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Direitos Animais no Brasil: uma breve análise histórica e legal - Saber animal

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📃
 Direitos Animais no
Brasil: uma breve análise
histórica e legal
Há pelo menos dois anos antes da abolição da
escravatura no Brasil, acontecimentos indicam que parte
da sociedade brasileira (notadamente a sociedade
paulista) também se insurgia contra a brutalidade que
presenciava nas vias públicas da cidade dirigida contra
animais usados para montaria, tração e transporte de
cargas, carruagens, carroças e veículos similares, época
em que esse tipo de escravidão animal estava muito mais
presente no cotidiano da metrópole que começava a se
desenvolver, haja vista o uso que a humanidade
historicamente atribuíra a determinadas espécies de
animais, especialmente as mulas, os burros, jumentos e
cavalos.
Podemos dizer que maltratar animais, talvez, nunca
tenha sido uma prática aceita por todos os seres
humanos desde os tempos mais remotos e,
naturalmente, tais atos também não eram aceitos por
parte destacada daquela sociedade que marcou o final
do período imperial no Brasil, possivelmente contagiada
pelo clamor abolicionista com relação aos seres humanos
escravizados, ocasião em que foram dados os primeiros
passos, por assim dizer, na formação de um movimento
social que buscava a prevenção de atos de abuso, maus-
tratos e crueldade praticados contra os animais, nos
primórdios do que, anos mais tarde, se tornaria o
movimento de proteção animal no Brasil.
Essa iniciativa em busca de uma garantia na defesa dos
(direitos) animais se torna evidente quando, no ano de
1886, foi incorporada no Código de Posturas do
Município de São Paulo a proibição de maltratar algumas
espécies de animais, se tornando a primeira lei protetiva
que se tem notícia no país, à semelhança do que há
algumas décadas já vinha ocorrendo em países
estrangeiros.
Assim como não foi a mera aposição de assinatura da
princesa Isabel que libertou em 1888 o povo preto, mas
sim a fundamental articulação do movimento
abolicionista e a insurgência dessas pessoas
escravizadas, também não foi o legislador de 1886, por
vontade ou inspiração própria, a incluir dispositivo legal
em defesa dos animais na legislação municipal de São
Paulo, promulgada com o intuito de modernizar a cidade
para padronizá-la e homogeneizá-la. Decerto o clamor
da população paulista defensora dos animais foi
atendido.
Portanto, o que hodiernamente chamamos de senciência
animal com certo ar de “novidade” em uma possível
tentativa de convencimento para que nossos
interlocutores incluam, definitivamente, todos os animais
https://archive.org/details/CodigoDePosturasDoMunicipioDeSaoPaulo1886/page/n39/mode/2up?q=maltratar
no seu campo moral, vemos que esse “entendimento” foi
levado em consideração pelo legislador brasileiro ao
menos desde as últimas décadas do século XIX, período
que remonta às origens do movimento brasileiro de
proteção animal em oportuno acolhimento da demanda
de parte da sociedade paulista que buscava proteger
legalmente os animais contra atos de crueldade humana.
Nesse compasso, logo após o início do período
Republicano (República Velha) e poucos meses após a
instalação da primeira associação civil protetora dos
animais em maio de 1895 – entidade que auxiliava o
Poder Público na execução e eficácia das leis protetivas
existentes e na formulação de novas leis, decretos e
medidas complementares – foi promulgada a lei de nº
183 de 9 de outubro de 1895 (também no município de
São Paulo) que passou a proibir abusos, maus-tratos e
atos de crueldade, assim entendidos como aqueles
inutilmente praticados contra todos os animais (isto é,
contra os animais utilizados nas mais diversas práticas e
atividades humanas).
