Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
PROCEDIMENTOS INVESTIGATÓRIOS NAS CORPORAÇÕES MILITARES CFS PMPE 2020 Organizador: Major PM Demétrios Wagner CAVALCANTI da Silva 2 APRESENTAÇÃO A disciplina visa apresentar ao futuro novo Sargento da PMPE, os instrumentos investigativos que são utilizados para desvendar as acusações reveladas em desfavor de militares. Por se tratar de uma disciplina prática, que deve fomentar em sala de aula a produção documental assistida, na qual o aluno é convidado a experimentar a produção documental em seu próprio caderno, sob o diligente acompanhamento do instrutor em sala de aula. A partir das dificuldades detectadas em sala de aula, será possível de maneira simples e didática compreender cada instrumento apresentado, delimitando com exatidão mínima a maneira e os objetivos de cada um deles. 3 Sumário Sumário .............................................................................................................................................. 3 1. Entendendo nosso conteúdo programático ............................................................................. 4 2. Sistema Integrado de Gestão de Processos Administrativos Disciplinares ( SIGPAD) ............. 6 3. Como fazer uma Investigação Preliminar ................................................................................. 7 4. Como fazer uma Sindicância .................................................................................................. 10 5. Como fazer um IPM ................................................................................................................ 14 5.1 Entendendo o que é um IPM ................................................................................................ 14 5.2 O que é crime militar? .......................................................................................................... 17 5.3 Qual o prazo do IPM? ........................................................................................................... 18 5.4 Quem pode ser encarregado? .............................................................................................. 18 5.5 Quem pode ser escrivão? ..................................................................................................... 18 5.6 Como organizar os documentos do IPM? ............................................................................ 19 5.7 Qual o período para se fazer os depoimentos? ................................................................... 19 5.8 Sempre que uma sindicância encerrar indicando um crime, temos que indicar a abertura de IPM? ....................................................................................................................................... 19 6. Auto de Prisão em Flagrante Delito........................................................................................ 21 7. Instruções Provisórias de Deserção ........................................................................................ 21 7.1 O que é deserção? ................................................................................................................ 21 7.2 O que é e qual é prescrição para o crime de deserção? ...................................................... 22 7.3 Qual a sequencia de documentos? ...................................................................................... 23 4 Auto de Prisão em Flagrante Delito Militar ( APFDM) Inquérito Policial Militar ( IPM) Instrução Provisória de Deserção ( IPD ) Sindicância Administ. Disciplinar ( SAD) Investigação Preliminar ( Inv.Prel.) PROCEDIMENTOS INVESTIGATÓRIOS NAS CORPORAÇÕES MILITARES ( PICM) 1. Entendendo nosso conteúdo programático A disciplina Procedimentos Investigatórios nas Corporações Militares e destina-se a capacitar o futuro Sargento (PM/BM) a desenvolver as atividades de escrivão de procedimentos de Polícia Judiciária Militar e de Procedimentos e Processos Administrativos Disciplinares. Nossa disciplina é composta de CINCO pilares Quanto a natureza, todos os instrumentos acima são ADMINISTRATIVOS, entretanto quanto a aplicação sofrem divergências. Quanto a aplicação esses instrumentos podem ser: Polícia Judiciária Militar ( Preparatório para a Ação Criminal) Meramente administrativos APFDM IPM IPD SAD Investigação Preliminar Quanto aos procedimentos de Polícia Judiciária Militar, advertimos que todos estes necessariamente devem ser encerrados nas mãos do Juiz Militar. Apenas ele é autoridade suficiente para determinar que se arquive ou que se proceda uma Ação, em ambos os casos após a manifestação do Ministério Público. A sanção, se aplicada, poderá levar o imputado ao CREED onde cumprirá prisão (criminal) que não se confunde com a prisão administrativa. Podemos assim dizer que essas peças são administrativas mas de aplicação criminal. 5 Já nos instrumentos meramente administrativos, é a própria administração quem julga seu encerramento. Assim é o comandante quem diz por exemplo, ao término de uma sindicância se o militar imputado será punido ou mesmo se o procedimento deverá ser arquivado. Quanto ao caráter processual, apenas a sindicância deve ser entendida como Processo. Isso porque apenas ela é capaz de ao término, gerar uma repercussão jurídica palpável para o imputado. Todos os demais instrumentos são procedimentos. Isso quer dizer que o IPM não é capaz de levar um militar ao CREED, entretanto poderá ser a peça fundamental de uma ação penal que culminará com a ordem do juiz para que se recolha preso o militar. Coube a Oscar Bulow, em sua célebre obra “Teoria das Exceções Processuais”, estabelecer entre nós a diferença entre procedimento e processo. Vejamos: Procedimento Processo Procedimento é um ato processual que reunido a outros semelhantes poderão compor um processo. O meio, o instrumento através do qual se obtém a prestação jurisdicional, o caminho formado por atos processuais ( = procedimentos) que