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POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS MANUAL DO INQUÉRITO POLICIAL MILITAR Belo Horizonte 2005 Direitos exclusivos da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) Reprodução proibida. 2.ª Edição Tiragem: exemplares ADMINISTRAÇÃO Centro de Pesquisa e Pós-Graduação da PMMG Rua Diabase, 320 - Bairro Prado Belo Horizonte/MG CEP 30.410-440 Tel.: (0xx31) 2123-9513 Fax: (0xx31) 2123-9512 E-MAIL: cpp@pmmg.mg.gov.br mailto:cep@pmmg.mg.gov.br POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MINAS GERAIS COMANDO GERAL RESOLUÇÃO N.º 3.234, DE 29 DE NOVEMBRO DE 1995 “Aprova as modificações do Manual do Inquérito Policial Militar, para terceira edição” O Coronel PM Comandante-Geral da Polícia Militar do Estado de Minas Gerais, no uso de suas atribuições previstas no inciso XI do artigo 6.º do R-100, aprovado pelo Decreto n.º 18.445, de 15Abr77, RESOLVE: Art. 1.º - Ficam aprovadas as modificações do “Manual de Inquérito Policial Militar” a que se refere a Resolução n.º 775, de 22 de maio de 1980, com as modificações introduzidas pela Resolução nº 1490 de 23Dez85, para terceira edição. Art. 2.º - Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação. QCG em Belo Horizonte 29 de novembro de 1995. (a) NELSON FERNANDO CORDEIRO, CORONEL PM COMANDANTE-GERAL POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MINAS GERAIS COMANDO GERAL RESOLUÇÃO N.º 3508, DE 07 DE OUTUBRO DE 1999 Torna sem efeito as modificações introduzidas no Manual de Inquérito Policial Militar pela Resolução n.º 3.502, de l9Jun 99, particularmente no item 10, do Capítulo VI, relacionado à desistência ao direito de representação, nos termos do art. 88, da Lei Federal n.º 9.099, de 26Set95. O COMANDANTE-GERAL DA POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS, no uso da competência que lhe é atribuída pelo art. 6.º, inciso XI, do R-100, aprovado pelo Decreto n.º 18.445, de 15Abr77, à vista do contido no art. 1.º da Lei Federal n.º 9.839, de 27Set99, RESOLVE: Art. 1.º - Ficam sem efeito, a partir do dia 28Set99, data de publicação e vigência da Lei Federal n.º 9.839, de 23Set99, as modificações introduzidas pelo item 10, do Capítulo VI. do Manual do Inquérito Policial Militar (IPM), relativas à aplicação do art. 88, da Lei Federal n.º 9.099, de 26Set95, relacionada à desistência ao direito de representação. Art. 2.º - Os atos porventura praticados antes da vigência da Lei n.º 9.839/99 são válidos, em virtude do princípio da irretroatividade da lei penal previsto no art. 5.º, XL, da Constituição Federal. Art. 3.º - Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação. Art. 4.º - Revogam-se as disposições em contrário. Belo Horizonte, 07 de outubro de 1999. (a) MAURO LÚCIO GONTIJO, CORONEL PM COMANDANTE-GERAL RESOLUÇÃO N.º 3.502, DE 19 DE AGOSTO DE 1999 “Aprova modificações do Manual do Inquérito Policial Militar, para quarta edição.” O COMANDANTE-GERAL DA POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS, no uso da competência que lhe é atribuída pelo art. 6.º, inciso XI, do R-100, aprovado pelo Decreto n.º 18.445, de 15Abr77. RESOLVE: Art. 1.º - Ficam aprovadas as modificações do “Manual do Inquérito Policial Militar” a que se refere a Resolução n.º 775, de 22 de maio de 1980, com as modificações introduzidas pelas Resoluções n.º 1.490, de 23Dez85 e n.º 3.234, de 29Nov95. Art. 2.º- Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação. Art. 3.º - Revogam-se as disposições em contrário. Belo Horizonte, 19 de agosto de 1999. MAURO LÚCIO GONTIJO, CORONEL PM COMANDANTE-GERAL RESOLUÇÃO N.º 3.682, DE 08 DE OUTUBRO 2002. Torna sem efeito as modificações introduzidas no Manual de Inquérito Policial Militar pela Resolução n.º 3.502, de 19Jun99, particularmente nos itens 08 e 09, do Capítulo VI, relacionado à confecção do Termo de Comparecimento Espontâneo (TCE) e conseqüente instauração de Inquérito Policial Militar (IPM), como forma de elidir a privação, através do Auto de Prisão em Flagrante (APF), nas hipóteses de crime militar praticado em serviço e alcançado pelas hipóteses excludentes de ilicitude presentes no Código Penal Militar (CPM). O COMANDANTE-GERAL DA POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS, no uso da competência que lhe é atribuída pelo artigo 6º, inciso XI, do R-100, aprovado pelo Decreto n.º 18.445, de 15abr77, à vista da controvérsia em torno da confecção do Termo de Comparecimento Espontâneo como forma de elidir a prisão em flagrante do militar, nas hipóteses de crime militar praticado em serviço e sob o apanágio das excludentes de ilicitude, previstas no Código Penal Militar, considerando que a elaboração do Termo de Comparecimento Espontâneo pressupõe a efetiva apresentação do autor do fato criminoso de autoria ignorada; considerando que a apresentação espontânea, conforme sua previsão no ordenamento processual militar, não resguarda amparo para os crimes militares praticados em serviço, ainda que sob o apanágio das excludentes de ilicitude; considerando que a manutenção da orientação administrativa em vigor, conforme manifestações da Justiça Militar de 1ª instância e da representação ministerial com atuação naquele Foro especializado, pode gerar cominação de penalidades, RESOLVE: Art. 1º - Ficam sem efeito, a partir da data de publicação e vigência desta Resolução, a confecção do Termo de Comparecimento Espontâneo e a conseqüente instauração de Inquérito Policial Militar, conforme orientações da Resolução n. º 3.502, de 19Ago99 (publicada no BGPM n.º 061, de 24Ago99), que modificou o Manual de IPM, especialmente com a inserção dos itens 08 e 09, do Capítulo VI. Art. 2.º - Em função do art. 1.º desta Resolução, fica revigorada a Instrução n.º 01/96-EMPM, 07Jun96 (publicada no BGPM n.º 046, de 18Jun96), que dispõe sobre a obrigatoriedade da lavratura de Auto de Prisão em Flagrante (APF), quando presentes todos os elementos previstos no Código de Processo Penal Militar (CPPM). Art. 3º - Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação. Art. 4º - Revogam-se as disposições em contrário. Belo Horizonte, 08 de outubro de 2002. (a) ÁLVARO ANTÔNIO NICOLAU, CORONEL PM COMANDANTE-GERAL RESOLUÇÃO N.º 3060, DE 26 DE ABRIL DE 1994 Acrescenta dispositivo ao Manual de IPM,aprovado pela Resolução n.º 775, de 22 de maio de 1980, com alterações da Resolução n.º 1490, de 23 de setembro de 1984. O CORONEL PM COMANDANTE-GERAL DA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MINAS GERAIS, no uso da atribuição que lhe confere o art. 6.º, inciso XI, do R-100, aprovado pelo Decreto n.º 18.445, de 15 de abril de 1977, RESOLVE: Art. 1.º - Fica acrescido ao Manual de Inquérito Policial Militar, em seu capítulo VI, o Modelo n.º 69 e as respectivas considerações, anexos à esta Resolução, constituindo-se a Certidão dos Diretos Constitucionais. Art. 2.º - Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação e revoga as disposições em contrário. QCG, em Belo Horizonte, 26 de abril de 1994. (a) MÁRIO LÚCIO CALÇADO, CORONEL PM COMANDANTE – GERAL APRESENTAÇÃO EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS EXMO SR. CORONEL PM COMANDANTE GERAL 1 A comissão in-fine assinada, designada por ato publicado em BGPM, n.º 132, de 12 de Junho de 1979, tem a súbita honra de submeter à esclarecida apreciação de V. Exa. o anteprojeto de um “Manual de Inquérito Policial-Militar.” 2 No início, pretendia-se, a exemplo das obras existentes, elaborar um manual que contivesse tão somente o formulário das peças mais usuais de um inquérito, acompanhadas de legislação e orientações específicas. Contudo, no decurso das pesquisas, discussões e entrechoques de idéias, entendeu-se que, produzindo-se um trabalho para a estante profissional de nosso oficial, não poderíamos ser tão simplistas. Deveríamos ir mais além, porquanto o oficial que preside uma investigação não dirigeuma mera atividade mecânica, ao contrário, desenvolve um esforço de inteligência que exige lastro intelectual, entendimento de causas e efeitos em diversos campos do conhecimento humano, tirocínio avançado, capacidade criativa e outros atributos inerentes ao homem de formação superior. Dentro da linha traçada, carreou-se para o bojo do anteprojeto, além dos formulários, legislação e explicações orientativas, uma dose substanciosa de doutrina e jurisprudência, que, não obstante reconhecendo que o Direito é um campo vasto e ilimitado, servirá de facho de luz para que o oficial se aprofunde em seus estudos e pesquisas nesse ângulo de nessa complexa profissão. Por conseguinte, estrutura-se o anteprojeto em cinco partes, que comentaremos sucintamente nos parágrafos subsequentes: PRIMEIRA PARTE: DOUTRINA SEGUNDA PARTE: LEGISLAÇÃO TERCEIRA PARTE: TERMOS TÉCNICO-JURÍDICOS QUARTA PARTE: FORMULÁRIOS QUINTA PARTE: JURISPRUDÊNCIA 7 3 A parte de “Doutrina” estrutura-se em três capítulos básicos, complementado por pareceres emitidos por ilustrados juristas militares no Tribunal de Justiça Militar Estadual e no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. 3.1) O primeiro capítulo procura situar, no seu parágrafo inicial, o exato entendimento do que seja Polícia Judiciária Militar no âmbito da nossa Corporação. 3.2) Denominamos capítulo segundo, a transcrição que fizemos de um estudo doutrinário editado em 1978 sob o título “CRIME MILITAR” (Editora Rio, de autoria do Jurista Álvaro da Costa Mayrink). Em verdade, a Comissão poderia ter tentado adaptar o estudo ou condensá-lo, ou desenvolver um estudo próprio. Entretanto, preferimos ser coerentes e realistas: encontrávamo-nos diante de um trabalho intelectual sério e profundo; a melhor política seria aproveitá-lo integralmente. 