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Prévia do material em texto

Brasília-DF. 
TransTornos do EspEcTro auTisTa 
 – TEa – dsm5
Elaboração
Luciana Raposo dos Santos Fernandes
Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
Sumário
APrESEntAção ................................................................................................................................. 4
orgAnizAção do CAdErno dE EStudoS E PESquiSA .................................................................... 5
introdução.................................................................................................................................... 7
unidAdE i
O que é O DSM? ................................................................................................................................ 13
CAPítulo 1
COntextO hiStóriCO DO DSM: neCeSSiDaDe De ClaSSifiCaçãO DO Diferente ............... 15
unidAdE ii
aS eDiçõeS DO DSM: pré-CategOrizaçãO DO autiSMO ................................................................. 25
CAPítulo 1
a inSerçãO DO autiSMO nO quaDrO De tranStOrnOS MentaiS DO DSM ........................ 27
unidAdE iii
CritériOS DiagnóStiCOS .................................................................................................................. 40
CAPítulo 1
DeSenvOlviMentO e CurSO ................................................................................................. 43
unidAdE iv
hipóteSeS DeSenCaDeaDOraS DO autiSMO ..................................................................................... 54
CAPítulo 1
etiOlOgia: pOSSíveiS CauSaS ............................................................................................... 54
unidAdE v
DiagnóStiCO DiferenCial ................................................................................................................ 62
CAPítulo 1
COnDiçõeS ClíniCaS aSSOCiaDaS aO tea ......................................................................... 62
PArA (não) FinAlizAr ..................................................................................................................... 71
rEFErênCiAS .................................................................................................................................. 81
4
Apresentação
Caro aluno
A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se 
entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. 
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela 
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da 
Educação a Distância – EaD.
Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade 
dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos 
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém 
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a 
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.
Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo 
a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na 
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.
Conselho Editorial
5
organização do Caderno 
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em 
capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos 
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar 
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para 
aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.
A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos 
Cadernos de Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes 
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor 
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita 
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante 
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As 
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Sugestão de estudo complementar
Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, 
discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.
Atenção
Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a 
síntese/conclusão do assunto abordado.
6
Saiba mais
Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões 
sobre o assunto abordado.
Sintetizando
Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o 
entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.
Para (não) finalizar
Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem 
ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.
7
introdução
O Autismo é um tipo de distúrbio muito interessante. Quando falamos em Autismo, 
ainda esbarramos em muito desconhecimento e presunções acerca das pessoas que 
possuem essa condição.
Desse modo, é muito comum ouvirmos alguém se referir à pessoa com autismo como: 
“Ah sim. Autista! É aquela pessoa que fica na dela, quieta e não se comunica com os 
outros”.
figura 1.
fonte: <http://www.sare.com.br/espaco-crianca/estereotipia-como-lidar-com-comportamento-repetitivo-dos-autistas>. acesso 
30/10/2017.
Destarte, a ideia que se faz do Autismo é muito voltada para o senso comum, ou seja, 
poucos dados científicos. Vocês poderiam pensar, mas a população não tem a obrigação 
de entender todos os aspectos do Autismo e saber os termos técnicos ou dados 
estatísticos. Essa visão poderia proceder, caso o Autismo fosse uma condição rara.
Entretanto, pelo Censo de 2010, o Brasil possuía, na época, dois milhões de pessoas 
com Autismo. 
Hoje, esse número, com certeza, aumentou. 
Quantas pessoas atualmente? Não é possível precisar. 
E não que seja impossível. Pelo contrário. Uma coleta de dados articulada pelos setores 
públicos e privados, com planejamento nos equipamentos de atenção à saúde mental e 
com campanhas na mídia seria uma ferramenta de conscientização.
8
Através de atitudes, como essas poucas que mencionamos acima, já haveria uma 
mobilização das famílias, escolas, profissionais e da sociedade como um todo para 
entender o Autismo e desenvolver estratégias para lidar com essa questão de saúde 
pública.
Muitos alegam que o Autismo sofreu um ‘boom’. Isso mesmo, uma explosão! Todos se 
voltaram para o tema. 
Isso faz parecer que o Autismo não existia até então. Ou pior, que as pessoas estão 
sendo levadas por uma onda de “a nova síndroma do momento”. 
Para rebatermos tais alegações infundadas, vamos nos reportar a uma fala semelhante 
utilizada para se referir ao Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, mais 
conhecido como TDAH. Houve uma visão equivocada que gerou boatos a respeito 
de uma suposta ‘moda’ ou ‘onda’ em se diagnosticar crianças e adultos com TDAH, 
para impulsionar a venda de Ritalina. Pasmem, mas tal alusão foi feita e refeita. Não 
entraremos no escopo dessa celeuma. Serve-nos, apenas, para clarificar como podem 
ocorrer distorções. 
O TDAH é uma condição que traz grande sofrimento ao longo do seu desenvolvimento, 
acarretando grandes dificuldades – caso não diagnosticado precocemente e tratado – 
aos adultos.
Então, não se trata de modismo. Essas e outras discussões fazem parte da classificação 
dos transtornos e ao longo do tempo, por meio dos avanços da ciência vamos tendo 
maior suporte e informações vão sendo agregadas e outras caem por terra. São anos de 
pesquisas, hipóteses, estudos de casos etc. Esse fato deveria ser comemorado: pois é a 
Evolução.
Destarte, a menção de que há umafala mais presente sobre o Autismo recaí sobre duas 
vertentes: a primeira sobre a visão errônea de ser um modismo e a segunda reflete a 
realidade. Sim! Estamos atentos e falando sobre Autismo. 
O motivo dessa busca sobre o Autismo é, exatamente, um dos pontos chave para a 
criação da Especialização a qual vocês estão fazendo.
De modo, que é importante sinalizar a necessidade de conhecimento concreto 
sobre essa temática no Brasil. Estamos descortinando e pesquisando uma condição 
neurobiológica, que já vem sendo estuda, abordada e avaliada há anos, em países como: 
Holanda, Estados Unidos, Canadá, Suécia. 
9
Existem grandes especialistas brasileiros – em diversas áreas do conhecimento – 
com trabalhos de extrema competência acerca do Autismo. Muitos, por sinal, foram 
convidados para desenvolver suas pesquisas, estudos ou assumir a cátedra em Centros 
Acadêmicos ao redor do mundo. Quando há uma oportunidade em suas agendas, eles 
retornam ao Brasil para participação em Congressos, Seminários e Conferências.
Diante disso, gostaríamos de frisar que: chamar a apresentação ou exposição do termo 
Autismo de “um modismo” é um desconhecimento gritante acerca dessa condição, 
bem como um desrespeito às pessoas com autismo, seus familiares e aos inúmeros 
profissionais e instituições que lidam cotidianamente com os novos diagnósticos que 
surgem, cada dia. Vemos que com maior regularidade nascem, crescem e envelhecem 
pessoas com Autismo.
Citar o termo modismo, remete a um ideário (pré)concebido e (pré)conceituoso acerca 
da construção de um ganho monetário sobre a diversidade neurológica. Fazendo 
parecer que é algo a ser explorado financeiramente e não pesquisado. Não existe essa 
questão de modismo, o que há são pessoas – quer sejam profissionais ou pais – que 
buscam informações embasadas em fatos concretos – cientificamente comprovados ou 
em vias de serem comprovados, pois a cada dia há uma descoberta sobre a condição.
De modo que, ir ao encontro de informações de cunho acadêmico, como a Pós Graduação 
que vocês estão fazendo para compreender como se preparar para lidar com a demanda 
crescente do autismo, bem como entender os desmembramentos dessa condição de 
forma global – compreendendo não apenas a intervenção e as técnicas – mas, exercendo 
um olhar empático em relação ao mundo visto pela pessoa que possui o autismo é alvo 
de elogios e significa que o desejo de ir além, descobrir possibilidades e estabelecer 
estratégias com o real conhecimento dessa situação auxiliará no desempenho de cada 
um de vocês e dos seus atendidos e/ou familiares.
figura 2.
fonte: <https://fredywander.blogspot.com.br/2017/06/fonoaudiologia-e-autismo.html>. acesso 30/10/2017.
O Autismo é uma realidade. Ele está aqui e agora: nas salas de aula, nos parques, 
shoppings, faculdades, consultórios etc. Ou seja, está na vida e faz parte dela. Temos 
10
que, enquanto coletivo, buscar nos aprimorar ao acolhimento da demanda dessas 
pessoas. De modo, que a inserção na sociedade – a real inserção – deve ser colocada 
em prática, promovendo o bem-estar e a qualidade de vida da pessoa com autismo e de 
seus familiares.
A Lei existe. Aliás, não faltam Leis. Municípios, Estados e o País possuem legislação 
sobre o Autismo. Mas, se não tivermos o conhecimento dessas Leis, pouco profícua a 
existência destas será. 
Para dar vida à legislação, portanto, esta deve ser compreendida e, deste modo, 
reivindicada a prática dos atos nela facultados.
Choquem-se nesse momento: há Instituições de acolhimento voltadas às pessoas com 
necessidades educacionais especiais que desconhecem a Lei Federal 12.764, a chamada 
Lei Berenice Piana. É para se chocar? Deixo essa pergunta a vocês.
De modo que, o Autismo não é uma condição rara, longe disso.
Na atualidade é um distúrbio bastante comum. Ao passo que na década de 80, uma em 
cada 500 crianças era diagnosticada com Autismo. 
Hoje...
A Organização das Nações Unidas (ONU) indica que, uma criança em cada 68 é 
diagnosticada com Autismo. Esse aumento no número de casos fez a ONU entender e 
comunicar que o Autismo é uma questão de saúde pública mundial. 
Vamos iniciar uma disciplina que aborda o campo da Psicopatologia especificamente 
relacionada ao Autismo, através da utilização do DSM 5 – Manual de referência para o 
diagnóstico dos Transtornos Mentais.
Há uma confusão generalizada estabelecida em torno do Autismo e que se deve, em 
grande parte, ao chamado Espectro do Autismo. O Espectro do Autismo envolve 
situações e apresentações que são muito diferentes umas das outras. 