obedecem uma regra e que vão culminar em uma sentença. Veja abaixo uma breve noção pra que serve cada um desses procedimentos: a) Inquérito Policial Militar ( IPM): Serve para apurar crimes militares. Não pode ser interrompida. Assim, uma vez que o Comandante opte instaurar o IPM, só o Juiz poderá determinar seu arquivamento. b) Auto de Prisão em Flagrante Delito Militar ( APFDM): Esse instrumento é utilizado apenas para a hipótese de se flagrar um crime militar. Nesse caso, pode o encarregado determinar o recolhimento precário do militar ao CREED na condição de “preso em flagrante” e remeter ao Juiz Militar que decidirá pela permanência ou não nessa condição e seu julgamento. c) Instrução Provisória de Deserção: Seu objetivo é específico e só pode ser usado em caso de Deserção, dispensando a necessidade de IPM ou qualquer outro instrumento. Uma vez lavrado, seu principal documento – o Termo de Deserção publicado em BI e subscrito pelo comandante e mais duas testemunhas - servirá como uma permanente ordem de prisão para que quando o militar desaparecido for encontrado ou se apresentar seja recolhido ao CREED. d) Sindicância Administrativa: Sua finalidade é apurar a infração disciplinar. Ao término dela o Comandante decidirá pelo seu arquivamento ou mesmo para que se puna o militar mas neste caso nos limites previstos no CDME. Atualmente, por força do art. 14 da Portaria do Comando Geral nº 248, de 16JAN2019, publicada no SUNOR 004 de 24JAN2019, Manual de Polícia Judiciária Militar, a Sindicância se exaurir todos os elementos de prova que possam existir em torno dos fatos apurados, poderá substituir um IPM. 6 e) Investigação Preliminar: É uma peçapreliminar. Ou seja, serve para recolher elementos informativos para uma Sindicância ou mesmo um Conselho de Disciplina, Processo de Licenciamento ou Conselho de Justificação. Também pode ser usada antes de um IPM. Mas cuidado! A Investigação Preliminar só deve ser utilizada quando houver dúvidas quanto ao IMPUTADO ou CONDUTA a ser apurada. Quando o imputado e a conduta já é conhecida desde o início, a peça a ser utilizada é o IPM (se for crime) ou a Sindicância (Se for apenas uma transgressão). Antes de navegar sobre cada procedimento é importante conhecer o que é o SIGPAD – Sistema Integrado de Gestão de Processos Administrativos Disciplinares da SDS-PE, gerido pela Corregedoria Geral da SDS e disponibilizado para todas as operativas. 2. Sistema Integrado de Gestão de Processos Administrativos Disciplinares ( SIGPAD) Visando unificar em uma única plataforma os dados relativos aos Processos e procedimentos Administrativos Disciplinares, Procedimentos de Polícia Judiciária relativos a servidores e militares da SDS-PE e Procedimentos de Polícia Judiciária Militar, foi criado em 30/11/2015 o Sistema Integrado de Gestão de Processos Administrativos Disciplinares ( SIGPAD). O sistema, concebido para ser acessível a partir de qualquer conexão de internet através de qualquer computador, tablet ou mesmo smartfone, estabelece uma numeração única de procedimento (NUP) para os seguintes processos e procedimentos: IPM; APFDM; IPD; Sindicâncias; Investigação Preliminar; Conselho de Justificação; Conselho de Disciplina; Processos de Licenciamento; Inquéritos Policiais instaurados em Delegacias em desfavor de militares ou policiais civis. Os dados são relativos a todos os servidores dos órgãos operativos da SDS- PE, e fornecem aos gestores relatórios por tipo de transgressão disciplinar mais cometida, períodos ou até mesmo a busca por nome de imputados, o que impede o choque de procedimentos concorrentes em locais distintos sobre um mesmo fato. Além disso, de Recife a Petrolina, todos os procedimentos de que trata passam a compor um meio físico e um virtual o que garante a eternidade do procedimento já que está livre dos efeitos do tempo ou mesmo de acidentes ou perda. Como escrivão, você deve constar na capa e nos principais documentos do Procedimento Investigatório, o seu NUP. Verifique a rotina na sua Unidade para identificar quem é o responsável por esse “tombamento” 7 Outro benefício do SIGPAD é a redução drástica do custo com meios logísticos (papel, impressão, etc) e de pessoal, pois todos os procedimentos são digitalizados em formato pdf e disponibilizados para todos os setores integrantes do controle disciplinar. Assim, por exemplo, se o Diretor da DINTER-2 que está em Petrolina quiser saber sobre uma Sindicância que está em trâmite no 8º BPM – Serra Talhada basta ele entrar no sistema e observar as informações de seu interesse dispensando assim, além do trabalho de imprimir documentos, o custo de uso de gente e combustível para atravessar 350 km. Acrescente-se aí o tempo que também seria dispensado para uma informação que qualquer operador terá na hora. O sistema está disponibilizado na página da SDS, veja: De acordo com a Portaria CG nº 672, de 30/11/2015, cada OME deverá dispor de um USUÁRIO, responsável por alimentar inicialmente o sistema que no momento alimenta apenas os documentos de instauração (Portaria) e decisão (Relatório e Solução). O sistema conta ainda com uma equipe de TÉCNICOS de rede e banco de dados que dão todo o suporte aos usuários do SIGPAD. Como maneira de dar maior suporte aos usuários e confiabilidade, com arrimo no art. 2º, II, a Corregedoria planeja anualmente realizar inspeções a fim de confrontar os dados lançados aqueles que constam nos procedimentos físicos. 