Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Rodrigo Medina Zagni Estado, Soberania e Poder Nessa unidade, vamos tratar do tema “Estado, soberania e poder”. Na literatura de Ciência Política, encontramos uma tese extremamente otimista e amplamente difundida de que a função do Estado é a de proporcionar o bem comum dos cidadãos que vivem num determinado território, circunscrito a sua autoridade. Também vem sendo objeto dessas adjetivações o principal elemento constitutivo do Estado: o governo. É o governo que dirige o Estado; e há diversas maneiras de dirigi-lo, o que nos permite também relativizar a definição, também fluente em Ciência Política, de que atuaria para proporcionar o bem comum, estabelecendo leis, proferindo sentenças e promovendo sua execução, bem como dirigindo, planificando, legislando, julgando e garantindo sua autodeterminação, defesa de seu território e as relações de paz e econômicas com os Estados circunvizinhos. Ocorre que, desde uma perspectiva histórica, tanto para Estado quanto para Governo, esse objetivo nem sempre se verifica. Isso porque há inúmeros sistemas de governo, sendo assim, de tipos de Estado, na interação entre Estado, soberania e poder. Esta unidade tem como objetivo mapear, na História e na reflexão política, distintas percepções e posturas teóricas sobre diferentes experiências de Estado e sociedade. Atenção Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar as atividades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma. Todo governo é bom? Todo Estado é justo? Toda a lei faz justiça? É possível haver uma lei injusta? Na literatura de Ciência Política, encontramos uma tese extremamente otimista e amplamente difundida de que a função do Estado é a de proporcionar o bem comum dos cidadãos que vivem num determinado território, circunscrito a sua autoridade. Também vem tratado dessa forma o principal elemento constitutivo do Estado: o governo. É o governo que dirige o Estado; e há diversas maneiras de dirigi-lo, o que nos permite também relativizar a definição, também fluente em Ciência Política, de que atuaria para proporcionar o bem comum, estabelecendo leis, proferindo sentenças e promovendo sua execução, bem como dirigindo, planificando, legislando, julgando e garantindo sua autodeterminação, defesa de seu território e as relações de paz e econômicas com os Estados circunvizinhos. Ocorre que, desde uma perspectiva histórica, tanto para Estado quanto para Governo, esse objetivo nem sempre se verifica. Isso porque há inúmeros sistemas de governo, sendo assim, de tipos de Estado, na interação entre Estado, soberania e poder. Sendo assim, é possível haver Estados bons ou ruins, justos ou injustos; bem como os governos, que podem atender a interesses privados, de um indivíduo ou de um grupo específico de interesses, deixando de atender aos interesses de toda a população. Para responder às questões aqui levantadas, esta unidade tem como objetivo mapear, na História e na reflexão política, distintas percepções e posturas teóricas sobre diferentes experiências de Estado e sociedade. Em busca das respostas às perguntas aqui elaboradas, embrenhe-se pelo conteúdo teórico, apresentação narrada e demais materiais dessa unidade, a fim de entendermos as relações entre política e poder em Maquiavel. Contextualização OS SENTIDOS DO ESTADO Quando pensamos nas formas de organização política de uma determinada sociedade (organização das atividades econômicas, dos processos de ocupação do espaço, da definição dos papéis sociais, da delegação de funções e autoridades, da educação dos mais jovens, da segurança do grupo etc.), primordialmente pensamos nessa organização dada no âmbito do Estado. Isso porque o Estado pode ser definido como a instituição máxima de organização política da vida social, caracterizado por uma complexa configuração interna; por bem definidos papéis hierárquicos em torno de um regime de governo; delimitados em termos legais os processos decisórios que levam à ultimação de suas políticas; formas igualmente bem definidas de delimitação da extensão do exercício do poder político do soberano e de mandatários intermediários, bem como do princípio legitimador desse poder político, ou seja, o fator que leva os súditos a obedecer ao soberano. Trata-se do grau mais complexo alcançado por uma sociedade no âmbito de sua organização política. Sublinhe-se que foi escolhido o termo “complexo” e não melhor. Alie-se a isso o fato de ter sido utilizado, no primeiro parágrafo, o termo “primordialmente” ao nos referirmos às sociedades com Estado. Isso porque há sociedades sem Estado, tanto no passado quanto no presente; e mais, não significa que as sociedades com Estado sejam melhores ou “mais evoluídas”; tratam-se, em termos tanto sociológicos como antropológicos, de sociedades distintas. Longe de empreendermos juízos de valor, há que se ressaltar a existência não só de sociedades sem Estado, que organizam seu cotidiano de forma diversa (buscando formas coletivas de decisão e resolução de seus problemas, sem recurso ao uso da força); bem como de consistentes correntes políticas que pregam o fim do Estado e a organização da sociedade de forma distinta ao estabelecimento de qualquer ordenação social pautada na força ou na ameaça do uso da força, desde o Anarquismo, que conta com um denso arcabouço teórico – Joseph Proudhon (1809 - 1865), Mikhail Bakunin (1814 - 1876), Piotr Kropotkin (1842 - 1921), Leon Tolstoi (1828 - 1910), Noam Chomsky (1928 -), dentre outros; até parte de doutrinas comunistas, em especial o chamado “comunismo puro”, Karl Heinrich Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895). Material Teórico Portrait of Russian Novelist Leo Tolstoy An illustration from Le Soleil du Dimanche . IMAGEM: © Chris Hellier/CORBIS NOME DO CRIADOR Chris Hellier DATA DE CRIAÇÃO early 20th century FOTÓGRAFO Chris Hellier COLEÇÃO Corbis Art Isso porque não se entende Estado sem relacioná-lo à autoridade, dado que ordena uma estrutura