A legislação de 1895 já contemplava todos os animais (e
não somente aquelas espécies escravizadas para
transporte de pessoas humanas e mercadorias),
dispondo sobre condutas caracterizadoras de maus-
tratos e mais alguns dispositivos naquilo que se entendia
como protetivos (e, de fato, o eram, considerado o
contexto histórico daquele período), cujos deveres de
observância competiam aos seus proprietários,
https://www.scielo.br/pdf/rbh/v37n75/1806-9347-rbh-2017v37n75-13.pdf
https://saberanimal.org/wp-content/uploads/2020/01/ORD-183_1895.pdf
guardiões ou a quem os animais fossem confiados. Em
outras palavras, os animais já eram sujeitos de direitos
eis que titulares de direitos mínimos, cujos deveres de
observância competiam aos seres humanos legalmente
responsáveis.
Tal legislação paulistana também proibiu a utilização de
animais sem anestésicos nas experiências e na
vivissecção a que fossem submetidos no interesse da
chamada ciência, incentivando-se a utilização de meios
apropriados para minorar tanto quanto possível os
sofrimentos oriundos dessas práticas. Outro exemplo de
medida considerada protetiva estava na disposição sobre
o fim da morte cruel por envenenamento de cães
abandonados e sem dono, procedimento que até então
era utilizado no extermínio desses animais após serem
recolhidos das vias públicas (a matança era autorizada
desde que a morte fosse instantânea e indolor). A lei
municipal de 1895 também regulou o chamado abate
humanitário dos animais para consumo ao prever a
utilização de processos mais aperfeiçoados que
pudessem garantir a morte instantânea com prévia
insensibilização para sangria, sendo expressamente
proibida a esfola ou depenação enquanto vivos, bem
como os processos tendentes ao aumento do peso ou da
gordura do animal. No abate de animais para
alimentação, a lei também dispunha sobre a
obrigatoriedade de se evitar tudo quanto pudesse
impressionar e aterrorizar os animais ou ocasionar-lhes
inúteis e prolongados sofrimentos, sendo reconhecida
pela lei, portanto, a existência de sofrimento físico e
psíquico nos animais, os quais se manifestavam de forma
consciente, ou seja, o reconhecimento da senciência
animal (que somente veio a ser mundial e cientificamente
comprovada neste século XXI através da Declaração de
Cambridge de 2012 que abarca inúmeras espécies de
animais).
Em 1895 também restou legalmente proibido, na capital
paulista, efetuar qualquer tipo de mutilação nos animais,
a exemplo do corte de orelhas e de caudas, prática que
nos séculos seguintes se transformaria em um dos
processos mais cruéis que são inerentes à atividade
pecuária pós-revolução industrial. Dentre outros
dispositivos, a mesma legislação também proibiu as
lutas, jogos ou diversões públicas de animais açulados,
instigados para atacarem uns aos outros (o que
atualmente é conhecido como “rinha”), ainda que em
locais privados, já sendo considerado abuso ou maus-
tratos no final do século XIX. Também se coibiu o
abandono de animais extenuados, doentes, feridos,
aleijados ou mutilados, vez que já não era conduta
socialmente aceitável. A referida lei foi revogada em
2005 por lei, após dois séculos em vigor (as leis não se
revogam por seu eventual e, às vezes costumeiro,
desuso).
Portanto, é inegável tais conquistas do movimento de
proteção animal brasileiro a partir de São Paulo, embora
http://www.ihu.unisinos.br/172-noticias/noticias-2012/511936-declaracao-de-cambridge-sobre-a-consciencia-em-animais-humanos-e-nao-humanos
https://leismunicipais.com.br/a1/sp/s/sao-paulo/lei-ordinaria/2005/1410/14106/lei-ordinaria-n-14106-2005-revoga-em-todos-os-seus-termos-as-leis-que-especifica-relativas-ao-periodo-de-1892-a-1947-e-da-outras-providencias
se evidencie uma abordagem legislativa que hoje se
entenda por “bem-estarista”, o que pode ser
compreensível para aquela época, daí porque passados
dois séculos está mais do que evidenciado, por essas e
outras razões mais contemporâneas (prementes
questões éticas, ambientais e sanitárias) que a narrativa
do suposto bem-estar animal, isto é, a perpetuação da
instrumentalização ou uso de animais regulamentado em
lei, não tem mais cabimento algum na sociedade
brasileira do século XXI, apesar do cenário político e
socioeconômico. Nós, destas atuais gerações,
precisamos assumir imediatamente este compromisso
para a garantia de nossa sobrevivência digna neste
planeta cada vez mais vilipendiado e para a garantiado
direito à vida e do meio ambiente ecologicamente
equilibrado das futuras gerações.