Ou seja, existem crianças com autismo que não falam, às vezes chegam a falar algumas 
palavras e param subitamente. 
Exemplificando: a criança fala palavras como mamãe, papai... Contudo, quando vai 
chegando aos 2/3 anos, de repente, parece que se fecham num mundo particular e 
“esquecem” ou param de falar, desenvolvendo paralelamente um comportamento 
11
completamente diferente daquele apresentado pelas outras crianças com idade 
semelhante. Há o surgimento de movimentos repetitivos, por exemplo, andam de um 
lado para o outro, olhando para a parede. 
Surgem as características peculiares do autismo.
Enfim, situações que vamos conhecer mais profundamente ao longo de nosso Caderno 
de Estudos e Pesquisas. Para tanto, nosso material fundamental será o DSM – 5, 
versão atual, do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, criado e 
elaborado pela APA – Associação de Psiquiatria Americana – que é uma referência aos 
profissionais que lidam com a Saúde Mental. 
Nossa disciplina tem como intenção trazer a nova configuração do Autismo mediante a 
edição atualizada do DSM – 5, desse modo, o termo adotado desse momento em diante 
será o Transtorno do Espectro Autista ou simplesmente a sigla TEA. 
A confecção e divisão de nosso material didático contempla a sequência de fatos que 
culminam com a compreensão do quadro sintomatológico, bem como o prognóstico, 
as comorbidades, dentre outros aspectos. Fornecendo uma visão ampla e detalhada de 
nossa disciplina.
Para uma compreensão efetiva do Transtorno do Espectro Autista e o DSM – 5, nosso 
material foi dividido em 06 (seis) unidades. Contaremos com tarefas interativas, além 
dos vídeos presentes em nosso Ambiente Virtual – AVA.
Este Caderno de Estudos e Pesquisa tem por objetivo principal fornecer aos nossos 
alunos informações acerca do TEA com o compromisso de orientar, clarificar e 
aprimorar o conhecimento dessa condição neurobiológica e o atendimento à demanda. 
Tanto aos profissionais que já possuem experiência e buscam a Especialização, assim 
como aos que estão iniciando sua caminhada, bem como aos pais e/ou responsáveis 
que lidam com a questão em seu dia a dia. 
Sendo uma Pós-Graduação lato sensu interdisciplinar, buscamos contemplar todas as 
áreas de atuação de nossos alunos por meio do maior número de informação e interação 
possíveis.
O conhecimento científico alicerçado no afeto conduz a estratégias e intervenções que 
dignificam o tratamento, convívio e acolhimento da pessoa com autismo.
Deste modo, bem-vindos a nossa disciplina!
12
objetivos
 » Ampliar o entendimento acerca da história dos transtornos mentais.
 » Conhecer o contexto sócio cultural que fomentou a criação do DSM.
 » Apresentar a entrada do autismo no DSM.
 » Entender as diferenças fundamentais da versão DSM IV para a versão do 
DSM V.
 » Aprofundar o conhecimento sobre o DSM – 5.
 » Compreender a importância da versão atual do DSM – 5 para o TEA.
 » Operacionalizar os critérios diagnósticos para o TEA à luz do DSM -5.
 » Identificar os quadros associados ao TEA.
13
unidAdE io quE é o dSM?
Vamos ter uma disciplina que abordará as mudanças que vêm ocorrendo em relação à 
psicopatologia. Além de refletirmos sobre as alterações que se prenunciam ao horizonte.
O primeiro ponto, para Delgado (1969), que deve ser comentado é o entendimento da 
psicopatologia como um campo específico do conhecimento. Ou seja, psico + pathos 
+ logos é igualao estudo do sofrimento psíquico. Nesse sentido, é uma área especial 
da psiquiatria – não apenas dela – entretanto, muito voltada para. E que envolve a 
definição e concepção do que seja uma doença mental, descrição desta, delimitação 
das categorias, montagem das classificações etc. Esse é um aspecto importante a ser 
observado, pois uma das questões expressivas no campo psicológico, psiquiátrico, 
social é impregnada pela presença das teorias, dos conceitos e da prática psiquiátrica.
figura 3.
fonte: <http://lounge.obviousmag.org/yo_hablo/2015/05/pessoas-com-problemas-2-annie-proulx.html>. acesso 30/10/2017.
Em cem anos, houve mudanças drásticas (positivas para alguns, desastrosas para 
outros) na visão da psicopatologia. 
Ao longo dos anos, para Davidoff (2003), diversas foram as formas desenvolvidas para 
diagnosticar a doença mental. Até então, não eram utilizados termos como diversidade 
neurológica. O diferente era automaticamente doente. Falar em psicopatologia nos 
remete ao diagnóstico. E como diagnosticar? Quais os parâmetros a serem seguidos? 
Como categorizar as doenças mentais?
14
UNIDADE I │ O qUE é O DSM
Questões que sempre estiveram presentes nos anseios do ser humano.
Para Entralgo (1954), a psicopatologia também diz respeito à vida cotidiana, no sentido 
de que todos nós cada vez mais absorvemos seus conceitos e palavras em nossas relações 
sociais. Nós usamos expressões para nos autodefinirmos, usamos para dar nome a 
certos sentimentos. Cada vez mais, recorremos ao vocabulário psiquiátrico. E isso não 
ocorre sem consequências. 
1. Mediante esta breve exposição, temos a inserção do Manual Diagnóstico 
e Estatístico de Transtornos Mentais (Diagnostic and Statistical Manual 
of Mental Disorders) ou DSM como ficou conhecido.
2. Para Garrison (1966), o DSM é um manual que discorre acerca das 
diversas categorias dos transtornos mentais e seus respectivos critérios 
diagnósticos, criado pela Associação Americana de Psiquiatria (American 
Psychiatric Association) ou APA – sendo uma referência para os 
profissionais da saúde mental. 
3. Segundo Drago (2013), o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos 
Mentais ou DSM é utilizado ao redor do mundo, não apenas pelos 
profissionais da área da saúde, quer sejam clínicos ou pesquisadores, 
mas também por parlamentos políticos companhias de seguro, indústria 
farmacêutica etc.
De certo modo, segundo Diepgen (1932), embora a Psicopatologia como disciplina, 
digamos assim, como parte do campo médico, pretenda muitas vezes se apresentar 
como uma atividade científica, ela não é. A Psicopatologia é uma atividade permanente 
– pelo menos nos últimos duzentos anos – desde que se criou a ideia de doença mental 
e, portanto, que se criou a Psiquiatria e tudo que gira em torno dela. Há um exercício 
constante de demarcação do que é a normalidade, do que é a diferença, mas ainda não 
patologia e do que é a diferença que se considera patológica. Esta última, portanto, 
sendo a que merece e que exige intervenção. 
15
CAPítulo 1
Contexto histórico do dSM: necessidade 
de classificação do diferente
Então, para Figueiredo (1995), de certa forma, a Psicopatologia é algo de que todos 
nós participamos como membros ativos da sociedade. Do momento que acionamos 
ou criticamos essas palavras que apontam, nomeiam, classificam – negativa ou 
positivamente – certas experiências psíquicas e certos comportamentos. 
O que faz com que uma experiência ou uma conduta que possamos apresentar seja 
considerada patológica não é alguma coisa que se decida cientificamente, no sentido de 
uma objetividade que não presta nenhum tributo à avaliação subjetiva.
Ou contrária, podemos dizer que o sofrimento psíquico é inerente à existência humana. 
Viver é sofrer, pois a vida implica frustrações, limites... E se há algo que nos diferencia 
dos demais animais é a consciência do sofrimento. Portanto, surgindo as interrogações 
sobre as causas e fomentando a construção de formas de ação complexas. 
Para Foucault (1977), a demarcação das fronteiras entre normalidade, diferença e 
patologia é um exercício constante de toda a sociedade. 
Mesmo estando incluída na Medicina, sendo uma de suas especialidades, podemos 
afirmar que a Psiquiatria tem uma história e características particulares. 
Vamos dissertar neste capítulo sobre o contexto histórico do Manual Diagnóstico e 
Estatístico de Transtornos Mentais – DSM. Não devemos pular etapas, haja vista a 
riqueza em se explorar esse Manual e compreender o seu surgimento e aplicabilidade.
Em nossa disciplina, o aluno terá uma visão ampla do Transtorno do Espectro Autista – 
TEA. Devemos nos reportar, sendo assim, de forma holística, humana, fenomenológica, 
antropológica e social a esse devir da ação. 
De modo que entendemos que o TEA, ou melhor, as pessoas com TEA necessitam ser 
olhadas, percebidas e acolhidas para além do quadro sintomatológico. 
Há necessidade de compreensão do olhar humano para o diferente. Apenas dessa 
forma vamos construir uma visão genuína acerca do DSM e paralelamente do TEA. 
Pois vamos refletir sobre a história, a pertinência, a necessidade de categorização. 
Categorização esta que emerge desde sempre na história da civilização como uma 
obsessão do ser humano.
16
UNIDADE I │ O qUE é O DSM
Nesse contexto, segundo Rappaport (1959) e Trinca (1984), desde os tempos primitivos 
se observa entre os seres humanos a preocupação de fazer observações cada vez mais 
acuradas do mundo ao redor. A partir da compreensível necessidade de se estimar 
a duração dos dias e das noites e a sucessão das estações, foram se desenvolvendo 
instrumentos de aferição do tempo. De igual modo, foram surgindo meios para medir 
distâncias, tamanhos capacidades e outros.
Ampulheta, bússola, relógio, microscópio, sextante, telescópio, termômetro são alguns 
dos instrumentos que apareceram e tornaram possível a mensuração objetiva da 
magnitude dos fenômenos naturais. 
figura 4.
fonte: <https://universoderaulseixas.wordpress.com/2014/07/12/areia-da-ampulheta/>. acesso 30/10/2017.
Entretanto, de acordo com Antunes (2004) e Foddy (2002), só a partir do século 19 
é que o ser humano se voltou para si próprio com o mesmo objetivo. O caminho da 
Psicologia e à medida que esta se tornava progressivamente mais científica, mostrou 
no início do século passado um grande desenvolvimento nas medidas de funções na 
fronteira entre as ciências físicas e a própria Psicologia.