hierárquica na qual a autoridade, primeiro, deve ser legitimada segundo algum princípio (na monarquia, pela hereditariedade; na tirania, pela força; na república, pela escolha entre cidadãos; nas teocracias, pela religião etc.); mas porque a autoridade só é obedecida se detiver efetivamente o poder, ou parte do poder. Entendemos o poder como a possibilidade de uso legítimo da força para fazer impor sua vontade, persuadir o outro a sua vontade ou mesmo dobrar a vontade do outro. Parece, então, que o ditado popular: “manda quem pode; obedece quem tem juízo”, se refere a um instinto de autopreservação que, diante do exercício do poder, leva o súdito a obedecer à autoridade do soberano. Dessa forma, chegamos à definição de Estado dada pelo sociólogo alemão Max Weber (1864-1920), como a instituição que detém o monopólio do uso legítimo da força, ou da ameaça do uso da força. Pierre Joseph Proudhon Pierre Joseph Proudhon (1809-1865), the French writer and anarchist. IMAGEM: © Hulton-Deutsch Collection/CORBIS DATA DA FOTOGRAFIA Mid-19th century LOCAL France FOTÓGRAFO Nadar COLEÇÃO Historical Russian Anarchist Bakunin Título original: Portrait of the Russian anarchist Mikhail Aleksandrovich Bakunin (1814-1876.) IMAGEM: © Bettmann/CORBIS COLEÇÃO Bettmann Prince Piotr Kropotkin Prince Piotr Kropotkin (1842-1921) the Russian anarchist. IMAGEM: © Hulton-Deutsch Collection/CORBIS DATA DA FOTOGRAFIA early 20th century LOCAL PROBABLY USSR COLEÇÃO Historical MIT Professor, Noam Chomsky Celebrated linguistNoam Chomsky in his office at Massachusetts Institute of Technology (MIT) where he is honorary Professor. An engaged and militant politician, Chomsky is known as the founder of tranformational generative grammar. IMAGEM: © JP Laffont/Sygma/Corbis DATA DA FOTOGRAFIA 20 de maio de 1988 LOCAL Cambridge, Massachusetts, USA FOTÓGRAFO JP Laffont COLEÇÃO Sygma Friedrich Engels and Karl Marx in Office Título original: Illustration fo Karl Marx (seated) and Friedrich Engels, German socialist philosophers and co-authors of the Communist Manifesto. Undated. IMAGEM: © Bettmann/CORBIS DATA DE CRIAÇÃO ca. 1800's COLEÇÃO Bettmann Se pensarmos as leis que organizam os Estados, elas definem não tão somente direitos e deveres, mas fundamentalmente o ônus por sua desobediência, ou seja, as condutas sociais são garantidas não tão somente pela conscientização dos cidadãos sobre os sentidos da aplicação da lei, mesmo porque, lei não é sinônimo de justiça (aquilo que é entendido como justo por um segmento de sociedade pode ser injusto para aquele sobre quem recai seu peso); mas, em essência, porque são indicados os apenamentos que recairão sobre o indivíduo no caso do descumprimento da prescrição legal. Sendo assim, a obediência à lei está pautada, em larga medida, no temor pela aplicabilidade de suas sansões. E, vejamos, todas elas referem-se à força. Isso porque é o Estado que, por meio de seus agentes, cuja atribuição é fazer cumprir a lei, restringe direitos políticos, priva de liberdade, aplica medidas sócio-educativas, executa a pena capital, inflige castigos físicos e uma série de possibilidades de uso legítimo (legitimado pela lei) essencialmente da força. É claro que a extensão disso difere segundo o tipo de Estado, o que passa pela definição do regime e sistema de governo, bem como pela natureza das leis e como elas são aplicadas. Isso para dizer que o apedrejamento de mulheres adúlteras no Irã não é só uma questão cultural, mas também legal; que o estupro, aceito há tempos, hoje é legalizado no âmbito do matrimônio no Afeganistão; que tramita projeto de lei prevendo a condenação de homossexuais à morte em Uganda; que é legal a prática da excisão (a mutilação do clitóris e dos pequenos lábios do órgão sexual feminino) em Djibuti, Etiópia, Somália, Sudão, Egito e Quênia; que o racismo desvelado no sul dos Estados Unidos é produto de séculos de segregação racial que encontrava lugar na própria lei estadunidense; o machismo na sociedade brasileira que já teve lugar no chamado crime de honra, que já foi previsto em códigos penais anteriores; a pena de morte praticada em diversos países hoje no mundo, como em vários Estados nos EUA, e assim por diante. Sendo assim, podemos afirmar que não existe Estado sem autoridade; e tampouco autoridade sem a força! Portanto, detém poder aquele a quem é outorgado o uso legítimo da força: o Estado. 00 x 368 - 46k - jpg nyc.indymedia.org/images/2007/09/91275. jpg Veja abaixo a imagem em: nyc.indymedia.org/es/2007/09/91198.html http://nyc.indymedia.org/es/2007/09/91198.html A DEFINIÇÃO DE ESTADO E DE GOVERNO O Estado é a máxima organização política em um território definido, bem como a instituição jurídica cuja ação é limitada neste mesmo território. Na literatura de Ciência Política, encontramos uma tese extremamente otimista e amplamente difundida de que sua função é a de proporcionar o bem comum dos cidadãos que vivem nestes espaços delimitados. Não só o Estado é objeto desse otimismo, também vem sendo objeto dessas adjetivações seu principal elemento constitutivo: o governo. É o governo que dirige o Estado; e há diversas maneiras de dirigi-lo, o que nos permite também relativizar a definição, também fluente em Ciência Política, de que atua para proporcionar o bem comum, estabelecendo leis, proferindo sentenças e promovendo sua execução, bem como dirigindo, planificando, legislando, julgando e garantindo sua autodeterminação, defesa de seu território e as relações de paz e econômicas com os Estados circunvizinhos. Ocorre que, desde uma perspectiva histórica, tanto para Estado quanto para Governo, esse objetivo nem sempre se verifica. Se tomarmos, por exemplo, dois clássicos da Filosofia Política grega: “A República”, de Platão (?428/427 - ?348/347 a.C.); e “A Política”, de Aristóteles (384-322 a.C.), o que definiria o bom e justo governo seria o benefício do bem público; já o mau governo, teria como objetivo o benefício particular. A questão é que, para ambos os autores