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Psicologia do Desenvolvimento e Apredizagem: Adolescência e Vida Adulta Psicologia do Desenvolvimento e Apredizagem: Adolescência e Vida Adulta A formação docente é o tema gerador que move o percurso deste livro voltado para a informação, discussão e reflexão sobre a vida humana em desenvolvimento, com destaque para os assuntos adolescência e vida adulta. São vários autores que assinam os diferentes capítulos, após o ques- tionamento de quais caminhos a serem trilhados como facilitadores ou oportunizadores de informações de qualidade para favorecerem um tra- balho docente mais qualificado. Parte-se da própria história da Psicologia quando hoje a preocupação é com o indivíduo que percorre dois terços ou mais da sua trajetória de vida (1º. Capítulo) como adulto, em diferentes fases até alcançar a velhice. Para se chegar ao adulto houve a proposição da travessia do território adolescente, mesmo que este seja considerado como fenômeno “sócio-oci- dental”, sentiu-se a necessidade de rever o seu mundo, seu desenvolvimen- to e nuances diferentes e agrupantes (2º.capítulo) para se poder investigar, compreender e analisar tanto essa fase de contrastes, ora hilariante, ora conflituosa para chegar e poder entender um adulto pai(mãe) – para não magoar qualquer gênero – avô (avó) e até bisavô (bisavó) em seus no- vos comportamentos, hábitos e atitudes na contemporaneidade (4º. e7º. capítulos). Mas a família corresponde a outro campo importante a ser desfolhado com formações, estruturas e tipologia tão diversas quanto o território brasile- iro (2º.capítulo), emergindo influente e demarcante na vida de qualquer um. Apresentação iv Psicologia do Desenvolvimento e Apredizagem: Adolescência e Vida Adulta Por necessidade mais didático-pedagógica, emerge a “quadrologia”: Escola, Aluno, Família e Comunidade, abrangendo a construção do con- hecimento em diferentes contextos e seus desafios de interação, de agre- gação, de adaptação no cotidiano, e, também, extremamente tecnológico (6º.capítulo), fazendo-se incluir os sonhos de cada um (5º.capítulo). Então, os processos lúdicos e artísticos não puderam ficar de lado, quando para uma vida saudável e de qualidade estes aspectos devem ser explorados (8º.capítulo) e/ou canalizados. Entre sonhos, projetos de vida, surgem inevitavelmente o tema “per- das”, quando da dualidade ou pluralidade de opções e de decisões a serem tomadas (9º.capítulo), chegando-se às perdas como finitude de qualquer fato, ação ou vida (10º.capítulo). A mistura na menção dos capítulos e dos assuntos abordados apa- rece de modo aparentemente desordenado, tanto quanto, muitas vezes, a própria Vida pode parecer para alguém, no seu cotidiano, nas suas reações inexplicáveis, mas que podem estar (e certamente, o estão) con- substanciadas em um dos diferentes territórios por ele percorrido. Espera-se que o leitor (acadêmico) goste do que encontre nas páginas deste livro e que possa entender um pouco mais do adolescente e do adul- to (e dele próprio) na essência do fazer do seu trabalho docente. Em nome de todos os autores deste pequeno livro: Lourdes da Silva Gil 1 O Mundo Adulto: um Desenvolvimento a ser Percorrido Pela História .........................................................................1 2 Adolescência: Física, Emocional e Cognitiva – um Período de Transição .......................................................................24 3 Grupo Familiar: um Contexto, Várias Realidades .................52 4 Ser Adulto na Contemporaneidade: Idade Adulta, Intermediária, Envelhescência e Velhice – Aspectos Biopsicossociais ..................................................................76 5 O Sujeito em Busca de Aprendizagens no Ensino Superior: Entre o Sonho e a Construção da Realidade! .......................91 6 Tecnologia da Comunicação: Os Desafios Cotidianos da Aprendizagem ..................................................................108 7 Adolescência que se Reflete no Comportamento Humano Adulto: Certo ou Errado? ..................................................129 8 O Desenvolvimento Humano Através de Processos Lúdicos e das Artes ...........................................................159 9 Perdas ao Longo da Vida ..................................................182 10 Finitude: Reflexões sobre a Vida e a Morte ........................199 Sumário O Mundo Adulto: um Desenvolvimento a ser Percorrido Pela História12 O Mundo Adulto: um Desenvolvimento a ser... 1 Pedagoga, com Habilitação em Orientação Educacional, Psicopedagoga, Profes- sora na Universidade Luterana do Brasil. 2 Pedagoga, com Habilitação em Orientação Educacional, Mestre em Métodos e Técnicas de Ensino e Doutora em Educação, Professora na Universidade Luterana do Brasil. Hellen Callegari Cardia Lorenzoni1 Lourdes da Silva Gil2 Capítulo 1 2 Psicologia do Desenvolvimento e Apredizagem: Adolescência e Vida Adulta Introdução O estudo do desenvolvimento Humano em sua trajetória his- tórica registra no mundo ocidental o seu começo com a Fi- losofia. Avançou na época dos gregos que chegou a ter um ramo muito especial denominado de Psicologia por se tratar do estudo específico da alma humana. O desenvolvimento humano ocorre ao longo de toda vida, sendo cada período influenciado pelo que aconteceu antes e irá afetar o que virá depois. Nenhuma fase é mais ou menos importante do que a outra e, cada parte tem suas característi- cas próprias, ocorrendo assim o desenvolvimento do ciclo da vida. Pesquisava-se muito sobre as fases do desenvolvimen- to infantil e adolescente, podendo ser observadas em varias obras, ainda em uso pela sua validade de conteúdo, cujos autores apresentavam o ciclo de vida humana, abrangendo do bebê até o adolescente, pois havia a crença de que o adulto já estava formado ou constituído, não havendo necessidade de explorar esse assunto. Porém, hoje, há cada vez mais um inte- resse maior no estudo do adulto e do velho, pois, vive-se por mais tempo, com problemáticas distintas, em faixas diferentes e, com a possibilidade de melhor qualidade de vida. 1.1 A evolução do pensamento e as denominações dos ciclos de vida humana Os escritos como “Só sei que nada sei” de Sócrates sobre o conhecimento, “se penso, então existo” – foram máximas para Capítulo 1 O Mundo Adulto: um Desenvolvimento a ser... 3 justificar o humano dos seres pensantes. Sócrates, Platão, Aris- tóteles, Xenofante são os filósofos mais citados como estudio- sos da alma humana. No entanto, essas ideias que brotavam, foram combatidas, motivos de lutas e conflitos, naquela épo- ca, não só por intelectuais. Foram ideias novas que causaram condenações e custaram vidas. Mas tudo isso se constituiu em fatos que incrementaram ou fomentaram os pensamentos, porque eram ideias moral, intelectual e filosoficamente dife- rentes de seus contemporâneos atenienses, quando, por exem- plo, Sócrates, acreditando que os erros são consequência da ignorância humana, intentava levar as pessoas a conhecerem os seus desconhecimentos, problematizando os conceitos exis- tentes na sociedade da época. O “Conhece-te a ti mesmo” desde Sócrates permanece até hoje e o homem procura respostas adquirindo livros de auto- ajuda, investigando, discutindo, consultando especialistas na área, não só da psicologia como da psiquiatria, assim como continua o debate humano entre o bem e o mal, destacando valores morais e existenciais. Após a Idade Média, onde a criança era percebida como um adulto em miniatura (denominada neste texto como criança- -adulto) e, com o encaminhamento para o mundo Moderno, associado à necessidade da mulher ter de se afastar do lar para se dedicar ao trabalho fora, com o objetivo de garantir o susten- to de seus filhos, passa a criança a ser uma preocupação social, transferindo-se em boa parte as obrigações para o Estado. As primeiras creches surgiram, substituindo de alguma forma os “asilose amparos”, como instituições religiosas ou 4 Psicologia do Desenvolvimento e Apredizagem: Adolescência e Vida Adulta particulares para onde as crianças desvalidas eram encami- nhadas. Têm-se registros quando da volta de D. Pedro I para Portugal e assumido a coroa, de que teria a sua esposa Dona Amélia criado creches em atenção à criança. Entre a ideia de criança-adulto à de criança-criança, um período longo ocorreu, evoluindo em função de avanços nas áreas de conhecimento, entre elas a da medicina, que desco- bria a penicilina, vacinas e outras substâncias, industrializan- do-as, e, como instituição, formava mais médicos e enfermei- ras, que se ampliavam como classes profissionais. Assim como os sanitaristas, surgiam os departamentos públicos de saúde da República brasileira e, que despertavam para os problemas epidêmicos, envolvendo a questão da higiene, dos dejetos lançados ou descarregados a céu aberto, do alto índice de mortalidade, principalmente a infantil. As vacinas foram des- cobertas e ofertadas nos postos de saúde, enquanto o medo e a rejeição da população em relação a elas foram pouco a pouco abrandados. O foco, então, lentamente, passa da do- ença para o almejo da saúde1. Paralelo às questões de saúde, ao avanço da medicina, às novas tecnologias de exames surgidas, à sobrevivência a de- terminadas doenças, cujas curas foram paulatinamente desco- bertas, bem como muitas das suas causas, o homem prolonga a sua vida terrena e permanece um maior tempo na vida ativa profissional. 