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Uma Análise de Direito Comparado dos Animais como Sujeitos de Direitos

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FACULDADE MARTHA FALCÃO WYDEN EDUCACIONAL 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
LUIZA REGINA FERREIRA DEMASI 
 
 
 
 
UMA ANÁLISE DE DIREITO COMPARADO DOS ANIMAIS 
COMO SUJEITOS DE DIREITOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
MANAUS - AM 
2018 
2 
 
LUIZA REGINA FERREIRA DEMASI 
 
 
 
 
 
 
 
UMA ANÁLISE DE DIREITO COMPARADO DOS ANIMAIS 
COMO SUJEITOS DE DIREITOS 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de 
Direito da Faculdade Martha Falcão Wyden Educacional 
como requisito à obtenção do grau de Bacharel em Direito, 
sob a orientação do Professor Doutor Juliano Ralo 
Monteiro. 
Professora da disciplina: Prof. Msc. Maria Bernadete 
Bonini Alves. 
 
 
 
 
MANAUS 
2018 
3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Demasi, Luiza Regina Ferreira. 
D372u Uma análise de direito comparado dos animais como sujeito de direitos. / 
Luiza Regina Ferreira Demasi. Manaus: IESA, 2018. 
 
 61 f. 
 Monografia apresentada ao Instituto de Ensino Superior da Amazônia, Faculdade 
Martha Falcão | Wyden, ao Curso de Direito, 2018. 
 
 Orientador: Prof. Dr. Juliano Ralo Monteiro. 
 
 Bibliografia. 
 1. Natureza jurídica dos animais. 2. Personalidade jurídica. 3. Senciência. 
4. Ecocentrismo. 5. Bem-estar animal. I. Faculdade Martha Falcão | Wyden. II. Título. 
 CDD 342.81 
 
4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
À Cookie, 
um único animal que me 
inspira a lutar pelos direitos de todos. 
5 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Primeiramente, a Deus, por me guiar em direção ao Direito e por me permitir uma 
graduação inestimável. 
Aos meus pais e meus avós por tudo o que sempre fizeram por mim e por sempre me 
ensinarem a ser a melhor que eu posso ser. 
Ao meu pai, por me ensinar a sempre aproveitar oportunidades e por me apoiar em 
tudo. 
À Cookie, por me mostrar o caminho que hoje sigo, em defesa de todos os animais. 
Ao orientador, Prof. Dr. Juliano Ralo Monteiro, pelo acompanhamento e orientação. 
Aos Prof. Msc. Aluísio Celso Affonso Caldas e Dr. Adalberto Carim Antônio, pelos 
ensinamentos, contribuições, sugestões e amizade. 
Ao Curso de Direito da Faculdade Martha Falcão Wyden Educacional, na pessoa do 
coordenador Andrei Sicsú por proporcionar uma excelente graduação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“A grandeza de uma nação pode ser julgada 
pelo modo que seus animais são tratados” 
Mahatma Gandhi 
7 
 
RESUMO 
 
Utilizando do método bibliográfico, por meio de análise da atual legislação, da doutrina 
na área, estudos científicos e do neoconstitucionalismo, comparando o ordenamento jurídico 
brasileiro com aqueles de outros países, esta monografia tem o objetivo de analisar jurídico-
socialmente a possibilidade de alteração no status jurídico dos animais de coisa à sujeito de 
direitos, explanando quanto às principais teorias que justificam tal mudança, considerando a 
senciência e o papel dos animais na sociedade, buscando o objetivo de demonstrar a necessidade 
de reconhecer os animais como sujeitos de direitos, para que possam ser protegidos de forma 
plena e eficaz. 
 
Palavras-chave: natureza jurídica dos animais – personalidade jurídica – senciência – 
Ecocentrismo – bem-estar animal. 
 
8 
 
ABSTRACT 
 
By making use of the bibliographic method, by analysis of the current law, specialized 
doctrine, scientific studies and of the Neoconstitutionalism, comparing the Brazilian legal 
system with those of other countries, this monograph has the goal of Juridicaly and socialy, the 
change in the juridical status of the animals from thing to subject of rights, expounding about 
the main theories that justify said change, considering sentience and the animals’ role in society, 
searching the goal of demonstrating the need of recognizing animals as subjects of rights, so 
that their rights may be protected plainly and effectively. 
 
Keywords: juridical nature of animals – legal personhood – sentience – ecocentrism – 
animal welfare 
 
9 
 
SUMÁRIO 
 
 
1. INTRODUÇÃO 10 
2. ANTROPOCENTRISMO X ECOCENTRISMO 12 
2.1. A NATUREZA COMO SUJEITO DE DIREITOS NA PRÁTICA 17 
2.2. OS ANIMAIS E A SOCIEDADE 19 
3. OS ANIMAIS COMO SUJEITOS DE DIREITOS 24 
3.1. AS PRINCIPAIS TEORIAS A FAVOR DA ALTERAÇÃO NO STATUS 
JURÍDICO DOS ANIMAIS 27 
3.2. SENCIÊNCIA 37 
4. O CENÁRIO ATUAL DOS ANIMAIS NÃO-HUMANOS NO DIREITO 
BRASILEIRO 44 
4.1. O CENÁRIO INTERNACIONAL DOS ANIMAIS COMO SUJEITOS DE 
DIREITOS 47 
4.2. O BEM-ESTAR ANIMAL NA UNIÃO EUROPEIA 49 
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 54 
6. BIBLIOGRAFIA 56 
 
 
10 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
Desde os primórdios do Direito, o ser humano é o único ser vivo a ter qualquer tipo de 
proteção jurídica. Criam-se normas para regular a vida em sociedade, desenvolvem-se teorias 
sobre a evolução humana e elaboram-se novos métodos de assegurar sua dignidade. Porém, ao 
agir dessa forma, egocentricamente, o Homem criou o hábito de se afastar moralmente dos 
outros seres vivos, desenvolvendo a noção de que tudo aquilo que não fosse humano seria 
objeto, coisa, bem móvel ou imóvel. 
Ao coisificar tudo aquilo que o cerca, o ser humano determinou que tudo o que não lhe 
seja semelhante deve lhe servir de acordo com a sua vontade. Jamais uma coisa poderia ser 
inteligente, quiçá ter sentimentos. 
Essa ausência de empatia justificou as ações humanas quanto aos testes em outras 
espécies de animais, verdadeiras torturas físicas e psicológicas. Além dos abandonos, maus-
tratos, entre outros. O Homem se orgulha de mostrar na televisão sem qualquer tipo de censura 
alguém decapitando outro ser vivo em seu habitat natural e arrancando suas entranhas por seu 
bel prazer. 
Porém, algumas pessoas perceberam que talvez esse modo de pensar e agir não seja o 
mais adequado e começaram a estudar, a analisar o comportamento de outras espécies animais, 
observar com cuidado aqueles cachorros, gatos, que conviviam em suas casas, juntamente da 
família. Será que aqueles animais poderiam ter sentimentos? Será que teriam a capacidade de 
raciocínio? E, caso positivo, como o ordenamento jurídico deve reagir? 
Tais dúvidas fizeram com que cientistas dedicassem suas vidas ao estudo dos animais, 
seus sentimentos, sua inteligência, seu papel na sociedade e, por consequência, a forma que o 
Direito os protege e sua efetividade. 
No Brasil, a discussão quanto à natureza jurídica dos animais é cada vez mais comum, 
havendo movimentações legislativas em favor do reconhecimento dos animais como sujeitos 
de direitos. 
Outros países tratam do assunto de diversas formas, como pelo prisma do 
neoconstitucionalismo na América Latina, cuja proposta é interessante e merecedora de análise. 
A França, Alemanha e os Estados Unidos também possuem posicionamentos relevantes quanto 
a possibilidades de garantia do bem-estar animal. 
11 
 
Como se é sabido, os animais possuem papel importantíssimo na história humana, 
servindo como alimento, vestimenta, auxiliar nas caças, etc. Tanto os evolucionistas quanto os 
criacionistas concordam com isso. Inclusive, de acordo com os evolucionistas, o ser humano é 
descendente dos animais. Ora, se Deus criou os animais antes de nós, o ser humano não lhes é 
superior e, da mesma forma, se o homem vem do macaco, pela lógica, chamá-los de coisa é nos 
comparar a coisas. 
É indiscutível que o cachorro é o melhor amigo do homem, porém, o contrário muitas 
vezes não é verídico, como se pode perceber pelo fato de que reconhece-lo como ser dotado de 
inteligência e sentimentos, logo, merecedor de ser considerado sujeito de direitos, é de difícil 
aceitação no Brasil, ao contrário de diversos ordenamentos jurídicos ao redor do mundo. 
Neste trabalho, cujoobjetivo principal é o estudo, por meio do direito comparado, das 
razões pelas quais os animais merecem e devem ser reconhecidos pelo Direito como sujeitos de 
direitos, será analisado, primariamente, o Ecocentrismo em contrapartida ao Antropocentrismo, 
além da compreensão da senciência e de observação quanto às diversas formas com que outros 
países tratam do tema, juntamente da criação do desenvolvimento sustentável e o papel histórico 
do animal na sociedade. 
Logo após, serão analisadas as diversas teorias que justificam a mudança no status 
jurídico dos animais, incluindo exemplos reais em que os animais foram parte em ação judicial, 
e explanando quanto à senciência e a forma com que a ciência auxilia o Direito a ser justo. 
Também será tratado do cenário atual envolvendo animais como sujeito de direitos, no 
Brasil e em outros países, incluindo a União Europeia, para que se possa verificar o que 
acontece na prática ao conceder personalidade jurídica aos animais. 
O Direito possui sua função social apenas quando se atualiza de acordo com as 
mudanças da sociedade, de forma que este assunto se torna cada vez mais relevante no cenário 
atual brasileiro, devendo o Direito reagir rapidamente, regulamentando uma situação social que 
tende apenas a crescer mais. 
 
