais como: restaurantes em am- 
bientes de trabalho, assistência a menores e algumas garantias 
legais para minorar as condições de trabalho. (GUEDES, 2000) 
22 Fundamentos teóricos e metodológicos do Serviço Social I 
As escolas de Serviço Social formavam os profissionais de acordo com 
a doutrina e os valores cristãos, buscavam desenvolver e garantir que 
os estudantes tivessem conhecimentos sobre a realidade, os problemas 
sociais e as técnicas de trabalho. Os futuros assistentes sociais deveriam 
ter base sólida a respeito dos conhecimentos doutrinários cristãos, pois 
acreditavam que exerciam, além de uma profissão, uma vocação divina. 
As escolas de Serviço Social repassavam seus ensinamentos calcados 
nos princípios neotomistas: da dignidade da pessoa humana (ser livre, 
ter o mínimo de bem-estar) e do bem comum (GUEDES, 2000). 
Os profissionais, por ser imagem do homem dotado de inteligência, 
deveriam escolher atuar dentro dos princípios religiosos e ter alguns atri- 
butos, como: ser responsável, realizar sacrifícios se fossem necessários, 
ser perseverante, desapegado da materialidade, possuir capacidade de 
sentir e de se adequar às realidades e, consequentemente, ter maturidade 
para não se deixar abalar pela realidade (TELLES, 1939; MANCINI, 1939). 
O capitalismo trouxe muitos problemas e demandas sociais. Nesse 
contexto, os profissionais de Serviço Social começaram a questionar e 
repensar suas práticas, ainda marcadas por ações filantrópicas e assis- 
tencialistas. A ruptura do Serviço Social com o Neotomismo teve início 
em 1960, com a aproximação da teoria crítica, e a nova postura profis- 
sional se aproximou da visão dialética. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
O Serviço Social, em sua origem, teve suas bases em preceitos de dou- 
trinas religiosas, realizando ações filantrópicas e voltadas para manutenção 
da ordem social. Os clientes do Serviço Social recebiam conselhos e bens 
materiais, pois acreditava-se que assim poderiam melhorar sua condição 
de vida por meio do seu esforço e sua motivação própria. Nessa época, a 
atuação profissional servia apenas para manutenção da ordem burguesa. 
Com o agravamento das questões sociais, resultantes do capitalismo, 
os indivíduos organizaram-se em movimentos sociais e foram às ruas 
para solicitar direitos e melhorias. O Estado, então, entrou como parceiro 
da Igreja para conter essas manifestações, mas as mediações realizadas 
foram insuficientes, uma vez que se mantinham no viés assistencialista. 
Desse modo, os profissionais de Serviço Social começaram a repensar 
suas práticas e se questionaram sobre qual era o real papel de suas in- 
tervenções, deixando de lado a filantropia e as práticas de reajuste social. 
Atividade 4 
Quais são as características do 
Neotomismo e como foram in- 
seridas na prática dos assistentes 
sociais? 
O surgimento do Serviço Social 23 
As correntes filosóficas foram atualizadas, os princípios tomistas e neo- 
tomistas foram abandonados. As experiências de profissionais de outros 
países foram compartilhadas e seguidas em todo o mundo, inclusive no 
Brasil. Após o rompimento com o Neotomismo, vieram outras correntes 
filosóficas que influenciaram a prática dos profissionais, mas apenas anos 
mais tarde o Serviço Social tradicional foi deixado de lado. 
 