3.3) Avançando o enfoque teórico-doutrinário, o capítulo terceiro discorre sobre o Inquérito Policial-Militar. Conceitua-o. Posiciona-o na exata medida de seu valor perante o judiciário. Evidencia-o nos seus matizes vivos de instrumento de investigação criminal. O capítulo preocupa-se em oferecer ao oficial a verdadeira dimensão e natureza do encargo que se lhe atribui quando é designado para presidir um IPM. O oficial não pode ser encarado como um mero ajuntador de peás ou copiador de formulários, ou transcrevedor de relatos, papel esse mais compatível ao escrivão. O oficial é a inteligência que inquire, perquire e indaga, que sabe penetrar e rebuscar os meandros do evento obscuro para encontrar a luz que haverá de clareá-lo em todas as suas nuances. Concluindo-o, damos ênfase aos atos probatórios, transcrevendo, à guisa de comentários doutrinários, o trabalho da lavra de eminente jurista publicado na Revista do Superior Tribunal Militar, ano IV, n.º 4, 1978. 3.4) Coroando a primeira parte, transcrevemos, face ao seu indiscutível valor, dois estudos de eminentes juristas do Tribunal da Justiça Militar de Minas Gerais e do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. 3.4.1 O primeiro estudo pertence ao insige Juiz do Tribunal de 8 Justiça Militar - Dr. Luiz Marcelo Inacarato - datado de 16Dez75, versando sobre o momentoso problema da aplicabilidade da Lei Penal Militar no que tange às Polícias Militares. Não obstante a evolução constitucional e jurisprudencial de 1975 a esta data, julgamos que a fundamentação desenvolvida pelo estudioso jurista continua atual e deve ser difundida a todos os Oficiais. 3.4.2 O estudo seguinte é um parecer da lavra do Dr. Oswaldo Carvalho Monteiro, ilustre Procurador da Justiça Militar Estadual, que reforça a tese consagrada, a partir da Emenda Constitucional n.º 7, de 13Abr77, de competência do foro militar para os crimes praticados por elementos da Polícia Militar. 3.4.3 A segunda parte cuida da legislação processual. É apenas indicativa. Transcreve os principais tópicos do CPPM relativos ao Inquérito Policial Militar e à Prisão em Flagrante. Da a indicação dos dispositivos de maior interesse ao Encarregado da investigação. Contudo, é bom que se frise, não pretende substituir o uso dos Códigos (CPM e CPPM) que devem continuar sendo uma das obras mais manuseadas na Biblioteca Profissional de Oficial. 3.4.4 Na terceira parte, a Comissão coletou os termos técnico- jurídicos mais usuais no desenvolvimento da investigação e elaboração do IPM ou na lavratura do APF. Evidentemente, dentro do escopo de nosso trabalho, não pretendemos esgotar o assunto. O oficial consciente da profissão tem com isso apenas um ponto de referência. Poderá ampliar o seu acervo de conhecimentos recorrendo aos dicionários de termos técnicos-jurídicos. 3.4.5 A quarta parte abrange a série de formulários que retrata os aspectos formais do IPM e APF. Buscamos estabelecer um roteiro para o Encarregado e o Escrivão. Não sua elaboração, não inovamos. Sem embargo de algum aperfeiçoamento ou ajustamento à nossa realidade, servimo-nos dos formulários já existentes nas Forças Armadas e outras Polícias Militares, bem como de formas consagradas pela praxe policial. Embora o anteprojeto tenha por objeto o IPM, achamos por bem inserir o formulário da “Prisão em Flagrante”, que já abordáramos nas partes relativas á legislação e termos técnicos. As peças principais são precedidas de comentários orientativos sucintos, esclarecendo sobre aspectos essenciais das diligências a serem 9 desenvolvidas. Outrossim, transcreveu-se na íntegra, o Decreto Estadual n.º 5.141, de 25Out56, que aprova o formulário de Quesitos para Exames Periciais. 3.4.6 A quinta e última parte do anteprojeto dedica-se à jurisprudência. A Comissão em trabalho de pesquisa, coletou o que existe de mais atual no entendimento do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal Militar e do Tribunal de Justiça Militar Estadual. Reproduzimos, na íntegra, além das ementas e dos acórdãos, os votos dos julgamentos do HHCC n.º 55.962 e 56.049, do STF, que foram o ponto de referência da modificação do conteúdo da Súmula 297. O mesmo fizemos com relação ao Acórdão do Recurso Criminal n.º 5.198 do STM, que traz grande luz a respeito da competência do foro militar estadual. Atual e relevante é também a jurisprudência de nossa corte castrense. 3.4.7 Finalizando, a Comissão agradece a V. Exa. a confiança que lhe foi depositada Certamente, o trabalho possui limitações. A escassez de tempo, pois nenhum membro foi afastado de suas funções normais, como também, a maioria foi cometida de outros encargos paralelos, impediu-nos de realizar uma obra com maior conteúdo. Contudo, acreditamos que, difundida a obra, o seu uso critico pelos Oficiais, permitirá que, num futuro próximo, possa vir a lume um manual mais aperfeiçoado. No ensejo, reafirmamos a V. Exa. as expressões de nosso profundo respeito e Consideração. Belo Horizonte, 12 de maio de 1980 (a) Saint’ Clair Luiz do Nascimento, Cel PM Klinger Sobreira de Almeida, Ten-Cel PM Vilmar Leal Arnaut, Ten-Cel PM Roldão Raimundo Ferreira, Cap PM Éder Dupin Henriques, Prof. APM 1 CAPÍTULO I O INQUÉRITO POLICIAL MILITAR 1 CONCEITO, VALOR, DOUTRINA Por analogia com o Inquérito Policial, dizemos que o Inquérito Policial-Militar é um conjunto de “diligências necessárias à verificação da existência de um crime, com todas as suas circunstâncias, para descobrimento de seus autores e cúmplices”. A conceituação de IPM é encontrada na própria lei processual militar, deve obedecer a uma sequência disciplinada, lógica e ordenada.1 O IPM é, na verdade, um instrumento de investigação policial. O Encarregado do IPM é a autoridade que rastreia o delito, procura materializá-lo, penetra no emaranhado dos vestígios,busca provas e as interpreta e clareia, tendo sempre por objetivo final, apontar, de maneira insofismável e irretorquível, o autor ou autores na infração penal militar.2 1 Sobre a legalidade do inquérito, é conhecido o Acórdão do TJSP (RT409/7 1) segundo o qual ele é “um procedimento persedutório” de caráter administrativo e, como tal, por essa feição, não pode estar a salvo do controle de sua legalidade. Por meio dele é que são oferecidos os elementos que servem à formação da denúncia. Se ditos elementos não compõem um fato típico, ao menos em tese, não há como manter o constrangimento que dele decorre, sem o que o procedimento da autoridade administrativa deixaria de ser discricionário para ser arbitrário. Há que se levar em conta, entretanto, que o mero indiciamento em inquérito policial não constitui constrangimento ilegal a ser corrigido por intermédio de habeas corpus. (STF, RHC 56.019 - DJU l6Jun78, pág. 4.394). 2 � “Esta é a razão essencial porque entendemos devem todos os Encarregados de IPM, na sua apuração, ter sempre em mente os requisitos da denúncia, previstos no art. 77 do CPPM, pois esses elementos serão necessários à propositura da ação penal e o MP só poderá oferecer denúncia se esta contiver todos eles, a saber: a) designação do Juiz; b) nome, idade, profissão e residência do acusado ou esclarecimentos pelos quais possa ser qualificado; c) tempo e lugar do crime; d) qualificação do ofendido ou designação da pessoa jurídica da instituição prejudicada; e) exposição do fato criminoso; f) razões de convicção ou presunção da delinquência; g) classificação do crime;” h) rol de testemunhas em número não superior a seis.” “In Revista de Direito Militar”, pág. 113. 11 O IPM, então, como procedimento persecutório (de caráter administrativo) ou instrução provisória, é que dará origem ao processo criminal. Se bem elaborado, constituirá o instrumento valioso de que se servirá o Ministério Público - titular da pretensão punitiva do Estado, na jurisdição militar, para promover a ação penal e sustentá-la. Se as provas, mormente as perícias, contidas no bojo dos autos, foram produzidas com a observância das formalidades legais, terão caráter instrutório definitivo, pois não se repetirão em Juízo (Art. 9.º, parágrafo único, CPPM). Da mesma forma, os interrogatórios bem conduzidos, os depoimentos claros e eloquentes, os indícios bem retratados, poderão servir de elementos de convicção ao julgador. É importante, então, que o Oficial, logo que for designado Encarregado, faça um planejamento de seu trabalho, lendo atentamente os documentos iniciais que lhe forem entregues e esquematizando a apuração, analisando: a) o fato (como está colocado); b) envolvidos (indiciados, vítimas, testemunhas); c) conclusão inicial (em tese); d) providências a serem tomadas (que comportarão o teor da portaria de abertura) imediata ou mediatamente, conforme decorrerem os trabalhos. e) perícias, exames, autos de corpo de delito a serem requisitados, para que se comprove, materialmente, o fato objeto de apuração. O inquérito não é, como se vê, documento de valor absoluto Conforme ensinamento do Acórdão do TJM, nos autos de Apelação n.º 1.395 (BGPM 101, de 01Jun81), em que pese certa limitação de seu valor probatório, o IPM é peça importante no procedimento processual castrense, sendo dever indeclinável do Encarregado promover diligentemente, todo esforço e ensejar meios de inteligência para dar ao Ministério Público e aos Julgadores, os elementos básicos para fundamentada instauração do processo e, ao final, o julgamento isento. Assim, desde o inicio cumpre advertir que qualquer condenável omissão poderá ensejar responsabilidade criminal do Encarregado, 12 movível quando, em homicídios, abuso de autoridade ou violência arbitrária, praticados por policiais-militares, suspeita-se de parcialidade na investigação. 