12 
 
2. ANTROPOCENTRISMO X ECOCENTRISMO 
 
O ser humano, principalmente a sociedade ocidental, evoluiu de forma a acreditar ser o 
centro de tudo, utilizando de argumentos baseados em falácias, como a de que o Homem é o 
único ser vivo racional, ignorando todo e qualquer tipo de inteligência presente no reino animal. 
Dessa forma, o Homem justifica sua superioridade absoluta em relação aos outros seres 
vivos, agindo antagonicamente, criando situações de “nós versus eles”. Um exemplo é o caso 
de um menino na cidade de Cascavel, Paraná, que, em uma ida ao zoológico, aproveitou a falta 
de atenção de seu pai, pulou a cerca de segurança e colocou o seu braço dentro da jaula de um 
tigre chamado Hu. O animal, agindo por instinto mordeu o braço da criança de 11 anos, que foi 
levado ao hospital, sobreviveu, porém, teve que amputar seu braço direito. O caso recebeu alto 
enfoque midiático, com a população em geral e as autoridades pedindo ao zoológico que 
“sacrificassem” o animal. Enquanto isso, ao acordar no hospital, com o braço amputado, o 
menino implorou que nada fosse feito ao tigre.1 
Uma criança, de 11 anos, cujo braço direito fora amputado devido à mordida de um 
animal selvagem em um zoológico, foi o único que percebeu a ausência de culpabilidade do 
tigre Hu, implorando por sua vida.2 
Hu teve sua vida poupada graças ao pedido do menino.3 
Para alguns é simplesmente lógico que se mate o tigre, como forma de punição pelo seu 
comportamento. Não lhe é reconhecida inteligência para possuir direitos, porém, quando 
convém, lhe é imputada responsabilidade por seus atos. 
O Antropocentrismo trata o ser humano como superior a tudo e todos, o que causa 
distanciamento filosófico das outras espécies. Algo que é considerado impensável de ser feito 
com outros humanos, pode ser visto como opção de ser feito com animais. 
 
1 G1 PR. Criança é atacada por tigre no zoológico de Cascavel, diz bombeiro. G1, Cascavel, 30 jul. 2014. 
Disponível em: <http://g1.globo.com/pr/oeste-sudoeste/noticia/2014/07/crianca-e-atacada-por-tigre-no-
zoologico-de-cascavel-diz-bombeiro.html>. Acesso em 18 out. 2018 às 01:13. 
2 G1 PR. Menino atacado por tigre pediu para que não matasse o animal, diz pai. G1, Cascavel, 03 ago. 2014. 
Disponível em: <http://g1.globo.com/pr/oeste-sudoeste/noticia/2014/08/ninguem-sabe-dor-que-eu-tenho-diz-pai-
de-menino-atacado-por-tigre.html>. Acesso em 18 out. 2018 às 01:19. 
3 ROSEGUINI, Guilherme e CONDE, Paulo Roberto. Atacado por tigre em 2014, Vrajamany Rocha desponta no 
esporte e nada por sonho de ir à Paralimpíada. Globo Esporte, São Paulo, 14 out. 2018. Disponível em: 
<https://globoesporte.globo.com/paralimpiadas/noticia/atacado-por-tigre-em-2014-vrajamany-rocha-desponta-
no-esporte-e-nada-por-sonho-de-ir-a-paralimpiada.ghtml>. Acesso em 18 out. 2018 às 01:32. 
13 
 
Esse modo de pensar e agir não era visto como um problema social na era do 
hiperdesenvolvimentismo, em que tudo podia ser sacrificado desde que o objetivo final fosse 
progresso e prosperidade. Essa filosofia de vida fora adotada sem restrições, o que causou 
enorme prejuízo ambiental. Finalmente, com a Conferência de Estocolmo, em 1972, as Nações 
Unidas demonstraram a importância e urgência da necessidade de preservação ambiental. Pela 
primeira vez, os países se reuniram com o objetivo de desenvolver formas práticas e efetivas 
para a realização do desenvolvimento econômico, juntamente com atenção especial às 
necessidades do meio ambiente. 
Obviamente, não se podia falar em planos globais, era necessário começar em âmbitos 
menores, com países incentivando vagamente seus cidadãos a agirem dentro do conceito recém-
criado do ecodesenvolvimento, em que se preza pelo desenvolvimento econômico e 
tecnológico, porém considerando os recursos finitos do planeta e o bem-estar das outras 
espécies. Com o passar dos anos, o tema evoluiu, aumentando seu significado e âmbito de 
atuação. 
Em 1992, 20 anos após a Conferência de Estocolmo, aconteceu a ECO 92, em que 
nasceu o Relatório da Comissão Mundial para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, também 
conhecido como Relatório Brundtland, ou por seu título oficial “Nosso Futuro Comum”. Neste 
documento, nasceu o conceito de desenvolvimento sustentável, como hoje conhecemos. 
O objetivo do desenvolvimento sustentável é bem simples: atender as necessidades do 
ser humano, sem comprometer que, no futuro, outros possam atender suas próprias 
necessidades, situação em que, de acordo com Machado, “o conceito de sustentabilidade passa 
a qualificar ou caracterizar o desenvolvimento”.4 
Mesmo com evidente evolução filosófica, ainda é possível perceber um viés 
antropocêntrico presente no objetivo do Relatório Brundtland, já que está sendo protegido o 
meio ambiente para que o ser humano possa eternamente usufruir de seus recursos, ignorando 
o fato de que estes são finitos e suas consequências para a natureza. 
Machado afirma que “de longa data, os aspectos ambientais foram desatendidos nos 
processos de decisões, dando-se um peso muito maior aos aspectos econômicos”, de forma que 
 
4 MACHADO, Paulo Afonso Leme. Direito Ambiental brasileiro. 25. ed. São Paulo: Editora Malheiros, 2017, p. 
63. 
14 
 
aqueles que se esforçam para proteger o direito de todos ao meio ambiente eram ignorados em 
prol de um desenvolvimento desenfreado e desatento aos mínimos cuidados sustentáveis. 
O autor cita Daly para enfatizar que 
 
“A mudança de visão envolve a substituição da norma econômica de expansão 
quantitativa (crescimento) por aquela da melhoria qualitativa 
(desenvolvimento) como caminho para um futuro progresso. Esta mudança 
encontra resistência da maioria das instituições econômicas e políticas, que 
estão alicerçadas no tradicional crescimento quantitativo”.5 
 
Muitos anos se passaram até que a sociedade chegasse ao entendimento de que existe 
uma Ética Global, ou Ética Planetária. Pode-se conceituar esta nova filosofia como agir de 
forma a não impedir que outros seres vivos o deixem de ser e os permitindo de se reproduzirem 
e evoluírem juntamente ao ser humano. 
É clara a mudança no pensamento. Antes, se preocupava com o meio ambiente pura e 
simplesmente para que gerações humanas futuras pudessem continuar a viver de forma 
confortável, enquanto agora, a proteção ambiental se dá para que os todos os seres vivos possam 
continuar a viver e evoluir igualmente. 
A ECO 92 plantou a semente do Ecocentrismo, com uma simples frase: “Pensar 
globalmente, agir localmente”. 
Deste quase mantra ecológico, nasceram diversosmovimentos culturais, como por 
exemplo o conhecido como Ecologia Profunda (Deep Ecology), em que Aldo Leopold, 
considerado pai do movimento, na sua obra “L’éthique de la terre”, apresenta a genial ideia de 
que igualmente a escravatura, chegará o dia em que a natureza será respeitada e o passado será 
visto com vergonha. 
Leopold explica tal merecimento com o mesmo argumento que Regan justifica a 
necessidade de os animais serem reconhecidos como sujeitos de direitos: pelo fato de haverem 
valor intrínseco.6 
 
5 DALY, 1996 apud MACHADO, Paulo Afonso Leme. Direito Ambiental brasileiro. 25. ed. São Paulo: Editora 
Malheiros, 2017, p. 64 
6 LEOPOLD, Aldo. Deep Ecology. Encyclopedia of Environmental Ethics and Philosophy, v. 2, 2018, p. 2016. 
Disponível em: <http://www.uky.edu/OtherOrgs/AppalFor/Readings/240%20-%20Reading%20-
%20Deep%20Ecology.pdf>. Acesso em 06 dezembro 2018, às 15:26. 
15 
 
Naess, um dos apoiadores do conceito de ecologia profunda, defende o movimento, 
criticando o que ele chama de ecologia rasa. 
 
“A ecologia rasa é antropocêntrica, ou centralizada no ser humano. Ele [sic] vê os 
seres humanos como situados acima ou fora da natureza, como a fonte de todos os 
valores, e atribui apenas um valor instrumental, ou de “uso”, à natureza. A ecologia 
profunda não separa seres humanos – ou qualquer outra coisa – do meio ambiente 
natural. Ela vê o mundo, não como uma coleção de objetos isolados, mas como uma 
rede de fenômenos que estão fundamentalmente interconectados e interdependentes. 
A ecologia profunda reconhece o valor intrínseco de todos os seres vivos e concebe 
os seres humanos apenas como um fio particular na teia da vida”.7 
 
O autor também apresenta ideias similares às de Tom Regan, o que se pode ver com 
clareza ao analisar os princípios que Naess estabeleceu para a ecologia profunda. 
 
“1) O bem-estar e o florescimento da Vida humana e não-humana na Terra têm valor 
em si mesmos (sinônimos: valor intrínseco, valor inerente). Esses valores são 
independentes da utilidade do mundo não-humano para finalidades humanas. 
2) A riqueza e a diversidade das formas de vida contribuem para a concretização 
desses valores e, também são valores em si mesmas. 
3) Os seres humanos não têm o direito de reduzir essa riqueza e diversidade, a não ser 
para a satisfação de necessidades vitais”.8 
 
Em outras palavras, a ecologia profunda pode ser vista como uma filosofia de vida, 
sendo que se os seres humanos seguirem estas três regras, razoavelmente simples, todos vivem 
em completa harmonia. 
“O ideal da ecologia profunda seria um mundo em que as épocas perdidas e os 
horizontes longínquos teriam a precedência sobre o presente”.9 
A filosofia ecocêntrica permite que diversos ramos sejam criados, como, por exemplo, 
a economia verde, em que se deve haver um esforço social e estatal para cumprir com o objetivo 
 
