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O bioma Caatinga sob diferentes perspectivas brasileiras a partir de um olhar catarinense Eduardo S. Heusser¹ Fernanda H. Stein² Isaac E. Neckel³ ¹ Graduado em Licenciatura Plena em Geografia, Especialista em Metodologia de Ensino de Geografia, Mestrando em Geografia na UFSC, Professor de Geografia de Ensino Fundamental e Médio, UNIDAVI, Rio do Sul-SC ² Estudante de Ensino Médio, UNIDAVI, Rio do Sul-SC ³ Estudante de Ensino Médio, UNIDAVI, Rio do Sul-SC ¹ eduardo.geografia@unidavi.edu.br ² fernanda.stein@unidavi.edu.br ³ isaac.neckel@unidavi.edu.br Resumo: No Brasil, tornou-se comum o uso de expressivos veículos de informação para formação de opinião e construção de conceitos sobre assuntos socioambientais relevantes. Porém, diversos veículos de comunicação, não raro, fazem somente a divulgação superficial dos fatos ocorridos em alguma região, não mostrando, de fato, seu total potencial. Exemplo que se encaixa em tais padrões é a Caatinga, bioma brasileiro muito singular, situado no nordeste do país. Um dos aspectos mais marcantes é sua vegetação, majoritariamente xerófila, ligada à baixos índices pluviométricos. Neste trabalho, tem-se como principal questão o nível de conhecimento científico por parte dos brasileiros sobre este curioso bioma, desconsiderando conclusões precipitadas e de senso comum. Nasce assim, o estudo sobre as diversas perspectivas brasileiras de teor científico acerca do bioma Caatinga, sob a ótica de um olhar catarinense. O objetivo geral deste trabalho é analisar por meio de uma revisão bibliográfica como o bioma Caatinga é pesquisado por alguns brasileiros nas diferentes regiões brasileiras para então verificar algumas de suas fragilidades expressadas tanto nos estudos quanto nas políticas públicas pertinentes. Os objetivos específicos são: mostrar diferentes estudos sobre o bioma Caatinga; perceber como estes estão contribuindo para a efetivação de uma governança ambiental em seu território; destacar a necessidade de todos os brasileiros se interessarem pelas questões ambientais, atreladas não só ao bioma Caatinga, mas também à conservação de todos os biomas, dada a ampla degradação ambiental em nosso país. Este estudo de natureza qualitativa, classificado como uma pesquisa exploratória, é realizado por estudantes e professores do Ensino Médio de uma escola particular da Região Sul do Brasil. Consiste em um recorte das atividades de um grupo de pesquisa intitulado Grupo Estudantil em Iniciação Científica - GEIC, cadastrado no CNPq. A investigação ocorre semanalmente, a partir da busca de artigos científicos, dissertações e teses em repositórios universitários e sites de busca acadêmica. Faz-se a leitura de tais pesquisas, desenvolvendo um trabalho de correlação conceitual entre elas, percebendo principalmente a ênfase dada pelas questões de degradação e conservação ambientais. Quanto aos resultados, partindo da investigação realizada até o momento, percebe-se evidentemente o grande nível de influência da proximidade geográfica à área do bioma Caatinga nos autores das pesquisas investigadas. As Regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Norte do Brasil possuem menor índice de pesquisas científicas relacionadas à Caatinga, ao passo que tais pesquisas são realizadas em maior escala por pesquisadores dos Estados da Região Nordeste. Desta forma, estima-se que a mesma tendência se aplique aos outros biomas brasileiros, como por exemplo, o bioma dos Pampas. Em suma, percebe-se a partir de um olhar catarinense que o teor de algumas pesquisas analisadas destaca o quanto é acentuado o desmatamento da Caatinga, o que está gerando processos de desertificação, alterando a biota, microclima e solo. Trata-se de pesquisas para desenvolver técnicas que informem a situação dos recursos naturais, e caminhos para recuperação e aproveitamento sustentável do bioma, bem como destacam o alto nível de degradação do mesmo, devido ao alto nível de antropização. Nota-se a grande diminuição do índice de biodiversidade da Caatinga nas últimas décadas, podendo isso estar ou não relacionado aos baixos índices pluviométricos. Pode-se concluir que a governança ambiental é pouco desenvolvida e ainda um tanto ineficiente em parte do território que compreende geograficamente o bioma Caatinga. Palavras-chave: Conservação; Degradação; Governança. 