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Aula 05 - Estágio Supervisionado (6° período)

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Aula 05: Observação Participante e Escuta Atenta
Introdução
Considerando que uma aula é complementar a anterior, esta apresenta um conteúdo que contribui sobremaneira na elaboração do diário de campo. Mas antes precisamos apresentar o que é a observação participante.
Observação participante
Para iniciarmos vamos conhecer um pouco da história da observação participante.
observação participante foi introduzida pela Escola de Chicago, nos anos 1920, tendo sido duramente contestada pelos pesquisadores experimentais, e abandonada por décadas. Seu resgate atual, no entanto, auxilia nas descrições e interpretações de situações cada vez mais globais. 
 
Após sua recuperação, porém, o método é banalizado e utilizado de forma indiscriminada, sem o rigor metodológico que esse procedimento exige em relação à coleta, registro e interpretação pertinentes e coerentes com a realidade estudada. Em muitos casos, a observação participante passa a ser relacionada a interpretações meramente emotivas e deformações subjetivas e sem dados comprobatórios.
O antropólogo inglês Branislaw Malinowski revolucionou a Antropologia nas três primeiras décadas do século XX, quando fez propostas referentes aos métodos de trabalho de campo.
É no universo científico que a construção sistemática da observação participante se torna cada vez mais evidente, uma vez que essa técnica modifica a ação do observador que, ao integrar o grupo que vivencia a realidade social, propicia interações que contribuam para a mudança de comportamento do grupo observado.
A técnica de observação participante caiu no esquecimento por alguns anos, até ser novamente introduzida no meio acadêmico na década de 1990, sendo, a partir de então, considerada um processo pelo qual a interação da teoria com a prática concorre para a transformação ou implementação do meio pesquisado – neste caso: o campo de estágio supervisionado.
Com o auxílio da observação participante, o estagiário poderá analisar a realidade social que o rodeia, tentando compreender os conflitos e tensões existentes e identificar grupos sociais que têm em si a sensibilidade e motivação para participar das lutas e transformações sociais necessárias.
Etapas do processo de observação participante
De acordo com Richardson (1999), o processo de observação participante segue algumas etapas essenciais.
1° ETAPA
Na primeira etapa, há a aproximação do observador ao grupo social em estudo.  Esse é um trabalho longo e difícil, pois o observador precisa trabalhar com as expectativas do grupo, além de se preocupar em destruir alguns bloqueios, como a desconfiança e a reticência do grupo. Nessa fase, é necessário que o observador seja aceito em seu próprio papel, isto é, como alguém externo, interessado em realizar, juntamente com a população, um estudo. Diante disso, pode-se dizer que a verdadeira inserção implica uma tensão constante do observador em razão do risco de identificação total com a problemática e o conflito de assegurar objetividade na coleta de dados.
2° ETAPA 
Sobre este último aspecto é sempre bom lembrar que a participação em uma realidade até então desconhecida exige uma aproximação, que exige paciência e honestidade, é a condição inicial necessária para que o percurso do estágio supervisionado possa humanizar as relações acadêmicas
Já na segunda etapa, Richardson (1999) diz que é preciso realizar um esforço do pesquisador em possuir uma visão de conjunto da comunidade objeto de estudo. No caso do estágio, substituímos o espaço da comunidade pelo espaço do estágio supervisionado. Então o autor coloca que essa etapa pode ser operacionalizada com o auxílio de alguns elementos, como o estudo de documentos oficiais – como já falamos na aula anterior -, reconstituição da história do grupo e do local, observação da vida cotidiana, identificação das instituições e formas de atividades econômicas, levantamento de pessoas chave e a realização de entrevistas não diretivas com as pessoas que possam ajudar na compreensão da realidade. Os dados devem ser registrados imediatamente no diário de campo, para não haver perda de informações relevantes e detalhadas sobre os dados observados. Caso não seja possível o registro imediato, sugere-se o uso do recurso de filmagens, fotos ou entrevista – Mas sempre com o acompanhamento da supervisora de campo, já que filmagens e fotos requerem a autorização de todos envolvidos no que refere se ao uso da imagem.