portanto, haveria Estados e Governos que não almejavam o bem comum e seguiam sendo, ainda assim, Estados e Governos. E ainda, distintos sistemas de governo poderiam ser tanto justos como injustos; portanto, bons e maus governos não seriam definidos pelo sistema ou regime de governo, mas por sua finalidade. Tobacco Card Illustration of Plato A tobacco card from Ogden's Leaders of Men series. The cards were included in packs of Ogden's cigarettes. IMAGEM: © PoodlesRock/Corbis DATA DE CRIAÇÃO 1923 COLEÇÃO Corbis Art Tobacco Card Illustration of Plato A tobacco card from Ogden's Leaders of Men series. The cards were included in packs of Ogden's cigarettes. IMAGEM: © PoodlesRock/Corbis DATA DE CRIAÇÃO 1923 COLEÇÃO Corbis Art Platão, na obra “A República”, dedicou-se ao exame de quatro tipos de governo, com o objetivo de identificar o mais justo e o menos injusto; cuja prática levaria à felicidade ou à desgraça de si e de sua população. Relacionando a cada um, uma alma correspondente segundo as virtudes do soberano, utilizou a divisão das raças elaborada pelo poeta grego Hesíodo (no fim do século VIII a.C.): ouro, prata, bronze e ferro; distintos materiais humanos e que não deveriam se misturar, sob a pena de ocorrerem, como resultado, a guerra e o ódio. Vejamos a análise elaborada por Platão segundo esses critérios: Tipo de Governo TIMOCRACIA OU TIMARQUIA Tipo de Estado Timocrático Definição e características Forma de governo em que os cargos e honrarias são conferidos aos mais ricos. Governo ambicioso, mistura-se mal e bem; cólera e ousadia, vícios da ambição e da intriga. Como se estabelece Da transição da aristocracia para a timocracia A quem governa Para si e para os mais ricos Tipo de governante Jovem ambicioso; mais contumaz/menos civilizado; pouco talento verbal; duro com os subalternos, obediente com os superiores; conquistará honras não pela eloqüência, mas pelos feitos militares. Alma Intrigante ambiciosa Ruína A riqueza acumulada nos cofres particulares Resultado Injusto Tipo de Governo OLIGARQUIA Tipo de Estado Oligárquico Definição e características Governo de poucos; governo em que a renda determina a condição de poder. Os cidadãos convertem o entesouramento numa paixão desenfreada para sustentar seus gastos, quanto mais aumenta o ouro diminui a virtude. Prezando o Estado pelos ricos, menospreza os virtuosos. Como se estabelece Transição da timarquia para a oligarquia (de cidadãos ambiciosos para interesseiros e avarentos) A quem governa Para o benefício individual e para poucos. Tipo de governante Gravita no meio termo entre a razão e as paixões (não é mau, mas suscetível aos maus), ambicioso e soberbo; não procura se instruir ou educar Alma Oligárquica,extremamente ambiciosa Ruína Nem sempre os mais ricos são os mais capazes. Vício capital: pobres e ricos se destroem mutuamente (guerras internas/despreparo para guerras contra inimigos externos/exércitos oligárquicos); bem como homens bem nascidos e de elevados sentimentos são comumente reduzidos à pobreza pela ambição avarenta alheia. Resultado Injusto Tipo de Governo DEMOCRACIA Tipo de Estado Democrático Definição e características Governo do povo. Toda genteé livre, cada um é senhor de si, logo, não se observa a virtude de cada um e a igualdade é exercida entre os desiguais. Governo suave; belo pela variedade de caracteres que compõem sua sociedade. Entrega da multidão aos prazeres supérfluos e perniciosos. Como se estabelece Transição da oligarquia à democracia: quando os pobres vencem (matam ou expulsam) os ricos e repartem igualmente o poder. A quem governa Aos cidadãos Tipo de governante Não virtuoso (nada garante que seja apto ao governo) Alma Democrática Ruína Desordem (liberdade), libertinagem (fausto), despudor (coragem), depravação, licenciosidade, desfaçatez. Resultado Injusto Tipo de Governo TIRANIA Tipo de Estado Tirânico Definição e características Não procura o consentimento nem a persuasão, mas a opressão e a violência. O povo dá origem aos tiranos (libertadores do povo) e os mantêm, com sua subserviência. Como se estabelece Transição da democracia à tirania: sucede à servidão da liberdade excessiva. A quem governa Pelos seus interesses ou o que ele mesmo entende serem os interesses do povo. Tipo de governante Protetor dos povos que se converte em tirano. Alma Tirânica, corresponde ao mais completo caráter do Homem. Ruína Casos em que tiranos não são sábios e não consultam os sábios Resultado Injusto Ora, se dentre os quatro tipos de Governo e de Estado analisados por Platão todos seriam injustos, como pode ser o Estado definido como a instituição cuja finalidade é a manutenção do bem comum, e o Governo aquele que o viabiliza? Para Platão, havia um Estado ideal; contudo, inexistente, senão em seu “plano ideal”. Trata-se da SOFOCRACIA, o “governo dos sábios”, república bem governada onde tudo deveria ser comum, ou seja, pertencer a todos (mulheres, filhos, educação, exercícios de guerra e paz), cujos líderes seriam consumados na filosofia e na ciência militar e cujas musas orientadoras seriam a dialética e a filosofia; em menor valor a ginástica e a música. Já Aristóteles que, apesar de discípulo, se opôs à concepção platônica de bom governo, analisou na obra “A Política” (fruto de uma pesquisa feita por seu Liceu e que levantou 158 constituições de Cidades-Estado diferentes na Grécia) tanto formas de Governo quanto tipos de Estado, dividindo-os a partir de três categorias fundamentais: TIPO CARACTERÍSTICA Monarq uia Governo de um homem só Aristoc racia Governo de um pequeno grupo Politéia Governo da maioria Para Aristóteles, um governo seria bom quando almejaria o bem comum, e ruim quando almejaria interesses particulares. Mais especificamente no Livro III, empreendeu o estudo dos governos (natureza e características), a partir do exame das boas constituições e das constituições corrompidas. Não se trata da discussão em torno de diferentes formas de governo, mas de relacioná-las a diferentes