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CADERNO DE TREINO PA RA A DIREITO CONSTITUCIONAL 2ª FASE DA Flavia Bahia 2 0 2 0 2ª edição revista e atualizada W P A R T E 1 Guia PARA REALIZAÇÃO DA PROVA 13 Aprendendo a estruturar a peça prático-profissional Para começarmos os estudos, vamos relembrar as noções de processo e procedimento, os elemen- tos da ação e a estrutura da petição inicial, as tutelas de urgência, o pedido de gratuidade de justiça, contagem de prazos e a contestação. PROCESSO X PROCEDIMENTO Enquanto o processo forma uma relação processual em busca da pretensão jurisdicional, o procedimento é o modo e a forma como os atos do processo se movimentam. Procedimento, se- gundo alguns autores, é expressão sinônima a rito. O processo é o meio utilizado para solucionar os litígios. O Direito Processual Civil prevê duas espé- cies de processo: o de conhecimento (ou de cognição) e o de execução. No Processo de conhecimento as partes levam ao conhecimento do juiz, os fatos e fundamentos jurídicos, para que ele possa substituir por um ato seu a vontade de uma das partes. O processo de conhecimento é o mais importante na segunda fase de Direito Constitucional, de acordo com o conteúdo programático apresentado pela banca. Nele, encontramos o procedimento co- mum, regulamentado no Título I do Livro I do CPC (art. 318 e seguintes). De acordo com o art. 318 do CPC: “Art. 318. Aplica-se a todas as causas o procedimento comum, salvo disposição em con- trário deste Código ou de lei. Parágrafo único. O procedimento comum aplica-se subsidiariamente aos demais procedi- mentos especiais e ao processo de execução.” Já os procedimentos especiais estão previstos no CPC e em leis esparsas, conforme ocorre com o mandado de segurança e o habeas data. No CPC, podemos encontrar no Título III, as ações de consigna- ção em pagamento, de exigir contas, possessórias, entre outras (que não estão no conteúdo programáti- co da segunda etapa de Constitucional). No Processo de execução, regulamentado no Livro II do CPC, a partir do seu art. 771, uma das par- tes é levada a juízo para solver uma obrigação que tenha sido imposta por lei ou por uma decisão judicial. ELEMENTOS DA AÇÃO Os elementos da ação são requisitos exigidos pela lei para que seja viável a análise da pretensão apresentada na petição inicial. A ausência de um deles gera a extinção do processo sem resolução do mérito (art. 17 do CPC). São eles: • Legitimidade das Partes; • Interesse Processual. CADERNO DE TREINO PARA A 2ª FASE DA OAB V Direito Constitucional 14 A legitimidade das Partes (“ad causam” ou legitimidade para agir) pode ser conceituada como o po- der jurídico de conduzir validamente um processo em que se discute um determinado conflito. A legiti- midade pode ser exclusiva (atribuída a um único sujeito), concorrente (atribuída a mais de um sujeito), ordinária (o legitimado discute direito próprio) e extraordinária (o legitimado, em nome próprio, discute direito alheio). Diz respeito ao polo ativo e passivo da demanda. O interesse processual é verificado pela ocorrência de duas premissas: a utilidade e a necessidade do processo. A utilidade está em se demonstrar que o processo pode propiciar benefícios; a necessidade do processo se constata quando o proveito de que se precisa só é possível alcançar por meio do Judiciário, ou seja, a solução amigável não foi atingida. PETIÇÃO INICIAL (ELEMENTOS GERAIS – PROCEDIMENTO COMUM) A petição inicial, em termos simples, é a responsável por provocar a atividade jurisdicional do Estado e é por meio dela que o autor formula a sua pretensão, pretendendo a sua satisfação pela decisão judicial. Na forma do art. 319, do CPC, são requisitos da petição inicial: A) O juízo a quem é dirigida (endereçamento); B) Os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável, a profissão, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do réu (qualificação das partes); C) O fato e os fundamentos jurídicos do pedido (causa de pedir); D) O pedido com as suas especificações (pedido); E) O valor da causa; F) As