1. INTRODUÇÃO No Brasil, tornou-se comum o uso de expressivos veículos de informação para formação de opinião e construção de conceitos sobre assuntos socioambientais relevantes. Porém, diversos veículos de comunicação, não raro, fazem somente a divulgação superficial dos fatos ocorridos em alguma região, não mostrando, de fato, seu total potencial. Exemplo que se encaixa em tais padrões é a Caatinga. Neste trabalho, tem-se como principal questão o nível de conhecimento científico por parte dos brasileiros sobre este curioso bioma, desconsiderando conclusões precipitadas e de senso comum. Nasce assim, o estudo sobre as diversas perspectivas brasileiras de teor científico acerca do bioma Caatinga, sob a ótica de um olhar catarinense. O objetivo geral deste trabalho é analisar por meio de uma revisão bibliográfica como o bioma Caatinga é pesquisado por alguns brasileiros nas diferentes regiões brasileiras para então verificar algumas de suas fragilidades expressadas tanto nos estudos quanto nas políticas públicas pertinentes. Os objetivos específicos são: mostrar diferentes estudos sobre o bioma Caatinga; perceber como estes estão contribuindo para a efetivação de uma governança ambiental em seu território; destacar a necessidade de todos os brasileiros se interessarem pelas questões ambientais, atreladas não só ao bioma Caatinga, mas também à conservação de todos os biomas, dada a ampla degradação ambiental em nosso país. 2. OS BIOMAS BRASILEIROS: CARACTERÍSTICAS GERAIS E LOCALIZAÇÃO Os biomas brasileiros são ambientes sensacionais de serem estudados e compreendidos. Infelizmente, nos deparamos com um desconhecimento muito grande acerca desta temática, descaso este em escala nacional. Notadamente, antes de discutirmos questões de cunho da pesquisa ambiental, é importante que façamos uma breve discussão do que está envolvido no conceito de bioma. Segundo Coutinho (2006, p. 1), podemos inferir que: O termo fitofisionomia foi proposto praticamente ao mesmo tempo que o termo formação. O termo bioma, proposto mais tarde, apenas adicionou a fauna à uniformidade fitofisionômica e climática, características desta unidade biológica. Várias modificações conceituais foram apresentadas por diversos autores, ao longo do tempo, acrescentando outros fatores ambientais ao conceito original, como o solo, por exemplo. Walter (1986) propôs um conceito essencialmente ecológico, considerando bioma como uma área de ambiente uniforme, pertencente a um zonobioma, o qual é definido de acordo com a zona climática em que se encontra. Este conceito considera ainda outros fatores ambientais ecologicamente importantes, como altitude e solo, distinguindo, então, orobiomas e pedobiomas. Um outro fator a ser considerado seria o fogo natural (pirobiomas). Bioma e domínio morfoclimático e fitogeográfico não são sinônimos, uma vez que este último não apresenta necessariamente um ambiente uniforme. O bioma de savana tropical é constituído por um complexo de fitofisionomias, um complexo de formações, representando um gradiente de biomas ecologicamente relacionados, razão suficiente para considerar este complexo como uma unidade biológica. A partir disso, o Brasil é regionalizado em seis biomas, sendo eles: Pampas, Mata Atlântica, Pantanal, Cerrado, Amazônia e Caatinga. Podemos verificar essa organização do Brasil do ponto de vista biogeográfico na figura 1. Figura 1. Biomas do Brasil.(IBGE, 2018) 3. O BIOMA CAATINGA SOB ANÁLISE BRASILEIRA A Caatinga é um bioma brasileiro muito singular, situado quase totalmente no nordeste do país. Um dos aspectos mais marcantes é sua vegetação, majoritariamente xerófila, ligada à baixos índices pluviométricos. De acordo com Velloso, Sampaio e Pareyn (2002, p. 1): O bioma Caatinga é o mais negligenciado dos biomas brasileiros, nos mais diversos aspectos, embora sempre tenha sido um dos mais ameaçados devido às centenas de anos de uso inadequado e insustentável dos solos e recursos naturais. Apenas recentemente houve um despertar de diversos setores governamentais e não-governamentais para a grave situação em que se encontra este bioma, pois