1 Recomenda-se a leitura sobre Oswaldo Cruz- Revolta da Vacina em 1904. Consultar: educação.uol.com.br/.../revolta-da-vacina-oswaldo-cruz-e- pereira-passos.. ou pt.wikipedia.org/wiki/revolta_da_vacina. Capítulo 1 O Mundo Adulto: um Desenvolvimento a ser... 5 Politicamente a legislação brasileira relativa ao trabalho foi se alterando, como se pode citar – a Consolidação das Leis Trabalhistas, sendo implantada a diminuição da carga horária de trabalho, cuja jornada foi sendo modificada até a fixação em oito horas diárias de serviço, sendo, também, estipulado um salário mínimo, estabelecido o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), e o descanso semanal remunerado, a regulamentação do trabalho de menores de idade, da mu- lher e o trabalho noturno. O direito a férias, licença gestante, a participação do trabalho do negro, a ampliação da aposen- tadoria para todos os trabalhadores urbanos e rurais foram pouco a pouco sendo conquistados. Estas reformas ou mudanças não aconteceram de uma hora para outra, muitas coisas aconteceram, tanto no cená- rio mundial, quanto nacional, como os conflitos e experiên- cias advindos de duas guerras denominadas de mundiais, que contribuíram sobre vários aspectos para um maior amadureci- mento social, cultural e, até mesmo comparativo entre e/com outros países. Houve um processo maior de humanização, de expansão de ideias por meio da educação, destacando-se eminentes figuras nacionais, que foram sendo destaques em diversas áreas, principalmente na política, saúde, educação, como Rui Barbosa, Joaquim Nabuco, Oswaldo Cruz, Carlos Chagas, Santos Dumont, entre outros e que influíram na vida de toda uma população. Por exemplo, o período de Getúlio Vargas trouxe reformas com a participação de auxiliares que com- puseram o seu ministério, como Francisco Campos, Gusta- vo Capanema, destaques e reformadores da educação, sem 6 Psicologia do Desenvolvimento e Apredizagem: Adolescência e Vida Adulta desmerecer outros tantos. Foi um período fértil de ideias e do desenvolvimento da cultura, das artes e ciências em geral e de invenções. Consequentemente, os estudos se aprofundam também na questão do desenvolvimento humano, considerando-se o próprio desenvolvimento do conhecimento científico e da ne- cessidade de avançar nas investigações para resolverem pro- blemas, inquietações e males humanos. É o homem disposto a conhecer seus desconhecimentos, parafraseando Sócrates, para saciar suas necessidades, seus sentimentos e a procura de evolução cultural, mantendo-se até hoje. Além do novo conceito sobre a criança, a adolescência surge como um fenômeno ou problema sociocultural advindo do modernismo, pois, anteriormente, a criança crescia e mer- gulhava no mundo adulto de trabalho com 12 horas ou mais, ou na escravidão. Na cultura indígena, por exemplo, há um preparo tanto para a menina como para o menino ingressa- rem no mundo adulto por meio de rituais bem específicos de passagem. Hoje, o chamado adolescente, na sociedade urbana, per- manece mais tempo em casa pelo estudo a que se dedica ou que se vê obrigado a cursar, ao trabalho remunerado que mui- tas vezes tenta executar, ao grupo que passa a fazer parte, aos novos hábitos e incremento de novas culturas provocadoras de mudanças, enquanto a sua casa muda na relativa estrutura (menor número de peças, apartamentos populares, estrutura familiar que se organiza conforme será tratado em outro ca- pítulo etc.) e a vida urbana, também, modifica-se. As famílias Capítulo 1 O Mundo Adulto: um Desenvolvimento a ser... 7 que reduziram o número da sua prole e com o trabalho do casal, tendo as ‘vantagens’ sociais na sua maioria cumpridas, diminuem a necessidade do filho de se lançar no mercado de trabalho, mas, em contraponto, têm pouco tempo tem para cuidar desse jovem. O estudo desse adolescente começa a despertar, no final do século XIX e, principalmente, início do século XX, para as diferenças de etapas, assim como, a própria medicina e outros cursos, depois das especializações em pediatria, passam a oferecer cursos de especialização e estudos na área da hebe- logia (o estudo da adolescência e da problemática biológica, psicológica e sociogenética que caracteriza esta fase da vida humana)... para o atendimento específico deste nem homem, nem criança – que necessita de cuidados de saúde especiais. O estudo do ciclo da vida humana, principalmente na Eu- ropa ocidental, como Portugal e Espanha, apresenta em livros de diferentes autores a divisão do ciclo humano em criança – adulto e velho, enquanto, nos estudos no Brasil, a subdivisão adotada é bem mais detalhada. O estudo sobre o adulto é bem mais recente, assim como as especializações nesta área, como, por exemplo, a especialização médica em tratamento ao idoso passou a ser denominada de geriatria. Já para a especialização de pessoas oriundas de outras áreas do conhecimento que queiram aprofundar-se no assun- to, o estudo sobre o adulto velho ou o processo de envelhe- cimento, é denominado de gerontologia, assim como An- dragogia passa a ser a arte ou ciência de orientar adultos a aprender. O conceito andragogia provavelmente foi criado na 8 Psicologia do Desenvolvimento e Apredizagem: Adolescência e Vida Adulta década de 1970 por Malcolm Knowles. Este termo também é encontrado em um sentido mais amplo, até aplicado à educa- ção continuada e se contrapõe à pedagogia, que se refere à educação de crianças (do grego paidós, condutor/ educador de criança). No Rio Grande do Sul, os estudos sobre o adulto começa- ram a partir dos anos 70 com a pesquisa e obra sobre vida adulta de autoria de Juan Mouriño Mosquera, que detalhou cada faixa etária desde o bebê ao velho. Assim como o estudo do desenvolvimento da pessoa desde o nascimento até a mor- te, em 1972, passou a fazer parte sistematizada do currículo da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, conforme informações registradas na apresen- tação da primeira edição em português- 1983, por Machado e Eizirik (apud LIDZ, 1983). Nos anos 90, o Conselho Estadual do Rio Grande do Sul em parceria com 14 universidades do Estado, incluindo-se a ULBRA, realizou uma pesquisa com o idoso não instituciona- lizado, abrangendo vários municípios, sendo observadas ca- racterísticas bem peculiares do idoso a partir de 60/65 anos. Destacam-se os estudos nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro com publicações em livrose revistas, palestras sobre o envelhecimento, na sua maioria relacionada à área da saúde. VERAS traz a público os resultados de várias pesquisas realiza- das como estudioso do assunto envelhecimento, associando- -se a um grupo de alunos. Ligia Py organiza grupo de estu- dos sobre o envelhecer e a morte, fazendo palestras em vários eventos de estados do Brasil. Capítulo 1 O Mundo Adulto: um Desenvolvimento a ser... 9 Algumas obras foram traduzidas para o português de auto- res americanos como Dr. Theodore Lidz*4, da Universidade de Yale, com o título mencionado sobre a pessoa, tornando-se objeto de estudo na Faculdade de Medicina da UFRGS. Se lhe perguntarmos como você classificaria o ciclo de vida humana, perceberia que se encontram várias classifi- cações, conforme a percepção de cada autor ou da opinião das pessoas, sendo o mais comum ou frequente encontrar- -se atribuições à faixa da adolescência entre 12/13 anos até 20/21, seguindo a idade adulta até 40/45 anos, a meia ida- de dos 40/45 anos até 60/65 anos e a velhice dá sequência até a morte. O que se pode destacar sobre o período de adultez e por meio de todas as transformações sociais, é que surge um adul- to com mais responsabilidades e com elas outros temas e tem- pos passam a ser questionados como: vida saudável; relações parentais; as novas relações amorosas; o prolongamento da vida de uma média de 43,5 anos na década de 40 para 67/68 anos nos anos 90 e, agora, com uma previsão para 120 anos em até 2015/2020; a constituição de nova família; a paterni- dade na velhice; a manutenção de hábitos e comportamentos da juventude nesta faixa etária, entre outros aspectos. O número de idosos, no Brasil, com idade acima de 60 anos, de três milhões em 1960, passou para sete milhões em 1975, dobrando nos seus 14 milhões em 2002 e 20 milhões (20.590.599) em 2010, portanto com um aumento popula- cional em torno de 600%, em cinquenta anos. Há uma esti- 10 Psicologia do Desenvolvimento e Apredizagem: Adolescência e Vida Adulta mativa para em 2020 que o número de idosos alcance os 32 milhões. Este fenômeno não é privilegio só do Brasil, mas de todo o mundo, o que causa problemas bastante sérios em relação à economia em diferentes países, pois com o afastamento do trabalho por incapacidade ou por idade legal prevista em lei, há uma redução de mão de obra para a manutenção do esta- tus quo de vários países. Acentua-se como desafio maior para o século XXI o cuidar dessa população de velhos, onde se observa até o momento uma maioria com níveis sócio-econômicos baixos (pelos va- lores de aposentadoria ou pensão a receberem), pelo nível baixo de escolaridade e a prevalência de doenças crônicas e incapacitantes. Deixa-se a ideia