Segundo Mora (1997), a Psicofísica veio a construir através dos trabalhos de Fechner 
e Weber, em 1889, uma das maiores influências no desenvolvimento das medidas 
em Psicologia. Por Psicofísica entende-se o estudo preciso e quantitativo de como o 
julgamento humano é processado. O interessante é que a visão da Psicofísica começa 
de uma forma romanceada e edílica da avaliação psicológica: a necessidade humana de 
medir, de aferir. Podemos constatar essa afirmação por meio do estudo da História da 
Civilização e das formas como diferentes povos construíam instrumentos para medir os 
dias, calendários, relógios baseados na posição do Sol. 
Esses instrumentos, de acordo com Figueiredo (1991), advinham de uma necessidade 
do homem em controlar alguns desses fenômenos. Exemplificando: ter uma previsão 
sobre os períodos da cheia dos rios pode auxiliar no plantio, evitar inundações e assim 
sucessivamente.
17
O que é O DSM │ uNIDADe I
Só que essa mesma visão em quantificar o comportamento humano, segundo Hutz 
(2013), veio surgir por meio de uma escola dentro da Psicologia chamada psicofísica, 
na segunda metade do século 19. Foi a partir daí que o homem começou a ter interesse 
em medir a si próprio e isso tem tudo a ver com a Psicometria.
Segundo Figueiredo (1995), a Psicometria tem como preocupação a medição do 
comportamento. Então, se por milhares de anos o homem teve uma preocupação em 
medir e compreender os fenômenos da natureza, somente a partir do século 19 é que 
essa medição voltou – essa observação mais objetiva – para o própriohomem. Por que 
isso aconteceu?
Algumas condições foram dadas: técnicas e intelectuais, mentais, culturais que 
propiciaram esse interesse. 
Então, de acordo com Bleger (1980) e Golder (2000), temos aqui duas perspectivas 
diferentes para responder quando surgiram as avaliações psicológicas. Ou, quais foram 
as influências que nortearam as avaliações psicológicas tal como nós conhecemos hoje. 
Se de um lado, nós temos uma visão mais naturalista que nos conduz à curiosidade 
do próprio homem em observar os fenômenos da natureza, de tentar entender tais 
fenômenos e quantificá-los – como citamos acima: tempo, chuva, calendário etc. Existe 
a vertente reflexiva que aborda uma origem dentro da Filosofia, da cultura clássica 
através de pensadores como Aristóteles e Platão que tentaram descrever e compreender 
‘quem é o homem?’ 
figura 5.
fonte: <http://todossomosuno.com.mx/portal/index.php/autismo-que-pasa-en-el-cerebro/>. acesso 20/10/2017.
Para Cruz et al. (2002), entender o motivo do homem se comportar. Essa foi a ideia 
principal que regeu, e ainda rege, a história acerca do surgimento das avaliações 
psicológicas. De acordo com Benevides de Barros e Passos (2004), concluímos, pois, 
que através do surgimento da psicofísica se mostrou possível o estudo científico das 
relações entre os processos físicos e mentais. Deste modo, a psicofísica teve um grande 
impacto para a Psicologia, pois foi desenvolvida uma teoria exata demonstrando ser 
possível medir os fenômenos mentais.
18
UNIDADE I │ O qUE é O DSM
Fato curioso a ser ressaltado, na visão de Cunha (1993), é que o filósofo alemão 
Immanuel Kant afirmava com total convicção que a Psicologia jamais poderia ser 
considerada uma ciência, justamente por considerar impossível mensurar ou realizar 
experimentos que avaliassem com exatidão os processos psicológicos. Nesse aspecto 
Kant estava equivocado.
Foi com base nos estudos de Fechner que Wilhelm Wundt desenvolveu a Teoria da 
Psicologia Experimental. 
No Brasil, de acordo com Moura (1997), a avaliação psicológica começou a ser praticada 
mais sistematicamente nas décadas de 50 e 60, porém, já na década de 20 foram 
realizados trabalhos acadêmicos e criados institutos para a realização de processos de 
avaliação.
As décadas de 80 e 90 foram extremamente promissoras para a avaliação psicológica 
no âmbito da área de atuação clínica.
Ao ver estabelecidas as categorizações e parâmetros para a testagem psicológica, 
podemos também entender que não há possibilidade de se estabelecer uma relação de 
poder sem um polo de resistência. O poder, assim como descrito por Foucault (2014), 
não é uma coisa que alguém tem e outro não tem. Alguém pode tomar de quem tem. 
O poder não é uma substância. O poder é algo que se exerce, que produz efeitos. Então, 
nós só podemos identificar uma relação de poder onde há dois polos: o de dominante e 
o de dominado. E sobretudo, onde existe resistência. Quer dizer, para que o dominante 
permaneça dominante ele precisa do dominado. O dominado tem que permanecer 
dominado.
O poder dentro das relações sociais nos traz uma seriedade, uma complexidade, pois é 
graças a ele que estudamos as relações sociais. Vamos pensar juntos: 
 » Quem exerce poder dentro da sua casa? 
 » Quem é o personagem do seu trabalho que mais detém poder?
 » Você exerce algum tipo de poder sobre alguém?
Todas essas perguntas possuem um elemento em comum. Já observaram que toda vez 
que falamos a palavra poder ela está associada à palavra força.
Ou seja, o importante é percebermos que a palavra poder e a palavra força estabelecem 
uma relação extremamente importante dentro das relações sociais, a questão é que não 
existe aqui uma necessidade de que essas palavras estejam sempre associadas. Pois, às 
vezes, o poder estabelece uma força que obrigatoriamente não é coercitiva. 
19
O que é O DSM │ uNIDADe I
A dinâmica do poder dentro da sociedade e das nossas relações do dia a dia, para 
Foucault, não se estabelece apenas como um mecanismo de força. Ou seja, de uma 
macroestrutura para uma microestrutura. Desse modo, o poder não vem de cima para 
baixo e sim nas microrrelações de poder que permeiam toda a sociedade – indo desde 
a família, ao trabalho, a igreja, as faculdades, enfim em qualquer lugar que estivermos 
haverá uma relação de poder. 
Dentro das instituições como prisões o poder não é mascarado, sendo possível 
reconhecer todos os mecanismos que ali existem. Exatamente por isso, Foucault realizou 
seus estudos em diversas prisões. E se interessou pelo modelo desenvolvido por Jeremy 
Bentham, o chamado pan-óptico ou modelo de prisão circular, no qual as celas estão 
dispostas ao redor e no centro dessa prisão há uma torre. Os cárceres que ali estão 
não conseguem ver a pessoa que está na torre e por esse motivo são constantemente 
vigiados. Quem está dentro da torre não consegue ser visto por quem está na cela. Por 
este motivo pode vigiar constantemente. 
figura 6. Michel foucault.
fonte: <http://obviousmag.org/genialmente_louco/2016/foucault-a-pena-como-manutencao-do-estado.html>. acesso 
21/10/2017.
Vindo de uma família de médicos, Foucault atentou com sensibilidade para os excluídos. 
E além de observar as relações de poder também se dedicou aos estudos sobre a 
loucura. Foucault é uma figura, como já expressamos, fundamental ao entendimento 
das relações sociais, não apenas no contexto filosófico, como também psicológico. 
Já que Foucault tinha formação em Psicologia. 
A loucura vista tanto por um ponto de vista histórico, psicológico quanto por um ponto 
de vista filosófico, mesmo ele nunca tendo se autodefinido como filósofo. 
O que Foucault mostra em sua obra “A História da Loucura” é que esta não é um dado 
biológico exato, a loucura seria mais um fato da cultura. Se cada época tem uma visão 
do que é o homem normal e do que é o homem louco, a ação dos médicos sobre os 
20
UNIDADE I │ O qUE é O DSM
doentes tem relação com seu conhecimento, mas também com seu contexto cultural. 
Afinal, se eu como médico vou trazer uma pessoa ao normal isso depende do que eu 
(como profissional) em minha época entendo por normal.
E o que Foucault faz com toda sabedoria é mostrar que em cada época há uma visão da 
normalidade.
Por exemplo, nos tempos medievais muitas das pessoas que classificaríamos 
como loucas, sendo direcionadas a uma intervenção, eram líderes messiânicos que 
comandavam multidões. 
Os que hoje chamaríamos de loucos, muitas vezes vagavam pelas ruas na Rússia até o 
século 19, eram exóticos, místicos ou exotéricos com um conhecimento diferente dos 
demais.
Bem, a diferença entre o homem racional e o homem louco começa a ganhar forma no 
Renascimento. Mas, ainda nesse período, não há uma visão clara da loucura: se deveria 
ser excluída ou não. Pairava uma névoa sobre essa questão.
figura 7. a nau dos insanos de Bosch.
fonte: <http://obviousmag.org/superantropia/2015/a-nau-dos-insensatos-uma-alegoria-cada-vez-mais-familiar.html>. acesso 
2110/2017 .
Não há possibilidade de estabelecer uma visão ao DSM sem contemplar a visão de 
Michel Foucault. Este intelectual exerceu uma ação e grande influência em vários ramos 
21
O que é O DSM │ uNIDADe I
do saber e do conhecimento, tais como: Filosofia, Psiquiatria, Psicologia, História, 
Sociologia, Antropologia, Artes, Cultura, na Política. 
Com uma trajetória brilhante como professor e atuação militante política 
extraordinariamente expressiva. Foucault foi uma das cabeças mais lúcidas que o 
século passado produziu. 
Uma das obras de Foucault imediatamente atreladas à Psiquiatria, até por conta do 
título, é A História da Loucura (1972), onde é abordado o tema da loucura do período 
renascentista até a modernidade. Obviamente, não dissertaremos aqui acerca deste 
amplo conteúdo. Mas, recomendamos a leitura deste para a compreensão do processo 
de apartação, separação e discriminação que confinou a pessoa cunhada como o louco 
– e, portanto, o diferente – culminando em sua exclusão dasociedade. 
Assim como expresso na obra de Foucault, a loucura não é exatamente algo ruim, 
durante o período renascentista, sendo vista inclusive como uma das formas da razão. 