cidadãos e virtudes, uma vez que a autoridade deveria ser conferida aos mais virtuosos (homens melhores), dotados da habilidade tanto para mandar como para obedecer. Sendo assim, a partir da análise das formas de governo (superiores ou inferiores), Aristóteles chegou à conclusão de que cada boa forma de governo poderia levar a sua versão corrompida, tornando-se mau governo. A partir dessa lógica, identificou aos seguintes tipos de Estado: Tipo viciado de Governo TIRANIA Tipo de Estado Tirânico Definição e características Autoridade de um rei que exerce um poder despótico (despo=medo, ou seja, impondo o medo em seus súditos pela violência). Constitui mal confiar o governo a um único homem e não submetê-lo à lei. Monarquia absoluta Como se estabelece Pela hereditariedade A quem governa Tem por finalidade o interesse do monarca Tipo de governante Monarca com poder absoluto Resultado Mau governo Tipo de Governo REALEZA Tipo de Estado Monárquico Definição e características Autoridade de um rei Como se estabelece Pela hereditariedade A quem governa Tem por finalidade o interesse coletivo Tipo de governante Monarca Resultado Bom governo Percebemos, na análise aristotélica, a identificação de uma consecutividade entre tipos distintos de Estado e de formas de governo: a elevação das virtudes dos cidadãos teria levado a formação da república; quando homens corrompidos passaram a se enriquecer à custa do povo formou-se a oligarquia; pelas revoluções a oligarquia transformou-se em tirania; e a tirania, por pressão do povo submetido, em democracia. Entre bons e maus tipos de Estado, a solução seria, conforme já dito, o soberano saber tanto mandar quanto obedecer, alternadamente, ou seja, independente do bom governo que houvesse, deveria o soberano obedecer a um conjunto de leis. Trata-se do princípio das constituições, que veremos mais adiante. Tipo de Governo ARISTOCRACIA Tipo de Estado Aristocrático Definição e características Governo de um pequeno grupo de homens Como se estabelece Mérito A quem governa Tem por finalidade o interesse coletivo Tipo de governante Um grupo definido pelo mérito reconhecido Resultado bom governo Tipo viciado de Governo OLIGARQUIA Tipo de Estado Oligárquico Definição e características Governo de um pequeno grupo de homens, os mais ricos. Tem como finalidade o acúmulo de poder e fortuna. Como se estabelece Pela riqueza acumulada A quem governa Tem por finalidade o interesse dos ricos Tipo de governante Um grupo definido pela renda Resultado Mau governo Tipo de Governo REPÚBLICA Tipo de Estado Republicano Definição e características Uma multidão governa Como se estabelece Eleições A quem governa Tem por finalidade o interesse coletivo Tipo de governante Um grupo definido por aqueles aptos a votar Resultado Bom governo Tipo viciado de Governo DEMAGOGIA Tipo de Estado Demagogo Definição e características Os pobres governam Poder aos pobres Como se estabelece Eleições A quem governa Tem por finalidade o interesse dos pobres Tipo de governante Definido pela renda Resultado Mau governo A questão central, depois de estudarmos as análises distintas de Platão e Aristóteles, é identificarmos que a definição comumente dada ao Estado como a instituição política cujo objetivo é o bem comum, bem como ao Governo, cuja missão é realizar o bem comum, não só não se sustenta em termos históricos como está gravemente comprometida pela análise dos clássicos do pensamento político. Trata-se de simplismo, reducionismo, ideologismo e de grave desconhecimento da longa e densa discussão teórica dada nos campos da Filosofia e da Ciência Política. Sendo assim, relembremos a visão realista de Max Weber, que define o Estado como a instituição política que detém o monopólio do uso legítimo da força, a partir de onde assenta sua autoridade. ONDE, QUANDO E COMO SE DESENVOLVE O ESTADO? Para investigarmos as origens do Estado, devemos remontar aos seus primórdios: das tribos do período Neolítico (a chamada “Idade da Pedra Polida”, durante a Pré-História, de 8000 a.C. até cerca de 4000 a.C) até as civilizações do Oriente Próximo (Egito e Mesopotâmia). No chamado “Crescente Fértil” (no vale do Nilo e na região entre os rios Tigre e Eufrates), o Estado foi desenvolvido com a finalidade de legitimar a propriedade privada da terra e dos meios de produção (relacionados às práticas agrícolas). Também cumpriu a função de justificar a concentração de poder e dos destinos de toda uma sociedade nas mãos de um único soberano, com base no medo imposto pela religião que, conferindo legitimidade ao exercício do poder político daquele que acumulava as funções de sacerdote, juiz e chefe militar, alicerçava o Estado. Ou seja, noEgito, o soberano, faraó, era visto como um deus; na Mesopotâmia, um representante dos deuses na Terra: tratava-se de Monarquias- Despótico-Religiosas. O Estado se desenvolveu exatamente na passagem de organizações tribais para estruturas sociais mais complexas, com lócus de organização nas primeiras cidades em decorrência do adensamento dos primeiros aglomerados humanos. Sendo assim, o desenvolvimento do Estado está relacionado com o surgimento das primeiras cidades. E como foram criadas as primeiras cidades? Com a Revolução Agrícola (por volta de 3000 a.C.), que consistiu na mudança de práticas agrícolas rudimentares, como a “cultura da enxada”, para processos mais complexos como o desenvolvimento do “arado-de- boi”, foi possível o cultivo agrícola em grande quantidade e em grandes extensões de terra. A Revolução Urbana, ou seja, a consequente formação das primeiras vilas e cidades a partir de grandes aglomerados humanos e da sedentarização de comunidades em torno das práticas agrícolas (grupos que antes eram nômades), é consequência desse processo. A Revolução Agrícola possibilitou um considerável crescimento populacional, o que por sua vez trouxe incontáveis problemas. As terras antes férteis e abundantes passaram a ser escassas com a crescente ocupação humana. No caso específico do