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Direito Internacional W B A 0 5 3 2 _ V 1. 1 2/198 Direito Internacional Autoria: Ana Claudia Moreira Miguel Philippini Como citar este documento: PHILIPPINI, Ana Claudia Moreira Miguel. Direito Internacional. Valinhos: 2017. Sumário Apresentação da Disciplina 03 Unidade 1: Noções de Direito e Ordenamento Jurídico no Brasil 05 Unidade 2: Direito Internacional Público 29 Unidade 3: Sujeito de Direito Internacional Público: Estados 52 Unidade 4: Sujeito de Direito Internacional Público: Organizações Internacionais 75 2/198 Unidade 5: Solução de Controvérsias Internacionais 98 Unidade 6: Direito Internacional Humanitário e Direito Internacional dos Direitos Humanos 119 Unidade 7: Direito da Integração e Direito Comunitário 142 Unidade 8: Blocos Regionais Asiáticos 165 3/198 Apresentação da Disciplina Cada vez mais a sociedade exige de seus profissionais conhecimentos que ultrapas- sam as fronteiras de seu Estado, fruto da globalização e da rapidez do acesso à in- formação. Assim, torna-se obrigatório para quem quer se destacar no mercado profis- sional adquirir os conhecimentos básicos sobre as normas e as instituições jurídicas internacionais. Este é, portanto, o objetivo da disciplina “Direito Internacional”: apre- sentar as diretrizes fundamentais do sis- tema internacional, de modo a fornecer os elementos de análise e compreensão que possibilitem o entendimento dos problemas de repercussão internacional, em conformi- dade com o ordenamento jurídico nacional e internacional. Esta disciplina o levará a pensar além de seu próprio país. Para tanto, é primordial que você, inicialmente, entenda o que é o direito e como ele se estabelece, quer interna quer externamente. Faz-se necessário, ainda, compreender o significado de Estado e que somente ele pode estabelecer as normas ju- rídicas nacionais e, em conjunto com outros Estados, as normas internacionais. Embora o direito seja um só, ele é dividido em ramos para facilitar seu estudo. Ao siste- ma de normas jurídicas que regulam as rela- ções entre Estados, dá-se o nome de Direito Internacional. Portanto, além das noções de direito e do ordenamento jurídico brasileiro, serão abordadas as normas e princípios que regem o direito no plano internacional. 4/198 Como consequência, é necessário delimitar quem possui capacidade para cumprir os direitos e deveres no plano internacional, ou seja, quem são os sujeitos de direito in- ternacional suscetíveis a essas normas im- perativas. Esta disciplina também foi estruturada para que você entenda as diferenças entre as normas elaboradas para o tempo de paz e para o tempo de conflitos armados, bem como quais são seus meios de solução de controvérsias internacionais. Para finalizar, serão apresentadas as bases do direito comunitário e de integração e do direito internacional econômico, primor- diais para o comércio exterior. Espero contribuir para que esta disciplina amplie sua visão de mundo, de maneira a expandir seus horizontes e para que você se torne um profissional globalizado e atento às novas exigências do mercado nacional e internacional. 5/198 Unidade 1 Noções de Direito e Ordenamento Jurídico no Brasil Objetivos 1. Apresentar as diversas formas de pen- sar o direito; 2. Definir as características básicas da norma jurídica e seu sistema hierár- quico; 3. Identificar as características e ele- mentos fundamentais do Estado. Unidade 1 • Noções de Direito e Ordenamento Jurídico no Brasil6/198 Introdução A noção de direito, ou seja, de como a so- ciedade é regida e moldada remonta à anti- guidade. Não se trata de um conceito único, mas de tentativas de se estabelecer as ba- ses de uma sociedade bem ordenada, com estruturas política e econômica que podem ser encontradas desde a filosofia política da antiga Grécia até os dias atuais, formando uma extensa e profunda gama de conceitos. Importante observar que a palavra direito sempre apareceu atrelada à palavra justiça, em que pese o fato de serem conceitos dife- rentes. Por conseguinte, todas as tentativas de se elaborar um conceito preciso do que é o direito foram desenvolvidas de acordo com a concepção de justiça em cada época da história. Destas diversas formas de se pensar o direito advêm as normas jurídicas. Assim, confor- me a sociedade se desenvolve, surge a ne- cessidade de regular as condutas por meio de regras, sempre em conformidade com o que se entende por direito em cada época específica. Este sistema normativo deve ser reestruturado de forma que uma norma se coadune com a outra, para não criar con- tradições sobre qual norma deve ser segui- da ou não. Além disso, há de se ter em men- te que é o Estado que tem o poder de dizer o que é o direito, de modo que o seu sistema jurídico interno é elaborado de acordo com os interesses de cada Governo. Por conseguinte, este tema é destinado a apresentar as noções básicas de direito e do ordenamento jurídico brasileiro. Unidade 1 • Noções de Direito e Ordenamento Jurídico no Brasil7/198 1. Direito: noções introdutórias A primeira formulação do conceito de di- reito surgiu com Platão e foi desenvolvida com base na problemática do conhecimen- to e dos fundamentos morais. Para Platão (2000), o direito tem como fundamento a justiça que, por sua vez, baseia-se na ideia de bem social. No entanto, o filósofo conce- bia o termo justiça como sinônimo do que interessa ao Estado perfeito, ou seja, aquele Estado capaz de impor seus interesses com uma divisão de classes e de um governo de classes. Consequentemente, ao direito cumpre o papel de fazer a justiça de acordo com cada grupo social. Discípulo de Platão, Aristóteles também concebeu o direito com base na ideia de justiça. Para Aristóteles (1999) havia a ne- cessidade de regras institucionalizadas e estáveis que guiassem sua prática. As leis deveriam surgir como fundamento da justi- ça democrática, isto é, a justiça como últi- mo objetivo do direito. Inspirado nos ensinamentos de Aristóte- les, tem-se a corrente filosófica do estoi- cismo, cujos expoentes foram Cícero, Séne- ca e Marco Aurélio. Segundo Valery (2011), no estoicismo o direito também é baseado na justiça, que é tomada como modelo da ordem cósmica, considerando esta ordem como a estrutura ordenada do universo. Por conseguinte, como a natureza é harmonio- sa, ela serve de modelo para a conduta hu- mana. Unidade 1 • Noções de Direito e Ordenamento Jurídico no Brasil8/198 Com o início da Idade Média, a ideia de di- reito e justiça passou a ser influenciada pela religião. O marco deste pensamento medie- val foi Santo Agostinho (1961), que trouxe os conceitos de justiça divina e de direito baseados na adequação da conduta huma- na com a vontade de Deus. Sua premissa foi aperfeiçoada por Santo Tomas de Aquino (1980) que, por sua vez, também se inspi- rou em Aristóteles e na teoria estoica, para compreender a lei da natureza como ordem de Deus e que se encontra presente na ra- zão humana. Com o fim da Idade Média e início do perí- odo denominado Renascimento, o direito volta a ter como base as exigências huma- nas. O ponto de partida deste novo pensa- mento surge com Grocio (1925) ao retirar o aspecto religioso do direito para criar o di- reito natural. Agora é a autoconsciência do individuo que resulta a lei e não o contrário. Todas as teorias criadas a partir de Grocio empregam o seu conceito de direito natural e tentam, de alguma forma, aperfeiçoá-la. Para saber mais As teorias que aparecem a partir da premissa de direito natural de Grócio são denominadas contratualistas. Entre os teóricos destacam-se Hobbes (1979), Locke (2004) e Rousseau (2004). Estas teorias são importantes para entender o porquê de o povo entregar ao Estado o poder de dizer o que é o direito e de impor a ele as suas regras. Unidade 1 • Noções de Direito e Ordenamento Jurídico no Brasil9/198 Surge, a partir de então, a noção de direito baseado em princípios(direito natural) e de direito que resulta da vontade do legislador (direito positivo). Com Kelsen (1987) tem início a sustentação de validade do direito fundado na norma ju- rídica positiva e na separação dos conceitos de direito e justiça, uma vez que, para ele, o direito não necessita respeitar a moral para ser definido e aceito como direito, posto que sua natureza não requer nada além do seu valor jurídico, que pode ser traduzido pela sua validade formal. Muda-se, portanto, o foco do direito, sepa- rado de qualquer teoria metafísica, natu- ralista, sociológica ou histórica. O enfoque passa a ser normativo, ou seja, de norma posta, positiva, tratada como Positivismo Jurídico. 