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documentoscopia 2

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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS 
ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NARUMI PEREIRA LIMA 
 
 
 
 
 
 
 
DESENVOLVIMENTO DAS COMPETÊNCIAS TÉCNICAS DOS PERITOS 
DOCUMENTOSCÓPICOS DA POLÍCIA FEDERAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RIO DE JANEIRO 
2013 
 
 
 
FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS 
ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS 
MESTRADO EXECUTIVO EM GESTÃO EMPRESARIAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
DESENVOLVIMENTO DAS COMPETÊNCIAS TÉCNICAS DOS PERITOS 
DOCUMENTOSCÓPICOS DA POLÍCIA FEDERAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DISSERTAÇÃO APRESENTADA À ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO 
PÚBLICA E DE EMPRESAS PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NARUMI PEREIRA LIMA 
Rio de Janeiro – 2013 
 
 
 Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Mario Henrique Simonsen/FGV 
 
 
 
 
Lima, Narumi Pereira 
 Desenvolvimento das competências técnicas dos peritos documentoscópicos da 
Polícia Federal / Narumi Pereira Lima. - 2013. 
 82 f. 
 
 Dissertação (mestrado) - Escola Brasileira de Administração Pública e de 
Empresas, Centro de Formação Acadêmica e Pesquisa. 
 Orientadora: Carmen Pires Migueles. 
 Inclui bibliografia. 
 
 1. Desempenho. 2. Criminalística. 3. Peritos. 4. Investigação criminal. 5. 
 Grafologia. 6. Escrita - Identificação. 7. Documentos oficiais – Identificação. I. 
 Migueles, Carmen Pires. II. Escola Brasileira de Administração Pública e de 
 Empresas. Centro de Formação Acadêmica e Pesquisa. III. Título. 
 
 CDD – 658.3125 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
A Documentoscopia é a maior área de perícia da Criminalística da PF, respondendo por 
24,49% de toda a produção de laudos do Sistema Nacional de Criminalística. Apesar 
disso, não possui área de concurso ou graduação específicas, e o desenvolvimento das 
competências da área depende quase que exclusivamente da capacitação oferecida e 
executada internamente, dentro da instituição e do ambiente de trabalho. Considerando 
os planejamentos estratégicos da Direção Geral e da Diretoria Técnico-Científica da PF, 
que manifestaram a importância da valorização de seus servidores por meio da 
capacitação contínua e da gestão de competências como estratégia para se alcançar suas 
missões, vê-se a relevância no adequado estudo e desenvolvimento das competências na 
área da perícia documentoscópica. O presente trabalho tem por objetivo analisar se as 
competências técnicas dos peritos documentoscópico da Polícia Federal elencadas na 
matriz da função técnica da PF estão em consonância com as elencadas pela ONU para 
os examinadores forenses de documentos, e se essas competências estão sendo 
desenvolvidas nas ações de capacitação oferecidas pela ANP voltadas para a área. 
Foram identificadas algumas lacunas, ou seja, recomendações da ONU que encontram 
correspondência nas elencadas na matriz, mas não são desenvolvidas pelas ações de 
capacitação, além da discrepância quanto à carga horária dos cursos. Algumas sugestões 
para a minimização ou eliminação dessas lacunas foram colocadas, e outras 
considerações foram feitas, principalmente voltadas à maior oferta de capacitação, à 
especialização profissional, à instituição de testes de proficiência e da mentoria. 
 
Palavras-chave: Ciências Forenses, Criminalística, Documentoscopia, Perito 
documentoscópico, competência técnica. 
 
ABSTRACT 
 
The Forensic Document Examination is the major forensic area of Federal Police 
Criminalistics, been responsible for 24,49% of the total amount of technical reports in 
the Criminalistics National System. Nevertheless, it does not have specific selection 
area or graduation, and the development of its competences depend almost exclusively 
on the training offered and performed internally, inside the institution and the 
workplace. Considering the Federal Police General Direction and Technical-Scientific 
Direction strategic plannings, that expressed the relevance of the servants professional 
development through continuous training and competence management as strategies to 
reach their missions, it is possible to notice how important is the proper study and 
development of the forensic document examination competences. This purpose of this 
research is to analyze if the technical competences of the Federal Police forensic 
document examiners that has been described in the technical activity matrix are in 
consonance with the ones described by UN, and if these competences have been 
developed by the training courses offered by National Police Academy. It was identified 
some gaps, i.e., UN recommendations that are in accordance with the matrix, but are no 
developed in the training courses, besides some discrepancies in the courses duration. 
Some suggestions were made for minimize or eliminate these gaps, as well as another 
considerations related to more training offer, professional specialization, and 
proficiency tests and mentoring implementation. 
 
Keywords: Forensic Sciences, Criminalistics, Forensic Document Examination, 
Forensic Document Examiner, technical competence. 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Gostaria de agradecer àqueles que, por questões institucionais e/ou pessoais, tornaram 
possível a realização desse trabalho: 
� À Polícia Federal, à Diretoria Técnico-Científica e à Secretaria Nacional de 
Segurança Pública (SENASP), por vislumbrarem a importância do estudo e 
capacitação dos Peritos Criminais Federais para atuação na área de gestão; 
� Ao PCF Hélvio Peixoto, idealizador e batalhador desse projeto junto à SENASP, 
cujo esforço rende agora a segunda safra de frutos; 
� Aos PCFs Erick Câmara e Jesus Velho, que assim como o PCF Peixoto são os 
atuais grandes incentivadores do estudo das Ciências Forenses e da Criminalística; 
� Aos colegas do SEPDOC/INC, em especial PCFs Jovelina Marinho, Marcos 
Morais e Bruno Trindade, pelas sugestões e críticas ao trabalho, e principalmente 
pelo apoio e compreensão pelo tempo dedicado a ele; 
� Aos colegas do Mestrado Executivo, que souberam conferir graça e seriedade a 
uma jornada longa e penosa; 
� Às caras Cláudia Ferreira e Elisângela Vasconcellos, que souberam nos conduzir 
bravamente através da seara acadêmica, e que nos empurraram com força até a 
linha de chegada; 
� Aos professores da EBAPE/FGV, em especial o Prof. Joaquim Rubens, que 
souberam compreender nossa situação especial, como peritos e policiais, e nos 
deram mais do que informação, mas conhecimentos para a vida inteira; 
� Às Psicólogas da Coordenação de Recrutamento e Seleção, Ludmila Cunha e Iraci 
Bicudo, e ao Técnico de Assuntos Educacionais da Escola Superior de Polícia, 
Gilson Diana, pelas valiosas contribuições ao trabalho e pelo entusiasmo 
expressado pela temática da capacitação profissional; 
� Aos amigos de perto e de longe, por saberem que uma palavra pode ser tudo; 
� Às mulheres da minha vida, minha mãe e minhas filhas, por tudo o que me 
ensinam, todos os dias; 
� Ao meu pai, grande incentivador dos nossos estudos acadêmicos; 
� À minha grande chance. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ó mar salgado, quanto do teu sal 
São lágrimas de Portugal! 
Por te cruzarmos, quantas mães choraram, 
Quantos filhos em vão rezaram! 
Quantas noivas ficaram por casar 
Para que fosses nosso, ó mar! 
 
Valeu a pena? Tudo vale a pena 
Se a alma não é pequena. 
Quem quer passar além do Bojador 
Tem que passar além da dor. 
Deus ao mar o perigo e o abismo deu, 
Mas nele é que espelhou o céu. 
Mar Português, Fernando Pessoa, 1934 
 
 
ÍNDICE DE FIGURAS 
 
Figura 1 - Processo cíclico da capacitação e desenvolvimento de competências 
integrado à estratégia da organização. Adaptado de LEME, 2011............................. 26 
 
Figura 2 – Mapa estratégico da Polícia Federal (Fonte: Boletim de Serviço nº209, 
de 04/11/2010)............................................................................................................ 32 
 
Figura 3 – Organograma da Diretoria Técnico-Científica (Fonte: 
http://intranet.dpf.gov.br/)........................................................................................... 34 
 
Figura 4 – Mapa estratégico da Diretoria Técnico-Científica (Fonte: 
http://ditec.dpf.gov.br)................................................................................................ 37 
 
Figura 5 – Fases do exame forense de documentos e tipos de ambiente de exame. 
(Adaptado de UNODC, 2010).................................................................................... 51 
 
 
 
 
ÍNDICE DE TABELAS 
 
Tabela 1 - Correlação entre as áreas de formação e concurso e os serviços e áreas 
periciais....................................................................................................................... 
 
40 
 
 
 
 
 
ÍNDICE DE QUADROS 
 
Quadro 1 - Comparação entre as competências técnicas elencadas na matriz da PF 
para peritos documentoscópicos, as recomendadas pela ONU e as desenvolvidas 
pela ANP, e as lacunas existentes entre elas............................................................... 
 
 
69 
 
 
 
DEFINIÇÃO DE SIGLAS E TERMOS UTILIZADOS NO TRABALHO 
 
ANP – Academia Nacional de Polícia 
 
ASTM – American Society for Testing and Materials 
 
CESPE/UnB - Centro de Seleção e de Promoção de Eventos da Universidade de 
Brasília 
 
CFP – Curso de formação profissional 
 
DITEC – Diretoria Técnico-Científica 
 
Documento de identidade – documento que pode ser utilizado para fins de identificação 
pessoal 
 
Documento de segurança – documento que possui elementos de segurança que possam 
auxiliar na determinação de sua autenticidade e/ou integridade. Normalmente, o nível de 
segurança empregado é proporcional ao valor intrínseco do documento. 
 
Documento sem elementos de segurança – documento desprovido de elementos de 
segurança que possam auxiliar na determinação de sua autenticidade e/ou integridade. 
 
Elemento de segurança de primeiro nível – aqueles de segurança aberta e que podem ser 
identificados pelo público em geral, sem o uso de equipamentos específicos. 
 