Egito, as regiões cultiváveis eram aquelas que margeavam o Rio Nilo onde, periodicamente, após as cheias, era depositado naturalmente em suas margens um limo fertilizante que proporcionava fartas colheitas; contudo, suas cheias inconstantes eram mais um problema a ser resolvido junto da escassez de terras cultiváveis, decorrentes do aumento populacional, do que a dádiva descrita pelo historiador grego Heródoto (séc. V a.C.), em sua obra “Histórias”. Para solucionar estes problemas, os egípcios viram-se obrigados a se organizar na construção de canais de irrigação, represas, diques e outros meios que pudessem, além de conter suas cheias inconstantes, tornar férteis terras não abastadas pelas águas. Foram ainda erigidas obras de drenagem de pântanos e de regiões inundadas após as cheias. Com a mobilização de grande parte da população nos trabalhos de construção dos canais de irrigação e de drenagem, o restante que permanecia no cultivo da terra e no pastoreio viu-se obrigado a produzir excedentes a fim de alimentar aqueles que se afastavam da atividade de produção de alimentos. As obras exigiam trabalho coletivo e os resultados foram grandes áreas férteis que demandaram, por sua vez, um grande número de camponeses para cultivá-las. Herodotus Reading His History to the Assembled Greeks Illustration Herodotus, Greek historian from the fifth century B.C., who produced the earliest examples of narrative history, an account of the Greco-Persian Wars. Book illustration by Heinrich Leutemann, ca. 1885. IMAGEM: © Bettmann/CORBIS COLEÇÃO Bettmann Art As principais sociedades do Oriente Próximo - Egito e Mesopotâmia -, se desenvolveram a partir desses aglomerados que se conformaram não só a partir das práticas agrícolas; mas em torno dessas trabalhosas obras hidráulicas. A organização dos trabalhos nas obras hidráulicas serviu desenvolvimento do Estado, do que decorreu a divisão do trabalho social e a apropriação privada dos meios de produção. Já a Mesopotâmia teve sua estrutura política originada em tribos que, após a revolução urbana, transformaram-se em cidades independentes, cada qual um Estado. Cada uma dessas Cidades-Estado tinha seu governante, chamado de Patesi e que representava o deus local - também de origem totêmica -, acumulando as funções de chefe militar e de sumo-sacerdote. O governo de cada Cidade-Estado era composto pelo Patesi (posteriormente Lugal ou Rei) e um corpo de sacerdotes. Tudo era propriedade do deus local, sendo seus bens “administrados” pelos sacerdotes. A falta de unidade política das Cidades-Estado e a disputa por novas terras cultiváveis deu origem a diversos conflitos entre elas. Agrava o contexto o fato de o território mesopotâmico, ao contrário do egípcio, ser mais vulnerável às invasões estrangeiras, que permearam toda sua história. No Egito, verifica-se o modo de produção designado, na tradição marxista, como “modo de produção asiático”, também chamado de “servidão coletiva”. Trata-se da economia de produção agrícola por parte de uma força de trabalho servil (dominada) com a apropriação de excedentes por parte de classes sociais dominantes, baseada em um complexo sistema de trocas entre os grandes proprietários autosuficientes e o Estado, que dirigia a economia controlando a produção de forma centralizada e intervencionista. Da mesma forma, na Mesopotâmia desenvolveu-se uma economia agrária e o modo de produção predominante foi o asiático, decorrente da produção de excedentes em virtude das grandes obras hidráulicas de drenagem dos rios Tigre e Eufrates. Se a Mesopotâmia não podia contemplar a unidade política de suas Cidades-Estado, estava mais próxima da unidade econômica. O surgimento das primeiras cidades, conclusivamente, se deve não à dádiva senão às adversidades do Nilo, Tigre e Eufrates, da inventabilidade do Homem em transpor as dificuldades do meio e à apropriação privada dos meios de produção, o que fez surgir, junto das cidades, a divisão da sociedade em classes (proprietários dos meios de produção e proprietários apenas de sua força de trabalho), e o Estado, na tradição marxista a instituição cuja finalidade seria a de perpetuar essas relações. O ESTADO MODERNO E O PODER As sucessivas transformações pelas quais passaram distintas sociedades humanas, desde grupos tribais até sociedades complexas e dotadas de sua organização em torno do Estado, fez com que distintos sistemas de governo caracterizassem distintos tipos de Estado. Ocorre que, da forma como concebemos o Estado hoje, suas raízes remontam ao período moderno, ou seja, aquele conhecido como de formação dos Estados Modernos, os quais ganham a forma de Estados Nacionais. Os Estados Modernos são estruturados após o declínio do feudalismo da Europa, que regeu as relações sociais durante a Baixa Idade Média (a partir do séc. IX) e foi marcado pela descentralização política, dada a autonomia dos feudos e seus senhores feudais em relação a um poder político central (compensado pela presença da autoridade da Igreja, que conformava uma unidade espiritual para a Europa Ocidental), por uma economia de subsistência e pelos laços de dependência que marcavam as relações sociais entre suseranos (nobres) e vassalos (seus súditos). Os Estados Modernos advêm, como dissemos, do declínio desse modelo de organização social e resulta, segundo Karl Marx, do Renascimento Urbano do séc. XI e do processo de cercamento das propriedades feudais, decorrente da crise que depois do séc. XIV determinou o declínio do feudalismo. Assim sendo, resulta do deslocamento populacional do campo em direção das cidades, bem como do deslocamento de atividades rurais (agrícolas) para atividades comerciais (urbanas). O regime de governo desses Estados Modernos foi a monarquia, numa forma em que o poder político do soberano era absoluto, ou seja, nada limitava o seu poder, motivo pelo qual foi designada como Monarquia Absolutista. Verifica-se esse modelo, na Europa, do séc. XV ao XVII, no processo de transição do feudalismo para o capitalismo. 