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Resenha A Globalização e o enfoque do Sistema-Mundo - Capítulo do livro "Teoria da Dependência - Balanços e Perspectivas" - Theotônio Dos Santos

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DOS SANTOS, Theotonio. A globalização e o enfoque do Sistema-Mundo. In: ______. Teoria da Dependência: Balanços e perspectivas. Florianópolis: Editora Insular, 2015. p. 51-62.
Wendell da Costa Magalhães[footnoteRef:2]* [2: 	 Graduando do curso de Economia da Universidade Federal do Pará] 
No capítulo em específico, tratando da globalização e da Teoria do Sistema-Mundo e a relação estabelecida com a Teoria da Dependência, o autor destaca que esta segue e aperfeiçoa um enfoque global que visa compreender a formação e evolução do capitalismo como uma economia mundial. Nesse sentido, partindo do fato de que a Teoria da Dependência surge do estudo de autores diversos, incluindo Raúl Prebisch e seus conceitos de “centro” e “periferia”, passando pelos autores da Teoria do Imperialismo, como Hilferding, Rosa Luxemburgo, Hobson, Lenin e Bukharin, depois de formulada em suas bases, vemos que a Teoria da Depêndência é nos apresentada sob o enfoque do sistema mundial e, por isso, se assemelha à Teoria do Sistema-Mundo.
Citando Bjorn Hettne, o autor nos apresenta um quadro conceitual formulado por este que indica que a Teoria da Dependência leva à Teoria do Sistema-Mundo, enquanto a teoria estruturalista caminha para a teoria das necessidades básicas encampadas pelo Banco Mundial nos anos 1970 sob a direção de Mcnamara. Paralelo a isso, existe uma tendência endogenista, surgida dos modelos marxistas de acumulação de capital, chamada por Hettne de análise dos modos de produção. A Teoria da Dependência também teria surgido dos modelos marxistas de acumulação de capital, ainda segundo o quadro conceitual de Hettne, mas sofrido a influência da análise estruturalista. Por fim, as teorias da modernização, mantendo seu quadro de análise ocidentalista ou eurocentrista, sofreriam a crítica dos modelos de “outro desenvolvimento” ou desenvolvimento alternativo. Disso nasceria a concepção do desenvolvimento humano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
Continuando com o enfoque do Sistema-Mundo, o autor destaca que, segundo este, na economia capitalista que se confunde com a economia mundial, há um centro, uma periferia e uma semiperiferia. Distingui-se, entretanto, entre as economias centrais, uma economia hegemônica que articula o conjunto do sistema. Partindo disso, a Teoria do Sistema-Mundo absorveu a noção de ondas e ciclos longos de Fernand Braudel, que se diferenciam dos ciclos descritos por Nikolai Kondratiev. Na tentativa de conciliar estes últimos com aqueles, concilia-se ciclos de 50 a 60 anos (Kondratiev) com o movimento do capital financeiro e das hegemonias estatais, encontrados por Braudel. O resultado é que, sob o enfoque do Sistema-Mundo, a evolução do capitalismo é vista como uma sucessão de ciclos econômicos, articulados com processos políticos, sociais e culturais.
Citando o economista Giovanni Arrigui, o autor destaca a ordenação da história do capitalismo feita por este, como uma sucessão de quatro ciclos longos de acumulação baseados em quatro centros hegemônicos: ciclo genovês, que se inicia no fim do séc. XIV e início do séc. XV, formando a base de acumulação financeira de Gênova, se prolongando até o fim do séc. XVI e começo do XVII, tendo como principal instrumento as monarquias ibéricas; ciclo holandês, indo do fim do séc. XVI e início do séc. XVII até a metade do séc. XVIII; ciclo britânico, que se inicia na metade do séc. XVIII e se prolonga até a Primeira e Segunda Guerra Mundial; e ciclo norte-americano que vai da Primeira Guerra, se desenvolve durante a Segunda Guerra Mundial, até nossos dias, quando há sinal de um novo ciclo no sudeste asiático ou a partir de algum núcleo de poder supranacional.
Segundo o autor, Arrighi analisa a relação destes ciclos com os principais centros financeiros que terminaram se transformando em centros hegemônicos aliados com centros comerciais. Falta à análise, contudo, aprofundar no aspecto produtivo, estabelecendo os regimes de produção, a evolução das forças produtivas e das relações sociais de produção para melhor explicar o funcionamento destes ciclos. Complementando e reordenando o esforço mais global da teoria do sistema mundial, o autor, em outra obra sua, tenta articular a noção de sistema mundial com as grandes estruturas de produção e com a revolução científico-técnica.
Nas análises do sistema mundial, o autor destaca a negação das interpretações do mundo contemporâneo baseadas na bipolaridade do pós-guerra, que levam a crer na existência de dois sistemas econômicos de poder paralelo durante a guerra fria, quando o que de fato se detecta é um único sistema econômico mundial de caráter capitalista e sob a hegemonia norte-americana. Diante disso, uma nova síntese teórico-metodológica nasce a partir da ampla documentação empírica sobre as corporações mutinacionais, sobre as novas direções da economia mundial e sobre a nova ordem econômica mundial, proposta pelos não alinhados nas Nações Unidas. Documentação esta produzida desde fins dos anos de 1960. Quanto a nova síntese teórico-metodológica, em resumo o autor aponta seus elementos, indicando que a teoria social deve deixar sua extrema especialização e retomar a tradição das grandes teorias explicativas; conceber o surgimento do capitalismo na Europa do séc. XVIII como parte de um processo histórico mais global responsável por criar uma civilização planetária; ser orientada pela formação e evolução do capitalismo mundial na análise de fenômenos nacionais, regionais e locais, buscando nestes a superação dos males produzidos pela evolução do capitalismo; situar, ciclicamente, os aspectos acumulativos do processo histórico dentro dos limites das forças produtivas, relações sociais de produção, justificativas ideológicas destas relações e limites do conhecimento humano; e, por fim, a evolução da ciência social deve ser entendida como parte de um processo mais global da relação do homem com a natureza, sendo vista como um processo mais amplo de desenvolvimento da subjetividade humana.

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