Erasmo de Roterdã é um exemplo dessa visão com sua obra magna intitulada Elogio da 
Loucura que data de 1509, na qual a loucura é descrita a princípio com tom de sátira, 
para depois emergir em tons mais sombrios.
A título de embasamento histórico, podemos ressaltar que, na antiguidade, a loucura 
era vista como algo canhestro, hoje é fonte para muitos estudos acerca de casos. 
O que é a loucura? É a doença mental, é a ruptura com a realidade. Todas as vezes que se 
rompe com a realidade e se vive a ruptura como se fosse a própria realidade, nos conduz 
provavelmente à hipótese de que a pessoa se encontra num estado de doença mental.
Mas, no passado, como supracitado, a loucura era entendida como possessão demoníaca. 
figura 8.
fonte: <https://br.pinterest.com/pin/327144360415380383/>. acesso 21/10/2017.
22
UNIDADE I │ O qUE é O DSM
De acordo com Foucault (2005), o interessante é que um dos nomes que permanecem 
até hoje como sinônimo de doença mental, vindo desde o passado, é exatamente o de 
possessão demoníaca. Qual seja, epi é ‘o que está acima’ e lepsis ‘abater’, epilepsia 
quer dizer ‘abater por cima’. Pois os antigos entendiam que o diabo vinha e abatia o 
indivíduo que possesso ficava se sacudindo no chão. Logicamente, epilepsia não é uma 
possessão, e muito menos pode ser associada à loucura. Entretanto, os “conceitos” de 
“sintomatologia” à época eram confusos, imersos em crenças e misticismo. Preferimos 
então dizer que eram inexistentes. 
figura 9.
fonte: <https://aufklarungsofia.wordpress.com/2011/03/10/a-loucura-e-o-cogito-de-descartes-um-dialogo-entre-derrida-e-
foucault/>. acesso 21/10/2017.
No entanto, de acordo com Mori (2012) e Stone (1999), essa visão dá o tom de muito do 
que ficou na história da humanidade acerca dos transtornos mentais e que precisam ser 
elucidados. Ora, o quadro em que o sujeito era tomado por uma força negativa que se 
apoderava dele e começava a alterar as ideias desse sujeito, falando coisas que ninguém 
entendia (ideias delirantes), vendo coisas que mais ninguém via (alucinações visuais), 
era então, uma possessão demoníaca parcial que hoje coincide com as psicoses. 
No século XVI, para Schneider (2009), mais precisamente em 1563, foi escrito o livro 
holandês Van de demon illusie (Da ilusão do demônio, em português), essa obra 
mostrava que a – até então – considerada possessão, não era uma possessão demoníaca. 
Entretanto, também não disse o que era. Deste modo, os doentes mentais melhor sorte 
também não tiveram. No passado, ninguém queria ficar exposto ao contato com mal 
corporificado, desta feita, os chamados possessos pelo mal eram escorraçados para 
fora dos muros das cidades ou colocavam-nos em navios – as chamadas ‘stultiferas 
navis’ – e os desembarcavam em ilhas. 
23
O que é O DSM │ uNIDADe I
figura 10. 
fonte: <http://psique2010.blogspot.com.br/2010/08/stultifera-navis.html>. acesso 21/10/2017.
Quando começou essa concepção de que não era mais possessão demoníaca – 
entretanto, sendo o doente mental uma pessoa que não servia como força de trabalho e 
com uma personalidade insubordinada – foram trancafiados em casas de internamento 
junto com prostitutas, doentes venéreos, criminosos etc.
No século XVIII para XIX, de acordo com Stone (1999), essa concepção equivocada 
sofre mudanças expressivas, na época da Revolução Francesa com o médico 
Philippe Pinel. 
De modo mais generalista, há o consenso na comunidade científica de que o marco 
inicial da psiquiatria ocorreu com o médico Philippe Pinel, na França, no final do século 
18. Mais precisamente, no ano de 1792, quando Pinel ocupava o cargo de Chefe da 
Instituição asilar conhecida como o Asilo para Homens de Bicetrê, em Paris. Muitos 
historiadores consideram este momento como sendo a primeira reforma psiquiátrica. 
Pois, Pinel desenvolveu um modo diferente de tratamento dos pacientes.
Pinel nunca mais vai misturar o louco com – vamos assim chamar – essas outras 
figuras da miséria. Assim, ele liberta os doentes mentais para que fossem tratados de 
acordo com o quadro de especificidade que sua doença necessitava. A figura de Pinel foi 
cunhada de forma tão emblemática na história da Psiquiatria que, para a voz do senso 
comum, – e ainda é - chamar uma pessoa com transtornos mentais de ‘Pinel’ era como 
um sinônimo de loucura, um lugar de reconhecimento da falta do juízo são.
Segundo Davidoff (2003), Pinel foi um dos grandes mestres do passado. Dentre 
as pessoas libertas estavam pessoas trancafiadas há 40 anos, tais como: padre que 
acreditava e vivia como se fosse o próprio Cristo; alcoolistas crônicos, dentre outros. 
Sendo libertas ao todo 80 pessoas.
24
UNIDADE I │ O qUE é O DSM
Na época de Pinel, embora tais pessoas já estivessem apartadas das outras com condições 
totalmente diversas, o tratamento também não existia. Ou seja, de choques elétricos 
para estimulação sensorial a ameaça de serem jogadas em um covil cheio de cobras – 
tudo era considerado “tratamento”. Os mais diversos tipos de aparatos de tortura eram 
usados (embora à época não fossem vistos como), tais como cadeiras giratórias com 
o objetivo de convulsionar o paciente; o uso de água morna, fria, quente; injeções de 
leite... Enfim, todas as formas de experiências eram utilizadas e alçadas à categoria de 
tratamento para os transtornos mentais.
figura 11.
fonte: <http://levianafilosofia.blogspot.com.br/2015/09/breve-historia-da-loucura.html>. acesso 21/10/2017.
A situação foi caminhando de forma nada ortodoxa, até a chegada da década de 50. 
E com ela a descoberta do primeiro fármaco, demonstrando ser uma grande revolução 
e conferindo um bem-estar ao paciente. Que nas décadas subsequentes proliferaram. 
Marcando outra fase da história dos transtornos mentais: a medicalização.
A década de 50 pareceu, enfim, colaborar com o esclarecimento dos quadros de saúde 
mental. Floresceram meios para entender a constituição dos Transtornos Mentais e o 
mais importante agora com referências estatísticas. 
Nesse cenário surge, pois, o DSM ou Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos 
Mentais, criado e elaborado pela APA (Associação de Psiquiatria Americana) como uma 
fonte de referência para os profissionais de saúde mental. 
25
unidAdE ii
AS EdiçõES do dSM: 
Pré-CAtEgorizAção 
do AutiSMo
Foi na década de 50, precisamente em 1952, que foi criado o DSM I, contendo 
aproximadamente 132 laudas e com 106 categorias diagnósticas. Dentre essas 106 
categorias, podemos assinalar que 44 continham a palavra reação, demonstrando um 
emprego do termo em 40% do texto. Exemplificando: 000-x20 Reações Esquizofrénicas; 
000-x10 Reações afetivas, dentre outras. De modo geral, visou sistematizar e organizar 
os transtornos mentais existentes desde 1840. 
De acordo com Gaines (1992), a repetição do termo reação tantas vezes ao longo 
do texto do DSM I representa a visão de Adolf Meyer acerca da psiquiatria daquela 
época – aqui podemos confirmar o pensamento de Foucault – ou seja, os transtornos 
e doenças mentais na época da publicação do DSM I eram interpretados como 
reações desencadeadas mediante determinadas circunstâncias catastróficas ou 
dificuldades situacionais às quais os indivíduos reagiam. De modo que não perfazia 
ainda a constituição de uma doença mental como diagnóstico com caráter biológico. 
A condição da doença mental era vista mais como passageira e desencadeada por 
reações a determinadas condições que eram impingidas à pessoa. 
figura 12. DSM i.
fonte: <https://www.vladman.net/blog/evolu%C3%a7%C3%a3o-do-dsm-o-dicion%C3%a1rio-da-sa%C3%Bade-mental>. 
acesso 24/10/2017.
O DSM I tem como outra característica importante a influência da abordagem 
psicanalítica freudiana. Especialmente ao retratar os mecanismos de defesa e as 
neuroses. Na primeira edição do DSM, o autismo não era visto como um diagnóstico26
UNIDADE II │ As EDIçõEs Do DsM: pré-cAtEgorIzAção Do AUtIsMo
separado, desta feita, os sintomas autísticos eram classificados como esquizofrenia 
infantil. 
No ano de 1968, foi lançado o DSM II contendo 182 transtornos mentais, com 76 
categorias diagnósticas a mais que a primeira edição. Esta edição ainda não contempla 
o autismo em uma categoria, permanecendo em subcategoria. A palavra reação foi 
eliminada por remetia ao fator de causalidade. Embora tenha havido mudança em 
relação à primeira edição, esta ainda não se referia ao autismo.
figura 13. DSM ii.
fonte: <https://www.vladman.net/blog/evolu%C3%a7%C3%a3o-do-dsm-o-dicion%C3%a1rio-da-sa%C3%Bade-mental>. 
acesso 24/10/2017.
À época das edições do DSM I e II, a ideia de que o autismo seria uma forma de 
esquizofrenia ainda persistia.
Hoje, podem parecer claras a todos nós as diferenças, entretanto, na época não era! 
O autismo ficou por longos anos, mais precisamente desde 1911 (vamos utilizar esta 
dada como referência, mesmo sabendo dos relatos de crianças incomuns ao longo da 
história da civilização – como bem assinalamos em nossos outros Cadernos de Estudos 
e Pesquisas). Contudo, para o bem da delimitação de uma zona temporal, vamos utilizar 
o ano em que o psiquiatra suíço Eugen Bleuler (1857-1939) usa pela primeira vez o 
termo Autismo em um artigo científico.
Devemos ressaltar que o termo foi utilizado por Bleuler em 1908, entretanto, o ano é 
reconhecidamente 1911, devido à publicação de seu trabalho. Destarte, que o ano não 
altera o fato de que Bleuler também não considerava o autismo como é entendido hoje. 
