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Resumos de Odontologia Disciplina: Psicologia ETIOLOGIA E SINTOMAS DA ESQUIZOFRENIA Etiologia A definição atual de esquizofrenia indica uma psicose crônica idiopática, aparentando ser um conjunto de diferentes doenças com sintomas que se assemelham e se sobrepõem. Sua etiologia não é consendo na comunidade científica, sendo essa a razão pela qual diversas teorias têm surgido no afã de sua explicação. (SILVA, 2006; FIALHO et al., 2014). Teoria Genética Na esquizofrenia, os fatores biológicos são primários, e os fatores psicossociais têm influência muito importante. O componente genético é comprovado por estudos de família, adoção e gêmeos. Atualmente, pesquisas mais refinadas em biologia molecular e técnicas moleculares mapeiam os genes que tornam os indivíduos suscetíveis à esquizofrenia. (TEGAN; MAIA, 2004). De acordo com Vallada Filho e Busatto Filho (1996), possuir um parente com esquizofrenia é o fator de risco mais consistente e significativo para o desenvolvimento da doença. Muitos estudos epidemiológicos mostram que indivíduos que possuem parentes em primeiro grau com esquizofrenia possuem um risco aumentado em desenvolver a doença. Embora as estimativas variem a taxa de concordância para esquizofrenia em gêmeos idênticos é ao redor de 50 % e, para gêmeos dizigóticos, é da ordem de 12 %, sendo significativamente maior que o 1 % de risco da população geral. (SILVA, 2006). Teorias Neuroquímicas A teoria bioquímica corrobora a ideia de que pacientes esquizofrênicos são portadores de desequilíbrios neurofisiológicos de origem neuroquímica, de forma que desequilíbrios em neurotransmissores ao longo de sítios específicos ou de todo o parênquima cerebral desencadeariam os primeiros sintomas positivos de esquizofrenia. (FIALHO et al., 2014). A hipótese dopaminérgica A teoria dopaminérgica da esquizofrenia foi baseada na observação de que certas drogas tinham habilidade em estimular a neurotransmissão da dopamina (DA). Constatou-se que a droga psicoestimulante anfetamina, quando administrada em doses altas e repetidas, causa uma psicose tóxica com características muito semelhantes às da esquizofrenia paranóide em fase ativa. Sabe-se que essa droga atua nos terminais dopaminérgicos aumentando a liberação de DA, além de impedir sua inativação na fenda sináptica, por inibir o mecanismo neuronal de recaptação existente na membrana pré- sináptica. Assim, é possível que os sintomas esquizofreniformes - grande agitação psicomotora, alucinações auditivas, e idéias delirantes do tipo persecutório - sejam devidos ao excesso de atividade dopaminérgica determinado pela anfetamina. Além disso, alguns pacientes parkinsonianos tratados com L-DOPA, que aumenta a formação de DA, desenvolvem sintomas psicóticos semelhantes. Sabe-se ainda que o efeito antipsicótico de drogas como a clopromazina e o haloperidol deve-se a ação dessas drogas em bloquear a atividade dopaminérgica (GRAEFF, 1989, 2004 apud SILVA, 2006). Resumos de Odontologia Disciplina: Psicologia No entanto, a teoria dopaminérgica, vista isoladamente, é falha em explicar algumas questões, tais como: o porquê de o início dos sintomas ocorrer usualmente na adolescência e no começo da vida adulta, como se dão as alterações estruturais cerebrais e os prejuízos cognitivos e o motivo de os antipsicóticos não serem igualmente eficazes sobre sintomas negativos. (NETO; BRESSAN; FILHO, 2007) A hipótese serotoninérgica O uso de LSD causa sintomas como desrealização, despersonalização e alucinações visuais, experiências semelhantes a alguns sintomas da esquizofrenia. Esses efeitos se dão por intermédio do antagonismo de receptores serotoninérgicos. Essa observação, feita na década de 1950, levantou a possibilidade de um déficit de serotonina estivesse envolvido na patogênese da esquizofrenia. No entanto, as evidências em favor da teoria dopaminérgica fizeram com que essa ideia fosse colocada de lado até o final da década de 1980, quando do surgimento dos antipsicóticos atípico. Os atípicos apresentavam ação antipsicótica com baixa capacidade de induzir sintomas