Elemento de segurança de segundo nível - aqueles de segurança semiaberta e que 
podem ser identificados por público treinado, com o uso de equipamentos simples. 
 
ICAO – International Civil Aviation Organization, Organização da Aviação Civil 
Internacional. 
 
INC – Instituto Nacional de Criminalística 
 
Manuscrito – lançamento feito à mão, com o uso de instrumento escritor, podendo ser 
letras, números, rubricas, assinaturas etc. 
 
NUCRIM – Núcleo de Criminalística 
 
NUTEC - Núcleo Técnico-Científico 
 
ONU – Organização das Nações Unidas 
 
PCF – Perito Criminal Federal 
 
Perito documentoscópico – PCF que atua integral ou parcialmente no exame forense de 
documentos questionados 
 
PF – Polícia Federal 
 
SEPDOC – Serviço de Perícias Documentoscópicas 
 
Setec – Setor Técnico-Científico 
 
Sistema Criminalística – sistema informatizado que controla a produção, pendências e 
emissão de documentos técnicos e administrativos no âmbito da Criminalística da PF. 
 
Sistema Nacional de Criminalística ou Sistema de Criminalística – rede que congrega as 
unidades central e descentralizadas de Criminalística da PF 
 
SWGDOC – Scientific Working Group on Forensic Document Examination 
 
UNODC – United Nations Office for Drugs and Crimes 
 
UTEC - Unidade Técnico-Científica 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................ 15 
1.1 Contextualização.................................................................................................. 15 
1.2 Objetivos............................................................................................................... 17 
1.3 Objeto do estudo................................................................................................... 18 
1.4 Delimitação do estudo.......................................................................................... 18 
1.5Relevância do estudo............................................................................................. 18 
2 REFERENCIAL TEÓRICO............................................................................................. 20 
2.1 Conceito de competencia...................................................................................... 20 
2.2 Competências técnicas e comportamentais........................................................... 22 
2.3 Gestão por competencias...................................................................................... 24 
3 OBJETO DE ESTUDO..................................................................................................... 28 
3.1 Histórico da Polícia Federal................................................................................. 28 
3.2 Competência e unidades da Polícia Federal........................................................ 29 
3.3 Plano estratégico da Polícia Federal.................................................................... 31 
3.4 A Diretoria Técnico-Científica (DITEC) e o Sistema de Criminalística.............. 33 
3.5 O Perito Criminal Federal..................................................................................... 38 
3.6 Criminalística, Ciências Forenses e Documentoscopia........................................ 41 
3.7 O perito documentoscópico.................................................................................. 44 
3.8 O exame forense de documentos na visão da ONU.............................................. 48 
3.9 O “Guia para desenvolvimento da capacidade em exame forense de 
documentos”............................................................................................................... 50 
3.10 As competências do perito documentoscópico na visão da PF.......................... 57 
3.10.1 O curso de formação profissional de Perito Criminal Federal......................... 59 
3.10.2 O Curso de atualização em Grafoscopia.......................................................... 61 
3.10.3 O Curso de Especialização em Documentoscopia........................................... 62 
4 METODOLOGIA............................................................................................................. 65 
5 DISCUSSÃO..................................................................................................................... 66 
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................ 74 
7 REFERÊNCIAS................................................................................................................ 77 
 
15 
 
 
 
1INTRODUÇÃO 
 
Este capítulo introdutório visa expor o contexto em que o presente trabalho se 
desenvolveu. Aqui são explicitados, brevemente, os conceitos de Criminalística e Ciências 
Forenses (que são as áreas de atuação dos peritos oficiais); a abrangência e importância da 
perícia documentoscópica e a relevância da adequada capacitação da área, desenvolvendo as 
diversas competências necessárias ao bom exercício profissional; bem como, são expostos os 
objetivos da dissertação. 
 
 
1.1Contextualização 
 
A Criminalística é o sistema que organiza a aplicação das Ciências Forenses 
visando fornecer subsídios à investigação criminal, analisando de forma adequada os vestígios 
do suposto crime, ou seja, o corpo de delito. Nesse contexto, o perito é figura essencial, visto 
ser não somente o executor das análises, mas também por assumir as posições de formulador 
de procedimentos, pesquisador, gestor e multiplicador. 
No atual sistema jurídico brasileiro, o perito oficial da Polícia Federal (PF), em 
seu papel de polícia judiciária e administrativa da União, é o Perito CriminalFederal (PCF). 
As dezoito áreas de formação em que o PCF pode ingressar na PF o direcionam para sua área 
de atuação dentro da Criminalística federal: contabilidade, química, engenharia civil etc. Uma 
importante área de perícia, no entanto, não possui área de formação específica a despeito de 
sua relevância no Sistema de Criminalística da PF. A Documentoscopia, gerenciada 
nacionalmente no âmbito do Sistema de Criminalística pelo Serviço de Perícias 
Documentoscópicas (SEPDOC) do Instituto Nacional de Criminalística (INC) da Diretoria 
Técnico-Científica (DITEC) da Polícia Federal é maior área de perícias da PF, respondendo 
isoladamente por 24,49% de toda a produção de laudos1. 
Apesar da sua importância, a perícia documentoscópica enfrenta grandes 
problemas na seleção e capacitação de seus peritos. Por não possuir uma área específica de 
concurso, a seleção é feita entre os profissionais das outras áreas, a partir de preferências 
pessoais ou da pressão da demanda de serviço, sempre após o ingresso do perito nos quadros 
 
1 Segundo dados do Relatório Estatístico de 2012 do Sistema Nacional de Criminalística, elaborado 
pela Divisão de Pesquisa, Padrões e Dados Criminalísticos (DPCRIM) da DITEC. Depois da 
Documentoscopia, as áreas de maior demanda são: Química, com 19,25% e Informática, com 18,01%. 
Disponível em https://bdcrim.dpf.gov.br/dspace/handle/2011/8786. 
16 
 
 
 
da PF. No momento do Curso de Formação Profissional (CFP) na Academia Nacional de 
Polícia (ANP), onde os então alunos recebem a qualificação para atuarem como policiais 
federais e como peritos criminais, não há como se saber quantos e quais alunos se tornarão 
peritos documentoscópicos. 
Isso faz com que a capacitação em Documentoscopia lá oferecida seja, para 
alguns (os que não atuarão na área), meramente informativa e, para outros (os que em maior 
ou menor grau atuarão na área), apenas uma introdução a um assunto complexo e 
multidisciplinar. Para os que se tornarão peritos documentoscópicos, é essencial a capacitação 
continuada de forma a complementar a introdução recebida na ANP. 
Por suas características como uma das Ciências Forenses, a Documentoscopia é 
uma especialidade que utiliza conceitos e técnicas de diversas outras áreas do conhecimento: 
Química, Física, Artes Gráficas, entre outras. No Brasil ou no exterior, não há cursos de 
graduação específicos para essa especialidade, e fora do país encontramos somente cursos de 
Criminalística ou de Ciências Forenses que a tem como uma das suas disciplinas. Suas 
técnicas, definições, conceitos e doutrinas são desenvolvidos por pesquisadores e demais 
profissionais da área, além de associações e outras instituições que congregam esses 
profissionais e buscam normalizar termos, técnicas e práticas. 
Desse contexto e dos normativos existentes, editados pelo United Nations Office 
for Drugs and Crime (UNODC), pelo Scientific Working Group for Forensic Document 
Examination (SWGDOC) e pela American Society for Testing and Materials (ASTM), 
depreende-se que a capacitação do perito documentoscópico se dá, principalmente, dentro da 
organização na qual ele atua, sob a tutela de profissionais mais capacitados e mais 
experientes. Esse é o on-the-job training combinado com o mentoring. 
A capacitação, especialmente em uma área que não possui graduação específica, 
como a Documentoscopia, é a ferramenta básica e essencial para o desenvolvimento das 
competências requeridas para o exercício da profissão. Em uma função de natureza técnico-
científica como é a de perito criminal, as competências técnicas são extremamente 
importantes, já que nelas se baseia a principal atribuição pericial, que é a realização de 
exames nos vestígios de supostos crimes. 
Com o intuito de implementar a gestão por competências, em seus vários 
aspectos, a PF encomendou ao Centro de Seleção e de Promoção de Eventos da Universidade 
de Brasília (CESPE/UnB) um estudo que resultasse no mapeamento das competências 
(técnicas e comportamentais) das funções técnicas, gerencias e de apoio do órgão. Esse 
17 
 
 
 
levantamento, que elencou as competências técnicas genéricas esperadas para um perito 
documentoscópico, foi um dos referenciais usados para se traçar um cenário comparativo com 
as competências técnicas elencadas pela UNODC no documento Guide for the development of 
forensic document examination capacity
2 , editado em 2010. O outro referencial foi as 
competências técnicas desenvolvidas nos cursos de capacitação em Documentoscopia 
oferecidos pela ANP: CFP (ano 2009), curso de atualização em Grafoscopia (ano 2012) e 
curso de especialização em Documentoscopia (ano 2010). 
Na primeira comparação, procurou-se verificar se as competências técnicas dos 
peritos documentoscópico da Polícia Federal elencadas na matriz da função técnica da PF, 
definidas com base na experiência e rotina pericial local, estão em consonância com as 
elencadas pela Organização das Nações Unidas (ONU) para os examinadores forenses de 
documentos. Na segunda comparação, procurou-se verificar se essas mesmas competências 
estão sendo desenvolvidas nas ações de capacitação oferecidas pela ANP direcionadas à área. 
Com isso, buscou-se identificar as lacunas porventura existentes nos dois 
comparativos visando a adequação, se necessário for, tanto das competências técnicas 
elencadas na matriz, quanto nas desenvolvidas pela PF por meio da ANP. 
 