E, de acordo com a visão de Foucault, pode não ser entendido futuramente. Ou seja, 
Bleuler utiliza o termo autismo para definir pessoas com dificuldade de interação com 
outras pessoas e tendência ao isolamento. 
27
CAPítulo 1
A inserção do autismo no quadro de 
transtornos mentais do dSM
O DSM, até sua segunda edição, ainda não apresentava a classificação do Autismo 
em uma categoria isolada. Permanecendo a ideia de que o autismo era uma forma de 
esquizofrenia.
Ou seja, de acordo com Delgado(1969), Piéron (1977), Tuchman e Rapin (2009), as 
definições aceitas eram as baseadas nos conceitos de:
 » Autismo (Bleuler) – atitude mental peculiar aos esquizofrênicos, 
identificada por interiorização e um pensamento distante da realidade. 
 » Autismo infantil precoce (Kanner) – uma dificuldade ou 
impossibilidade congênita para entrar em contato emocional/afetivo 
com o ambiente, em especial com as pessoas.
Essa situação começará a ser delineada, na realidade, com os estudos do Professor de 
Psiquiatria Infantil e Chefe do Departamento de Psiquiatria Infantil e do Adolescente 
da Universidade de Londres, na Inglaterra. 
O Dr. Rutter, segundo Gauderer (1995), foi um dos grandes expoentes a ser citado na 
galeria de nomes que se dedicaram à pesquisa sobre o Autismo na Europa. Lançando 
vários artigos e participando de Congressos realizados pela National Autistic Society 
– NAS. A NAS fundada por Judith Gold e pela Dra. Lorna Wing – pesquisadora e mãe 
de uma criança com autismo – que fundou também o Centro Lorna Wing. Todas essas 
instituições tinham como objetivo o entendimento do autismo e o suporte às famílias. 
Porém, nem tudo eram flores no caminho do Autismo, bem como ainda não é assim 
até hoje. Na década de 80, apresentar como método de tratamento físico o ECT 
(eletrochoque ou eletroconvulsoterapia), não foi bem recebido pela comunidade 
científica, profissionais e familiares das pessoas com autismo. Sem contar que os 
resultados terapêuticos obtidos não demonstravam qualquer colaboração à melhora 
do quadro. Desta feita, a ideia desse tratamento foi abandonada. 
Devemos ao Dr. Michael Rutter a classificação do Autismo, fato que foi um marco para 
a compressão dessa condição mental. No ano de 1967, Michael Rutter aprofundou seus 
estudos sobre as manifestações da condição. Descrevendo quatro características: 
28
UNIDADE II │ As EDIçõEs Do DsM: pré-cAtEgorIzAção Do AUtIsMo
1. Falta de interesse social: esta característica é observada através 
de comportamento observado por Rutter, tais como o pouco contato 
visual (olho a olho; olhar nos olchos); expressão facial empobrecida; 
ligação afetiva distante com os pais e/ou responsáveis; atitude distante; 
ausência de interesse pela interação com as demais pessoas. Era notório 
o comportamento de esquiva ao receberem algum carinho ou toque físico 
dos pais – as crianças não gostavam desse contato; quando caiam ou se 
machucavam não choravam ou procuravam pelos pais, demonstrando 
não se incomodar com a dor; o brincar empobrecido; a inexistência 
do movimento para fazer amigos; não demonstravam emoções e nem 
empatia. Essa dificuldade em se relacionar com outras pessoas era, 
comumente, assinalada pelos pais: “não é como as outras crianças” 
ou “totalmente diferente dos irmãos”. A criança agia como se não 
apresentasse consciência da própria existência, de si mesma. O exemplo 
clássico era – e ainda é – a autoagressão, sem choro. 
2. Incapacidade para elaborar uma linguagem responsiva: a 
verbalização (fala) e o atraso no desenvolvimento da linguagem são 
acompanhados por uma redução de resposta aos ruídos ou sons do 
ambiente ou sensibilidade extrema à luminosidade. Ou seja, respostas 
anormais aos estímulos sensoriais. Mesmo nos casos em que a linguagem 
se desenvolve, encontra-se uma qualidade anormal – como a ecolalia 
(repetição de sons). 
3. Presença de conduta motora bizarra: padrão de comportamento 
ritualístico e compulsivo, podendo ser apresentado de quatro formas: 
preocupação patológica ou mórbida com objetos pouco comuns; interesses 
ou preocupações peculiares; não tolera mudanças em seu ambiente ou 
rotina, apresentando um comportamento monótono; rituais obsessivos.
4. Início precoce: antes dos trinta meses de idade.
A presença de comportamentos incomuns ou o padrão de anormalidades 
motoras apresentadas como hiperativas, estranhas e estereotipadas. 
Destarte, as estereotipias são a reprodução de um comportamento único, caracterizado 
por ações repetitivas e de grande interesse para o autista, porém, sem um objetivo ou 
uma finalidade clara a sua realização. Os maneirismos eram os distúrbios na motilidade, 
comportamentos motores estereotipados, também repetitivos, sendo o exemplo clássico 
o flapping de mãos (ou movimento de bater de asas, imitação das asas de pombo). 
29
As EdiçõEs do dsM: pré-cAtEgorizAção do AutisMo │ uNidAdE ii
Ou seja, tanto as estereotipias quanto os maneirismos são hábitos apresentados de 
forma persistente, que chegam a se tornar comuns, tais como: correr pela casa, realizar 
movimentos repetitivos, balançar os braços, movimentar involuntariamente as mãos, 
entre outros. A grande questão em relação ao autismo é que tais comportamentos 
não apresentam uma função. Sabemos que crianças descobrem o mundo por meio do 
desenvolvimento psicomotor, entretanto, o repertório desses comportamentos além de 
repetitivo, fica cristalizado, não evolui ou serve a uma função. 
Como exemplo do repertório com uma função, podemos descrever uma criança de 1 ano 
e 7 meses que aprende, pela interação com o seu meio, que ao emitir o som “boo” com as 
mãos levantadas, os adultos ao seu redor afirmam seu comportamento e verbalização 
através de “que susto” ou “ai, que medo”. A criança tende a ter o comportamento 
reforçado, pois após o susto vê que os adultos começam a rir e lhe retribuem com 
expressões de aprovação. As crianças percebem que aquele comportamento chama a 
atenção e que todos acham engraçado, passando a repetir. Mas, isso pode ser em um 
determinado dia, com pessoas diferentes, durante uma festa na escola ou uma reunião de 
família. Aos poucos, e com o passar do tempo, esse repertório será mudado várias vezes. 
Ao longo do desenvolvimento, a criança amadurece. 
figura 14.
fonte: <https://familia.com.br/6135/20-truques-para-parar-a-birra-de-uma-crianca>. acesso 30/10/2017.
Para Rutter e Bartak (1971), as estereotipiasde mãos e dedos, bem como os maneirismos 
não deviam fazer parte dos critérios diagnósticos de autismo, pois eram observadas 
também em crianças com deficiência mental e instuticionalizadas.
30
UNIDADE II │ As EDIçõEs Do DsM: pré-cAtEgorIzAção Do AUtIsMo
figura 15.
fonte: <http://fundacaotelefonica.org.br/promenino/trabalhoinfantil/noticia/na-espera-da-adocao-criancas-e-adolescentes-
enfrentam-restricoes-das-familias-e-a-realidade-dos-abrigos/>. acesso 30/10/2017.
Ao mencionar o contexto de crianças institucionalizadas, Rutter nos traz a dimensão 
da Psicomotricidade, ou seja, o entendimento de que por meio do movimento existem 
aquisições mais elaboradas, incluindo as relacionadas à intelectualidade. Ou seja, por 
meio das atividades motoras do cotidiano há o desenvolvimento de funções motrizes, 
cognitivas e afetivas que possibilitam à criança vivenciar a aprendizagem de elementos 
culturais – quer seja formal (escolar) ou informal – através do corpo. 
Pessoas institucionalizadas vão, aos poucos, perdendo a percepção do mundo por meio 
do corpo, e os movimentos das mãos e pés vão sendo desconstruídos. A restrição dos 
movimentos, o viver em espaço confinado, a ausência de exercícios físicos... A ausência 
acaba por criar uma lacuna: o que fazer com mãos e pés. Eles perdem a função, a 
expressão... Estão sem função.
figura 16. hospital psiquiátrico de Barbacena.
fonte: <https://www.cartacapital.com.br/sociedade/201cos-assassinatos-em-massa-continuam-acontecendo-e-a-gente-
finge-que-nao-ve201d-diz-autora-451.html>. acesso 30/10/2017.
31
As EdiçõEs do dsM: pré-cAtEgorizAção do AutisMo │ uNidAdE ii
De modo que, todos, mas em especial as crianças – devido ao desenvolvimento – 
precisam de exercícios, de movimento, o corpo fala e deve se expressar. Assim, pular, 
correr, saltar, dançar, rodar, cantar, mexer... São necessários ao desenvolvimento 
saudável, amplo e holístico.
As escolas devem priorizar o tempo dedicado à realização de exercícios físicos, de 
brincadeiras, da dança, do lúdico como forma de favorecer o aprendizado das disciplinas 
acadêmicas. Pois, por meio do corpo conceitos concretos passam a ser compreendidos 
como abstratos. 
O brincar deve ter seu espaço garantido e, para mais além, expandido nas escolas. 
É inconcebível que crianças não possam se movimentar nos intervalos ou no recreio 
e, mesmo assim, quando correm são chamados à atenção – levados à sala da direção 
ou coordenação. O movimento é cerceado, restringido. Ao passo que deveria ser um 
momento utilizado pelos educadores para redirecionar esse correr aleatório, dando 
uma finalidade. Estabelecendo metas, jogos, objetivos, ou seja, favorecendo o ensino 
aprendizagem.
Um sonoro e retumbante “não se mexam”. Isso é saudável? 
Por que será que as crianças não demonstram muito entusiasmo em relação à escola? 