2. Normas jurídicas A influência de Kelsen (1987) no Positivismo Jurídico é enorme. Na realidade, ele estabe- leceu uma vertente peculiar do Positivismo científico do século XIX ao tentar compreen- der o direito como uma ciência autônoma. Para tanto, Kelsen (1987) examinou a parte interna da norma jurídica, abstraindo dela todas as circunstâncias externas. Assim, sem os valores subjetivos de justiça, políti- ca, ética, religião, entre outros, encontrou o direito como valor objetivo e como ciência pura. Em outras palavras, ele pegou o que se considerava como direito e retirou dele Unidade 1 • Noções de Direito e Ordenamento Jurídico no Brasil10/198 todos os conceitos que poderiam ser altera- dos conforme os valores da sociedade. Sem os valores políticos, econômicos, sociais, históricos, e outros, encontrou o que cha- mou de norma pura. No entanto, sem os valores subjetivos, a norma criada pelo direito como ciência tor- nou-se um verdadeiro “dever-ser jurídico”, diferentemente daquela do mundo real e dos fatos, ou seja, do “ser jurídico”. Isto por- que a norma em seu sentido puro pode ge- rar discrepâncias com a realidade, como, por exemplo, pode ser considerada por uma determinada sociedade como injusta, já que o conceito de justiça deixou de fazer parte do direito como ciência. Para solucionar os problemas criados pela norma pura, Kelsen (1987) sugeriu que fos- se criada uma norma hipotética fundamen- tal como pressuposto para todas as normas. Assim, cada Estado elege uma norma fun- damental para servir de pressuposto de va- lidade para as demais normas. São os Esta- dos, portanto, que dão o respaldo à norma estabelecida e que constroem suas regras de acordo com seus interesses. Deste modo fica mais fácil você entender o motivo do direito no Brasil ser diferente do direito em outros lugares do mundo. Na Arábia Saudita, por exemplo, as mulheres não podem dirigir, praticar esportes, viaja- rem sozinhas, enquanto no Brasil elas pos- suem os mesmos direitos que os homens. Isto ocorre devido às diferenças culturais de cada país e o que cada um estabeleceu como norma fundamental. Unidade 1 • Noções de Direito e Ordenamento Jurídico no Brasil11/198 No Brasil é a Constituição Federal que serve de pressuposto para as demais normas jurí- dicas. É ela que traça os parâmetros a serem seguidos e diz o que o Brasil quer ou não em seu ordenamento jurídico. Isto ocorre por- que é ela que estrutura a sociedade e o Es- tado brasileiro com suas regras. A atual Constituição brasileira foi pro- mulgada no ano de 1988 e reflete os ideais do Brasil naquela época. Por este motivo é Link Artigo científico que tem como objetivo demons- trar as diferenças culturais entre Brasil e Arábia Saudita e como essas diferenças podem influen- ciar as negociações internacionais Diferenças Culturais e Negociações Internacio- nais: Brasil e Arábia Saudita. Disponível em: AR- VATI, Mariana Carolina. Diferenças Culturais e Negociações Internacionais: Brasil e Arábia Sau- dita. 2007. Disponível em: <http://www.uni- mep.br/rni/n9/RNI9_art03.pdf>. Acesso em: 23 jul. 2017. Para saber mais A palavra constituição vem do verbo constituir, que significa estruturar o Estado mediante regras. Lenza (2016) explica, no entanto, que existem vá- rias formas de definir o termo, como o sentido so- ciológico de Ferdinande Lassale, o político de Carl Schmitt e o que trato neste tema, que é o sentido jurídico de Hans Kelsen. http://www.unimep.br/rni/n9/RNI9_art03.pdf http://www.unimep.br/rni/n9/RNI9_art03.pdf Unidade 1 • Noções de Direito e Ordenamento Jurídico no Brasil12/198 denominada de Constituição Cidadã, por marcar o fim de um período caracterizado por restrições de direitos e contemplar uma nova época de amplitude destes direitos. É ela que constitui e estrutura o Brasil como Estado e é por meio do seu estudo que se entende o que o país quer como norma jurí- dica. Todas as demais espécies normativas, isto é, leis (ordinária, complementar, dele- gada), medida provisória, decretos legisla- tivos e resoluções devem respeitar os parâ- metros traçados pela Constituição sob pena de serem consideradas inconstitucionais. Trata-se da hierarquia constitucional frente às demais normas. Deste modo, assim como o Brasil, os outros Estados elegem uma norma para servir de parâmetro para as demais e estruturar hie- Para saber mais O ramo do direito que expõe, interpreta e siste- matiza os princípios e normas fundamentais do Estado é o Direito Constitucional. Link Constituição Federal de 1988. Disponível em: BRASIL. Constituição (1988). Constituição Fede- ral. Disponível em: <http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/constituicao/constituicaocom- pilado.htm>. Acesso em: 23 jul. 2017. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm Unidade 1 • Noções de Direito e Ordenamento Jurídico no Brasil13/198 rarquicamente seu ordenamento jurídico de acordo com o seu interesse. Consequentemente, de nada adianta saber que é o Estado que dá o respaldo à norma jurídica se não forem identificados os ele- mentos e características do que é o Estado propriamente dito. 3. Estado Em termos simples, Estado pode ser com- preendido como a ordem política da socie- dade. Entretanto, nem sempre possuiu esta denominação ou encobriu esta realidade. A concepção moderna de Estado teve início somente com Maquiavel (1997), que abor- dou na obra O Príncipe a maneira pela qual o soberano deve se comportar para manter seu reino. Bonavides (2000) afirma, no entanto, que o conceito de Estado varia conforme o en- foque dado pelos pesquisadores, como, por exemplo, dando realce ao seu lado filosófico ou ao seu lado jurídico. Por conseguinte, uma das maneiras de se pensar o Estado é por meio de sua formação jurídica, cujo enfoque desconsidera o seu aspecto sociológico para se focar em seus elementos característicos. O primeiro elemento do Estado é o elemen- to humano, ou seja, o povo, entendido como o conjunto de pessoas que mantêm um vín- culo jurídico-político com o Estado, pelo qual se tornam parte integrante deste. O segundo elemento é o físico, isto é, o ter- ritório, que nada mais é do que o espaço em Unidade 1 • Noções de Direito e Ordenamento Jurídico no Brasil14/198 que o Estado exerce sua soberania. O território abrange, além do espaço delimitado entre as fronteiras do Estado, o mar territorial, a plataforma continental, o espaço aéreo, navios e aero- naves civis em alto-mar ou sobrevoando espaço aéreo internacional e navios e aeronaves milita- res onde quer que estejam. Link Espaço marítimo brasileiro. BRASIL. Lei Nº 8.617. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/cci- vil_03/leis/L8617.htm>. Acesso em: 23 jul. 2017. Espaço aéreo brasileiro. BRASIL. Lei N 7565. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ leis/L7565.htm>. Acesso em: 23 jul. 2017. Território brasileiro por extensão, artigo 5º, parágrafo 1º e 2º do Código Penal. BRASIL. Decreto-lei no 2.848. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado. htm>. Acesso em: 23 jul. 2017.http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8617.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8617.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7565.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7565.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm Unidade 1 • Noções de Direito e Ordenamento Jurídico no Brasil15/198 Por fim, o último elemento é o formal, ou seja, o poder, também denominado gover- no que, por sua vez, pode ter relação com a força ou com a competência. É por meio do poder que se tomam decisões em nome da coletividade e que se exerce a chamada so- berania. A soberania apresenta duas faces. No pla- no interno, por existir um sistema vertical de poder, soberania significa o poder que o Estado tem de dizer o direito e de impor suas regras sobre o seu território e povo. Em contrapartida, no plano externo, o sistema é horizontal, de modo que a sua manifes- tação independe do poder de um Estado perante o outro, uma vez que, no sistema internacional, todos os Estados são iguais (BONAVIDES, 2000). O Estado pode ser organizado e estruturado sob três aspectos. O primeiro diz respeito ao modo como o poder é dividido territo- rialmente, ou seja, sua forma de Estado. Se o Estado representa um todo unitário e ho- mogêneo, ele é chamado Estado Unitário; se, no entanto, há uma divisão interna de poder, ele é chamado de Composto. Entre as espécies de Estado Composto, destaca-se o Estado Federado, que significa uma aliança de Estados para a formação de um Estado único, em que as unidades federativas pre- servam autonomia política, enquanto o Es- tado Federal é soberano. A segunda refere-se à maneira como o po- der é instituído, isto é, a Forma de Gover- no. Ele se divide em República e Monarquia, sendo o primeiro caracterizado pela eletivi- Unidade 1 • Noções de Direito e Ordenamento Jurídico no Brasil16/198 dade, temporariedade dos membros do Po- der Legislativo e Executivo e um regime de responsabilidade das pessoas que ocupam cargos públicos e, o segundo pela vitalicie- dade, hereditariedade e irresponsabilidade (política) do Chefe de Estado. Por fim, há ainda o aspecto do grau de re- lacionamento entre os poderes, denomina- do Sistema de Governo. Este pode ser pre- sidencialista ou parlamentarista. No Presi- dencialismo, as funções de Chefe de Estado e Chefe de Governo são exercidas pela mes- ma pessoa, enquanto no parlamentarismo são exercidas por pessoas diferentes (SILVA, 2016). Para saber mais O Brasil adota a forma Federativa de Estado, a forma Republicana de Governo, o sistema Presi- dencialista de Governo, em conformidade com o artigo 1º da Constituição Federal. Unidade 1 • Noções de Direito e Ordenamento Jurídico no Brasil17/198 Glossário Espécies normativas: estão previstas no artigo 59 da Constituição Federal. Mar territorial: compreende a faixa de doze milhas marítimas de largura, medidas a partir da linha de baixa-mar do litoral continental e insular. Plataforma continental: compreende o leito e o subsolo das áreas submarinas que se estendem até uma distância de duzentas milhas marítimas das linhas de base. Questão reflexão ? para 18/198 Conforme você viu, o conceito de direito não se confun- de com o conceito de justiça. Com base nisso, reflita se conhece alguma norma que não seja justa ou que sugira alguma forma de injustiça. 19/198 Considerações Finais • O direito é uma construção social, de modo que seu conceito variou confor- me o desenvolvimento da humanidade. • As normas jurídicas são elaboradas de acordo com o interesse de cada Esta- do, que, por sua vez, escolhe uma norma para servir de parâmetro às demais. • No Brasil, é a Constituição Federal que serve de pressuposto para as demais normas, sendo, portanto, hierarquicamente superior. • O Estado possui três elementos constitutivos: povo, território e poder, sen- do a soberania a capacidade de internamente submeter a todos que nele se encontrem e externamente de se relacionar igualmente com outros Esta- dos. Unidade 1 • Noções de Direito e Ordenamento Jurídico no Brasil20/198 Referências AGOSTINHO, Aurélio. Cidade de Deus. São Paulo: das Américas, 1961. AQUINO, Tomás. Suma teológica. Porto Alegre: Sulina, 1980. ARISTÓTELES. Política. In: Os pensadores. v. 1. São Paulo: Nova Cultural, 1999. BONAVIDES, Paulo. Ciência política. 