de que os profissionais da saúde e das ciências humanas se voltem cada vez mais e se dirijam para a transformação da realidade social, não só focando no proces- so de envelhecimento como para todas as faixas etárias e para suas diferentes abrangências como educação, saneamento, habitação, previdência, entre outras. Aborda-se a seguir aspectos do desenvolvimento humano, iniciando-se sempre pela faixa da adolescência, pois este é um dos focos do presente livro e sem a pretensão de esgotar o assunto, que terá tratamento diversificado e mais detalhado nos próximos capítulos. Capítulo 1 O Mundo Adulto: um Desenvolvimento a ser... 11 1.2 Diferentes aspectos de desenvolvimento 1.2.1 Desenvolvimento físico Aos 20 anos de idade os jovens adultos estão no auge da sua força, energia e resistência, com os sentidos apurados e fun- ções corporais plenamente desenvolvidas, dificilmente ficam doentes a não ser por resfriados ocasionais. Os dois maiores problemas nesta fase são a infecção por HIV e acidentes, sen- do esse segundo, a segunda maior causa de morte. A boa saúde não é apenas uma questão de sorte, reflete o estilo de vida e escolhas ao longo desta. A Organização Mundial da Saúde define saúde como um estado de total bem- -estar físico, mental, e social, o que nos mostra que vai além de estar doente. Hábitos saudáveis e comuns do dia a dia fa- zem diferença ao longo dos anos, alimentar-se regularmente, não fumar, beber com moderação, exercitar-se regularmente, dormir 7 horas por noite, conviver socialmente com pessoas e ter um tempo para seu lazer, estas condutas farão com que na terceira idade existam menos chances de sofrer de incapa- cidades. Outros fatores significativos para boa saúde são a educação e boa renda, ambas estão relacionadas a um estilo de vida saudável. Quem tem melhor nível de instrução fuma menos, tem consciência de acompanhamento de saúde, ali- menta-se melhor e, também, constituem-se em consequências de boa renda. Quem é mais saudável: homem ou mulher? Há mais tem- po houve dedicação ao estudo do homem e menos ao da mulher. Existem doenças comuns a ambos e aquelas que são 12 Psicologia do Desenvolvimento e Apredizagem: Adolescência e Vida Adulta específicas ao gênero como as do aparelho reprodutor femi- nino e câncer de testículos. Câncer de pulmão é mais comum em homens e problemas cardíacos aparecem mais tarde nas mulheres, sendo que essas têm uma maior expectativa de vida. Com a menstruação e gestação há uma maior conscientiza- ção do corpo e, com isto, um maior cuidado e proteção inclu- sive de forma preventiva. Em função de 70% dos antidepressi- vos e tranquilizantes serem prescritos às mulheres, percebe-se que as causas são mais de fundo emocional, o que acontece menos nos homens, pois tem menos consciência corporal, dá menos valor às emoções e “acredita” que queixar-se de algum problema de saúde não é másculo. Um aspecto positivo hoje é o fato dos médicos indicarem a dosagem dos medicamentos, observando o peso e sexo do paciente. Também, considera-se o estresse um fator importante de saúde, quanto mais estressante acontece em uma mudança na vida de uma pessoa, maior a probabilidade de doenças ma- nifestas nos 2 anos seguintes. O estresse está ligado a doen- ças como hipertensão, úlceras, derrame e doenças cardíacas. São sintomas de uma pessoa estressada: dores de cabeça, de estômago, musculares e sintomas de fadiga. Os aspectos psi- cológicos podem aumentar a probabilidade da doença e são reações comuns: ansiedade, nervosismo, tensão, raiva, irrita- bilidade e depressão. Para o Dr. Emílio Moriguchi, que afirmou em uma entrevista: “A Medicina tem uma tendência a separar em áreas, mas o fato é que somos uma pessoa só, uma unidade com- posta de diversidades. O corpo pode envelhecer mais Capítulo 1 O Mundo Adulto: um Desenvolvimento a ser... 13 rápido se a pessoa tiver um infarto antes do tempo. Mas o ideal é cuidar para que o corpo envelheça harmonica- mente. Aqui entra a questão da prevenção”.(2008, p. 8)“ Com essa afirmação passa-se a tratar sobre o desenvolvi- mento do adolescente e adulto sob os prismas psicossociais. 1.2.2 Desenvolvimento Psicossocial A personalidade não para de se desenvolver quando o corpo para de crescer, os atributos que cada adulto tem dentro de si influenciam no temperamento e comportamento, levando a algumas mudanças de personalidade, estas mudanças estão relacionadas com os diversos eventos e circunstâncias da vida. Estudos mostram que o adolescente alegre tem tendência a ser o “quarentão” alegre, adolescentes queixosos transformam-se em adultos irritadiços, os adolescentes que enfrentam bem os problemas da faixa etária também terão esta mesma qualida- de na vida adulta. Algumas pesquisas afirmam que a persona- lidade afirma-se entre 21 e 30 anos. A capacidade de adapta- ção à vida leva a uma maior satisfação com esta, permitindo uma consolidação e realização com os aspectos atingidos. Relacionamentos íntimos se constituem em um desafio para o jovem adulto que deseja encontrar alguém com quem possa compartilhar sua vida, criar relações de confiança e parceria, levando a uma intimidade. As pessoas tendem a gostar mais de quem confia nelas ou uma confidênciafeita pode fortalecer vínculos. A amizade surge em pessoas que tem valores e inte- resses comuns e normalmente na mesma faixa etária, envolve confiança, compreensão, aceitação, respeito e liberdade para 14 Psicologia do Desenvolvimento e Apredizagem: Adolescência e Vida Adulta dizer o que pensa. A maioria das amizades é do mesmo sexo, porém 25% das pessoas têm o melhor amigo no sexo oposto. As mulheres constroem amizades mais íntimas, compartilham valores e intimidades, homens compartilham informações e atividades e não confidências. Assim: A sexualidade é definida no início da fase de jovem adulto e como ele deseja vivenciá-la, com uma relação mais está- vel, casual ou recreativa. As diferenças nas condutas entre os gêneros diminuíram com a evolução do papel da mulher na sociedade, hoje, ambos tem liberdade para escolher de como querem vivenciar o sexo ao longo da sua vida. A ameaça da AIDS afetou um pouco o comportamento sexual, levando a uma maior conscientização das atitudes. O amor é o sentimento que constrói uma história entre pessoas, mas como cada um descreve, vivencia e mantém. É um sentimento considerado único, visto que os autores desta fazem refletir suas personalidades e interesses na relação. O amor pode ser um vício, uma fantasia, um jogo, uma batalha, uma história de horror ou ainda um jardim a ser cultivado. Os três elementos do amor são: intimidade, paixão e compro- misso, o grau de cada um destes fatores na relação depende exclusivamente dos envolvidos e não da idade. Em O Ban- quete escrito por Platão, Sócrates* revela que foi a sacerdotisa Diotima de Mantinea que o iniciou nos conhecimentos e na genealogia do amor. As ideias de Diotima estão na origem do conceito socrático-platônico do amor. Capítulo 1 O Mundo Adulto: um Desenvolvimento a ser... 15 *Obs.: Para saber mais sobre Sócrates, você pode consul- tar pt.wikipedia.org/wiki/Sócrates ou www.suapesquisa.com/ socrates 1.3 Um ciclo a ser destacado na vida humana adulta: A meia idade A meia idade demonstra ser o período mais desafiante e reali- zador da vida, momento em que apesar das responsabilidades e estresses, sentem-se no auge de suas competências. Nesta fase, a maioria das pessoas está em boa forma física, cogniti- va e emocional, sabendo com a experiência adquirida, reali- zar um bom julgamento da vida, tendo maturidade para lidar com os altos e baixos e menor probabilidade de depressão. As diferenças individuais aparecem mais, pois assim como tem aqueles que podem correr uma maratona, existem os que não conseguem subir um conjunto de escadas. Fatores comportamentais e estilo de vida, desde a juventu- de, determinam a ocorrência e extensão das mudanças fisio- lógicas, é claro que as demonstrações da idade dão sinais na aparência e isto nem sempre é fácil de conviver, mas, também, a maneira como as pessoas irão encarar estas mudanças fa- rão delas mais ou menos velhas. Estão entre as mudanças graduais: leve perda na acuidade visual ou nitidez na visão (mudança que pode iniciar na ado- lescência e acelera após os 55 anos), sensibilidade ao gosto e ao cheiro diminui, perda da sensibilidade ao toque, perda de 16 Psicologia do Desenvolvimento e Apredizagem: Adolescência e Vida Adulta massa muscular, diminuição da resistência física. Uma mudan- ça, fundamental desta fase, é o declínio da capacidade repro- dutiva, que afeta homens e mulheres de maneiras diferentes, mas isto não se estende ao prazer sexual que pode durar por toda vida adulta. Vive-se em uma sociedade que dá muito valor à aparência física, onde rugas e flacidez são sinais indesejáveis de envelhe- cimento, levando a uma diminuição da autoestima ou a uma busca de melhor saúde e boa forma física. A hipertensão, pres- são sanguínea elevada, é um dos problemas de saúde mais sérios, pois pode levar a enfarte, derrame ou comprometimen- to cognitivo na terceira idade. Um aspecto novo que aparece pela primeira vez e é nesta fase, é a capacidade de integrar a emoção com o intelecto e a experiência com o aprendizado, contribuindo para capacidade de solucionar problemas. Os laços de parentescos diminuem de importância no iní- cio da idade adulta, mas retornam com força na maturidade, pois a união familiar também passa a ter o propósito de cui- dado uns com os outros. O ninho vazio, período caracteriza- do pela saída dos filhos de casa, ficando apenas o casal ou muitas vezes só o pai ou só a mãe. Os pais que mais sentem são aqueles que não se prepararam para isto, deixaram de ter convívio social ou que não tem projetos futuros ou em anda- mento e sentem-se sozinhos e até deprimidos. Este período é denominado por alguns autores como en- velhecência e, conforme se desenvolveu aqui, este período pode ser comparado a uma fase de transição, pelas carac- terísticas de exuberância da idade tanto como a puberdade. Resumidamente pode se refletir, conforme o quadro a seguir: Capítulo 1 O Mundo Adulto: um Desenvolvimento a ser... 17 Mapa das ideias de transição no ciclo de desenvolvimento humano Fases de Transição Bebê -> entre a concepção e infância; Puberdade ->entre a Infância e adolescência; Meia idade/ envelhecência-> entre juventude e velhice. 