extrapiramidais e uma afinidade maior por receptores sserotoninérgicos do que por receptores dopaminérgicos. Acreditava-se que a ação serotoninérgica seria responsável por um melhor efeito sobre sintomas negativos e teria reações protetoras sobre a indução de sintomas extrapiramidais. (IQBAL; PRAAG, 1995 apud NETO; BRESSAN; FILHO, 2007). Kapur e seeman (2001) discordam dessa observação em relação à ação dos atípicos, apontando as seguintes evidências: antipsicóticos típicos, como a loxapina e a clorpromazina, mostram grau comparáveis aos atípicos de ocupação 5-HT2A; a ocupação máxima 5-HT2A é obtida com doses de atípicos que não são antipsicóticas e os atípicos só se tornam efetivos quando a ocupação de D2 excede 65%, limiar que não difere do necessário para a ação do haloperidol. Dessa forma, a teoria serotoninérgica como modelo explicativo da esquizofrenia é controversa e carece de evidências mais consistentes. (NETO; BRESSAN; FILHO, 2007). Teorias Psicológicas A partir da década de 40, teorias psicológicas tentando explicar a esquizofrenia a partir de relacionamentos familiares patológicos e padrões de comunicação interpessoal aberrantes ganharam força. Em 1948, Fromm-Reichmann introduziu a idéia da “mãe esquizofrenogênica”, observando que determinados padrões de comportamento materno, incluindo hostilidade e rejeição, pareciam ser freqüentes em mães de pacientes que desenvolviam esquizofrenia, entretanto a falta de comprovação empírica fez com que caísse em desuso. (SILVA, 2006). Mais recentemente, os avanços metodológicos que tanto têm contribuído para o apuro dos critérios diagnósticos de esquizofrenia e para o esclarecimento das bases biológicas da doença, passaram também a ser aplicados na investigação dos aspectos psicossociais associados à mesma. Duas frentes em particular têm demonstrado, de forma convincente, que, se fatores psicossociais não estão primariamente relacionados com a etiologia da doença, certamente influenciam a forma de aparecimento e o curso dos sintomas esquizofrênicos. (SILVA, 2006). Uma destas correntes diz respeito ao ambiente familiar de pacientes esquizofrênicos. O conceito de emoção expressa (EE) tornou-se particularmente importante nesta área, sendo usado para definir determinados tipos de atitudes hostis ou do excesso de envolvimento emocional por parte de familiares de esquizofrênicos. Estudos utilizando metodologia adequada, (entrevistas bem estruturadas) para avaliar a Resumos de Odontologia Disciplina: Psicologia presença destas atitudes, têm demonstrado que altos índices de EE na família aumentam significativamente a taxa de recaída e reinternação hospitalar de esquizofrênicos. (BROWN, BIRLEY & WING, 1972 apud SILVA, 2006). A Segunda corrente atual de pesquisa na área relaciona-se com o estudo da influência de “eventos estressores psicossociais” no curso da doença. Sabe-se que o curso de diversas doenças de clara etiologia biológica pode ser influenciado por “eventos estressores psicossociais” como perda de familiar próximo, mudança de moradia, exames escolares etc. Estudos recentes investigando a influência destes life-events no curso da esquizofrenia sugerem que pacientes esquizofrênicos podem apresentar pioras sintomatológicas diante deste tipo de estresse. (ZUBIN & SPRING, 1977 apud SILVA, 2006). Diversos modelos têm procurado integrar os aspectos psicossociais descritos anteriormente aos aspectos biológicos da etiologia da esquizofrenia. Dentre estes, o modelo da “vulnerabilidade versus estresse” parte do princípio que pacientes esquizofrênicos apresentam uma vulnerabilidade para a doença de caráter biológico (genética e/ou decorrentes de insultos ambientais precoces), mas reconhecem também queo defl agrar dos sintomas pode ser diretamente influenciado pelo grau de estresse psicossocial ao qual o indivíduo é submetido. O modelo “vulnerabilidade – estresse psicossocial” integra aspectos biológicos e psicossociais da doença, e justifica a necessidade de uma abordagem mais global ao tratamento do paciente esquizofrênico, levando em conta não só a eliminação dos sintomas, mas também o controle e