10ª ed. São Paulo: Malheiros, 2000. GROCIO, Hugo. Del derecho de la guerra y de la paz. Madri: Madri Editorial, 1925. HOBBES, Thomas. Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979. KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. São Paulo: Martins Fontes, 1987. LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 20ª ed. São Paulo: Saraiva, 2016. LOCKE, John. Segundo tratado sobre o governo civil. 4ª ed. Petrópolis: Vozes, 2004. MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997. PLATÃO. A república. 3ª ed. Belém: EDUFPA, 2000. ROUSSEAU, Jean-Jacques. O contrato social e outros escritos. São Paulo: Cultrix, 2004. SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 39ª ed. São Paulo: Saraiva, 2016. Unidade 1 • Noções de Direito e Ordenamento Jurídico no Brasil21/198 VALERY, Françoise Dominique. Influência do estoicismo sobre Marco, Túlio, Cícero e o pensamen- to jurídico romano. Revista de Filosofia do Direito, do Estado e da Sociedade. Natal, UFRN, v. 2, n. 2, 2011, 73-92. 22/198 1. Sobre o conceito de direito, assinale a alternativa correta. a) Possui um conceito único estabelecido na antiguidade. b) Não se confunde com o conceito de justiça. c) Foi fixado por Hans Kelsen. d) É aquele decorrente da natureza humana. e) É aquele decorrente da vontade do legislador. Questão 1 23/198 2. A norma jurídica em seu sentido positivo deve ser: a) Objetiva. b) Subjetiva. c) Justa. d) Política. e) Social. Questão 2 24/198 3. Quem dá respaldo à elaboração de uma norma jurídica? a) Poder Legislativo. b) Poder Executivo. c) Poder Judiciário. d) Estado. e) Povo. Questão 3 25/198 4. Assinale a alternativa que contém todos os elementos constitutivos do Es- tado. a) Território, poder e soberania. b) Povo, território e nação. c) Nação, língua comum e povo. d) Povo, poder e território. e) Povo, constituição e território. Questão 4 26/198 5. Assinale a alternativa que apresenta respectivamente uma forma de Es- tado, uma forma de Governo e um sistema de governo. a) Estado Federado, República, Parlamentarismo. b) República, Monarquia e Parlamentarismo. c) Estado Unitário, Estado Composto, Federação. d) Presidencialismo, República, Estado Unitário. e) Monarquia, Presidencialismo, República. Questão 5 27/198 Gabarito 1. Resposta: B. Direito não se confunde com justiça, pois justiça é um conceito subjetivo enquanto o direito deve ser sempre objetivo. Além dis- so, o conceito de direito é fruto de uma evo- lução social, ele não é único e não foi esta- belecido por uma só pessoa. Pode ser como direito natural aquele decorrente de princí- pios e positivo, aquele fruto da vontade do legislador. 2. Resposta: A. A norma jurídica deve ser desprovida de qualquer valor ou circunstância externa, sendo, portanto, objetiva. 3. Resposta: D. Embora o poder emane do povo e seus re- presentantes (Poder Executivo, Legislativo e Judiciário) exerçam este poder, é o Estado que estabelece suas regras em conformi- dade com a sua vontade. É ele que possui o monopólio legítimo do poder. 4. Resposta: D. O Estado é composto de um elemento hu- mano: povo; um elemento físico: território; e um elemento formal: poder. Nação, lín- gua e constituição não são elementos do Estado. 28/198 Gabarito 5. Resposta: A. Forma de Estado: Unitário e Composto (Fe- deral); Forma de governo: República e Mo- narquia; Sistema de Governo: Presidencia- lismo e parlamentarismo. 29/198 Unidade 2 Direito Internacional Público Objetivos 1. Identificar o caráter jurídicodo Direito Internacional; 2. Descrever as diferenças entre as nor- mas internacionais e as normas inter- nas; 3. Apresentar as fontes de Direito Inter- nacional Público. Unidade 2 • Direito Internacional Público30/198 Introdução O direito internacional é um dos ramos do direito que mais tem se desenvolvido, isto em decorrência da globalização, que pos- sibilitou maior interação entre os diversos Estados e a circulação entre seus povos. A interação mundial foi fruto de um proces- so que envolveu o avanço das tecnologias e dos meios de comunicação. Mas isto nem sempre foi assim. Deste modo é preciso pensar no mundo sem rádio, te- lefone, televisão ou internet para entender a formação desta disciplina. Se você parar para pensar e fizer uma análise histórica po- derá entender como as normas adquiriram caráter internacional. Na antiguidade, por exemplo, os povos pos- suíam graus diferentes de civilização, de maneira que cada continente ou região for- mava um mundo separado, com regras dis- tintas. Por conseguinte, a partir do momen- to em que esses diferentes povos passaram a estabelecer contato, o relacionamento entre eles adquiria cunho internacional (PHILIPPINI, 2017). Do contato inicial entre estes povos, feito principalmente por meio de guerras, até a formação de um sistema jurídico de direi- to internacional, é possível vislumbrar seu marco inicial: o Tratado de Westphalia, cuja importância se deve ao fato de ser o primei- ro ajuste a adotar o conceito de soberania sistematizado por Bodin (1986). A partir de então, foi consagrado o princípio da soberania interna e criado um sistema internacional de poder. Assim sendo, o se- gundo tema de leitura é destinado a apre- Unidade 2 • Direito Internacional Público31/198 sentar as peculiaridades do seu caráter jurídico, as diferenças entre o sistema interno e interna- cional, bem como as fontes deste direito. 1. Caráter jurídico do direito internacional público Considerando que o direito nada mais é do que a manifestação da vida social por condicionar e modificar a sociedade, bem como o fato de que a cada tipo de sociedade corresponde um deter- minado sistema jurídico, é possível visualizar o direito internacional como aquele direito destina- do a regular a sociedade como um todo, ou seja, a sociedade internacional. Para Mello (2004, p. 56): existe uma sociedade internacional porque existem relações contínuas entre as diversas coletividades, que são formadas por homens que apre- sentam como característica a sociabilidade, que também se manifesta no mundo internacional. A sociabilidade não existe apenas dentro das fron- teiras de um Estado, mas ultrapassa tais limites. Unidade 2 • Direito Internacional Público32/198 Destarte, o direito internacional público pode ser conceituado como “o conjunto de princípios e regras, de natureza jurídica, que disciplina os membros da sociedade internacional, ao agirem numa posição ju- rídico-pública, no âmbito das suas relações internacionais” (GOUVEIA, 2005, p.14). A norma internacional encontra fundamen- to em seu caráter cogente, isto é, na ideia de que esta norma é obrigatória e, como tal, deve ser respeitada e aceita pela comunida- de internacional. Para Accioly, Silva e Casella (2009), expli- car o porquê de sua obrigatoriedade é um problema complexo por envolver convic- ções filosóficas baseadas em premissas. Em termos simples, essas premissas podem ser reunidas basicamente em duas correntes: voluntarista e objetivista. A corrente voluntarista baseia-se, em sín- tese, na ideia de vontade coletiva dos Esta- dos e no consentimento mútuo destes. Por outro lado a corrente objetivista pressupõe a existência de uma norma ou princípio aci- ma do Estado. Para saber mais Fazem parte da concepção voluntarista as teorias da autolimitação, da vontade coletiva, do consenti- mento das nações e da delegação do direito inter- no. Fazem parte da concepção objetivista as teorias dos direitos fundamentais, da norma-base, do pacta sunt servanda, sociológica, dos modernos doutrina- dores italianos e do direito natural. Cada qual busca explicar o motivo de o Estado concordar em acatar estas normas ou de esta existir (Mello, 2004). Unidade 2 • Direito Internacional Público33/198 A despeito de todas as teorias elaboradas, nenhuma delas é insuscetível a críticas. No entanto, independentemente da corrente adotada, o caráter cogente da norma sem- pre existirá, variando, no entanto, sua fun- damentação, ou seja, o porquê de ser obri- gatória. É preciso entender a diferença entre o direi- to internacional público e o privado. Con- forme dito no tema anterior, o direito é um só, porém, para facilitar o estudo, ele é divi- dido em ramos. Entre esses ramos, há a pos- sibilidade de se dar ênfase ao sujeito deste direito (critério subjetivo). Deste modo, se o Estado ocupa o papel principal, sendo, por- tanto, parte, este direito é chamado público. Em contrapartida, se o Estado ocupa papel secundário, sendo os particulares as partes envolvidas, este direito é tido como privado. Explicando melhor: quando as normas são aplicáveis nas relações entre os Estados, este direito é denominado internacional público. Mas se as normas são utilizadas nas relações entre particulares, com interesse em mais de um Estado, há a incidência do direito internacional privado. Portanto, no direito internacional público as relações or- bitam entre os Estados, enquanto no direito internacional privado as relações orbitam entre particulares, isto é, entes privados, jurisdicionados ou se públicos, que figurem na qualidade de um ente particular. Assim, quando há alguma divergência entre Estados, como no caso de desavença com relação às fronteiras, conflitos armados in- ternacionais, problemas diplomáticos, en- tre outros, aplicam-se as regras de direito Unidade 2 • Direito Internacional Público34/198 internacional público. Por outro lado, quando se trata de inventário de alguém que possuía bens em vários Estados ou divórcio de pessoas de Estados diferentes ou com bens em países diferen- tes, incidem as normas de direito internacional privado. 