7 CAPRA, Fritjof. Ecologia profunda: Um novo paradigma apud KURATOMI, Vivian Akemi. Os animais como 
sujeitos de direito no ordenamento jurídico brasileiro. 2011. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em 
Direito) - Faculdade de Ciências Jurídicas e Ciências Sociais - FAJS. São Brasília, 2011, p. 38. 
8 SINGER, Peter. Ética prática. 3. Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002, p. 296 apud KURATOMI, Vivian Akemi. 
Os animais como sujeitos de direito no ordenamento jurídico brasileiro. 2011. Trabalho de Conclusão de Curso 
(Graduação em Direito) - Faculdade de Ciências Jurídicas e Ciências Sociais - FAJS. São Brasília, 2011, p. 39 
9 BOFF, Leonardo. Ecologia: Grito da terra, grito dos pobres. São Paulo: Ática, 1995, p. 215 apud KURATOMI, 
Vivian Akemi. Os animais como sujeitos de direito no ordenamento jurídico brasileiro. 2011. Trabalho de 
Conclusão de Curso (Graduação em Direito) - Faculdade de Ciências Jurídicas e Ciências Sociais - FAJS. São 
Brasília, 2011, p. 40. 
16 
 
de desenvolver uma economia que não seja puramente focada no modelo de alto carbono, mas 
também na máxima “menos é mais”, onde se encontra a reciclagem. 
Milaré descreve que a economia verde só poderá funcionar se superar “a sociedade de 
consumo, com a busca de outros valores além dos econômicos”, porém, não se pode 
simplesmente impedir que a economia se comporte fluidamente, sob risco de não funcionar 
e/ou gerar uma crise econômica é imprescindível que se compreenda que a melhor forma de 
fazer com que a economia verde realmente funcione, é por meio do incentivo à empresas 
sustentáveis.10 
Por exemplo, é perceptível que existe demanda para empresas que vendem produtos 
orgânicos, reciclados, que não tenham sido testados em animais ou ainda, que sejam feitos com 
material vegetal. Empresas colocam orgulhosamente em suas embalagens anúncios de que são 
veganas, ou animal friendly. Algumas ainda criam campanhas de luta contra os testes em 
animais. Ou seja, usam do desenvolvimento sustentável para crescer economicamente. 
A sociedade e a economia são extremamente interligadas, de forma que quanto maior a 
conscientização do povo sobre questões ambientais, mais ele se interessará por produtos 
sustentáveis, o que fará com que mais empresas tenham esse enfoque, gerando mais 
conscientização e, assim, criando um ciclo sustentável. 
Michel Serres, em sua obra Le contract natural (1991), criticou o antropocentrismo, 
explanando quanto a necessidade da proteção dos direitos da natureza, vindo a criar o conceito 
de um contrato natural com o meio ambiente, fazendo referência ao contrato social, de 
Rousseau. 
Este contrato natural serviria para colocar o universo como sujeito de direito, excluindo 
de forma definitiva a filosofia antropocêntrica, devendo-se, a partir disso, proteger o ser 
humano, os animais e todo o meio ambiente de forma igualitária, com a devida equidade, 
baseado no argumento dos direitos intrínsecos. 
Serres (1991) justifica essa necessidade de um novo contrato explanando que o ser 
humano comete os atuais absurdos ambientais por entender que não haverá punição. Logo, ao 
transformar o meio ambiente em um sujeito que pode ser parte ativa em um conflito, o Homem 
se tornará mais cauteloso com suas ações e em como estas afetam a natureza. 
 
10 MILARÉ, Édis, Direito do ambiente. 10. Ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015, p. 105. 
17 
 
Assim, estaria firmado um contrato natural entre o ser humano e a natureza. Enquanto 
um cumprir com os seus deveres, o outro também o fará, mas quando alguém desrespeitar a 
natureza, é possível que se tomem atitudes jurídicas para reparar o dano. 
Interessante notar que, apesar de um não citar o outro, a teoria do contrato natural de 
Serres se assemelha à figura latina da Pachamama, onde é possível encontrar exemplos reais 
da natureza como parte ativa em um processo judicial. 
 
 
2.1. A NATUREZA COMO SUJEITO DE DIREITOS NA PRÁTICA 
 
Recentemente, em março de 2017, o parlamento da Nova Zelândia foi pioneiro na 
proteção ambiental, quando decidiu por conceder personalidade jurídica ao rio Whanganui, o 
terceiro mais longo do país, considerado sagrado pelos maoris. A Lei Te Awa Tupua (antigo 
rio, em maori) torna o rio pessoa jurídica, podendo qualquer maori ou ente público ser parte 
ativa ou passiva em qualquer ato da vida civil, igualmente às pessoas jurídicas. 
Cinco dias depois da aprovação da Lei Te Awa Tupua, a Alta Corte de Uttarakhand, na 
Índia concedeu personalidade jurídica aos rios Ganges e Yumana. A principal diferença entre 
esta decisão e a neozelandesa é a de que, na Índia, qualquer cidadão poderá impetrar com ação 
em nome dos rios, enquanto na Nova Zelândia apenas os maoris ou ente público o pode fazer. 
Um país que pode ser considerado exemplo na prática do Ecocentrismo é a Alemanha, 
cuja legislação reconhece a necessidade de proteção de todos os elementos da natureza,sejam 
eles físicos, biológicos ou químicos, com base no argumento de que ambas fauna e flora 
possuem valores intrínsecos. É possível, dessa forma, encontrar diversas medidas protetivas, 
desde a proibição na importação de produtos advindos das baleias até e implementação de 
políticas para a garantia da proteção de espécies ameaçadas de extinção. 
Para efetivamente funcionar na prática, essa proteção ambiental é dividida em três 
níveis, sendo o primeiro (Landschaftsprogramme) meramente informativo, explicitando as 
espécies da fauna e flora necessitadas de proteção. Superior a este, encontra-se o Plano de 
Enquadramento da Natureza (Landschaftsrahmenpläne), onde estuda-se as condições naturais, 
que necessitam de mais proteção, evitando assim, um possível dano ambiental por negligência. 
18 
 
Por fim, existe o Plano da Natureza (Landschaftspläne), em que se descrevem todos os locais 
necessitados de proteção e as atividades que visam a proteção da natureza, de forma detalhada. 
Dessa forma, é possível garantir o meio ambiente local como um todo, devido à 
preservação de espécies em conjunto à de seus habitats. Dentro deste meio protetivo, encontra-
se também a completa vedação aos maus tratos contra animais e qualquer tipo de dano 
injustificado de seus habitats.11 
Na França, a lei n. 2016-1087 foi inovadora ao estabelecer o princípio da não regressão 
ambiental, um dos princípios-base do direito ambiental, determinando que 
 
“Art. 2 – 9º – O princípio da não regressão, segundo o qual a proteção do meio 
ambiente, assegurada pelas disposições legislativas e regulamentares relativas ao 
meio ambiente, só pode ser objeto de constante aperfeiçoamento, levando-se em conta 
o conhecimento científico e técnicas atuais” (tradução nossa).12 
 
Tal princípio está presente na Carta Magna, em seu art. 225, que estabelece que as 
presentes e futuras gerações são essenciais à defesa e preservação ambiental, existindo assim, 
uma equidade intergeracional. Como bem explica Machado, “O relacionamento das gerações 
com o meio ambiente não poderá ser levado a efeito de forma separada, como se presença 
humana no planeta não fosse uma cadeia de elos sucessivos”.13 
Portanto, é possível afirmar que o meio ambiente deve ser tratado de forma justa, sempre 
acompanhando as inovações científicas e, para isso, se deve educar a população para que esteja 
ciente da importância de seu papel na preservação ambiental, podendo, assim, fazê-lo 
corretamente. 
Os exemplos dados pela Nova Zelândia, França, Alemanha e Índia demonstram tanto 
na teoria quanto na prática o meio ambiente sendo efetivamente reconhecido como sujeito de 
direitos e se tornando tal, em diferentes níveis, em cada país. 
 
11 MORRISON, Fred L.; WOLFRUM, Rüdiger. International, regional and national environnmental law. London: 
Kluwer Law International, 2000, p. 699 apud KURATOMI, Vivian Akemi. Os animais como sujeitos de direito 
no ordenamento jurídico brasileiro. 2011. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito) - Faculdade 
de Ciências Jurídicas e Ciências Sociais - FAJS. São Brasília, 2011, p. 65. 
12 FRANÇA, Lei n. 2016-1087, 2016. Texto original: "Art. 2 – 9° – Le principe de non-régression, selon lequel la 
protection de l'environnement, assurée par les dispositions législatives et réglementaires relatives à 
l'environnement, ne peut faire l'objet que d'une amélioration constante, compte tenu des connaissances 
scientifiques et techniques du moment". 
13 MACHADO, Paulo Afonso Leme, 2008 apud Direito Ambiental brasileiro. 25. ed. São Paulo: Editora 
Malheiros, 2017, p. 65 
19 
 
Percebe-se também, a reação em cadeia que ocorre quando um país faz tal 
reconhecimento, explicitando o fato de que os países estão observando as movimentações 
jurídicas de outros, quando tomam determinadas decisões. Assim, está cada vez mais clara a 
necessidade de conceder personalidade jurídica aos entes da natureza, seguindo o 
comportamento das outras nações, para que se possa verdadeiramente praticar o 
desenvolvimento sustentável e realizar uma eficaz proteção ambiental. 
 
 
2.2. OS ANIMAIS E A SOCIEDADE 
 
Historicamente, o cachorro é companheiro do ser humano desde os primórdios da 
humanidade, lhe servindo como cão de guarda, de caça, de pastoreio, entre outros. De acordo 
com a paleoantropóloga americana Pat Shipman, uma das razões pelas quais o ser humano 
conseguiu desenvolver a língua falada foi a necessidade transmitir aos descendentes os 
conhecimentos relacionados à caça de animais para alimentação e o adestramento e criação de 
animais para auxiliarem na caça ou em outras tarefas. 
Ou seja, além do fato de que a presença dos animais ajudou o ser humano em seu 
processo evolutivo, já é possível perceber que desde sempre houve o entendimento de que cada 
espécie de animal possuía um papel diferente na sociedade, podendo servir como vestimenta, 
alimento, auxílio ou companhia. Shipman demonstra que naquela mesma época existem 
registros do entendimento humano quanto à possibilidade de tornar o lobo um ajudante da 
sociedade, podendo este conviver com o Homem de perto. Este entendimento fez com que o 
lobo viesse a se tornar “o melhor amigo do homem” com o passar dos séculos.14 
O Direito brasileiro possui suas raízes mais profundas no Direito Romano, de forma que 
até os dias atuais existem muitas similaridades, como, por exemplo, a distinção em relação às 
coisas. Tudo o que não é humano é coisa, podendo ser res nullius (coisa de ninguém), res 
derelictae (coisa abandonada) e res communes omnium (coisas comuns passíveis de serem 
parcialmente apropriadas). 
 