REFERÊNCIAS 
AGUIAR, A. G. Serviço social e filosofia: das origens a Araxá. 4. ed. São Paulo: Cortez; Unimep, 
1989. 
ANDRADE, M. A. R. A. de. O metodologismo e o desenvolvimentismo no serviço social 
brasileiro – 1947 a 1961. Serviço Social & Realidade, Franca, v. 17, n. 1, p. 268-299, 2008. 
Disponível em: https://periodicos.franca.unesp.br/index.php/SSR/article/viewFile/13/78. 
Acesso em: 12 fev. 2020. 
CFESS. Proposta do conselho federal de serviço social do Brasil (CFESS) para definição do 
Serviço Social, Hong Kong, 10 jun. 2010. Brasília: CFESS, 2010. Disponível em: http://www. 
cfess.org.br/arquivos/definicao_ss_fits_SITE_por.pdf. Acesso em: 12 fev. 2020. 
CRESS. Assistente social: uma profissão forjada na luta! 2016. Disponível em: http://novo. 
cress-se.org.br/assistente-social-uma-profissao-forjada-na-luta/. Acesso em: 30 jan. 2019. 
ESTEVÃO, A. M. R. O que é serviço social. São Paulo: Brasiliense, 2005. (Coleção Primeiros 
Passos). 
GUEDES, O. de S. A compreensão da pessoa humana nagênese do serviço social no Brasil: 
uma influência neotomista. Serviço Social em revista, Londrina, v. 4, n. 1, jul./dez. 2000. 
Disponível em: http://www.uel.br/revistas/ssrevista/c_v4n1_compreensao.htm. Acesso 
em: 12 fev. 2020. 
IFSW; IASSW. Global definition of social work, jul. 2014. Disponível em: https://www.ifsw.org/ 
what-is-social-work/global-definition-of-social-work/. Acesso em: 12 fev. 2020. 
MANCINI, L. C. Formação profissional. Revista de Serviço Social, São Paulo, v. 1, n. 2, 1939. 
MARTINELLI, M. L. Serviço social: identidade e alienação. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2013. 
MEZZADRI, L. São Vicente de Paulo, uma caridade sem fronteiras. Lisboa, 1996. 
SAND, R. Le service social à travès le monde: assistance, prévoyance, hygiène. Paris: Librairie 
Armand Colin, 1931. 
SANTOS, S. N. dos; TELES, S. B.; BEZERRA, C. A. A. S. A origem do serviço social no mundo e no 
Brasil. Cadernos de Graduação: Ciências Humanas e Sociais, Aracaju, v. 1, n. 17, p. 151-156, 
out. 2013. Disponível em: https://periodicos.set.edu.br/index.php/cadernohumanas/ 
article/view/844/517. Acesso em: 12 fev. 2020. 
ORTIZ, F. S. G. O Serviço Social e sua imagem: avanços e continuidades de um processo 
em construção. Rio de Janeiro, 2007. Tese (Doutorado em Serviço Social) – Programa de 
Pós-graduação em Serviço Social, Escola de Serviço Social, Universidade Federal do Rio de 
Janeiro. 
STRAUSS, L. Sobre a interpretação do gênesis. Pensar – Revista Eletrônica da Faje, v. 5, n. 2, 
p. 297-323, 2014. 
TELLES, G. U. A ordem social. Revista de Serviço Social, São Paulo, v. 1, n. 1, 1939. 
VIEIRA, B. O. Serviço social: precursores e pioneiros. Rio de Janeiro: Agir, 1984. 
24 Fundamentos teóricos e metodológicos do Serviço Social I 
GABARITO 
1. A Igreja e o Estado se uniram para mediar os conflitos, expressões do capitalismo, que 
surgiram e para organizar a população menos favorecida. O Estado ficou responsável 
por impor a paz no meio político, e a Igreja ficou encarregada de fazer caridade. 
2. A Revolução Industrial foi responsável por impulsionar a organização dos movimentos 
sociais, pois os grupos de trabalhadores insatisfeitos com os problemas sociais, como 
o aumento da pobreza e da miséria, se organizaram para solicitar melhorias, realizan- 
do greves, manifestações e movimentos sociais. 
3. Mary Richmond foi responsável por descrever como deveria ser executado o trabalho 
dos assistentes sociais, norteando a atuação dos profissionais por meio da resolução 
de casos. Ela foi a responsável pioneira por lançar as bases da visita domiciliar. 
4. A filosofia neotomista identifica que o homem é dotado de razão e capacidade de 
escolher, podendo aperfeiçoar sua condição material e espiritual. As escolas de Ser - 
viço Social formavam os profissionais de acordo com a doutrina e os valores cristãos, 
buscavam desenvolver e garantir que os estudantes tivessem conhecimentos sobre 
a realidade, os problemas sociais e as técnicas de trabalho. Os futuros assistentes 
sociais deveriam ter base sólida sobre os conhecimentos doutrinários cristãos, porque 
acreditavam que exerciam, além de uma profissão, uma vocação divina. As escolas de 
Serviço Social repassavam seus ensinamentos calcados nos princípios neotomistas: da 
dignidade da pessoa humana (ser livre, ter o mínimo de bem-estar) e do bem comum. 
O surgimento do Serviço Social 25 
O Serviço Social como profissão tem um ponto em comum na 
Europa e no Brasil: nasce com as marcas do capitalismo incipiente, 
decorrente dos acentuados traços de empobrecimento e das vul- 
nerabilidades sociais a que os trabalhadores estavam submetidos. 
No Brasil, o movimento ocorre um pouco depois, sendo chamado 
de capitalismo tardio. 
A complexidade que envolve essa questão se deve à sua inteira 
e irrestrita vinculação com elementos macroestruturais, como as 
condições econômicas, políticas e culturais de determinado ter- 
ritório e de dado momento histórico. Compreender a gênese da 
questão social no mundo e, em particular, no Brasil é fundamental, 
pois só assim poderemos refletir, com mais argumentos e embasa- 
mento, sobre as configurações contemporâneas da questão social. 
Neste capítulo, você vai estudar o surgimento da profissão no 
Brasil e como a questão social se relaciona com ela. Além disso, 
vai conhecer um pouco mais sobre a relação estabelecida entre a 
política social e o trabalho desenvolvido pelo Serviço Social. 
 
 
2 
 
Serviço Social no Brasil 
 
2.1 Constituição e desenvolvimento do 
Serviço Social no cenário brasileiro 
 Vídeo O surgimento do Serviço Social no Brasil é, de certa forma, seme- 
lhante ao que ocorreu na Europa. No entanto, a experiência brasileira 
difere por conta de suas características de país subdesenvolvido. Ape- 
nas nos anos 1930 o país passou por uma mudança econômica, saindo 
de um modelo agrário exportador para um modelo industrial, que se 
instalou nas grandes cidades como São Paulo. Essa mudança produ- 
ziu profundas alterações sociais, pois, assim como na Europa no ápice 
da Revolução Industrial, levou a uma crescente urbanização, acirrando 
problemas e conflitos sociais (MANTEGA, 1984). 
Serviço Social no Brasil 25 
O Serviço Social começa, também no Brasil, com as damas da alta 
sociedade e a influência da Igreja, fazendo, assim, um trabalho assis- 
tencialista. Em sua política de alianças, o governo brasileiro procu- 
rou o apoio da Igreja Católica, cujo entendimento relativo à questão 
social é apresentado nas encíclicas papais Rerum Novarum (1891) e 
Quadragesimo Anno (1931). Elas abordam a intervenção do Estado nas 
relações entre o capital e o trabalho quanto à obrigatoriedade de reali- 
zar políticas sociais. Logo, é se preocupando com a harmonia social, ou 
seja, com a ausência de conflitos de classe, e 
na relação com a Igreja Católica, que o Serviço Social brasileiro 
vai fundamentar a formulação de seus primeiros objetivos po- 
lítico-sociais, orientando-se por posicionamentos de cunho hu- 
manista conservador contrário aos ideários liberal e marxista na 
busca de recuperação da hegemonia do pensamento social da 
Igreja em face da “questão social”. (YAZBEK, 2009, p. 8) 
Uma marca característica dos nossos políticos, em especial de 
Getúlio Vargas, foi o populismo do Estado Novo, no qual foram arti- 
culadas as primeiras legislações de proteção social do país. Somente 
com as primeiras leis trabalhistas da década de 1930 é que o Serviço 
Social começa a tomar forma e articular certas garantias de direitos à 
população do Brasil. Assim, são abertos outros campos para o trabalho 
do assistente social, que começa a lidar com a indústria. Surge, então, 
o Serviço Social como profissão, especialmente dentro das vilas operá- 
rias e, fortemente, na esfera pública, que ainda hoje é seu campo de 
atuação principal (ESTEVÃO, 2006). 
Podemos observar, na linha do tempo a seguir, algumas fundações 
importantes na história do Serviço Social brasileiro: 
 