 
1.2 Objetivos 
 
O presente trabalho tem por objetivo analisar como estão relacionadas as 
competências técnicas dos peritos documentoscópicos da Polícia Federal elencadas na matriz 
da função técnica da PF e as elencadas pela ONU para os examinadores forenses de 
documentos, e se essas competências estão sendo desenvolvidas nas ações de capacitação 
oferecidas pela ANP voltadas para a área. 
Para tanto, foi avaliado de que forma o desenvolvimento dessas competências 
técnicas está distribuído nos programas de treinamento oferecidos pela Academia Nacional de 
Polícia para a área de Documentoscopia: formação profissional de Perito Criminal Federal, 
atualização em Grafoscopia e especialização em Ciências Policiais, área de concentração 
Documentoscopia. 
As lacunas porventura identificadas podem ser desenvolvidas em futuras ações de 
capacitação, por meio da reformulação e readequação de currículos. Adicionando-se as 
 
2 Todos os textos originais em inglês foram traduzidos pela autora. 
18 
 
 
 
competências técnicas já desenvolvidas pela Polícia Federal às recomendadas pela ONU, será 
possível mapear as competências técnicas voltadas para a área de Documentoscopia, adaptado 
a uma realidade local e internacional. 
 
 
1.3 Objeto do estudo 
 
O objeto de estudo do presente trabalho configura-se como: competências técnicas 
desenvolvidas pelos treinamentos oferecidos pela PF face às elencadas na matriz da função 
técnica da PF e às recomendações da ONU para profissionais dessa natureza. 
Ao longo do trabalho, será demonstrada a importância do perito 
documentoscópico dentro das Ciências Forenses, da Criminalística e do Sistema de 
Criminalística da Polícia Federal, bem como as dificuldades e desafios de treinamento 
enfrentados por esses profissionais, que dependem do desenvolvimento das corretas e 
adequadas competências técnicas para a consecução de suas tarefas e entregas. 
 
 
1.4 Delimitação do estudo 
 
O presente trabalho limitou-se ao estudo das competências técnicas recomendadas 
aos profissionais que atuam na perícia documentoscópica, não sendo, portanto, objeto de 
análise as demais competências para a função, como as comportamentais. 
Buscou-se focar nas competências técnicas por entender-se que as demais 
competências poderiam, de alguma forma, ser desenvolvidas em treinamentos externos ou em 
experiências anteriores dos peritos.1.5 Relevância do estudo 
 
A perícia documentoscópica é a maior área de perícia da Criminalística da PF. 
Segundo dados apontados no Relatório Estatístico de 2012 do Sistema Nacional de 
Criminalística3, naquele ano foram produzidos 10.687 laudos de Documentoscopia, entre eles, 
 
3 Disponível em https://bdcrim.dpf.gov.br/dspace/handle/2011/8786. 
19 
 
 
 
4.104 de moeda (cédulas e moedas metálicas) e 6.540 documentoscópicos (abrangendo 
mecanografias, Grafoscopia, alteração e autenticidade documental, entre outras subclasses), 
perfazendo um total de 24,49% de toda a produção de laudos. 
A Direção Geral e a Diretoria Técnico-Científica da PF manifestaram, por meio 
de seus planejamentos estratégicos, a importância da valorização de seus servidores por meio 
da capacitação contínua e gestão de competências, como estratégias para se alcançar suas 
missões, respectivamente, “tornar-se referência mundial em Ciência Policial” e “tornar-se 
referência mundial na aplicação e no desenvolvimento das Ciências Forenses”. 
Nesse contexto, vê-se a relevância no adequado estudo e desenvolvimento das 
competências na área de Documentoscopia que, por suas características, depende quase que 
exclusivamente da capacitação oferecida e executada internamente. Os peritos 
documentoscópicos, que produzem os laudos da maior área pericial da PF, tendo suas 
competências desenvolvidas de forma contínua e de acordo com os padrões internacionais 
recomendados, podem contribuir de maneira determinante para que os objetivos estratégicos 
da PF e da DITEC sejam alcançados mais rapidamente e com maior qualidade. 
 
A esta introdução segue um capítulo dedicado ao referencial teórico, onde são 
explorados alguns dos mais consagrados conceitos de competências e de gestão por 
competências, buscando relacioná-los ao objeto de estudo do presente trabalho. 
No capítulo 3 é detalhado esse objeto de estudo, desde sua visão macroscópica, a 
Polícia Federal, até o ponto central do trabalho, as competências do perito documentoscópico 
da PF. Nesse caminho, são expostos os principais aspectos da Diretoria Técnico-Científica da 
PF, do Sistema de Criminalística e do próprio perito documentoscópico. 
O capítulo 4 é dedicado à descrição da metodologia de trabalho, sua classificação 
e limitações. A ele segue a discussão dos dados levantados, com críticas e sugestões julgadas 
pertinentes. Por fim, no capítulo 6, são elencadas as referências utilizadas na pesquisa. 
 
 
 
 
20 
 
 
 
2 REFERENCIAL TEÓRICO 
 
Neste capítulo buscou-se abranger os conceitos mais consagrados de 
competências dentro do âmbito das organizações, mostrando que este é um tema já bastante 
explorado, com uma grande convergência de proposições. Algumas ampliações conceituais 
foram também abordadas, mostrando a crescente preocupação com as entregas e os resultados 
das atividades do profissional. Ao final, é feita uma breve abordagem da gestão por 
competências, que contrapõe os objetivos estratégicos da organização às competências 
desejadas de cada função, e ressalta a necessidade de desenvolvimento dessas competências 
para que a missão institucional seja cumprida. 
 
 
2.1 Conceito de competências 
 
O tema das competências tem sido estudado por diversos autores desde a 
década de 1970. Ao longo dos anos, um grande debate se estabeleceu de forma a, de certa 
maneira, opor pesquisadores norte-americanos por um lado, e franceses por outro lado. De 
acordo com DUTRA (2004), a corrente norte-americana, representada por Boyatzis e 
McClelland, restringe a competência ao estoque de conhecimentos, habilidades e atitudes que 
a pessoa possui e que a qualifica para exercer determinada função. Já a corrente francesa, 
representada por Le Boterf e Zarifian, amplia o conceito para além dos conhecimentos, 
habilidades e atitudes, relacionando-o à sua entrega, ou à realização do trabalho. 
Essa dualidade é observada também por FLEURY & FLEURY (2001), que 
citam a conceituação elaborada por McClelland, um dos precursores do estudo do tema ainda 
na década de 1970. Para ele, a competência estaria apenas casualmente relacionada ao 
desempenho superior na realização de uma tarefa, diferenciando-a de aptidão, habilidade e 
conhecimento como qualidades isoladas. Boyatzis, já na década seguinte, introduziu o 
conceito da competência como conjunto de capacidades humanas subdivididas em 
conhecimentos, habilidades e atitudes que, para cada cargo ou função na organização, leve a 
um alto desempenho do funcionário. 
Assim, de acordo com os mesmos autores, a visão norte-americana da 
competência se baseia em aspectos educacionais, em capacidades que podem ser apreendidas 
por meio de processos de aprendizagem. A perspectiva francesa, por sua vez, adicionou o 
21 
 
 
 
aspecto trabalhista à discussão, associando a competência ao posto de trabalho, cargo ou 
função. Surgiu daí a necessidade de se executar o inventário ou mapeamento de competências. 
ZARIFIAN (2001), pesquisador francês, ressalta que atualmente o trabalho e o 
ambiente profissional das organizações caracterizam-se pela mutabilidade e complexidade, 
não mais se restringindo a uma lista de tarefas associadas a determinado cargo. Para ele, as 
três mutações no mundo do trabalho seriam: a noção de incidente (imprevisibilidade), a 
comunicação e o serviço. O autor ainda define a competência como a inteligência prática para 
situações que se apoiam sobre os conhecimentos adquiridos e os transformam com tanto mais 
força, quanto mais aumenta a complexidade das situações. 
Prosseguindo com a contextualização histórica do tema, FLEURY & FLEURY 
(2001) citam a conceituação de Le Boterf, para quem a competência está numa encruzilhada 
formada pela pessoa, sua formação educacional e sua experiência profissional. 
Tomando por base esses pesquisadores, que são a principal referência no 
assunto, outros desenvolveram seus próprios conceitos. Para CARBONE et al(2009) a 
competência seria: 
conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes necessários para exercer 
determinada atividade, mas também como o desempenho expresso pela 
pessoa em dado contexto, em termos de comportamentos e realizações 
decorrentes da mobilização e aplicação de conhecimentos, habilidades e 
atitudes no trabalho. 
 
Para LEME (2011), citando Scott B. Parry, a competência é: 
um agrupamento de conhecimentos, habilidades e atitudes correlacionadas, 
que afeta parte considerável da atividade de alguém, que se relaciona com 
seu desempenho, que pode ser medido segundo padrões preestabelecidos, e 
que pode ser melhorado por meio de treinamento e desenvolvimento. 
 
Segundo ROCHA-PINTO et al (2005), 
competência não pode ser restrita a fazer bem algo. Tem como maior 
característica, ou pelo menos deveria ter, o refazer-se todos os dias. Para ser 
competente você precisa saber ser competente. Precisa estar aberto a 
mudanças, ser flexível, ter iniciativa e uma boa pitada de ousadia e coragem. 
Também precisa viver do questionamento reconstrutivo para que possa 
questionar e reconstruir-se diariamente. O conhecimento só pode ser 
inovador se, antes de qualquer coisa, você souber inovar-se. [...] Consiste em 
um processo contínuo de construção, destruição e reconstrução. 
 
E, para FLEURY & FLEURY (2001), competência pode ser entendida como 
“um saber agir responsável e reconhecido, que implica mobilizar, integrar, transferir 
conhecimentos, recursos e habilidades, que agreguem valor econômico à organização e valor 
22 
 
 
 
social ao indivíduo”. QUEIROZ (2012) amplia um pouco esse conceito, denominando de 
“entrega” o valor agregado à organização. 
De maneira mais simplificada, a competência pode ser entendida como o 
resultado da aplicação sinérgica de seus três recursos ou dimensões: conhecimentos (C), 
habilidades (H) e atitudes (A), formando o CHA. 
Para CARBONE et al (2009), o conhecimentocorresponde a informações que, 
ao serem apreendidas pelo indivíduo, afetam seu julgamento e comportamento; a habilidade 
está relacionada à utilização dos conhecimentos apreendidos em uma ação determinada; e a 
atitude refere-se a aspectos sociais e afetivos relacionados ao trabalho que influenciam a 
conduta do indivíduo em relação a pessoas ou situações. LEME (2011) traz uma abordagem 
mais objetiva ao classificar o CHA como: 
 
• Conhecimento é o saber, mas não utilizamos tudo que sabemos. 
• Habilidade é o saber fazer, o que utilizamos do conhecimento que temos. 
• Atitude é o querer fazer. 
 