1.4 Conhecimento e a aprendizagem Sócrates dizia que sua sabedoria era limitada à sua própria ignorância, pois ele acreditava que os erros são consequência da ignorância humana e nunca se reconheceu ou se procla- mou ser sábio. A intenção de Sócrates era levar as pessoas, principalmente adolescentes e jovens a conhecerem seus des- conhecimentos (“Conhece-te a ti mesmo”). Através da proble- matização de conceitos conhecidos, daquilo que se conhece, percebem-se os dogmas e preconceitos existentes quando é oportunizada a reflexão tanto pela educação formal como in- formal. A aprendizagem e conhecimento do adolescente e do adulto estão fundamentados na noção de significado. Deve-se reconhecer que se aprende aquilo que tem mais sentido ou significado. Enquanto a pessoa assume responsabilidades e compromissos da vida adulta, o pensamento vai se adaptan- do, tornando-se mais prático e dialético auxiliando na reflexão das complexidades e inconsistências das experiências diárias. Em contrapartida o pensamento moral aprofunda-se e há, na maioria dos casos, um crescimento na fé religiosa e maior compromisso com suas próprias convicções. As experiências de vida, casamento, nascimento de filhos, promoções, demis- 18 Psicologia do Desenvolvimento e Apredizagem: Adolescência e Vida Adulta sões, perdas de pessoas queridas e outros eventos marcantes podem favorecer o crescimento cognitivo. O objetivo da educação de adultos não é dar instrução, transmitir ou armazenar passivamente os conhecimentos, mas, assegurar-lhe uma formação, criar uma atmosfera de curiosi- dade, liberdade social e estimular a participação do desenvol- vimento da sociedade da qual faz parte. 1.5 ATIVIDADES Com base na reflexão, que supostamente você deve ter feito durante a sua leitura, é que são propostos os exer- cícios a seguir: 1. Verdadeiras ou Falsas as afirmações? Foram filósofos que abordaram sobre a alma humana: I. Sócrates II. Platão III. Xenofante IV. Aristóteles V. Leonardo da Vinci Respostas: a) I e II são verdadeiros b) II e III são verdadeiros Capítulo 1 O Mundo Adulto: um Desenvolvimento a ser... 19 c) IV e V são verdadeiros d) Somente V é falso. e) Todas as alternativas são falsas. 1. Verdadeiras ou Falsas as afirmações? I – A criança sempre foi percebida como um adulto em miniatura. II – Criança- adulto é o mesmo que criança-criança III – A criança nunca foi uma preocupação social nem teria motivos para ser Respostas: a) I, II são verdadeiras. b) Todas as alternativas são verdadeiras. c) I, II são falsas. d) Todas as alternativas são falsas. 2. Verdadeiras ou Falsas as afirmações? I- As mudanças ou reformas quanto às concepções so- bre adolescente e vida adulta não aconteceram de uma hora para outra. II– As mudanças ou reformas quanto às concepções sobre adolescente e vida adulta aconteceram de uma hora para outra. 20 Psicologia do Desenvolvimento e Apredizagem: Adolescência e Vida Adulta III – Os estudos e pesquisas sobre o adolescente e o velho datam do século XV. Respostas: a) I e II são falsas. b) II e III são falsas. c) I e II são verdadeiras. d) Todas as alternativas são verdadeiras. 3. Numera a segunda coluna de acordo com a primeira: Primeira segunda (1) Andragogia (2) Hebeologia (3) Gerontologia (4) Geriatria ( ) Estudo da adolescência. ( ) Estuda e trabalha na área do envelheci- mento, podendo ser bacharel de forma- ção em qualquer curso. ( ) Ciência ou arte de orientar adultos a aprender. ( ) Especialização na medicina que estuda o envelhecimento e atende o idoso em sua clientela. Respostas: a) 2 – 3 – 4 – 1. b) 3 – 2 – 1 – 4. Capítulo 1 O Mundo Adulto: um Desenvolvimento a ser... 21 c) 2 – 3 – 1 – 4. d) 1 – 2 – 4 – 1. 4. Qual a sentença que não confere com a realidade desen- volvida no primeiro capítulo? I) A maioria dos livros de psicologia do desenvolvimento humano abordava do nascimento até a adolescência. II) Na década de 70 os estudos sobre o adulto se desen- volveram nos Cursos de Medicina, tomando impulso nesta área e como especialização. III) A maioria da população idosa no Brasil está muito bem assistida, excetuando-se os marajás do nordeste. Respostas: a) Todas são falsas. b) Todas são verdadeiras. c) Somente I é falsa. d) Somente II é falsa. e) Somente III é falsa. GABARITO: 1. D / 2. D / 3. B / 4.C / 5. E / 22 Psicologia do Desenvolvimento e Apredizagem: Adolescência e Vida Adulta 1.6 BIBLIOGRAFIA ARRIETA, Gricelda Azevedo & Gil, Lourdes da Silva (Orgs). Despojando a alma em fragmentos: emoção na terceira idade. Canoas: ULBRA, 1998. BELTRÃO KI, Camarano AA, Kanso S. Dinâmica populacio- nal brasileira na virada do século XX. Rio de Janeiro: Ipea; 2004. 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Os idosos do Rio Grande do Sul: estudo multidimencional de suas condições de vida. Relatório de Pesquisa. Porto Alegre: Conselho Estadual do Idoso,1996. VERAS, Renato Peixoto. (org.).Terceira Idade: desafios para o terceiro milênio. Rio de Janeiro: Relume-Dumará: UnATI/ UERJ, 1997. pt.wikipedia.org/wiki/oswaldo_cruz consultado em 05 de abril de 2014 pt.wikipedia.org/wiki/Sócrates consultado em 02 de março de 2014 www.suapesquisa.com/socrates/ consultado em 02 de março de 2014 Adolescência: Física, Emocional e Cognitiva – um Período de Transição Adolescência: Física, Emocional e Cognitiva – um... Olgaires Schneider Capítulo 2 Capítulo 2 Adolescência: Física, Emocional e Cognitiva – um... 25 INTRODUÇÃO De acordo com a Ministério da Saúde no Brasil (Brasil, 2007) e também Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (Brasil, 2007) a adolescência inicia por volta dos 10 anos e estende-se aproximadamente até os vinte anos, enquanto para o Estatuto da Criança e do Adolescente, o período vai dos 12 aos 18 anos. De forma geral, observa-se que a adolescência tem seu início pelas e nas transformações físicas e, concorda-se com o que preceitua Formigli, Costa & Porto, (2000), quando estes afirmam como finalização da adolescência as ações de inclusão social, profissional e econômica na sociedade adulta. Essas transformações biológicas ocorrem em todos os jo- vens de forma universal, quando aos poucos o corpo vai so- frendo mudanças, há o crescimento físico e as alterações da forma do corpo se acentuam, a sexualidade vai transbordan- do, até chegar a adultez. As transformações na vida do adoles- cente vêm acompanhadas por modificações cognitivas, sociais e de expectativa sobre o que a vida lhe reserva. (Martins, Trin- dade, & Almeida, 2003; Santos, 2005). Encontra-se no Dicionário da Língua Portuguesa, (2010, p. 18) ao referir-se à adolescência como sendo o “período da vida humana que começa com a puberdade e se caracteriza por mudanças corporais e psicológicas, estendendo-se, apro- ximadamente dos 12 aos 20 anos. A adolescência é um período complexo, relativamente lon- go, durando de cinco a dez anos, às vezes até mais, passando da pubescência à maturidade física. Neste momento, marca- 26 Psicologia do Desenvolvimento e Apredizagem: Adolescência e Vida Adulta damente, os jovens desejam explorar seus mundos e querem aprender a conhecerem-se. Para muitos autores, a adolescência é considerada uma fase de transição, que possibilita ao indivíduo passar da in- fância para a adultez, ou seja, de um estágio para outro, cujos conflitos e problemas estão em um processo em de- senvolvimento. Nela estão contidas características como re- beldia, desequilíbrios e instabilidade, lutos e crises de identi- dade, instabilidade de afetos, busca de si mesmo, tendência grupal, crises religiosas, flutuações de humor e contradições sucessivas e fantasias. Portanto, um agregado de características, que são consi- deradas como “síndrome normal da adolescência”, conforme Aberastury & Knobel, (1981, p. 10), enquanto que Osório (1992, p. 47), assevera que “sem rebeldia e sem contestação não há adolescência normal...O adolescente submisso é con- siderado a exceção à normalidade”. É um tempo de busca interna para o adolescente se desco- brir, onde ele vive em uma ansiedade a fim de satisfazer seus desejos de intimidades e realizações, ao mesmo tempo que ele tem momentos de solidão intensa e desespero, passando por constantes desequilíbrios e oscilações extremas. É neste mundo cheio