 
Encíclicas papais, ou cartas 
papais, são documentos ponti- 
fícios escritos e encaminhados 
aos bispos de todo o mundo. 
Seu conteúdo, geralmente, 
traz atualizações sobre a 
doutrina católica por meio de 
ensinamentos ou temas atuais. 
Ao longo dos anos, a Igreja 
emitiu várias encíclicas falando 
sobre a questão operária, o 
fascismo, o nacional-socialismo, 
o comunismo, a moral conjugal, 
o trabalho humano, a regulação 
da natalidade, a esperança cristã, 
o desenvolvimento humano na 
caridade, entre outros temas. 
 
 
 
1936 
É fundada a primeira escola de Serviço 
Social do país na Pontifícia Universidade 
Católica de São Paulo (PUC-SP). 
1932 
É criado o Centro de Estudos e Ação Social 
(CEAS), entidade que viria a ser a fundado- 
ra e mantenedora da primeira escola de 
Serviço Social do Brasil. 
(Continua) 
Saiba mais 
26 Fundamentos teóricos e metodológicos do Serviço Social I 
1937 
 
É criado o curso de Serviço Social na 
PontifíciaUniversidade Católica do Rio de 
Janeiro (PUC-Rio). 
 
 
 
 
 
 
1945 
 
1942 
• São instituídos o Serviço Nacional de 
Aprendizagem Industrial (Senai) e o Serviço 
Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac). 
• É criada a Legião Brasileira de Assistência (LBA), 
por meio da qual o ensino do Serviço Social co- 
meça a ganhar força nas demais capitais, com a 
implantação de novos cursos. 
 
É inaugurada a Escola de Serviço Social de 
Porto Alegre, hoje denominada Faculdade 
de Serviço Social da Pontifícia Universidade 
Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). 
 
 
 
 
1951 
 
1946 
• São fundados o Serviço Social da Indústria 
(Sesi) e o Serviço Social do Comércio (Sesc), que 
atendiam os trabalhadores brasileiros. 
• É criada a Fundação Leão XIII, para atuar na 
educação da população residente em favelas 
no Rio de Janeiro. 
 
É instituída a Fundação da Casa Popular, 
um serviço que busca contribuir para a 
melhoria das condições de habitação da 
classe trabalhadora. 
 