Ao CHA alguns autores agregam ainda outras dimensões. QUEIROZ (2012), 
por exemplo, adiciona o “E” de Entrega que, segundo ele, é o fazer, executar, colocar em 
prática. 
As competências podem ser classificadas segundo vários parâmetros. Podem 
ser humanas (individuais ou profissionais) ou organizacionais (básicas ou essenciais), sendo 
que todas influenciam e são influenciadas entre si, já que o indivíduo está dentro da 
organização, e esta é um reflexo dos indivíduos que a compõem. Dentre as humanas 
profissionais, que mais aqui nos interessam, há as competências técnicas e as 
comportamentais. 
 
 
2.2 Competências técnicas e comportamentais 
 
Para LEME (2011), competências técnicas são os conhecimentos e ferramentas 
que o ocupante da função deve saber, ou seja, aquilo que ele precisa conhecer e dominar para 
realizar as atribuições inerentes à sua função ou papel na organização. Para ZARIFIAN 
23 
 
 
 
(2001), competências técnicas são conhecimentos específicos sobre o trabalho que deve ser 
realizado. 
Já que está envolvido não só o conhecimento da técnica, mas também o 
domínio de seu uso, a competências técnicas podem ser consideradas a união do CH do CHA, 
ou seja, a soma do conhecimento com a habilidade, já que, segundo LEME (2011), em muitos 
casos não é necessário ou até mesmo possível analisar esses dois aspectos separadamente. O 
conhecimento por si só, desvinculado de sua prática, torna-o inútil do ponto de vista dos 
objetivos organizacionais de busca de resultados. 
As atitudes que podem causar impacto no desempenho do profissional estão 
relacionadas às competências comportamentais. Para LEME (2011) e QUEIROZ (2012), elas 
constituem o diferencial competitivo de cada profissional, pois conhecimentos e habilidades 
são mais facilmente apreendidos, enquanto as atitudes dependem de um desenvolvimento 
pessoal mais subjetivo e mais dependente do animus do indivíduo. 
Citando Le Boterf, FLEURY & FLEURY (2001) trazem um quadro sobre 
como desenvolver as competências individuais em uma organização: 
 
Tipo Função Como desenvolver 
Conhecimento teórico Entendimento, 
interpretação 
Educação formal e 
continuada 
Competência técnica Conhecimento sobre 
procedimentos 
Saber como proceder Educação formal e 
experiência profissional 
Conhecimento empírico Saber como fazer Experiência profissional 
Conhecimento social Saber como comportar-se Experiência social e 
profissional 
Competência 
comportamental 
Conhecimento cognitivo Saber como lidar com a 
informação, saber como 
aprender 
Educação formal e 
continuada, e experiência 
social e profissional 
Fonte: adaptado de FLEURY & FLEURY, 2001. 
 
Para estes autores, o quadro demonstra como o conhecimento pode ser 
transformado em competência por meio da aprendizagem, em um contexto profissional 
específico, já que as competências são sempre contextualizadas, ou seja, uma competência 
adequada para uma função em uma organização pode não o ser para a mesma função em outra 
organização. 
QUEIROZ (2012) traz um interessante resumo das situações que podem ser 
observadas numa organização, de acordo com as competências dos indivíduos que nela 
trabalham, e o impacto que isso gera nos resultados: 
 
24 
 
 
 
Conhecimento Habilidade Atitude Resultado 
Apresenta Apresenta Apresenta Entrega efetuada. 
Não apresenta Não apresenta Não apresenta Entrega não efetuada. 
Não apresenta Não apresenta Apresenta Entrega comprometida. Quando efetuada, a 
qualidade é precária e recaem sobre ela elevados 
gastos de tempo e recursos. 
Não apresenta Apresenta Apresenta Entrega com baixa qualidade, gastos maiores de 
tempo e recursos. 
Apresenta Não apresenta Apresenta Entrega com baixa qualidade, gastos maiores de 
tempo e recursos. 
Apresenta Apresenta Não apresenta Entrega comprometida. Quando efetuada, traz em 
seu ventre desinteresse, desmotivação e falta de 
criatividade, o que gera grandes gastos de tempo e 
recursos. 
Fonte: QUEIROZ, 2012. 
 
A questão do resultado da aplicação das competências é também ressaltada por 
LEME (2011), que amplia o conceito de competências como a matéria-prima para o 
desempenho e, assim, abarcando também as dimensões de Resultados e de Complexidade, 
além das dimensões técnicas e comportamentais. 
 
 
2.3 A Gestão por competências 
 
Percebe-se, nas diversas abordagens estudadas a ênfase que é dada na questão 
da entrega, ou dos resultados, já que estes são a manifestação prática e concreta das 
competências do indivíduo. Ele vai realizar boas entregas se suas competências técnicas 
estiverem sendo bem aproveitadas (ou seja, aliadas às comportamentais). 
Mas é claro que, para que as entregas tenham boa qualidade é necessário que 
naquela função esteja o indivíduo mais apto a realizá-la, e que as competências dele estejam 
em consonância com os objetivos estratégicos da organização. 
De acordo com LEME (2011), “função” é o conjunto de atribuições que o 
servidor deve executar. Com base nessa função, seu grau de complexidade e suas 
responsabilidades, deve ser feito o mapeamento das competências, técnicas e 
comportamentais, necessárias para exercê-la. Dessa forma, a função não se confunde com o 
mero cargo (no nosso caso, o de Perito Criminal Federal), mas aprofunda-se nas suas 
especificidades (aqui, a do perito documentoscópico). Ressalta o mesmo autor, no entanto, 
que a maneira como os resultados são alcançados devem igualmente compor a análise de 
desempenho do servidor. No caso da PF, veremos que no mapa estratégico foram também 
descritos os valores da instituição, quer dizer, as premissas éticas que devem pautar a atuação 
25 
 
 
 
de seus servidores no alcance dos objetivos estratégicos e, consequentemente, da visão de 
futuro do órgão. Já a perspectiva “complexidade” relaciona a qualidade da entrega com 
relação às expectativas do desempenho da função, dimensionada pelas suas responsabilidades. 
“Responsabilidade” é a contrapartida da autonomia e da descentralização da tomada de 
decisão (ROCHA-PINTO et al, 2005). Quanto mais especialista uma função, mais complexa 
ela é. 
Quando uma organização opta por aplicar a gestão por competências ela deve 
ter claro, antes de tudo, quais são seus objetivos estratégicos, sua missão e visão de futuro 
(CARBONE et al, 2009), ou seja, onde se deseja chegar por meio dos objetivos alcançados. A 
isso se segue o mapeamento das competências das funções dentro da organização, e ao 
levantamento individual das competências que cada ocupante de cada função possui. A 
diferença entre as competências requeridas para a função (competências desejadas) e aquelas 
apresentadas pelos indivíduos (competências atuais) será a lacuna, ou gap, a ser diminuída ou 
eliminada por meio das ações de capacitação, dentro e fora da organização, e das ações de 
captação de servidores. Segundo o mesmo autor, se não houver captação ou desenvolvimento 
essa lacuna entre as competências existentes e as requeridas tende a crescer, pois a dinâmica 
do meio competitivo onde estão inseridas as organizações, mesmo as públicas, faz com que as 
exigências cresçam e, por outro lado, as competências existentes tendem ao declínio por se 
tornarem obsoletas diante do incremento tecnológico e científico. 
A capacitação pode se dar em diversos ambientes, mas, no caso de funções 
altamente especializadas,é mais comum ela ocorrer de forma corporativa, dentro da 
organização, em treinamentos desenvolvidos especialmente para suprir as lacunas 
identificadas. Para FLEURY & FLEURY (2001) esse processo de desenvolvimento das 
competências deve se dar por meio de um processo de aprendizagem continuada. CARBONE 
et al (2009) ratifica esse entendimento, e acrescenta que, no nível organizacional, o 
aprimoramento se dá por meio de investimentos em pesquisa. É necessário, porém, haver um 
acompanhamento e avaliação das ações adotadas pela organização, de modo a verificar se 
estão sendo eficazes, ou seja, se estão de fato eliminando ou minimizando as lacunas 
encontradas. 
As novas competências desenvolvidas serão aplicadas nas funções dos 
servidores que, a partir desse ganho, serão mais bem desempenhadas, gerando impactos 
positivos nos resultados e na qualidade das entregas. 
26 
 
 
 
Mais e melhores resultados podem modificar o cenário no qual a organização 
está inserida, fazendo com que sua missão, visão e valores possam, eventualmente, serem 
reavaliados diante do novo contexto. Novos objetivos criam a necessidade de novas 
competências, que tem que ser novamente mapeadas e levantadas. Esse é um processo cíclico, 
conforme demonstrado na figura abaixo. 
 
Cenário 
 
 Organização 
 
 Missão, Visão e Valores 
(seus propósitos de 
existência) 
 
 
 Objetivos 
estratégicos e fatores 
críticos de sucesso 
 
 
 Competências essenciais 
da organização e 
competências da função 
(técnicas e 
comportamentais) 
 
 
 Gaps de competências 
 
 Educação corporativa 
 
 Ganhos de competência 
e os impactos nos 
resultados 
 
Figura 1 – Processo cíclico da capacitação e desenvolvimento de competências integrado à estratégia 
da organização. Adaptado de LEME, 2011. 
 