de contradições, de crescimento físico acelerado e descompassado, no seu desenvolvimento histó- rico, emocional e cognitivo que se vai adentrar e relatar um pouco sobre esse processo evolutivo que é a adolescência. Capítulo 2 Adolescência: Física, Emocional e Cognitiva – um... 27 2.1 A adolescência através dos anos O mundo ocidental moderno tornou mais complexa a passa- gem da adolescência para a vida adulta, ao mesmo tempo em que o jovem tem uma gama de opções e expectativas ofere- cidas para a realização de experiências, ele vive seus conflitos e sofre a busca de sua identidade adulta como consequência. Algumas sociedades desenvolvem “ritos de passagem”, al- guns muito difíceis para o jovem, tanto no aspecto físico quan- to no psíquico. Mesmo assim, ele prefere passar por essas pro- vas, pois esses ritos oferecem a possibilidade dele mostrar-se a si e aos outros, favorecendo o desenvolvimento de segurança, da auto-estima e da confiança. O resultado destes ritos parece abreviar e facilitar a passagem da crise juvenil e oportuniza melhor integração à comunidade adulta. Um exemplo disso está na tradição cristã – a primeira comunhão, representa a consagração, coincidindo com o período de incidência e pu- dor. A sociedade possui um conjunto de critérios como leis, cos- tumes e tradições e através do tempo e da cultura, passam de geração em geração, perpetuando seus valores. Nesse senti- do, as sociedades estabelecemelementos definidos dos status infantil e do adulto, como também a própria transição, onde o modo dessa passagem, bem como os seus ritos são estabele- cidos com maior ou menor requinte. O meio em que o indivíduo está agregado é um critério presente em qualquer cultura e caracteriza uma variedade de 28 Psicologia do Desenvolvimento e Apredizagem: Adolescência e Vida Adulta status dentro da sociedade, um desse é a passagem de criança para o status juvenil, segundo Aberastury & Knobel (1981). Desde a antiguidade, essa faixa etária foi alvo de estudos sabendo-se principalmente que é movida pelo prisma da im- pulsividade e de grande agitação. A exemplo disso, Sprinthal e Collins (2009) a fazerem referências a Aristóteles (séc. IV a.c), asseveram que os jovens são apaixonados, não pensam e são levados por seus impulsos, mas que também sabem fazer suas escolhas com autodeterminação e, dessa forma, começam a conquistar a maturidade. Ariès (1981) relata que no século XVI, as palavras origina- das do latim púbere (provem de púbis – pelos) e adolescens eram empregadas indiferentemente. Uma das declinações da palavra pubertatem evoluiu para pubertate e daí para puber- dade. As expressões usadas no francês como enfance, jeunes- se e vieillesse (infância, juventude, e velhice) também são de origem latina. A expressão juventude, significava, força da ida- de, não havendo lugar para a “adolescência”, significava uma idade mais tardia. Até o século XVIII, a adolescência foi confundida com a infância. Nos séculos XVI e XVII as pessoas consideravam crianças até a idade de doze anos, sem lhes darem muita im- portância, elas ficavam expostas a cenas de sexo e violência, não havendo preocupação em relação ao que poderia acon- tecer sobre o seu desenvolvimento. No colégio, frequentavam a mesma turma todas as idades, de doze a vinte e cinco anos. A partir desse momento a igreja exigiu dos fieis uma devoção mais íntima e com isso surgiu a necessidade de proteger mais Capítulo 2 Adolescência: Física, Emocional e Cognitiva – um... 29 as crianças e jovens das tentações da vida e aplicando mais moralidade. O colégio torna-se muito importante à sociedade, pois era o lugar de instrução e educação. Chama-se a aten- ção para a ideia de que o conhecimento humano evoluiu em relação ao desenvolvimento biopsicosossial, mas a essência do homem continua igual, ou seja, com as características pul- sionais à espécie. Segundo Ariès (1981) a partir do séc. XVIII, com a ascensão da burguesia, impõe-se uma nova maneira de viver e de pen- sar, relacionada com a transformação do trabalho, passan- do de uma economia rural para uma economia de mercado, juntamente com as inovações tecnológicas. Nesse momento, torna-se importante a formação do jovem. No século XIX, surgem os primeiros serviços de saúde vol- tados para os colégios, possivelmente em função das questões biológicas, relacionadas com a puberdade e suas mudanças sexuais. Nessa época, as teorias de Freud, tornam-se visíveis e provocadoras quando ele afirmava que a sexualidade fazia parte do desenvolvimento do ser humano. Estudos mostravam que o século XX, foi marcado por guer- ras e deixaram sinais no desenvolvimento da adolescência, esta vinha acompanhada de preguiça, rebeldia, indisciplina, enquanto que pesquisadores na época valorizavam a impor- tância dos adolescentes trabalharem para manter seu país da mesma forma que conheciam antes da guerra. A adolescência, nem sempre foi da forma como acontece atualmente, ela varia de cultura para cultura e algumas estão agregadas a ritos de passagem, alguns estudos entre os quais 30 Psicologia do Desenvolvimento e Apredizagem: Adolescência e Vida Adulta de M.Mead (1934), sobre a adolescência na ilha de Samoa, relata como uma passagem breve do desenvolvimento ao mesmo tempo em que acontece a maturação sexual. Na ilha de Samoa a passagem do mundo infantil ao adulto é muito breve e pouco traumático. Da mesma forma, pode-se acres- centar que algumas culturas indígenas brasileiras se asseme- lham aos nativos da Ilha de Samoa, como o adolescente tem que enfrentar determinadas “provas” codificadas como um rito de passagem no qual fazem parte toda comunidade. A vida social tem poucas restrições, o afastamento por um tempo da família não é traumático, o jovem não esta ligado a hábitos, tampouco a ideologias. As aprendizagens passam de pai para filho, não se verificando mudanças imprevistas. Na virada do século XXI, observa-se um grande número de jovens decorrente de nascimentos da década de 1980, quan- do houve uma explosão demográfica. De acordo com Nobre (2010) ele se deparou com um cenário nublado, sem perspec- tivas de trabalho, um mundo econômico desfavorável, princi- palmente ao que está ingressando no mercado de trabalho. Mudanças de valores são percebidas pela sociedade através do comportamento, a família, a igreja e a comunidade já não tem o mesmo controle tradicional, que antes exerciam sobre a criança e o adolescente. 2.2 O desenvolvimento físico da adolescência Segundo Lidz (1983), a palavra adolescência significa as mu- danças sociais, psíquicas e emocionais que dizem respeito aos Capítulo 2 Adolescência: Física, Emocional e Cognitiva – um... 31 jovens que estão na segunda década da vida, é dividida em três subperíodos, adolescência inicial, que refere-se ao impul- so do crescimento e começa a transformação do desenvolvi- mento e a chegada da puberdade. Depois em torno de doze a dezoito meses após a pubescência, é instituída uma fase expansiva de semi-adolescência, nesse momento os jovens co- meçam a enveredar para o sexo oposto. É um tempo de revolta e conformidade, muito característi- co da adolescência. Mostra-se revoltado com os pais e com os padrões da sociedade, parte inerente desta fase. As vezes é o começo da exploração sexual. Muda de ânimo com frequên- cia. Desejo de vislumbrar novos horizontes. Na adolescência final há uma preocupação com a carreira e a jovem em har- monizar carreira e casamento. Observa-se que um grande número de autores considera a adolescência coincidindo com a puberdade e influencian- do de maneira decisiva sobre esta etapa da vida dos jovens. A puberdade é considerada um fenômeno fisiológico, pois é quando ocorrem as transformações físicas e hormonais. Pode ser considerada como a melhor caracterizada, aparecendo ni- tidamente a maturação física ocorrida em ambos os sexos e, biologicamente estão prontos para a reprodução. Nas meninas esta maturação biológica ocorre na faixa de 10 anos e nos meninos aproximadamente por volta dos 12 anos, podendo haver variação da idade real, enquanto a adolescência esta relacionada às mudanças psicossociais, ocorre na segunda década da vida, segundo Melvin e Wol- mar (1993). O ritmo com que ocorrem as mudanças são diferentes para os meninos e para as meninas. 