além da grande necessidade de conservação dos seus sistemas naturais, ainda existe uma séria insuficiência de conhecimento científico. Diante desta ótica partimos nosso estudo. Começamos com uma perspectiva nacional, por região geográfica do Brasil (figura 2). Por fim, esclarecemos nossa percepção catarinense, a cerca de 3000 km de distância do bioma Caatinga. Figura 2. Regiões Geográficas do Brasil. (IBGE, 2018) 3.1 O BIOMA CAATINGA SOB A PERSPECTIVA DA REGIÃO NORDESTE A Região Nordeste possui extrema importância tratando de assuntos referentes à pesquisa e exploração intelectual, visto que o bioma Caatinga localiza-se, em sua maior parte, em tal região. A pesquisa realizada nos repositórios das Universidades Federais do Maranhão (UFMA), Bahia (UFBA), Ceará (UFC) e Paraíba (UFPB) mostraram mais pesquisas relativas ao social, econômico e governança. Esta região possui o maior número de pesquisas realizadas sobre o bioma Caatinga, fato comprovado pela presença de mais de 750 (setecentos e cinquenta) textos específicos ou relacionados ao bioma, localizados somente no repositório da Universidade Federal da Paraíba. Nota-se disseminação das informações apresentadas nas pesquisas realizadas na Região Nordeste perante informações trazidas por jornais, como a ocultação de problemas relacionados à “solução da seca”, tal como a integração do Rio São Francisco. A monografia de André dos Santos Souza (2014) “Status da vegetação de Caatinga após a implantação das obras de integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional” nos mostra os impactos causados pela integração do Rio São Francisco, que, segundo Souza (2014, p. 13) se mostram como impasses já esperados, como a redução da fitodiversidade local. Outra monografia que acaba por desmistificar tabus relacionados a vegetação da Caatinga é a “Importância relativa de plantas medicinais no semiárido da Paraíba (Nordeste/Brasil)” de Priscilla Clementino Coutinho (2014, p. 8), onde retira das plantas xerófilas da Caatinga o papel exclusivo de extração de água e aponta o importante uso dessas plantas para teor medicinal, em sua maioria, para o tratamento de transtornos no sistema respiratório, digestivo, etc. Também faz referência ao uso majoritário de espécies de plantas ameaçadas de extinção do bioma Caatinga. 3.2 O BIOMA CAATINGA SOB A PERSPECTIVA DA REGIÃO NORTE A Região Norte do Brasil, apesar da sua proximidade física com o bioma Caatinga, apresenta poucas pesquisas científicas relacionadas a esse bioma. As buscas bibliográficas feitas em todos os repositórios das Universidades Federais dos estados da Região Norte retornaram poucos resultados sobre o bioma Caatinga. Quanto aos assuntos relacionados ao bioma Caatinga, as poucas pesquisas que existem nos repositórios mencionados tratam, geralmente, de aspectos biológicos, como a fauna e flora da Caatinga. Usaremos como exemplo a dissertação de mestrado de Francílio da Silva Rodrigues (2007), do Programa de Pós- Graduação em Zoologia, da Universidade Federal do Pará (UFPA). Em sua dissertação, sob o título “Taxocenose de serpentes (squamata, serpentes) em uma área de transição Cerrado-Caatinga no município de Castelo do Piauí, Piauí, Brasil”, Rodrigues (2007) relata que fez um inventário da fauna de serpentes da área de transição entre Cerrado e Caatinga no Município de Castelo do Piauí. Foram realizadas seis expedições entre Outubro de 2005 e Julho de 2006, em fitofisionomias de Cerrado Rupestre, Cerrado Aberto e Mata Secundária de Cerrado Típico, que totalizaram 120 dias de trabalho de campo. 3.3 O BIOMA CAATINGA SOB A PERSPECTIVA DA REGIÃO SUDESTE Foram realizadas pesquisas nos repositórios das Universidades Federais de São Paulo (UNIFESP), Minas Gerais (UFMG), Rio de Janeiro (UFRJ), Espírito Santo (UFES) e a Universidade de São Paulo (USP). Repositórios de Universidades como UNIFESP e UFMG não apresentam resultados ao realizar pesquisas contendo como palavra-chave “Caatinga”, ao passo que universidades como UFRJ possui, em sua média, 20 (vinte) produções textuais variadas que identificam-se como pesquisas específicas sobre o bioma Caatinga ou fazem relação ao mesmo. Nota-se o mesmo padrão na UFES, onde tal pesquisa resulta em, aproximadamente, 140 (cento e