2. Direito Internacional Público e Direito Interno Diferente do que ocorre no âmbito interno, no plano internacional não há hierarquia de nor- mas. Deste modo, existe um sistema de coordenação e não de subordinação que faz com que sua estrutura de normas seja horizontal e não vertical, como ocorre no direito interno. É preciso entender, ainda, que enquanto no plano interno as normas são elaboradas pelos representantes Link Neste link você encontrará um artigo científico sobre Direito Internacional Privado para aprofundar seu conhecimento. VIEGAS, Vera Lúcia. Direito Internacional Privado: Conceito, fundamento e finalidade do DIP. Revista de Informação Legislativa: Conceito, fundamento e finalidade do DIP, Brasília, v. 37, p.35- 40, Não é um mês valido! 2000. Trimestral. Disponível em: <http://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstre- am/handle/id/552/r145-04.pdf?sequence=4>. Acesso em: 28 jul. 2017. http://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/552/r145-04.pdf?sequence=4 http://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/552/r145-04.pdf?sequence=4 Unidade 2 • Direito Internacional Público35/198 do povo e impostas a eles, no direito internacional as regras são elaboradas pelos Estados que consentem com sua obrigatoriedade. Observe as figuras que caracterizam o poder no direito interno e internacional: Fig. 01: Plano interno Fonte: Elaborado pela autora. Fig. 02: Plano internacional Fonte: Elaborado pela autora. Unidade 2 • Direito Internacional Público36/198 Isto ocorre porque o sistema internacio- nal envolve vários Estados diferentes com sistemas próprios. Juridicamente falando, nenhum Estado se sobrepõe ao outro, visto que todos são soberanos e iguais indepen- dentemente do seu tamanho ou de sua im- portância internacional (política, econômi- ca, diplomática, militar, entre outros).Como consequência desta soberania, de- nominada externa, advém o fato de que não há ninguém acima dos Estados. Assim sen- do, pode-se afirmar que o sistema interna- cional é anárquico por não existir uma auto- ridade superior aos Estados, o que significa que, em termos de poder, o Direito Interna- cional é descentralizado, diferentemente do interno, que é centralizado, uma vez que as decisões são emanadas por um único ente. Além disso, no direito interno são consi- derados sujeitos de direito, ou seja, titula- res de direitos e deveres as pessoas físicas, também denominadas naturais, e as pesso- as jurídicas. Já no direito internacional são considerados sujeitos de direitos os Estados e as organizações internacionais (REZEK, 1998). Entender os planos interno e externo sepa- radamente não é uma tarefa difícil. O pro- blema ocorre quando há um conflito entre Para saber mais Isso não ocorre do ponto de vista político, pelo qual os Estados são tomados de acordo com o seu poder, quer de coerção quer diplomático. Unidade 2 • Direito Internacional Público37/198 a norma internacional e a norma nacional. Qual você acha que deve prevalecer? A resposta é: depende da teoria adotada pelo Estado, isto é, se monista ou dualista. Segundo Campos e Távora (2012) a teoria dualista prega que o direito interno e in- ternacional são rigorosamente distintos e independentes, de modo a não existir in- tersecção e comunicação entre eles. Desta forma, para que a norma internacional te- nha eficácia no plano interno, é preciso uma lei nacional (dualismo radial) ou a análise do Poder Legislativo com o referendo do Exe- cutivo (dualismo moderado). A teoria mo- nista, por sua vez, defende a unicidade entre os ordenamentos jurídicos internos e exter- nos. Entre os monistas, há aqueles que de- fendem a primazia do direito internacional sob o interno (monistas internacionalistas) e aqueles que sustentam o primado do di- reito nacional sob o internacional (monistas nacionalistas). O Brasil adota a teoria dualista (moderado) com contornos especiais. Segundo Mazzuoli (2004), a norma internacional entra em vi- gor no Brasil após um ato de internalização, isto é, da edição de um decreto ou regula- mento executivo contendo tal norma após sua aprovação pelo Poder Legislativo nacio- nal (Congresso Nacional). Embora ingresse no ordenamento pátrio por decreto, a norma internacional é equi- parada hierarquicamente a uma lei comum, tecnicamente chamada de lei ordinária, sal- Unidade 2 • Direito Internacional Público38/198 vo nos casos de normas internacionais que tratem de direitos humanos, visto que estas possuem patamar hierárquico de norma constitucional, em conformidade com o estabelecido no artigo 5º, parágrafo 3º da Constituição Federal de 1988. 3. Fontes de Direito Internacional No que tange aos fundamentos formais da existência do direito internacional, esses são encon- trados em tratados internacionais acordados entre os Estados, nos costumes internacionais, nos princípios gerais do direito e, excepcionalmente, na jurisprudência internacional. Isto ocorre porque a noção de fundamentação encontra-se ligada à de fonte (ACCIOLY; SILVA; CASELLA, Para saber mais “Art. 5º, § 3º, da CF/88: Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprova- dos, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos mem- bros, serão equivalentes às emendas constitucionais”. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 23 jul. 2017. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm Unidade 2 • Direito Internacional Público39/198 2009), entendendo-se esta como os fatos de que resultam as normas jurídicas. As fontes de direito internacional foram sis- tematizadas pelo artigo 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça, que integra a Carta da Organização das Nações Unidas (ONU, 1945). A primeira fonte formal é o tratado multi- lateral, assim entendido como “todo acordo formal constituído entre sujeitos de direito internacional público, e destinado a produ- zir efeitos” (REZEK, 1998, p. 14). Trata-se de um acordo resultante da con- vergência de vontades, no qual dois ou mais sujeitos de direito internacional estipulam direitos e obrigações, pouco importando a terminologia utilizada: convenção, acordo, ajuste, ata, carta, compromisso, contrato, declaração, estatuto, pacto, protocolo, reg- ulamento, tratado, entre outros. As convenções estabelecidas entre os Esta- dos geram obrigação na esfera internacio- nal e necessitam ser cumpridos, sendo que com o desenvolvimento das sociedades e a intensificação das relações internacionais, os tratados assumiram função semelhante às exercidas pelas leis e contratos no direito interno dos Estados (MAZZUOLLI, 2004). Link ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Carta da Onu. Disponível em: <http://unicrio.org.br/ img/CartadaONU_VersoInternet.pdf>. Aces- so em: 28 jul. 2017 http://unicrio.org.br/img/CartadaONU_VersoInternet.pdf http://unicrio.org.br/img/CartadaONU_VersoInternet.pdf Unidade 2 • Direito Internacional Público40/198 O costume é a segunda fonte formal de di- reito internacional (ONU, 1945). Trata-se da prática reiterada pelos Estados, cuja repetição gera a convicção de que se repro- duz com a consciência de que é obrigatório (REZEK, 1998). A terceira fonte de direito são os princípios gerais de direito reconhecidos pelas nações civilizadas (ONU, 1945). Esses princípios são aqueles reconhecidos pela aceitação generalizada de, pelo menos, um grupo ex- pressivo de Estados, de modo a permitir que se infira sua aplicação pela sociedade inter- nacional como um todo. A última fonte de direito internacional é a doutrina e a jurisprudência internacionais (ONU, 1945), que são os meios auxiliares para a determinação das regras de direito, de modo a atuar como meios auxiliares para o manejo das fontes formais de direito in- ternacional, com os quais se buscará me- lhor identificar e interpretar os comandos nelas expressos. Para saber mais A menção “nações civilizadas” no dispositivo le- gal “não teve substrato discriminatório ou pre- conceituoso, tal como ficou desde logo esclareci- do. A ideia é a de que onde existe ordem jurídica – da qual se possam depreender princípios -, existe civilização” (REZEK, 1998, p. 137). Unidade 2 • Direito Internacional Público41/198 Importante consignar que não há hierarquia entre as fontes, de maneira que um tratado não se sobrepõe ao costume nem este aos demais. Unidade 2 • Direito Internacional Público42/198 Glossário Tratado de Westphalia: também denominado Tratado de Münster e Osnabrück, o qual encerrou a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) e reconheceu oficialmente as Províncias Unidas e a Con- federação Suíça. Cogente: obrigatório, imprescindível. Organização das Nações Unidas: é uma organização internacional formada por 193 (cento e noventa e três) Estados com o papel de manter a paz e a segurança internacional. Questão reflexão ? para 43/198 Você já parou para pensar que cada dia que passa mais pessoas querem fazer justiça com as próprias mãos? Talvez por não acre- ditarem no sistema normativo ou no sistema administrativo ou, ainda, no sistema judiciário. Assim, este sistema interno que de- veria ser de imposição da norma (vertical) passa a não funcionar adequadamente por criar uma espécie de anarquia interna. O sistema internacional é anárquico, mas o interno não. Com base nisso, reflita sobre esta falta de “Estado” e as ações de “justiça”, como linchamentos, depredações, imposição da vontade que ocorrem diariamente em nosso país. 44/198 Considerações Finais • O direito internacional é o sistema de regras e princípio que disciplinaa so- ciedade internacional no âmbito das relações externas. • O direito internacional divide-se em público e privado, sendo o primeiro aplicado nas relações em que o Estado é parte e o segundo nas relações entre entes privados, jurisdicionados ou, se públicos, que figurem na quali- dade de um ente particular. • Ao contrário do que ocorre no âmbito interno, no plano internacional não existe autoridade superior aos Estados, sendo, portanto, anárquico. • São fontes de direito internacional: tratados internacionais acordados en- tre os Estados, nos costumes internacionais, nos princípios gerais do direi- to e, excepcionalmente, na jurisprudência internacional. Unidade 2 • Direito Internacional Público45/198 Referências ACCIOLY, H.; SILVA, G. E. N.; CASELLA, P. B. Manual de direito internacional público. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. BODIN, Jean. Les six livres de la republique. v. 1. Paris, Fayard, 1986. CAMPOS, Diego Araújo; távora, Fabiano. Direito internacional: público, jurídico e comercial. v. 33. São Paulo: Saraiva, 2012. GOUVEIA, Jorge Bacelar. Manual de direito internacional público. Rio de Janeiro: Renovar, 2005. MAZZUOLLI, Valério de Oliveira. Direito internacional público. 2ª ed. São Paulo: dos Tribunais, 2004. MELLO, Celso Duvivier de Albuquerque. Curso de direito internacional público. 15. ed. rev. e amp. Rio de Janeiro: Renovar, 2004. ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Carta das Nações Unidas. 1945. Disponível em: <http:// unicrio.org.br/img/CartadaONU_VersoInternet.pdf>. Acesso em: 12 nov. 2009. PHILIPPINI, Ana Claudia Moreira Miguel. Poder aéreo nas operações de paz: regra de direito in- ternacional. Curitiba: Prismas, 2017. REZEK, José Francisco. Direito internacional público: curso elementar. 7ª ed. rev. São Paulo: Saraiva, 1998. http://unicrio.org.br/img/CartadaONU_VersoInternet.pdf http://unicrio.org.br/img/CartadaONU_VersoInternet.pdf 46/198 1. Sobre o desenvolvimento do direito internacional: a) Teve início no século XX com a globalização. b) Surgiu na Grécia antiga. c) É fruto de um processo histórico. d) Decorreu da natureza humana de viver em comunidade. e) Surgiu após a Segunda Guerra Mundial com a ONU. Questão 1 47/198 2. Quais são as duas teorias que buscam explicar a obrigatoriedade do direi- to internacional? Questão 2 a) Objetivista e subjetivista. b) Subjetivista e Voluntarista. c) Coercitivista e Voluntarista. d) Positivista e Objetivista. e) Voluntarista e Objetivista. 48/198 3. Assinale a alternativa que completa as lacunas do texto: O direito interna- cional ___________ tem como sujeito de direito os Estados e as organiza- ções internacionais enquanto o direito ______________ são sujeitos de direitos as pessoas físicas e jurídicas. Questão 3 a) Privado, interno. b) Público, privado. c) Público, interno. d) Privado, público. e) Privado, interno. 49/198 4. Assinale a alternativa que contém uma fonte de direito internacional. Questão 4 a) Constituição Federal. b) Leis ordinárias. c) Decretos. d) Costumes. e) Resoluções. 50/198 5. O que significa dizer que o direito internacional é anárquico? Questão 5 a) Que não possui uma ideologia política. b) Não existe uma autoridade superior aos Estados. c) Há uma negação de um governo único. d) Os Estados não possuem uma única ideologia política. e) Há uma negação de que existam Estados. 51/198 Gabarito 1. Resposta: C. Direito internacional começou a ser desen- volvido com o contato entre os povos, pri- meiro por guerras e, posteriormente, por re- gras de condutas. 2. Resposta: E. Em suma, os voluntaristas pregam a vonta- de coletiva dos Estados e o consentimento mútuo destes; os objetivistas, a existência de uma norma ou princípio acima do Estado. 3. Resposta: C. No direito interno são considerados sujei- tos de direito as pessoas físicas e as pessoas jurídicas, enquanto no direito internacional são considerados sujeitos de direitos os Es- tados e as organizações internacionais. 4. Resposta: D. De acordo com o artigo 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça, o costume é a segunda fonte de direito internacional. 5. Resposta: B. Todos os Estados são iguais não existindo nenhuma autoridade sobre eles. 52/198 Unidade 3 Sujeito de Direito Internacional Público: Estados Objetivos 1. Apresentar o Estado como sujeito de Direito Internacional; 2. Identificar a forma e os elementos da responsabilidade internacional dos Estados; 3. Descrever a condição jurídica dos na- cionais e estrangeiros. Unidade 3 • Sujeito de Direito Internacional Público: Estados53/198 Introdução Como não é possível imputar a toda huma- nidade o cumprimento das regras e princí- pios de direito internacional, faz-se neces- sário limitar aqueles que possuem capaci- dade para exercer os direitos e deveres no plano internacional. Consequentemente, o tema personalidade jurídica é essencial à definição do direito in- ternacional, uma vez que aborda a quem as normas de direito internacional incidem. Em termos gerais, sujeito de direito inter- nacional é aquele susceptível de ser titular de direitos e obrigações resultantes direta e imediatamente de uma norma de direito internacional, sem que haja a necessidade de intervenção de outro sujeito (PEREIRA, QUADROS, 1993). Entretanto, é preciso ter em mente que a personalidade jurídica internacional não coincide com a de direito interno. Conforme dito nos temas anteriores, no direito interno os sujeitos de direito são as pessoas físicas e jurídicas, enquanto no direito internacional os sujeitos são outros. É necessário consignar, todavia, que elen- car os sujeitos de direito internacional não é uma tarefa fácil, pois tanto a doutrina como a jurisprudência internacional diver- gem quanto à natureza e à potencialidade desses sujeitos. Somente dois sujeitos são aceitos pacificamente por todos: os Estados e as Organizações Internacionais. Assim sendo, o presente tema se ocupará do estudo do primeiro sujeito de direito in- ternacional, ou seja, os Estados. Unidade 3 • Sujeito de Direito Internacional Público: Estados54/198 1. Estados Em síntese, ser sujeito de direito significa ser destinatário de direitos e obrigações em um plano de igualdade, bem como ter capacidade processual e responsabilidade internacional. Não obstante, o conceito de personalidade jurídica é uma construção teórica que possui variação na história do direito. O direito internacional instituído sobre o pensamento de Grócio (1625) ocupava-se exclusivamente dos Estados. Esta visão, de- nominada clássica, adveio da própria ori- gem do direito internacional, constituído sobre uma sociedade de Estados soberanos, em que somente esses refletiam no âmbito internacional. Desde Westphalia (1648) até Versalhes (1919) esta foi a concepção ado- tada. Pela visão clássica somente os Estados es- tavam subordinados ao regramento jurídico internacional. De acordo com Accioly, Silva e Casella (2009, p. 231-232), o Estado pode ser entendido como “agrupamento huma- no, estabelecido permanentemente num território determinado e sob governo inde- pendente”. A escolha do Estado como sujeito pacífico de direito internacional decorre do fato de que o principal critério adotado na escolha dos sujeitos diz respeito à potencialidade de contrair obrigações no plano internacio- nal. Unidade 3 • Sujeito de Direito Internacional Público: Estados55/198 A visão clássica funda-se no fato de que, pela Convenção de Viena sobre direito dos tratados, elaborada em 1969 e ratificada pelo Brasil em 2009, somente os Estados poderiam celebrar tratados. Somente no ano de 1986 é que a Conven- ção de Viena sobre o direito dos tratados de 1969 foi desdobrada, acrescendo aos sujei- tos de direito internacional as Organizações Internacionais e dando a eles a possibilida- de de celebrarem tratados tais como os Es- tados. Para saber mais Existem outros critérios adotados. Um critério in- teressante vincula a personalidadejurídica inter- nacional à capacidade de exercício de reclama- ções internacionais. Por esse critério é possível vi- sualizar o indivíduo como o verdadeiro sujeito de uma sociedade internacional, devido a sua res- ponsabilização penal internacional. No entanto, o reconhecimento da personalidade jurídica inter- nacional do indivíduo ainda é objeto de grandes controvérsias. Link Convenção de Viena sobre direito dos tratados. BRASIL. Decreto nº 7.030: Convenção de Viena sobre direito dos tratados. 2009. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ ato2007-2010/2009/decreto/d7030.htm>. Acesso em: 7 ago. 2017. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d7030.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d7030.htm Unidade 3 • Sujeito de Direito Internacional Público: Estados56/198 2. Responsabilidade internacio- nal dos Estados Do mesmo modo que os Estados possuem direitos no plano internacional, eles tam- bém possuem deveres. Por ser sujeito de direito internacional, os Estados são responsáveis por todo ato ou omissão que lhes sejam imputáveis e do qual resulte algum tipo de violação a uma norma ou obrigação internacional. Sua responsabilidade internacional funda- -se em dois pontos: manter os compromis- sos assumidos e reparar o mal injustamente causado. Link Convenção de Viena sobre direito dos trata- dos entre Estados e organizações internacionais ou entre organizações internacionais. CÂMARA DOS DEPUTADOS. Mensagem nº 598: Conven- ção de Viena sobre direito dos tratados entre Estados e organizações internacionais ou entre organizações internacionais. 2015. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/sileg/inte- gras/1427770.pdf>. Acesso em: 7 ago. 2017. http://www.camara.gov.br/sileg/integras/1427770.pdf http://www.camara.gov.br/sileg/integras/1427770.pdf Unidade 3 • Sujeito de Direito Internacional Público: Estados57/198 Segundo Dinh, Daillier e Pellet (2003, p.776): Toda ordem jurídica pressupõe que os sujeitos de direito assumam a sua responsabilidade logo que os seus comportamentos produzam danos aos direitos e interesses dos sujeitos de direito. Por maioria de razão, o mesmo se passa na sociedade internacional na qual, em virtude da sua sobera- nia, o Estado determina livremente as suas decisões, que se limitam pela liberdade igual dos outros Estados. A responsabilidade internacional dos Estados aparece como mecanismo regulador essencial e necessário das relações mútuas. A responsabilidade pode incidir de forma direita, ou seja, no caso de atos do próprio governo ou seus agentes, e de forma indireta, quando os atos são praticados por particulares, mas de maneira que possa ser imputado ao Estado, tais como pirataria, tráfico de drogas e escravos, genocídio, crimes tipificados no Estatuto de Roma, baseado no dever de prevenção e repressão do ilícito pelo Estado. Unidade 3 • Sujeito de Direito Internacional Público: Estados58/198 Os elementos da responsabilidade interna- cional dos Estados são três: a) Ocorrência de ato ilícito, isto é, violação de deveres e obrigações internacionais (tratados, convenções, costumes, prin- cípios gerais do direito, entre outros); b) existência de relação causal, ou seja, de nexo que liga o ilícito a quem é res- ponsável por ele (como, por exemplo, no caso de o indivíduo praticar o ato na qualidade oficial de órgão do Esta- do ou com os meios que dispõem em virtude de tal qualidade); e c) Prejuízo ou dano, quer com relação ao aspecto moral ou patrimonial. Accioly, Silva e Casella (2009) acrescentam um quarto elemento: a culpa do Estado. Para saber mais A Lei nº 11.340/2006, popularmente conhecida como Lei Maria da Penha, foi feita em decorrência da responsabilidade indireta do Brasil no plano internacional. No ano de 2001, o Brasil foi con- denado pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados America- nos (OEA) por negligência e omissão em relação à violência doméstica sofrida por Maria da Penha Maia Fernandes. Unidade 3 • Sujeito de Direito Internacional Público: Estados59/198 3. Nacionais e estrangeiros Segundo Rezek (1998, p. 178), população é “o conjunto das pessoas instaladas em caráter permanente sobre seu território”. Trata-se, portanto, de um critério quantitativo, pois engloba os súditos locais (nacionais) e os estrangeiros residentes. Denominam-se nacionais as pessoas sub- metidas à autoridade direta de um Estado, às quais este Estado reconhece direitos e poderes e proteção, mesmo além de suas fronteiras, em decorrência do vínculo jurídi- co-político existente entre eles. A qualidade inerente a essas pessoas é cha- mada de nacionalidade, sendo por ela que o indivíduo se localiza e identifica na coletivi- dade. Para saber mais Com relação ao elemento culpa, existem duas correntes. A primeira é a corrente subjetiva ou da teoria da culpa, que afirma que para um Estado ser responsável perante o direito internacional, necessita não apenas violar uma norma, mas vio- lá-la com intenção. A outra é a corrente objetiva, também denominada teoria do risco. De acordo com esta posição, o Estado é responsável porque violou uma norma internacional, de maneira que sempre que existir o nexo causal entre o ilícito e o Estado, haverá responsabilidade, independente- mente da sua intenção. Unidade 3 • Sujeito de Direito Internacional Público: Estados60/198 A definição de nacionalidade é feita por dois critérios: jus soli e jus sanguinis (MELLO, 2016). Pelo critério do jus soli (direito do solo) é levado em conta o lugar do nascimento, ou seja, é considerado nacional aquele que nasceu no território do Estado. Exemplo: é brasileiro aquele que nasceu no território do Brasil. Já pelo critério do jus sanguinis (di- reito do sangue) o que interessa é a nacio- nalidade dos pais. Exemplo: é considerado italiano quem possui pais italianos, inde- pendente do local do nascimento. O Brasil adota um sistema misto de defini- ção da nacionalidade, uma vez que os dois critérios encontram-se inseridos no corpo da Constituição Federal de 1988 (artigo 12). Por esta razão, são consideradas brasileiras as pessoas nascidas no território brasileiro, mesmo que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país. Por outro lado, também são consideradas bra- sileiras as pessoas nascidas fora do Brasil quando o pai ou mãe são brasileiros e es- tejam a serviço do país, como, por exemplo, nos casos da pessoa que trabalha em em- baixadas, consulados ou que atua em mis- sões de paz. Há, ainda, a possibilidade de ser considera- da brasileira a pessoa nascida fora do ter- ritório brasileiro mesmo quando o pai ou a mãe não estejam a serviço do país, desde que sejam registrados em repartição brasi- leira ou venham a residir no Brasil e optem pela nacionalidade brasileira. Trata-se de um critério que busca evitar que os indiví- duos não tenham nacionalidade, ou seja, Unidade 3 • Sujeito de Direito Internacional Público: Estados61/198 que sejam considerados apátridas. Exem- plos: mãe brasileira que foi estudar no Ja- pão e teve um filho lá. Como no Japão só são considerados japoneses os filhos de japone- ses independente do local do nascimento, a mãe registro o filho no Consulado brasilei- ro. Filho de brasileiro nascido no Canadá e que foi registrado como canadense, porém que venha a morar no Brasil e que queira se tornar brasileiro assim como seu pai. Neste caso, ele opta por deixar de ser canadense e virar brasileiro em decorrência do seu direi- to de sangue. Observa-se, por necessário, que não se tra- ta de naturalização, mas de nacionalidade originária devido ao critério do direito de sangue. Se nacionalidade é o vínculo polí- tico entre indivíduo e Estado decorrente do local de nascimento ou do sangue dos pais, a naturalização é o ato pelo qual um estran- geiro solicita a um Estado a qualidade de seu nacional. NoBrasil, adquire a nacionalidade brasilei- ra as pessoas oriundas de países de língua portuguesa se residirem por um ano inin- terrupto e que tenham idoneidade moral. Já para os demais estrangeiros é necessário mais de quinze anos ininterruptos de re- sidência e ausência de condenação penal (BRASIL, 1988). O brasileiro naturalizado tem todos os di- reitos do brasileiro nato, salvo o acesso a certas funções públicas eminentes, que a Constituição arrola de modo limitativo no artigo 12, § 3º, como o de Presidente e Vi- Unidade 3 • Sujeito de Direito Internacional Público: Estados62/198 ce-Presidente da República, por exemplo (BRASIL, 1988). Ressalta-se que a aquisição de nova nacio- nalidade implica a perda da nacionalidade de origem, exceto nos casos de binaciona- lidade ou plurinacionalidade, chamados popularmente de dupla cidadania ou pluri cidadania, isto é, resultante de situações de duas ou mais nacionalidades concomitan- tes, como, por exemplo, nos casos de pes- soa nascida no Brasil e filho de português que tenham a nacionalidade brasileira (de- corrente do solo) e portuguesa (decorrente do sangue). Por fim, é preciso esclarecer que nenhum Estado é obrigado a ter estrangeiros em seu território devido ao seu poder sobe- rano (soberania interna). No Brasil, a si- tuação encontra-se disciplinada na Lei nº 13.445/2017, chamada Lei de Imigração. Nela estão previstas as três hipóteses de retirada do estrangeiro do território brasi- leiro: deportação, expulsão e extradição. Na deportação, o estrangeiro é retirado do ter- ritório brasileiro se sua situação migratória é irregular (BRASIL, 2017). Exemplo: alguém que entrou como turista e ficou no país mais Link Lei de Imigração. BRASIL. Lei N 13.445. 2017. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/L13445. htm>. Acesso em: 7 ago. 2017. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/L13445.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/L13445.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/L13445.htm Unidade 3 • Sujeito de Direito Internacional Público: Estados63/198 do que o autorizado. Trata-se de um procedimento administrativo e que demanda apenas a re- gularização da situação para regressar ao país. Por outro lado, a expulsão é a retirada do estrangeiro conjugada ao seu impedimento de regresso por prazo determinado nos casos de prática de determinados crimes (BRASIL, 2017). Para saber mais Art. 54, § 1o Poderá dar causa à expulsão a condenação com sentença transitada em julgado relativa à prática de: I - crime de genocídio, crime contra a humanidade, crime de guerra ou cri- me de agressão, nos termos definidos pelo Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, de 1998, promulgado pelo Decreto no 4.388, de 25 de setembro de 2002; ou II - crime comum doloso passível de pena privativa de liberdade, conside- radas a gravidade e as possibilidades de ressocialização em território na- cional. (BRASIL, 2017, p. 15). Unidade 3 • Sujeito de Direito Internacional Público: Estados64/198 Finalmente, na extradição outro Estado so- licita ou concede entregar um indivíduo sobre quem recaia processo penal ou con- denação criminal. É uma medida de coop- eração internacional fundada no dever de solidariedade dos Estados contra os crimes. Unidade 3 • Sujeito de Direito Internacional Público: Estados65/198 Glossário Estatuto de Roma: tratado que estabeleceu o Tribunal Penal Internacional. Ratificação: é o ato administrativo mediante o qual o Chefe de Estado confirma tratado assinado em seu nome ou em nome do Estado, declarando aceitar o que foi convencionado. Tratado de Versalhes: tratado de paz que encerrou oficialmente a Primeira Guerra Mundial. Tratado de Westphalia: também denominado Tratado de Münster e Osnabrück, o qual encerrou a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) e reconheceu oficialmente as Províncias Unidas e a Con- federação Suíça. Questão reflexão ? para 66/198 O direito internacional adquiriu contornos com a globa- lização. No entanto, os Estados estão passando por um processo reverso, isto é, de fechamento das fronteiras em decorrência de vários fatores: terrorismo, aumento de violência, desemprego, crises políticas e financeira dos Estados. Com base nisso, reflita sobre a atitude de alguns Estados de restringir o ingresso de estrangeiros em seu território. 