provas com que o Autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados (requerimento de provas); G) A opção do autor pela realização ou não de audiência de conciliação ou de mediação. ANÁLISE DOS PRINCIPAIS REQUISITOS DA PETIÇÃO INICIAL f O juízo a quem é dirigida (endereçamento) • Qual é a justiça competente: Especializada (trabalhista, militar, eleitoral) ou Comum (residual)? • A competência para julgamento é de Tribunal (de 2ª instância ou Superior) ou de juiz monocrá- tico (federal ou estadual)? A estrutura do Estado é estabelecida com base na forma federativa, que admite duas ordens de or- ganização: Federal e Estadual. Portanto, coexistem a Justiça Federal, que tem as competências previstas expressamente na Constituição, e a Justiça Estadual, cabendo-lhe a competência residual. Quanto à competência disposta na Constituição Federal, o Judiciário estrutura-se em 2 (dois) âm- bitos: comum e especializado. Portanto, a Justiça Federal pode ser: comum ou especializada (Justiça do Trabalho, Eleitoral e Militar). Já na Justiça Estadual há somente a Justiça Militar especializada. São órgãos do Poder Judiciário, na forma do art. 92, I a VII, da CRFB/88: a) o Supremo Tribunal Federal; b) o Conselho Nacional de Justiça; c) o Superior Tribunal de Justiça; d) o Tribunal Superior do Trabalho; Guia para realização da prova V Aprendendo a estruturar a peça prático-profissional 19 CONTAGEM DE PRAZOS NO CPC Conforme o art. 219, do CPC, na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei ou pelo juiz, computar-se-ão somente os dias úteis. O art. 224, do CPC traz ainda a forma como os prazos serão contados: “Art. 224. Salvo disposição em contrário, os prazos serão contados excluindo o dia do co- meço e incluindo o dia do vencimento. § 1º Os dias do começo e do vencimento do prazo serão protraídos para o primeiro dia útil seguinte, se coincidirem com dia em que o expediente forense for encerrado antes ou iniciado depois da hora normal ou houver indisponibilidade da comunicação eletrônica. § 2º Considera-se como data de publicação o primeiro dia útil seguinte ao da disponibili- zação da informação no Diário da Justiça eletrônico. § 3º A contagem do prazo terá início no primeiro dia útil que seguir ao da publicação.” CONTESTAÇÃO A contestação é o meio processual utilizado pelo réu para opor-se formal ou materialmente ao direi- to do autor ou formular pedido contraposto. Como regra geral, o autor terá deduzido uma pretensão em juízo e o réu irá defender-se, e essa defesa, normalmente, é a contestação. O conteúdo da contestação, segundo o art. 336, do CPC: toda a matéria de defesa, razões de fato e de direito, impugnação das alegações do Autor, produção de provas específicas... b Exemplo Para que você compreenda como estruturar a peça utilizando as tabelas indicadas, apresentamos o enunciado da peça prático-profissional do XIX Exame de Ordem Unificado, seguida da tabela de estrutu- ração de peça (com a indicação de como deveria ser preenchida) e dos espelhos de correção apresenta- dos pela FGV. PEÇA PRÁTICO-PROFISSIONAL – (RETIRADO DO XIX EXAME DE ORDEM UNIFICADO) Determinado partido político, que possui dois deputados federais e dois senadores em seus qua- dros, preocupado com a efetiva regulamentação das normas constitucionais, com a morosidade do Congresso Nacional e com a adequada proteção à saúde do trabalhador, pretende ajuizar, em nome do partido, a medida judicial objetiva apropriada, visando à regulamentação do Art. 7º, inciso XXIII, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. O partido informa, por fim, que não se pode compactuar com desrespeito à Constituição da Repú- blica por mais de 28 anos. Considerando a narrativa acima descrita, elabore a peça processual judicial objetiva adequada. (Valor: 5,00) Obs.: o examinandodeve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não confere pontuação. CADERNO DE TREINO PARA A 2ª FASE DA OAB V Direito Constitucional 20 OS CINCO PASSOS DA FELICIDADE: ESTRUTURANDO A PEÇA – PARTE 1 Anotações E Resumo dos fatos Partido político visa a