2 INVESTIGAÇÃO POLICIAL 2.1 Polícia Investigatória É o exercício da investigação policial. Tem lugar antes e durante o inquérito. É através dela que o Oficial Encarregado do IPM aplicará sua habilidade pessoal, técnicas e outros conhecimentos adquiridos na vida profissional, objetivando apresentar o trabalho da melhor forma possível. A polícia investigatória não possui regras rígidas, porém está presente em todas as ações executadas no inquérito, como na coleta de provas, na determinação de diligências para a localização de pessoas, armas, objetos, etc., na escolha de testemunhas, nas inquirições, etc. O planejamento inicial e a condução criteriosa da polícia investigatória é que determinarão o sucesso ou fracasso na apuração do fato. Todo oficial Encarregado de IPM deve explorar ao máximo a sua capacidade de investigação, não se descuidando de nenhum detalhe. Aliás, um detalhe à primeira vista insignificante poderá ser chave da questão. Esta atividade, então, se reveste de tal importância que deve ser iniciada mesmo antes da instauração do inquérito, principalmente nos crimes que deixam vestígio, exatamente quando se planeja o trabalho. E neste sentido que preceituam os artigos 10, § 2.º, e 12 do CPPM, quando estabelecem as providências a serem tomadas antes do inquérito. O Oficial Encarregado, conforme a complexidade do caso, deve montar uma equipe de auxiliares investigadores ou se utilizar de outros artifícios para que os fatos possam vir ao seu conhecimento. O IPM mal elaborado, mal conduzido e que não chega a definir a autoria com lastro de provas claras e inquestionáveis, é um mero amontoado de papéis sem valor, que, de forma alguma poderá servir de subsídio ao Ministério Público. 3 3 Sobre o IPM mal feito, o Tribunal de Justiça Militar já se pronunciou várias vezes 13 O Encarregado do IPM exerce a arte da investigação criminal em toda a sua amplitude.4 Alguns estudiosos dizem que a feitura de um Inquérito comporta duas fases: - Investigação policial (em consequência do planejamento inicial, empregar-se-ão técnicas variadas para definição das primeiras questões surgidas); - Composição de Provas (em consequência dos dados levantados, quando a autoridade policial definirá seu ponto de vista a respeito do que foi apurado, mostrando O suporte em que se fundamenta). 4.2 Técnicas de Investigação Policial A investigação, via de regra, desenvolve-se para a consecução de um triplo objetivo: - identificar o autor ou autores do delito; - trilhar e localizar o delinquente; - provar a sua culpa. Perseguindo essa meta, o Encarregado do IPM e equipe usarão os instrumentos abaixo, que contribuirão para levar adiante os objetivos traçados. - Informação; - Interrogação; - Instrumentação. Informação é trabalho de campo. É o conhecimento que o investigador reúne de outras pessoas. Ocorrido o delito, procura rastreá- lo, conversa com pessoas ligadas ao fato ou ambiente do cenário delituoso. Com essas conversas, quase sempre discretas ou mesmo sobre dificuldade que isto causa, como, por exemplo, nos autos de apelação no 1.462 onde se condena o protecionismo e na Apelação Criminal n0 1.592, onde se pretendeu mostrar, através de IPM, uma farsa de legítima defesa. Vide “Estudos de Direito Penal e Processual - Cap. V”. 4 Essencial, também, é que o Encarregado do IPM conheça os princípios basilares do Direito Penal Militar e de seu enfoque, amplo, como direito disciplinar. In Revista de Estudos e Informação da Justiça Militar de Minas Gerais (pág. 24/25). 14 despretensiosas, poderá recolher subsídios valiosos que o levarão a um ou mais suspeitos. E de conhecimento em conhecimento formará um quadro amplo que lhe facilitará o esclarecimento do evento investigado. Supondo, à guisa de exemplo, um furto de dinheiro no interior de um alojamento de recrutas. Noinício o delito está misterioso. O investigador, em conversas, levanta que os recrutas frequentam determinado bar nos dias de folga; nesse estabelecimento, em diálogos com outros fregueses, fica sabendo que um recruta suspeito está a gastar exageradamente, ou tinha débito e o saldou. Em suma, as informações vão se avolumando até formar um mosaico que defina precisamente um suspeito. Não obstante a luz surgida, é bom atentar para a observação de um velho policial: Descobrir o autor do crime é a fase mais simples da investigação, obter provas para manter a acusação na Justiça é muitas vezes uma tarefa complexa e isto se toma mais difícil, em face das exigências da própria Justiça sobre a espécie, Suficiência e maneira de apresentação das provas. Assim, uma investigação somente será considerada bem-sucedida se suficientes provas informativas, materiais e complementares forem apresentadas, o que vale dizer, as testemunhas inteligentemente entrevistadas, o acusado eficientemente interrogado, todos os demais vestígios devidamente apurados e elucidados, e o caso acuradamente e claramente relatado.5 Já o interrogatório inclui inquirição do indiciado (ou mesmo suspeito) e testemunhas. Exige habilidade, astúcia, inteligência, paciência e apurada técnica. Não é mero transcrever de relato. Num simples manual informativo como este, pouco se poderia dizer sobre a “técnica de interrogatório” indispensável ao sucesso das investigações. O Oficial consciencioso de sua profissão deve ler livros especializados e, principalmente, obras sobre psicologia judiciária. O interrogatório bem conduzido poderá levar ao esclarecimento total de um fato delituoso. O interrogador deve conhecer e avaliar a personalidade do interrogado, considerar os aspectos tempo e local do interrogatório, a presença de outras pessoas, o preparo das perguntas-chaves, etc. O certo 5 In Manual de organizações e Práticas Policiais – Antônio Dutra Ladeira. 15 é que “interrogar” é uma arte; desde que respeitada a dignidade da pessoa humana é licito ao interrogador usar estratagemas, como aproveitar o estado emocional do interrogado, motivá-lo com o trato bondoso e afável, valer-se da lisonja, utilizar perguntas capciosas, método indireto, subterfúgios e outros artifícios não ilegais. Por último a instrumentação consiste no uso, pelo investigador, dos métodos e meios que a moderna tecnologia nos oferece. Assim, no exemplo de furto já citado, o investigador poderá, através de peritos, fazer o levantamento do “local do crime”, identificando o “modus operandi”, colhendo impressões digitais e vestígios que poderão identificar o autor ou, futuramente, ligar o suspeito ao cenário do delito. 3 COMPOSIÇÃO DAS PROVAS No enfoque técnico, a composição das provas constitui a segunda fase do Inquérito Policial Militar.6 Nesta fase, o Oficial Encarregado do Inquérito terá toda a atenção, esmero e cuidado para que o seu trabalho venha a constituir-se, efetivamente, no subsídio valioso à administração, ao Ministério Público e à Justiça. Consoante o Código de Processo Penal Militar, são os gêneros de provas que o Encarregado do IPM deve carrear para os autos: a) Apreensão dos instrumentos e de todos os objetos que tenham relação com o fato delituoso - Art. 12, letra “b”, Art. 13, letra “h”, Art. 170 e 189 do CPPM; b) Declarações do ofendido - Art. 13, letra “b” e Art. 311 do CPPM; c) Depoimento das testemunhas - Art. 13, letra “d”, Art. 19 e §§, 6 É de se ressaltar as três características básicas do IPM: sigiloso, escrito e inquisitivo. Quanto à primeira, o art. 16 do CPPM esclarece o assunto. O Sigilo é próprio do IPM. Não se adota no IPM o princípio da publicidade que mais se harmoniza com o processo e não com o inquérito. Quanto a ser escrito, vide o art. 21. Isto se faz para evitar problemas relacionados com a perda de tempo ou a necessidade em analisar ou até descobrir o que realmente está escrito. Quanto a última, este caráter assim se define porque as investigações são conduzidas pela autoridade da forma como melhor lhe convier, dentro dos limites da lei.. 16 Art. 347 e 364 do CPPM; d) Inquirição do Indiciado - Art. 13, letra “c”, Art. 19 e §§, Art. 302 a 310 (no que for aplicável), do CPPM; e) Reconhecimento de pessoas, coisas e objetos - Art. 13, letra “e”, Art. 368 a 370, do CPPM; f) Acareação - Art. 13, letra “e”, Art. 365 a 367 do CPPM; g) Exames de Corpo de Delito, outros exames e perícias em geral - Art. 13, letras “f” e “h”, Art. 314 a 346, Art. 371 a 381, do CPPM; h) Indícios - Art. 382 a 383, do CPPM; i) Reconstituição - Art. 13, parágrafo único, do CPPM; j) Identificação do acusado, inclusive individual, datiloscópica -Art. 70 e 391, parágrafo único do CPPM. l) Antecedentes criminais do Indiciado - Art. 391, do CPPM; m) Extrato de fé-de-ofício ou dos assentamentos - Art. 391, do CPPM. 4 DOS ATOS PROBATÓRIOS (COMENTÁRIOS DOUTRINÁRIOS) 4.1 Constituem atos probatórios, segundo regras do processo penal castrense: a) Declaração do Indiciado (incluindo-se a confissão); b) Declaração das testemunhas; c) Depoimento das testemunhas; d) Acareações; e) Pendas e exames (nos crimes contra a pessoa, vide Art. 330 do CPPM): Exame de lesões corporais; Exame de sanidade física; Exame de sanidade mental; Exame cadavérico (com ou sem exumação); Exame de identificação de pessoas; 17 Exame de laboratórios; Exame de instrumentos que tenham servido ao crime; Reconhecimento de pessoas e coisas; Documentos. O ACD pode ser feito a qualquer hora do dia ou da noite, conforme o Art. 329 do CPPM. Quanto à autópsia, deve se realizar 6 horas depois do óbito, salvo se houver evidências