67/198 Considerações Finais • O Estado é sujeito de direitos e obrigações no plano internacional. • A responsabilidade dos Estados decorre das ações ou omissão que lhes se- jam imputáveis, bem como da violação a uma norma ou obrigação interna- cional. • A qualidade inerente às pessoas é chamada de nacionalidade, sendo esta estabelecida por dois critérios: jus soli (direito de solo) e jus sanguinis (direito de sangue). • As hipóteses de retirada do estrangeiro do território brasileiro são deporta- ção, expulsão e extradição. Unidade 3 • Sujeito de Direito Internacional Público: Estados68/198 Referências ACCIOLY, H.; SILVA, G. E. N.; CASELLA, P. B. Manual de direito internacional público. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. Disponível em: <http://www.pla- nalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 23 jul. 2017. ______. Decreto nº 7.030: Convenção de Viena sobre direito dos tratados. 2009. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d7030.htm>. Acesso em: 7 ago. 2017. ______ Lei N 13.445. 2017. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015- 2018/2017/lei/L13445.htm>. Acesso em: 7 ago. 2017. DINH, N. Q.; DAILLIER, P.; PELLET, A. Direito internacional público. Tradução Vítor Marques Coe- lho. 2ª ed. Lisboa: Fundação Galouste Gulbenkian, 2003. GROCIO, H. Del derecho de la guerra y de la paz. Madri: Madri Editorial, 1925. PEREIRA, A. G.; QUADROS, F. Manual de direito internacional público. 3ª ed. Coimbra: Almedi- na, 1993. MELLO, C. D. A. Curso de direito internacional público. 33ª ed. Rio de Janeiro: Malheiros, 2016. REZEK, J. F. Direito internacional público: curso elementar. 7ª ed. rev. São Paulo: Saraiva, 1998. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d7030.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/L13445.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/L13445.htm 69/198 1. Segundo a visão clássica de sujeitos de direito internacional, assinale a al- ternativa que apresenta corretamente quem tem potencialidade de contrair obrigações no plano internacional: a) Indivíduos. b) Organizações internacionais. c) Estados. d) Organizações não governamentais. e) Empresas transnacionais. Questão 1 70/198 2. Com relação à responsabilidade do Estado, assinale a alternativa correta: a) Responsabilidade direta ocorre por ação. b) Responsabilidade indireta ocorre por omissão. c) Responsabilidade por omissão ocorre por culpa. d) Responsabilidade por ação ocorre na prática de ato. e) Responsabilidade culposa ocorre quando há prejuízo. Questão 2 71/198 3. Assinale a alternativa que contém os dois critérios de definição da naciona- lidade: a) Direito de sangue e direito de povo. b) Direito de solo e direito de sangue. c) Direito de solo e direito do povo. d) Direito de sangue e apátrida. e) Direito de solo e apátrida. Questão 3 72/198 4. Assinale a alternativa que apresenta a solução para o que ocorre quando uma pessoa adquire uma nova nacionalidade: a) Perde a anterior, salvo nos casos de binacionalidade ou plurinacionalidade. b) Permanece com a anterior, salvo nos casos de binacionalidade ou plurinacionalidade. c) Perde sempre a anterior. d) Permanece sempre com a anterior. e) Pode optar por permanecer ou não com a anterior. Questão4 73/198 5. Com relação à entrada do estrangeiro no território de outro país, assinale a alternativa que apresenta a alternativa correta: a) O Estado tem o dever de permitir a entrada de todos os estrangeiros b) Os estrangeiros e os nacionais têm os mesmos direitos de ingresso c) É a ONU que estabelece as formas de ingresso de estrangeiro d) É vedado o ingresso de estrangeiros em qualquer país e) O Estado não é obrigado a ter estrangeiro em seu território Questão 5 74/198 Gabarito 1. Resposta: C. Pela visão clássica instituída sobre o pensa- mento de Grócio (1625), o direito interna- cional ocupava-se exclusivamente dos Es- tados. 2. Resposta: D. A responsabilidade do Estado pode decor- rer de ato (responsabilidade por ação) ou da ausência dele (responsabilidade por omis- são). Também pode ser direta (ato praticado pelos representantes do Estado) ou indireta (ato praticado pelos indivíduos de uma ma- neira geral). 3. Resposta: B. Direito de solo (jus soli) e direito de sangue (jus sanguinis). 4. Resposta: A. Ao adquirir nova nacionalidade, como re- gra, o indivíduo perderá a anterior. Só não perderá nos casos de binacionalidade ou plurinacionalidade. 5. Resposta: E. Devido ao seu poder soberano, o Estado não é obrigado a permitir o ingresso de estran- geiro em seu território. 75/198 Unidade 4 Sujeito de Direito Internacional Público: Organizações Internacionais Objetivos 1. Apresentar as Organizações Interna- cionais como sujeito de Direito Inter- nacional; 2. Identificar a forma e os elementos da responsabilidade internacional das Organizações Internacionais; 3. Discutir o papel da Organização das Nações Unidas na manutenção da paz e da segurança internacional. Unidade 4 • Sujeito de Direito Internacional Público: Organizações Internacionais76/198 Introdução Assim como os Estados, as Organizações Internacionais também são consideradas sujeitos de direito internacional em decor- rência do critério de personalidade jurídica baseado na potencialidade de contrair obri- gações no plano internacional. Com o desdobramento da Convenção de Viena sobre o direito dos tratados, realiza- do no ano de 1986, as Organizações Inter- nacionais passaram a celebrar tratados nos mesmos moldes que os Estados, adquirindo personalidade jurídica internacional. A ideia de organizações formadas por Es- tados surgiu no século XVIII com Rousseau (2004), segundo o qual a principal causa das guerras era a soberania (interna) dos Esta- dos. Por esta razão, para se conseguir a paz, os Estados deveriam despir-se desse poder absoluto e delegá-lo a um organismo mais elevado. As Organizações Internacionais podem ser entendidas como associações formadas por Estados, com personalidade legal dis- tinta destes. Elas foram impulsionadas pela industrialização, pelo avanço tecnológico, pela maior interação entre as elites e pelos movimentos sociais da Europa, primordial- mente, no século XIX, oriundas de quatro condições: Estados soberanos, fluxo entre eles, reconhecimento por parte dos Esta- dos de problemas comuns e necessidade de criar instituições e métodos para regular as relações (CLAUDE, 1964). Por conseguinte, o presente tema se ocupa- rá do estudo do segundo sujeito de direito Unidade 4 • Sujeito de Direito Internacional Público: Organizações Internacionais77/198 internacional, ou seja, as Organizações In- ternacionais. 1. Organizações Internacionais De acordo com Mearsheimer (1998), as Or- ganizações Internacionais podem ser defi- nidas como as responsáveis por estipular as regras de direitos e obrigações pelas quais os Estados devem cooperar e concorrer uns com os outros. A conceituação de Organização Interna- cional é ampla e flexível para abranger seus principais caracteres. Segundo Pereira e Quadros (2002) trata-se de uma união vo- luntária de sujeitos de direito internacional, constituída mediante tratado internacional e regulada nas relações entre as partes por normas de direito internacional, com orde- namento jurídico interno próprio e órgãos próprios, por meio dos quais prossegue fins comuns aos membros da organização. A primeira Organização Internacional a ser estruturada com princípios e regras bem definidos foi a Liga das Nações, em 1919. A Liga das Nações, ao contrário das demais Para saber mais As definições de organizações internacionais possuem dois elementos: permanência e interna- cionalidade. O primeiro diz respeito à estabilida- de pelo uso do vocábulo organização; o segundo decorre da opção dos Estados-membros. Desses dois elementos resulta a sua autonomia em rela- ção aos Estados partícipes. Unidade 4 • Sujeito de Direito Internacional Público: Organizações Internacionais78/198 instituições intergovernamentais já criadas, possuía personalidade jurídica, agentes e órgãos próprios. Com sede em Genebra, na Suíça, ela era formada por uma Assem- bleia Geral, uma Secretaria Permanente e um Conselho. O Pacto da Liga das Nações, constante da primeira parte do Tratado de Versalhes, possuía quase que a metade de suas vinte e seis disposições voltadas para os meios de se evitar futuras guerras (MIN- GST; KARNS, 1995). Para Morgenthau (2007), a Liga das Nações foi tanto incapaz de impedir a guerra como foi ineficaz para a manutenção da ordem in- ternacional. As razões desse fracasso podem ser divididas em três. A primeira deve-se ao fato de o Pacto não baniu as guerras, tendo apenas estipulado as condições em que não Para saber mais Segundo Bellamy e Williams (2010), a função principal da Liga das Nações foi implementar a noção de segurança coletiva. Para os autores, a ideia de segurança coletiva encontra-se ligada à responsabilidade de que todos os membros da sociedade internacional têm de contribuir com ações coletivas para prevenir e repelir as agres- sões por parte de um Estado. Unidade 4 • Sujeito de Direito Internacional Público: Organizações Internacionais79/198 A nova tentativa de implementar um siste- ma de segurança coletiva adveio com a criação da Organização das Nações Unidas (ONU), no ano de 1945. Assim como a ex- tinta Liga das Nações, a ONU foi criada com o propósito de manter a paz e a segurança internacional, exercendo papel importante no processo político de institucionalização de normas gerais dirigidas aos diferentes setores de sua atuação. era permitido o combate. Como consequên- cia, os Estados-membros estavam autor- izados a ir para a guerra na ausência dessas condições. A segunda razão diz respeito à estrutura predominantemente europeia da Liga em um momento em que os principais fatores políticos internacionais não eram europeus face às mudanças na geopolítica mundial ocorridas após a Primeira Guerra. Por fim, a última razão decorreu do fato de que a Liga não foi capaz de agir como uma unidade em face de uma guerra de grandes proporções, à medida que os interesses na- cionais prevaleceram sobre os princípios de justiça definidos em seu Pacto. Com o início da Segunda Guerra Mundial, a Liga das Nações deixou de desempenhar suas funções, tendo sido extinta formal- mente apenas em 18 de abril de 1946. Link Organização das Nações Unidas no Brasil. ORGA- NIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (Brasil). ONU no Brasil. 