3° ETAPA 
Richardson (1999) aponta que após a coleta dos dados, passa-se à terceira fase, na qual é preciso sistematizar e organizar os dados, o que corresponde a uma etapa difícil e delicada. A análise dos dados deve informar ao observador a situação real do grupo e sobre a percepção que este possui de seu estado. Se todas essas etapas forem seguidas adequadamente, pode-se afirmar que o trabalho terá êxito, favorecendo o conhecimento da realidade social, bem como estimulando o crescimento do grupo de estudo por meio da auto-organizarão e conseqüente desenvolvimento de ações conscientes e criativas para a transformação social.
 
Para os assistentes sociais, os resultados obtidos a partir da análise dos dados devem servir de base para elaboração de ações profissionais que contribuam para promoção e garantia de Direitos.
Realização da observação
A observação participante é uma técnica de orientação quanto ao que será observado (pesquisado) ao participar (vivenciar) uma realidade (estágio supervisionado), delimitando o objetivo da entrada no estágio supervisionado.
A realização da observação participante exige o desenvolvimento de habilidades e competências. Então o estagiário buscará o seguinte aprendizado no campo: ser capaz de estabelecer uma relação de confiança com todos envolvidos; ter sensibilidade para pessoas; ser um bom ouvinte; ter familiaridade com as questões investigadas, com preparação teórica sobre o objeto de estudo ou situação que será observada; ter flexibilidade para se adaptar a situações inesperadas; não ter pressa de adquirir padrões ou atribuir significado a realidade observada; elaborar um plano sistemático e padronizado para observação e registro dos dados; ter habilidade em compreensão dos dados; verificar e controlar os dados observados; e relacionar os conceitos e teorias científicas aos dados coletados. (Schwartz, 1955).
- Os observadores
Os observadores participantes se inserem na situação estudada (observada) e na vida das pessoas que estudam e, embora nos registros de campo os nomes sejam fictícios (justificativa ética), os sujeitos da pesquisa são reais e se conhecem uns aos outros. Então é primordial valorizar o ser humano, respeitando todos envolvidos na realidade. Cabe ao aluno sempre deixar claro que é estudante, estagiário, apresentando se em uma postura de diálogo, e buscando aprender sobre a vivência no campo.
A observação e a participação tanto pode ser uma 
participação distanciada e ligeira, como uma 
participação mais profunda e mais integrada 
que propicia o uso da metodologia de observação participante.
- Tempo de duração
O tempo é também um pré-requisito para os estudos que envolvem sobre a uma dada realidade, bem como a ação de grupos sociais. Para se conhecer a história e comportamento das pessoas e de grupos é necessário observá-los por um longo período e não num único momento. Por isso é recomendável permanecer no mesmo campo de estágio por no mínimo 01 (um) ano.
*O aluno-estagiário não sabe de antemão onde está entrando, não conhece a realidade do campo de estágio, mas a entrada é preparada, anunciada e com a permissão da instituição. O que queremos chamar a sua atenção é para a situação em que você não é esperado por todos envolvidos no contexto de estágio, desconhecendo muitas vezes a teias de relações que marcam a hierarquia de poder e a estrutura social. Atenção! O aluno-estagiário é um observador que está sendo todo o tempo observado. O observador quase sempre desconhece sua própria imagem junto ao grupo estudado. Isso quer dizer que o estagiário também é observado por todos, incluindo os usuários. Seuspassos durante o trabalho de campo são observados, avaliados e questionados por membros da instituição e população local. E este aspecto deve ser considerado, e transformado em uma auto-análise na perspectiva do aprendizado sobre as próprias atitudes, comportamento e falas ao interagir no meio profissional. O aluno aprende com os erros que comete durante o estágio de campo e deve tirar proveito deles, na medida em que os passos em falso fazem parte do aprendizado da profissional. Deve, assim, refletir sobre o porquê de uma recusa, o porquê de um desacerto, o porquê de um silêncio. O saldo sempre será positivo se você estiver aberto para dialogar e aprender. É preciso aprender quando perguntar e quando não perguntar, assim como que perguntas fazer no momento mais apropriado, mas nunca esconder uma curiosidade. A observação participante implica saber ouvir, escutar, ver, fazer uso de todos os sentidos de forma ética. Uma referência brasileira na área da Educação é o professor Rubem Alves (2004), quem apresenta a seguintes apontamentos sobre a arte de ouvir: “De todos os sentidos, o mais importante para a aprendizagem do amor, do viver juntos e da cidadania é a audição. Só posso ouvir a verdade do outro se eu parar de tagarelar. Quem fala muito não ouve. Sabem disso os poetas, esses seres de fala mínima. Eles falam, sim. Para ouvir as vozes do silêncio. Não nos sentimos em casa no silêncio. Quando a conversa para por não haver o que dizer tratou logo de falar qualquer coisa, para por um fim no silêncio. Vez por outra tenho vontade de escrever um ensaio sobre a psicologia dos elevadores. Ali estamos, nós dois, fechados naquele cubículo. Um diante do outro. Olhamos nos olhos um do outro? Ou olhamos para o chão? Nada temos a falar. Esse silêncio é como se fosse uma ofensa. Aí falamos sobre o tempo. Mas nós dois bem sabemos que se trata de uma farsa para encher o tempo até que o elevador pare.