de morte - 334 (CPPM). O sistema de prova, a serviço da justiça penal, tem variado através dos séculos: primitivamente foi o sistema étnico, em que a apreciação das provas era deixada empiricamente ao sabor das impressões e o flagrante delito era a forma típica do processo penal; veio, depois, o sistema religioso, em que era misticamente invocado o julgamento divino, e foi a época das Ordálias, dos duelos judiciários e dos juizes de Deus. Sucedeu-o o sistema legal, em que os meios e seus graus de valor eram fixados e aferidos de antemão pela Lei. 7 O sistema atual é o da íntima, livre convicção do juiz, afivelado à norma legal, consubstanciada no art. 297 do Código de Processo Penal Militar: O Juiz formará convicção pela livre apreciação do conjunto das provas colhidas em juízo. Na consideração de cada prova, o Juiz deverá confrontá-la com as demais, verificando se entre elas há compatibilidade e concordância. O atual Código de Processo Penal Militar enumerou-as e as prefixou a partir do art. 294. Os meios de prova são admissíveis em juízo, todos eles, desde que não atentem contra a moral, a saúde, ou a segurança individual ou coletiva ou contra a hierarquia e a disciplina militares, eis o que emana do art. 295 do CPPM. Compete o ônus da prova a quem alegar o fato, na determinação do art. 296 e sua inversão, se a lei presume o fato “juris tantum”. Exemplo: A Lei, no art. 350, presume verdadeira a declaração assinada. 7 Walter Acosta - O Processo Penal - 8.ª Edição - 1971 - Pág. 221. 18 Fato contrário ao que está escrito deve ser objeto de prova de quem o alega: Art. 296 - o ônus da prova compete a quem alegar o fato, mas o Juiz poderá, no curso da instrução criminal ou antes de proferir sentença, determinar, de oficio, as diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante. Realizada a diligência, sobre ela serão ouvidas as partes, para dizerem nos autos, dentro em quarenta e oito horas, contadas da intimação por despacho do Juiz. § 1.º - Inverte-se o ônus de prova se a lei presume o fato até provaem contrário. Por último, numa demonstração de respeito a princípios da própria dignidade humana, o Código ressalta que nenhuma prova se exigirá seja produzida pelo cônjuge contra o outro, por descendente, ascendente ou irmãos, uns contra os outros. 4.2 Interrogatório O policial-militar indiciado (provavelmente o acusado no processo criminal) será interrogado, competindo ao Encarregado, nos termos do art. 13 do CPPM. tomar-lhe as declarações. 8 Assim, tendo em vista o caráter inquisitivo do termo e do próprio inquérito, não há obrigatoriedade de defensor, que estará presente no processo (art. 306. § l.º, do CPPM). A presença do advogado, porém, não é proibida. Alguns autores até a defendem quando o inquérito é acompanhado pelo Ministério Público. Depende isto, entretanto, da permissão do Encarregado, que poderá autorizar que o advogado acompanhe o indiciado, não podendo, entretanto, fazer perguntas, já que nem mesmo no processo o advogado poderá fazê-lo.9 O interrogatório do acusado (no IPM, o indiciado) está previsto no art. 306 do CPPM. 8 O indiciado nos IPM, feitos por Oficiais de Polícia Militar somente podem ser policiais militares, já que o civil não é atualmente, sujeito ao foro na Justiça Militar Estadual. Somente em caso excepcionalíssimo de crime militar, objetivamente considerado (contra a PMMG, considera instituição militar), o civil seria indiciado, mas a Justiça Militar Estadual seria incompetente para seu julgamento. Se realmente houver crime militar, o julgamento seria perante a Justiça Militar Federal. 9 Sob o ângulo jurisprudencial, “o interrogatório” do acusado constitui meio de prova e também meio de defesa, este pessoalmente exercido por aquele. Por ser meio de defesa, o defensor técnico, constituído ou dativo, pode ser considerado dispensável, de acordo com as circunstâncias do fato concreto. (STF - RTJ 73/760). 19 Não é absolutamente necessário que o Encarregado faça todas as perguntas ali previstas mas não está impedido de fazer outras, ali não previstas Deve ser esclarecido, entretanto, que se o indiciado negar a autoria, as perguntas do art. 306 deverão lhe ser formuladas. Quanto à confissão, há de se ter em mira que ela não é suficiente para comprovar a responsabilidade penal de uma pessoa, uma vez que o direito brasileiro não elege a confissão como prova absoluta. Portanto o Inquérito não tem por finalidade única a obtenção da confissão do indiciado e, ainda que esta seja feita, o encarregado deverá continuar a confissão do indiciado ou demonstrar sua invalidade, apontando outro indiciado ou, mesmo não conseguindo identificar o autor do crime. À Justiça não interessa encontrar um culpado e sim sancionar o responsável pelo delito (Código de Processo Penal Militar).10 Assim, o interrogatório em juízo nada tem do ato pré-processual da audição do indiciado pelo encarregado do Inquérito Policial Militar (art. 13), pelo que não se pode ali ver a figura da confissão, que pode ser consequência ou não, do interrogatório e está demarcada no art. 307 do CPPM. “Para que tenha o valor de prova, a confissão deve: a) ser feita perante autoridade competente; b) ser livre, espontânea e expressa; c) versar sobre o fato principal; d) ser verossímel; e) ter compatibilidade e concordância com as demais provas do processo. Sabidamente, a confissão é retratável; é divisível, pode ser tomada fora do interrogatório (artigos 309 e 310). Indubitavelmente, a confissão sem arrimo em outras provas é uma confissão nua, sem suporte em veementes indícios com as cautelas 10 Se forem vários os indiciados, um não deve ser interrogado na presença do outro. Esta é a regra do art. 189 do CPP que é válida para o IPM em razão do art. 304 c/c o art. 301 do CPPM. 20 definidas no art. 382.11 4.3 Prova Testemunhal O Vocábulo “testemunha” provém do latim TESTIMONIUM que quer dizer, na linguagem jurídica, a pessoa que atesta a veracidade de um ato, que presta esclarecimentos sobre fatos que lhe são perguntados, afirmando-os ou os negando. Trata-se pois, a prova testemunhal de uma prova pessoal, inspirando-se a sua adoção na presunção de veracidade nas afirmações que cada qual prestar.12 Remarque-se que o valor probante do testemunho se atinge através de vários critérios de avaliação, sendo certo que, em juízo há de ser indagado o depoente, em respeito ao princípio que emana do art. 352 do Código de Processo Penal Militar, que é mandamental quando ensina e recomenda, em primeiro lugar, que deve o indagado “relatar o que souber e que lhe for perguntado sobre os fatos que lhe foram narrados vale dizer que constarem na denúncia” não bastando que confirme aquilo que houver respondido quando, ouvido na fase do inquérito perante o encarregado (art. 13). 11 Há farta jurisprudência sobre o valor probante da confissão feita na fase policial (STF - Rec. Crim. 1.261, DJU de 02Abr76 e Rec. Crim. 1.352, RTJ 91/750). Sobre a validade da confissão do co-réu incriminando outro, ver o Acórdão do TJSP - RT 536/309, sendo que, de acordo com o STF, só é incidível a confissão quando se tratar de prova única (RTJ 46/273). Nos IPM realizados na Polícia Militar, considerando que em quase todos eles há multiplicidade de indiciados, devido a natureza da ação policial, quase sempre em grupo, estas circunstâncias devem ser consideradas com particular interesse. 12 Geralmente no IPM são ouvidos como testemunhas os próprios companheiros do(s) indiciado(s), o que deve ser evitado e somente feito se não houver pessoas civis, cujo depoimento, em algumas circunstâncias, pode ser dito como isento, imparcial, insuspeito afinal. Por outro lado, há um natural constrangimento de o subordinado depor contra o superior e vice-versa. Se são companheiros, o constrangimento será maior ainda. Com referência a depoimentos de policiais, chega a haver mesmo duas correntes jurisprudenciais que discutem o valor jurídico deste testemunho, sendo minoritária a que os considera naturalmente suspeitos de parcialidade. Outra advoga que seria um contrasenso o Estado credenciar pessoas para função repressiva e negar-lhes crédito quando dão conta de suas diligências. Por outro lado, segundo a ementa do Acórdão do TJM/MG - Processo 8.028 2.ª AJME: “Presume-se verdadeira a versão dada por policiais-militares, quando a ela não se opõe prova idônea. No confronto entre a palavra do PM e a do bandido, valoriza-se a autoridade” (BGPM 72 de 18Abr85). 21 Acentua o Código e a legislação em geral, da obrigatoriedade que todos têm em depor quando convocados ou requisitados, tal se vê no art. 354, ressalvados os que não podem em relação a parentes em linha direta, à condição de matrimoniados e os irmãos e os do art. 355, do CPPM.13 Importante considerar-se o crédito que deve dar aos depoimentos como prova, que não é prevalente, entrando na composição dos elementos necessários à formação da convicção, observando-se o disposto no art. 297 do Código. O Juiz formará convicção pela livre apreciação do conjunto das provas colhidas em juízo. Na consideração de cada prova, o Juiz deverá confrontá-la com as demais, verificando se entre elas há compatibilidade e concordância. Vale assinalar que o testemunho poderá ser o de terceiro, o do ofendido, o do acusado; e o do co-indiciado, ou o do co-acusado, isto é co-réu. Nesta última hipótese, teríamos o testemunho do acusado sobre fato de outrem. Devem assim ser apreciados os depoimentos, preliminarmente, quanto ao sujeito, isto é, em relação à personalidade de quem depõe, quanto à forma, na verificação de como foi prestado o depoimento, sob o parâmetro da lei, e, quanto ao conteúdo, que é o exame de seu próprio texto, do que nele se tenha de valor para permitir uma elucidação verdadeira,dele resultando uma verdade inconteste.14 13 O art. 352 do CPPM esclarece que a testemunha deve relatar “o que sabe ou tem razão de saber a respeito do fato delituoso narrado na denúncia e circunstâncias que com o mesmo tenham pertinência”. Tem pertinência com o fato tudo o que se relaciona com o processo, como se pode ver pelo que dispõe o art. 212 do CPP comum (o Juiz não poderá recusar as perguntas da parte, salvo se não tiverem relação com o processo). Tem relação com o processo tudo o que pode ser objeto de prova. In Revista do Direito Penal n.