Saiba mais: O ASSASSINATO E A EXPLORAÇÃO DE
ANIMAIS NOS COLOCARÁ DIANTE DE NOVAS
PANDEMIAS, por Vanice Cestari.
Como indivíduos e como sociedade organizada, devemos
caminhar com firmeza para a abolição das práticas que
exploram ou escravizam animais. Como abolicionistas ou
ativistas em defesa dos direitos animais é absolutamente
inadmissível aceitarmos mais legislações bem-estaristas
na atualidade, dado o momento político-jurídico que já
alcançamos. O bem-estarismo teve a sua época
histórico-legislativa e é no passado que deve ficar. Agora,
neste século XXI, só pode ser aceitável o abolicionismo, a
https://saberanimal.org/%f0%9f%9b%91-o-assassinato-e-a-exploracao-de-animais-nos-colocara-diante-de-novas-pandemias/
libertação dos animais, inclusive e especialmente a partir
das casas legislativas. Retomarei esse ponto mais
adiante.
Em âmbito nacional, algumas espécies de animais
também conseguiram proteção legal a partir do século
XX. Foi por meio do Decreto de nº 14.529 de 9 de
dezembro de 1920 que ficou proibida a concessão de
licenças em casas de diversões e espetáculos públicos
para corridas de touros, novilhos, brigas de galos,
canários e outras práticas do gênero que causassem
sofrimento aos animais.
Posteriormente, o Decreto Federal de nº 24.645 de 10 de
julho de 1934 (também conhecido como Código de
Defesa dos Animais), ainda parcialmente vigente em todo
o país com o mesmo status jurídico de lei federal,
também trouxe dispositivos protetivos de vanguarda, em
um lento, porém incessante, processo histórico de um
movimento que vinha se desenvolvendo desde o final do
século XIX. Em seu artigo 1º, o Decreto de 1934 dispõe
que “todos os animais existentes no país são tutelados
do Estado”. Outro dispositivo de suma importância, ainda
em vigor, foi a garantia de acesso ao Poder Judiciário
para a salvaguarda dos (direitos) animais, conforme o
artigo 2º, § 3º, ora transcrito: “os animais serão
assistidos em juízo pelos representantes do Ministério
Público, seus substitutos legais e pelos membros das
sociedades protetoras de animais”.
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1920-1929/decreto-14529-9-dezembro-1920-503076-republicacao-93791-pe.html
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1930-1939/decreto-24645-10-julho-1934-516837-publicacaooriginal-1-pe.html
Evidente, portanto, a condição jurídica dos animais como
sujeitos de direitos, os quais também passaram a
possuir a capacidade processual, isto é, a possibilidade
de cada indivíduo animal (pessoa não humana) “agir” em
juízo por meio de seus representantes.
Esse diploma legal também tratou de classificar e
reprovar, exemplificativamente, condutas de maus-tratos
a animais, dispondo assim sobre o direito animal de não
sofrê-los, tal qual a lei paulistana de 1895, porém o
fazendo de forma um pouco mais abrangente.
Outra conquista a nível federal ocorreu na década de
1940 por meio da lei de contravenções penais (Decreto-
Lei nº 3.688/41) que passou a prever pena de prisão
simples ou multa para quem tratasse animal com
crueldade ou o submetesse a trabalho excessivo. O
dispositivo foi revogado em 1998 (dez anos após a
Constituição da República) pela lei federal de nº 9.605
que passou a criminalizar as condutas de abusar,
maltratar, ferir ou mutilar animais prevendo pena de
detenção e multa.
E ainda foi proibida a pesca ou qualquer forma de
molestamento intencional de toda espécie de cetáceo
nas águas jurisdicionais brasileiras por meio da lei federal
nº 7.643/1987.