Pensamos que não é difícil: o tédio. Ao contrário, os educadores que entendem a demanda 
de cada faixa etária constroem um trabalho rico e auxiliam no desenvolvimento da 
cognição, percepção, emoção e empatia de seus educandos. Tornando a escola um local 
de vivência.
figura 17.
fonte: acervo pessoal da elaboradora.
32
UNIDADE II │ As EDIçõEs Do DsM: pré-cAtEgorIzAção Do AUtIsMo
Devemos ao Dr. Michael Rutter a classificação do Autismo, fato que foi um marco para 
a compressão dessa condição mental. E em 1978 (ano da publicação do seu estudo), o 
médico classifica o autismo e propõe sua definição com base nas quatro características 
supracitadas, que podemos resumir como: atraso e desvio sociais não apenas como 
deficiência intelectual (DI); problemas na comunicação, não apenas em função de 
deficiência intelectual associada (DI); comportamentos incomuns, caracterizados por 
movimentos estereotipados e maneirismos e início antes dos 30 meses de idade. 
Em 1980, de acordo com Artigas (2002), a classificação de Rutter e os crescentes 
trabalhos publicados sobre o autismo, a partir da década de 60, influenciaram 
a inserção desta condição, na edição do DSM III, pela primeira vez, na categoria 
Pervasive Development Disorder ou Transtornos Invasivos do Desenvolvimento – 
TID’s. Finalmente, uma categoria isolada. O desenvolvimento dessa categoria buscava 
diferenciar o autismo da esquizofrenia infantil. Além disso, a categoria buscava refletir 
a ideia das múltiplas áreas de funcionamento cerebral que eram afetadas no autismo e 
nas condições associadas a ele.
A tão esperada categorização do autismo no DSM, lendo dessa forma pode parecer algo 
bem aquém do que se pretendia, entretanto, ao pararmos para observar o contexto 
da época, veremos que foi um divisor de águas no sentido de melhorar o diagnóstico. 
O reconhecimento do autismo como uma categoria, perfazendo uma condição distinta, 
mesmo que seu conceito não estivesse totalmente desenvolvido no período. 
figura 18.
fonte: <https://www.vladman.net/blog/evolu%C3%a7%C3%a3o-do-dsm-o-dicion%C3%a1rio-da-sa%C3%Bade-mental>. 
acesso: 24/10/2017.
33
As EdiçõEs do dsM: pré-cAtEgorizAção do AutisMo │ uNidAdE ii
Vamos nos ater ao trabalho de Michael Rutter, contudo não podemos deixar de 
mencionar os nomes de Ward e DeMyer, como citados em Margolies (1977), que 
apresentavam critérios diagnósticos dos propostos por Rutter. 
Ou seja, havia uma grande variedade de visões sobre o autismo. Não diferindo muito 
do que se encontra atualmente, a grande diferença é que agora sabemos do que se trata, 
as divergências são mais no campo das intervenções, tratamentos, terapias, fármacos, 
nutrição, e as terapias que vêm surgindo com força como o neurofeedback. 
Foi apenas em 1984, segundo Stone (1999), por meio das pesquisas de Leonora Petty e 
seus colaboradores que foi feita a distinção entre o autismo e a esquizofrenia infantil, 
desta vez de forma clara e bem delimitada, partindo do ponto crucial de que o autismo 
era uma condição com início precoce (assim como explicitado nos estudos de Rutter) – 
do nascimento até os três anos de idade – ao contrário da esquizofrenia infantil que tem 
seus sinais apresentados, predominantemente, após os cinco anos de idade. Do mesmo 
modo, os estudos comprovaram que os pacientes esquizofrênicos adultos apresentavam 
boa interação social e um funcionamento sem alterações aparentes. Fato totalmente 
distinto do que era observado em autistas.
Antes da publicação do DSM III, cabia à psiquiatria e à psicanálise a tarefa de entender 
e explicar a origem dos sintomas. Através desse enfoque o foco era o tratamento do 
problema em si, delegando ao segundo plano o sintoma (ou sintomas). 
A Edição do DSM III surge e traz mudanças radicais, a principal delas é uma aproximação 
da Psiquiatria em detrimento à Psicanálise. Agora, a Psiquiatria poderia ocupar-se 
com as considerações etiológicas e focar nos sintomas, favorecendo a classificação 
dos transtornos. É fundida uma nova era no DSM, em sua terceira edição, a era da 
observação empírica das manifestações do comportamento. Ou seja, a presença, 
constância e intensidade são os critérios utilizados para o diagnóstico. 
Vamos fazer uma breve recapitulação acerca das edições do Manual Diagnóstico e 
Estatístico de Transtornos Metais – DSM:
 » 1980 – DSM III, contendo 265 transtornos mentais apresentados em 
494 páginas. Havendo um aumento de 30% das categorias diagnósticas. 
Posteriormente, foi criado um apêndice DSM-III-R nomeado Apêndice 
A. Com a reformulação que ocorreu em 1987, há uma mudança na 
visão biológica e genética como um papel fundamental nos transtornos 
mentais. Esse fato se deve à adesão aos conceitos do psiquiatra alemão 
Emil Kraepelin. Na visão de Gaines (1992), o apêndice traz termos 
controversos, como o Transtorno Sádico da Personalidade. 
34
UNIDADE II │ As EDIçõEs Do DsM: pré-cAtEgorIzAção Do AUtIsMo
 » 1994 – DSM IV, contendo 374 transtornos mentais apresentados em 
886 páginas, onde notamos o surgimento de 82 novas categorias. Alguns 
transtornos foram excluídos, à medida que outros surgiram, e alguns 
colocados em outras categorias diagnósticas.Com essas mudanças, o 
resultado foi a dificuldade de reconhecimento de alguns transtornos. 
Em 2000 foi publicado o DSM IV TR – Texto Revisado que apresentou 
poucas mudanças da versão anterior. A APA criou a Texto Revisado como 
uma forma de diminuir as diferenças entre o DSM IV e o subsequente 
DSM V. A tentativa inicial era reparar o hiato de 12 anos entre uma edição 
e a outra.
figura 19.
fonte: <https://www.psychologytoday.com/blog/side-effects/201302/dsm-5-has-gone-press-containing-major-scientific-gaffe>. 
acesso 21/10/2017.
Ao final da década de 70, já estava claro que o autismo perfazia uma condição clínica 
diferente da esquizofrenia tanto em termos genéticos como em manifestações clínicas 
e de prognóstico. O DSM III empregava o conceito clássico inicialmente descrito por 
Kanner e concluía com as características diagnósticas desenvolvidas por Michael 
Rutter. Sendo que Rutter se destaca dos outros pesquisadores quando assinala o início 
precoce da condição.
Desta forma, o DSM III apresentava critérios diagnósticos e prognósticos do autismo 
que hoje são considerados altamente restritos e específicos.
O DSM III também incluiu duas categorias como Transtorno Invasivo do 
Desenvolvimento, a saber: o transtorno invasivo de início na infância (abandonado 
posteriormente por ser questionável) e a categoria atípica (que não preenchia as 
características diagnósticas necessárias ao autismo).
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As EdiçõEs do dsM: pré-cAtEgorizAção do AutisMo │ uNidAdE ii
A necessidade de maior especificidade nos critérios colaborou para a publicação de 
uma revisão destes, que foi apresentada na versão lançada em 1987, o DSM III R (texto 
revisado), que continha dois transtornos invasivos do desenvolvimento: o Transtorno 
Autista e o Transtorno Invasivo do Desenvolvimento não especificado. 
Com o tempo, observou-se que os critérios apresentados na edição DSM III R eram 
extremamente inclusivos, o que gerou uma confusão na delimitação entre o autismo 
e demais condições que apresentavam características comuns, contudo que não se 
identificavam com o autismo mediante a natureza do comprometimento social e 
prejuízo na comunicação.
Desta forma, em 1994 é publicado o DSM IV. A quarta edição do Manual traz a 
sintomatologia primária dos Transtornos Invasivos do Desenvolvimento apresentada 
em três categorias:
 » Comprometimento qualitativo da interação social.
 » Comprometimento da comunicação.
 » Padrão restrito, repetitivo e estereotipado de comportamento, de 
interesses e de atividades. 
figura 20.
fonte: <https://www.vladman.net/blog/evolu%C3%a7%C3%a3o-do-dsm-o-dicion%C3%a1rio-da-sa%C3%Bade-mental>. 
acesso 24/10/2017.
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diferenças entre o dSM iv e o dSM v
DSM IV (1994), podemos assinalar que na quarta edição do Manual o autismo se 
mantém alinhado com a edição anterior em relação à descrição dos sintomas com 
alteração da etiologia. 
O DSM-IV-TR, lançado em 2000, apresentou uma atualização nos textos sobre o 
autismo, a síndrome de Asperger e outros TIDs. Contudo, os critérios diagnósticos 
permaneceram os mesmos divulgados no DSM-IV (1994).
De acordo com Grinker (2010), há um movimento de retração à teoria psicanalítica 
da ‘mãe geladeira’ ou da ‘perversidade’ materna como causas do autismo – hipótese 
levantada desde as pesquisas de Léo Kanner. Entram como referência ao TID três 
subtipos: o Transtorno de Rett, o Transtorno Desintegrativo da Infância e o Transtorno 
de Asperger. De modo geral, o DSM IV apresentava três critérios principais para o 
diagnóstico, sendo eles:
 » Desafios de linguagem. 
 » Déficits sociais. 
 » Comportamentos estereotipados e repetitivos.
A principal diferença entre o DSM IV e o DSM V reside no fato de a quinta edição do 
Manual acabar com o TID e criar uma categoria diagnóstica única para o autismo, o qual 
passa a ser chamado de Transtorno do Espectro Autista ou TEA. O conceito de espectro 
é aprofundado e priorizado, independente das diversas formas de manifestação da 
condição – o diagnóstico é realizado com base no comportamento observável. 
figura 21.
fonte: <https://nadjafavero.wordpress.com/2013/06/05/dsm-v-e-tea/>. acesso 20/10/2017.
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Deste modo, segundo Laia (2011), no DSM-5 (2013) o TEA é um transtorno do 
neurodesenvolvimento, havendo uma prevalência e resgate das chamadas teorias 
da neurociência. 