32 Psicologia do Desenvolvimento e Apredizagem: Adolescência e Vida Adulta Na puberdade da menina ocorre a primeira menstruação chamada de menarca, por volta dos 10 a 16 anos de idade, esta é uma referência clara e inequívoca para definir o mo- mento pubertário, o que indica a maturidade reprodutiva, pois demonstra o amadurecimento ovular, sendo que nesta fase acontece o surgimento dos seios e o aparecimento dos pelos púbicos e axilares, de acordo com Duarte (1993), enquanto para os meninos desenvolvem-se os testículos, em torno dos 13 a 17 anos, aumento da estatura e de peso, aparecimento da barba, mudança de voz e a descoberta da ejaculação ou emissões noturnas, alargamento dos ombros e a pigmentação dos pelos pubianos, tornando-se essas as transformações mais significativas. A ejaculação ocorre depois da maturação da próstata e das vesículas seminais. Nessa época, após a primeira ejacu- lação o adolescente permanece estéril, aproximadamente por um ano, pois os espermatozoides são poucos nem tão móveis. Para os meninos a ejaculação é sinônimo de virilidade. Algumas meninas da mesmaidade, desenvolvem-se mais rapidamente que outras. Por isso é difícil ter uma idade crono- lógica como indicador para identificar o nível maturacional. Na menina, uma ligeira dilatação dos seios e o apareci- mento dos pelos pélvicos são os primeiros sinais que a maturi- dade sexual esta se aproximando e, estes podem ser percebi- dos em torno dos 11/12 anos de idade. Nesse momento ocorre uma aceleração no crescimen- to desproporcional em algumas áreas do corpo que perdu- ra aproximadamente até os 15 anos, segundo Tourinho Filho Capítulo 2 Adolescência: Física, Emocional e Cognitiva – um... 33 & Tourinho (1998), enquanto que Sprinthal e Collins (2009\) afirmam que algumas partes do corpo crescem mais do que outras, fazendo com que o jovem fique “desajeitado e des- coordenado”, do que outras pessoas que não estão na ado- lescência, muito embora isso não tenha a ver somente com o seu crescimento, mas também com as características pessoais. Também alguns podem afirmar que enquanto um aspecto tem uma acelerada de desenvolvimento, outro aspecto “ marca passo” aguardando a sua vez, como, por exemplo, na fase mais acelerada de crescimento, o adolescente pode apresen- tar certas dificuldades cognitivas, que vai despertar ou desen- volver um pouco mais adiante. 2.3 Uma perspectiva psicossociológica da adolescência A adolescência é considerada por muitos teóricos como um fe- nômeno psicossocial. Sua extensão varia de uma cultura para outra, em algumas sociedades a adolescência social é breve ou inexistente, vai depender da inserção histórica e cultural na qual ele esta inserido, isto é, vai determinar que tipo de ado- lescência vai viver, pois de acordo com Martins & Cols (2003) há varias formas de adolescência. Ao ocorrer estas mudanças nesta fase, que são de suma importância para o desenvolvimento psíquico, é nesse mo- mento que ocorre a adolescência. Para Cavalcanti (1988, p. 6), a adolescência é uma fase de crescimento biopsicossocial que está entre a infância e a idade adulta. “O crescer, que esta 34 Psicologia do Desenvolvimento e Apredizagem: Adolescência e Vida Adulta seja uma experiência equilibrada de vida, deve implicar em um crescimento solidário biológico, sociocultural e psicológico”. Nos últimos tempos, diversos autores concordam que a adolescência é uma fase de vida complexa, em que aconte- cem mudanças significativas, mas que os vários estágios são passageiros. Assim ela é compreendida como um período em que o indivíduo vai da infância à maturidade, de um estágio a outro, agregados a ela os problemas e dificuldades nessa fase, eles são identificados como processo de transição. Para Erikson (1987, p. 134), “ a adolescência é, um rege- nerador vital do processo de evolução social pois a juventude pode oferecer sua lealdade energia tanto a conservação da- quilo que continua achando verdadeiro como correção revo- lucionária do que perdeu o seu significado regenerador”. Ob- serva-se que o adolescente quer nesse momento transformar o mundo através de suas próprias modificações, vive em uma sociedade considerada por ele mesmo como difícil, austera e agressiva. Leviski (1995, p. 15) afirma que “ a adolescência é um processo que ocorre durante o desenvolvimento evolutivo do indivíduo, caracterizado por uma revolução biopsicossocial”, marcando a passagem do estado infantil para o estado adulto, em um processo evolutivo. Esta revolução biopsocossocial é indissociável e nesse encontro se dá o fenômeno da adoles- cência. As características psicológicas deste movimento evolutivo, segundo Leviski (1995), na sua forma de ser e revela-se na forma comportamental e da adaptação social, são dependen- Capítulo 2 Adolescência: Física, Emocional e Cognitiva – um... 35 tes da cultura e da sociedade onde o processo se desenvolve, conforme já se mencionou ao se trazer a adolescência em de- terminadas culturas. Este processo, como é entendido atual- mente, surgiu com revolução industrial e o desenvolvimento da burguesia e tomou forma a partir da I Guerra Mundial. Nos últimos anos, a adolescência passou a ser estudo de prioridade para muitos teóricos, visto ser um campo amplo, pois as mudanças físicas, psíquicas, e sociais determinam um mapa vulnerável às afrontas sociais, portanto os adolescentes são merecedores de maior atenção na saúde, na aprendiza- gem e no meio social. Nesta fase vivem um momento especial do desenvolvimento humano, com muitas mudanças ocorren- do ao mesmo tempo, fazendo com que se torne frágil, neces- sitando de apoio e orientação. Na sociedade ocidental, o adolescente para se tornar adul- to deve se emancipar, ser dono da sua própria vida. Esta tarefa é devido às conjunturas sócio-político-econômicas que as so- ciedades hoje atravessam e, em consequência dessas dificul- dades, está se tornando, cada vez mais, uma fase complexa e difícil, não mais sendo encarada como uma preparação para a vida adulta, mas passou a ter um sentido diferente em si mesma. Agregado a isso, tem-se a tecnologia, os meios de comu- nicação sofreram uma intensa aceleração no seu desenvol- vimento e com isso uma modificação e também uma distor- ção nas culturas tradicionalmente estáveis, acrescentando-se uma dificuldade a mais para a organização pessoal do in- divíduo. 36 Psicologia do Desenvolvimento e Apredizagem: Adolescência e Vida Adulta 2.4 Conflitos e mudanças no contexto da vida adolescente A busca pela identidade é a grande responsável pelo conhe- cido “processo de identificação”, onde o adolescente busca semelhanças, identificar-se com seu grupo de amigos, colegas e ídolos. O indivíduo deixou de ser criança, mas ainda não é um adulto, então, ele procura aquilo que lhe é próprio, aquilo que o diferencia e o que iguala ao seu grupo, sua qualidades e habilidades mais específicas. A adolescência passa por um tempo exclusivo do desenvol- vimento humano, em que aparece o conflito com o seu eu e o mundo exterior, e por uma grande mudança física, intelectual e emocional, de acordo com o pensamento de Sears (1975). A tendência do adolescente é ficar cada vez mais sensí- vel, reagindo com veemência aos eventos e situações sociais. É levado pelos sentimentos, esquecendo na maior parte das vezes da razão. Se por um lado mostra-se leal, abnegado e dedicado, por outro lado demonstra profundo egoísmo. Nesta fase da vida possui sentimentos contraditórios, ama ou odeia, sente-se incompreendido, retrai-se por qualquer motivo. Mos- tra-se concomitantemente submisso e rebelde, comodista, egoísta e idealista. Em um momento está cheio de energia, noutro com pre- guiça e desanimado, ora esta otimista, ora melancólico frente às questões do mundo. Preocupa-se com a divergência entre a sua maneira de ser, e a maneira como é visto pelos outros. Capítulo 2 Adolescência: Física, Emocional e Cognitiva – um... 37 Uma das situações mais difíceis para o adolescente enfren- tar é a maturação social, emocional e sexual, mas também não menos difícil causando inquietação emocional, são a falta de explicação sobre o processo da adolescência, a falta de sensibilidade dos pais e o aumento das necessidades finan- ceiras. Por outro lado, as mudanças corporais e emocionais, o interesse sexual, a forma de se inter-relacionar consigo e com os outros, envolvendo o círculo afetivo e social, são notáveis. Muitas vezes, as transformações do corpo lhe causam rejei- ção e insegurança. Muitos adolescentes nesta fase engordam e outros tornam-se magérrimos, pois ficam dependentes da imagem corporal. É um momento de conflito para o adolescente, pois está em busca da sua nova identidade, vê as mudanças do seu corpo, está perdendo aqueles pais da infância e precisa ama- durecer. Apenas quando ele é capaz de aceitar ao mesmo tempo as duas aparências – a de criança e a de adulto, o processo acelerado das transformações do seu corpo, então, nesse momento, começa a surgir a sua nova identidade. Antes os pais idealizados e valorizados, agorapassam a ser alvo de críticas, contestações e questionamentos, nesta etapa estas contestações fazem parte da sua caminhada para alcançar a maturidade. Esse longo percurso em busca da identidade, faz com que perca muita energia e, isto é consequência da perda da identidade infantil, que acontece quando iniciam-se as mu- danças corporais. 