 
Nota-se, portanto, que a gestão por competências deve basear-se nos objetivos 
da organização e na estratégia adotada para fazer com que os seus servidores “possam atingir 
esses objetivos por meio de suas competências, desenvolvendo as competências que forem 
carentes e potencializando aquelas em que se destacam” (LEME, 2005). Para ROCHA-
PINTO et al (2005), 
a gestão por competências pressupõe que a empresa consiga discernir os 
resultados que almeja conseguir no longo prazo e, mais do que isso, adote 
uma estratégia coerente e possa identificar e desenvolver, em seus 
funcionários, as competências para alcançar os propósitos organizacionais. 
 
27 
 
 
 
Para esses autores, para se alcançar os objetivos organizacionais pretendidos há 
diversas ferramentas: “captação e seleção de talentos, a remuneração e o reconhecimento, a 
avaliação de desempenho e, em especial, a educação continuada”. 
De acordo com CARBONE et al (2009), tendo em vista que o desempenho é o 
aspecto mensurável e concreto das competências das pessoas, equipes e organizações, há uma 
interdependência natural entre a gestão por competência e a gestão por desempenho, já que é 
pela avaliação das entregas e dos resultados que se pode mensurar qualitativa e 
quantitativamente se os objetivos da organização estão sendo atingidos por meio das 
competências ali demonstradas. 
 
28 
 
 
 
3 OBJETO DE ESTUDO 
 
Neste capítulo é descrito o objeto de estudo do presente trabalho, ou seja, as 
competências técnicas dos peritos documentoscópicos da PF. Para se atingir esse ponto, no 
entanto, é traçado todo um contexto, que parte da Polícia Federal: sua formação histórica, 
competências legais, estrutura organizacional e plano estratégico. 
São ainda abordados aspectos gerais da Diretoria Técnico-Científica e do Sistema 
de Criminalística; da figura do Perito Criminal Federal; da Criminalística, Ciências Forenses e 
Documentoscopia; e do perito documentoscópico. Finalmente, é descrito o “Guia para 
desenvolvimento da capacidade em exame forense de documentos”, que traz as competências 
técnicas elencadas pela ONU como relevantes para o perito em documentos, e as 
competências desenvolvidas pela PF para esse profissional. 
 
 
3.1 Histórico da Polícia Federal 
 
A origem da Polícia Federal, ou seja, de uma polícia com caráter nacional, 
remonta aos tempos coloniais, quando em 1808 D. João VI criou a Intendência-Geral de 
Polícia da Corte e do Estado do Brasil, com os mesmos poderes, atribuições e prerrogativas 
que tinha a mesma instituição em Portugal. No mesmo ano foi criada a Secretaria de Polícia, 
dentro da estrutura da Intendência, sendo esta a instituição policial que deu origem às futuras 
Polícias Civis, estabelecendo-se também a polícia judiciária brasileira (POLÍCIA, 2010). 
A estrutura foi mantida mesmo após a proclamação da República. Em 1944, 
durante o governo Vargas, a então chamada Polícia Civil do Distrito Federal (à época, o 
estado do Rio de Janeiro) foi transformada em Departamento Federal de Segurança Pública 
(DFSP), subordinado ao Ministro da Justiça e Negócios Interiores, já com as atribuições de 
“no Distrito Federal, os serviços de polícia e segurança pública e, no território nacional, os de 
polícia marítima, aérea e segurança de fronteiras”, além de prestar orientação aos demais 
estados com relação às questões de ordem política e social (POLÍCIA, 2010). 
Com a construção da nova capital, fez-se necessária a criação de um corpo local 
de polícia, o que se concretizou em 1958, quando o governo do estado de Goiás criou o 
Departamento Regional de Polícia de Brasília (DRPB), ao qual se subordinava a Guarda Civil 
Especial de Brasília (GEB). Com a inauguração da nova capital, o DRPB foi incorporado à 
29 
 
 
 
estrutura do Departamento Federal de Segurança Pública que, junto com outras instituições de 
governo, transferiu-se do Rio de Janeiro para Brasília. 
O DFSP foi reestruturado pela Lei n° 4.483/1960, que também conferiu a ele suas 
atribuições à época. Em 1966, por meio da Lei n° 5.010 em seu artigo 65, o DFSP foi 
encarregado do exercício de polícia judiciária da União. No ano seguinte, 1967, a instituição 
passou a ser denominada “Departamento de Polícia Federal”, e teve sua organização e 
atribuições constitucionalizadas na Constituição Federal, em seu artigo 210 (POLÍCIA, 2010). 
A denominação “Polícia Federal” surgiu na Emenda constitucional nº 01/1969, e 
foi mantida na atual Constituição Federal de 1988. Apesar disso, ambas as denominações, 
“Departamento de Polícia Federal” e “Polícia Federal” são correntes e aceitas. Nos 
documentos oficiais e na identificação de unidades da estrutura organizacional, no entanto, 
ainda se usa a sigla “DPF” (POLÍCIA, 2010). 
 
 
3.2 Competência e unidades da Polícia Federal 
 
O Departamento de Polícia Federal (PF), de acordo com a Portaria MJ nº 
2.877/2011, que aprovou seu regimento interno, é um “órgão permanente, específico singular, 
organizado e mantido pela União, e estruturado em carreira, com autonomia orçamentária, 
administrativa e financeira, diretamente subordinado ao Ministro de Estado da Justiça” cuja 
função é exercer, em todo o território nacional, as atribuições previstas no §1° do artigo 144 
da Constituição Federal e no§7º do artigo 27 da Lei nº 10.683/2003. 
O artigo 144 da Constituição Federal traz as competências da PF e estabelece que: 
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de 
todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das 
pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: 
I - polícia federal; 
II - polícia rodoviária federal; 
III - polícia ferroviária federal; 
IV - polícias civis; 
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares. 
§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado 
e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a: 
I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento 
de bens, serviços e interesses da União ou de suasentidades autárquicas e 
empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha 
repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, 
segundo se dispuser em lei; 
30 
 
 
 
II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o 
contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros 
órgãos públicos nas respectivas áreas de competência; 
III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras; 
IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União. 
 
Outra atribuição da PF é dada no § 7º do artigo 27 da Lei nº 10.683/2003: 
§7º Caberá ao Departamento de Polícia Federal, inclusive mediante a ação 
policial necessária, coibir a turbação e o esbulho possessórios dos bens e dos 
próprios da União e das entidades integrantes da Administração Pública 
Federal indireta, sem prejuízo da responsabilidade das Polícias Militares dos 
Estados pela manutenção da ordem pública. 
 
O Regimento Interno da PF trouxe, além das já elencadas, mais uma atribuição do 
órgão: “VI - acompanhar e instaurar inquéritos relacionados aos conflitos agrários ou 
fundiários e os deles decorrentes, quando se tratar de crime de competência federal, bem 
assim prevenir e reprimir esses crimes”. 
Atualmente a PF é dividida em quatorze unidades centrais, localizadas em 
Brasília/DF, e três tipos de unidades descentralizadas, localizadas nas capitais dos estados e 
outras cidades do interior. São unidades centrais, de acordo com o artigo 2º do Regimento 
Interno: 
 
I - Conselho Superior de Polícia - CSP; 
II - Assistência Administrativa - AAD; 
III - Assistência Parlamentar - ASPAR; 
IV - Gabinete – GAB; 
V - Coordenação do Centro Integrado de Gestão Estratégica - CIGE; 
VI - Coordenação-Geral de Cooperação Internacional – CGCI; 
VII - Coordenação-Geral de Tecnologia da Informação – CGTI; 
VIII - Diretoria-Executiva – DIREX; 
IX - Diretoria de Investigação e Combate ao Crime Organizado -DICOR; 
X - Corregedoria-Geral de Polícia Federal – COGER; 
XI - Diretoria de Inteligência Policial – DIP; 
XII - Diretoria Técnico-Científica – DITEC; 
XIII - Diretoria de Gestão De Pessoal – DGP; 
XIV - Diretoria de Administração e Logística Policial – DLOG. 
 
E são consideradas unidades descentralizadas: 
XV - Superintendências Regionais - SR; 
XVI - Conselhos Regionais de Polícia - CRP; e 
XVII - Delegacias de Polícia Federal - DPF. 
 
As Delegacias de Polícia Federal são subordinadas administrativamente à 
Superintendência Regional do respectivo estado. 
31 
 
 
 
3.3 Plano estratégico da Polícia Federal 
 
A Portaria nº1735/2010-DG/DPF aprovou o Plano Estratégico 2010/2022, o 
Portfólio Estratégico e o Mapa Estratégico da Polícia Federal (Figura 2), considerando o 
“esforço conjunto de se praticar uma gestão moderna, dinâmica e participativa, de forma que 
a sociedade, o governo e o público interno possam obter os melhores resultados das ações 
definidas”. 
O Plano Estratégico institui o Histórico, Negócio, Missão, Visão, Valores, 
Fatores Críticos de Sucesso, Políticas Corporativas, Macro Objetivos, Objetivos Institucionais 
e Ações Estratégicas da PF para o período. O Portfólio Estratégico, que “servirá de base para 
a estruturação, elaboração e consolidação dos Planos Plurianuais”, traz os Objetivos 
Institucionais e as Ações Estratégicas. Já o Mapa Estratégico é a representação gráfica da 
Missão, Visão, Perspectivas, Macro Objetivos, Objetivos Institucionais e das Ações 
Estratégicas. 
Pela citada Portaria fica estabelecido que o negócio da PF é Ciência Policial4, 
sua missão é a de “exercer as atribuições de polícia judiciária e administrativa da União, a fim 
de contribuir na manutenção da lei e da ordem, preservando o estado democrático de direito” 
e sua visão é de “tornar-se referência mundial em Ciência Policial”. Os valores foram 
definidos como: coragem, lealdade, legalidade, ética e probidade, e respeito aos Direitos 
Humanos. 
Os fatores determinados como críticos ao sucesso da instituição são: pessoal 
motivado, apoio logístico efetivo, capacitação permanente, inteligência bem estruturada, 
comunicação eficiente, credibilidade mantida, recursos financeiros suficientes, parcerias 
formalizadas, recursos de ciência e tecnologia atualizados e infraestrutura adequada. A 
capacitação permanente, segundo o plano estratégico, seria alcançada por meio de “um 
programa contínuo de educação e capacitação, individual e coletivo e com avaliações 
periódicas que se reflitam na carreira”. 
 