º 23, observação de Heleno Cláudio Fragoso em Notas sobre Processo Penal. 14 Nos IPM a prova testemunhal tem sido fartamente utilizada. A partir dessa colocação chega-se até a exageros como os das famosas testemunhas “por ouvir dizer”, que na advertência de Heleno Cláudio Fragoso - Jurisprudência Criminal - São Paulo, vol. /830, n.º 453, “somente em circunstâncias muito excepcionais podem proporcionar elementos seguros de convicção no julgador”. Há também as chamadas “testemunhas de canonização” que só sabem dizer das boas qualidades do indiciado. Há de se levar em conta que todo e qualquer testemunho pode ser útil, mas deve ser avaliado no contexto global do quadro probatório. 22 No tocante ao reconhecimento, como prova testemunhal, deve-se esclarecer que o reconhecimento não é meio ou elemento de prova, mas um ato instrutório informativo, destinado a robustecer o pressuposto e a avaliar a credibilidade de um elemento de prova. Na verdade, quer resulte positivo, quer negativo, ele por si nada pode provar com respeito aos fatos alegados. Prova é o testemunho; o reconhecimento é mero contraste da prova, é elemento para a avaliação dela e não elemento probatório. Por outro lado, de acordo com o STF “o reconhecimento dos réus, em juízo, por testemunhas idôneas e insuspeitas, desmoraliza a negativa dos réus, que, a prevalecer, tornariam inexplicáveis os reconhecimentos feitos” (RTJ 88/371). Quanto ao reconhecimento por fotografias, comumente utilizado, há certa tendência em se afirmar a precariedade desse instrumento de prova, que assumiria maior credibilidade, se obedecida a regra geral para o reconhecimento, previsto no artigo 368 e sgts do CPPM. Deve-se alertar, portanto, que estas formalidades são, em certa medida. a própria garantia da viabilidade do reconhecimento como prova, pois através de seu cumprimento se dirime a margem de erro que estes instrumentos em geral apresentam.15 4.4 Provas Periciais Dentre as provas, o CPPM, a partir do artigo 314, disciplina a elaboração das perícias e dos exames. Trata-se de capítulo importantíssimo e que deve ser objeto de bastante reflexão do Encarregado do IPM na realização de seu trabalho. Perícias são, assim, os exames feitos por quem tenha habilitação técnica e compromisso legal, preexistentes quando se tratar de peritos já integrados no serviço público, ou, na ocasião, prestado perante o juízo ou a autoridade que preside o IPM com a finalidade de elucidar a justiça, tecnicamente, sobre a existência ou não de um fato, que pode configurar a prática de um crime. A perícia pode ser formada como uma prova plena, prevalente sobre as outras. No entanto, deve ela, como as demais formar o quadro probatório, ou seja, harmonizar-se com as demais provas. 15 In Revista do Direito Penal, vol. 23, trabalho de Heleno Cláudio Fragoso sobre a admissibilidade da prova em processo penal. 23 O Professor ROBERTO LYRA acentua que: A perícia auxilia o Juiz no conhecimento do fato e, como tal, não passível de avaliação técnico-processual. Ela não atua, porém, no convencimento. Do contrário, estaria cindida a função jurisdicional, por natureza indivisível. Quando a infração for daquelas que deixam vestígios, torna-se obrigatória a perícia denominada “corpo de delito”, direto ou indireto, na observância do art. 328 do Código, que, nem só não poderá ser suprida pela confissão do acusado, como redundará, se não existente, em nulidade insanável, tal se vê no artigo 500 inciso IV, da norma processual em exame. Geralmente, o Encarregado de IPM recebe, prontos, os laudos periciais, mormente, quando se trata de delitos contra pessoa. Tais laudos são oriundos do Setor Técnico especializado da Polícia Civil. Isto não significa, entretanto, que deva dar-se por satisfeito. Havendo necessidade de novos exames ou esclarecimentos estes devem ser requisitados.16 4.5 Prova Documental Documento é todo objeto que representa, em si, reunida e fixada, a manifestação, por parte de uma pessoa, de um pensamento, de uma vontade, ou a enunciação de um fato próprio, ou a narração de um acontecimento. O Código estatui da exibição em juízo do documento e sua juntada, com a audiência das partes, na redação do art. 379, que constitui formalidade essencial do processo, sob pena da nulidade decretada no art. 500, inciso IV, do mesmo diploma, ditando, ainda sobre o momento da apresentação, isto é, até que os autos estejam conclusos para julgamento - art. 378, e da sua devolução, quando findado o feito, como determina o art. 381. 16 O art. 297 do CPPM dispõe categoricamente que o “Juiz formará convicção pela livre apreciação das provas colhidas em juízo” (g. n.). Tal assertiva confrontada com a conceituação de IPM, art. 90, reforça a característica do IPM como procedimento administrativo que serve de orientação para o titular da ação penal. Há de se levar em conta, porém, que os tribunais, embora por vezes hesitem, observam, em geral, os princípios que regulam o alcance e significação da prova colhida no inquérito. Quando se trata de perícias elas não são repetidas na fase processual (parágrafo único, art. 90, CPPM), sendo, pois, definitivas. Daí o cuidado redobrado do Encarregado do IPM. 24 Mas requerendo que bem se diga do documento como prova, que não está evidentemente na sua materialidade, ficamos, mais uma vez, com MALATESTA, que, dando os limites do valor probatório, na hipótese, assim sintetiza condicionando: 1.º - correspondência entre o que aparece escrito e o que se escreveu; 2.º - correspondência entre a pessoa que aparece a assinar, quer intervindo no ato, quer escrevendo-o e a pessoa que na realidade o assinou somente, ou assinou e escreveu; 3.º - correspondência entre o que acha escrito e o que do escrito resulta como existente, ter sucedido ou ter sido dito”. 17 Especial cuidado deverá ter o Encarregado quando se trate de cópias fotostáticas que devem ser autenticadas e legíveis. Quanto ao valor dos documentos deve ser esclarecido que, enquanto os documentos públicos valem por si mesmos, os particulares necessitam ser autenticados “quer pela expressa declaração de seu(s) autor(es) quer pelo reconhecimento de letra e firma, pelo escrivão” (Espíndola Filho - CPP anotado - 1949 - III (171). 4.6 Prova Indiciária Galdino Siqueira, sobre o indício, assim se define, citando outros autores: Indício é o fato, circunstância acessória que se liga ao crime, e por onde se conclui, que o crime foi consumado, que um determinado indivíduo nele tomou parte, ou que há crime e que foi consumado de tal ou qual maneira. Assim, os indícios versam ou sobre o fato, ou sobre o agente ou sobre o modo do fato. Para não confundir “indícios” com “presunções” nos reportamos a CARRARA, segundo o qual indícios são circunstâncias que nos revelam, pela conexão que guardam com o fato probando, a existência desse mesmo fato, ao passo que as presunções exprimem a própria persuação desta existência. Da definição se consagra, pois, que o indicio pode conduzir à prova plena, através da dedução. No Acórdão 40.727 - diz o Ministro 17 Malatesta - A lógica das provas em matéria criminal - pág. 604. 25 Lima Torres, que a “prova indiciária justifica apenaso oferecimento de denúncias”. Há preocupação de que, em juízo a prova se robusteça. Caso contrário, impor-se-á a absolvição. Para pronúncia, no processo penal comum, segundo o STF (RTJ 46-309) “os indícios devem ser suficientes, tanto da existência do crime quanto de que seja o réu o seu autor”. Sob tal condicionamento, para que o indício seja prova, além do requisito de casualidade, impõe a lei que a circunstância conhecida coincida com a prova colhida no processo, direta ou indireta, porém necessariamente outra. 26 CAPÍTULO II ASPECTOS TÍPICOS DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL MILITAR Dr. José Raimundo Duarte Juiz Auditor da 2.ª AJME 1 APRESENTAÇÃO Sem nenhuma pretensão doutrinária, proponho-me, na medida do possível e de maneira singela e prática, trazer ao leitor da primeira revista editada pelo Tribunal de Justiça Militar do Estado de Minas Gerais, alguns aspectos típicos da legislação processual penal militar, a qual, em muitos pontos, difere substancialmente do Código de Processo Penal Brasileiro. 2 DO INQUÉRITO POLICIAL MILITAR O inquérito policial militar, segundo o art. 9.