regulamen- tação do Art. 7º, inciso XXIII da CRFB/88. “preocupado com a efetiva regula- mentação das normas constitucio- nais”. Processo objetivo. Norma de eficácia limitada. E Legitimidade ativa Partido Político Tem representantes no Congresso Nacional. Art. 103, VIII, da CRFB/88. E Legitimidade passiva Congresso Nacional Não é caso de lei de iniciativa do Pre- sidente da República ou reserva de iniciativa. E Peça cabível Ação Direta de Inconstitucionali- dade por Omissão Art. 103, § 2º, da CRFB/88 e Art. 12-A a 12-H, da Lei 9.868/99. E Competência Supremo Tribunal Federal Art. 102, I, a, da CRFB/88. O sexto passo é o da aprovação! W P A R T E 2 Treinamento AVA N Ç A D O 27 . 2.1 Treino nº 1 PEÇA PRÁTICO-PROFISSIONAL Romualdo Costa, brasileiro naturalizado, em união estável com Solange Cavalcanti é servidor pú- blico e precisa corrigir uma informação oficial quanto ao início do seu período laborativo enquanto Técnico de Enfermagem no Hospital Estadual HHH, tendo em vista que a incorreção prejudica o seu pleito no que tange à aposentadoria. Apesar de ter requerido administrativamente ao Secretário estadual da saúde a retificação do dado, recebeu a denegação, sem qualquer fundamentação plausível, sob a justificativa de que não haveria qualquer prejuízo que justificasse a retificação pleiteada por Romualdo. Tendo em vista o acima narrado, em razão do último ato praticado pelo Secretário, na qualidade de advogado (a) de Romualdo Costa, redija a petição inicial da ação a ser proposta para retificação dos dados pessoais indicados, observando: a) competência do juízo; b) legitimidade ativa e passiva; c) fundamentos de mérito constitucionais e legais vinculados; d) os requisitos formais da peça inau- gural. Valor: 5,00 CADERNO DE TREINO PARA A 2ª FASE DA OAB V Direito Constitucional 28 OS CINCO PASSOS DA FELICIDADE ESTRUTURANDO A PEÇA – PARTE 1 Anotações E Resumo dos fatos E Legitimidade ativa E Legitimidade passiva E Peça cabível E Competência O sexto passo é o da aprovação! TreinamenTo avançado V 2.1 Treino nº 1 29 ROTEIRO ESTRUTURANDO A PEÇA – PARTE 2 E Endereçamento E Qualificação do autor E Ação cabível E Síntese dos fatos E Há tutela de urgência? E Base constitucional E Base infraconstitucional E Direito material constitucional CADERNO DE TREINO PARA A 2ª FASE DA OAB V Direito Constitucional 30 ESTRUTURANDO A PEÇA – PARTE 2 E Direito material infraconstitucional E Competência E Legitimidade ativa E Legitimidade passiva E Questões processuais (Se for recurso, Tempestividade, Preparo e Cabimento + Prequestionamento e Repercussão Geral) E Pedidos E Considerações finais TreinamenTo avançado V 2.1 Treino nº 1 31 PEÇA PROFISSIONAL 1/5 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 W P A R T E 3 Espelhos D E C O R R E Ç Ã O 353 . 3.1 Treino nº 1 PEÇA PRÁTICO-PROFISSIONAL Romualdo Costa, brasileiro naturalizado, em união estável com Solange Cavalcanti é servidor pú- blico e precisa corrigir uma informação oficial quanto ao início do seu período laborativo enquanto Técnico de Enfermagem no Hospital Estadual HHH, tendo em vista que a incorreção prejudica o seu pleito no que tange à aposentadoria. Apesar de ter requerido administrativamente ao Secretário estadual da saúde a retificação do dado, recebeu a denegação, sem qualquer fundamentação plausível, sob a justificativa de que não haveria qualquer prejuízo que justificasse a retificação pleiteada por Romualdo. Tendo em vista o acima narrado, em razão do último ato praticado pelo Secretário, na qualidade de advogado(a) de Romualdo Costa, redija a petição inicial da ação a ser proposta para retificação dos dados pessoais indicados, observando: a) competência do juízo; b) legitimidade ativa e passiva; c) fundamentos de mérito constitucionais e legais vinculados; d) os requisitos formais da peça inau- gural. Valor: 5,00 CADERNO DE TREINO PARA A 2ª FASE DA OAB V Direito Constitucional 354 E PEÇA PRÁTICO-PROFESSIONAL – PADRÃO DE RESPOSTA Quesito avaliado Justificativa da resposta Subitens do quesito Ponto do subitem Endereçamento Art. 125, § 1º da CRFB/88 e art. 20, I, “e” da Lei 9.507/97 Exmo. Sr. Desembargador Presidente do Tribunal de Justiça do Estado ... 