quarenta) textos, sejam eles específicos ou não. “Nordeste: um imaginário corroborado pelo jornal O Globo”, monografia de André Luiz de Aguiar Freitas (2006) mostra-se como um destaque ao estudar como a identidade da Região Nordeste fora formada e como seus aspectos gerais são visualizados pela população das cidades que possuem nível influente de circulação deste jornal (que, em sua maioria, utilizam informações obtidas através de mídias de comunicação para formação de opinião). Segundo Freitas (2006), o jornal O Globo acaba por abordar a Região Nordeste através de diferentes maneiras, que se moldam com função da criação de uma hipérbole recorrendo a estereótipos. 3.4 O BIOMA CAATINGA SOB A PERSPECTIVA DA REGIÃO CENTRO-OESTE A Região Centro-Oeste do Brasil apresenta poucas pesquisas científicas relacionadas ao bioma Caatinga. As buscas bibliográficas feitas em todos os repositórios das Universidades Federais dos estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e do Distrito Federal retornaram poucos resultados sobre o bioma Caatinga. Quanto aos assuntos relacionados ao bioma Caatinga, as poucas pesquisas que existem nos repositórios mencionados tratam, geralmente, de aspectos biológicos, como a fauna e flora da Caatinga, aspecto similar ao que acontece na Região Norte do Brasil. Usaremos como exemplo a dissertação de mestrado de Márcia Rodrigues de Moura Fernandes (2015), do Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais, da Universidade de Brasília (UnB). Esta referida pesquisa aborda o tema “Dinâmica do uso e cobertura da terra e aptidão para o manejo florestal na região semiárida do Estado de Sergipe”. Nela, Fernandes (2015, p. 5) infere que: A degradação do Bioma Caatinga no estado de Sergipe ocorreu de forma mais acelerada nas duas últimas décadas, devido principalmente à exploração de madeira nativa e à conversão desse tipo de vegetação em pastagens. Apesar da grande pressão antrópica sobre aquele Bioma, as informações sobre o desmatamento e a sua aptidão da Caatinga para o manejo florestal são muito escassas. Assim, o presente estudo buscou entender melhor a dinâmica do uso e cobertura da terra ocorrida nas últimas décadas (1992 a 2013) na região semiárida no estado de Sergipe, bem como os efeitos do desmatamento sobre a fragmentação florestal na área de estudo. 3.5 O BIOMA CAATINGA SOB A PERSPECTIVA DA REGIÃO SUL Com base no portal de busca: Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD), faz-se de suma importância destacar a existência de 6 (seis) instituições da Região Sul do Brasil de ensino e pesquisa que possuem, no total 21 (vinte e um), teses e/ou dissertações que fazem menção ao nome em busca: o biomaCaatinga. Em sua maioria, fazem alusão a temas específicos, como análises de solo ou de espécies. Dentro destas, no estado do Rio Grande do Sul, estão as Universidades Federais de Santa Maria (UFSM), Pelotas (UFPel) e do Rio Grande do Sul (UFRGS). Já no estado de Santa Catarina, encontra-se apenas a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e no Paraná, a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e a Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE). Contudo, o destaque, dentro da Região Sul, deve-se ao artigo publicado na revista do Instituto Humanitas Unisinos, encontrado dentro do suporte de pesquisa do instituto: “Caatinga: um bioma exclusivamente brasileiro... e o mais frágil”, que trata do bioma como algo singular em relação ao mundo, tendo em vista de que, segundo Thamiris Magalhães (2012, p. 12), em entrevista com Lúcia Helena Piedade Kiill, “a Caatinga pode ser caracterizada como um complexo vegetal rico em espécies lenhosas e herbáceas”. Em entrevista com Haroldo Schistek, Magalhães (2012, p. 6) relata que “a ciência, identificando sua fauna e flora, nos mostra que não existe uma Caatinga só, mas muitas formas, criadas pela interação de seus seres vivos com o conjunto edafoclimático local”, sendo assim, responsável por “fenômenos”, como o que acontece “após um episódio de chuva na Caatinga seca, em poucos dias surge uma vegetação exuberante, sugerindo uma verdadeira ressurreição da vegetação, como se fosse uma página acinzentada que, quando virada, dá lugar ao verde com várias tonalidades mescladas