º do CPPM, visa a apuração de fato, que, nos termos legais, configure crime militar, e de sua autoria. Tem o caráter de instrução provisória, cuja finalidade precípua é a de ministrar elementos necessários à propositura da ação penal. No decorrer das investigações, se positivada que a infração penal não tem a natureza militar, o seu encarregado comunicará o fato à autoridade policial competente, a quem fará apresentar o preso. A novidade no inquérito policial militar, a merecer relevo, está na previsão da custódia cautelar. No curso das investigações o seu encarregado, se pelas circunstâncias, julgar necessário, poderá, nos crimes propriamente militares, decretar a prisão do indiciado pelo prazo de 30 dias, prorrogável por mais 20 dias, comunicando o fato ao MM Juiz-Auditor; nas demais circunstâncias, solicitará ao mesmo a decretação da prisão. A prisão provisória prevista no art. 18 do CPPM só se justifica na hipótese de o indiciado, solto, venha a dificultar ou tumultuar as investigações, sobretudo se tentar destruir provas ou exercer coação ou constrangimento sobre as testemunhas. O encarregado do Inquérito obrigatoriamente deverá comunicar à autoridade judiciária competente os fundamentos da prisão, podendo o juiz Auditor, se discordar da necessidade invocada, 27 determinar o seu relaxamento, colocando o indiciado em liberdade. O inquérito será encerrado com minucioso relatório do seu encarregado, no qual mencionará todas as diligências feitas e os resultados obtidos sobre o fato delituoso. Minucioso relatório não significa permitir ao encarregado adotar posição muitas vezes parciais e extremadas, assumindo, não raro, o papel de autêntico defensor, até com citações doutrinárias e jurisprudenciais para justificar a ação praticada pelo investigado. A posição do encarregado há de ser de isenção, até porque ao Representante do Ministério Público cabe a atribuição de capitular o crime, oferecer ou não a denúncia, conforme os elementos informadores contidos nos autos. Ao concluir o Inquérito a autoridade policial pode, se entender necessário, pedir a decretação da prisão preventiva do indiciado. Tal como na legislação comum não pode a autoridade policial mandar arquivar autos de inquérito, ainda que conclusivo pela inexistência de crime ou inimputabilidade. 3 DA AÇÃO PENAL E DE SEU EXERCÍCIO Na legislação militar a ação penal é pública incondicionada. Só pode ser promovida por denúncia do Representante do Ministério Público. Inexiste ação privada. Mas qualquer pessoa, no exercício do direito de representação, poderá provocar a inciativa do Ministério Público, dando-lhes todas as informações sobre fato que constitua crime militar. A denúncia, segundo o mandamento do art. 30 do CPPM, deve ser apresentada sempre que houver prova do fato que, em tese, constitua crime e indícios suficientes de autoria. Mesmo na hipótese de comprovada excludente de criminalidade a denúncia tem de ser oferecida pelo Ministério Público. Questão interessante e que merece destaque é a figura do assistente de acusação dentro da legislação militar. O art. 60 do CPPM permite ao ofendido, seu representante legal e seu sucessor habilitar-se a intervir no processo como assistentes do Ministério Público. O seu parágrafo único diz quem é representante legal e sucessor: para os efeitos deste artigo, considera-se representante legal o ascendente ou descendente, tutor ou curador do ofendido, se menor de dezoito anos ou incapaz; e sucessor, o seu ascendente, descendente, ou irmão, podendo qualquer deles, com exclusão dos demais, exercer o encargo, ou constituir advogado para esse fim, cm atenção à ordem estabelecida neste parágrafo, cabendo ao juiz a designação se entre eles não houver acordo. 28 O legislador, provavelmente e por omissão, excluiu o cônjuge do rol dos que podem intervir no processo como assistente de acusação. A lacuna, sem dúvida alguma, é injustificável porque o cônjuge tem legitimo interesse no deslinde do processo, por isso mesmo considero-a passível de correção pela analogia ao Código de Processo Penal comum. O assistente, admitida a habilitação, tem atuação bastante limitada. Não lhe é permitido arrolar testemunhas, nem requerer diligências ou expedição de cartas precatórias que retardem o curso do processo e nem mesmo interpor recursos. Assim, se o Representante do Ministério Público se conformar com a decisão prolatada pelo Conselho, nenhuma medida poderá tomar o assistente de acusação. 4 DAS PROVIDÊNCIAS QUE RECAEM SOBRE A PESSOA No capítulo terceiro, o Código trata das providências que recaem sobre a pessoa, inciando-se pela prisão provisória. Em relação ao Código de Processo Penal Comum pouca diferença existe. Tanto nesta quanto naquela, a segregação provisória decorre ou da prisão em flagrante delito, prisão preventiva ou da prisão temporária. Esta pode ser decretada pelo Juiz Auditor ou pelo Conselho de Justiça, de oficio, a requerimento do Ministério Público ou mediante representação da autoridade encarregada do Inquérito Policial Militar, em qualquer fase do processo, desde que concorram os requisitos seguintes: prova do fato delituoso e indícios suficientes de autoria. Convém salientar que a competência do Juiz Auditor para a decretação da prisão preventiva restringe-se à fase de investigações e até antes do recebimento da denúncia. Após isso a competência é transferida para o Conselho de Justiça que deverá examinar a necessidade da prisão provisória. Evidentemente, nada impede que o Juiz Auditor, conduzido pela necessidade da medida, a decrete para posterior ratificação pelo Conselho. No capítulo da Liberdade Provisória o Código de Processo Penal Militar prevê três hipóteses em que ela deve ou não ser concedida. Em primeiro lugar, livrar-se-á solto o indiciado ou acusado que houver cometido infração a que não for cominada pena privativa da liberdade. A legislação não contempla penas pecuniárias, mas prevê penas de reforma ou suspensão do posto que evidentemente não privam a liberdade. O parágrafo único do art. 270 do CPPM estabelece que o indiciado ou acusado poderá livrar-se solto se: 29 a) - a infração for culposa, salvo se compreendida entre as previstas no Livro I, TítuloI, da parte especial do Código Penal Militar. São os crimes contra a segurança externa do País (arts. 136 a 141): b) - se a infração for punida com pena de detenção não superior a dois anos, salvo as previstas nos arts. 157, 160, 161, 163, 164, 173, 176, 177, 178, 187, 235, 299, 302 do CPM.Visando tutelar a hierarquia e a disciplina, esteios de qualquer organização militar, a lei vedou a concessão da liberdade provisória a praticamente todos os delitos propriamente militares. A restrição é plenamente justificável, pois não se compreende que militar, autuado em flagrante delito pela prática de violência contra Superior, por desrespeito a superior, por insubordinação, deserção, pederastia no interior do quartel, ou qualquer outro crime essencialmente militar, viesse beneficiar-se da liberdade provisória. o convívio com seus pares, sem uma decisão definitiva para a sua falta, não só afetaria a hierarquia como ainda poderia servir de estímulo a outras indisciplinas. Ainda no campo da liberdade provisória encontra-se a menagem18, figura desconhecida na legislação comum. E concedida pelo Juiz nos crimes, cujo máximo da pena Privativa da liberdade não exceda quatro anos, tendo-se, porém, em conta a natureza do crime e os antecedentes do acusado. Somente será concedida depois de prévia audição do Ministério Público e de informações da autoridade responsável pelo comando da área a respeito de sua convivência. A menagem poderá ser intra ou extra muros, a critério da autoridade judiciária. 5 DO INÍCIO DO PROCESSO ORDINÁRIO Basicamente, o Código de Processo Penal Militar só prevê um rito processual, exceto no caso de deserção de Oficial. O processo ordinário inicia-se com o recebimento da denúncia. O Juiz Auditor, ao receber a denúncia, convocará o Conselho Permanente de Justiça ou providenciará o sorteio do Conselho Especial, em se tratando de Oficial acusado. O Conselho Permanente é sorteado e instalado para a duração de três meses. Renova-se a cada trimestre. A sua competência é somente 18 Segundo Loreira Neto (1992, p. 90/95) a menagem se constitui em uma espécie de prisão provisória fora do cárcere. 30 para os processos em que estejam envolvidas os praças, alcançando do soldado ao aspirante a oficial. Já o Conselho Especial, competente para julgar os oficiais do tenente ao tenente-coronel, é convocado para cada processo. A sua atuação encerra com o julgamento, só devendo ser reconvocado na hipótese de anulação do processo ou da sentença. Recebida a denúncia o Juiz Auditor marcará dia e hora para interrogatória após a citação do acusado. Segue-se a audição das testemunhas numerárias ou indicadas pelo Representante do Ministério Público. A lei processual não admite a defesa prévia, a exemplo da legislação comum. Assim, a defesa poderá arrolar testemunhas, não excedente de três para cada acusado, em qualquer fase do processo, desde que não ultrapasse o prazo de cinco dias da oitiva da última testemunha do Ministério Público. Apresentado o rol pela defesa, o Juiz Auditor providenciará a audição das testemunhas e em seguida consigna às partes o prazo comum de cinco dias para requerimento de diligências. Se nada requererem, passa-se para a fase das alegações finais, podendo as partes apresentá-las por escrito ou reservar o plenário para produzi-las. Em seguida o Juiz proferirá o despacho saneador, podendo ordenar diligências para sanar qualquer nulidade ou suprir falta prejudicial ao esclarecimento da verdade. Considerando o processo devidamente preparado, designará dia e hora para julgamento, notificando-se as partes, inclusive o assistente, se houver, e requisitando o acusado preso à autoridade que o custodie. Aspecto peculiar da legislação militar é que todo e qualquer processo, desde uma simples lesão corporal - muitas vezes de natureza levíssima - a delitos de extrema gravidade, obrigatoriamente é levado a julgamento oral perante a unanimidade do Conselho. Ausente qualquer de seus membros o julgamento tem de ser adiado. Como se verifica, não