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1 Aluno: Henriqueta Núbia Pereira da Silva Data: 30/09/19 PERFIL PSICOSSOCIAL DO AGRESSOR E DA VÍTIMA DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA Perfil do agressor sexo masculino e da vítima mulher O perfil dos agressores de violência contra mulheres eram, exclusivamente, do sexo masculino, com predomínio de adultos jovens, casados, de baixa escolaridade e com trabalho remunerado. Os agressores detidos eram, majoritariamente, maridos ou companheiros que praticaram, principalmente, a violência física contra suas companheiras no espaço doméstico, A violência contra a mulher é praticada quase sempre por homens da família que exercem relações de poder sobre as vítimas e, ao serem protegidos pelos laços afetivos, podem levar ao extremo as relações de dominação, originadas na cultura patriarcal que ainda se perpetua (MADUREIRA, 2014). Vistos de fora, os agressores podem parecer responsáveis, dedicados, carinhosos e cidadãos exemplares (ALVES, 2005). Perfil da vítima mulher- dependência financeira As causas para a não denúncia e permanência da mulher junto ao agressor são várias, mas as mulheres se mantêm caladas principalmente pela condição financeira. “As pobres por não terem condições de se sustentarem sem eles, as ricas não querem dividir seus patrimônios” (GARBIN, 2016). Perfil psicossocial da vítima mulher A violência contra a mulher ocasiona diversas perdas significativas e conseqüências, tanto na saúde física, sexual, psicológica ou social. Em relação à saúde física pode-se citar o aumento da pressão arterial, dores no corpo, 2 principalmente de cabeça, e dificuldades para dormir. Em relação à violência psicológica sofrida, sentimentos de tristeza, ansiedade, estresse, agressividade, insegurança, baixa auto-estima, medo, isolamento social, culpa, nervosismo e esquecimentos têm sido citados como as principais repercussões entre as mulheres vítimas. Além disso, a depressão, os sintomas psicossomáticos e o Transtorno de Estresse Pós-Traumático foram observados em estudos referentes as consequências psicopatológicas da violência contra a mulher (GARBIN, 2016). Estudando mulheres vítimas de Violência doméstica , observou-se que muitas delas presenciaram a vitimização de suas mães e concluiu pela existência de um padrão de transmissão de experiências violentas ao longo das gerações. Outros estudos realizados com mulheres abusadas cronicamente mostraram a presença de alterações cognitivas e afetivas, com a presença frequente de sintomas dissociativos, que podem ser interpretados por leigos como aquiescência a agressão. A exposição contínua à Violência doméstica tem alto impacto emocional, devido à intensidade e continuidade desses eventos estressores. Autores relatam alta prevalência de transtornos mentais associados à violência doméstica, entre eles transtornos depressivos, de abuso de substâncias, de estresse pós-traumático, de sono e alimentares. observamos que 89% das mulheres avaliadas tiveram grande probabilidade de apresentar transtorno depressivo, 94% transtorno de ansiedade, e 76% transtorno de estresse pós-traumático. Ainda, 88% das mulheres avaliadas apresentaram altos graus de experiências dissociativas peritraumáticas. (MOZZAMBANI, 2010). A violência contra a mulher quando é perpetrada pelo parceiro íntimo além de gerar patologias e déficits em funções cognitivas, também está associada a diversas psicopatologias (Transtorno de Estresse Pós-Traumático, depressão e ansiedade), caracterizando-se como um problema social e de saúde pública. Estes dados também trazem a luz reflexões referentes à instituição casamento ou a própria união estável. A busca de uma manutenção do modelo familiar sagrado e dos papéis de homens e mulheres num casamento são variáveis a serem consideradas pertinentes na discussão da violência de gênero. O casamento simboliza um status de segurança, estabilidade e até mesmo equilíbrio nas relações afetivas. Desta forma, muitas mulheres permanecem presas ao ciclo de violência por buscarem manter o casamento 3 idealizado. Em relação às violências sofridas, mulheres referiram a psicológica como a pior delas, pois era diária e constante, caracterizando-se como uma tortura interminável. A presença de um clima de medo e de ameaças constantes na vida da mulher e de seus filhos está associada à paralisia, à impotência, à culpa, e à submissão. Além disso, o abuso psicológico em geral tem sido associado à sequelas duradouras, na autoestima, na passividade e na personalidade das mulheres em situação de violência. (GRIEBLER, 2013). Perfil da vítima criança No cotidiano, muitas crianças vivenciam eventos estressores, dentre eles, destaca-se