 
4 A Ciência Policial pode ser aqui entendida como aquela que “tem como objeto o estudo sistemático e metódico 
da polícia como Instituição e como estrutura” (FENTANES apud ACADEMIA NACIONAL DE POLÍCIA. 
Caderno Didático de Ciências Policiais, 2012). 
32 
 
 
 
 
Figura 2 – Mapa estratégico da Polícia Federal (Fonte: Boletim de Serviço nº 
209, de 04/11/2010). 
 
Um dos nove objetivos institucionais traçados é o de “Valorizar o Servidor” 
visando “Estabelecer e implantar estratégias de avaliação do mérito e valorização do pessoal, 
motivando todas as categorias de servidores e agregando valores de maneira a formar um 
grupo coeso e permanente”. Tal objetivo fundamenta-se em duas ações estratégicas: a 
assistência à saúde do servidor e a gestão por competências, esta com o intuito de 
desenvolver, sistematizar e implementar mecanismos de motivação, avaliação do 
mérito e de reconhecimento das competências de todo o corpo funcional, 
reestruturando a metodologia de treinamento e ensino e de maneira a obter os 
melhores resultados, fornecendo aos servidores envolvidos no processo o 
treinamento e capacitação adequados. 
 
Percebe-se que existe no órgão a preocupação com a capacitação permanente 
de seu corpo funcional, sendo isso considerado um fator crítico para o sucesso da instituição 
no cumprimento de sua missão e no atingimento da sua visão. 
33 
 
 
 
Apesar da gestão por competências ainda não estar em pleno funcionamento 
dentro da PF, observa-se ações que são subsídios e requisitos à prática. A principal delas foi o 
“Mapeamento de competências das funções gerenciais, técnicas e de suporte do Departamento 
de Polícia Federal”, resultado de uma consultoria prestada pelo Centro de Seleção e de 
Promoção de Eventos da Universidade de Brasília (CESPE/UnB), cujo relatório final foi 
entregue em 2011. 
Outras ações voltadas à gestão por competências, no entanto, ainda não foram 
implementadas de forma sistemática como, por exemplo, a avaliação de desempenho baseada 
em competências. 
 
 
3.4 A Diretoria Técnico-Científica (DITEC) e o Sistema de Criminalística 
 
Na PF, a Diretoria Técnico-Científica (DITEC), “unidade central do 
Departamento de Polícia Federal, membro do Conselho Superior de Polícia, integrante da 
estrutura de órgãos de assessoria direta do Diretor-Geral” tem a missão de: 
 
gerir os Sistemas de Criminalística e de Identificação Humana da Polícia 
Judiciária da União, representada regionalmente, em todo o território 
nacional, pelas unidades Técnico-Científicas descentralizadas, subordinadas 
técnica e normativamente, integrantes das estruturas organizacionais das 
Superintendências Regionais5. 
 
 
A DITEC foi criada pelo Decreto nº 4.720/2003, sendo a versão mais atual o 
Decreto nº 6.061/2007. As competências da Diretoria foram estabelecidas no Regimento 
Interno da PF, em seu artigo 16: 
 
Art. 16. À Diretoria Técnico-Científica compete: 
I - dirigir, planejar, coordenar, orientar, executar, controlar e avaliar as 
atividades de perícia criminal e as relacionadas a bancos de perfis genéticos; 
II - gerenciar e manter bancos de perfis genéticos; e 
III - propor ao Diretor-Geral a aprovação de normas e o estabelecimento de 
parcerias com outras instituições na sua área de competência. 
 
 
5 http://intranet.dpf.gov.br/ditec/organizacao/competencia/competencia/34 
 
 
 
A mesma Portaria MJ nº 2.877/2011, que tratou da estrutura organizacional da PF, 
definindo suas unidades centrais e descentralizadas, delimitou no inciso XII do artigo 2º a 
composição da DITEC: 
 
XII - DIRETORIA TÉCNICO-CIENTÍFICA - DITEC: 
a) Serviço de Logística - SELOG; 
b) Divisão de Pesquisa, Padrões e Dados Criminalísticos - DPCRIM; e 
c) Instituto Nacional de Criminalística - INC: 
1. Divisão de Perícias - DPER: 
1.1. Serviço de Perícias em Informática - SEPINF; 
1.2. Serviço de Perícias Contábeis e Econômicas - SEPCONT; 
1.3. Serviço de Perícias Documentoscópicas - SEPDOC; 
1.4. Serviço de Perícias em Audiovisual e Eletrônicos - SEPAEL; 
1.5. Serviço de Perícias de Engenharia e Meio-Ambiente - SEPEMA; e 
1.6. Serviço de Perícias de Laboratório e de Balística - SEPLAB; 
 
Percebe-se, pois, que a execução de exames periciais está concentrada no INC, 
Instituto Nacional de Criminalística, que congrega seis Serviços sob o comando da Divisão de 
Perícias, conforme a Figura 3. 
 
 
Figura 3 – Organograma da Diretoria Técnico-Científica (Fonte: 
http://intranet.dpf.gov.br/) 
 
 
35 
 
 
 
Ao Serviço de Perícias Documentoscópicas (SEPDOC) compete, de acordo com o 
artigo 93 da Instrução Normativa nº 13/2005: 
 
I - elaborar laudos de apreciação de vestígios em procedimentos pré-
processuais e judiciários da esfera criminal relacionados a exames periciais 
documentoscópicos em qualquer material gráfico manuscrito, 
mecanografado ou impresso, selos, estampilhas, rótulos, moedas nacionais e 
estrangeiras, papéis de créditos, documentos de segurança em geral, 
passaportes, vistos e papéis em geral; 
 II - pesquisar, avaliar, desenvolver e aprimorar técnicas e metodologias 
relacionadas aos exames periciais correlatos à sua área de atuação; 
 III - estabelecer contatos com outras instituições congêneres no Brasil e no 
exterior, visando ao intercâmbio de informações; 
 IV - propor a realização de cursos, palestras, seminários e conferências, 
colaborando com a sua realização, em nível nacional e internacional, com o 
objetivo de realizar a troca de experiências, bem como propor o treinamento, 
a atualização e a especialização profissional em sua área de atuação; 
 V - propor medidas relativas à padronização de laudos, controle de 
qualidade e outros procedimentos correlatos às suas atividades específicas; 
 VI - acompanhar e promover estudos sobre a legislação e jurisprudência em 
sua área de atuação, em articulação com a DPCRIM/INC/DITEC; 
 VII - prestar apoio técnico-científico e administrativo nas perícias 
relacionadas a sua área de atuação e emitir informações e pareceres visando 
à instrução de processos sobre assuntos específicos; 
 VIII - propor diretrizes para busca, coleta, transporte e preservação do 
material objeto dos exames de sua competência; 
 IX - especificar e propor a aquisição de produtos e serviços necessários para 
desempenhar suas atividades; 
 X - dispor dos dados estatísticos das atividades relacionadas à sua 
atribuição, consolidando-os e encaminhando-os ao Chefe da 
DPER/INC/DITEC. 
 
O SEPDOC é, portanto, o responsável pelas perícias em todos os tipos de 
documentos, além da elaboração de manuais de procedimentos, da proposição e execução de 
ações de capacitação e do apoio técnico científico a unidades internas e externas à PF, sendo 
que internamente isso se dá principalmente pelo monitoramento da perícia documentoscópica 
no Sistema de Criminalística. O Serviço é, por exemplo, responsável pela formatação dos 
cursos de formação, atualização e especialização na área de Documentoscopia que atualmente 
são oferecidos na Academia Nacional de Polícia, sendo também o principal fornecedor de 
docentes para ministração dos cursos. 
 
 
36 
 
 
 
O Sistema de Criminalística da PF é constituído “dos órgãos técnico-científicos de 
assessoramento às atividades do DPF”6, que são: 
• a unidade central, representada pelo INC; e 
• as unidades descentralizadas, representadas por: 
o 26 Setores Técnico-Científicos (SETECs), localizados nas capitais dos 
Estados e no Distrito Federal, subordinados às Superintendências 
Regionais da PF; 
o 02 Núcleos Técnico-Científicos(NUTECs), localizado em Foz do Iguaçu 
e Santos, subordinados às respectivas delegacias; 
o 02 Núcleos de Criminalística (NUCRIMs), subordinados aos SETECs do 
Rio de Janeiro e São Paulo; 
o 24 Unidades Técnico-Científicas (UTECs), localizadas em cidades 
consideradas estratégicas do ponto de vista geográfico: Araraquara, 
Campinas, Presidente Prudente, Marília, Ribeirão Preto, São José dos 
Campos, Sorocaba (SP); Dourados (MS); Guaíra, Londrina (PR); 
Imperatriz (MA);Juiz de Fora, Uberlândia (MG); Juazeiro do Norte (CE); 
Juazeiro (BA); Marabá, Santarém (PA); Passo Fundo, Santa Maria, 
Pelotas (RS); Rondonópolis, Sinop (MT), Salgueiro (PE), Vilhena (RO). 
 