38 Psicologia do Desenvolvimento e Apredizagem: Adolescência e Vida Adulta Quando ele adquire a identidade, aceitando suas mudan- ças, enfrenta-se com o mundo, nesta fase surgem os namoros e as grandes paixões, muitas vezes com vínculos conflituosos e imaturos. Conforme Aberastury e Knobel (1981) o adoles- cente, neste momento vai se transformando lentamente, sem pressa, seja interna ou externamente, de tal forma que venha favorecer este desempenho. Ele abandona os pais da infância e vai em busca do fortalecimento de sua independência atra- vés do processo de identificação, onde ele procurar identificar- -se com o grupo de amigos, colegas e ídolos, deixou de ser criança, mas ainda não é adulto. Após esta etapa ele retorna à família e estabelece uma nova relação com os pais. A literatura demonstra que a realização da autonomia na adolescência, transita obrigatoriamente pelas mudanças nas relações familiares, e, também, na formação de redes de rela- ções pessoais, chamadas por Bronfenbrenner e Morris (2006) de redes de interações pessoais que neste momento são for- madas pelos pares/amigos com uma função significativa na vida do jovem, pois são influenciadas pelo meio ambiente onde ele está interagindo. No grupo de amigos há oportunidade de interagir com ou- tros jovens da mesma idade, aprende a controlar nesse caso, a hostilidade e o comportamento dominador e, a se relacionar com o líder e como ser um líder. Neste, o grupo tem uma fun- ção significativa, inclusive terapêutica para o adolescente, já que está auxiliando a agir reciprocamente com os problemas sociais. Para ele é confortante dividir seus problemas, conflitos e sentimentos e ver que os colegas também passam pelas mes- mas situações e podem servir de modelo uns para os outros. Capítulo 2 Adolescência: Física, Emocional e Cognitiva – um... 39 Isto é importante porque o adolescente é avaliado pelo grupo e não fica limitado somente à família. As experiências negativas adquiridas são provenientes dos possíveis erros que cometem na adolescência, mas que lhe ser- virão, certamente, como experiência, sendo nesse momento re- conhecem que são independentes das avaliações dos adultos. Ele poderá incorporar à sua personalidade as atividades de seu grupo ou isolar-se, neste momento pode ocorrer uma identificação positiva com o grupo ou mostrar um esforço ne- gativo em direção à autopreservação por meio do isolamento. Por fim, poderá fortalecer a individualidade ou ir “a fundo” no conformismo defensivo. “O padrão cultural desempenha um grande papel na imposição do lugar do adolescente no esquema social e na modelagem da personalidade do adolescente. O adolescente movimenta-se por interesses religiosos, re- creativos, intelectuais e econômicos comuns”. Ackerman (1986, p. 208). Os adolescentes parecem adquirir novos privilégios e por outro lado, devem igualmente assumir novas responsabilida- des, assim como também provar seu valor como pessoa, e pas- sar gradualmente para versões aprovadas de homem e mulher. Assevera Lidz (1983), em relação aos conflitos, que é sig- nificativo o grupo fazer funcionar sua própria hierarquia e faça ou estabeleça seus próprios padrões de comportamento, que aprenda a lidar com brigas, discussões e saiba enfrentar cole- gas problemáticos. 40 Psicologia do Desenvolvimento e Apredizagem: Adolescência e Vida Adulta O grupo ajuda o adolescente a ter um progresso importan- te, visto que dependendo da sua aceitação perante o grupo, se é rejeitado ou aceito, isso vai fazer com que ele possa refletir sobre seus pontos positivos e negativos. Segundo Lidz (1983), os jovens são desobedientes na família, enquanto que no gru- po sentem-se confortáveis e seguros e são interdependentes dos amigos. O grupo possui uma influência socializante tal como uma subcultura própria. Essa subcultura é percebida pelos novos costumes que são transmitidos de modo independente da família ou da escola, passados de um grupo etário para outro, em uma sucessão constante e com giro mais rápido do que o ciclo gerativo da família. Por isto é muito importante, o acolhimento e a compreen- são dos pais, nesta etapa do processo. Muitas vezes a famí- lia também sofre com essas mudanças, pois não entende o que acontece, ao mesmo tempo não sabe como reagir ante o processo educacional, se permite ou proibe determinadas atitudes. Cabe salientar que cada família tem uma reação di- ferente, mas o ideal sempre é orientar através da comunicação e do afeto. Quanto mais resistente for a família em aceitar a rebeldia do adolescente, mais teimoso, agressivo, mal humorado e iso- lado ele se tornará, visto ser uma dificuldade que ele encontra no adulto em enfrentar esse momento de transição, momento de sofrimento para o adolescente e para a família, conforme coloca Outeiral (1994). Um pouco de agressividade é saudá- vel, a família deve aceitar como parte do desenvolvimento nor- Capítulo 2 Adolescência: Física, Emocional e Cognitiva – um... 41 mal desta fase. A família deve procurar ser acessível, colaborar de forma saudável, mostrando confiança na relação, pois me- nos dolorosa será a passagem, tanto para o adolescente como para a família. Esses conflitos deixam de ser ‘normais’, conforme Aberas- tury & Knobel (1981), para serem patológicos, quando se tor- nam crônicos, intervindo na rotina do adolescente e rompendo a comunicação com a família. 2.5 O adolescente e o desenvolvimento cognitivo O amadurecimento do pensamento lógico do adolescente perpassa os nove-dez anos de idade após a criança passar pe- las operações concretas. A partir dos onze/doze anos quando é capaz de operar com relações lógicas expressadas verbal- mente, então, o adolescente passa ao estágio das operações formais, que é a etapa final do desenvolvimento intelectual. O adolescente, na fase inicial, começa exibir novos pa- drões e formas de conduta que mostram ao mesmo tempo a despedida da infância e seu ingresso na etapa da adolescên- cia que se aproxima tão difícil quanto fecunda em todos os sentidos. O desenvolvimento cognitivo é, ao lado das mudanças corporais, uma das características mais marcantes da ado- lescência. Tal desenvolvimento se mostra, sobretudo, através do aumento das operações formais, que tem a ver com sua 42 Psicologia do Desenvolvimento e Apredizagem: Adolescência e Vida Adulta maturação e ambiente cultural, que lhe propicia também uma melhora da qualidade no processamento de informações e na modificação dos processos que geram a consciência. Encon- tra-se, também, nas características do adolescente a possibi- lidade da metacognição, ou seja, refletir, repensar sobre sua própria capacidade de ação e reflexão sobre si e o outro. O adolescente de doze anos inicia o ser conservador e re- flexivo diante de tudo que diz respeito aos outros e em relação a si mesmo. É o fechamento de sua etapa do período concreto e dá início à sua próxima etapa – a da fase inicial do desen- volvimento cognitivo que é o estágio das operações formais. A possibilidade de raciocinar a partir das operações abs- tratas abrirá o pensamento dos adolescentes para todas as possibilidades de resolução e de especulação que a lógica permite. Aos poucos, o adolescente irá revelando e ordenando suas ideias, analisando as crenças, modificando sua visão do mundo e das coisas. Lewis & Wolkmar (1993), ao referendar Piaget (1969), re- latam que ele observou o grande progresso que caracteriza o pensamento do adolescente com seu inicio aproximadamente aos 11/12 anos, mas provavelmente não alcance seu ponto de equilíbrio antes dos 14/15 anos. Consiste na possibilidade demanipular ideias em si mesmo, não mais em manipular simplesmente objetos. Na realidade, a diferença entre a fase de operações for- mais e a fase de operações concretas é que na última, as afirmações sobre o ambiente são baseadas nas relações entre classes e objetos, enquanto na primeira o adolescente pode Capítulo 2 Adolescência: Física, Emocional e Cognitiva – um... 43 chegar a novas possibilidades através da combinação do pre- viamente conhecido. Nesta fase das operações formais, adolescentes desco- brem o conceito de proporcionalidade, é quando desenvol- vem a capacidade de operar com proporção. O raciocínio proporcional permite utilizar uma relação matemática certa e completa para deduzir. Proposições ou suposições são enun- ciados operativos que operam para representar a realidade. Eles precisarão centrar-se em suas próprias experiências. Para Mora (2012) os primeiros progressos importantes no desenvolvimento da inteligência lógico formal entre outras ca- pacidades intelectuais aparece o surgimento do pensamento lógico dedutivo, a probabilidade, e a experimentação. Com efeito, a mesma autora enfatiza o quanto é imprescindível para aquisição de normas generalizadas em contraposição às proi- bições específicas que todo adolescente passa, pois é pouco provável que seja suficiente por si só. O advento das operações formais equipa o adolescente de capacidades para conceitualizar a realidade. Essas capacida- des têm importantes implicações no entendimento do idealis- mo e moralidade adolescente. O fato do adolescente passar por uma realidade factual e continuar seu raciocínio, depende da variante do quanto esse problema passe por uma análise lógica e cultural de suas ex- periências. O raciocínio adolescente vive mudanças importan- tes relacionadas a sua maturação, que aos poucos poderá sentir-se livre e independente, tanto quanto possa contribuir 44 Psicologia do Desenvolvimento e Apredizagem: Adolescência e Vida Adulta para a felicidade e, para o sentimento de estar de posse de uma identidade pessoal. CONSIDERAÇÕES FINAIS É uma fonte de estudos inesgotável quando se fala sobre adolescência, principalmente, quando se refere às inúmeras transformações físicas, perspectivas psicossociais, conflitos, mudanças, desenvolvimento cognitivo adolescente, pois esta é uma etapa muito significativa no processo desenvolvimen- tal, apesar dos mecanismos fisiológicos serem praticamente idênticos, a puberdade não se manifesta em todas as pesso- as, na mesma idade ou da mesma maneira, assim como a adolescência não transcorre de forma semelhante ou da mes- ma maneira, nas diferentes sociedades, épocas e culturas. Nestas ou para estas questões