a violência no contexto familiar. Ela pode envolver atitudes de abuso ou negligência dos responsáveis direcionados à criança, bem como a violência inter- parental presenciada pela criança. Podem-se considerar quatro tipos de violência doméstica direcionados à criança: violência física, violência psicológica, negligência e violência sexual. Apesar das tentativas de classificar a violência doméstica, observam- se muitas controvérsias que têm influenciado a operacionalização da experiência de maus-tratos, reconhecendo-se que é um fenômeno heterogêneo e complexo. Milani e Loureiro (2008), ao analisarem os tipos de violência vivenciados pelas crianças atendidas pelo Conselho Tutelar, observaram a atuação paralela de diferentes formas de violência, como a violência doméstica direcionada à criança e a violência inter- parental. No referido estudo, as autoras verificaram, ainda, as condições familiares das crianças atendidas por violência doméstica, e observaram que esta forma de violência pode estar relacionada a múltiplas adversidades como o conflito parental recorrente e o uso abusivo de álcool e drogas, mostrando que, ao se referir à violência doméstica como uma adversidade, quase sempre se faz presente um conjunto de condições negativas. Outros estudos têm destacado a complexidade das condições envolvidas no estudo da violência doméstica, apontando para a associação com fatores tais como a desigualdade social, problemas quanto à qualidade de vida e o comprometimento das relações intra-familiares. Mc Closkey, Figueiredo e Koss (1995) constataram a influência direta da violência doméstica na saúde mental das crianças e relataram a importância de se considerar a violência inter-parental presenciada pela criança, chamando a atenção para o fato que as crianças de lares violentos estão sob risco elevado de sofrerem violência de ambos os pais, principalmente a violência 4 física. Szyndrowski (1999), ao descrever características comportamentais observadas em crianças que testemunham violência doméstica, destaca as seguintes manifestações: agressividade, medo intenso, baixa auto-estima, desconfiança nas relações íntimas, medo do futuro, reclamações psicossomáticas e problemas relativos à autoridade. A associação entre exposição à violência inter-parental e problemas acadêmicos em crianças foi estudada por Kernic et al. (2002). As crianças expostas à violência apresentaram maior absenteísmo e maior probabilidade de serem suspensas da escola devido a problemas de comportamento. Entretanto,não foram encontradas dificuldades em relação à performance acadêmica. Brancalhone, Fogo e Williams (2004) avaliaram o desempenho acadêmico de crianças expostas à violência conjugal. Os autores não encontraram diferenças no desempenho acadêmico delas quando comparadas a outras de famílias não violentas, porém, detectaram diferenças entre os grupos quanto à avaliação do professor. Os autores hipotetizam que conhecimentos prévios sobre a história de vida das crianças possam ter influenciado a avaliação do professor, bem como a influência de outros fatores subjetivos, como onível de exigência do professor e sentimentos despertados em relação aos alunos. Comentam que tais sentimentos podem contribuir para que os professores tenham baixas expectativas em relação às crianças expostas à violência conjugal. Salzinger, Feldman, Ng-Mak, Mojica e Stockhammer (2001) avaliaram a expectativa social e o status social de crianças vítimas de violência doméstica no grupo. Crianças abusadas fisicamente apresentaram-se menos propensas a esperar que seus colegas de classe as escolhessem positivamente; revelaram, ainda, menor tendência a se engajar em comportamento pró-social. O comportamento da criança no contexto escolar e, mais especificamente, o seu ajustamento acadêmico foi alvo de atenção de Shonk e Cicchetti (2001), que constataram prejuízos nesse ajustamento. As crianças maltratadas apresentaram menos engajamento que o grupo de comparação, ou seja, menos motivação para se envolver de forma autônoma com comportamentos que levam ao aprendizado. Ao analisar estes estudos, observam-se associações significativas entre violência doméstica direcionada à criança, autopercepções relativas ao relacionamento social e prejuízos no ajustamento escolar, porém não foram encontradas dificuldades quanto ao desempenho escolar. O estudo sobre os riscos psicossociais, dentre eles, a violência doméstica, constitui-se área de interesse 5 da psicopatologia do desenvolvimento, especialmente no que se refere à exploração das associações entre a violência, o desempenho escolar e o autoconceito, dada a relevância destas variáveis como indicadores da realização das tarefas de