com o amarelo e branco e outras cores das flores do referido bioma” (MAGALHÃES, 2012, p. 17), o que possibilita uma nova visão do bioma em relação aos tão conhecidos estereótipos que o cercam, os quais o impossibilitam de muitos avanços em termos educacionais e políticos, já que, até “A educação escolar tradicional tem contribuído muito para espalhar uma imagem de inviabilidade econômica, feiura e morte” (MAGALHÃES, 2012, p. 6). Este artigo faz menção também a principal ameaça do bioma, que segundo Magalhães (2012), é o caminho econômico, dado como equivocado, que o Brasil tem seguido nos últimos anos. Sendo responsável pelo desejo irreparável de construírem usinas nucleares, hidrelétricas, áreas irrigadas, entre outros no bioma, o que poderá agravar ainda mais a situação da Caatinga, a qual já encontra-se desmatada em torno de 46%, segundo o Ministério do Meio Ambiente – MMA. Além disso, Magalhães (2012, p. 10) ressalta que “cerca de 60% das áreas susceptíveis à desertificação no país estão na Caatinga”. Estas áreas, as quais são classificadas (MAGALHÃES, 2012, p. 11) como “a degradação e fragmentação de ambientes naturais são consideradas como uma das principais causas de extinção, pois, além de reduzirem os habitats disponíveis para a fauna e flora locais, aumentam o grau de isolamento entre suas populações, o que pode acarretar perdas de variabilidade genética”. Acrescento ainda, que Magalhães (2012), trata da relação homem e bioma como algo muito antigo, sendo as modificações resultado das atividades humanas, onde Rodrigo Castro, também entrevistado por ela, propõe uma educação ambiental como intervenção a impasses como estes, oferecendo a Caatinga a valorização que ela necessita, a qual desvencilharia o bioma dos padrões sociais criados, como “um ambiente sem valor, atrelado a questões de escassez, de falta, sofrimento. [...] a ideia de que o bioma é sinônimo de sofrimento e de que nele é difícil sobreviver” (MAGALHÃES, 2012, p. 21). 3.6 O BIOMA CAATINGA A PARTIR DE UM OLHAR CATARINENSE Quanto a análise catarinense, o destaque deve-se ao artigo intitulado “Valoração de danos a ecossistemas florestais naturais em perícias criminais ambientais no estado da Bahia”, o qual comenta a importância de, dentro das perícias, “a sociedade [...] conhecer qual é o impacto monetário ocasionado pelas atividades antrópicas ilícitas perniciosas ao meio ambiente” (KLOTZ, 2016, p. 11), sendo assim possível o entendimento de que os problemas destas atividades não se direcionam apenas ao bioma físico, mas ao econômico e político também. Klotz (2016), trata a chamada “pressão antrópica” como a responsável pelas mudanças na configuração original da Caatinga, a qual necessita de uma reconstituição, que segundo o Klotz (2016, p. 43), afirma que “Conforme definição da Lei do SNUC (Lei nº 9.985, de 18/07/2000), a restauração visa à restituição de um ecossistema degradado o mais próximo possível da sua condição original, ou seja, o processo de restauração tem por escopo a substituição da floresta degradada por uma com função ecológica equivalente, ainda que em época futura”. 4. METODOLOGIA Este estudo de natureza qualitativa, classificado como uma pesquisa exploratória, é realizado por estudantes e professores do Ensino Médio de uma escola particular da Região Sul do Brasil. Consiste em um recorte das atividades de um grupo de pesquisa intitulado Grupo Estudantil em Iniciação Científica - GEIC, cadastrado no CNPq. A investigação ocorre semanalmente, a partir da busca de artigos científicos, dissertações e teses em repositórios universitários e sites de busca acadêmica. Faz-se a leitura de tais pesquisas, desenvolvendo um trabalho de correlação conceitual entre elas, percebendo principalmente a ênfase dada pelas questões de degradação e conservação ambientais. 