Não resta dúvida de que a Constituinte de 1988 elevou a
proteção dos animais no sistema jurídico brasileiro de
https://dicionariodireito.com.br/capacidade-processual
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L7643.htm
modo inédito e, ao que parece, único no mundo, ao
tutelar (proteger) constitucionalmente os animais,
dispondo sobre seus direitos fundamentais em uma
concepção biocêntrica, contemplando o direito
ambiental, os direitos animais e humanos. E assim,
vitórias paradigmáticas foram obtidas no Poder Judiciário
nos últimos trinta anos.
LEGISLAÇÃO “MAIS AVANÇADA”, “VITÓRIA
HISTÓRICA DOS ANIMAIS”: ATÉ AONDE VAI O
DELÍRIO BEM-ESTARISTA CONTEMPORÂNEO?
Atenção senhores(as) legisladores(as) e candidatos(as) à
mandato parlamentar, todos que alegam ser
representantes da causa animal; atenção respectivos(as)
senhores(as) assessores(as) parlamentares: se não for
para ser abolicionista, não precisamos de mais nenhuma
lei, de nenhuma promessa de “salvação” para os animais.
Nem uma. Nenhuma. Melhor dizendo, os animais não
precisam de nova(s) lei(s) que os instrumentalizam mais
um pouco. Mais e mais. Estamos entendidos? Façam-nos
o favor de não criarem mais uma forma de exploração: a
miséria dos animais (e até mesmo o sentimento
compassivo de seus defensores) como palanque
eleitoral. Defender direitos animais é defender a ética. Os
animais não precisam da elaboração de leis (projetos de
leis) inúteis cuja real finalidade é perpetuar a utilização de
suas vidas, de seus corpos e mentes. Basta de engodo
legislativo travestido de progresso em suposta defesa
dos animais. Enquanto identificados como
representantes da causa animal, parem de legislar para o
bem-estar humano; durante o mandato parlamentar,
sejam úteis e diligentes no sentido de cumprir e fazer
cumprir a legislação protetiva em vigor que possa
beneficiar os animais.
É lamentável o desconhecimento e/ou desinteresse
acerca dos fundamentos éticos que pautam o movimento
abolicionista em defesa dos animais. A previsão de
direitos para uma ou duas espécies sequer pode ser
considerada um avanço, seja por infringir a Constituição
Federal que assegura a missão do Poder Público em
proteger todos os animais sem qualquer distinção, seja
por ignorar ou desconsiderar o contexto histórico-
evolutivo brasileiro das legislações nos séculos
anteriores, conforme citado.
Por outro lado, o bem-estarismo já não cabe mais ser
considerado uma defesa de direitos animais
propriamente dita, eis que incompatíveis, na medida em
que apenas visa dar continuidade à manutenção do
status quo, ao utilitarismo dos animais.
Essa característica mutável do
direito, se devidamente aproveitada,
representa um caminho que pode
nos afastar da destruição e nos
conduzir a uma ação humana
generativa e sustentável do ponto de
vista ecológico. Para optar por esse
caminho, primeiro precisamos
reavaliar criteriosamente as atuais
visões de mundo da ciência e do
direito. (A Revolução Ecojurídica, por
Fritjof Capra e Ugo Mattei).
Nesse sentido, legislação federal, estadual ou municipal
que diminua o alcance da proteção constitucional dos
animais é mais do que inconveniente (além de, a meu ver,
ser inconstitucional), pois quase sempre, em algum grau,
se revestem de violações aos direitos animais, haja vista
que comumente regulamentam a instrumentalização dos
animais ao invés de abolirem práticas exploratórias.
Muitas leis (e normas) regulatórias começaram a ser
sancionadas no início deste século em todo o país, a
exemplo da lei federal nº 11.794/2008 que regulamenta o
uso científico de animais e leis também passaram a surgir
em alguns estados, os chamados “Códigos de Proteção
aos Animais” ou “Código de Direito e Bem-estar Animal”
a exemplo do mais recente (junho de 2018) no estado da
Paraíba, equivocadamente festejado por seus entusiastas
como a legislação “modelo” mais avançada do Brasil (!?).