280 x 390 - 35k - jpg - blog- pfm.imf.org/.../2008/12/20/ma x_weber_2.jpg Veja a imagem em: blog- pfm.imf.org/.../12/in-his-essay- on.html 280 x 390 - 35k - jpg - blog- pfm.imf.org/.../2008/12/20/max_weber_2.jpg Veja a imagem em: blog- pfm.imf.org/.../12/in-his-essay-on.html http://blog-pfm.imf.org/.m/pfmblog/2008/12/in-his-essay-on.html http://blog-pfm.imf.org/.m/pfmblog/2008/12/in-his-essay-on.html http://blog-pfm.imf.org/.m/pfmblog/2008/12/in-his-essay-on.htmlhttp://blog-pfm.imf.org/.m/pfmblog/2008/12/in-his-essay-on.html http://blog-pfm.imf.org/.m/pfmblog/2008/12/in-his-essay-on.html Todo o poder político estava, nesse modelo, centralizado nas mãos do rei que, agora sob o cristianismo, seguia tendo o exercício de seu poder político legitimado, além do sangue (uma vez que a transmissão de poder, nas monarquias, se dá pela hereditariedade), pela religião, haja visto a existência de teorias que defendiam o direito divino dos reis, como a do jurista francês Jean Bodin (1530-1596), no livro “Os seis livros sobre a República”; e do bispo e teólogo francês Jacques-Bénigne Bossuet (1627-1704), especificamente na obra “Política Segundo a Sagrada Escritura”, na qual afirmava que a Monarquia teria origem divina, cabendo aos homens aceitar todas as decisões do soberano, uma vez que se não agissem dessa forma não seriam inimigos apenas do Estado; mas também de Deus. ESTADO, TIPOS DE DOMINAÇÃO E CONTROLE NA TEORIA WEBERIANA A obra de Max Weber, das mais significativas não só na Sociologia, mas cujos pressupostos teóricos servem sobremaneira à Ciência Política, é dotada de extrema complexidade e profundidade, no esforço compreensivo sobre fenômenos históricos e sociais. A parte da teoria de Weber que serve ao estudo do Estado, parte de seu princípio fundamental: o objeto da investigação sociológica deve ser a ação social típica. Para definir essa ação social, Weber partiu da ação humana como conduta pública ou não, que recebe um significado subjetivo por parte de seu agente, para então identificar tipos de ação social, segundo distintos elementos polarizadores: Tipos de Ação Social: Elemento Polarizador: Racional por valor valor Racional por fim finalidade Tradicional tradição Afetiva sentimento 280 x 390 - 35k - jpg - blog- pfm.imf.org/.../2008/12/20/m ax_weber_2.jpg Veja a imagem em: blog- pfm.imf.org/.../12/in-his- essay-on.html http://blog-pfm.imf.org/.m/pfmblog/2008/12/in-his-essay-on.html http://blog-pfm.imf.org/.m/pfmblog/2008/12/in-his-essay-on.html http://blog-pfm.imf.org/.m/pfmblog/2008/12/in-his-essay-on.html Por sua vez, esses tipos de ação social se dariam na interação circunscrita a uma estrutura social, esta nos limites de três dimensões que as constituem: Classe, Estado, e Direito. Segundo sua definição: ESTRUTURA SOCIAL Cl asse Parte da divisão do trabalho social Est ado Detém o uso legítimo da força em determinado território Dir eito Ordem e dispositivos de coerção As bases do Direito que organiza a sociedade, por sua vez, seriam compostas por três itens: carisma, costume e lei. A partir de todos esses componentes, identificando tipos de ação social circunscritas às estruturas mencionadas, Weber pôde determinar distintos tipos de sociedade de acordo com distintos tipos de controle político, o que nos permite identificar distintos tipos de Estado e de exercício de soberania, conforme o quadro abaixo: TIPOS DE SOCIEDADE / TIPOS DE CONTROLE Tipos de sociedade Base do direito Contr ole / tipos Manifestações de controle Sobrenat ural Mágico -religioso Caris ma Poderes mágicos, sacerdotes e profetas Relativa mente racionalizadas Tradici onal Costu me Poderes patrimoniais Racionali zadas Burocr ático Lei Poderes secularizados, exercidos pela burocracia e com base nas leis ESTADO DE NATUREZA E ESTADO DE SOCIEDADE: A FORMA HOBBESIANA, A FORMA ROUSSEAUNIANA E A FORMA KANTIANA Já vimos que a vida em sociedade é eminentemente política; vimos também que a tendência dos grupos sociais é a institucionalização de suas relações, bem como a criação de normas legais para garantir o melhor convívio, chegando ao seu grau organizacional máximo na forma do Estado. Sendo assim, em termos políticos, a tendência geral é que instituições como o Estado assumam a tarefa da gestão da vida em sociedade, em seus mais variados aspectos. Dentre tantas possibilidades de atuação das instituições políticas (não apenas o Estado, mas qualquer instituição cujo objetivo seja ordenar o melhor convívio entre indivíduos, seja uma associação de moradores de bairro, seja um condomínio), vamos nos ater aqui à mediação de conflitos. Obviamente, estamos tratando de conflitos entre indivíduos; mas, antes de qualquer coisa: por que conflitos ocorrem? O filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679) defendeu a ideia de que em “estado de natureza”, ou seja, sem instituições com poder legal para normatizar a conduta dos indivíduos, os homens seriam egoístas. Isso porque estariam sempre competindo entre si por bens escassos, para sua sobrevivência. Nesse estado de natureza os homens não cooperariam, eles competiriam: essa seria a natureza dos conflitos, numa espécie de “guerra de todos contra todos”. Para Hobbes, seria necessário um “estado de sociedade” que obrigasse os homens a cooperar, que cooptasse sua obediência pelo uso ou ameaça do uso da força. O Estado e suas leis, para Hobbes, cumpririam essa tarefa: manter o súdito subserviente, completamente obediente, por meio da força. 