3. Como fazer uma Investigação Preliminar Atualmente quem regula esse procedimento na PMPE é o Provimento Correcional nº 15, publicado no Boletim geral da SDS-PE nº 218, de 14NOV2019. De acordo com o art. 8º dessa Portaria, qualquer militar, desde soldado, pode ser o ENCARREGADO de Investigação Preliminar. Como dissemos anteriormente, a Investigação Preliminar deve ser utilizada sempre que pairar GRAVES DÚVIDAS acerca do: IMPUTADO ou CONDUTA A APURAR Procedimentos Investigatórios nas Corporações Militares – CFS 2020 8 Ao dizer dúvidas sobre o imputado, queremos dizer que não existe desde o início das investigações, um nome de um Militar que seja o alvo da denúncia. Tão logo se chegue a esse nome (o que não pode ser confundido com certeza dele ser necessariamente o “culpado”), deve-se parar a Investigação Preliminar para converter o procedimento em IPM (se crime militar) ou Sindicância (se transgressão), este último que assegurará que o militar acusado possa socorrer-se de meios de defesa. Já quando dizemos dúvida sobre a conduta, indicamos que não há nos documentos a indicação concreta de qual é a acusação que pesa sobre o militar. Não confundamos entretanto “não saber a conduta” com “não saber as circunstancias dessa conduta”. Se a dúvida for sobre as circunstâncias, não há que se falar em Investigação Preliminar mas sim em IPM (se crime militar) ou Sindicância (Se transgressão disciplinar), conforme o caso. A instauração da Investigação Preliminar é feita por mero despacho. Já o prazo é de 30 (trinta) dias. Vejamos o que mais diz a norma: PROVIMENTO nº 15/19 (...) Art. 6º Caberá ao encarregado da Investigação Preliminar, de ofício, promover todas as diligências necessárias, bem como proceder à juntada de documentos úteis ao esclarecimento do fato, devendo concluir o referido procedimento por meio de relatório, opinando pelo arquivamento, pela instauração de Procedimento Administrativo Disciplinar, Inquérito Policial, Ação de Improbidade Administrativa ou outro procedimento cuja instauração seja cabível e pertinente, face ao que for apurado no decurso da Investigação Preliminar. § 1º As diligências necessárias devem abranger a coleta e juntada de todas as informações relativas ao fato e ao imputado, dentre as quais, cópias de boletim de ocorrência ou equivalente, exames periciais, inquéritos policiais, processos disciplinares e judiciais em andamento ou concluídos, dentre outros, se houver. § 2º O relatório da Investigação Preliminar, conforme modelo constante no Anexo Único, deverá apresentar: I – Preliminar de análise prescricional acerca da pretensão punitiva do Estado, embasando na legislação aplicável; II - exposição do fato investigado, indicando o resumo do ocorrido, contendo data, hora e local, identificação completa dos envolvidos, diligências efetuadas e documentos obtidos; III – fundamentação, a qual deverá conter a correlação entre o fato e os envolvidos, bem como evidenciar a existência ou não de justa causa para a instauração de qualquer dos procedimentos indicados no caput deste artigo; IV – conclusão, de forma fundamentada e de acordo com a legislação disciplinar vigente cabível ao caso, opinando pelo arquivamento ou por qualquer espécie de procedimento indicada no caput deste Procedimentos Investigatórios nas Corporações Militares – CFS 2020 9 artigo, face ao que for apurado no decurso da Investigação Preliminar, submetendo os autos à autoridade instauradora. É importante destacar o caráter sumário do procedimento. Ao dizer sumário, entenda-se que a peça deve abster-se de formalismo exagerado, razão pela qual não requer atos cartoriais. A organização do documento deve seguir o padrão abaixo: . REGRAS CARTORIAIS ELEMENTARES 1º) Elaborada a capa, o primeiro documento que deve ser visto é aquele que dá origem ao procedimento. No caso da Investigação Preliminar, é o Despacho da autoridade, seguido dos anexos. 2º) Todas as folhas devem ser numeradas no alto, no cantodireito, pelo escrivão e rubricadas. 3º) A capa se conta mas não se numera. 4º) O verso das folhas deve ser sempre riscadas ou carimbadas com a palavra “em branco”. Se for um risco, esse risco deve ser dado em diagonal da direita/acima para a esquerda/abaixo e ao centro do risco deve haver a rubrica de quem riscou. Se a opção for o carimbo, esse substituirá o risco e deve ser aposto no centro da folha. 5º) Os volumes devem conter até 200 ( duzentas ) folhas. Havendo necessidade de ter mais folhas, deve-se abrir novos volumes tantos quantos necessários. 6º) Se o termo de depoimento ou qualquer outro documento tiver mais de uma folha, o(s) subscrevente(s) deve(m) assina-se a última e rubricar as demais. Relatório Ofícios Ofícios Ofícios Documentos Iniciais CAPA DESPACHO conclusivo (Cmt) Procedimentos Investigatórios nas Corporações Militares – CFS 2020 10 4. Como fazer uma Sindicância A Sindicância não é um mero procedimento, muito menos preparatório. É um processo pois tem o poder de alterar a condição jurídica do seu destinatário (militar solto para militar preso). “[...] Este é meio sumário de elucidação de irregularidades no serviço público para subsequente instauração de processo e punição ao infrator. Ademais, a sindicância tem sido desvirtuada e promovida como instrumento de punição de pequenas faltas de servidores, caso em que deverá haver oportunidade de defesa para validade da sanção aplicada. (MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 21ª ed. São Paulo: Malheiros Editores, 1996. p. 602)” No idioma de origem, os elementos componentes da palavra sindicância, de origem grega, são o prefixo syn (junto, com, juntamente com) e dic (mostrar, fazer ver, pôr em evidência), ligando-se este segundo elemento ao verbo deiknymi, cuja acepção é mostrar, fazer, ver. Assim, sindicância significa, em português, à letra, a operação cuja finalidade é trazer à tona, fazer ver, revelar ou mostrar algo, que se acha oculto. (DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 18. ed. São Paulo: Atlas, 2005 pág. 559) Assim, aqui devem ser colocados como princípios de primeira ordem, a tutela da: Ampla Defesa Contraditório Devido Processo Legal Vedação do Bis In Idem Proibição de uso de provas ilícitas Para ser titular da Sindicância, o militar precisa ter no mínimo o Curso de Aperfeiçoamento de Sargentos (CAS/PM). Doutra banda, em não ostentando o citado curso, poderá figurar mas como escrivão. As regras de Sindicância estão na Instrução Normativa nº 002, de 2017, que dentre