Em âmbito municipal, os tais “códigos protetivos”
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11794.htm
também estão surgindo com mais frequência em diversas
cidades, geralmente sendo mera reprodução (indevida)
de várias outras leis, às vezes adaptados às realidades
locais. “Fazer lei” e ganhar voto (não necessariamente
nesta ordem) das chamadas “protetoras de animais” é a
moda do momento; qualidade técnica, dedicação ao
tema e efetiva proteção animal são outros quinhentos…
Saiba mais: DA SÉRIE PROJETOS DE LEIS CAPENGAS,
por Vanice Cestari.
Para não me alongar nessetema, nos próximos
parágrafos passarei a citar alguns exemplos (trechos)
constantes em legislações estaduais, regulamentadores
do uso e do sofrimento animal ou, ainda, da indevida (e
inconstitucional) discriminação de espécies quando se
tenta reconhecer algum direito.
Na lei nº 11.140/2018 do estado da Paraíba, todo animal
tem o direito “a um limite razoável de tempo e
intensidade de trabalho (…) e a um repouso reparador”.
O extenso código segue nessa mesma toada,
praticamente nenhuma novidade há nessa lei, na medida
em que repete, desnecessariamente, previsões já
expressas em outros diplomas normativos de
competência diversa (leis federais, Constituição Federal),
além de reproduzir a mesma redação de dispositivos
elaborados no século XX (especialmente os dispositivos
bem-estaristas), tal qual o Decreto-Lei nº 24.645/1934
que, por sinal, ainda está em vigor, o que torna
https://saberanimal.org/%f0%9f%97%9e%ef%b8%8f-da-serie-projetos-de-leis-capengas-passando-a-regua-no-tema/
https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=361016
desnecessária a sua reprodução em legislações
estaduais (e municipais). A legislação “modelo” e
“avançada” dos atuais bem-estaristas, eufemisticamente
chamada de código de “direito e bem-estar animal”
inclui, ainda, um capítulo que trata dos animais “de
produção”, do abate de animais, dos “animais de carga”,
sendo “permitida a tração animal de veículos ou
instrumentos agrícolas e industriais somente pelas
espécies bovinas, equinas, muares e asininos”, cujos
veículos deverão “portar recipiente próprio destinado à
hidratação e alimentação (…)”.
Pontuo estes exemplos para ilustrar meu raciocínio
acerca da dispensabilidade desse tipo de “proteção”,
haja vista a incrível extensão dessa lei com mais de cem
artigos que também trata de experimentação animal,
permissão de rodeios, vaquejadas e práticas afins ditas
por “desportivas” ou culturais, permissão de corridas de
cavalos (turfe), salto com cavalos (hipismo) e
equoterapia, permissão de zoológicos e criadores
autorizados, reprodução, criação, exposição e venda de
animais etc, regulamentando diversas formas de
crueldade com animais, com poucas ressalvas para
alguns cães e gatos, o que ultimamente tem sido
previsível (controle de zoonoses e controle populacional
ético, cães e gatos comunitários, proibição do uso de
cães em serviços de guarda e vigilância) – especismo
eletivo.
Nota-se também que alguns de seus artigos são mera
reprodução de outras leis estaduais, tal qual a lei de nº
11.915/2003 do estado do Rio Grande do Sul (também
chamada de Código de Proteção aos Animais) e a lei nº
11.977/2005 do estado de São Paulo (ou Código Estadual
de Proteção aos Animais), o que é relativamente comum
entre os entes federados, especialmente quando se trata
de lei essencialmente prejudicial para os direitos animais
(só há direito e proteção animal onde há abolição da
exploração, não regulamentação).
Leis infraconstitucionais sobre o mesmo tema
invariavelmente acabam por repetir umas às outras,
nenhuma novidade há nisso para quem já se aproximou
desse universo, tampouco há aqui inovação no sentido
jurídico-político, haja vista um breve panorama do
traçado histórico do movimento brasileiro em defesa dos
animais aqui apresentado. Muito do que hoje ainda é
visto como “inovador” por algumas pessoas que se
dizem representantes dos animais já foi previsto em leis
no passado sem que tenha havido qualquer tipo de
ganho real para os animais subjugados. Pelo contrário,
essas medidas sempre obstaram o amplo debate social
acerca do fim de práticas de exploração e violência
contra animais. O que leva os bem-estaristas
contemporâneos a pensar que hoje seria diferente? Na
realidade o bem-estar é humano e preocupação alguma
há com a efetivação e universalização dos direitos
animais fundamentais que só é possível ser engendrada
sob a ótica abolicionista.