14 SHIPMAN, Pat. The Animal Connection: A New Perspective on What Makes Us Human. Pennsylvania: W. W. 
Norton & Company, 2011. 
20 
 
Especificamente quanto aos animais, o Direito Romano determinava que eram 
adquiridas, por direito natural, as coisas cuja propriedade vinha da tradição e as advindas por 
ocupação, a coisa achada. Dessa forma, se alguém encontrasse um animal sozinho, com 
aparência de abandono, poderia lhe tomar para si, porém, se este fugisse, ou voltasse “à 
liberdade natural”, como diz Machado, é possível que outra pessoa obtivesse a sua 
propriedade.15 
Esse entendimento ainda vigora no atual Código Civil brasileiro, como determinado 
pelo art. 1.263: “Quem se assenhorear de coisa sem dono para logo lhe adquire a propriedade, 
não sendo essa ocupação defesa por lei”.16 
Com o passar do tempo, os animais foram tendo papel maior na sociedade, se tornando 
cobaias em testes farmacêuticos, cosméticos, psicológicos, dentre outros. Porém, ao mesmo 
tempo, o ser humano foi se afeiçoando aos animais, os levando para dentro de casa, nascendo, 
assim, o animal de estimação, o pet. A própria expressão defini tudo o que é necessário. O 
animal de estimação é aquele cujo o ser humano possui uma relação de afeto. 
Diversos estudos comprovam esta relação por meio do efeito que a ocitocina, causa 
tanto nos animais quanto nas pessoas. Dentre eles, um realizado pela universidade japonesa de 
Azabu, como demonstra Rodrigues.17 
Nesse estudo concluiu-se que o hormônio, também conhecido como hormônio do amor, 
é liberado durante a gravidez, conectando a mãe ao seu bebê, e atuando, também, nos níveis de 
cortisona nos seres humanos, diminuindo o stress e a ansiedade. 
Não se pode esquecer que hoje existem centenas de núcleos familiares cuja composição 
é um humano e um animal, podendo ser por dificuldade em se conectar com outros seres 
humanos, necessidade, ou por escolha. Como por exemplo, pessoas com síndrome do pânico 
que necessitam de cão-guia. Relevante é, o fato de que naquele determinado núcleo familiar 
residem uma pessoa e um animal. 
 
15 MACHADO, Paulo Afonso Leme. Direito Ambiental. 20. ed. São Paulo: Editora Malheiros, 2012,p. 908 – 909. 
16 BRASIL. Código Civil Brasileiro: Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002, art. 1.263. 
17 RODRIGUES, Susana Gabriella Prudente Rodrigues. O rompimento de relações pessoais e o destino do animal 
de estimação: divisão de bens ou guarda? Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito) – Universidade 
Tiradentes - UNIT. São Aracaju, 2015. 
 
21 
 
Nas palavras do Ministro do STJ, Luís Felipe Salomão, “hoje há famílias sem filhos, 
uma pessoa e um animal, duas pessoas e dois animais. Não vejo aqui um protagonismo 
exacerbado, vejo uma realidade que só avança”.18 
Hoje, existem cursos especializados em direitos dos animais em diversos países, como 
na Espanha, Estados Unidos, França, Austrália e Brasil. 
Esse fato demonstra a inegável importância dada aos animais de estimação, 
principalmente quando verificamos a existência de planos de saúde animal, chips intercutâneos 
para facilitar a identificação em caso de perda, sequestro ou fuga. 
A sociedade humana deve grande parte de seu processo evolutivo aos animais e, com o 
passar dos anos, criou-se uma ligação com eles, que não há como ser desfeita. 
Proteger os animais e a natureza em geral significa reconhecer que o ser humano não é 
o centro do universo, mas sim, parte dele, sendo sua obrigação conviver em harmonia com 
aquilo que o cerca. 
Esse pensamento não é nenhum tipo de absurdo, principalmente se lembrarmos que a 
própria figura da pessoa jurídica nasceu devido à necessidade humana de ter uma figura 
reconhecida pelo Direito para que haja maior segurança jurídica. 
Como bem explica Gonçalves, a pessoa jurídica é resultado de um fenômeno histórico 
e social que, percebendo uma necessidade jurídica da organização de pessoas e bens, atribuiu 
personalidade própria a este grupo. Ou seja, são “entidades a que a lei confere personalidade, 
capacitando-as a serem sujeitos de direitos e obrigações”.19 
Maria Helena Diniz explana que o Direito concedeu personalidade e capacidade jurídica 
a grupos humanos para que estes pudessem participar da vida jurídica, com certa 
individualidade e em nome próprio.20 
O ordenamento jurídico não sabia lidar com o crescimento de demanda para uma 
regularização jurídica, surgindo assim a ideia de que deveria ser criada uma forma de 
 
18 COELHO, Gabriela. STJ se divide sobre dever de o Judiciário regulamentar guarda de animais. Disponível em: 
<https://www.conjur.com.br/2018-mai-23/stj-divide-dever-judiciario-regular-guarda-animais>. Acesso em: 
18/08/2018 às 9h32. 
19 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil brasileiro, volume 1: parte geral. 15. Ed. São Paulo: Saraiva, 2017, 
p. 221. 
20 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, volume 1: teoria geral do direito civil. São Paulo: Saraiva, 
2012, p. 263 – 265. 
22 
 
equiparação destes grupos humanos à pessoa humana, pelo menos no tocante aos atos civis 
relevantes ao tema. 
A origem da pessoa jurídica é discussão de três principais teorias, sendo a primeira 
criada por Savigny, que afirma ser a pessoa jurídica uma ficção dos legisladores para 
representar alguma situação ou necessidade não definível, pois lhe faltava uma reflexão prática 
em relação aos acontecimentos realísticos. 
O ordenamento jurídico da época sentia necessidade de satisfazer os requisitos 
essenciais de realidade contingente, de forma que se percebeu a lógica em criar uma figura 
artificial, simulando as características e efeitos da pessoa humana, com seus direitos e deveres. 
Outra teoria, defendida por Windcheid e Brinz, entende ser a pessoa jurídica patrimônio 
equiparado no seu tratamento jurídico às pessoas naturais, porém, como bem explica Diniz, esta 
teoria não pode ser considerada a mais correta devido a sua equiparação entre bens e sujeitos 
de direitos. Não se é lógica a equiparação de uma cadeira, mesa, cama, a um ser vivo. 
Há também a teoria de Gierke e Zietelmann que afirma existirem realidades objetivas e 
orgânicas. As primeiras são representadas pela pessoa natural, o ser humano, enquanto as 
orgânicas são as pessoas jurídicas, que possuem existência e vontade própria. Vontade esta que 
pode diferir da de seus membros. Não se pode considera-la a mais correta pelo simples fato 
desta afirmar que a pessoa jurídica per se possui vontade própria, já que “o fenômeno volitivo 
é peculiar ao ser humano e não ao ente coletivo”.21 
Finalmente, a teoria da realidade das instituições jurídicas, de Hauriou, que engloba 
todas as anteriores. “A personalidade jurídica é um atributo que a ordem jurídica estatal outorga 
a entes que o merecem”.22 
Essas teorias também podem ser utilizadas em relação ao estudo dos animais como 
sujeitos de direitos, devido ao fato de que existe uma necessidade sócio-jurídica para que o 
Direito faça esse reconhecimento, aplicando a teoria de Savigny, mas não apenas isso, o animal 
pode ser uma realidade orgânica, com sua existência e vontade própria, se aplicarmos a teoria 
de Gierke. Seria também extremamente simplista seguir a teoria de Windcheid, que está 
equivocado em sua equiparação de bens e sujeitos de direitos entre si. 
 
21 Idem. 
22 Idem, p. 265. 
23 
 
Porém, aplicando a teoria da realidade das instituições jurídicas neste caso, o animal 
possuirá personalidade jurídica se e quando o ordenamento jurídico o conceder tal direito, 
igualmente o ocorrido com as pessoas jurídicas, que possuem personalidade jurídica apenas 
quando existe uma determinação legal para isso. 
 
24 
 
3. OS ANIMAIS COMO SUJEITOS DE DIREITOS 
 
O Direito age de acordo com as mudanças sociais. Em se tratando de animais como 
sujeitos direitos, pode-se dizer que a humanidade começou a voltar a sua atenção aos não-
humanos com as descobertas de Darwin, de que a origem genética do ser humano advém do 
macaco, criando-se assim, a teoria evolucionista da evolução humana. 
Logicamente, sendo o Homem um descendente genético dos animais, tende-se a 
desenvolver empatia por estes. 
Analisando a evolução do conceito de sujeito de direitos, é clara a percepção de que é 
impossível se utilizar a mesma visão jurídica sobre algo/alguém por um longo tempo. Um 
exemplo claro é o período da escravatura, quando seres humanos escravizaram outros seres 
humanos. A sociedade precisou evoluir muito para que todos fossem vistos juridicamente como 
pessoas, como iguais. Isso não significa que todos os membros da sociedade, sem exceção, 
aceitaram que isso fosse feito dessa forma, muito menos que atualmente esse problema não 
persista. 
Silva explana sobre a diferença entre direitos legais e morais, afirmando que os 
primeiros são decorrentes da evolução de cada sociedade, onde determinados indivíduos não 
são reconhecidos como sujeitos de direitos em um determinado momento, porém, de acordo 
com a evolução que tal sociedade passa, a igualdade social pode aumentar. 
Em contrapartida, os direitos morais devem ser universais, com todos os indivíduos 
convivendo em perfeita igualdade.23 
 
Esta visão [direito moral] diferencia-se daquela [direito legal] que pensava o conceito 
de direito como resultado do sistema jurídico e apenas dele, Regan prefere o 
pensamento, apesar de ainda utilitarista de Stuart Mill que não restringe a visão de 
direitos apenas àqueles reconhecidos pelas normas existentes.24 
 
É possível perceber, assim, que a sociedade ocidental, em geral, costumava adotar o 
modelo dos direitos legais, restringindo os direitos (stricto sensu) dos indivíduos, porém, por 
volta da década de 1960, os ordenamentos jurídicos começaram a compreender o egoísmo e 
preconceito existente em tal forma de pensar, com os movimentos sociais adquirindo seu 
 