prevenção de fatores ambientais estressores. (SILVA, 2006). Teoria do fluxo sanguíneo cerebral A teoria do fluxo sanguíneo cerebral, cuja validação é feita a partir de imagens de ressonância magnética funcional (fMRI), imagens de tomografia por emissão de prótons e outra técnicas diagnósticas recentes, ratificam que o menor fluxo sanguíneo em regiões de maior demanda energética para atividade psicomotora específica seria responsável por alucinações comuns em pacientes esquizofrênicos. Nesse caso, há o envolvimento peculiar do óxido nítrico, cuja deficiência ou depleção em determinados lobos cerebrais permitiria um padrão não usual da circulação sanguínea cerebral regional dos lobos frontal e temporal, tornando essas regiões inábeis em lidar com requisições quaisquer, como as de funções mentais superiores e de audição. (FIALHO et al., 2014). Teoria dos riscos pré-natais e perinatais Os fatores de risco pré-natais e perinatais para a esquizofrenia são pesquisados, tentando identificar os comprometimentos cerebrais no neurodesenvolvimento. Complicações de gravidez e de parto, exposição pré-natal a viroses e achados neuropatológicos, como anormalidades na citoarquitetura, são comprovadamente associados a um maior risco de desenvolver esquizofrenia. Assim, é consistente o achado de diminuição volumétrica do cérebro, aumento dos ventrículos laterais, além de diminuição do lobo temporal na região do hipocampo em pacientes esquizofrênicos adultos. As alterações histopatológicas são sugestivas mais de disgenesia do que de degeneração, como redução de neurônios corticais e periventriculares, ausência de células de glicose e alteração da posição das células piramidais. (TEAN; MAIA, 2004). Sintomas A esquizofrenia, segundo a classificação da Organização Mundial da Saúde, inclui os sintomas de primeira ordem, tais como: ouvir os próprios pensamentos soando alto; Resumos de Odontologia Disciplina: Psicologia escutar vozes sob a forma de argumento e contra-argumento; sentir tudo como sendo feito ou influenciado pelos outros no campo dos sentimentos, pulsões e vontade; ter percepção delirante. Em geral, a idade de início do transtorno varia entre 15 e 20 anos para os homens e entre 20 e 25 anos para as mulheres. (PINHEIRO et al., 2010; HANSEN et al., 2014). Quanto mais precocemente se iniciam os sintomas, maiores os danos na vida socioafetiva, na gravidade dos sintomas e na evolução do quadro patológico. Como os sintomas da esquizofrenia podem ter início ainda na adolescência, muitos pacientes não conseguem completar os estudos de escola fundamental ou média, diminuindo, posteriormente, a possibilidade de emprego e de ascensão profissional. (PINHEIRO et al., 2010). Bleuler (1857-1939) descreveu sintomas fundamentais (ou primários) específicos da esquizofrenia que se tornaram conhecidos como os quatro “As”: associação frouxa de idéias, ambivalência, autismo e alterações de afeto. Bleuler também descreveu os sintomas acessórios, (ou secundários), que incluíam alucinações e delírios (EY; BERNARD; BRISSET, 1985 apud SILVA, 2006). Segundo Pull, (2005), as alucinações e delírios são freqüentemente observados em algum momento durante o curso da esquizofrenia. As alucinações visuais ocorrem em 15%, as auditivas em 50% e as táteis em 5% de todos os sujeitos, e os delírios em mais de 90% deles. (SILVA, 2006). Além desses sintomas é possível identificar na esquizofrenia, transtornos do pensamento distúrbios do comportamento e anedonia. O termo transtorno do pensamento refere-se a uma doença no conteúdo, assim como na forma dos pensamentos do indivíduo. Os transtornos do conteúdo do pensamento são os delírios. Os transtornos na forma de pensamento podem ser subdivididos em duas categorias: perturbação intrínseca do pensamento e, transtorno na forma em que os pensamentos são expressos na linguagem e na fala. A linguagem e o discurso desordenados descarrilamento, tangencialidade, neologismos, pobreza no conteúdo do discurso, incoerência, pressão da fala, fuga de ideias e fala retardada ou mutismo. (SILVA, 2006). Os distúrbios do comportamento na esquizofrenia incluem comportamento