O DSM-5 foi publicado em 2013, entretanto a versão em português foi lançada no ano 
de 2014. Interessante observar a participação do psiquiatra brasileiro Dr. Aristides 
Volpato Cordioli na coordenação da edição do DSM-5 em português. 
A quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais apresenta 
dois critérios para o diagnóstico do TEA: 
 » Domínio relativo a déficit de comunicação e interação social. 
 » Padrão de comportamentos, interesses e atividades restritos e repetitivos.
Ou seja, o que era tratado como uma tríade no DMS IV, se tornou no DSM V uma díade 
de sintomas com prevalência no início da infância.
Com a publicação do DSM-5, os subtipos relacionados ao autismo são eliminados, e 
agora as pessoas com autismo são diagnosticadas em um único espectro com diferentes 
graus. Assim, o DSM-5 acomoda todas as subcategorias da condição em um único 
diagnóstico “guarda-chuva” intitulado Transtorno do Espectro Autista – TEA.
figura 22.
fonte:<https://www.istockphoto.com/br/foto/autismo-guarda-chuva-gm471352903-19249905>. acesso 31/10/2017.
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o dSM v e o transtorno do Espectro Autista – tEA 
quadro 1. transtorno do neurodesenvolvimento.
DSM - IV DSM - 5
Autismo, Asperger, Transtorno Desintegrativo da Infância, Transtorno de 
Rett e o Transtorno Global do Desenvolvimento, sem outra especificação.
Transtorno do Espectro Autista – TEA:
1. Déficit na Interação Social. 2. Padrões repetidos e repetitivos.
Classificação em graus: leve, moderado e severo.
fonte: quadro criado pela elaboradora.
Os transtornos do Neurodesenvolvimento são apresentados num grupo de condições 
que surge no início do período do desenvolvimento, ou seja, tem um início precoce. 
O Espectro Autista tem se demonstrado, ao longo dos tempos, uma temática de difícil 
compreensão. Não havendo um consenso, inclusive entre a comunidade científica ou 
especialistas da área, por apresentar características que nem sempre estão claras e que 
muitos pacientes não apresentam no diagnóstico – de forma transparente, tão cristalina 
- como aquelas que se espera encontrar por parte dos profissionais de saúde. 
Muitas vezes, os profissionais, principalmente os recém-graduados, desejam ler os 
critérios apresentados no Manual DSM-5 e ver em seu atendido as características 
muito bem definidas, assim como aparece no Manual – sabemos pela experiência que 
a realidade não é essa. Por isso, é importante ler o material didático, estudar o DSM, 
compreender os desdobramentos do TEA e sempre se aprofundar em leituras e cursos 
que ampliem a visão global do transtorno. 
O DSM-5 é uma ferramenta fundamental e revolucionária quando falamos em TEA.
Quais são os Transtornos do Espectro Autista?
Todas as subcategorias ou subtipos foram absorvidos para uma mesma condição, 
havendo um único diagnóstico. Dessa forma, muitos pesquisadores aprovaram este 
modo mais amplo, geral de compreensão do indivíduo com características genéricas, 
concentrando-os, portanto, dentro do TEA; tornou muito mais proativo, positivo e 
descomplicado para o profissional fazer esse reconhecimento, essa hipótese diagnóstica 
que evoluirá, em algum momento futuro, para um diagnóstico. 
Logicamente, essa facilidade é discutível, há quem diga que há características 
correspondentes ao autismo que não se aplicam ao Asperger e Rett. Há também 
quem diga que há características muito próprias de Asperger e que não estão nessa 
classificação ou que se diferenciam bastante do autismo ou de Rett.Mesmo assim, 
essa compreensão do DSM-5 agrupada parece facilitar tanto o reconhecimento, como 
também as intervenções. 
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As EdiçõEs do dsM: pré-cAtEgorizAção do AutisMo │ uNidAdE ii
Afinal, não havia tantas intervenções e com tantas especificidades para cada uma dessas 
condições em separado – como eram até então apresentadas.
Um avanço ou uma melhoria quando estudamos todo o descritivo dessa condição de 
unificação do TEA é a colocação da díade com o agrupamento de sintomas. Dessa 
forma, para quem tem um conhecimento aprofundado sobre o autismo, pode parecer 
que não mudou tanto assim. Porém, do ponto de vista especialmente pedagógico e 
clínico ficou mais facilitado e funcional. De modo que, embora haja alguma crítica, a 
edição do DSM-5 com as alterações no Transtorno do Espectro Autista foi bastante 
festejada. 
Para quem ingressa na Pós-Graduação conosco nesse momento e ainda não havia 
aprofundado suas pesquisas em cada um dos transtornos mencionados (Asperger, 
Rett,), vai encontrar maior facilidade e desenvoltura em manusear o DSM-5 e colocar 
em prática sua classificação. 
De modo geral, obviamente, nos posicionamos de forma favorável ao DSM-5, por conta 
dos anos de estudos e pesquisas dedicados ao tema. E o envolvimento direto com a 
pessoa com TEA e seus familiares. 
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unidAdE iiiCritérioS 
diAgnóStiCoS
O Transtorno do Espectro Autista ou TEA (299.00) apresenta os seguintes critérios 
diagnósticos de acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: 
DSM-5 (APA, 2014, pp. 50-51):
A. Déficits persistentes na comunicação social e na interação social em 
múltiplos contextos, conforme manifestado por tudo o que segue:
1. Déficits na reciprocidade socioemocional [...]
2. Déficits nos comportamentos comunicativos não verbais usados para 
intervenção social [...]
3. Déficits para desenvolver, manter e compreender relacionamentos 
[...]
Especificar a gravidade atual: 
A gravidade baseia-se em prejuízos na comunicação social e em padrões 
de comportamento restritos e repetitivos.
B. Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou 
atividades, conforme manifestado por pelo menos dois dos seguintes 
[...]
1. Movimentos motores, uso de objetos ou fala estereotipados ou 
repetitivos [...]
2. Insistência nas mesmas coisas, adesão inflexível a rotinas ou padrões 
ritualizados de comportamento verbal ou não verbal [...]
3. Interesses fixos e altamente restritos que são anormais e intensidade 
ou foco [...]
4. Hiper ou hiporreatividade a estímulos sensoriais ou interesse 
incomum por aspectos sensoriais do ambiente [...]
Especificar a gravidade atual:
A gravidade baseia-se em prejuízos na comunicação social e em padrões 
restritos ou repetitivos de comportamento
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Critérios DiagnóstiCos │ UniDaDE iii
C. Os sintomas devem estar presentes precocemente no período do 
desenvolvimento (mas podem não se tornar plenamente manifestos 
até que as demandas sociais excedam as capacidades limitadas ou 
podem ser mascarados por estratégias aprendidas mais tarde na 
vida).
D. Os sintomas causam prejuízo clinicamente significativo no 
funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes 
da vida do indivíduo no presente.
E. Essas perturbações não são mais bem explicadas por deficiência 
intelectual (transtorno do desenvolvimento intelectual) ou por 
atraso global do desenvolvimento.[...]
Nota: Indivíduos com diagnóstico do DSM-IV bem estabelecido de 
transtorno autista, transtorno de Asperger ou transtorno global do 
desenvolvimento sem outra especificação devem receber o diagnóstico 
de transtorno do espectro autista [...]
Vamos seguir cincos passos para o diagnóstico do TEA. Pode parecer difícil, pois o 
TEA não tem forma física, marcador biológico, ou seja, exames específicos para serem 
solicitados e o diagnóstico vir impresso em um resultado. 
O TEA depende da observação sistemática do comportamento, do desenvolvimento da 
criança com seus pares (da mesma idade) ou mais velhos. Ou seja, um conjunto de 
informações que dependem de muitas variáveis.
Vamos aos cinco passos:
1. Entrevista detalhada com os pais – é muito importante nesse 
processo de entrevista conhecer profundamente os sinais e sintomas do 
TEA. Deste modo, devemos buscar fazer as perguntas mais corretas, mais 
adequadas para investigar profundamente detalhes do comportamento 
da criança. Nesse contexto, é fundamental reunir todas as informações 
possíveis: como foi o parto; os primeiros meses e anos da criança; como 
ela se desenvolveu do ponto de vista pessoal, social, afetivo, parte motora 
e a parte da linguagem. Ou seja, é importante que essas informações 
contenham uma gama de detalhes. O que chamou a atenção do pai, da 
mãe, ou dos familiares durante toda a história da criança. 
2. Reunir fotos e vídeos da criança – essa estratégia era muito utilizada 
nas décadas de 60/70, e o material era utilizado como fonte de pesquisa. 
Hoje, não é diferente, por meio desses registros podemos analisar o 
comportamento da criança – especialmente em momentos sociais – em 
momentos de compartilhamento de eventos com outras crianças e/ou 
adultos. Festas, atividades escolares, momentos de lazer com a família. 
42
UNIDADE III │ CrItérIos DIAgNóstICos
Esses dados vistos, olhados cuidadosamente pelo profissional, ajudam a 
entender melhor como a criança está se comportando em momentos do 
contexto dela e não do contexto do consultório. 
3. Colher depoimentos de professores, de mediadores, de 
profissionais médicos e de outras áreas da saúde – que já 
avaliaram, acompanharam ou ainda acompanham a criança. Esse 
feedback oferece, ao profissional que está avaliando, uma visão múltipla 
de como é a criança nos mais diversos contextos e ambientes. Ou seja, 
mais detalhes vindos de outros olhares sobre o quadro que, muitas vezes, 
os pais não conseguem expressar – ou pela proximidade afetiva ou porque 
não sabem fornecer essas informações. 
4. Utilizar escalas de avaliação estruturadas – as quais auxiliam 
na busca ativa dos sinais de forma mais facilitada, já que muitas vezes 
nós não temos todas essas informações disponíveis naquele momento e 
naquela hora. As escalas ajudam, de forma bem estruturada e facilitada, 
a trazer informações relevantes na hora de conversar com a família.