http://www.al.rs.gov.br/legis/M010/M0100099.ASP?Hid_Tipo=TEXTO&Hid_TodasNormas=46370&hTexto=&Hid_IDNorma=46370
https://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/2005/lei-11977-25.08.2005.html
Saiba mais: PROVOCAÇÕES ABOLICIONISTAS, por
Vanice Cestari.
Após a Constituição Federal de 1988, ao invés de se
ampliar o sentido de alcance do artigo que tutela os
animais, leis passaram a restringir o mandamento
constitucional da vedação da crueldade e da proteção
indiscriminada a todos os animais (podendo haver
pontuais exceções). E mais recentemente,
aproximadamente desde os dois últimos anos, temos
visto um movimento de defensores dos “direitos animais”
que agora pleiteia o reconhecimento legal de apenas
algumas espécies animais como sujeitos de direitos, um
equívoco duplo.
Neste ano de 2020, no estado do Rio Grande do Sul,
também foi inserido no Código do Meio Ambiente (lei
estadual nº 15.434/2020) um “regime jurídico especial
para os animais domésticos de estimação” que, segundo
a lei, possuem “senciência, natureza jurídica sui generis e
são sujeitos de direitos despersonificados (sic)”, exceto
aqueles “utilizados em atividades agropecuárias e de
manifestações culturais” afinal, esses não são estimados.
Como já citado, os animais há muito são sujeitos de
direitos perante o legislador (e perante o Judiciário desde
o século passado), assim como há consideração de sua
senciência (que abrange a consciência animal). Mas o
que mudou de substancial e concreto para a proteção
dos animais nesses dois séculos? Leis garantem os
https://saberanimal.org/provocacoes-animalistas/
https://leisestaduais.com.br/rs/lei-ordinaria-n-15434-2020-rio-grande-do-sul-institui-o-codigo-estadual-do-meio-ambiente-do-estado-do-rio-grande-do-sul
direitos animais. Retalhos de leis de ontem estão sendo
reproduzidos à exaustão nos dias de hoje com
propaganda enganosa de aquisição de direitos. Mais
bem-estarismo. A limitação de entendimento acerca do
significado do termo “bem-estarismo”, que apenas
garante a continuidade de práticas exploratórias e de
mandatos eletivos, segue nas mentes antropocêntricas,
as mesmas mentes que criam leis como a de nº
17.485/2018 do estado de Santa Catarina (em alteração à
Lei nº 12.854/2003 – mais um “código de proteção aos
animais”) que reconhecia cães, gatos e cavalos como
seres sencientes “sujeitos de direito, que sentem dor e
angústia, o que constitui o reconhecimento da sua
especificidade e das suas características face a outros
seres vivos”. (!!!) Passados quatro meses a “senciência
dos cavalos e sua qualidade de sujeitos de direito foi
revogada” pela Lei nº 17.526 (SC). Lei “protetiva” ditando
os fatos de ordem biológica, ora reconhecendo ora
revogando fatos naturais, científicos! Depois ainda
vieram mais três alterações (até o momento), mais uma
no ano de 2018 e duas nesse ano de 2020 (os cavalos
restaram de fora, assim como todas as outras espécies,
apenas a senciência de alguns cães e alguns gatos
importam para o legislador). Uma análise ponderada nos
indicará que tão cedo abolição alguma virá pelas mãos
de quem é parlamentar e de quem pretende se tornar.
Não se vive de leis, mas há quem queira viver. Estas são
as leis que estamos produzindo na atualidade e,
http://leis.alesc.sc.gov.br/html/2018/17485_2018_Lei.html
http://leis.alesc.sc.gov.br/html/2003/12854_2003_Lei.html
pasmem, sob aplausos, apoios e comemorações de
muita gente…
E dá-lhes votos!

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