Fonte: Adaptada de Yazbek, 2009; Bulla, 2003; Estevão, 2006. 
Segundo Yazbek (2009, p. 8), ainda na década de 1930, quando os 
cursos de Serviço Social, até então, encontravam-se em sua origem, 
a “questão social” é vista a partir do pensamento social da Igre- 
ja, como questão moral, como um conjunto de problemas sob a 
responsabilidade individual dos sujeitos que os vivenciam embo- 
ra situados dentro de relações capitalistas. Trata-se de um en- 
foque conservador, individualista, psicologizante e moralizador 
da questão, que necessita para seu enfrentamento de uma pe- 
dagogia psicossocial, que encontrará, no serviço social, efetivas 
possibilidades de desenvolvimento. 
Com as diversas transformações que ocorreram ao longo dos anos, 
o Serviço Social começou a ter uma abordagem mais humanista. Con- 
Serviço Social no Brasil 27 
tudo, por viver em um contexto crítico, passou por muita resistência 
no período da ditadura. Devido ao espírito de enfrentamento quanto 
à questão social, os assistentes sociais passaram a militar nos movi- 
mentos de classe e, logo após, em partidos políticos, reivindicando o 
fim do regime militar. Nesse período, o Serviço Social passou por uma 
reformulação intelectual, adotando uma dialética marxista. 
Considerando as transformações que ocorriam mundialmente e, 
especialmente na América Latina, surgiram ao longo das décadas de 
1960 e 1970 movimentos que transformaram a sociedade brasileira; no 
interior do Serviço Social não foi diferente. No ano de 1965, iniciou-se 
o Movimento de Reconceituação do Serviço Social com o I Seminário 
Latino-americano de Serviço Social. Naquele mesmo ano, autores pro- 
puseram a renovação da profissão no Brasil pela ótica do planejamen- 
to, de modo que houvesse um diagnóstico, um plano de ação e uma 
intervenção profissional – essa proposta era contrária à visão marxista. 
Em 1967, um grupo de profissionais com notório conhecimento teó- 
rico na área se reuniu no Comitê Brasileiro de Conferência Internacional 
de Serviço Social com o objetivo de buscar a teorização da profissão. 
Como produção do intenso debate, expressaram uma definição da 
ação profissional no Documento de Araxá: o Serviço Social, em sua 
ação profissional, seria um instrumento de desenvolvimento humano, 
individual e coletivo. No documento, é defendida a concepção de que o 
Serviço Social “teria tanto um caráter corretivo das causas que dificul- 
tam esse desenvolvimento, como um caráter de promoção e preven- 
ção, para evitar as causas do desajuste, buscando tratar de problemas 
individuais e coletivos” (FALEIROS, 2005, p. 23). 
Em 1970, é elaborado o Documento de Teresópolis, que enfatiza as ne- 
cessidades humanas; ele ainda não rompe com a perspectiva desenvolvi- 
mentista, mas já questiona a constituição histórica da profissão e vincula-a 
ao campo das Ciências Sociais. Não há, ainda, relação com a dinâmica de 
classes e de opressão. De acordo com Faleiros (2005), nesse contexto, o 
Serviço Social devia amenizar os episódios de carência e adaptar-se à mu- 
dança e ao crescimento estabelecidos pelos grupos hegemônicos. 
Somente após dez anos é elaborado o Documento de Sumaré. Se- 
gundo Faleiros (2005, p. 23-24), “o documento diferencia epistemologia 
de intervenção, olhando para o serviço social ao mesmo tempo como 
processo de aprendizagem de ajustamento e de mudança”. Já se abre 
Vídeo 
Com o vídeo Especial 
apresenta história da 
Assistência Social no Brasil, 
publicado pelo canal TV 
BrasilGov, você poderá 
conhecer um pouco 
mais sobre a história do 
Serviço Social no Brasil. O 
especial resgata a memó- 
ria coletiva da profissão 
por meio de imagens 
históricas. 
Disponível em: https://www. 
youtube.com/watch?v=qPE5Mdn- 
tV2Y. Acesso em: 
5 mar. 2020. 
28 Fundamentos teóricos e metodológicos do Serviço Social I 
uma importante brecha para a discussão da perspectiva dialética e, 
também, da fenomenologia. 
Nos anos 1980, os frutos das mobilizações populares começaram a 
se avolumar, e o movimento social crítico produziu efeitos no Serviço 
Social. Nessa década, uma corrente marxista estruturalista se desen- 
volveu no meio acadêmico; ela defendia que o Serviço Social atua na 
perspectiva da reprodução capitalista. Assim, o Serviço Social passa a 
ser compreendido como o “executor de políticas sociais que intervém 
na questão social por meio de um instrumento peculiar que é a política 
social” (FALEIROS, 2005, p. 28). 
Essa é uma visão instrumentalista do Serviço Social que parte do 
pressuposto da reprodução do capital, no qual o movimento histórico e 
as contradições são descartados. Mas todo esse período de “crise exis- 
tencial” do Serviço Social – que não está descolado dos acontecimentos 
no Brasil e no mundo – leva a profissão a um novo patamar. 
No cenário social, começa a se intensificar a busca pelos direitos 
sociais e discute-se a cidadania e seus conceitos. Lembre-se de que a 
Constituição Cidadã foi construída em 1988, com a participação da so- 
ciedade e dos movimentos populares, e isso não ocorreu de uma hora 
para a outra. A cidadania passou a ser compreendida como o acesso 
individual e coletivo dos sujeitos aos direitos sociais. Sua conceituação 
vai além do direito de acesso às políticas públicas ou aos direitos po- 
líticos e alcança a participação nos assuntos relativos à sociedade de 
maneira geral. Ela implica, ainda, os deveres e as responsabilidades da 
sociedade e do Estado. 
Nesse contexto de tensionamento e lutas para a garantia constitu- 
cional de direitos, o Serviço Social ainda buscava sua teorização e o 
rompimento com a ideia de uma profissão que atendia aos interesses 
da classe burguesa e do Estado. Já havia essa compreensão, especial- 
mente no meio acadêmico e pelos movimentos estudantis. Segundo 
Iamamoto e Carvalho (2017, p. 19), “o Serviço Social surge como um dos 
mecanismos utilizados pelas classes dominantes como meio de exer- 
cício do seu poder, instrumento esse que deve modificar-se constante- 
mente em função das características diferenciadas da luta de classes”. 
Nessa lógica, o Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais 
de 1986, aprovado pelo antigo Conselho Federal de Assistentes Sociais, 
estava alinhado com as lutas da classe trabalhadora. Tratou-se de uma 
Atenção 
Com o fim da ditadura e a volta 
da democracia no Brasil, e com a 
formulação de uma nova Cons- 
tituição Federal em 1988, que 
assegura condições igualitárias 
de direitos a todos, o Serviço 
Social começa a trabalhar com 
a realidade social “nua e crua”. 
Assim, deixa de lado a visão 
assistencialista e parte em 
busca da garantia dos direitos já 
constituídos por Lei no Brasil. 
Serviço Social no Brasil 29 
Mas, primeiro, o que são, de fato, essas expressões da questão social? De acor- 
do com Iamamoto (1998, p. 27), a questão social é “o conjunto das expressões das 
desigualdades da sociedadecapitalista madura, que tem uma raiz comum: a pro- 
dução social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, 
enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se privada, monopolizada por uma 
parte da sociedade”. 
Você pode identificá-las nas comunidades urbanas e rurais, por exemplo, pela carên- 
cia de acesso aos direitos sociais e pela violência estrutural. Essa forma de violência é 
caracterizada pela precariedade ou ausência de investimentos na saúde, impedindo 
que uma pessoa tenha o atendimento necessário e qualificado, devido à falta de 
vagas em escolas infantis – o que pode promover a vulnerabilidade social da criança 
– ou à desqualificação e desmotivação de professores, pelos salários baixos e pela 
estrutura precária da escola. 
Também, podemos verificá-la no despreparo e na insuficiência material de insti- 
tuições que deveriam proteger pessoas vítimas de violência física, emocional ou 
econômica – o que pode acarretar prejuízos incalculáveis para as vítimas. É possível, 
ainda, verificá-la na precariedade da defensoria pública, que não possui profissionais 
em número suficiente para atender os usuários daquele serviço, o que pode levar à 
perda de ações judiciais. Esses são exemplos que proporcionam a visualização de 
uma forma de violência muitas vezes invisível para a sociedade, mas que produz 
efeitos devastadores. 
opção ético-política alimentada pela formação marxista nas universida- 
des, pelos movimentos sociais e pelos sindicatos. Somente em 1993 foi 
aprovado o novo Código de Ética Profissional, que seguiu e desenvol- 
veu ainda mais essa visão, estando em vigor até hoje. 
 