desenvolvimento próprias da fase escolar. Dentre tais tarefas, a adaptação à vida escolar é considerada socialmente decisiva para o desenvolvimento das crianças, no período dos seis aos 12 anos. Erikson (1976), apoiado em um enfoque psicossocial do desenvolvimento, considera que a personalidade se desenvolve em etapas caracterizadas por crises e que nos anos iniciais de escolarização fundamental predomina a vivência de conflitos entre o senso de realização e o senso de inferioridade, expressando-se pelo desejo das crianças de mostrarem-se competentes e com capacidade produtiva. Tratase de um período em que a criança busca o reconhecimento social através de sua capacidade de se preparar para o trabalho no mundo adulto. Neste sentido, o desempenho acadêmico, o ajustamento ao ambiente escolar e a capacidade de estabelecer relações sociais gratificantes são importantes indicadores dos recursos de adaptação (Jacob & Loureiro, 1996). Quando a violência é dirigida contra as crianças, a gravidade das ações atinge toda a infância e as lesões e traumas físicos, sexuais e emocionais que sofrem, mesmo que nem sempre sejam fatais, determinam significativos potenciais de desgaste, não só naquele momento, mas ao longo de toda a vida. A vivência de maus- tratos na infância está associada à prática e vivência de outros tipos de violência, como a conjugal, sexual e autodirigida. Pode-se dizer que estratégias de prevenção de maus-tratos na infância têm potencial para reduzir o envolvimento com a violência em todas as fases da vida(4) (APOSTÓLICO, 2012). A avaliação das características sócio demográficas de crianças vítimas de violência sexual mostrou que 43.034 (74,2%) eram do sexo feminino e 14.996 (25,8%) eram do sexo masculino. Do total, 51,2% estavam na faixa etária entre 1 e 5 anos, 45,5% eram da raça/cor da pele negra, e 3,3% possuíam alguma deficiência ou transtorno. As notificações se concentraram nas regiões Sudeste (40,4%), Sul (21,7%) e Norte (15,7%). Entre as crianças do sexo feminino com notificação de violência sexual, destaca-se que 51,9% estavam na faixa etária entre 1 e 5 anos e 42,9% entre 6 e 9 anos, 46,0% eram da raça/cor da pele negra, e as notificações se 6 concentraram nas regiões Sudeste (39,9%), Sul (20,7%) e Norte (16,7%) (Tabela 1). Entre as crianças do sexo masculino com notificação de violência sexual, destaca-se que 48,9% estavam na faixa etária entre 1 e 5 anos e 48,3% entre 6 e 9 anos, 44,2% eram da raça/cor da pele negra, e as notificações se concentraram nas regiões Sudeste (41,8%), Sul (24,6%) e Norte (12,7%) (Tabela 1). A avaliação das características da violência sexual contra crianças mostrou que 33,7% dos eventos tiveram caráter de repetição, 69,2% ocorreram na residência e 4,6% ocorreram na escola, e 62,0% foram notificados como estupro. Entre as crianças do sexo feminino, a análise das notificações de violência sexual mostrou que 33,8% tiveram caráter de repetição, a residência (71,2%) e a escola (3,7%) foram os principais locais de ocorrência, e 61,0% dos eventos foram notificados como estupro. Entre as crianças do sexo masculino, a avaliação das notificações de violência sexual mostrou que 33,2% tiveram caráter de repetição, a residência (63,4%) e a escola (7,1%) foram os principais locais de ocorrência, e 64,6% dos eventos foram notificados como estupro. A avaliação das características do provável autor da violência sexual contra crianças mostrou que em 74,7% das notificações houve envolvimento de um autor. Em 81,6%, o agressor era do sexo masculino e 37,0% tinham vínculo familiar com a vítima. Entre as crianças do sexo feminino, em 75,6% dos casos notificados a violência sexual foi perpetrada por um autor. Em 80,8%, o agressor era do sexo masculino e 39,8% tinham vínculo familiar com a vítima. Entre as crianças do sexo masculino, em 72,2% dos casos notificados a violência sexual foi perpetrada por um autor. Em 83,7%, o agressor era do sexo masculino e 35,4% tinham vínculo de amizade/conhecimento. (MINISTERIO DA SAUDE, 2018) Grau de parentesco do agressor – violência doméstica sexual Nos casos de violência sexual, o padrasto ou companheiro da mãe ocupou o primeiro lugar, seguido pelo pai, avô, tio e outros com quem a vítima mantinha laços de dependência, afeto e convivência.