5. Buscar dados de história familiar – de TEA, síndrome genética, 
esquizofrenia, transtornos de humor, transtornos de déficit de atenção 
e hiperatividade, e conhecer muito bem a idade materna e paterna de 
quando essa criança foi concebida. Essas informações nos ajudam a ter 
dados a mais, porque existem vários fatores de risco para ter filhos com 
Transtorno do Espectro Autista. Sabemos que em famílias onde existe 
transtorno bipolar, TDAH, pais com condições psiquiátricas (como a 
esquizofrenia) há um risco maior desse casal ter um filho com autismo. 
E pais e mães acima de 40 anos possuem um risco ainda maior de conceber 
filhos com a condição do espectro autista.
figura 23.
fonte: <https://psicologiaconsciencias.wordpress.com/2016/10/15/projeto-sobre-autismo/>. acesso 30/10/2017. 
43
CAPítulo 1
desenvolvimento e curso
Devemos ficar atentos à idade e ao início do Transtorno do Espectro Autista. De acordo 
com Tuchman e Rapin (2009), cerca de um terço geralmente alega uma regressão 
precoce da linguagem e do comportamento. Os sintomas começam a ser identificados, 
mais comumente, no segundo ano de vida (entre 12 a 24 meses), mesmo sendo possível 
observá-los antes dos 12 meses de vida da criança, quando os atrasos no desenvolvimento 
se demonstram graves. Geralmente, quando os sintomas são mais sutis, a percepção do 
quadro ocorre por volta dos 24 meses.
Devemos ressaltar, de acordo com o DSM-5, que a descrição padrão inicial deve 
incluir, na maioria das vezes, relatos acerca do atraso do desenvolvimento e perdas de 
habilidades sociais e/ou linguísticas. Nos casos em que se detecta a perda de habilidades 
os pais, responsáveis e cuidadores verbalizam uma deterioração gradativae rápida nos 
comportamentos sociais e nas habilidades linguísticas. 
Essa manifestação é percebida entre os 12 a 24 meses de idade da criança. Contudo, 
em algumas ocasiões – consideradas raras na literatura médico científica – 
observa-se o desenvolvimento normal até os 2 anos, até que os sinais de regressão do 
desenvolvimento se iniciem. Essa condição era denominada, anteriormente, como 
Transtorno Desintegrativo da Infância. 
Na verdade, para Osterling et al (2002), a literatura médica nos traz relatos de platôs ou 
regressão ocorrendo bem mais tarde, aos 10 anos de idade, não existindo uma definição 
consensual na comunidade científica e entre os profissionais da área da saúde para tal 
regressão. 
Na realidade, o que a literatura mostra acerca dessa questão são inúmeras pesquisas 
e estudos registrados em relação à fala dos pais acerca do comportamento dos filhos 
que vão perdendo a sociabilidade e começam a ter palavras e frases suprimidas de seu 
vocabulário, nesse contexto inicia o interesse restrito e o uso incomum dos brinquedos, 
a rigidez comportamental, bem como as estereotipias. 
Mediante essa manifestação extremamente tardia, segundo Kaplan et al (2017), é 
essencial examinar vídeos da família que tenham sido gravados antes do surgimento 
dos sintomas de TEA, pois com frequência há sinais preexistentes de comprometimento 
no desenvolvimento. 
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UNIDADE III │ CrItérIos DIAgNóstICos
Os estudos sobre a regressão autista são praticamente inexistentes. De modo que sua 
etiologia permanece sem explicação.
O que sabemos, de acordo com Volkmar et al (1999), é que a regressão tardia 
demonstra-se mais severa, apresentando um quadro de comportamentos adaptativos 
regredidos, afetando o controle dos esfíncteres e aspectos cognitivos amplos. Nesses 
casos, o prognóstico de melhoria é baixo. 
Dessa forma, na visão de Ballaban-Gil et al (1996) e Howlin (2003), o curso e 
desenvolvimento do TEA são variáveis, dependendo do grau e de causas implícitas a 
essa condição neurobiológica.
Transtorno de neurodesenvolvimento representa que áreas do cérebro da pessoa com 
TEA tem um desenvolvimento diferente, um atraso em áreas que promovem um conjunto 
de sintomas, os quais são: interação social prejudicada ou diferente do que deveria para 
a idade; atraso de comunicação e interação social e um padrão comportamental voltado 
para interesses restritos e repetitivos, estereotipados. 
Sempre escutamos que o diagnóstico do TEA é difícil. Na verdade, ele é tão difícil 
quanto qualquer outro diagnóstico que seja feito por profissionais sem especialização 
no assunto.
O diagnóstico específico do TEA não é tão difícil de ser feito, quanto se faz parecer. 
As questões básicas são:
1. Se a criança se comunica tão bem quanto outra de sua idade ou não. 
2. Se essa criança interage tão bem quanto outras de sua idade ou não. 
3. Se essa criança tem comportamentos repetitivos ou interesses restritos.
o que isso quer dizer?
Em determinadas idades, as crianças típicas, em geral, são atraídas e gostam de brincar 
com uma série de coisas. Mas, podemos ter uma criança que é extremamente fixada 
em algum brinquedo, em algum jogo, algum objeto em detrimento de um monte de 
outras coisas que superaria as que ela tem interesse. Então, quando se observa essa 
combinação, isso por definição nos coloca diante de uma criança com TEA. 
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Critérios DiagnóstiCos │ UniDaDE iii
figura 24.
fonte: <http://entendendoautismo.com.br/artigo/como-e-o-comportamento-da-crianca-autista/>. acesso 8/11/2017.
A questão de estar ou não dentro do espectro pode ser respondida, em geral, de uma 
maneira relativamente fácil, desde que seja observada por profissionais com experiência. 
Mais importante do que isso, a gente não precisa fazer, necessariamente, o diagnóstico 
de TEA para começar com as intervenções. 
Então, aquilo a que os pais ou cuidadores devem estar muito atentos é aos chamados 
sinais de alerta. Quando os sinais de alerta estão presentes o que precisamos fazer é 
começar com intervenções.
Na visão do Dr. Carlos Gadia, do ponto de vista acadêmico, é menos importante fazer 
um diagnóstico do TEA e mais importante iniciar as intervenções. 
Dessa forma, o que os pais têm realmente que observar e que acaba por chamar sua 
atenção no início quase sempre é o atraso no desenvolvimento da linguagem. Na prática, 
quando os pais procuram a ajuda de profissionais é porque a criança não está falando 
quando deveria. 
O problema, muitas vezes, é que existe uma ideia de que cada criança é um indivíduo 
e cada indivíduo se desenvolve ao seu tempo. Existindo uma série de mitos a respeito 
disso, tais como meninos que falam mais tarde; crianças expostas a mais de um idioma 
sofrem um atraso de linguagem etc.
Então, acaba se encontrando uma série de justificativas que os levam a esperar. 
E não é uma obrigação dos pais saberem disso. Mas, certamente é uma obrigação dos 
profissionais de saúde saberem e identificarem crianças de risco. E identificarem essas 
crianças muito cedo. 
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UNIDADE III │ CrItérIos DIAgNóstICos
No Brasil, foi aprovada a Lei 13.438/2017 (publicada no Diário Oficial da União em 
26 de abril de 2017) que estabelece a utilização de protocolos padronizados, a serem 
utilizados pelo Sistema Único de Saúde – SUS para a detecção de sinais de risco do TEA 
em crianças de até 18 meses. A aprovação dessa lei deve ser comemorada por nós, pois 
demonstra um grande avanço para o bem-estar e profilaxia para as pessoas com TEA 
na idade adulta.
figura 25.
fonte: <http://www.falabarreiras.com/lei-autismo-entra-em-vigor-no-final-de-outubro/#.Wgt1t2hSziu>. acesso 8/11/2017.
Crianças que não balbuciam aos 9 meses de idade; crianças que não estão falando 
palavras simples com 18 meses; crianças que não estão colocando duas palavras 
juntas aos 2 anos, isso é absolutamente anormal. Totalmente fora do que poderia ser 
considerado normal para uma criança. 
Então, nessa situação a conduta não pode ser “vamos esperar para ver o que acontece”. 
Exemplificando: ‘Mas o primo do cunhado da namorada do meu irmão também não 
falou com 3 anos’. Essa observação não é relevante, tanto que a pessoa lembra disso, 
fica na memória por ser um fato raro. Ou seja, as pessoas não podem usar a exceção 
como uma justificativa para não agirem. A ação é necessária. 
Para clarificar os red flags ou sinais de alerta para os pais, achamos pertinente assinalar 
dos 9 meses aos 2 anos de idade. Caso a criança apresente tais sinais, o ideal é que os pais 
procurem um neuropediatra ou geneticista, para que se iniciem exames diversos com 
o intuito de chegar a um diagnóstico preciso, descartando, assim, outras possibilidades 
de síndromes com características semelhantes.
Esses casos de autismo regressivo ou súbito, no qual a criança apresenta um 
desenvolvimento normal até certa idade e a partir de então demonstra os red flags 
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Critérios DiagnóstiCos │ UniDaDE iii
para TEA como perda das habilidades e atraso no desenvolvimento, não são difíceis 
de detectar e, na realidade, não apenas os pais, mas todos que atuam junto a crianças 
devem ter conhecimento dos sinais de alerta. 
Dessa forma, devemos estar atentos aos marcos do desenvolvimento. E a qualquer sinal 
de atraso ou perda no desenvolvimento, como dito anteriormente, entretanto não nos 
custa frisar: não cabe fazer especulações acerca do que pode ser ou não. Um especialista 
deve ser consultado imediatamente. 
Red flags ou sinais de alerta
Bebê de 9 (nove) meses:
 » Não se senta com ajuda. 
 » Não parece reconhecer pessoas familiares. 
 » Não balbucia: mamã, papá.
 » Não olha quando é chamado pelo nome.
 » Não faz brincadeiras que envolvem imitação.
 » Não aguenta seu próprio peso nas pernas (com ajuda).
 » Não passa um brinquedo de uma mão para a outra.
 » Não olha para onde você aponta.
Bebê de 1 (um) ano de idade:
 » Não fala palavras como mamãe e papai.
 » Não aprende gestos como dar tchau ou mover a cabeça – para dizer não.
 » Não consegue

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