outros institui: Art. 23 A SAD, espécie do gênero Processo Administrativo Disciplinar (PAD), de natureza militar, é o processo formal de rito sumário com possibilidade de aplicação de pena disciplinar militar, é conduzida por 01 (um) Militar estadual, da ativa, com prazo de 30 dias para sua instrução, prorrogável por até igual período, cuja finalidade é a apuração das infrações disciplinares militares e sua autoria, desde que o fato não seja grave de modo a suscitar a instauração de Conselho de Justificação, o Conselho de Disciplina ou o Processo de Licenciamento ex officio a Bem da Disciplina, conforme o caso. Procedimentos Investigatórios nas Corporações Militares – CFS 2020 11 Nesse dispositivo, note que o legislador também estabeleceu o prazo. (...) Art. 26 Cabe ainda ao Sindicante: I – confeccionar a capa da Sindicância com os dados exigidos no SIGPAD. II – iniciar os autos com a Portaria de instauração e o termo de juntada dos demais documentos relativos ao fato a ser apurado; III – nomear, se necessário, escrivão através de termo próprio; IV – após, promover a citação do Sindicado, devendo nela constar: a) cópia da Portaria instauradora; b) informação que o Sindicado poderá indicar, no prazo da defesa prévia, até 03 testemunhas, e do rol de até 03 testemunhas arroladas pelo Sindicante, das respectivas datas, locais e horários das audiências, de acompanhar todos os atos processuais, de nomear defensor, de requerer produção ou juntada de provas e vistas aos autos; c) ciência de que lhe é facultado apresentar defesa prévia, no prazo máximo de 5 (cinco) dias úteis, contados a partir da data do recebimento da citação; e d) a notificação disciplinar, na qual contém a acusação em desfavor do militar Sindicado, formulada pelo Sindicante com fundamento na documentação que deu origem à SAD. V – realizar as oitivas do ofendido e a inquirição das testemunhas arroladas pelo Sindicante e as arroladas pela defesa, preferencialmente nesta ordem; VI – juntar ou determinar ao escrivão, quando houver, a juntada dos documentos recebidos, excetuando-se aqueles em duplicidade, os quais deverão ser processados em apenso aos autos, em ordem cronológica de produção e/ou recebimento; VII – realizar, de ofício ou a pedido, a produção de todas as provas admitidas em direito que entender pertinentes ao fato em apuração; VIII – proceder à qualificação e ao interrogatório do Sindicado; IX – findo interrogatório, intimar o Sindicado, na própria audiência, para no prazo de 05 dias, apresentar as alegações finais, podendo, se desejar, fazê-las oralmente na própria audiência de interrogatório; X – encerrar a apuração com um relatório objetivo de caráter opinativo; e XI – remeter, mediante despacho, os autos à autoridade competente, a quem caberá a solução. §1º As folhas dos autos devem ser numeradas e rubricadas pela autoridade Sindicante, ou pelo escrivão, quando houver, no canto superior direito, sendo contada a capa, mas a numeração será posta a partir da segunda folha, devendo cada volume conter no máximo 200 folhas. §2º Quando da intimação mencionada no inciso IX, do art. 26, deste Provimento, o Sindicante, além dos fatos que motivaram o início do feito, informará ao Sindicado eventuais fatos revelados durante a instrução processual em seu desfavor, caso não tenha sido, por tais fatos, instaurado um novo processo. § 3º A Notificação Disciplinar, elaborada pelo Sindicante, deverá conter os dados exigidos no SIGPAD, dentre outros, dos imputados, a menção do SIGEPE da documentação que deu origem ao processo e a narrativa do fato que deve ser apurado nos autos, sem prejuízo da apuração de tudo quanto mais for revelado durante a instrução processual O art. 25, §2º, diz ainda que “A autoridade Sindicante será Oficial, Aspirante a Oficial, Subtenente ou Sargento com Curso de Aperfeiçoamento de Sargento (CAS), respeitada, em todo caso, a precedência hierárquica em relação ao Sindicado.” Procedimentos Investigatórios nas Corporações Militares – CFS 2020 12 Acerca da Sindicância, destacamos ainda: Art. 29. Identificando o Sindicante, no decorrer do apuratório, indício de autoria e de materialidade e/ou elementos necessários à comprovação de transgressões disciplinares que ultrapassem os limites de aplicação de sanções por meio de Sindicância, ou de indícios de infrações penais, deverá, sob pena de responsabilidade, elaborar relatório sucinto e encaminhá-lo à autoridade competente visando à análise e deliberação quanto à instauração de Processo Administrativo Disciplinar Militar de rito ordinário, ou, conforme o caso, suscitar seu encaminhamento à autoridade competente para fins de instauração de inquérito policial, civil ou militar. Art. 30. A observância dos procedimentos estabelecidos nesta INSTRUÇÃO NORMATIVA não obsta a adoção de outras medidas necessárias, determinadas pela autoridade competente, visando à realização de diligências para esclarecimento do fato ou a renovação de atos que tenham sido realizados sem obedecer ao contraditório e a ampla defesa. Art. 31. O Sindicado ou seu defensor tem o direito de requerer, fundamentadamente, quando necessário ao exercíciodo direito de defesa, a reinquirição de testemunhas, a realização de perícias, a juntada de documentos novos pertinentes ao fato objeto da apuração, apresentação de quesitos em carta precatória ou perícia, desde que não se configurem procrastinatórias ou afrontem normas legais vigentes, obtenção de cópias dos autos, facultado o fornecimento digital, às expensas do requerente. §1º A autoridade Sindicante poderá indeferir, mediante decisão fundamentada, pedido do Sindicado quando o seu objeto for impertinente, desnecessário, protelatório ou de nenhum interesse para o esclarecimento dos fatos. §2º O ato que dispensar a testemunha, devidamente intimada, deve ser registrada nos autos. §3º É facultado ao Sindicado realizar a autodefesa, bem como, em qualquer fase da Sindicância, constituir defensor para promover