280 x 390 - 35k - jpg - blog- pfm.imf.org/.../2008/12/20/max_ weber_2.jpg Veja a imagem em: blog- pfm.imf.org/.../12/in-his-essay- on.html http://blog-pfm.imf.org/.m/pfmblog/2008/12/in-his-essay-on.html http://blog-pfm.imf.org/.m/pfmblog/2008/12/in-his-essay-on.html http://blog-pfm.imf.org/.m/pfmblog/2008/12/in-his-essay-on.html Esse Estado não seria ilegítimo, mas produto do pacto feito entre os cidadãos que decidiriam entregar sua liberdade ao Estado, em nome do convívio social harmônico, garantido por esse Estado. Já para o filósofo alemão Immanuel Kant (1724- 1804) haveria uma lógica para a ocorrência dos conflitos entre indivíduos nas relações sociais. Segundo Kant, todos nós, assim como os animais, possuímos um domínio, ou seja, um lugar no espaço com o qual nos relacionamos e, interagindo, construímos nossa identidade (Kant era também geógrafo, por isso a ênfase no papel do espaço para a exitência social). Mas o que ocorreria quando um indivíduo adentrasse o domínio do outro? O indivíduo pode repelir o visitante se este interferir em seu domínio, desencadeando o conflito; ou o visitante pode agredir o outro em seu próprio domínio, caso queira tomar para si o domínio que é do outro. Contudo, caso o visitante se mantivesse pacífico, demonstrando que não representaria ameaça alguma, não haveria como hostilizá-lo, cessando a possibilidade de conflito. Para Hobbes, os homens competem por “bens escassos em natureza”, nessa perspectiva, passemos a compreender o “domínio” de que dizia Kant como um bem escasso. Ocorre que Kant discordava de Hobbes, pois, para ele, mesmo que o espaço fosse limitado, os indivíduos poderiam e deveriam se comportar pacificamente, com o objetivo de alcançar a paz no convívio social, o que Kant chamou de “hospitalidade universal”. Para isso, essa hospitalidade deveria ser disseminada como valor. Contudo, a possibilidade de conflito tornaria a existir na possibilidade de aquele que invade o domínio do outro não desejar cooperar, ou daquele que tem seu domínio invadido desejar repelir, sempre à força, o visitante. Em ambos os casos, teríamos uma violação do direito ao domínio, resultando sempre em conflito. 280 x 390 - 35k - jpg - blog- pfm.imf.org/.../2008/12/20/max_ weber_2.jpg Veja a imagem em: blog- pfm.imf.org/.../12/in-his-essay- on.html http://blog-pfm.imf.org/.m/pfmblog/2008/12/in-his-essay-on.html http://blog-pfm.imf.org/.m/pfmblog/2008/12/in-his-essay-on.html http://blog-pfm.imf.org/.m/pfmblog/2008/12/in-his-essay-on.html Para Kant, os Estados desejosos em cooperar seriam os liberais, portadores dos valores de “hospitalidade universal”; aqueles que gerariam os conflitos seriam os autocráticos,inospitaleiros. A solução seria transformar todos os Estados em liberais, o que cessaria os conflitos. No âmbito do indivíduo, bastaria que tivessem também valores liberais. Para o filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau (1712 - 1778), o Homem seria naturalmente bom (discordando gravemente de Hobbes). A sociabilização, quando realizada para garantir os interesses de apenas uma pequena parcela da sociedade em detrimento de todo o resto, é que seria a culpada pela "degeneração" do indivíduo. Uma instituição política egoísta e autoritária, que governasse com o exclusivo uso da força (como queria Hobbes), é que tornaria o Homem egoísta e estabeleceria o conflito entre os indivíduos. O PACTO PELO ESTADO Em seu estado natural, para Hobbes, a vida humana seria solitária, miserável, desprezível e bestial, sendo o Homem inclinado naturalmente ao conflito. Ocorre que, para sobreviver, seria necessário então escapar da guerra de todos contra todos. Com base nessa necessidade é que os homens se uniriam em torno de um contrato para criar uma sociedade civil. Dessa forma, os indivíduos delegariam a um soberano todos os direitos para protegê- los contra a violência de si mesmos. Jean-Jacques Rousseau, French Philosopher IMAGEM: © Leonard de Selva/CORBIS DATA DA FOTOGRAFIA ca. 1980-1996 FOTÓGRAFO Leonard de Selva COLEÇÃO Corbis Art A obediência plena ao Estado, que teria por incumbência manter a ordem, garantiria a ordem. Ora, só se obedece a quem se teme, e só se teme aquele que pode usar a força. Por isso o Estado de Hobbes é o “Leviatã”, monstro aquático representado pela primeira vez na Bíblia, no Livro de Jó, cap. 40 e 41 (é associado à Tiamat, ser mitológico descrito como serpente marinha, na Babilônia). A paz, para Hobbes, entendida como ausência de conflito, deveria ser mantida pelo recurso à força ou a ameaça do uso da força. Já a paz kantiana deveria estar alicerçada nos valores republicanos liberais, ou seja, teria a forma de um Estado liberal: a igualdade entre seus cidadãos, a representatividade política e a separação dos poderes (entre Legislativo – que cria as leis; Executivo – que executa as leis; e Judiciário – que julga o descumprimento às leis). A saída de Kant para uma paz perpétua seria a garantia institucional de que cada membro de uma determinada unidade política/social tivesse equidade de direitos em relação aos demais; e por fim o livre câmbio, garantido por lei, de benefícios e ideias entre os confederados. Essas seriam as tarefas do Estado liberal. Em contrapartida ao convívio pacífico praticado por aqueles que defendessem os valores liberais democráticos, haveria atores autoritários que estariam inclinados à guerra. Para isso, deveria haver uma autoridade institucional que inibisse a ação de atores autoritários (egoístas) para a manutenção da paz. Essa autoridade institucional deveria promover a cooperação entre os Estados, ao mesmo tempo evitando a ascensão “predatória” de um ator sobre os demais. Advém daí o princípio kantiano de “segurança coletiva”, que pressupõe a criação de instrumentos para evitar agressões ou intervir em favor dos atores agredidos, caso uma violência já tivesse sido perpetrada por atores autoritários, em defesa dos valores liberais. Já para Rousseau, seria preciso um estado de sociedade que garantisse a continuidade da cooperação entre os homens, esta que já existiria em estado de natureza, para que os conflitos deixassem de existir. Como chegar a esse Estado ideal? Rousseau nos respondeu: por meio do “contrato social”, o arranjo institucional que seria operado para a proteção dos direitos naturais do Homem (à vida, à dignidade, à liberdade etc.). O contrato social deveria partir da vontade coletiva em todas as esferas da sociedade: no Estado, no governo, na economia, delimitando o espaço e as formas de