2017. Disponível em: <http://www.onu. org.br/>. Acesso em: 19 ago. 2017. http://www.onu.org.br/ http://www.onu.org.br/ Unidade 4 • Sujeito de Direito Internacional Público: Organizações Internacionais80/198 2. Responsabilidade internacional A responsabilidade internacional das Organizações Internacionais decorre do reconhecimento de sua personalidade jurídica internacional, por ser separada e distinta daqueles que a compõem. Inicialmente, essa personalidade jurídica era contestada, devido ao fato de não possuírem ex- pressamente a capacidade de firmar tratados. Todavia, com o desdobramento da Convenção de Viena sobre direito dos tratados, ela foi reconhecida. Por esta razão, Rezek (1998) afirma que as OrganizaçõesInternacionais possuem personalidade jurídica derivada, ao contrário dos Esta- dos que possuem personalidade jurídica originária. Segundo Rezek (1998, p. 155-156): O Estado, com efeito, não tem apenas precedência histórica: ele é antes de tudo uma realidade física, um espaço territorial sobre o qual vive uma comunidade de seres humanos. A organização internacional carece dessa dupla dimensão material. Ela é produto exclusivo de uma elaboração jurídica resultante da vontade conjugada de certo número de Estados. Por isso se pode afirmar que o tratado constitutivo de toda organização internacional, tem, para ela, importância superior à da constitui- ção para o Estado soberano. A existência deste último não aparece condicionada à disponibilidade de um diploma básico. Unidade 4 • Sujeito de Direito Internacional Público: Organizações Internacionais81/198 O Estado é contingente humano a conviver, sob alguma forma de regramento, dentro de certa área territorial, sendo certo que a constituição não passa do cânon jurídico dessa ordem. A organização internacional, de seu lado, é apenas uma realidade jurí- dica: sua existência não encontra apoio senão no tratado constitutivo, cuja principal virtude não consiste, assim, em disciplinar-lhe o funcionamento, mas em haver-lhe dado vida, sem que nenhum elemento material preexistisse ao ato jurídico criador. No mesmo sentido, reconhece Vasconcellos (2005, p. 20): Organização Internacional é sujeito de personalidade jurídica derivada, sendo os seus poderes oriundos de competência de atribuição, ou seja, sua existência e suas com- petências derivam de um tratado internacional em que os Estados pactuantes estabe- lecem a decisão de criar a organização, fixam as competências que serão destinadas a esse novo ente, bem como determinam os instrumentos de que esse disporá para desempenhar as suas tarefas. Assim, os Estados que, na qualidade de criadores, de- lineiam, condicionam e limitam o poder da Organização Internacional a que estão dando origem no momento de sua constituição. Unidade 4 • Sujeito de Direito Internacional Público: Organizações Internacionais82/198 No que tange ao papel das Organizações In- ternacionais, segundo Mingst (2009), no ní- vel do sistema internacional, elas desempe- nham as seguintes atribuições: contribuem para cooperação, dedicam-se à coleta de informações e à vigilância, auxiliam na de- cisão de disputas, realizam atividades ope- racionais, servem para negociações e levam à criação de regimes internacionais. Em re- lação aos Estados, seus papéis são: instru- mentos de política externa, melhoria das informações para os Estados e aplicação de sanções. Em relação aos indivíduos, as or- ganizações internacionais servem de lugar de socialização das normas internacionais e para instrução sobre as diferenças e seme- lhanças nacionais. 3. Organização das Nações Uni- das A ONU é formada por cento e noventa e três Estados-membros unidos em torno de sua Carta com direitos e deveres no plano in- ternacional. Tendo em vista os diversos pa- péis atribuídos à ONU por meio de sua Carta (ONU, 1945), a organização foi estruturada em seis órgãos principais: a Assembleia Ge- ral, o Conselho de Segurança, o Conselho Econômico e Social, o Conselho de Tutela, a Corte Internacional de Justiça e o Secreta- riado. Unidade 4 • Sujeito de Direito Internacional Público: Organizações Internacionais83/198 A Assembleia Geral, que é composta por to- dos os membros da organização, foi proje- tada como arena geral de debates, de forma Link Carta da Organização das Nações Unidas. ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (Brasil). Carta da Organização das Nações Unidas. 1945. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/ carta/>. Acesso em 19 ago. 2017. que todos os membros fossem igualmente representados, podendo discutir quaisquer questões ou assuntos que estiverem nas finalidades da Carta (ONU, 1945), entre as quais: recomendações acerca da manuten- ção da paz e da segurança internacional, admissão de novos membros, suspensão dos direitos e privilégios dos membros, ex- pulsão dos membros, eleições dos mem- bros não permanentes do Conselho de Se- gurança, do Conselho Econômico e Social e do Conselho de Tutela, nomeação de juízes para a Corte Internacional de Justiça, no- meação do Secretário-Geral, após reco- mendação do Conselho de Segurança, entre outros. Cada Estado possui apenas um voto e pode fazer-se representar por até cinco representantes. Para saber mais A ONU possui ainda dois Estados-observadores (sem direito de voto): o Estado do Vaticano e a Pa- lestina. https://nacoesunidas.org/carta/ https://nacoesunidas.org/carta/ Unidade 4 • Sujeito de Direito Internacional Público: Organizações Internacionais84/198 O Secretariado, por sua vez, é o órgão ad- ministrativo da ONU e compreende um Secretário-Geral, que é nomeado pela As- sembleia Geral, sob recomendação do Con- selho de Segurança, para um mandato de cinco anos, renováveis, auxiliado por mais de quarenta e quatro mil funcionários, es- colhidos pelos mais amplos critérios geo- gráficos. As funções desempenhadas são tão diversas que variam de questões como administrar as operações de paz para me- diar os conflitos internacionais a pesquisar as tendências econômicas e sociais a pre- paração de estudos sobre direitos humanos e desenvolvimento sustentável. Já o Conselho Econômico e Social (ECOSOC) é o principal órgão para coordenar o tra- balho econômico, social e relacionado das agências especializadas da ONU, comissões técnicas e comissões regionais. O Conse- lho também recebe relatórios dos fundos e programas da ONU e serve como fórum central para discutir questões econômicas internacionais e sociais. Ele é composto por cinquenta e quatro membros da ONU eleitos pela Assembleia Geral para um período de três anos, permitida a reeleição. O quarto órgão da ONU era o Conselho de Tutela. Esse Conselho suspendeu suas ati- vidades em 19 de novembro de 1994, após o Palau, último território do mundo sob tu- tela da organização, ter se tornado Estado soberano. A ele competia supervisionar a descolonização e administrar os territórios sob regime de tutela internacional (territó- rios custodiados que ficaram sob a guarda Unidade 4 • Sujeito de Direito Internacional Público: Organizações Internacionais85/198 da ONU), com o escopo de promover o pro- gresso dos habitantes dos territórios e de- senvolver condições para a progressiva in- dependência e estabelecimento de governo próprio. A Corte Internacional de Justiça (CIJ) é o prin- cipal órgão judicial das Nações Unidas. Ela foi concebida com base na extinta Corte Per- manente de Justiça Internacional (CPJI), da também extinta Liga das Nações, tendo seu Estatuto mantido conteúdo idêntico ao Es- tatuto da CPJI. O Estatuto da Corte Interna- cional de Justiça integra a Carta das Nações Unidas, de modo que o Estado que se torna membro da ONU aceita integralmente o Es- tatuto (ACCIOLY; SILVA; CASELLA, 2009). Por esta razão, todos os membros da organiza- ção são partes do Estatuto da Corte. O sexto e principal órgão da ONU é o Con- selho de Segurança. Ele detém a responsa- bilidade pela manutenção da paz e da se- gurança internacionais, agindo em confor- midade com os princípios de direito inter- nacional humanitário. Ele é constituído por quinze membros, sendo cinco permanentes (Estados Unidos, Reino Unido, França, Chi- na e Rússia) e mais dez não-permanentes, eleitos pela Assembleia Geral por um perío- do de dois anos. Para saber mais A Corte Internacional de Justiça é o único órgão da ONU que não está situada na sua sede na ci- dade de Nova York. Ela fica em Haia, na Holanda. Unidade 4 • Sujeito de Direito Internacional Público: Organizações Internacionais86/198 Cada membro do Conselho tem direito a um voto. As decisões relativas a todos os de- mais assuntos também necessitam de nove votos, incluindo, entre esses, os dos cinco membros permanentes.
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