defesa técnica. §4º Se o Sindicado não promover a autodefesa, nem constituir defensor, a autoridade Sindicante nomeará defensor dativo, dentre os listados em relação publicada pelo respectivo Comando Geral da Corporação Militar Estadual. §5º Quando o Sindicado, regularmente intimado, deixar de apresentar as alegações finais, a autoridade Sindicante procederá de acordo com a norma prevista no §4º do art. 31, desta INSTRUÇÃO NORMATIVA, conforme o caso, a fim de que o defensor dativo as apresente. (...) Art. 35. Se no curso da Sindicância surgirem fatos novos relevantes conexos aos da apuração, devem, em princípio, ser apurados na própria Sindicância ou, considerando o andamento do processo, sua razoável duração e com vista a se evitar tumulto processual, extraídas cópias para a instauração de novo processo por deliberação da autoridade competente. §1º. A deliberação de que os fatos novos devam ser apurados no mesmo procedimento cabe à autoridade Sindicante, e será certificada nos autos, sendo informada ao Sindicado na primeira audiência seguinte desta ao imputado na primeira audiência seguinte à deliberação. § 2º Cabe à Autoridade instauradora, após a provocação do Sindicante, a deliberação de que os fatos novos conexos devem ser apurados por meio de nova Sindicância, considerando a conveniência processual, bem como o estágio da apuração. § 3º Das decisões previstas nos §§ 1º e 2º não cabe recurso. Em linhas gerais, vermos a seguir como se organiza uma Sindicância: Procedimentos Investigatórios nas Corporações Militares – CFS 2020 13 É o documento oficial de acusação da Sindicância. É como se fosse a Denúncia no Processo Crime. Além disso, é nela que o Cmt designa o encarregado Opcional. É o documento que faz o acusado virar “sindicado” pois é nele que oficialmente toma ciência da acusação. Primeira oportunidade para o imputado dar sua primeira versão de defesa. É nele também que o sindicado indicará as testemunhas de seu interesse. A ordem desses documentos é cronológica de produção/chegada. Só devem ser juntados documentos “de fora” da SAD e isso após determinação de juntada do encarregado Segunda oportunidade para o imputado dar sua versão de defesa. Ele não é obrigado a depor nem dizer a verdade. Terceira oportunidade para o imputado dar sua versão de defesa. Não é admissível encerrar a SAD sem alegações finais. É o resumo de tudo que foi feito com uma opinião do que deve ser aplicado ao caso. Assinado pelo sindicante. Solução do Comandante Relatório Alegações Finais Interrogatório Documentos outros Ofícios Depoimentos Defesa Prévia Citação Designação de escrivão Portaria instauradora Procedimentos Investigatórios nas Corporações Militares – CFS 2020 14 5. Como fazer um IPM 5.1 Entendendo o que é um IPM Inquérito Policial Militar é um procedimento investigativo de Polícia Judiciária Militar que serve para identificar a ocorrência de um crime militar e seu provável autor. No Brasil subsistem dois tipos de Direito Penal: o comum e o militar. Antes de entender o que diferencia um do outro é importante perceber que se são duas espécies de Direito Penal, logo precisamos ter dois tipos de juízes ( o juiz comum e o juiz militar) e dois tipos de Autoridades de Polícia Judiciária: a comum, representada na figura do delegado de Polícia, e a militar, representada EXCLUSIVAMENTE nos Comandantes militares 1 . Assim podemos rapidamente compreender que se para a Polícia Judiciária [comum] compete, dentre outros, (a) apurar os crimes comuns, (b) requisitar os exames necessários ao complemento do inquérito policial, e (c) cumprir mandados de prisão expedidos pela Justiça [comum], compete a Autoridade de Polícia Judiciária Militar, dentre outros, (a) apurar os crimes militares, (b) requisitar os exames necessários ao complemento do inquérito policial militar, e (c) cumprir mandados de prisão expedidos pela Justiça militar. Só que há uma particularidade no sistema processual penal militar brasileiro. É que temos duas espécies de militares: os estaduais e os federais. Por isso que os elaboradores trataram de criar também duas justiças militares, uma federal e outra estadual. Veja abaixo como funcionam: 1 Código de Processo Penal Militar. Art. 7º A polícia judiciária militar é exercida nos termos do art. 8º, pelas seguintes autoridades, conforme as respectivas jurisdições: ... h) pelos comandantes de forças, unidades ou navios; Supremo Tribunal Federal Vara da Justiça Militar Estadual ( JME) TJPE Superior Tribunal de Justiça Superior Tribunal Militar Auditorias Militares Julga crimes militares cometidos por Militares Estaduais. Julga crimes militares de interesse da Federação Procedimentos Investigatórios nas Corporações Militares – CFS 2020 15 Voltando ao procedimento, o IPM tem caráter de instrução PROVISÓRIA 2 , PREPARATÓRIA 3 e INFORMATIVA 4 , visando servir de semente para formar a convicção do Ministério Público com a finalidade da propositura ou não da Denúncia. Outro ponto a compreender, é que o IPM é um PROCEDIMENTO ESCRITO, SIGILOSO, OBRIGATÓRIO, INDISPONÍVEL, INQUISITIVO e de NATUREZA INFORMATIVA E INSTRUMENTAL. São características do IPM. Mas é preciso chamar a atenção quanto a alguns detalhes. Primeiramente é que, diferente de um procedimento meramente administrativo, o IPM não poderá NUNCA ser arquivado pelo Comandante. Ao término do procedimento o comandante deve conjugar o verbo indiciar, seja dizendo que o imputado naqueles autos será indiciado ou que não será indiciado. CPPM. Art. 24. A autoridade militar não poderá mandar arquivar autos de inquérito, embora conclusivo da inexistência de crime ou de inimputabilidade do indiciado. Outro detalhe é que, embora sigiloso, nunca se deve negar ao advogado a possibilidade de ter acesso aos autos. CPPM. Art. 16. O inquérito é sigiloso, mas seu encarregado pode permitir que dele tome conhecimento o advogado do indiciado. Logicamente o sigilo não se estende ao Ministério Público devido a previsão legal