2.2 Surgimento da questão social e a 
sua relação com a profissão 
Vídeo Para entender as expressões da questão social, é preciso com- 
preender a conjuntura socioeconômica e política do país, já que nada 
está descolado do contexto em que vive a sociedade, nem mesmo as 
discussões internas da categoria profissional dos assistentes sociais. 
No núcleo da questão social, entre 1800 e 1930, estava a consolida- 
ção da classe trabalhadora enquanto classe social, as suas condições 
de vida e de trabalho e as lutas sociais que travavam. No novo mo- 
mento da história da humanidade, quando se instaura o capitalismo, as 
30 Fundamentos teóricos e metodológicos do Serviço Social I 
relações se complexificam e são demandadas novas concepções que 
subsidiem a análise dessa questão. 
A partir do século XIX, ocorreram mudanças estruturais no caráter in- 
ternacional e globalizado da economia capitalista. Houve a incorporação 
da divisão internacional do trabalho e a mudança para a fase imperialista 
do capital, o que gerou profundos impactos na produção de riquezas, 
bem como na organização da classe trabalhadora. Nessa fase, a questão 
social continuou a ser produzida e reproduzida (SANTOS, 2015). 
O Brasil entrou tardiamente no modo de produção capitalista e, até 
hoje, convive com formas rudimentares de produção e reprodução so- 
cial. Enquanto o mundo vivenciava a mudança do modo de produção 
feudal para o capitalista, o Brasil estava ainda sendo incorporado ao 
“mundo civilizado”. Ao adentrar o Brasil, o capitalismo encontrou uma 
sociedade fértil para lançar suas bases de expansão e de maximiza- 
ção das estratégias de lucro já no modelo monopolista. Sem tradição 
democrática e marcada por relações sociais e econômicas de explora- 
ção e opressão, a classe trabalhadora brasileira não impôs resistência 
à nova forma de produzir (SANTOS, 2015). A base agrícola e de cultu- 
ra escravocrata da burguesia brasileira (que ainda estava se criando) 
também se adaptou facilmente às diretrizes capitalistas. Dessa forma, 
houve uma “modernização arcaica” da economia e da produção de 
mercadorias no Brasil. 
Em paralelo à formação da burguesia nacional, ocorria o fortaleci- 
mento da classe trabalhadora. Com a transição entre os séculos XIX 
e XX, essa classe começou a ser influenciada pelo movimento anarquis- 
ta e pelo ideário comunista, especialmente com a chegada de trabalha- 
dores imigrantes do continente europeu. Embora houvesse aqui uma 
concepção que reforçava o perfil de um povo “gentil e ordeiro”, diante 
das péssimas condições de trabalho, o movimento trabalhista começou 
a ganhar força no cenário urbano. As greves e ocupações se tornaram 
conhecidas do povo e uma tendência de enfrentamento ao sistema de 
dominação passou a ser forjada em sindicatos e organizações políticas. 
O avanço dos ideários anarquistas e comunistas em países desen- 
volvidos, atrelado ao tom conservador da burguesia e do Estado no 
Brasil, fez com que a questão social fosse reconhecida enquanto “caso 
de polícia”. Assim, os acusados de vadiagem eram destinados ao poder 
Atividade 1 
O que é a questão social? Quais 
são os exemplos de expressões 
dessa questão? 
Serviço Social no Brasil 31 
policial. Então, foi antecipado e garantido um conjunto de leis trabalhis- 
tas e sociais que visavam enfrentar as mazelas sociais. 
No Brasil, o direcionamento populista de organização da sociedade 
se deu por meio de um falso consenso de classes, com alianças entre 
a burguesia e o Estado. Este buscava estabelecer direitos pelo “alto” e, 
assim, desconstruía o protagonismo das classes subalternas (SANTOS, 
2015). Contudo, mesmo durante momentos de dissolução dos direitos 
políticos, os direitos trabalhistas então já criados foram mantidos. Nes- 
sa lógica, foi construído lentamente um conjunto de leis e políticas para 
garantir a efetivação desses direitos. 
Isso tudo estava atrelado a uma organização político-social que 
impunha ao Estado a modernização das condições para a garantia da 
produção capitalista no país. As ações do Estado deveriam, portanto, 
possibilitar a garantia das condições infraestruturais de desenvolvimen- 
to. Entre outras condições basilares demandadas, destaca-se a respon- 
sabilização pelo salário indireto, a ser organizado por meio de políticas 
sociais que possibilitassem a reprodução da classe trabalhadora. 
Percebemos, portanto, que no Brasil o desenvolvimento do capita- 
lismo e o reconhecimento da questão social enquanto conceito atre- 
lado a esse sistema compõem a estrutura básica para manutenção e 
ampliação do próprio capitalismo. 
A intervenção das políticas na questão social surgiu como pro- 
duto do reconhecimento político da classe trabalhadora e re- 
laciona-se ao agravamento de suas condições de vida. Essa 
classe passou a demandar a mediação do Estado em diversas 
expressões da questão social, buscando proteção ou direitos que eram, 
muitas vezes, violados. 
Na atualidade, com a intensificação da contradição capital x traba- 
lho no capitalismo neoliberal 
1 
, é possível identificar o aumento das 
expressões da questão social, configuradas por indicadores existentes 
na sociedade. Nesse contexto, podemos considerar três pontos cen- 
trais: o aumento do desemprego em nível mundial, a falta de postos de 
trabalho e a perda dos vínculos formais. Notamos que há prevalência 
do desenvolvimento econômico em detrimento do social das políticas 
governamentais, tanto nos países centrais como nos periféricos. Isso 
tem levado à “banalização do humano” e à radicalização das necessida- 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 1 
O capitalismo neoliberal defende 
a hegemonia do capitalismo 
financeiro internacional, no qual 
o capital controla a economia. 
Nesse contexto, a interferência 
do Estado no mercado é mínima, 
privatizando as estatais e elimi- 
nando os serviços públicos. 
32 Fundamentos teóricos e metodológicos do Serviço Social I 
des sociais. Tal questão é facilmente perceptível em um país de econo- 
mia frágil como o Brasil. 
Atualmente, vivemos um período de crise na economia brasileira. 
Altos índices de desemprego, subemprego, trabalho desprotegido e 
vínculos fragilizados do trabalhador com omercado de trabalho muda- 
ram a vida social dos brasileiros. A relação do mais forte (proprietário 
dos meios de produção) sobre o mais fraco (dono da força de trabalho) 
produz efeitos concretos na sociedade, os quais podemos ver mate- 
rializados nas expressões da questão social. Dessa forma, o contexto 
político e econômico brasileiro, hoje, limita a manutenção de direitos 
socialmente conquistados e legitimados pela Constituição de 1988, de- 
vido à crise econômica e ao modelo político atualmente adotado. 
Desse modo, a questão social atual diz respeito à ampliação da 
sociedade capitalista. Hoje existe a degradação do trabalho, além da 
perda e do desaparecimento de muitas categorias e postos de em- 
prego. Essa realidade se amplia quando o Estado passa a se retirar do 
campo social com cortes, privatizações e a sistemática regressão dos 
investimentos na efetivação dos direitos sociais. Diante dessas trans- 
formações, o Serviço Social define a questão social como objeto de sua 
intervenção. Vários autores a conceituaram como a manifestação da 
relação de lutas entre o capital e o trabalho. 
Na contemporaneidade, é necessário pensar em formas de enfren- 
tar as multifacetadas expressões da questão social. O enfrentamento 
envolve a atenção às necessidades dos trabalhadores e a afirmação de 
políticas sociais universais. Além disso, passa pela democratização da 
economia, da política e da cultura na construção da esfera pública. 
Por fim, vale lembrar que não podemos desvincular a conceituação 
do seu contexto histórico determinante, pois os conceitos podem ser in- 
terpretados de maneiras diferentes em cada época, obtendo significados 
distintos. É muito importante compreender a totalidade dos fatos que en- 
volvem um tema específico e, no caso da questão social, considerar sua 
historicidade e as contradições inerentes ao processo. 
Serviço Social no Brasil 33 
2 
O milagre econômico é a 
denominação dada à era de 
crescimento econômico excep- 
cional que ocorreu durante o 
regime militar. Naquele período 
de ouro do desenvolvimento 
brasileiro, paradoxalmente, 
houve um aumento na con- 
centração de renda e pobreza; 
ou seja, quanto mais o país 
cresceu, menor foi o alcance 
da classe trabalhadora para o 
crescimento e a modernização. 
 