(NUNES, 2014). Perfil psicossocial da criança e adolescente Embora não se possa traçar um conjunto único dos sintomas que acometem uma criança e adolescente vítima de qualquer forma de violência doméstica, o impacto de 7 sua exposição direta ou indireta às situações abusivas, bem como a frequência e intensidade dessa exposição, revelam-se como fatores de risco para o surgimento de problemas de saúde mental. Sintomas como depressão, ansiedade, transtorno de estresse pós-traumático3 (Sá et al, 2009; Ximenes, Oliveira & Assis, 2009), condutas desafiadoras, transtornos de conduta, comportamento transgressor (Pesce, 2009), suicídio, drogadição, tabagismo, alcoolismo, distúrbios psicossomáticos, automutilação, distúrbios alimentares, distúrbios afetivos (Maia & Barreto, 2012), falta de concentração na escola, distúrbios de sono, hipervigilância (Assis, Avanci & Ximenes, 2009), baixa autoestima, falta de confiança e isolamento (Prado & Pereira, 2008) são citados como alguns eventos resultantes da violência doméstica para as vítimas. De acordo com Assis et al. (2009), a violência que ocorre no âmbito familiar eleva até três vezes o risco de adolescentes apresentarem problemas mentais em comparação com aqueles 3 Ximenes, Oliveira e Assis (2009, p. 428) observaram que “crianças que vivem em situação mais precária demonstram mais chances na apresentação de sintomas pós-traumáticos (3,67 vezes) do que aquelas crianças com bom funcionamento familiar”. Violência Doméstica contra Crianças e Adolescentes – A. S. Barros, M. F. Freitas Pensando Famílias, 19(2), dez. 2015, (102-114) 106 expostos à violência urbana; isso indica a importância da relação familiar no desenvolvimento de boas condições de saúde mental para as crianças e adolescentes. (BARROS, 2015). A avaliação das características sociodemográficas de adolescentes vítimas de violência sexual mostrou que 76.716 (92,4%) eram do sexofeminino e 6.344 (7,6%) eram do sexo masculino. Do total, 67,8% estavam na faixa etária entre 10 e 14 anos, 55,5% eram da raça/cor negra, 7,1% possuíam alguma deficiência ou transtorno e as notificações se concentraram nas regiões Sudeste (32,1%), Norte (21,9%) e Sul (18,8%). Entre as adolescentes do sexo feminino, 67,1% estavam na faixa etária entre 10 e 14 anos, 56,0% eram da raça/cor da pele negra, 6,3% possuíam alguma deficiência ou transtorno e as notificações se concentraram nas regiões Sudeste (31,4%), Norte (22,6%) e Sul (18,4%) (Tabela 4). Entre os adolescentes do sexo masculino, 75,9% estavam na faixa etária entre 10 e 14 anos, 49,9% eram da raça/cor da pele negra, 17,0% possuíam alguma deficiência ou transtorno e as notificações se concentraram nas regiões Sudeste (41,0%), Sul (23,5%) e Nordeste (14,0%) . A 8 avaliação das características da violência sexual contra adolescentes mostrou que 39,8% dos eventos tiveram caráter de repetição, 58,2% ocorreram na residência e 13,9% em via pública, e 70,4% foram notificados como estupro. Entre as adolescentes do sexo feminino, a avaliação das notificações de violência sexual mostrou que 39,7% tiveram caráter de repetição, a residência (58,7%) e a via pública (14,1%) foram os principais locais de ocorrência, e 70,9% dos eventos foram notificados como estupro (Tabela 5). Entre os adolescentes do sexo masculino, a avaliação das notificações de violência sexual mostrou que 40,3% tiveram caráter de repetição, a residência (52,0%) e a via pública (11,4%) foram os principais locais de ocorrência, e 64,2% dos eventos foram notificados como estupro. A avaliação das características do provável autor da violência sexual contra adolescentes mostrou que em 78,9% das notificações houve envolvimento de um autor. Em 92,4% o agressor era do sexo masculino e 38,4% tinham vínculo intrafamiliar (familiares e parceiros íntimos). (MINISTERIO DA SAUDE, 2018). Referencias bibliográficas: APOSTOLICO, M. et al.Características da violência contra criança em uma capital brasileira. Rev. Latino-Am. Enfermagem. São Paulo, v. 20, n.2, 2012. MADUREIRA, A. et al. Perfil de homens autores de violência contra mulheres detidos em flagrante: contribuições para o enfrentamento. Rev. Escola Anna Nery Revista de enfermagem. Paraná, V. 18, n.4, 2014. GARBIN, C. et al. Violência doméstica: análise das lesões em mulheres. Cad. Saúde Pública. Rio de Janeiro, V.22, n. 12, 2006. BARROS, A. S; FREITAs, M. Violência doméstica contra crianças e adolescentes:conseqüências e estratégias de prevenção com pais agressores. Pensando Famílias. Paraná, v. 19, n. 2, p. 102-183, 2015. NUNES, A. J; SALES, M. violência contra crianças no cenário brasileiro. Ciência & Saúde Coletiva. Terezina, v. 21,n. 3, 2016. GRIEBLER, C. N; BORGES, J. Violência contra mulher: perfil dos envolvidos em boletim de ocorrência da lei Maria da penha. Psico. Porto Alegre, PUCRS, v. 44, n. 2, p. 215-225, abr./jun. 2013. 9 MOZZAMBANI, A. et al. Gravidade psicopatológica em mulheres vítimas de violência doméstica. Rev Psiquiatr Rio Gd Sul. São Paulo, 2010. ALVES, C. Violência doméstica. Faculdade de economia da universidade de Coimbra, Coimbra, 2005.
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