obstante a celeridade da instrução criminal, o desate do processo, por vezes, fica seriamente prejudicado. Perde-se tempo valioso com um ritual quase semelhante ao do Tribunal do Júri. As partes dispõem do elástico período de três horas para a exposição de seus fundamentos, com a previsão de uma hora a mais, tanto para a acusação quanto para a defesa, no caso de réplica e tréplica. Seria desejável e até necessário que a lei processual militar, nesse passo, e sobretudo para uma melhor aplicação no âmbito estadual, sofresse alteração de modo a permitir ao Juiz Auditor decidir sozinho determinados processos, máxime os de menor importância, reservando à apreciação do Conselho os delitos 31 que mais profundamente agredissem a sociedade. A alteração viria favorecer a própria justiça como um meio eficaz de acelerar o desfecho dos processos. Mas, voltando ao procedimento a que estamos nos referindo, após os debates o Conselho de Justiça passa a decidir em sala secreta. O Juiz Auditor deve relatar o processo, confrontando as provas produzidas, analisando os fundamentos e os pedidos das partes. Ao final profere o seu voto, colhendo os dos demais Juizes, respeitando o critério de antiguidade do posto. Em seguida é redigido um extrato da decisão do Conselho que é lido na reabertura da sessão. O Juiz Auditor deverá prolatar a sentença no prazo de sete dias, ainda que tenha sido vencido na decisão. Neste caso, acompanhando a sentença, deverá trazer o voto escrito justificando os motivos de seu convencimento. A respeito do julgamento, o que mais chama atenção, o que mais eloquentemente provoca frequentes vivos e acirrados debates é o fato de Conselho Permanente ou Especial poder, unilateralmente, por seu próprio alvedrio, desclassificar o delito capitulado na inicial. Diz, in verbis, o art. 437 do CPPM: O Conselho de Justiça poderá: a) dar ao fato definição diversa da que constar na denúncia, ainda que, em consequência, tenha de aplicar pena mais grave, desde que aquela definição haja sido formulada pelo Ministério Público em alegações escritas e a outra parte tenha tido a oportunidade de respondê-lo. O Superior Tribunal Militar, em alguns julgados, tem inquinado de nulidade tais desclassificações operadas pelos Conselhos de Justiça sem o prévio pronunciamento da acusação, por escrito, e a outra parte tenha tido a oportunidade de respondê-la. A matéria sobre ser controvertida não é pacífica e constantemente vem merecendo exame mais aprofundado de outros tribunais, particularmente do tribunal de Justiça Militar do Estado de Minas Gerais que, em reiterados julgados, tem admitido a desclassificação, mesmo sem a iniciativa escrita do Ministério Público, para beneficiar o acusado. Parece-nos que a exceção prevista à possibilidade de desclassificação refere-se tão somente aos casos em que a nova definição jurídica venha importar na aplicação de pena mais grave. 32 6 DOS RECURSOS O Código de Processo Penal Militar admite os seguintes recursos: em sentido estrito, apelação, embargos, revisão, o recurso extraordinário, o agravo de instrumento contra o despacho de inadmissão do extraordinário e ainda o recurso ordinário para o Supremo Tribunal Federal das decisões denegatórias de Habeas Corpus. A peculiaridade está no que respeita aos embargos porque o art. 538 do CPPM prevê que tanto o Ministério Público quanto o réu poderão opor embargos de nulidade, infringentes do julgado e de declaração às decisões finais proferidas pelo Superior Tribunal Militar. Como se verifica, em comparação à legislação comum, houve evolução da legislação militar, ou que aquela não estendeu tal recurso também à acusação. 7 DA EXECUÇÃO DA SENTENÇA - DOS SEUS INCIDENTES A execução da sentença, segundo o determinado pelo art. 588 do CPPM, compete ao Auditor da Auditoria por onde correu o processo, ou nos casos de competênciaoriginária do Superior Tribunal Militar, ao seu presidente. A Lei, como se vê, não prevê uma auditoria de execuções criminais. O Juiz Auditor que julga é o que executa a sua sentença. No que concerne à Suspensão Condicional da Pena, o Código de Processo Penal Militar a contempla para a pena privativa da liberdade não excedente de dois anos e pelo prazo não inferior a dois anos e nem superior a seis anos. A particularidade está na restrição à concessão do beneficio em determinados casos. Veda-o aos delitos contra a segurança nacional, de aliciação ou aliciamento, de violência contra superior, oficial de serviço, sentinela, vigia ou plantão, de desrespeito a superior e desacato, de insubordinação, insubmissão ou de deserção e a outros tipicamente militares. Basicamente é a mesma restrição para a liberdade provisória como já tivemos oportunidade de demonstrar linhas atrás. CONCLUSÃO - Procurei destacar, despido de qualquer preocupação doutrinária, que demandaria estudo mais aprofundado, e atento apenas à vivência do cotidiano, alguns dos vários aspectos da legislação processual militar, que diferenciam-na da legislação comum. Trata-se de um Código com praticamente um rito processual. É, entretanto, desejável e útil que venha ser mais simplificado, especialmente no processamento e julgamento de crimes apenados com 33 sanções leves, possibilitando a agilização da Justiça Militar que, por sua natureza, deve primar pela celeridade, com economia de tempo e de recursos financeiros. Realmente não se compreende, que processos como os relativos a crimes de lesão corporal leve, e até levíssima (inovação no Direito Penal Militar) tenham o mesmo rito daqueles referentes aos crimes dolosos contra a vida, todos semelhantes aos procedimentos do Tribunal do Júri, no processo comum. As suas várias peculiaridades se justificam plenamente porque a intenção do legislador - e nem poderia ser outra - é a de tutelar e preservar a hierarquia e a disciplina que regem as instituições militares. E um instrumento moderno e útil à prática da Justiça Militar. Uma codificação abrangente, completa, e raríssimas vezes o seu aplicador sente necessidade de recorrer à legislação comum para suprir faltas ou omissões. (Publicado na Revista de Estudos e Informações da Justiça Militar do Estado de Minas Gerais). 34 CAPÍTULO III TERMOS TÉCNICOS E JURÍDICOS UTILIZADOS NO IPM/APF ABERTURA - termo que se usa no início do processo a partir do segundo volume do IPM para indicação do mesmo19. ACAREAÇÃO - confronto de duas pessoas em cujas declarações existem divergências a serem esclarecidas. AOS COSTUMES - expressão usada na assentada de inquirição de testemunhas na qual se revela o grau de parentesco, afinidade ou interesse no caso, entre o depoente e o indiciado e vítima. A ROGO - assinatura de terceiro que substitui a do declarante, quando este não sabe ou não pode assinar seu depoimento. ARRESTO - apreensão e depósito de quaisquer bens pertencentes ao indiciado, visando garantir a execução da sentença que futuramente reconhecerá sua obrigação como devedor. ASSENTADA - termo lavrado no início, interrupção e encerramento dos trabalhos de audição de pessoas no IPM. AUTÓPSIA - exame médico feito no interior do cadáver, para descobrimento da causa da morte. O mesmo que NECRÓPSIA. AUTO - peça escrita, de natureza judicial, constitutiva do processo que registra a narração minuciosa, formal e autêntica de determinações ordenadas pela autoridade competente. AUTOS - conjunto de peças que formam o processado de um inquérito. AUTUAÇÃO - termo lavrado pelo escrivão para reunião da portaria e demais peças que a acompanham que deram origem ao inquérito (capa do IPM). AVALIAÇÃO - ato realizado por peritos com a finalidade de 19 As conceituações aqui apresentadas são sintéticas, objetivando dar uma primeira situações especiais que ocorrem no processo militar. A definição mais concreta ou explicação mais detalhada poderá ser encontrada no Corpo do Manual. 35 apurar o valor da coisa destruída, deteriorada ou desaparecida que foi objeto da infração penal. AVOCAÇÃO - chamamento a si da solução final do IPM, o que ocorre quando o Cmt não concorda com a conclusão apresentada. BUSCA - procura ou pesquisa visando encontrar pessoal ou material que tenham relação de uma forma ou de outra com o fato delituoso. CARTA PRECATÓPJA - documento que se remete a uma autoridade solicitando-lhe a audição de pessoa que se encontra em sua jurisdição. CERTIDÃO - ato através do qual o escrivão dá conhecimento ao encarregado do inquérito do cumprimento ou não das determinações contidas no seu despacho. Serve também para assinalar a ocorrência de algum fato relevante, de interesses futuro dos autos. CITAÇÃO - chamamento do réu a juízo para ver-se processar. Emana de ordem judicial. O réu não pode ser interrogado (no processo) sem antes ser citado. Há um caso de citação pela autoridade policial, quando esta desenvolve o processo sumário. Exemplo: Lei 4.611/65. COMPROMISSO - juramento prestado pelo escrivão ou peritos de cumprirem fielmente as determinações do encarregado do inquérito e do CPPM e guardarem sigilo do que tiverem conhecimento. Ainda, juramento prestado pela testemunha de dizer a verdade em seu depoimento. CONCLUSÃO - ato do qual o escrivão, após o término dos trabalhos oriundos do despacho, faz a entrega dos autos ao encarregado do inquérito20. CONDUTOR - agente que apresenta o conduzido à autoridade competente para ratificar a prisão e promover a lavratura do APF. CORPO DE DELITO - conjunto de elementos sensíveis ao fato delituoso, constatados através de exames periciais, que visam 20 Nos IPM observa-se que o excesso de formalismo tem prejudicado os trabalhos. Assim, esse novo Manual objetiva ser mais prático, racional, com eliminação de alguns dos termos privativos do Escrivão ou pequenos termos de movimento, como: “recebimento”, “conclusão”, “data”, “juntada”, “apensamento”, “certidão”. 