 Vídeo 
Há alguns anos, as políticas sociais brasileiras caracterizaram-se 
pela pouca resolutividade no que se refere ao social e por uma subor- 
dinação a interesses econômicos. Nesse sentido, destaca-se a incapaci- 
dade de tais políticas de transformar a realidade de 
desigualdade social existente no país. No que se re- 
fere à assistência social, a situação é um pouco mais 
delicada, afinal, em sua origem, a assistência social 
esteve ligada a ações filantrópicas e religiosas. Além 
disso, esteve apoiada no clientelismo e na ideia do 
favor, não sendo considerada um direito, uma políti- 
ca pública (COUTO et al., 2006). 
No Brasil, a crise decorrente do esgotamento do 
milagre econômico 
2 
, no final da década de 1970 e 
no início dos anos 1980, levou o país a uma situação 
socioeconômica favorável aos movimentos da socie- 
dade civil. Segundo Cunha e Cunha (2002, p. 13), 
o processo de redemocratização da socie- 
dade brasileira levou à instalação da Assem- 
bleia Nacional Constituinte e à possibilidade 
de estabelecer outra ordem social em novas 
bases, o que tornou esses movimentos arti- 
culados para tentar registrar na Carta Cons- 
titucional direitos sociais que poderiam ser 
traduzidos como deveres do Estado por meio 
de políticas públicas. 
clientelismo: troca de 
serviços ou bens materiais 
por apoio e/ou favores 
políticos. 
 