23 SILVA, Tagore Trajano de Akmeida. Introdução aos direitos dos animais. Revista de Direito Ambiental, 
Fortaleza: Editora RT (Revista dos Tribunais), volume62/2011, abril - junho, 2011, p. 10. 
24 Idem. 
25 
 
espaço. Dessa forma, o Direito evoluiu no conceito dos direitos morais, pondo em prática a 
ideia de que todos os seres humanos merecem possuir os mesmos direitos entre si. 
Tal evolução social é contínua, de forma em que hoje estuda-se a possibilidade de não 
apenas a espécie humana possuir direitos, mas também outras espécies. 
De acordo com Hans Kelsen, a figura da pessoa é apenas uma expressão física, uma 
unidade personificada das normas jurídicas que lhe impõem deveres e lhe conferem direitos. 
Sendo assim, a pessoa, tanto física quanto jurídica, é mera personificação do complexo 
destes direitos e deveres, figurativamente expressa no conceito de pessoa, justificando, desta 
forma, a criação de diversas classificações de pessoas, além da pessoa física, como a pessoa 
jurídica e a pessoa não-humana.25 
Maria Helena Diniz explana bem quanto ao conceito kelseniano de sujeito de direitos, 
esclarecendo que este é “um conceito auxiliar que facilita a exposição do direito”, não sendo 
“um indivíduo ou uma comunidade de pessoas, mas a unidade personificada das normas 
jurídicas que lhe impõem deveres e direitos”.26 
Segundo Nelson Rosenvald, apesar de os animais não serem sujeitos de direitos, é 
impossível, mesmo para aqueles com visão antropocêntrica, que os animais sejam tratados 
como um objeto inanimado. Para ele, o reconhecimento dos seres da natureza como possuidores 
de status próprio não significa que estes sejam sujeitos de direito, mas apenas que não se pode 
“coisificar a natureza, de modo insensível e desconforme com os avanços científicos mais 
recentes”.27 
Regan explana quanto às principais justificativas para a determinação exclusiva dos 
seres humanos como sujeitos de direitos e demonstra os motivos pelos quais tais justificativas 
estão errôneas.28 
Por exemplo, diz-se que os seres humanos são os únicos sujeitos de direito por serem 
autoconscientes, que se caracteriza como a capacidade de estar ciente de sua própria presença 
no mundo e de sua própria mortalidade. Contudo, de acordo com o autor, crianças se tornam 
 
25 KELSEN, Teoria pura do direito, 2. Ed, 1962, volume 1, p.320 apud DINIZ, Maria Helena. Curso de direito 
civil brasileiro, volume 1: teoria geral do direito civil. 2012, p. 130 e 162. 
26 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, volume 1: teoria geral do direito civil. 2012. 
27 ROSENVALD, Nelson. Direito civil, volume único, 2017, p. 285. 
28 REGAN, Tom. Jaulas vazias: Encarando o desafio dos direitos animais. Porto Alegre: Editora Lugano, 2006, p. 
62 
 
26 
 
autoconscientes com cerca de nove ou dez anos. Ou seja, estas não seriam sujeitos de direitos 
durante a primeira década de suas vidas, o que se pode facilmente afirmar por ser um absurdo.29 
Além disso, há o argumento de que o ser humano vive em uma comunidade moral, ou 
seja, ao invés de depender da capacidade de autoconsciência de cada indivíduo, usa-se a ideia 
de que a sociedade, de forma geral, compreende e pratica os direitos morais. Entretanto, Regan 
explica a impossibilidade de se utilizar tal justificativa por meio de um exemplo, onde a 
sociedade acredita na existência de bruxas e se justifica a existência de bruxas pelo puro e 
simples fato de que os seres humanos acreditam em bruxas. Logo, o simples pensamento 
uniforme de uma sociedade não pode ser usado como válido para determinar se alguém é ou 
não sujeito de direitos.30 
Outra afirmativa refutada por Regan, talvez a mais comum, é a de que os seres humanos 
são as únicas pessoas do ordenamento jurídico, porém, como bem explica o autor, essa lógica 
apenas faria efeito se todos os seres humanos fossem pessoas, sendo que, na realidade, os 
nascituros não possuem personalidade jurídica, apenas uma expectativa de direitos.31 
Ou seja, não se pode afirmar que apenas os seres humanos podem ser pessoas quando 
nem mesmo dentro da espécie humana todos os indivíduos são pessoas. Assim, muitos 
animalistas utilizam da nomenclatura pessoa não-humana para tratar dos animais, pois se usa 
o termo pessoa como indicativo de um indivíduo, sendo necessário apenas a indicação quanto 
à sua humanidade ou não. 
Quanto ao conceito de personalidade jurídica, esta se caracteriza como a capacidade de 
ser titular de direitos e obrigações em um ordenamento jurídico. Flávio Tartuce explica de 
forma objetiva a personalidade jurídica como sendo “a soma de caracteres corpóreos e 
incorpóreos da pessoa natural ou jurídica, ou seja, a soma de aptidões da pessoa”.32 
Dentro do tema, existem duas principais teorias que tentam justificar a personalidade 
jurídica dos animais. 
 
29 Idem, p. 67. 
30 Idem, p. 69. 
31 Idem, p. 66 – 67. 
32 TARTUCE, Flávio. Direito Civil, v.1: Lei de Introdução e Parte Geral. 13. Ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 
2017, p. 122. 
27 
 
3.1. AS PRINCIPAIS TEORIAS A FAVOR DA ALTERAÇÃO NO STATUS JURÍDICO DOS 
ANIMAIS 
 
A primeira, apresentada por Tom Regan, faz a sugestão de que os animais possuem 
direitos morais, inerentes. De acordo com Regan, “considerar agentes morais como portadores 
de valor inerente é vê-los como diferentes de, e algo mais do que, meros receptáculos do que 
tem valor intrínseco”.33 
Regan faz uso da analogia para explicar a diferença entre valor inerente e intrínseco. Se 
forem colocados interesses, experiências, dentro de um copo, estes terão valor, porém, não o 
terá o copo propriamente dito. Porém, de acordo com a teoria de Regan, o conteúdo do copo é 
irrelevante, já que o copo por si só possui valor. Na primeira, explica-se o valor intrínseco, 
enquanto a segunda demonstra o valor inerente.34 
O autor afirma que o conceito antropocentrista de pessoa sendo apenas o ser humano 
não abrange todos os seres vivos em uma categoria universal, sugerindo assim, a utilização do 
conceito de sujeitos-de-uma-vida. 
 
Como sujeitos-de-uma-vida, somos todos iguais porque estamos todos no mundo. 
Como sujeitos-de-uma-vida, somos todos iguais porque somos todos conscientes do 
mundo. 
Como sujeitos-de-uma-vida, somos todos iguais porque o que acontece conosco é 
importante para nós. 
Como sujeitos-de-uma-vida, somos todos iguais porque o que acontece conosco (com 
nossos próprios corpos, nossa liberdade ou nossas vidas) é importante para nós, quer 
os outros se preocupem com isso, quer não. 
Como sujeitos-de-uma-vida, não há superior nem inferior, não há melhores nem 
piores. 
Como sujeitos-de-uma-vida, somos todos moralmente idênticos. 
Como sujeitos-de-uma-vida, somos todos moralmente iguais.35 
 
A ideia de sujeitos-de-uma-vida traz, assim, a noção de que todos aqueles que possuem 
interesse no convívio em sociedade, sendo que esta existe em prol da garantia dos direitos uns 
dos outros, merecem ser sujeitos de direitos. 
 
33 REGAN, Tom, 2004 apud CARDOSO, Waleska Mendes. Considerações sobre a teoria incidental dos direitos 
dos animais de Tom Regan, 2011. Disponível em: 
<http://ebooks.pucrs.br/edipucrs/anais/semanadefilosofia/VIII/1.15.pdf>. Acesso em 11 set. 18 às 16:38. 
34 Idem. 
35 REGAN, Tom. Jaulas vazias: Encarando o desafio dos direitos animais. Porto Alegre: Editora Lugano, 2006, p. 
62. 
28 
 
A outra teoria, é uma consequência lógica, vinda de Jeremy Bentham, sendo 
futuramente apresentada por Peter Singer, sugerindo que os animais devem ser reconhecidos 
como sujeitos de direitos pelo fato de sentirem dor. Diversos estudos podem embasar esse 
argumento, como por exemplo, o realizado por Hellebrekers, que diz que “pesquisas mostram 
que muitos dos padrões de resposta (quantificáveis) dos animais a estímulos dolorosos são 
semelhantes aos que ocorrem nos seres humanos que passam por situações de dor”.36 
Da mesma forma, é possível entender o comportamento animal e seus sentimentos pormeio da analogia com os humanos. Por exemplo, um elefante que veja seu filhote em situação 
de perigo, fará o possível para salvá-lo. Robert C. Jones realizou um estudo em 2013, em que 
demonstra biologicamente que diversos tipos de animais reagem a ferimentos da mesma forma 
que os humanos.37 
Pode-se dizer que isso é apenas instinto, porém, o que seria o instinto se não uma forma 
de inteligência? Como bem disse Coudereau, o instinto é um “poder em algum sentido orgânico 
em virtude do qual um órgão ou tecido executa suas funções para satisfazer suas necessidades 
particulares. O instinto do animal é a totalidade ou soma dos instintos de seus vários órgãos” 
(tradução nossa)38. 
Singer afirma que a relevância do reconhecimento dos direitos animais não se encontra 
na piedade humana, mas sim, na prática da equidade, em que rege a máxima “tratar igual os 
iguais e desigual os desiguais”, de forma que todos recebam tratamento justo e tenham um 
mesmo resultado. 
Sunstein complementa a teoria de Singer, defendendo a existência de uma hierarquia 
entre aqueles que são sencientes, de acordo com a sua capacidade sensitiva e racional, estando 
o ser humano no topo de tal hierarquia. “Nesta perspectiva, se as formigas e mosquitos não tem 
 
36
HELLEBREKERS, 2002 apud BRAGA, Nívea Corcino Locatelli: BIODIREITO I. em: SOUZA, Eduardo 
Sergio Soares; SILVA, Mônica Neves Aguiar da; RECKZIEGEL, Janaína. (Org.). DIREITO DOS ANIMAIS 
FUNDAMENTAÇÃO E TUTELA. 1ed.João Pessoa: CONPEDI 2014, 2015, v. 1, p. 3-471. 
37 JONES, Robert C. Science, sentience, and animal welfare. 2013. Disponível em: 
<https://animalstudiesrepository.org/cgi/viewcontent.cgi?referer=https://www.google.com.br/&httpsredir=1&arti
cle=1001&context=ethawel>. Acesso em: 10 set. 18 às 16:24. 
38Texto original: "pouvoir en quelque sorte organique en vertu duquel un organe ou un tissu accomplit ses fonctions 
pour satisfaire à ses besoins particuliers. L’instinct de l’animal est l'ensemble ou la somme des instincts de ses 
divers organes" (COUDEREAU, M. L’intelligence et ses rapports avec l’instinct. Bulletins de la Société 
d’anthropologie de Paris, IIª Série, Volume 1, 1866, p. 25. Disponível em: < www.persee.fr/doc/bmsap_0301-
8644_1866_num_1_1_4193>. Acesso em: 10 set. 18 às 17:20). 
 