no Art. 15, III da Lei Complementar nº 40/80 (Lei de Organização do Ministério Público), nem ao judiciário. Ainda assim, é bom lembrar que o dispositivo do CPPM deve ser analisado em paralelo com outra Lei Federal, o Estatuto da OAB ( Lei nº 8.906/94), que diz: L8906/94. Art. 7º. São direitos do advogado: [...] XIV - examinar em qualquer repartição policial, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de inquérito, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos; Esta questão do sigilo foi julgada perante o Superior Tribunal Militar que entendeu o cabimento do sigilo tendo em vista o interesse público sobre o privado: NATUREZA SIGILOSA. ESTATUTO DO ADVOGADO. ACESSO IRRESTRITO AOS AUTOS.INTERESSE PÚBLICO. LITISCONSÓRCIO. Por natureza de procedimento administrativo de investigação inquisitorial, o 2 Pois a decisão em sede de IPM não é definitiva. A definitiva é aquela decidida em juízo. 3 Pois visa trazer elementos para preparar-se a Denúncia do MPPE. Este sim é o documento que dá início ao Processo Penal Militar. 4 Pois o MPPE não está adstrito ( obrigado) a seguir o mesmo entendimento da autoridade militar. Procedimentos Investigatórios nas Corporações Militares – CFS 2020 16 Inquérito Policial Militar não está sujeito ao princípio do contraditório, especialmente quando a parte impetrante não figura como indiciada. O direito do advogado de examinar autos de inquéritos ou flagrante, findos ou em andamento (inciso XIV do Art. 7º da Lei 8.906/94, não abrange aqueles sujeitos a sigilo (inciso XIII do mesmo dispositivo legal), preponderando, na hipótese, o interesse público sobre o particular. Inviável a admissibilidade de advogado com litisconsorte na causa que patrocina, visando a ter acesso a peças do inquérito policial que corre em sigilo. Ordem denegada. Decisão unânime. STM: Proc: MS Num: 2006.01.000686-9 UF: Data da Publicação: 12/01/2007. No Entendimento do Supremo Tribunal Federal: Ementa: I. Habeas corpus: inviabilidade: incidência da súmula 691 (“Não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer de “habeas corpus” impetrado contra decisão do Relator que, em “habeas corpus” requerido a Tribunal Superior indefere liminar”). II. Inquérito Policial: inoponibilidade ao advogado do indiciado do direito de vista dos autos do inquérito policial. 1. Inaplicabilidade da garantia constitucional do contraditório e da ampla defesa do inquérito policial, que não é processo, porque não destinado a decidir litígio algum, ainda que na esfera administrativa, existência, não obstante, de direitos fundamentais do indiciado no curso do inquérito, entre os quais o de fazer-se assistir por advogado, o de não se incriminar e o de manter silêncio. 2. Do plexo de direitos dos quais é titular o indiciado – interessado primário no procedimento administrativo do inquérito policial -, é corolário e instrumento a prerrogativa do advogado de acesso aos autos respectivos, explicitamente outorgada pelo Estatuto do Advogado (L. 8906/94, art.7º, XIV), da qual – ao contrário do que previu em hipóteses assemelhadas – não se excluíram os inquéritos que corre em sigilo: a irrestrita amplitude do preceito legal resolve em favor da prerrogativa do defensor o eventual conflito dela com os interesses do sigilo das investigações, de modo a fazer impertinente o apelo ao princípio da proporcionalidade. 3. A oponibilidade ao defensor constituído esvaziaria uma garantia constitucional do indiciado (CF, art. 5º, LXIII), que lhe assegura, quando preso, e pelo menos lhe faculta, quando solto, a assistência técnica do advogado, que este não lhe poderá prestar se lhe é sonegado o acesso aos autos do inquérito sobre o objeto do qual haja o investigado de prestar declarações. 4. O direito d indiciado, por seu advogado, tem por objeto as informações já introduzidas nos autos do inquérito, não as relativas àdecretação e às vicissitudes da execução de diligências em curso (cf. L9296, atinente às interceptações telefônicas, de possível extensão a outra diligências); dispõe, em conseqüência a autoridade policial de meiolegítimos para obviar inconvenientes que o conhecimento pelo indiciado e seu defensor dos autos do inquérito policial possa acarretar à eficácia do procedimento investigatório. 5. Habeas corpus de ofício deferido para que aos advogados constituídos pelo paciente se faculte a consulta aos autos do inquérito policial e a obtenção de cópias pertinentes com as ressalvas mencionadas. STF: HC 90232 / AM – AMAZONAS, Relator Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, DJ 02-03-2007. Diante da decisão do STF percebe-se que o sigilo do IPM é relativo por ser restrito à prática das investigações, logo SEMPRE deverá o encarregado do IPM permitir o acesso do advogado do indiciado legalmente constituído aos autos do procedimento investigatório. Procedimentos Investigatórios nas Corporações Militares – CFS 2020 17 5.2 O que é crime militar? A pergunta parece simples mas a resposta é bem complicada. Para responder é necessário socorrer-se do Código Penal Militar. Vejamos: Código Penal Militar. Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: I - os crimes de que trata este Código, QUANDO DEFINIDOS DE MODO DIVERSO NA LEI PENAL COMUM, ou nela não previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposição especial; II - os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação penal, quando praticados. Exs: a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma situação ou assemelhado; b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à administração militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil; c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar contra militar da reserva, ou reformado, ou civil; d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil; e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob a administração militar, ou a ordem administrativa militar; Procedimentos Investigatórios nas Corporações Militares – CFS 2020 18 III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as instituições militares, considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso I, como os do inciso II, nos seguintes casos: a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem administrativa militar; b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em situação de atividade ou assemelhado, ou contra funcionário de Ministério militar ou da Justiça Militar, no exercício de função inerente ao seu cargo; c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância, observação, exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou manobras; d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em função de natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação da ordem pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente requisitado para aquele fim, ou em obediência a determinação legal superior. 5.3 Qual o prazo do IPM? CPPM. Art 20. O inquérito deverá terminar dentro em vinte dias, se o indiciado estiver prêso, contado esse prazo a partir do dia em que se executar a ordem de prisão; ou no prazo de quarenta dias, quando o indiciado estiver sôlto, contados a partir da data em que se instaurar o inquérito. Prorrogação de prazo § 1º Êste último prazo poderá ser prorrogado por mais vinte dias pela autoridade militar superior, desde que não estejam concluídos exames ou perícias já iniciados, ou haja necessidade de diligência, indispensáveis à elucidação do fato. O pedido de prorrogação deve ser feito em tempo oportuno, de modo a ser atendido antes da terminação do prazo 5.4 Quem pode ser encarregado? CPPM. Art. 15. Será encarregado do inquérito, sempre que possível, Oficial de posto não inferior ao de capitão ou capitão- tenente; e, em se tratando de infração penal contra a segurança nacional, sê-lo-á, sempre que possível, oficial superior, atendida, em cada caso, a sua hierarquia, se oficial o indiciado 5.5 Quem pode ser escrivão? CPPM. Art. 11. A designação de escrivão para o inquérito caberá ao respectivo encarregado, se não tiver sido feita pela autoridade que lhe deu delegação para aquele fim, recaindo em segundoou primeiro-tenente, se o indiciado for oficial, e em sargento, subtenente ou suboficial, nos demais casos. Parágrafo único. O escrivão prestará compromisso de manter o sigilo do inquérito e de cumprir fielmente as determinações deste Código, no exercício da função. Procedimentos Investigatórios nas Corporações Militares – CFS 2020 19 5.6 Como organizar os documentos do IPM? CPPM. Art. 21. Todas as peças do inquérito serão, por ordem cronológica, reunidas num só processado e dactilografadas, em espaço dois, com as folhas numeradas e rubricadas, pelo escrivão. Parágrafo único. De cada documento junto, a que precederá despacho do encarregado do inquérito, o escrivão lavrará o respectivo termo, mencionando a data. 5.7 Qual o período para se fazer os depoimentos? CPPM. Art. 19. As testemunhas e o indiciado, exceto caso de urgência inadiável, que constará da respectiva assentada, devem ser ouvidos durante o dia, em período que medeie entre as sete e as dezoito horas. 1º. O escrivão lavrará assentada do dia e hora do início das inquirições ou depoimentos; e, da mesma forma, do seu encerramento ou interrupções, no final daquele período. 2º. A testemunha não será inquirida por mais de quatro horas consecutivas, sendo-lhe facultado o descanso de meia hora, sempre que tiver de prestar declarações além daquele termo. O depoimento que não ficar concluído às dezoito horas será encerrado, para prosseguir no dia seguinte, em hora determinada pelo encarregado do inquérito. 5.8 Sempre que uma sindicância encerrar indicando um crime, temos que indicar a abertura de IPM? Não. Isso por força do art. 28, a, do CPPM. Vejamos: CPPM. Art.28. O inquérito poderá ser dispensado sem prejuízo de diligência, requisitado pelo Ministério Público: a) Quando o fato e sua autoria já estiverem esclarecidos por documentos ou outras provas materiais; (...) Há uma grande confusão com o teor do art. 10,f, que diz que “O inquérito é iniciado mediante portaria (...) (f) quando, de sindicância feita em âmbito de jurisdição militar, resulte indício da existência de infração penal militar”. Isso não pode ser interpretado como se toda sindicância que resulte na constatação de crime deverá se instaurar IPM mas que o legislador permitiu ao aplicador que, se for necessário, instaure um IPM a partir de uma sindicância mas não indiscriminadamente de todas. Procedimentos Investigatórios nas Corporações Militares – CFS 2020 20 F a t o Esquema seqüencial dos atos de um IPM É o documento lavrado pelo encarregado e que retrata o objeto investigativo ( art. 10 do CPPM). Opcional. Nele o encarregado nomeia o escrivão e determina- lhe que atue a portaria e demais documentos. Nele o escrivão compromete-se a cumprir suas atribuições. Vide art. 11 do CPPM. Cada vez que o escrivão cumprir ordens do encarregado É nele que o encarregado dá as ordens para serem cumpridas pelo escrivão. A finalidade dele é estabelecer a data em que o procedimento “retornou” as mãos do escrivão e foi cumprido. Esse é um dos documentos assinados pelo próprio escrivão. A ordem desses documentos é cronológica de produção/chegada. Só devem ser juntados documentos “de fora” do IPM e isso após determinação de juntada do encarregado Conforme dito anteriormente, sempre que for cumprida as ordens do encarregado, o escrivão deve fazer o termo de conclusão. Isso, se não houver novo despacho. Decisão final do Comandante que é a autoridade de Polícia Judiciária Militar originária. Bom ressaltar que ele não tem autoridade para determinar arquivamento de IPM. Ou indicia ou não indicia mas em ambos os casos remete para a JME. Solução Relatório Termo de conclusão Interrogatório Documentos outros Ofícios Recebimento Certidão Juntada Despacho Termo de conclusão Termo de compromisso Designação de escrivão Portaria instauradora Procedimentos Investigatórios nas Corporações Militares – CFS 2020 21 6. Auto de Prisão em Flagrante Delito Não há grandes diferenças entre um IPM e um APFDM. Vejamos as principais: 1) No APFDM o imputado esta em flagrante. De acordo com o CPM está em flagrante: Sujeição a flagrante delito Art. 244. Considera-se em flagrante delito aquele que: a) está cometendo o crime; b) acaba de cometê-lo; c) é perseguido logo após o fato delituoso em situação que faça acreditar ser ele o seu autor; d) é encontrado, logo depois, com instrumentos, objetos, material ou papéis que façam presumir a sua participação no fato delituoso. 