0,40 Legitimidade ativa/ Qualificação do autor Art. 319 do CPC Romualdo Costa, brasileiro, em união estável, servidor público, portador do RG n°... e do CPF n° ..., endereço eletrônico ..., residente e domicilia- do..., nesta cidade, 0,25 Legitimidade passiva Secretário da Saúde 0,25 Identificação da peça Art. 5°, LXXII, “b” da CRFB/88 e art. 7º, II da Lei 9.507/97 Habeas Data 0,30 Competência Art. 125, § 1º da CRFB/88 e art. 20, I, “e” da Lei 9.507/97 Competência do Tribunal de Justiça do Estado ... 0,30 Fundamento 1 Art. 5°, LXXII, “b” da CRFB/88 Cabimento da ação 0,60 Fundamento 2 Art. 7º, II da Lei 9.507/97 Cabimento da ação 0,60 Fundamento 3 Art. 5°, X (0,30) Art. 5°, XXXIII (0,30) Direito à intimidade e à vida privada. Direito à informação sobre dados pessoais 0,60 Fundamento 4 Art. 8º, II da Lei 9.507/97 Da prova da recusa à retificação 0,70 Pedido 1 Art. 9º da Lei 9.507/97 Notificação da autoridade coatora 0,15 Pedido 2 Procedência do pedido para que seja assegurada a retificação da informa- ção de interesse do Impetrante 0,15 Pedido 3 Art. 12 da Lei 9.507/97 Intimação do Representante do MP 0,15 Pedido 4 Art. 320 do CPC e art. 8º da Lei 9.507/97 Juntada de documentos 0,15 Valor da causa Art. 219 do CPC ou art. 319, V do CPC Valor da causa na forma do art. 291, do CPC ou 319, V, do CPC) 0,20 Finalização da peça Data, nome do advogado, OAB 0,20 espelhos de correção V 3.1 Treino nº 1 355 EXMO. SR. DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO ... (5 linhas) Romualdo Costa, brasileiro, em união estável, servidor público, portador do RG n°... e do CPF n° ..., endereço eletrônico ..., residente e domiciliado..., nesta cidade, vem, pelo seu advogado infrafirmado, com procuração anexa, endereço profissional na Rua ..., para fins do art. 77, V, CPC, onde doravante serão encaminhadas todas as informações do feito, impetrar a ação de HABEAS DATA em face do Secretário estadual de Saúde pelos fatos e fundamentos expostos a seguir. I. DOS FATOS Romualdo Costa, Técnico de Enfermagem do Hospital Estadual HHH, precisava corri- gir uma informação oficial quanto ao início do seu período de trabalho já que a incorreção prejudica o seu pleito no que tange à aposentadoria. Para tanto, requereu administrativamente ao Secretário estadual da Saúde a retifica- ção do dado. Teve seu pedido denegado pelo próprio Secretário sob a justificativa de que não haveria qualquer prejuízo que justificasse a retificação pleiteada por Romualdo. Para garantir a retificação dos seus dados, propõe a presente ação de Habeas Data. II. DOS FUNDAMENTOS É cabível a presente ação de Habeas Data conforme o art. 5º, LXXII, “b” da CRFB/88 por se tratar de pretensão de retificação de dados pessoais, a saber, seus dados de trabalho para fins de aposentadoria. A disciplina da ação é também regulamentada pela Lei 9.507/97 que, na forma do art. 7º, II, também protege o direito à retificação dos dados pessoais. A ação visa proteger o direito à intimidade e à vida privada, protegidos como direitos fundamentais segundo o art. 5º, X da CRFB/88. Da mesma forma, a ação assegura o direito à informação sobre dados pessoais, con- forme o art. 5º, XXXIII da CRFB/88. No caso em tela, o autor busca retificaros dados pesso- ais que lhe asseguram o seu direito à aposentadoria. Ainda, é comprovado o requisito da recusa administrativa consolidada pela Súmula nº 2, STJ e pelo artigo 8º, II da Lei nº 9.507/97. O secretário, ao denegar o pleito de reti- ficação de dados, conferiu o direito a Romualdo de procurar a via judicial para lhe garantir seu direito. Nesse sentido, a competência do Tribunal de Justiça do Estado é firmada de acordo com a autoridade coatora. Como o ato que denegou a retificação foi expedido pelo Secretário estadual de Saúde, o art. 20, I, “e” da Lei nº 9.507/97, em consonância com o art. 125, § 1º, da CRFB/88 determina que a competência será do Tribunal de Justiça do Estado.
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