 
 
Assim, as décadas de 1980 e 1990 serviram de caminho para uma 
nova configuração do cenário político, econômico e social brasilei- 
ro. Por um lado, foi desenvolvido um processo único de reformas em 
relação à extensão do processo democrático e à organização política 
e jurídica, como a publicação da Constituição Federal em 1988, consi- 
derada por muitos como um guia para a tentativa de estabelecer no- 
vas formas de relações sociais no país (COUTO, 2004). Por outro lado, 
ocorreu um processo de recessões e contradições no setor econômico, 
no qual houve tentativas de reduzir a inflação galopante e retomar o 
crescimento. 
2.3 As políticas sociais e o Serviço Social 
Glossário 
34 Fundamentos teóricos e metodológicos do Serviço Social I 
Artigo 
Acesso em: 5 mar. 2020. 
Ao ler o artigo Política Social e Serviço Social: os desafios da intervenção 
profissional, publicado pelas autoras Regina Mioto e Vera Nogueira na Revista 
Katálysis, em 2013, você poderá aprofundar seus estudos sobre a interven- 
ção profissional junto às políticas públicas sociais, além de compreender a 
importância de um projeto profissional comprometido com a defesa dos 
direitos sociais. 
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-49802013000300005 
A Constituição Federal de 1988 inovou ao tentar romper com a visão 
predominante até então. Para isso, inseriu a assistência social na políti- 
ca da seguridade social, definindo-a como direito de todos os cidadãos 
e dever do Estado. Assim, a assistência social deve ser prestada a quem 
dela necessitar, sem vinculação a qualquer tipo de contribuição prévia. 
Trata-se de um marco histórico que instituiu o início da transformação 
das ações assistencialistas, beneficiou, explicitou e fortaleceu a com- 
preensão de direito e cidadania da assistência social, indicando seu ca- 
ráter como uma política pública de proteção social articulada a outras 
políticas destinadas a garantir direitos e condições dignas de vida. A 
assistência social se tornou universal, mas também seletiva, destinada 
a quem precisa. 
 