2) O Termo de depoimento é único. Corrido. 3) Encerrado o procedimento é necessário informar a família, advogados, juiz militar, Comandante Geral e Corregedor Geral. 7. Instruções Provisórias de Deserção 7.1 O que é deserção? Quem responde a essa pergunta é o Código Penal Militar. Ele diz: CPM. Art. 187. Ausentar-se o militar, sem licença, da unidade em que serve, ou do lugar em que deve permanecer, por mais de oito dias: Pena - detenção, de seis meses a dois anos; se oficial, a pena é agravada. O crime de deserção tem sua origem atrelada aos campos de batalha, justificando sua dureza como meio de assegurar o extremo controle da tropa, portanto juridicamente ligado aos princípios da hierarquia e disciplina. Tanto é que o Código Penal Militar trouxe essa mesma conduta em duas situações distintas, sendo uma em tempo de paz, e outra em tempo de guerra, e nessa última hipótese o militar deve ser condenado a pena de morte. CPM. Art. 392. Desertar em presença do inimigo: Pena - morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau mínimo. Procedimentos Investigatórios nas Corporações Militares – CFS 2020 22 Esse é o conceito mais conhecido mas não é o único. Isso porque ainda temos os CASOS ASSIMILADOS, ou seja, não são deserção em sua essência mas o legislador preferiu dar o mesmo tratamento: CPM. Art. 188. Na mesma pena incorre o militar que: I - não se apresenta no lugar designado, dentro de oito dias, findo o prazo de trânsito ou férias; II - deixa de se apresentar a autoridade competente, dentro do prazo de oito dias, contados daquele em que termina ou é cassada a licença ou agregação ou em que é declarado o estado de sítio ou de guerra; III - tendo cumprido a pena, deixa de se apresentar, dentro do prazo de oito dias; IV - consegue exclusão do serviço ativo ou situação de inatividade, criando ou simulando incapacidade. O legislador deu tratamento mais duro ainda quando se trata de deserção de Oficial, além de criar outras situações agravantes. 7.2 O que é e qual é prescrição para o crime de deserção? Simplificando, podemos conceituar prescrição [penal] como sendo o prazo que o Estado tem para aplicar a pena em resposta a um crime. São poucas as figuras imprescritíveis e elas estão previstas na Constituição Federal. CF. Art. 5º, XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei; CF. Art. 5º, XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático; Assim, os demais crimes são prescritíveis. Para saber a prescrição de um crime é necessário observar o que diz a lei penal, no nosso caso, o Código Penal Militar. Vejamos: CPM. Art. 125. A prescrição da ação penal, salvo o disposto no § 1º deste artigo, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se: I - em trinta anos, se a pena é de morte; II - em vinte anos, se o máximo da pena é superior a doze; III - em dezesseis anos, se o máximo da pena é superior a oito e não excede a doze; IV - em doze anos, se o máximo da pena é superior a quatroe não excede a oito; V - em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois e não excede a quatro; VI - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo superior, não excede a dois; VII - em dois anos, se o máximo da pena é inferior a um ano. Procedimentos Investigatórios nas Corporações Militares – CFS 2020 23 No caso, vimos no art. 187 do Código Penal que o máximo da pena para o crime de Deserção é de 02 (dois) anos. Assim, confrontando com o artigo acima podemos concluir inicialmente que a prescrição para o crime de deserção é de 04 (quatro) anos. Mas há uma coisa única no crime de deserção. É que nesse crime é necessário concorrer não uma, mas duas prescrições. Vejamos: Prescrição no caso de deserção Art. 132. No crime de deserção, embora decorrido o prazo da prescrição, esta só extingue a punibilidade quando o desertor atinge a idade de quarenta e cinco anos, e, se oficial, a de sessenta 7.3 Qual a sequencia de documentos? Durante muito tempo e ainda hoje, alguns aplicam um tal conceito de em local incerto e não sabido, razão pela qual entendem como necessário realizar diligências para confirmar esse estado de perdido. Isso se deve porque o art. 456, §2º do CPPM dizia que 'o comandante da subunidade ou seu correspondente, em se tratando de militar, determinará, compulsoriamente, as necessárias diligências para a localização e retorno do ausente à sua unidade, mesmo sob prisão, se assim exigirem Procedimentos Investigatórios nas Corporações Militares – CFS 2020 24 as circunstâncias’. Mas atenção: Essa regra foi abolida desde 1991 a partir da Lei 8.236 de 20/09/1991 Por fim, alertamos que publicado o termo de deserção em BI esse documento servirá como um Mandado de Prisão em aberto. Assim, uma vez capturado o desertor não é necessário lavrar um APFDM. Basta encaminhá-lo ao CREED, após passar pelo IML, e oficiar ao Juiz Militar informando de sua captura. Outras providencias podem ser tomadas mas essas são triviais. Procedimentos Investigatórios nas Corporações Militares – CFS 2020 25 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS SILVA, Demétrios Wagner Cavalcanti da; GENUÍNO, Petrus Gomes. Código Disciplinar dos Militares Estaduais Comentado. Recife: Livro Rápido, 2018. GENUÍNO, Petrus Gomes; SILVA, Demétrios Wagner Cavalcanti da. Estatuto dos Militares Estaduais Anotado. Recife: Livro Rápido, 2018.
Compartilhar