grosseiramente desordenado e comportamento catatônico. Desde o começo, o comportamento catatônico foi descrito entre os aspectos característicos da esquizofrenia. A catatonia é definida como um conjunto de movimentos, posturas e ações complexas cujo denominador comum é a sua involuntariedade. Os fenômenos catatônicos incluem: estupor, catalepsia, automatismo, maneirismos, esteriotipias, fazer posturas e caretas, negativismo e ecopraxia. (SILVA, 2006). A anedonia ou perda da capacidade de sentir prazer, foi proposta como a característica central ou cardinal da esquizofrenia. A anedonia física abrange a perda de prazeres como admirar a beleza do pôr-do-sol, comer, beber, cantar, ser massageado. A anedonia social abrange a perda de prazeres como estar com os amigos ou estar com outras pessoas. O embotamento afetivo foi considerado comum, mas não onipresente, em pacientes com esquizofrenia, sendo também comum em pacientes depressivos. Os défi cits cognitivos foram relacionados como características inportantes da esquizofrenia desde as descrições originais de Kraepelin e Bleuler. (SILVA, 2006). Pacientes com esquizofrenia demonstram um déficit cognitivo generalizado, ou seja, eles tendem a ter um desempenho em níveis mais baixos do que controles normais em uma variedade de testes cognitivos. Eles apresentam múltiplos déficits neuropsicológicos em testes de raciocínio conceitual complexo, velocidade psicomotora, Resumos de Odontologia Disciplina: Psicologia memória de aprendizagem nova e incidental e habilidades motoras, sensoriais e perceptuais. As alterações cognitivas seletivas mais proeminentes na esquizofrenia incluem déficits em atenção, memória e resolução de problemas. (SILVA, 2006). A deterioração mental nos pacientes com esquizofrenia é quase inevitável22. Aproximadamente 10 a 20% das crianças com esquizofrenia apresentam rebaixamento de inteligência. A deterioração mental é significativamente maior se comparada com as psicoses não-esquizofrênicas (TEGAN; MAIA, 2004). As deficiências de comunicação como parte da sintomatologia são freqüentes e requerem cuidado na avaliação do conteúdo do pensamento e presença de alucinações nessas crianças, uma vez que podem ser confundidas com distúrbio de linguagem. Nesses casos, a observação do comportamento da criança é crucial. Nas crianças psicóticas, a deterioração mental e seu funcionamento global são visíveis. (TEGAN; MAIA, 2004). Apesar de poder surgir de forma abrupta, o quadro mais freqüente se inicia de maneira insidiosa. Sintomas prodrômicos pouco depressivo, isolamento, comportamento inadequado, negligência com a aparência pessoal e higiene, podem surgir e permanecer por algumas semanas ou até meses antes do aparecimento de sintomas mais característicos da doença.(Vallada Filho & Busatto Fillho, 1996). (SILVA, 2006). Referências bibliográficas FIALHO, H. et al. O caminho para esquizofrenia pela teoria genética de novos genes: Uma revisão sistemática. Rev. Ciênc. Saúde, São Luiz do Maranhão, v. 16, n. 1, p. 24-33, jan./jun. 2014. HANSEN, N. F. et al. A sobrecarga de cuidadores de pacientes com esquizofrenia: uma revisão integrativa da literatura. Revista Eletrônica de Enfermagem, São Paulo, v. 16, n. 1, p. 220-227, jan./mar. 2014. NETO, A. G. A. A.;BRESSAN, R. A.; FILHO G. B. Fisiopatologia da esquizofrenia: aspectos atuais. Rev. Psiq. Clín, São Paulo, p. 198-203. 2007 Iqbal, N.; Van Praag, H. - The role of serotonin in schizophrenia. Eur Neuro Psychopharmacol, supl: 11-23, 1995. Kapur, S.; Seeman, P. - Does fast dissociation from the dopamine D2 receptor explain the action of atypical antipsychotics? A new hypothesis. Am J Psychiatry 158: 360-369, 2001. PINHEIRO, T. L. S. Fatores relacionados com as reinternações de portadores de esquizofrenia. Cogitare Enferm, Campo Grande, v. 15, n. 2, p. 302-307, abr./jun. 2010. SILVA. R. C. B. Esquizofrenia: uma revisão. 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K.; MAIA, A. K. Psicoses funcionais na infância e na adolescência. Jornal de Pediatria, São Paulo, v. 8, n. 2, p. 2-9. 2004.
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