Os laboratórios centrais, localizados no INC, possuem mais e mais avançados 
equipamentos do que as unidades descentralizadas, mas todas elas são equipadas para a 
realização da maior parte dos exames pericias, inclusive de Documentoscopia. 
A subordinação das unidades descentralizadas à respectiva Superintendência ou 
delegacia se dá no âmbito administrativo. Tecnicamente, todas as unidades são subordinadas à 
DITEC, devendo seguir os normativos e procedimento por ela publicados. 
O Sistema conta ainda com cinco áreas periciais, que não estão dentro do 
organograma do INC, mas que foram criadas por portarias editadas pelo Diretor Técnico-
Científico. São elas: Área de Perícias em Meio Ambiente (APMA), Área de Perícias em 
Genética Forense (APGEF),Área de Perícias em Balística (APBAL),Área de Perícias 
Externas (APEX),e Área de Perícias em Medicina e Odontologia Legal (APMOD). 
Em todas as unidades de Criminalística são lotados Peritos Criminais Federais 
(PCFs), que executam os serviços periciais e de gestão. Apesar da estrutura dividida em 
 
6 http://intranet.dpf.gov.br/inc/organizacao/competencia/ 
37 
 
 
 
serviços e áreas aplicar-se somente ao INC, por ser a unidade central e por reunir um número 
maior de servidores, nas unidades descentralizadas as solicitações de exame são, de forma 
geral, distribuídas conforme a especialidade do perito. Assim, laudos de entorpecentes são 
feitos por peritos de laboratório de química (exceto os laudos de constatação preliminar), e os 
laudos de contabilidade, por peritos contadores. 
Tendo em vista a “necessidade de direcionar as Ações Estratégicas da Perícia 
Criminal Federal de forma a colaborar no alcance dos Objetivos Institucionais, explicitados 
no Planejamento Estratégico do Departamento de Polícia Federal” 7 , a DITEC também 
elaborou o seu mapa estratégico para o período de 2012 a 2016 (Figura 4). Estabeleceu-se 
como missão da Diretoria “atuar em prol da justiça e dos direitos humanos, com a produção 
de prova material científica isenta e de qualidade” e, como visão, “tornar-se referência 
mundial na aplicação e no desenvolvimento das Ciências Forenses”. 
Um dos objetivos estratégicos constantes no Mapa é o de “promover o 
desenvolvimento e a capacitação continuada dos recursos humanos”, descrito como “manter-
se atualizado, acompanhando a vanguarda do conhecimento científico [...]”. 
 
 
Figura 4 – Mapa estratégico da Diretoria Técnico-Científica (Fonte: http://ditec.dpf.gov.br). 
 
7 Portaria nº 142/2012-DITEC/DPF, publicada no Aditamento Semanal nº 033, de 20/08/2012, disponível na 
intranet em http://ditec.dpf.gov.br. 
38 
 
 
 
Novamente nesse momento é demonstrada a preocupação institucional com a 
capacitação de seus servidores, e aqui isso fica reforçado como algo essencial à atividade 
pericial que, por sua natureza, demanda atualização constante. 
 
3.5 O Perito Criminal Federal 
A Lei nº 12.030/2009, que estabelece normas gerais para as perícias oficiais de 
natureza criminal,dispõe que 
Art. 5º Observado o disposto na legislação específica de cada ente a que o 
perito se encontra vinculado, são peritos de natureza criminal os peritos 
criminais, peritos médico-legistas e peritos odontolegistas com formação 
superior específica detalhada em regulamento, de acordo com a necessidade 
de cada órgão e por área de atuação profissional. 
 Um pouco mais acima, o mesmo regulamento dispõe: 
Art. 2º No exercício da atividade de perícia oficial de natureza criminal, é 
assegurado autonomia técnica, científica e funcional, exigido concurso 
público, com formação acadêmica específica, para o provimento do cargo de 
perito oficial. 
 
De acordo com o Decreto-Lei nº 3.689/1941 (Código de Processo Penal), em seu 
artigo 159, “[...] o exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito 
oficial, portador de diploma de curso superior”. Essa redação, dada pela Lei 11.690/2008, 
alterou a redação anterior, da Lei 8.862/1994, que dispunha que “[...] os exames de corpo de 
delito e as outras perícias serão feitos por dois peritos oficiais” (grifo nosso). 
A partir de 2008, portanto, o exame e assinatura do documento técnico podem ser 
feitos por somente um perito, e não mais por dois como era anteriormente. Mais adiante será 
demonstrado o impacto que essa disposição teve no trabalho pericial em Documentoscopia. 
O cargo de Perito Criminal Federal pertence à Carreira Policial Federal, criada e 
estruturada pelo Decreto-lei nº 2.251/1985, reorganizada pela Lei nº 9.266/1996 e regulada 
pela Lei nº 4.878/1965 (Estatuto Policial). O ingresso na carreira se dá sempre mediante 
concurso público, sendo que no edital mais recente foi incorporada a prova de títulos 
(CENTRO, 2012). 
Este concurso, cujo certame ainda está em andamento, visa a provisão de 100 
vagas para PCF e é composto de duas etapas, sendo a primeira formada por seis provas: 
 
39 
 
 
 
a) prova objetiva, de caráter eliminatório e classificatório; 
b) prova discursiva, de caráter eliminatório e classificatório; 
c) exame de aptidão física, de caráter unicamente eliminatório; 
d) exame médico, de caráter unicamente eliminatório; 
e) avaliação psicológica, de caráter unicamente eliminatório; e 
f) avaliação de títulos, de caráter classificatório. 
 
A segunda fase é o Curso de Formação Profissional de Perito Criminal Federal, 
realizado na Academia Nacional de Polícia em Brasília, de caráter eliminatório e 
classificatório. 
O concurso é dividido em áreas de conhecimento, sendo que o candidato presta 
prova objetiva e de títulos relativas à sua área de formação. Há atualmente dezoito áreas de 
concurso, definidas pela Portaria nº 119/2012-DITEC, artigo 1º: 
 
I – ÁREA 1: Ciências Contábeis ou Ciências Econômicas; 
II – ÁREA 2: Engenharia Elétrica, Engenharia Eletrônica, Engenharia de 
Telecomunicações ou Engenharia de Redes de Comunicação; 
III – ÁREA 3: Ciências da Computação, Informática, Análise de Sistemas, 
Engenharia da Computação ou Engenharia de Redes de Comunicação; 
IV – ÁREA 4: Engenharia Agronômica; 
V – ÁREA 5: Geologia; 
VI – ÁREA 6: Engenharia Química, Química Industrial ou Química; 
VII – ÁREA 7: Engenharia Civil; 
VIII – ÁREA 8: Biomedicina ou Ciências Biológicas; 
IX – ÁREA 9: Engenharia Florestal; 
X – ÁREA 10: Medicina Veterinária; 
XI – ÁREA 11: Engenharia Cartográfica; 
XII – ÁREA 12: Medicina; 
XIII – ÁREA 13: Odontologia; 
XIV – ÁREA 14: Farmácia; 
XV – ÁREA 15: Engenharia Mecânica ou Engenharia Mecatrônica; 
XVI – ÁREA 16: Física; 
XVII – ÁREA 17: Engenharia de Minas; e 
XVIII – ÁREA 18: Engenharia Elétrica. 
 
A citada Portaria prevê ainda, em seu artigo 2º, que “as análises de equivalência 
entre cursos devem ser encaminhadas à DITEC”. 
Vê-se que é possível fazer uma correlação direta entre as áreas de formação e 
concurso e os serviços e áreas periciais de atuação, conforme a tabela 1. 
 
 
40 
 
 
 
Tabela 1 - Correlação entre as áreas de formação e concurso e os serviços e áreas periciais. 
Área de formação/concurso Serviço/área pericial de atuação 
ÁREA 1: Ciências Contábeis ou Ciências 
Econômicas 
Serviço de Perícias Contábeis e 
Econômicas (SEPCONT) 
ÁREA 2: Engenharia Elétrica, Engenharia 
Eletrônica, Engenharia de Telecomunicações ou 
Engenharia de Redes de Comunicação 
Serviço de Perícias em Audiovisual e 
Eletrônicos (SEPAEL) 
ÁREA 3: Ciências da Computação, Informática, 
Análise de Sistemas, Engenharia da Computação 
ou Engenharia de Redes de Comunicação 
Serviço de Perícias em Informática - 
SEPINF 
ÁREA 4: Engenharia Agronômica Serviço de Perícias de Engenharia e 
Meio-Ambiente (SEPEMA); Área de 
Perícias em Meio Ambiente (APMA) 
 ÁREA 5: Geologia Área de Perícias em Meio Ambiente 
(APMA) 
ÁREA 6: Engenharia Química, Química 
Industrial ou Química 
Serviço de Perícias de Laboratório e 
de Balística (SEPLAB) 
ÁREA 7: Engenharia Civil Serviço de Perícias de Engenharia e 
Meio-Ambiente (SEPEMA) 
ÁREA 8: Biomedicina ou Ciências Biológicas Área de Perícias em Genética 
Forense (APGEF) 
ÁREA 9: Engenharia Florestal Área de Perícias em Meio Ambiente 
(APMA) 
ÁREA 10: Medicina Veterinária Área de Perícias em Meio Ambiente 
(APMA) 
ÁREA 11: Engenharia Cartográfica Área de Perícias em Meio Ambiente 
(APMA) 
ÁREA 12: Medicina Área de Perícias em Medicina e 
Odontologia Legal (APMOD) 
ÁREA 13: Odontologia Área de Perícias em Medicina e 
Odontologia Legal (APMOD) 
ÁREA 14: Farmácia Serviço de Perícias de Laboratório e 
de Balística (SEPLAB) 
41 
 
 
 
Área de formação/concurso Serviço/área pericial de atuação 
ÁREA 15: Engenharia Mecânica ou Engenharia 
Mecatrônica 
Serviço de Perícias de Engenharia e 
Meio-Ambiente (SEPEMA) 
 ÁREA 16: Física Área de Perícias em Balística 
(APBAL) 
ÁREA 17: Engenharia de Minas Área de Perícias em Meio Ambiente 
(APMA) 
ÁREA 18: Engenharia Elétrica Serviço de Perícias em Audiovisual e 
Eletrônicos (SEPAEL) 
 
O que se pode observar é que todos os serviços e áreas periciais encontram 
correlação com as áreas de formação e concurso, exceto o Serviço de Perícias 
Documentoscópicas (SEPDOC), responsável por exames em documentos, e a Área de 
Perícias Externas (APEX), responsável por exames de local e veículos, entre outros. Por essa 
razão, muitas vezes exames de documentos e de local recebem a denominação errônea de 
“perícias genéricas”. Errônea porque o termo “genérico” suporia algo que não requer 
conhecimento ou treinamento específico para sua execução, o que não é verdadeiro em 
nenhuma dessas áreas de perícia. 
 