Vocês sabem o que acontece quando duas pessoas falam. Uma fala e outra lhe corta a palavra: ‘é exatamente como eu, eu...’ e começa a falar de si até que a primeira consiga por sua vez cortar: ‘é exatamente como eu, eu...’Essa frase ‘é exatamente como eu...’ parece ser uma maneira de continuar a reflexão do outro, mas é um engodo. É uma revolta brutal contra uma violência brutal: um esforço para libertar o nosso ouvido da escravidão e ocupar a força o ouvido do adversário. Pois toda a vida do homem entre os seus semelhantes nada mais é do que um combate para se apossar do ouvido do outro...” Talvez seja essa a razão porque há tantos cursos de oratória, procurados por políticos e executivos, mas não haja cursos de escutatória. Todo mundo quer falar. Ninguém quer ouvir.” Rubem Alves nos leva a refletir sobre a importância do diálogo, porque só podemos interagir ao ouvirmos o próximo. O ato de ouvir exige humildade de quem ouve. Para Rubem Alves, a humildade está nisso: saber, não somente com a cabeça, mas com o coração, que é possível que o outro veja mundos que nós não vemos, porque somos diferentes, e é na diferença que muito aprendemos.
- A importância do diálogo
Além de Rubem Alves outra referência para a Educação do Brasil é Paulo Freire. Para este Educador, o diálogo é o elemento chave para alcançar a conscientização e transformação da realidade. É preciso ouvir a todos, nossa voz interna, os profissionais envolvidos na realidade do estágio supervisionado, e em especial: os usuários, a população, com quem queremos estar para participar da transformação social.
 O diálogo com a população, e o cunho educativo da ação do Assistente Social no cotidiano profissional, não podemos deixar de citar o livro Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire. Neste livro, autor propõe uma explicação da importância e necessidade de uma pedagogia dialógica emancipatória do oprimido, em oposição à pedagogia da classe dominante, que contribua para a sua libertação e sua transformação em sujeito consciente e autor da sua própria história através da práxis enquanto unificação entre ação e reflexão.
Nesta pedagogia, o educador – e aqui podemos entender como o assistente social, também -, através de uma educação dialógica problematizante e participante, procura conscientizar e capacitar o povo para a transição da consciência ingênua à consciência crítica com base nas fundamentações lógicas do oprimido. Assim, caracteriza-se por um movimento de liberdade que surge a partir dos oprimidos, sendo a pedagogia realizada e concretizada com o povo na luta pela sua humanidade.
*A Pedagogia do Oprimido implica uma atitude e postura radicais baseadas no encontro com o povo através do diálogo enquanto instrumento metodológico que permite a leitura crítica da realidade, partindo da linguagem do povo, dos seus valores e da sua concepção do mundo, transformando-se numa luta pela libertação dos oprimidos. 
No primeiro capítulo, o autor procura justificar o título pedagogia do oprimido explicando que o homem tem de transformar-se num sujeito da realidade histórica em que se insere, humanizandose, lutando pela liberdade, pela desalienação e pela sua afirmação, enfrentando uma classe dominadora que pela violência, opressão, exploração e injustiça tentam se perpetuar. No que respeita à situação concreta de opressão e os oprimidos, o autor refere que só na convivência com os oprimidos se poderão compreender as suas formas de ser, de comportar e de refletir sobre a estrutura da dominação, sendo uma delas a dualidade existencial que leva a assumirem atitudes fatalistas, religiosas, mágicas ou místicas, que não permitem a superação da visão do mundo e de si. 