29 
 
nenhuma reivindicação à preocupação humana – se eles podem ser mortos ao nosso capricho – 
é porque eles sofrem pouco ou quase nada”.39 
Se distancia, porém, de Singer, ao afirmar que é possível estabelecer prevalência do ser 
humano em relação a outros animais. Além disso, caracteriza a teoria de Singer como uma 
“tentativa de uma ruptura com a atual concepção de animais enquanto propriedade – na 
dicotomia radical entre pessoas e coisas – vez que eles devem ser considerados como ‘titulares 
de muitos dos direitos que os seres humanos são’”.40 
Existem alguns autores, como Eduardo Rabenhorst e François Ost, que defendem um 
terceiro status jurídico aos animais. Eles não seriam nem pessoa física nem jurídica. Não se 
aumentaria o rol dos sujeitos de direitos, apenas seria criada “uma definição normativa capaz 
de assegurar a determinadas entidades um estatuto especial dentro do ordenamento jurídico”.41 
Para eles, o correto seria a junção dos entendimentos a favor e contra, ou seja, o animal 
é coisa, mas não se pode trata-lo da mesma forma que uma mesa, ou um armário. Isso pois “o 
desenvolvimento do direito positivo já não permite considerar o animal nem como um objeto 
de direito, nem como um sujeito de direito”.42 
Silva cita Daniel Lourenço para explicar que esta teoria ignora completamente tudo o 
que a ciência demonstra em termos de senciência e valor inerente, atribuindo-se apenas mais 
deveres ao ser humano.43 
Assim, o animal não possuiria direitos por si só, mas por uma concessão humana. O 
foco, ao invés de ser nos animais, continua sendo no ser humano, lhe dizendo que não se deve 
cometer abusos contra os animais, não pelo fato de eles terem sentimentos, mas porque haverá 
uma punição. 
 
39 SUSTEIN, Cass R. Os Direitos dos Animais. Revista Brasileira de Direito Animal. V. 9, n. 16, 2014 apud REIS, 
Felipe Guerra David. A dimensão axiológica da pessoa e as pretensões animalistas: um ensaio sobre o conceito 
bioético de pessoa e os direitos dos animais não-humanos. Dissertação (Mestrado em Direito e Inovação) – 
Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF. Juiz de Fora, 2015, p. 5. 
40 REIS, Felipe Guerra David. A dimensão axiológica da pessoa e as pretensões animalistas: um ensaio sobre o 
conceito bioético de pessoa e os direitos dos animais não-humanos. Dissertação (Mestrado em Direito e Inovação) 
– Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF. Juiz de Fora, 2015, p. 56. 
41 SILVA, Tagore Trajano de Almeida. Animais em juízo: direito, personalidade jurídica e capacidade processual. 
Revista de Direito Ambiental, fascículo 2. Salvador Anual. 2012, p. 357. 
42 Idem, p. 358. 
43 Idem, ibidem. 
 
30 
 
Francione afirma que existe uma “esquizofrenia moral” pela parte daqueles que se 
recusam em reconhecer os animais como detentores de direitos, devido ao fato de que a 
sociedade ocidental, de forma geral, concorda que os animais 
 
possuem direitos de viver livres de sofrimento da mesma maneira que os seres 
humanos; afirmam que é errado mata-los por esporte ou para a obtenção de pele; e 
que os animais são iguais aos humanos em todos os aspectos importantes. Todavia, a 
realidade da conduta humana para com os não-humanos é diametralmente oposta à 
demonstrada nas pesquisas, mormento quando se trata do uso de animais – e seu 
tratamento nas fazendas produtivas – como alimento.44 
 
O autor discorda em certos quesitos das teorias de Regan e Singer, afirmando que, 
havendo uma colisão de interesses, os seres humanos sempre seriam beneficiados. Tais 
conflitos são vistos por Francione como falsos conflitos, devendo haver uma igualdade formal 
propriamente dita. 
Levai concorda com Francione quanto à ideia desta esquizofrenia moral, afirmando que 
a jurisprudência brasileira já reconhece em centenas de casos os direitos animais como uma 
realidade, porém, 
ainda se mostram divergentes, ora beneficiando os animais maltratados, ora 
legitimando a crueldade humana. Dois temas, em particular, ainda pemanecem tabus 
no direito: a vivissecção e o agronegócio, justamente as áreas em que os índices de 
agressão sobre os animais alcançam proporções inimagináveis.45 
 
Até certo ponto, Francione se faz entender claramente e seus argumentos são bem 
postos, porém, é absurda a afirmação de que os animais devem ser formalmente iguais aos 
humanos. Tal apontamento não está de acordo com a máxima “tratar igual os iguais e desigual 
os desiguais”, ou seja, com equidade. 
Simplesmente igualar os animais aos seres humanos pode criar bizarras situações como 
a do processo dos gorgulhos na França, pondo a segurança jurídica em sério risco. A atitude 
 
44 FRANCIONE, Gary L. Animals – Property or Persons? In: SUNSTEIN, Cass R., NUSSBAUM, Martha C. 
(Org.). Animal Rights: Current debates and new directions. Oxford University Press, p. 108-109, 2004 apud REIS, 
Felipe Guerra David. A dimensão axiológica da pessoa e as pretensões animalistas: um ensaio sobre o conceito 
bioético de pessoa e os direitos dos animais não-humanos. Dissertação (Mestrado em Direito e Inovação) – 
Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF. Juiz de Fora, 2015, 56. 
45 LEVAI, Laerte Fernando. Direito animal: uma questão de princípios. Revista Diversitas – USP, ano 4, n. 5, 
outubro de 2015 a março de 2016, p. 234. Disponível em: 
<http://egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/direito_animal_uma_questao_de_principio.pdf>. Acesso em 13 nov. 
2018 às 16:33. 
31 
 
correta é de reconhecer as limitações de cada espécie animal e agir com base na plenitudede 
suas capacidades de fato. 
Importante notar que nenhum dos argumentos apresentados possui, até hoje, qualquer 
valor jurídico, pois o Direito sempre existiu para regular a vida humana, sendo relevantes 
apenas as relações inter-humanas e suas consequências para a sociedade, seguindo fielmente o 
realismo jurídico clássico, como apresentado por Sá Filho, em que se é repetido o mesmo 
discurso de que discutir atos e fatos da vida do ser humano seria a única função do Direito, 
porém, é incabível que se ignore o fato de que estudar e regular tais atos e fatos possui 
consequências em outros seres vivos, de forma que não seria justo, com o conhecimento que se 
tem hoje, tratar os animais como meros acessórios à vida humana.46 
Broom possui uma interessante teoria quanto à forma como o Direito deveria agir. Para 
ele, ao invés de tratar sobre direitos, que podem eventualmente fazer mal a outros, o correto 
seria tratar pelo prisma de obrigações. O ser humano deve agir de determinada forma por ser o 
correto, não porquê é o seu direito ou o de outra pessoa. “Esse argumento também é aplicável 
quanto a liberdades que um indivíduo defende, ou que deveria ser dado à um indivíduo. Cada 
um deveria focar em como deve se comportar” (tradução nossa).47 
O sujeito de direitos é aquele que possui personalidade jurídica. De acordo com Tagore 
Silva, 
 
A ordem jurídica não concedeu aos seus protagonistas apenas a personalidade, 
mas os dotou de capacidade para a aquisição de direitos e para seu exercício, 
seja por si mesmo, seja por representação ou mediante a assistência de outrem. 
Assim, se a capacidade representa o gênero, pode-se dizer que suas espécies 
são: (a) a capacidade de direito ou gozo (jurídica) e (b) a capacidade de fato ou 
de exercício, correlata à efetivação desses direitos.48 
 
Interessante a questão sobre capacidade e a distinção feita por Silva. A capacidade, seria, 
assim, uma extensão da personalidade, não sendo correto confundir um com o outro. 
 
46 FILHO, Tomaz de Aquino Cordova e Sá. A Lei Natural e o direito dos animais: uma abordagem a partir do 
realismo jurídico clássico. COLÓQUIO INTERNACIONAL LEI NATURAL E DIREITO AMBIENTAL, Caxias 
do Sul. Caxias do Sul: Educs. 2017. p. 149 - 168. 
47 Texto original: “This argument is also applicable to references to the freedom that na individual asserts, or that 
is supposed to be given to an individual. Each person should always focus on how they ought to behave” (BROOM, 
Donald M. Considering animals’ feelings: Précis of Sentience and animal welfare. 2016, p. 5. Disponível em: 
<http://www.neuroscience.cam.ac.uk/directory/profile.php?dmb16>. Acesso em 21 de outubro de 2018 às 02:25). 
48 SILVA, Tagore Trajano de Almeida. Animais em juízo: direito, personalidade jurídica e capacidade processual. 
Revista de Direito Ambiental, fascículo 2. Salvador Anual. 2012, p. 348. 
32 
 
Por exemplo, pode-se dizer que animais não podem realizar demandas judiciais, porém, 
como demonstra Silva, existem diversos casos históricos em que animais atuavam como parte 
em processos judiciais. 
O mais antigo relatado é de 1545, na aldeia de Sain Jean-de-Maurienne, na região de 
Savoie, na França, em que os habitantes entraram com um processo contra uma colônia de 
gorgulhos, que, ao invadir os vinhedos, causaram enormes estragos. Os insetos não apenas 
foram representados por um advogado, como saíram vitoriosos. Na sentença, o juiz afirmou 
que “esses seres vivos criados por Deus possuíam o mesmo direito que os homens a se alimentar 
de vegetais”.49 
O processo foi reaberto em 1587, situação em que o juiz propôs um acordo entre as 
partes. Aparentemente, no primeiro processo foram dadas terras estéreis aos gorgulhos para sua 
alimentação, assim, o advogado dos insetos solicitou ao juiz que condenasse a parte contrária a 
pagar às custas do processo. 
De acordo com Silva, “processos criminais e civis contra animais não eram novidades 
naquela época”, porém, até hoje existem casos muitas vezes considerados esdrúxulos, em que 
animais são parte ativa ou passiva de processo judicial. Como por exemplo, em 2008, um urso 
foi condenado na Macedônia pelo roubo de mel. Por não ter condições de pagar os três mil e 
quinhentos dólares em danos, o Estado foi obrigado a realizar o pagamento.50 
Silva cita Mello para dizer que “não tem como se desprezar que há entes que não são 
pessoas, mas são titulares de situações cujo conteúdo, algumas vezes, consiste apenas na 
capacidade de ser parte e que, pela concepção dominante, não podem ser considerados sujeitos 
de direito”.51 
Ele explica que assim, o conceito de pessoa se desliga ao ser humano, de forma que se 
passa a ser pessoa todos os agrupamentos formados por meio da iniciativa humana para 
satisfazer suas necessidades, sendo necessário apenas que se distinga entre pessoa natural e 
jurídica. 
 