ação individual. Rousseau vislumbrava também a possibilidade de esse acordo não ser aceito por todos, mas ainda assim seria legítimo por tratar-se da vontade expressa da maioria dos cidadãos, portanto deveria ser executado pelos representantes que estivessem governando, por coerção (em relação aos desobedientes) ou por consentimento (para os que pactuaram). Trata-se do Estado rousseauniano. Com isso, a possibilidade de conflito não se daria mais entre os homens, mas entre os Estados, pois o contrato diluiria os conflitos internos às sociedades, passando a haver apenas atritos de ordem estatal ou governamental. A questão do domínio, que aparecia em Kant como possível geradora de conflitos (quando um ator invadisse o domínio de outro), reaparece em Rousseau na defesa que fez da propriedade, que se constituiria enquanto direito a partir do momento em que o “primeiro” homem considerou ser aquele domínio seu. Para dirimir conflitos, o contrato social também teria como tarefa legitimar a posse desse domínio, para que não ocorressem disputas e conflitos sociais, garantindo o usofruto privado da terra. O privado assume em Rousseau a figura do bem comum; e o uso do patrimônio pelo bem comum é o que deve prevalecer. O contrato social seria então o acordo entre indivíduos para se criar uma Sociedade. Não se trata da criação do Leviatã (o Estado para Hobbes), mas um pacto de associação, não de submissão, que levasse a um Estado justo. Para Hobbes, Kant e Rousseau, ainda que de distintas formas, a gestão da vida social e a mediação para a resolução de conflitos deveriam ser realizadas por uma instituição, portadora tanto de autoridade quanto de legitimidade, ou seja, na forma do Estado. Mas de onde vem sua legitimidade? 280 x 390 - 35k - jpg - blog- pfm.imf.org/.../2008/12/20/max_weber_2.jpg Veja a imagem em: blog-pfm.imf.org/.../12/in-his- essay-on.html http://blog-pfm.imf.org/.m/pfmblog/2008/12/in-his-essay-on.html http://blog-pfm.imf.org/.m/pfmblog/2008/12/in-his-essay-on.html Aqui, Hobbes e Rousseau concordaram que sua legitimidade estaria alicerçada no pacto, ou seja, no contrato que os súditos realizariam para o estabelecimento de uma autoridade, que lhes garantiria o exercício de direitos e mediasse/resolvesse conflitos. E de onde vem sua autoridade? Aqui os autores divergiram! Hobbes defendeu que seria pelo uso da força ou pela ameaça de seu uso. Rousseau atribuiu essa autoridade ao próprio poder do povo, que o transferiria ao Estado, sendo ele representante de sua vontade. Kant relacionou a autoridade do Estado também ao uso da força, mas para lidar apenas com aqueles que conscientemente tivessem optado por não cooperar e que, invariavelmente, são aqueles que desencadeariam conflitos. De qualquer forma, a via da mediação e da dissolução de conflitos, para esses autores, é a via institucional, ou seja, ganha forma no Estado. A criação de instituições que representem a vontade de seus conscritos, por meio do pacto – o Estado -; a possibilidade de representatividade para que se possa participar das dinâmicas do Estado e garantir que ele represente de fato a vontade expressa de todos (ou de uma maioria); a criação de normas legais e burocráticas para organizar o bom convívio no interesse de todos; e a autoridade para fazer cumprir as normas legais: configuram a saída política estatal para os conflitos em sociedade. Ainda sobre o tema “Estado, soberania e poder”, indico os textos abaixo, a título de leitura complementar: ANDERSON, Perry. Linhagens do estado absolutista. São Paulo: Brasiliense, 2004. BAKUNIN, M. Deus e o Estado. São Paulo: Cortez, 1988. HOBBES. Leviatã ou matéria, forma e poder de um Estado eclesiástico e civil. São Paulo: Martin Claret, 2007. KANT, I. A paz perpétua e outros opúsculos. Lisboa: 70, 1995. MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. São Paulo: Hemus, s/d. MARX, K. Manifesto do Partido Comunista. 7. ed. Petrópolis: Vozes, 1997. MONTESQUIEU, C. S. B. O Espírito das Leis. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000. MORE, Thomas. Utopia. São Paulo: Martin Claret, 2000. ROUSSEAU, J. O Contrato Social: Texto Integral. São Paulo: Martins Fontes, 1999. WEBER, M. Ciência e Política: Duas vocações. São Paulo: Cultrix, 1996. Indico ainda os filmes: Trono de sangue; dir.: Akira Kurosawa; drama, Japão, 1957. A fortaleza escondida; dir.: Akira Kurosawa; drama, Japão, 1958. Guerra e paz; dir.: King Vidor; drama, EUA, 1956. 1984; dir.: Michael Radford; drama, Inglaterra, 1984. A rainha Margot; dir.: Patrice Chéreau; drama, França, 1994. O Herói; dir.: Zhang Yimou; drama, EUA, 2002. O clã das adagas voadoras; dir.: Zhang Yimou; drama, China, 2004. V de vingança; dir.: James McTeigue; drama, EUA, 2006. Material Complementar ANDERSON, Perry. Linhagens do estado absolutista. São Paulo: Brasiliense, 2004. BAKUNIN, M. Deus e o Estado. São Paulo: Cortez, 1988. BOBBIO, N. Teoria Geral da Política: A Filosofia Política e as Lições dos Clássicos. Rio de Janeiro: Campus, 2000. __________; MATTEUCCI, N. Dicionário de Política. Brasília: Unb, 2007. DUVERGER, M. Ciência Política: Teoria e Método. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1981. HOBBES. Leviatã ou matéria, forma e poder de um Estado eclesiástico e civil. São Paulo: Martin Claret, 2007 KANT, I. A paz perpétua e outros opúsculos. Lisboa: 70, 1995. MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. São Paulo: Hemus, 1977. __________. Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio. São Paulo: Imprensa Oficial, 2000. MARX, K. Manifesto do Partido Comunista. 7. ed. Petrópolis: Vozes, 1997 MONTESQUIEU, C. S. B. O Espírito das Leis. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000. MORE, Thomas. Utopia. São Paulo: Martin Claret, 2000. ROUSSEAU, J. O Contrato Social: Texto Integral. São Paulo: Martins Fontes, 1999 WEBER, M. Ciência e Política: Duas vocações. São Paulo: Cultrix, 1996. Referências _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ Anotações
Compartilhar