3.6 Criminalística, Ciências Forenses e Documentoscopia 
 
De acordo com TOCHETTO et al.(1995), o termo “Criminalística” foi cunhado 
por Hans Gross, juiz e professor de direito penal, em fins do século XIX, na obra que 
inaugurou o estudo sistemático do tema: “Manual do juiz de instrução”, publicado 
originalmente em alemão e depois traduzido para o espanhol e francês. A partir desse estudo 
diversos outros surgiram e o conceito foi sendo trabalhado no decorrer dos anos. O autor cita 
a “definição brasileira”, sugerida por Celso Del Picchia por ocasião do I Congresso Nacional 
de Polícia Técnica, em 1947: “Criminalística: disciplina que tem por objetivo o 
reconhecimento e interpretação dos indícios materiais extrínsecos relativos ao crime ou à 
identidade do criminoso”. 
42 
 
 
 
De disciplina a Criminalística foi elevada a “sistema”, pois se vale de diversas 
ciências e disciplinas para alcançar seus objetivos. Segundo VELHO et al. (2012), esse 
sistema regulamenta “a pesquisa, o exame e a correta interpretação dos vestígios materiais na 
investigação dos delitos”. O conhecimento para responder aos questionamentos legais 
necessários à investigação advém das chamadas Ciências Forenses, tais como a Balística, a 
Química Forense, a Engenharia Legal e a Documentoscopia. Por terem um propósito 
específico, o do exame do corpo de delito, tais ciências transvestem-se de particularidades que 
as diferemda Química ou da Engenharia comuns, sendo que algumas já nascem com essa 
finalidade, como a Balística e a Documentoscopia. 
A Documentoscopia, conhecida nos países de língua espanhola como 
Documentología e nos de língua inglesa como Questioned Documents Examination, é 
a disciplina que estuda, analisa e investiga, mediante metodologia e 
instrumental adequados, todo tipo de documento, com o objetivo de 
determinar sua autenticidade ou falsidade, neste caso, verificar em que 
consiste, bem como identificar as possíveis alterações e/ou manipulações 
sofridas. (ACADEMIA, 2007). 
Para esses fins, o documento pode ser entendido como “qualquer material que 
contenha marcas, símbolos ou lançamentos que tenham algum significado ou transmitam 
alguma mensagem ou informação” (KELLY & LINDBLOM, 2006). 
Por ter como objeto de estudo algo tão abrangente como um documento, a 
Documentoscopia pode estar presente em diversos tipos de investigação, como crime 
organizado (por exemplo, tráfico de pessoas e de entorpecentes e imigração ilegal), crimes 
fazendários, financeiros, previdenciários e ambientais. Por suas características, “é 
eminentemente interdisciplinar, envolvendo técnicas de diversas áreas de conhecimento, 
como Química, Informática, Física, Neurofisiologia, Artes Gráficas, além de metodologias 
específicas desenvolvidas por profissionais ao longo dos anos” (LIMA & MORAIS, 2012). 
Didaticamente, a Documentoscopia costuma ser dividida em três grandes áreas: 
• Grafoscopia – estudo dos manuscritos, incluindo assinaturas, buscando 
determinar sua autenticidade ou autoria; 
43 
 
 
 
• Mecanografia – estudo dos documentos impressos, seja por meio mecânico 
(como máquinas de escrever), seja por meio digital (como faxes e impressoras 
jato de tinta ou laser), inclusive carimbados; 
• Documentos de segurança – estudo sobre documentos de segurança, como 
moeda, documentos de identidade, passaportes, etc. 
O exame documentoscópico também pode ser realizado sob outros aspectos do 
documento, como seu substrato (natural, como o papel, ou sintético, como o polímero), as 
matérias-primas empregadas na sua produção (como as tintas, pigmentos e laminados), a 
existência de alterações (como rasuras e montagens), de marcas latentes e de eventuais danos 
(como por fogo, água ou rasgos). 
Segundo a ONU (UNITED, 2010), o exame de documentos tem a finalidade de: 
• Detectar documentos alterados ou contrafeitos e determinar os métodos utilizados para 
alterações e contrafações; 
• Verificar a autenticidade de elementos de segurança; 
• Verificar a autenticidade de documentos por meio de comparação com padrões 
conhecidos; 
• Identificar a autoria de assinaturas; 
• Prestar assessoramento para a criação de novos dispositivos de segurança; 
• Fornecer informação de inteligência; 
• Obter outra informação relevante relativa ao documento. 
 
De acordo ainda com o Scientific Working Group for Forensic Document 
Examination (SWGDOC, 2013), entidade que tem por objetivo reunir examinadores forenses 
de documentos e que, até 2010, publicava seus normativos via ASTM8 (American Societyfor 
Testing and Materials), o exame forense de documentos não envolve o estudo de 
personalidades ou de perfis psicológicos por meio da escrita manual, diferenciando assim a 
Grafoscopia da chamada grafologia. 
Para a concretização de seus propósitos, a perícia documentoscópica tem que se 
valer de seu principal recurso: o perito documentoscópico. 
 
8 Atualmente denominada ASTM International. 
44 
 
 
 
3.7 O perito documentoscópico 
O perito que tem como atividade principal o exame de documentos é 
denominado, aqui no Brasil, de perito documentoscópico. A denominação internacional mais 
difundida é forensic document examiner ou, simplesmente, FDE. Nos países de língua 
espanhola são utilizados termos como perito en documentología e perito grafocrítico ou 
perito calígrafo, nos casos de especialistas em grafoscopia (para este caso, há o termo em 
inglês forensic handwriting examiner, FHE). 
Segundo a ASTM (AMERICAN, 2009), o perito em documentos faz exames 
científicos, comparações e análises de documentos visando: 
• Estabelecer a autenticidade ou inautenticidade, ou de determinar a contrafação e revelar 
alterações; 
• Identificar ou eliminar pessoas como fonte de manuscritos; 
• Identificar ou eliminar fontes de impressos em máquinas de escrever ou outras impressões 
ou marcas; 
• Escrever relatórios e prestar testemunho, quando necessário, para auxiliar os usuários dos 
serviços periciais a entender o exposto pelo examinador. 
De acordo ainda com o SWGDOC, outra atribuição do perito seria a de manter 
ou restaurar a legibilidade do documento. 
Há diversas associações e sociedades internacionais que reúnem peritos em 
documentos que atuam tanto na esfera cível quanto penal. Exemplos delas são: a American 
Society of Questioned Document Examiners (ASQDE), a Association of Forensic Document 
Examiners (AFDE), o American Board of Forensic Document Examiners (ABFDE), nos 
Estados Unidos; a Australasian Society of Forensic Document Examiners Inc.(ASFDE Inc.) 
na região da Ásia e Oceania; a Sociedad Internacional de Peritos en 
Documentoscopía(SIPDO), na região da América Latina; e o European Document Experts 
Working Group (EDEWG) e o European Network of Forensic Handwriting Experts 
(ENFHEX) na Europa. Não há nenhuma exclusivamente brasileira, ou aqui baseada. 
45 
 
 
 
Em termos de associações de peritos de forma geral ou de Ciências Forenses, 
foram aqui fundadas, em 2013, a Sociedade Brasileira de Ciências Forenses (SBCF) e a 
Academia Brasileira de Ciências Forenses (ABCF), a exemplo de outras entidade 
internacionais já bem consagradas, como a Academia Iberoamericana de Criminalística y 
Estudios Forenses (AICEF), a Australian and New Zealand Forensic Science Society 
(ANZFSS), a Australian Academy of Forensic Sciences (AAFS), a Forensic Science Society 
of the United Kingdom (FSS), a American Academy of Forensic Sciences, a Canadian Society 
of Forensic Science (CSFS) e a European Association of Forensic Sciences (EAFS). 
Os laboratórios de análises forenses podem ser acreditados segundo a norma 
ISO/IEC 17.025/2005 (General requirements for the Competence of Testing and Calibration 
Laboratories) e a ILAC-Guide 19/2002 (Guidelines for Forensic Science Laboratories), 
editada pela ILAC (International Laboratory Accreditation Cooperation). Outra forma de 
certificação são os testes colaborativos interlaboratoriais, onde diferentes laboratórios de 
análise preparam o material a ser testado e o trocam entre si. Há algumas instituições que 
certificam os laboratórios quanto à conformidade com relação às normas como, por exemplo, 
a American Society of Crime Laboratory Directors/Laboratory Accreditation Board 
(ASCLD/LAB), dos Estados Unidos. Com relação aos testes colaborativos existem outras 
instituições avaliadoras9, como o Collaborative Testing Services Inc. (CTS) e a European 
Network of Forensic Sciences Institutes (ENFSI). 
Assim como os laboratórios, também os peritos podem ser certificados. Em 
alguns países, inclusive, a certificação é um pré-requisito essencial para a atuação do perito, 
como os Estados Unidos. Há também algumas instituições que aplicam os testes de 
proficiência, como a European Network of Forensic Sciences Institutes (ENFSI) da Europa, o 
Skill-Task Training Assessment & Research Inc. (ST2AR) dos Estados Unidos e o Forensic 
Expertise Profiling Laboratory (FELP) da Universidade de La Trobe na Austrália. 
De acordo com a Lei nº 9.266/1996, artigo 2º, “o ingresso nos cargos da 
Carreira Policial Federal far-se-á mediante concurso público, exigido o curso superior 
completo, em nível de graduação”. Dessa forma, o perito documentoscópico da PF é um 
Perito Criminal Federal aprovado via concurso público em uma das dezoito áreas de

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