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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA DE TEATRO DEPARTAMENTO DE FUNDAMENTOS DO TEATRO DISCIPLINA: METODOLOGIA DO ENSINO DE TEATRO Educadora: Célida Salume Discente: Nayara Brito PLANO DE AULA Tema: Dramaturgia rapsódica Objetivo geral: Reconhecer e elaborar um roteiro dramatúrgico de natureza rapsódica Objetivos específicos: • Aprimorar a percepção rítmica (através) do corpo; • Reconhecer canções tradicionais de matriz africana; • Desenvolver uma percepção sensorial dos textos de referência (de Fanon e Freire) propostos para a construção da dramaturgia; • Refletir sobre a problemática do racismo, fazendo conexões entre os materiais propostos e sua própria experiência/memória; • Discutir sobre a noção de rapsódia a partir do entendimento de Sarrazac; • Reconhecer uma estrutura rapsódica em exemplos práticos (o próprio roteiro elaborado e filmes/séries/peças a que tiverem assistido); • Elaborar um roteiro dramatúrgico de natureza rapsódica. Conteúdo programático 1. Música tradicional africana e ritmo 1.1 A percepção rítmica do corpo. 1.2 Canções tradicionais de matriz africana. 2. Pluralidade de gêneros e formas: aproximações sensoriais aos textos de referência e às memórias dos estudantes 2.1 O caráter poético (e crítico) da escrita de Fritz Fanon. 2.2 O ritmo da (e a crítica na) escrita de Marcelino Freire. 3. A escrita rapsódica 3.1 A reunião e reelaboração de textos e materiais diversos para a construção de uma dramaturgia rapsódica. 3.2 A relação cena-dramaturgia: cruzamentos nos processos de criação. 4. Rapsódia: a noção cunhada por Jean-Pierre Sarrazac 4.1 No sentido etimológico literal, “costura ou ajustamento de cânticos”. 4.2 Noção que aparece ligada ao domínio do épico (dos cantos e narrações homéricos), bem como a procedimentos de escrita tais como a montagem, a hibridização, a colagem e a coralidade. Procedimentos metodológicos Parte 1: Aquecimento Num primeiro momento, em roda, realizaremos um aquecimento com base no jogo Flechas, através do qual trabalharemos a noção de ritmo. Em seguida, vamos cantar as seguintes músicas da tradição africana: Cangoma me chamou e Sansa Kroma. Outras músicas da mesma matriz que sejam de conhecimento dos estudantes pode entrar na roda. Num terceiro momento desta primeira parte, reuniremos o jogo com ritmo e as canções, tentando recriá-las/cantá-las de um modo novo, refazendo seu ritmo agora de acordo com o ritmo do jogo. Parte 2: Primeiras aproximações à escrita de Frantz Fanon Pequenos pedaços de papel dobrados, contendo fragmentos do livro Pele negra, máscaras brancas, de Frantz Fanon, serão dispostos no centro da roda, numa quantidade que equivalha à metade do número de estudantes presentes, que serão orientados a pegar um papelzinho cada e guardar, ainda sem ler. A outra metade da turma deverá, então, encontrar uma posição confortável em que ficar, com os olhos fechados. Aqueles que pegaram os papeizinhos deverão ir até cada colega e cantar-sussurrar as músicas que cantamos em roda. Num segundo momento, ao invés de cantar, lerão o que está escrito em seus papeizinhos. A saber: A explosão não vai acontecer hoje. Ainda é muito cedo... ou tarde demais. Não venho armado de verdades decisivas. Minha consciência não é dotada de fulgurâncias essenciais. Entretanto, com toda a serenidade, penso que é bom que certas coisas sejam ditas. Essas coisas, vou dizê-las, não gritá-las. Pois há muito tempo que o grito não faz mais parte de minha vida. Então, calmamente, respondo que há imbecis demais neste mundo. E já que o digo, vou tentar prová-lo. Em direção a um novo humanismo... À compreensão dos homens... Nossos irmãos de cor... Creio em ti, Homem... O preconceito de raça... Compreender e amar... De todos os lados, sou assediado por dezenas e centenas de páginas que tentam impor-se a mim. Entretanto, uma só linha seria suficiente. Uma única resposta a dar e o problema do negro seria destituído de sua importância. Que quer o homem negro? Há uma zona de não-ser, uma região extraordinariamente estéril e árida, uma rampa essencialmente despojada, onde um autêntico ressurgimento pode acontecer. O homem é um SIM vibrando com as harmonias cósmicas. Desenraizado, disperso, confuso, condenado a ver se dissolverem, uma após as outras, as verdades que elaborou, é obrigado a deixar de projetar no mundo uma antinomia que lhe é inerente. Em seguida, aqueles que estavam lendo deverão ficar no centro do espaço, enquanto os demais lerão, não mais sussurrando, mas em voz alta, os mesmos fragmentos, todos de uma vez só. Ao final, sem que conversem entre si, os estudantes registrarão por escrito alguma memória que tenha surgido neles durante o exercício anterior. Parte 3: Curso superior, conto de Marcelino Freire Pedir para que três voluntários (ou mais, a depender do tamanho da turma) venham até o centro da sala, enquanto o resto da turma assiste. A um quarto voluntário será dada uma cópia do conto Curso superior, de Marcelino Freire. Esse voluntário deverá ler o conto pausadamente, enquanto os demais o fisicalizam. Parte 4: A construção cênico-dramatúrgica Em roda, os estudantes deverão elaborar um roteiro para a uma cena, que apresentarão logo em seguida. Nesse roteiro deverão constar todos os momentos/elementos vistos ao longo da aula, reelaborados. Apresentação da cena. Parte 5: A ideia de rapsódia segundo J.-P. Sarrazac A partir do que foi experimentado e visto, analisar a estrutura dramatúrgica elaborada pelos estudantes, atentando para a diversidade de formas e materiais utilizados – canções, fragmentos do livro de Fanom, registros de relatos dos próprios estudantes, o conto de Freire, as imagens corporais criadas a partir dele. Tomando a dramaturgia criada como exemplo, vamos discutir sobre a noção de rapsódia conforme pensada por J.-P. Sarrazac, tomando como referência principal o verbete “Rapsódia” contido no livro Léxico do drama moderno e contemporâneo. A partir da introdução dessa discussão, buscar mais exemplos, para além do construído em sala de aula, em que os estudantes consigam identificar esse tipo de estrutura dramatúrgica. Avaliação Será solicitado dos alunos que tragam, na aula seguinte, um resumo do que foi a experiência dessa aula e do que foi discutido, apresentando sua compreensão do que seja uma dramaturgia rapsódica. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Salvador: EDUFBA, 2008. FREIRE, Marcelino. Contos negreiros. Rio de Janeiro: Ed. Record, 2005. SARRAZAC, Jean-Pierre. Léxico do drama moderno e contemporâneo. São Paulo: Cosac & Naify, 2012. ______. O futuro do drama. Porto: Campo das Letras, 2002.
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