2.3.1 Lei Orgânica da Assistência Social (Loas) 
Em 1993, a regulamentação da assistência social foi dada pela Lei 
Orgânica da Assistência Social (Loas), n. 8.742, na qual a proteção so- 
cial foi proposta como um mecanismo contra formas de exclusão, con- 
sequência de certas instabilidades e transformações da vida, como 
velhice, doença, adversidade e privação. Ela também inclui as formas 
seletivas de distribuição e redistribuição de bens materiais (como co- 
mida e dinheiro) e culturais (como conhecimento), que permitem a so- 
brevivência e a integração dos sujeitos na vida social. Dessa forma, a 
assistência social se configura como uma possibilidade de reconheci- 
mento público da legitimidade das demandas de seus usuários. 
A Loas também prevê a criação dos conselhos de assistência social, 
que são instâncias deliberativas e democráticas de igual composição 
que padronizam, acompanham e avaliam a política, a municipalização 
da gestão dos recursos financeiros públicos por meio de fundos de as- 
Serviço Social no Brasil 35 
sistência social, e a reorganização institucional da administração pú- 
blica responsável pela coordenação, articulação e execução da política 
em cada esfera de governo (COSTA, 2005). 
De acordo com Couto et al. (2006), apoiada na Loas, a assistência 
social passou a ser analisada por meio da perspectiva dos direitos, da 
universalização do acesso e da responsabilidade estatal. Esses foram 
os primeiros passos para que fosse considerada uma política pública. 
Marcada, portanto, pelo cunho civilizatório presente na con- 
sagração de direitos sociais, o que vai exigir que as provisões 
assistenciais sejam prioritariamente pensadas no âmbito das ga- 
rantias de cidadania sob vigilância do Estado, a LOAS inovou ao 
apresentar novo desenho institucional para a assistência social, 
ao afirmar seu caráter não contributivo (portanto, não vinculado 
a qualquer tipo de contribuição prévia), ao apontar a necessá- 
ria integração entre o econômico e o social, a centralidade do 
Estado na universalização e garantia de direitos e de acessos a 
serviços sociais e com a participação da população. Inovou tam- 
bém aopropor o controle da sociedade na formulação, gestão e 
execução das políticas assistenciais e indicar caminhos alterna- 
tivos para a instituição de outros parâmetros de negociação de 
interesses e direitos de seus usuários. Parâmetros que trazem a 
marca do debate ampliado e da deliberação pública, ou seja, da 
cidadania e da democracia. (COUTO et al., 2006, p. 34) 
É importante destacar que, no âmbito da política de assistência social, 
a Loas considera a proteção da família um objetivo e a determina como 
um dos focos da política de assistência social. Os efeitos da crise econô- 
mica não possibilitaram reformas institucionais mais amplas nos siste- 
mas de proteção social. Assim, o direito à seguridade social garantido na 
Constituição não foi cumprido em relação à assistência social. 
Como consequência, vimos que o aprofundamento das desigualda- 
des sociais e a exclusão social se constituíram sob novos parâmetros 
de empobrecimento dos trabalhadores e de suas famílias (ALENCAR, 
2008). As medidas adotadas para lidar com essa situação foram priori- 
zar programas assistenciais direcionados, fundos sociais de emergên- 
cia e programas sociais compensatórios paliativos voltados à atenção 
de pobres e vulneráveis. 
O Estado não pode impor à família obrigações que são realmente de 
responsabilidade do poder público. Alencar (2008) ressalta que a famí- 
lia deve ser priorizada em programas sociais que, de certa forma, são 
36 Fundamentos teóricos e metodológicos do Serviço Social I 
mencionados na Constituição Federal (1988), no Estatuto da Criança e 
do Adolescente (ECA), na Loas e, mais recentemente, no Sistema Único 
de Assistência Social (Suas). 
2.3.2 Política Nacional de Assistência Social (PNAS) e 
Sistema Único da Assistência Social (Suas) 
Em 2004, a Política Nacional de Assistência Social (PNAS) foi efetiva- 
mente aprovada. Nela, são materializados os princípios apresentados 
na Constituição Federal e as diretrizes da Loas, ampliando o entendi- 
mento de que a assistência social é uma política social inserida no cam- 
po da proteção social e da seguridade social (COUTO et al., 2006). 
Nesse sentido, a PNAS representa uma nova situação para a política 
brasileira, pois a assistência social passa a “garantir a todos, que dela 
necessitam, e sem contribuição prévia a provisão dessa proteção. Esta 
perspectiva significaria aportar quem, quantos, quais e onde estão os 
brasileiros demandatários de serviços e atenções de assistência social” 
(BRASIL, 2005, p. 15). 
Com base nas deliberações da IV Conferência Nacional de Assistên- 
cia Social, a PNAS foi preparada e aprovada pelo Conselho Nacional 
de Assistência Social (CNAS), em 2004, e instituiu o Sistema Único da 
Assistência Social (Suas) como instrumento de unificação das ações da 
assistência social no contexto nacional, materializando as diretrizes da 
Loas. Em particular, corrobora com o caráter de uma política de ga- 
rantia de direitos públicos universais. Esse novo modelo de gestão das 
políticas de assistência social prioriza a família como foco de atenção e 
o território como base para a organização de ações e serviços em dois 
níveis de atenção: proteção social básica e especial. 
Segundo Cruz, Rodrigues e Battistelli (2018, p. 91), a Proteção Social 
Básica (PSB) visa: 
prevenir situações de risco através do desenvolvimento de poten- 
cialidades e aquisições, e o fortalecimento de vínculos familiares 
e comunitários. Destina-se à população que vive em situação de 
vulnerabilidade social decorrente da pobreza, com precário aces- 
so aos serviços públicos e/ou fragilização de vínculos afetivos. 
Além disso, ela prevê o desenvolvimento de serviços, programas e 
projetos de acolhimento, convivência e socialização de famílias e indiví- 
duos, conforme as situações de vulnerabilidade apresentadas. 
Atividade 2 
Do que se trata a Lei Orgânica da 
Assistência Social (Loas)? Dê um 
exemplo de aplicação dessa lei. 
Serviço Social no Brasil 37 
Atividade 3 
Ainda segundo Cruz, Rodrigues e Battistelli (2018), a Proteção Social 
Especial (PSE) destina-se a famílias e indivíduos em risco pessoal e social 
devido a abuso físico, psicológico e/ou sexual, trabalho infantil, cum- 
primento de medidas socioeducativas etc. As dificuldades no exercício 
das funções de proteção enfraquecem a identidade do grupo familiar e 
tornam seus vínculos simbólicos e emocionais mais vulneráveis. 
Schmidt e Silva (2015) mencionam que a regulamentação da PNAS e 
a consequente implementação do Sistema Único da Assistência Social 
(Suas) são os dois principais marcos para o reconhecimento da assis- 
tência social como política pública de proteção social. Dessa forma, é 
necessária uma intensa articulação com as demais políticas, como as 
de saúde, previdência, educação e habitação. É assim que programas 
efetivos e articulados podem ser implementados. A assistência social 
deve considerar o enfrentamento das desigualdades socioterritoriais, 
buscando assegurar os mínimos sociais e a universalização dos direitos 
sociais (BRASIL, 2005). São seus objetivos: 
• Prover serviços, programas, projetos e benefícios de proteção 
social básica e, ou, especial para famílias, indivíduos e grupos que 
deles necessitarem. 
• Contribuir com a inclusão e a equidade dos usuários e gru- 
pos específicos, ampliando o acesso aos bens e serviços 
socioassistenciais básicos e especiais, em áreas urbana e rural. 
• Assegurar que as ações no âmbito da assistência social tenham 
centralidade na família, e que garantam a convivência familiar e 
comunitária. (BRASIL, 2005, p. 33) 
De acordo com a PNAS, a assistência social, considerada como di- 
reito à proteção social e à seguridade social, tem a perspectiva “de su- 
prir sob dado padrão pré-definido um recebimento e de desenvolver 
capacidades para maior autonomia” (BRASIL, 2005, p. 15-16). Assim, a 
assistência social se mostra favorável ao desenvolvimento e à emanci- 
pação humana e social, afastando-se da perspectiva assistencialista ou 
tuteladora e também se distanciando da função de mera redutora de 
necessidades ou vulnerabilidades sociais. Além disso, a PNAS afirma 
que “o desenvolvimento depende também de capacidade de acesso, 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Qual é o objetivo da assistência 
social, de acordo com a Política 
Nacional de Assistência Social 
(PNAS)? 
vale dizer da redistribuição, ou melhor, distribuição dos acessos a bens 
e recursos, [e] isto implica incremento das capacidades de famílias e 
indivíduos” (BRASIL, 2005, p. 15). 
38 Fundamentos teóricos e metodológicos do Serviço Social I 
Como você pode notar, as legislações citadas defendem a adoção 
da política de assistência social no campo da proteção social. Apesar 
disso, e de todos os avanços obtidos nos últimos tempos nessa área, 
ainda é necessário considerar o quanto a assistência social esbarra em 
limites para a sua consolidação e para assegurar os direitos dos cida- 
dãos. Estão em jogo limites econômicos e interesses políticos contrá- 
rios à consolidação dos princípios propostos na PNAS. Por isso, apesar 
da sua abrangência, as ações continuam focalizadas e seletivas, dire- 
cionadas a grupos específicos da população. Embora haja dificuldades 
que interfiram na operacionalização da PNAS, ela é um dos principais 
elementos que podem permitir ou favorecer a emancipação dos indiví- 
duos e o pleno exercício da sua cidadania. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Com a política de assistência social, veio a conquista do Suas e, portanto, 
a formulação e gestão dessas políticas sociais, a setorização, a intersetoriali- 
dade, a articulação e a integração das políticas sociais e, no centro, a impor- 
tância da matricialidade sociofamiliar como objetivo central dos programas 
sociais. A PNAS, vigente no país desde 2004, estabelece novas bases para o 
direcionamento dessa

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