deve-se levar em conta que cada pessoa vive de acordo com seu mundo, suas vivências, percepções e experiências internas, também, no como sentir, imaginar a realidade que o cerca. Por meio desta troca e através da comunicação e das re- lações interpessoais, o dividir e o partilhar da experiência, tor- nam viáveis a empatia e a compreensão entre os adolescentes, ao mesmo tempo em que eles permitem a construção de uma escala de valores e julgamentos aproximados da realidade. Como consequência dessa permuta, o adolescente adquire a consciência da sua capacidade de perceber-se e perceber o outro, aumentando suas perspectivas de vida. Esta interrelação entre os adolescentes, na maioria das vezes contribui para que Capítulo 2 Adolescência: Física, Emocional e Cognitiva – um... 45 ocorram mudanças decisivas nas suas vidas, ajudando para desenvolvimento como pessoas. Os adolescentes sentem necessidade de expandir-se como pessoa social, isso se manifesta através do anseio de ser al- guém entre os outros, dentro da realidade social em que vi- vem. Nesse momento do seu desenvolvimento tem como de- sejo a necessidade de independência e liberdade no que diz respeito ao comportamento humano. Sabe-se que estes seres não mais tão crianças e não tão adultos, vivem esta fase cheios de conflitos, questionamentos, com crescimento físico acelerado sem sincronia, um desenvol- vimento histórico, emocional e cognitivo sobre esse proces- so evolutivo que é a adolescência. Mas é preciso fazer essa passagem e romper os vínculos infantis, sendo um processo necessário e inevitável para atingir a adultez sadia. Atividades: 1. Assinale a alternativa correta 1. De forma geral, observa-se que a adolescência tem seu início pelas e nas transformações físicas, então, dessa for- ma, verifica-se na Escola que: a- Essas transformações biológicas ocorrem com alguns jovens, quando aos poucos o corpo vai sofrendo mu- danças, há o crescimento físico e as alterações da for- ma do corpo se acentuam, a sexualidade vai transbor- dando, até chegar a adultez. 46 Psicologia do Desenvolvimento e Apredizagem: Adolescência e Vida Adulta b- As transformações na vida do adolescente vêm acom- panhadas por modificações cognitivas, sociais e de expectativa sobre o que a vida lhe reserva. c- Encontra-se no Dicionário da Língua Portuguesa ao definir adolescência como sendo o “período da vida humana que começa com a puberdade e se caracte- riza por mudanças corporais e psicológicas, estenden- do-se, aproximadamente dos 12 aos 30 anos. d- A adolescência é um período complexo, relativamente curto, durando dois anos, passando da pubescência à maturidade física. e- É um tempo de pouca busca interna para o adolescen- te se descobrir, onde ele vive em uma ansiedade a fim de satisfazer seus desejos de realizações. 2. Entreviste alguns adolescentes (no mínimo 2) e questio- ne-os se eles perceberam com clareza as mudanças que ocorreram com eles no que se refere ao: a desenvolvimento físico (mudanças ou sintomas mais notados): b desenvolvimento cognitivo (mudanças ou sintomas mais notados): c desenvolvimento psicossocial (mudanças ou sintomas mais notados): d desenvolvimento emocional (mudanças ou sintomas mais notados): Capítulo 2 Adolescência: Física, Emocional e Cognitiva – um... 47 e desenvolvimento afetivo (mudanças ou sintomas mais notados): 3. Pesquise em livros, revistas e jornais, o vestuário, alimentação, acessórios e esportes preferidos pelos adolescentes. Por último, faça uma reflexão sobre essa etapa da vida dos jovens e qual o seu significado para a sociedade. 4. Construa um funk que fale do desenvolvimento da adolescência. 5. Conforme Aberastury e Knobel (1981) o adolescen- te, neste momento vai se transformando lentamente, sem pressa, seja interna ou externamente, de tal for- ma que venha favorecer este desempenho. Ele aban- dona os pais da infância e, vai em busca do fortale- cimento de sua independência, através do processo de identificação, onde ele procura identificar-se com o grupo de amigos, colegas e ídolos, deixou de ser criança, mas ainda não é adulto. Assinale o parágrafo que esta mais adequado ao texto: a- A literatura demonstra que a realização da autonomia na adolescência, transita obrigatoriamente pelas mu- danças nas relações familiares, e, também, na forma- ção de redes de relações pessoais, influenciadas pelo meio ambiente onde ele esta interagindo. b- o grupo tem uma função pouco significativa, às vezes prejudicial para o adolescente, já que está auxiliando a agir reciprocamente com os problemas sociais. 48 Psicologia do Desenvolvimento e Apredizagem: Adolescência e Vida Adulta c- O adolescente não deseja dividir seus problemas e conflitos com ninguém. Nesse momento faz um misté- rio de tudo o que acontece com ele. d- Quanto mais resistente e rígida for a família em acei- tar a rebeldia do adolescente, mais rapidamente ele amadurecerá, tornando-se um jovem com condições de enfrentar esse momento de transição de forma sau- dável, tanto para ele como para a família. e- Os jovens são desobedientes na família, enquanto que no grupo sentem-se desconfortáveis e inseguros mas ao mesmo tempo são interdependentes dos amigos. Gabarito: 1. B / 2. Verificar as respostasencontradas. 3. O que surgiu como moda atual? Qual a alimentação preferida? (Será saudável?) Quais os acessórios mais usa- dos? (Enfeites, piercing (locais mais colocados) Que es- portes praticam ou gostariam de praticar? 4. Socialize no Fórum o Funk realizado ou criado. 5. A – REFERÊNCIAS ABERASTURY, A. & KNOBEL, M. Adolescência normal. Porto Alegre: Artes Médicas, 1981. Capítulo 2 Adolescência: Física, Emocional e Cognitiva – um... 49 ACKERMAN, N. W. 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E onde elas tiveram sua principal origem? - No grupo familiar, seria uma das respostas. Você deve estar se questionando porque não se colocou família e sim grupo familiar. Para Zago (1998), o termo fa- mília designa uma instituição que se define de acordo com suas formas de organização e que são diferenciadas nas suas finalidades e funções. Família, apesar de genérico, é uma ins- tituição, cuja dinâmica é construída social e historicamente, transformando-se no decorrer do tempo. Usou-se grupo familiar propositadamente, pois ele, atual- mente, em sua constituição familiar, configura inúmeros arran- jos em suas relações, sem, no entanto, deixar-se de reconhecer a importância daquela definição de um modelo padrão único e ideal de família. 3.1 Os arranjos familiares Como arranjos familiares, encontram-se exemplos bastante di- versificados, dos quais pode-se citar os seguintes: nuclear, mo- 54 Psicologia do Desenvolvimento e Apredizagem: Adolescência e Vida Adulta noparental, patriarcal, matrifocal, recomposta, desajustada, poligâmica, extensa, dentre outros tipos de famílias existentes atualmente. Com esta variação de modelos, Gomes (1994) julga ser mais propício se falar em famílias e não em um único modelo específico de família, ou seja, aquele tradicional. Assim, a família nuclear é aquela constituída pela figura do pai, da mãe e do filho, no sentido genérico de parentesco e, ao mesmo tempo, reduzido em número e na sua composi- ção. A nuclear se contrapõe à família extensa, sendo maior o número de componentes e de figuras parentais, como, por exemplo, a inclusão de avós, tios, primos, agregados, con- vivendo no mesmo grupo e casa. O modelo de família do período colonial é um exemplo, quando várias pessoas depen- diam do mesmo teto e fonte de renda. Hoje, pela questão de divisão de espaço físico, a família, conforme os filhos vão se tornando adultos ou até mesmo adolescentes, que se casam ou passam a viver maritalmente, vão permanecendo na casa paterna ou materna, consequentemente, as relações familiares se ampliam, as convivências se modificam e novos modelos se instalam. Não muito diferente desta ampliação, porém, quando ocorre a permanência de uma pessoa como chefe da família, tem-se o modelo monoparental, constituindo-se pela família em que um componente é o originário dessa família. Com fre- quência, em periferias de grandes cidades ou em comunida- des populacionais urbanas (favelas), observa-se uma mulher como a líder da família, constituída por vários filhos, cujo pai não é o mesmo. Este modelo pode ser também de família ex- tensa, quando a ela se agrega(m) a(s) primeira(s) filha(s) com Capítulo 3 Grupo Familiar: um Contexto, Várias Realidades 55 seu(s) filho(s), encontrando-se a figura de uma avó jovem, na faixa etária dos 30 anos, ou 30 e poucos anos, sendo co- mum sobrinho(neto) e tio(filho) terem a mesma idade ou serem bebês. Ao mesmo tempo, esta família pode ser denominada como matrifocal, pela liderança de uma mãe. A família matrifocal é um modelo encontrado em todas as classes sociais, quando uma mulher, desquitada, divorciada ou viúva passa a ser a provedora da sua família. Com a mu- lher no mercado de trabalho, ela, muitas vezes, opta por criar os seus filhos, podendo incluir seus pais nesta constituição de dependência, sendo a responsável pela família por ser a maior provedora na relação. Na aplicação do senso demográfico, os entrevistadores do IBGE, não raro, encontram famílias es- sencialmente femininas, compostas
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