49 Idem, p. 336. 
50 Idem, p. 337. 
51 MELLO, Marcos Bernardes de. Teoria do fato jurídico – Plano da eficácia – 1ª parte. 2. Ed. São Paulo: Saraiva, 
2004, p. 32 apud SILVA, Tagore Trajano de Almeida. Animais em juízo: direito, personalidade jurídica e 
capacidade processual. Revista de Direito Ambiental, fascículo 2. Salvador Anual. 2012, p. 347. 
33 
 
No Brasil, até o momento, apenas os humanos podem ser sujeitos de direitos, porém, ao 
analisar o neoconstitucionalismo latino-americano é possível perceber um posicionamento 
completamente diferente ao brasileiro, de forma que a natureza por completo, na figura da 
Pachamama, é considerada como sujeito de direitos. 
Isso se deve à uma evolução histórica e jurídica que começou a partir da 2ª Guerra 
Mundial. Como deixa claro Magalhães: 
 
o constitucionalismo liberal era incompatível, num primeiro momento, com a ideia de 
democracia, ou seja, tomada de decisões a partir da vontade da maioria da população. 
O constitucionalismo vitorioso das revoluções burguesas garantia a liberdade 
individual dos homens ricos e brancos. Não houve, num primeiro momento, qualquer 
pleito para que o voto fosse universal e garantisse a manifestação da vontade de toda 
a população.52 
 
Logo após a Segunda Guerra Mundial e suas atrocidades foram introduzidas as noções 
de dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais. Com isso, cada país começou a evoluir, 
de acordo com as suas particularidades, quanto à necessidade do reconhecimento de direitos 
individuais e quanto ao conceito jurídico de sujeito de direitos. 
Assim, como bem explana Milaré, o antropocentrismo começou seu necessário declínio. 
O autor afirma, citando Thomas, que “a aceitação explícita da ideia de que o mundo não existe 
somente para o homem pode ser considerada como uma das grandes revoluções no pensamento 
ocidental, embora raros historiadores lhe tenham feito justiça”.53 
Hoje, finalmente, se compreende que é imprescindível 
 
reformular o conceito de dignidade, objetivando o reconhecimento de um fim em si 
mesmo, ou seja, de um valor intrínseco conferido aos seres sensitivos não humanos, 
que passam a ter reconhecido o seu status moral e dividir com o ser humano a mesma 
comunidade moral. Tais considerações implicam o reconhecimento de deveres 
jurídicos a cargo dos seres humanos, tendo como beneficiários os animais não 
humanos e a vida em geral.54 
 
 
52 MAGALHÃES, José Luiz Quadros de. O novo constitucionalismo indi-afro-latino-americano. Revista da 
Faculdade Mineira de Direito. v. 13, n. 26. Belo Horizonte, jul.-dez. 2010. p. 97. 
53 THOMAS, 1996, p. 198 apud MILARÉ, Édis, Direito do ambiente. 10. Ed. São Paulo: Editora Revista dos 
Tribunais, 2015, p. 111. 
54 SARLET e Fensterseifer. Direito constitucional ambiental: estudo sobre a Constituição, os Direitos 
Fundamentais e a proteção do ambiente. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011, p. 42 apud ARMANDO,A vedação de tratamento cruel contra os animais versus direitos culturais: breve análise da ótica do Supremo 
Tribunal Federal no julgamento do Recurso Extraordinário nº 153531/SC. Revista de Desenvolvimento e Meio 
Ambiente, v. 29, abr. 2014, p. 174). 
 
34 
 
Porém, não é necessário cruzar o oceano para encontrar animais como sujeitos de 
direitos. Na América Latina, a natureza em sua totalidade é sujeito de direitos, representada 
pela Pachamama, “Mãe Terra”, que consiste em um mito andino da era colonial em que 
Pachamama é uma deusa feminina que produz e cria.55 
Com o passar dos anos, o mito evoluiu no conceito de a Terra ser um organismo vivo. 
Em países como a Bolívia e o Equador, reconhece-se a importância da Terra como organismo 
vivo devido a sua relação direta com o ser humano, de forma que as plantas, os animais, as 
águas e os seres humanos estão diretamente interligados. 
Assim, se há uma interferência errônea em um destes fatores, a consequência é 
generalização do problema ou geração de novos problemas para todos. 
Milaré explana quanto a possibilidade de a natureza per se obter personalidade jurídica, 
alegando que é, ao mesmo tempo, interesse difuso, direito humano fundamental e direito 
personalíssimo, “de que é titular cada indivíduo, na busca pela realização física e psíquica da 
personalidade humana em sua inteireza”. 56 
Segundo o autor, “sendo o meio ambiente ecologicamente equilibrado um direito 
fundamental da pessoa humana, podemos dizer que a ele se aplicam todos os atributos 
concernentes aos direitos da personalidade”.57 
Assim, o meio ambiente possui os atributos intrínsecos dos direitos da personalidade, 
sendo eles: originários (vide art. 2º, CC), perenes, inalienáveis, indisponíveis, absolutos e 
imprescritíveis. 
O reconhecimento da necessidade do equilíbrio ecológico é pressuposto para que se 
possa efetivamente garantir a proteção da personalidade humana. O meio ambiente 
dispõe de recursos imprescindíveis para o desenvolvimento da personalidade humana, 
propiciando meios hábeis a assegurar os direitos físicos, psíquicos e morais do 
homem.58 
 
55 QUIROGA, 1929, p. 215 apud TOLENTINO, Zelma Tomaz e OLIVEIRA, Liziane Paixão Silva: Pachamama 
e o direito à vida: uma reflexão na perspectiva do novo constitucionalismo latino-americano. Veredas do Direito. 
V.12. n.23. Belo Horizonte, 2015. P. 316. 
56 MILARÉ, Édis, Direito do ambiente. 10. Ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015, p. 123 - 124. 
57 Idem. 
58 Idem, p. 125. 
 
35 
 
Assim, entende-se que o direito ambiental tem seu objetivo na proteção à vida e à 
dignidade humana, estando tudo interligado de forma cíclica. Um fator influencia outro, que 
em algum momento retornará com um terceiro efeito. 
Ainda na América Latina, é possível encontrar um caso histórico de 2014 em que foi 
concedido um Habeas Corpus à um orangotango, chamado Sandra. Lhe foi concedido o direito 
de sair do zoológico de Buenos Aires, em que ela se encontrava, e ser enviada à um santuário 
onde hoje vive em semiliberdade.59 
Porém, esses argumentos analisam apenas o prisma do bem-estar animal. Se verificado 
por um prisma social, o destino deste animal após a morte de seu dono pode influenciar a vida 
de muitas pessoas. Por exemplo, se um cachorro é abandonado na rua, ele se torna um problema 
de saúde e segurança pública, devido ao risco de se tornar vetor de doenças, como a raiva. 
Os animais de rua são um problema real em quase todas as cidades do mundo, surgindo 
soluções inumanas, como o notório caso do ex-prefeito de Santa Cruz do Arari - PA que foi 
condenado a 20 anos de prisão por matar 400 animais de rua. Este caso demonstra claramente 
o desespero de alguém que precisava encontrar uma solução, achando-se preferível o massacre 
de animais a lidar com a questão.60 
Sempre se discute quanto a necessidade de castrar animais de rua, porém, deve-se evitar 
que o número de animais abandonados também aumente. Dentro deste tema, é absolutamente 
relevante a recente conquista holandesa em se tornar o primeiro país do mundo sem animais de 
rua. Isso se dá graças a uma política forte de castração animal e conscientização da população. 
Ao mesmo tempo em que certos fatos podem causar desconforto (ou até a morte) em 
animais, os seres humanos também sofrem. Como por exemplo, no caso de poluição sonora, 
com fogos de artifício, muitas vezes desnecessários, que causam enorme desconforto às pessoas 
e podem causar morte aos animais. 
 
59 COLOMBO, Sylvia. Orangotango ganha habeas corpus para deixar zoo de Buenos Aires. 2015. Disponível em: 
<https://www1.folha.uol.com.br/serafina/2015/10/1685718-orangotango-ganha-habeas-corpus-para-deixar-zoo-
de-buenos-aires.shtml>. Acesso em 10 set. 18 às 16:37. 
60 G1 PA. Prefeito é condenado a 20 anos de prisão no PA por ordenar morte de 400 animais de rua. G1, Belém, 
30 abri. 2018. Disponível em: <https://g1.globo.com/pa/para/noticia/prefeito-e-condenado-a-20-anos-de-prisao-
no-pa-por-ordenar-morte-de-400-cachorros-de-rua.ghtml>. Acesso em 06 set. 2018 às 00:11. 
 