No segundo capítulo, o autor fala sobre o conceito de concepção bancária (sala de aula tradicional, onde somente o professor tem o direito de falar, sem haver o diálogo) da educação como instrumento da opressão, onde a educação é vista como um ato de depositar, o homem é considerado um ser adaptável e ajustável, em que educador e educando se arquivam por não haver criatividade, transformação e saber, pois, segundo o autor, só existe saber na invenção, reinvenção, busca inquieta, impaciente e permanente que os homens fazem no mundo, com o mundo e com os outros, o que se traduz numa busca esperançosa. 
Paulo Freire diz que é através do diálogo que os homens educam-se entre si e mediatizados pelo mundo, pela educação problematizadora que exige a superação da contradição educador-educando. Então é no diálogo que ambos se tornam sujeitos do processo e crescem juntos em liberdade, procurando o conhecimento das consciências para uma inserção crítica na realidade. O autor chama a atenção para que em nenhum propósito, mesmo na liderança revolucionária, o homem aliene os outros nas suas decisões, mas sim que os incentive à luta pela sua emancipação no mundo. 
No terceiro capítulo, o autor aborda o exercício do diálogo enquanto essência da educação como prática da liberdade. O diálogo assente na palavra é visto como fenômeno humano, pois segundo Paulo Freire não há palavra verdadeira que não seja práxis, enquanto ato de criação que procura a conquista do mundo para a libertação dos homens. 
Na perspectiva de Paulo Freire só há diálogo com um profundo amor ao mundo e aos homens, com humildade sincera e mediante a fé no poder de criar do homem, sendo assim um ato de criação e recriação, de coragem e de compromisso e de valentia e liberdade. Assim, o diálogo faz-se numa relação horizontal baseada na confiança entre os sujeitos e na esperança transformada na concretização de uma procura eterna fundamentada no pensamento crítico. 
No quarto capítulo, Paulo Freire coloca que o diálogo com os oprimidos é um compromisso para a libertação que implica a transformação da realidade, porque os homens são comunicação e diálogo enquanto análise crítico-reflexivo sobre a realidade. Afirma Paulo Freire que evitar o diálogo é temer a liberdade e não crer no povo, pelo que chama a atenção para que as lideranças revolucionárias não se deixem arrastar para posturas características das classes dominadoras, como a absolutização da ignorância,a descrença no homem e a impossibilidade do diálogo. 
A obra de Paulo Freire é um trabalho de conscientização, recomendado a todos que se preocupam com a sua existência, e a todos os educadores em particular, pois tem um caráter político na medida em que, fazendo uma abordagem à valência emancipa tória da educação enquanto instrumento de libertação de consciências e da necessidade da atuação do homem na sua própria existência, afirma que não é suficiente que o oprimido tenha consciência crítica da opressão, mas que se disponha a transformar a realidade, ou seja, pensar a realidade para melhor elaborar a ação visando à transformação da realidade.
Exercitar o diálogo é realizar uma escuta atenta, ouvir o que o outro está falando para que possamos falar (retornar) interagindo com o conteúdo apresentado. É no diálogo com o outro e posteriormente consigo mesmo que se originam as primeiras manifestações da reflexão crítica. 
E o diálogo consigo mesmo é a busca pela compreensão da sua própria inserção no contexto social, criando propostas de participação na luta coletiva em prol da transformação social. E valorize as suas curiosidades, pensamentos, questionamentos, buscando dialogar sobre a experiência de estágio supervisionado sejam consigo mesmo (a partir das leituras realizadas), ou com seus interlocutores (professores, supervisores, colegas de estágio ou de turma).
- Concluindo
Todo material coletado através da observação participante, registrado principalmente no diário de campo, bem como aqueles obtidos através de uma escuta atenta, do diálogo e aproximação com todos envolvidos no contexto do estágio supervisionado, será analisado a partir da leitura bibliográfica sobre a área profissional, textos e livros sugeridos na faculdade, ou através da indicação de leitura orientada pela supervisora de campo.

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