5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Quanto aos resultados, partindo da investigação realizada até o momento, percebe-se evidentemente o grande nível de influência da proximidade geográfica à área do bioma Caatinga nos autores das pesquisas investigadas. As Regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Norte do Brasil possuem menor índice de pesquisas científicas relacionadas à Caatinga, ao passo que tais pesquisas são realizadas em maior escala por pesquisadores dos Estados da Região Nordeste. Desta forma, estima-se que a mesma tendência se aplique aos outros biomas brasileiros, como por exemplo, o bioma dos Pampas. Em suma, percebe-se a partir de um olhar catarinense que o teor de algumas pesquisas analisadas destaca o quanto é acentuado o desmatamento da Caatinga, o que está gerando processos de desertificação, alterando a biota, microclima e solo. Trata-se de pesquisas para desenvolver técnicas que informem a situação dos recursos naturais, e caminhos para recuperação e aproveitamento sustentável do bioma, bem como destacam o alto nível de degradação do mesmo, devido ao alto nível de antropização. Nota-se a grande diminuição do índice de biodiversidade da Caatinga nas últimas décadas, podendo isso estar ou não relacionado aos baixos índices pluviométricos. 6. CONCLUSÃO Pode-se concluir que a governança ambiental é pouco desenvolvida e ainda um tanto ineficiente em parte do território que compreende geograficamente o bioma Caatinga. Torna-se assim de suma importância destacar o quão acentuado está o grau de influência dos padrões sociais no bioma, tendo em vista de que, no Brasil, a valorização da Caatinga ainda caminha devagar. Preso aos rótulos de miséria e pobreza, o bioma necessita de campanhas, reformas, programas que visem reeducar a população (na qual os governantes também mantenham-se inseridos) em relação a todas as formações, especificidades, utilizações sustentáveis e a importância da reversão do processo de desertificação tão intenso nesta região. Fazendo assim com que a Caatinga seja devidamente valorizada e conhecida, afinal, é um bioma de características únicas e exclusivamente brasileiro, tornando-se assim um exemplo extremamente pertinente da biodiversidade e riqueza do Brasil. REFERÊNCIAS COUTINHO, Leopoldo Magno. O conceito de bioma. Acta Botanica Brasilica: Sociedade Botânica doBrasil, São Paulo, v. 1, n. 20, p.13-23, jan. 2006. COUTINHO, Priscilla Clementino. Importância relativa de plantas medicinais no semiárido da Paraíba (Nordeste/Brasil). 2014. 59 f. TCC (Graduação) - Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Federal da Paraíba, Areia, 2013. FERNANDES, Márcia Rodrigues de Moura. Dinâmica do uso e cobertura da terra e aptidão para o manejo florestal na região semiárida do estado de Sergipe - SE. 2015. 113 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Ciências Florestais, Engenharia Florestal, Universidade de Brasília, Brasília, 2015. FREITAS, André Luiz de Aguiar. Nordeste: um imaginário corroborado pelo Jornal O Globo. 2006. 47 f. TCC (Graduação) - Curso de Jornalismo, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006. KLOTZ, Alexandre Otto. Valoração de danos a ecossistemas florestais naturais em perícias criminais ambientais no estado da Bahia. 2016. 141 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Perícias Criminais Ambientais, Centro de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2016. MAGALHÃES, Thamiris. Caatinga: um bioma exclusivamente brasileiro... e o mais frágil. Ihu On-line, São Leopoldo, v. 12, n. 389, p.6-17, 23 abr. 2012. Semanal. Disponível em: <http://www.ihuonline.unisinos.br/media/pdf/IHUOnlineEdicao 389.pdf>. Acesso em: 02 ago. 2018. RODRIGUES, Francílio da Silva. Taxocenose de serpentes (squamata, serpentes) em uma área de transição Cerrado- Caatinga no município de Castelo do Piauí, Piauí, Brasil. 2007. 118 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Pós- graduação em Zoologia, Universidade Federal do Pará, Belém, 2007. SOUZA, André dos Santos. Status da vegetação da Caatinga após a implantação das obras de integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional. 2014. 51 f. TCC (Graduação) - Curso de Ciências Biológicas, Universidade Federal da Paraíba, Areia, 2014. VELLOSO, Agnes L.; SAMPAIO, Everardo V. S. B.; PAREYN, Frans G. C. (Ed.). Ecorregiões propostas para o Bioma Caatinga: Resultados do Seminário de Planejamento Ecorregional da Caatinga / Aldeia - PE, 28 a 30 de Novembro de 2001. Recife: Instituto de Conservação Ambiental The Nature Conservancy do Brasil Associação Plantas do Nordeste, 2002. 80 p.
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