 
36 
 
Em São Paulo, a Lei Municipal n. 16.897/2018 proíbe o manuseio, a utilização, a queima 
e a soltura de fogos de estampidos e de artifícios, assim como de quaisquer artefatos 
pirotécnicos de efeito sonoro ruidoso no Município de São Paulo.61 
A justificativa dada ao Projeto de Lei foi baseada no bem-estar de não apenas animais, 
mas como de idosos, bebês, crianças e doentes, que sofrem com a poluição sonora causada 
pelos estouros dos fogos de artifício. O aparelho auditivo dos animais é mais sensível que o 
humano, além do fato de estes não conseguirem entender o que está acontecendo, de forma que 
não é difícil encontrar, em uma rápida pesquisa online, histórias de animais que se mutilaram 
ou fugiram de casa, ou morreram, devido ao terror causado pelos fogos de artifício.62 
Por exemplo, na cidade de Cotia, no interior de São Paulo, Thaís Siqueira, residente em 
uma área tranquila, perto de reservas ecológicas, que ao retornar para sua casa, encontrou Nina, 
uma de suas cadelas, morta devido ao estampido de fogos de artifício. 
De acordo com Rodrigo Mainardi, médico veterinário, “falta de ar, náuseas, convulsões, 
tentativas de fugas e até mesmo ataque violento às pessoas podem ser sinais de ansiedade e 
medo causados pelos estrondos”.63 
Atualmente, no Brasil, o estampido dos fogos de artifício já é proibido por lei em cidades 
como Campinas, Ubatuba, Registro, Santos, Belo Horizonte, Camboriú e São Paulo. Sendo 
assim, absolutamente viável que, em um futuro próximo, venha a ser criada lei federal tratando 
do mesmo tema. 
O Brasil não é pioneiro no assunto. Diversas cidades, como Nova Iorque, e estados, 
como Delaware, Massachussets e Nova Jérsei, nos Estados Unidos e ao redor do mundo 
também decidiram por proibir fogos de artifício. 
Em se tratando de pessoas, o que é um símbolo de festividades e alegria para uns, é 
tortura para outros. Hospitais, por exemplo, são lugares em que se preza pelo silêncio, para que 
 
61 SÃO PAULO (Município). Lei n. 16.897, de 23 de maio de 2018. Proíbe o manuseio, a utilização, a queima e 
a soltura de fogos de estampidos e de artifícios, assim como de quaisquer artefatos pirotécnicos de efeito sonoro 
ruidoso no Município de São Paulo, e dá outras providências. Diário Oficial da Cidade de São Paulo, São Paulo, 
24 mai. 2018, p. 1. 
62 SÃO PAULO (Município). Câmara dos Deputados. Projeto de Lei n. 97/2017. Proíbe o manuseio, a utilização, 
a queima e a soltura de fogos de estampidos e de artifícios, assim como de quaisquer artefatos pirotécnicos de 
efeito sonoro ruidoso no Município de São Paulo, e dá outras providências. 
63 VEJA. Cadela morre em São Paulo após queima de fogos do Ano Novo. 3 de janeiro de 2018. Disponível em: 
<https://veja.abril.com.br/brasil/cadela-morre-em-sao-paulo-apos-queima-de-fogos-do-ano-novo/>.Acesso em 
28 out. 2018 às 01:13. 
37 
 
os pacientes possam ter paz, porém, é de se imaginar a dificuldade em manter tal paz, quando 
se tem a presença de estampidos incessantes. 
O Direito Ambiental, o Direito dos Animais e os Direitos Humanos caminham juntos, 
de forma que é mais do que correto afirmar que proteger o direito dos animais e o direito 
ambiental também pode significar a proteção de um direito humano. 
 
3.2. SENCIÊNCIA 
 
Com o entendimento de que o homem não é, nem deve ser, o único foco do Direito e da 
sociedade de uma forma geral, é possível prestar atenção em outros seres vivos e em suas 
singularidades. Como por exemplo, quando se diz uma mesma palavra à um cachorro por 
diversas vezes, ele aprende o significado dela, vindo a reagir diferentemente em situações 
futuras. Se ele gosta do que a palavra significa, se comportará de forma alegre, mas se, pelo 
contrário, a palavra se é associada com experiências ruins, ele sentirá medo e reagirá de acordo. 
Ou, também, quando se usa macacos em experimentos psicológicos para verificar seu 
comportamento e eles não apenas aprendem com a situação como ensinam uns aos outros como 
se deve reagir. 
Isso se enquadra no conceito de senciência, que se caracteriza como a capacidade de ter 
diversas habilidades, dentre elas, sentimentos. Broom explica a senciência por ser a capacidade 
de “avaliar as ações de outros em relação às suas próprias e terceiros, lembrar algumas de suas 
ações e suas consequências, avaliar riscos e benefícios, ter alguns sentimentos e ter algum nível 
de consciência” (tradução nossa)64. 
Ao observar elefantes, por exemplo, é clara a existência de raciocínio quando se percebe 
a formação em que andam, com os mais fortes na frente, e idosos e crianças cercados pelos 
outros para proteção. 
 
64 Texto original: “to evaluate the actions of others in relation to itself and third parties, to remember some of its 
own actions and their consequences, to assess risks and benefits, to have some feeling, and to have some degree 
of awareness” (BROOM, Donald M. Considering animals’ feelings: Précis of Sentience and animal welfare. 2016. 
Disponível em: <http://www.neuroscience.cam.ac.uk/directory/profile.php?dmb16>. Acesso em 21 de outubro de 
2018 às 02:25, p. 2-3). 
38 
 
Qualquer animal gregário tende a ter comportamento de liderança, inclusive. A própria 
expressão popular “líder da matilha” demonstra isso. Esses animais que vivem em grupos 
similares a famílias possuem líderes, que não apenas tomam as decisões em nome do grupo 
como possuem a inteligência de compreender quando outro indivíduo não pertence ao seu 
grupo. 
Macacos são conhecidos por, de certa forma, terem uma capacidade cognitiva única, 
porém, como Broom demonstra, existem pesquisas que comprovam as mesmas capacidades 
cognitivas em cachorros, porcos, papagaios e corvos. Isso baseado no fato de que os animais 
variam nas partes do cérebro em que possuem funções analíticas complexas.65 
Por exemplo, golfinhos são conhecidos por serem extremamente inteligentes, sendo 
reconhecido cientificamente que possuem uma forma de comunicação falada muito 
assemelhada ao formato de uma língua, a ponto de que existem centenas de cientistas dedicados 
puramente ao estudo dessa comunicação.66 
Porém, inteligência não é o único componente da senciência, sendo necessário que um 
indivíduo possua também a capacidade de ter sentimentos. De acordo com Broom, sentimentos 
como medo e dor podem ser encontrados em mamíferos, pássaros, peixes, cefalópodes e outros 
moluscos, todos em diversos níveis diferentes de consciência.67 
Apesar do possível estranhamento à primeira vista, não há equívoco ao falar em 
consciência animal. O tema possui tamanha relevância que a Universidade de Cambridge reuniu 
vinte e cinco renomados cientistas, dentre eles Stephen Hawking e Philip Low, em um evento 
chamado Francis Crick Memorial Conference, cujo tópico principal fora a “Consciência em 
Humanos e Não-Humanos” (tradução nossa)68. 
Nesta conferência, foi assinada a Declaração de Consciência de Cambridge, que afirma 
a consciência de pássaros, macacos, elefantes, golfinhos, polvos, dentre outros, com o 
argumento base de que existem similaridades cerebrais destes com os seres humanos, de forma 
 
65 BROOM, Donald M. Considering animals’ feelings: Précis of Sentience and animal welfare. 2016. Disponível 
em: <http://www.neuroscience.cam.ac.uk/directory/profile.php?dmb16>. Acesso em 21 de outubro de 2018 às 
02:25. 
66 Idem. 
67 Idem. 
68 Texto original: “Consciousness in Human and Non-Human Animals” (LOW, Philip. The Cambridge 
Declaration of Conciousness. 2012. Disponível em: 
<http://fcmconference.org/img/CambridgeDeclarationOnConsciousness.pdf>. Acesso em: 25 out. 18 às 14:53). 
 
39 
 
que ao realizar estímulos artificiais, tanto os seres humanos quanto os animais responderam 
igualmente, inclusive em relação a sentimentos gratificantes ou punitivos. 
Foi comprovado que animais como o papagaio cinzento africano possuem “níveis de 
consciência quase humanos” (tradução nossa), devido ao seu comportamento, neurofisiologia 
e neuroanatomia. 69 
Ao final do documento, é declarado o seguinte: 
 
A ausência de um neocórtex não parece impedir que um organismo experimente 
estados afetivos. Evidências convergentes indicam que os animais não humanos têm 
os substratos neuroanatômicos, neuroquímicos e neurofisiológicos dos estados 
conscientes, juntamente com a capacidade de exibir comportamentos intencionais. 
Consequentemente, o peso da evidência indica que os seres humanos não são únicos 
em possuir os substratos neurológicos que geram a consciência. Animais não 
humanos, incluindo todos os mamíferos e pássaros, e muitas outras criaturas, 
incluindo polvos, também possuem esses substratos neurológicos (tradução nossa).70 
 
Além disso, Darwin também demonstra cientificamente a semelhança entre animais e 
humanos, afirmando que 
Em quase todos os animais, até mesmo nos pássaros, o terror provoca tremores pelo 
corpo. A pele empalidece, o suor aparece e os pelos se arrepiam. As secreções do 
canal alimentar e dos rins aumentam, e eles são involuntariamente esvaziados, por 
causa do relaxamento dos músculos esfíncteres, como sabemos acontece com o 
homem, e como observei com gado, cachorros, gatos e macacos.71 
 
Assim, percebe-se a impossibilidade de negar do fato de que os animais são seres 
sencientes, possuindo assim, inteligência e capacidade de ter sentimentos. Ao levar em 
consideração os estudos científicos sobre tema e as teorias jurídicas já explanadas, não é 
possível que se ignore a necessidade de os animais serem reconhecidos como sujeitos de 
direitos. 
 
69 Texto original: “near human-like levels of consciousness” (idem). 
70 Texto original: “The absence of a neocortex does not appear to preclude an organism from experiencing affective 
states. Convergent evidence indicates that non-human animals have the neuroanatomical, neurochemical, and 
neurophysiological substrates of conscious states along with the capacity to exhibit intentional behaviors. 
Consequently, the weight of evidence indicates that humans are not unique in possessing the neurological 
substrates that generate consciousness. Non- human animals, including all mammals and birds, and many other 
creatures, including octopuses, also possess these neurological substrates” (idem). 
71 DARWIN, Charles. A expressão das emoções no homem e nos animais. São Paulo: Companhia Das Letras, 
2000, p. 79. 
40 
 
Existem diversos países que reconhecem a senciência dos animais, como a Nova 
Zelândia, Polônia, Mônaco, Hungria, Estados Unidos, Chile e os países membros da União 
Europeia. 
No Brasil, é correto afirmar que existe reconhecimento da senciência animal de forma 
implícita

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