36 materializar, tipificar e qualificar a infração. CRIME MILITAR - ilícito penal praticado nas condições previstas nos artigos 9.º e 10 do CPM. DELEGAÇÃO - atribuição de poderes de polícia judiciária militar para instauração de IPM, que poderá ser retomada, tornando-se insubsistente o ato que a outorgou, por razões legais ou administrativas. DESPACHO - ato através do qual o encarregado do inquérito determina providências a serem tomadas pelo escrivão. DETENÇÃO - recolhimento em local próprio, por tempo permitido por lei, que o encarregado do IPM pode impor ao indiciado policial-militar. Por se tratar de medida privativa de liberdade é instrumento que deve ser utilizado em último caso e com a devida comunicação ao MM Juiz Auditor. DILIGÊNCIAS - ação levada a efeito para apuração do fato delituoso que motivou o inquérito; são os atos praticados visando a elucidação das circunstâncias, autoria e materialização da infração cometida. ENCARREGADO - nome que se atribui ao oficial a quem se destinou a portaria para instauração do IPM. ESCREVENTE - militar designado para executar os trabalhos de datilografia quando o escrivão designado para o inquérito não for datilógrafo. Trata-se de situação excepcional. ESCRIVÃO - militar (primeiro ou segundo tenentes, subtenente ou sargento) designado para executar os trabalhos de datilografia e demais providências determinadas pelo encarregado do IPM, previstas no CPPM. É o responsável pela estética, formalização e guarda dos autos. Ao escrivão também pode ser dada missão de levantar subsídios, realizar diligências complementares, esclarecedoras, do que lavraráum respectivo termo, relatando os trabalhos. EXAME - estudo, pesquisa, averiguação de um estado de coisa. EXUMAÇÃO - ato de se proceder ao desenterramento de cadáver para nele se processar o exame cadavérico de necrópsia. HOMOLOGAÇÃO - aprovação da solução (conclusão final) apresentada pelo Encarregado do IPM. 37 HORÁRIO DIURNO - tempo estabelecido por lei, compreendido entre as sete e dezoito horas para audição de pessoas. IDONEIDADE - bom conceito social (moral e profissional), que torna uma pessoa digna de credibilidade. IMPEDIMENTO - situação existente que obsta a participação de determinada pessoa inquérito. INCOMUNICABILIDADE - proibição a um preso de se comunicar com outrem. INDICIADO - pessoa sobre a qual pairam as acusações da prática ou mesmo indícios cometimento do fato delituoso. Nos IPM destinados à JME somente policiais-militares podem ser indiciados, visto que esta não tem competência para julgar civis. INFORMANTE - testemunha da qual a lei não exige compromisso de dizer a verdade em seu depoimento. INQUIRIÇÃO - tomada de depoimento de testemunhas. INTERROGATÓRIO - audição do indiciado em juízo, também usado na fase do inquérito. INTIMAÇÃO - ato de compelir alguém a comparecer perante o encarregado do Inquérito. IPM - Inquérito Policial Militar - peça informativa elaborada por um Oficial com a finalidade de apurar uma infração de natureza militar, para oferecimento de elementos necessários à propositura da ação penal. JUNTADA - ato através do qual o escrivão faz a anexação ao processo de documentos vindo ás mãos do encarregado do inquérito e que interessam ao IPM. MINISTÉRIO PÚBLICO - titular da pretensão punitiva do Estado. Hoje não mais existe a terminologia Ministério Público Militar junto à JME. NOMEAÇÃO - designação de pessoa para o exercício de determinada função no IP M, como escrivão, perito, etc. NOTA DE CULPA - instrumento pelo qual se dá ao preso ciência dos motivos de sua prisão, bem como de seu condutor e testemunhas. NOTIFICAÇÃO - ciência dada para prática de ato devido e futuro. Geralmente para comparecimento em local, data e horário 38 determinados para a execução do ato. Em juízo a testemunha é notificada. OFENDIDO - pessoa física ou jurídica atingida diretamente pelo ato delituoso. PERÍCIA - exame técnico procedido por perito, retratado através de laudo pericial. PERITO - técnico designado para examinar e dar parecer sobre assunto de sua especialidade. PORTARIA - documento através do qual autoridade designa e delega competência a um oficial para instaurar um IPM. Indica, também, no caso do IPM, a abertura dos trabalhos, na qual o Encarregado dá as primeiras ordens sobre a condução do trabalho. A primeira é a “Portaria de designação” a segunda é a “de instauração do IPM”. PRAZO - período de tempo estipulado legalmente para determinado ato ou realização de um trabalho. PRISÃO EM FLAGRANTE DELITO - ato de prender o agente estando ele cometendo a infração penal, acabando de cometê-la, é perseguido logo após em situação que faça presumir ser ele o autor da infração ou encontrado logo após com instrumentos, armas, objetos ou papéis que autorizem aquela presunção. PRISÃO PREVENTIVA - ato processual penal cautelar decretado pelo Juiz tanto na fase investigatória como processual. PRORROGAÇÃO - dilatação do prazo anteriormente fixado, por circunstâncias imprevistas no decorrer do inquérito. PROVAS -conjunto de elementos que promovem o convencimento da certeza da existência do fato e sua autoria. QUALIFICAÇÃO - dados que individualizam uma pessoa, utilizado no início de cada tomada de declarações. Deve conter: nome completo, nacionalidade, naturalidade, idade, filiação, estado civil, profissão, residência, posto ou graduação e unidade em que serve, se militar. QUESITOS - perguntas previstas em legislação para cada caso específico além de outras julgadas convenientes pelo encarregado do inquérito a serem feitas aos peritos. 39 RECEBIMENTO - ato praticado pelo escrivão todas as vezes que receber do encarregado os autos para providências. RECONHECIMENTO - termo através do qual se procede a confirmação ou não da identificação de uma pessoa ou coisa. RECONSTITUIÇÃO - reprodução simulada do fato delituoso na conformidade da lei. RELATÓRIO - documento final do IPM, ou do APF no qual seu encarregado descreve minuciosamente o fato apurado e faz sua conclusão final, cujo nome é “solução, que poderá ser ou não homologada pelo Cmt da OPM. REINQUIRIÇÃO - ato de reperguntar a uma pessoa inquirida anteriormente, que deixou alguma coisa a ser esclarecida. REMESSA - ato de entrega do inquérito, após o seu término, à autoridade delegante. REQUISIÇÃO - pedido formulado pelo encarregado do IPM solicitando a uma autoridade o comparecimento de pessoas, fornecimento de documentos, materiais, ou ainda outras providências necessárias ao inquérito. RESTITUIÇÃO - devolução do bem ao lesado ou a terceiro de boa fé feita pelo encarregado do inquérito, da qual se lavra o respectivo termo. SEQÜESTRO - apreensão de bens em posse do indiciado ou de terceiro por serem produtos da infração penal ou adquiridos com proventos da mesma. SOLUÇÃO - conclusão final a que chega o encarregado do IPM na qual se manifesta sobre a existência ou não de crime, contravenção penal ou transgressão disciplinar e as providências a serem adotadas. SUSPEIÇÃO - situação existente que compromete a imparcialidade do encarregado do IPM perante a justiça. Deve ser declarada por ele quando ocorrer a situação. TEMPO DE INQUIRIÇÃO - período de tempo consecutivo de inquirição permitido por lei. TERMO - documento que formaliza os atos praticados no curso do inquérito. TESTEMUNHA - pessoa chamada a depor no inquérito, por ser conhecedora do fato de uma forma qualquer. 40 CAPÍTULO IV ROTEIRO DE UM INQUÉRITO POLICIAL MILITAR 1. Um inquérito dificilmente será idêntico a outro em virtude das peculiaridade de cada caso. Assim, peças que nele aparecem podem não existir em outro e a ordem delas nem sempre é a mesma. Com efeito, um IPM instaurado para apurar crime de homicídio acarretará providências diferentes daquele instaurado para apurar crime de furto, dever militar, administração militar. 2. Entretanto, existem peças que são comuns a todos os inquéritos policiais militares, consideradas essenciais e que não podem, sob pretexto algum, faltar. São elas, na ordem em que geralmente aparecem no IPM: AUTUAÇÃO PORTARIA DE INSTAURAÇÃO E ORDENS DE SERVIÇO INICIAIS NOMEAÇÃO DO ESCRIVÃO TERMO DE COMPROMISSO DE ESCRIVÃO PORTARIA DE DESIGNAÇÃO DO ENCARREGADO DESPACHO DO ENCARREGADO CERTIDÃO DE CUMPRIMENTO DE DILIGÊNCIAS PRELIMINARES TERMO DE PERGUNTAS AO OFENDIDO TERMO DE PERGUNTAS AO INDICIADO ASSENTADA TERMOS DE INQUIRIÇÃO DE TESTEMUNHAS PERÍCIAS OU EXAMES CROQUIS RELATÓRIO SOLUÇÃO REMESSA HOMOLOGAÇÃO OU AVOCAÇÃO 41 3. PEÇAS QUE PODEM SURGIR NO IPM - além daquelas peças comuns e essenciais a todo IPM, existem outras que se relacionam diretamente com cada tipo de ato delituoso a ser apurado e diligências a serem empreendidas. São elas: AUTO DE AVALIAÇÃO AUTO DE BUSCA E APREENSÃO AUTO DE EXAME CADAVÉRICO AUTO DE EXAME DE CORPO DE DELITO (Direto e Indireto) AUTO DE EXAME DATILOSCÓPICO AUTO DE EXAME DE EMBRIAGUEZ AUTO DE EXAME PERICIAL (outras perícias) AUTO DE EXAME DE SANIDADE AUTO DE EXUMAÇÃO E NECROPSIA AUTO DE PRISÃO (provisória) AUTO DE RECONSTITUIÇÃO CARTA PRECATÓRIA TERMO DE ABERTURA TERMO DE ACAREAÇÃO TERMO DE COMPROMISSO DE PERITO TERMO DE RECONHECIMENTO TERMO DE RESTITUIÇÃO DE COISAS APREENDIDAS SOLICITAÇÃO DE PRISÃO PREVENTIVA 4. COMENTÁRIOS Criticas a IPM, realizados por Oficiais que buscam mais o cumprimento de formalidades que a essência da investigação, levam a novas orientações. As formalidades são relevantes
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