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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA GRADUAÇÃO UNEC / EAD DISCIPLINA: INTRODUÇÃO A AGRONOMIA NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 1 Professor: Humberto Bomfim – humberto.agro@bol.com.br AGRONEGÓCIO BRASILEIRO A economia do Brasil precisa estar mais integrada a economia mundial, princi- palmente se compararmos a economia de países com mercados emergentes como a do Brasil. A falta dessa integração se deve ao fato de que há anos o país tem direcio- nado a política para favorecer o mercado interno, mesmo que o país encontra-se as margens das cadeias globais de valor, devido as exportações brasileiras apresenta- rem maior valor agregado nacional, não alimenta as exportações de outros países e ainda existe proteção aos produtos nacionais com tarifas elevadas, são fatores que reduzem as importações e exportações, fato também em que as barreiras comerciais passaram a dificultar o Brasil de se beneficiar da economia global integrada, através da redução de tarifas sendo o primeiro passo para começar a integração nas cadeias globais de valor (OCDE, 2018). No cenário internacional, o Brasil apresenta-se como fornecedor de matérias- primas fomentado principalmente pelos produtos agrícolas, fornecendo para outros países o insumo de produção, evidencia-se a importância do incentivo ao Brasil em exportar produtos de alto valor agregado para a se obter vantagens no comércio mun- dial além da necessidade de políticas estratégicas no setor público e privado, com o objetivo de alavancar essa perspectiva de participação brasileira na cadeia global de valor, mesmo que a sua economia esteja sendo motivada por uma recessão econô- mica que afeta seu desempenho (FERREIRA; SCHNEIDER, 2015). As exportações brasileiras para China em 2017 ultrapassavam 40 bilhões de dólares e no ano de 2018 passaram dos 50 bilhões de dólares representando 26,7% das exportações e está classificada em primeiro lugar no ranking de exportações bra- sileiras, representadas por produtos básicos como soja 45% (acréscimo em 2018 de 18 bilhões para 24 bilhões de dólares), óleos brutos de petróleo 22% e minérios de ferro e seus concentrados 17% entre outros (BRASIL, 2018b). O Estados Unidos re- presenta 12% das exportações brasileiras e está classificado em segundo lugar no ranking de exportações de janeiro a outubro de 2018, as exportações brasileiras para os Estados Unidos são representados em maior número por produtos manufaturados CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA GRADUAÇÃO UNEC / EAD DISCIPLINA: INTRODUÇÃO A AGRONOMIA NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 2 Professor: Humberto Bomfim – humberto.agro@bol.com.br representado pelos aviões 6,4%, seguido dos semimanufaturados representados pe- los produtos de ferro e aço 11% e de produtos básicos representado pelos óleos bru- tos de petróleo 12%, entre outros (BRASIL, 2018b). Deste modo, pode-se observar que para os Estados Unidos as exportações do agronegócio são insignificantes com- parada a China. O Brasil tem a soja como seu principal produto exportado pelo agronegócio com um percentual de 42% entre a soja em grãos, o farelo de soja e o óleo de soja e em segundo lugar aparece a carne com um percentual de 14%, sendo estes os dois principais produtos exportados pelo agronegócio do país, o complexo da soja tem como seu principal destino a China. (Amorim, et al, 2019). O Brasil como exportador de carne insere-se no mercado mundial com grande relevância no abastecimento mundial contribuindo para a dieta alimentar de diversos países. Atualmente a China e Hong Kong são os países que mais importam carnes brasileiras apresentando um percentual de 34% do seu valor total, já referente aos principais destinos das exportações do complexo da soja brasileira são aos países China 66%, seguida União Europeia 14% das exportações de soja brasileira (BRASIL, 2018a). O Brasil ao se tornar mais competitivo frente a concorrência aumentará o cres- cimento e a disponibilidade de empregos, proporcionando oportunidades a indivíduos desfavorecidos no país, e por isso a importância da participação do Brasil nas redes globais de valor pois esta pode contribuir para o crescimento da economia do país. É necessário pensar no papel destas negociações comerciais internacionais, devido à baixa perspectiva de reformas estruturais e sem um consenso político de reformas internas no Brasil, assim uma redução gradual das barreiras comerciais já é viável oferecendo mais tempo as empresas nacionais para se adaptarem as mudanças (OCDE, 2018). A importância do agronegócio no cenário nacional e internacional está baseada no entendimento de que as atenções mundiais estão voltadas para a crescente de- manda de alimentos, que apresenta uma realidade questionadora de como alimentar uma população que vem aumentando consideravelmente ao longo dos últimos anos. Nesse ponto de vista, o agronegócio tende a possibilitar um crescente aumento da produção, ao oportunizar maior produtividade de forma sustentável e eficiente, devido as inúmeras inovações que o setor apresenta e dar oportunidade a uma integração CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA GRADUAÇÃO UNEC / EAD DISCIPLINA: INTRODUÇÃO A AGRONOMIA NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 3 Professor: Humberto Bomfim – humberto.agro@bol.com.br entre os segmentos e proporciona maior rapidez e eficiência na cadeia produtiva como um todo. (Amorim, et al, 2019). Reconhece-se que o Brasil diversificou a pauta de exportações em termos de número de produtos. Lá se vai o tempo em que as exportações dependiam de café, açúcar e cacau; hoje a pauta é bastante diversificada em termos de produtos e desti- nos, dando assim maior estabilidade à geração de divisas. Além do café e do açúcar, o País é líder nas exportações de suco de laranja, soja e carnes de frango e bovina e segundo lugar em milho e óleo de soja. As receitas obtidas baseiam-se em quantida- des exportadas, em alguns casos abaixo dos preços de competidores importantes, como o da carne bovina. O Brasil construiu um pujante setor agrícola, numa primeira fase voltado ao abastecimento interno; depois, também para as exportações. A dispo- nibilidade de seus recursos naturais, como solos, água e clima apropriados à produ- ção vegetal e animal, o capacitará para as oportunidades de negócios no suprimento de países de grande crescimento populacional e de renda, como China e Índia. (Vieira, et al. 2018) A barreira ambiental já vem sendo enfrentada com maestria pelo setor agrícola do Brasil. O Código Florestal Brasileiro garante que o setor privado preserve, no mí- nimo, 20% dos biomas naturais. Além dessa questão inédita no mundo, sistemas agrí- colas integrados, uso de microrganismos em substituição a produtos químicos e plan- tio direto, entre outros, possibilitaram nos últimos dez anos que a agricultura do Brasil reduzisse a emissão de gases do efeito estufa por tonelada de alimento produzido à taxa de 4,5% ao ano. Na questão ambiental, a agricultura do Brasil tem posição con- fortável em relação a importantes países, como Estados Unidos, Argentina e Canadá. (REBELO, 2017). Outra barreira que competidores apontam nos produtos do agronegócio brasi- leiro está no campo social, em especial na suposta existência de trabalho escravo. (Vieira, et al. 2018) No campo do comércio internacional, a prioridade de órgãos de governo e da iniciativa privada deve ser focada na construção de reputação (positiva)dos produtos do agro brasileiro. A prática do comércio internacional ensina que a reputação dos produtos agrega valor. O Ministério da Agricultura está atento ao que vem ocorrendo, realizando missões com o objetivo de não perder mercados conquistados e de abrir CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA GRADUAÇÃO UNEC / EAD DISCIPLINA: INTRODUÇÃO A AGRONOMIA NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 4 Professor: Humberto Bomfim – humberto.agro@bol.com.br novos. O desafio está posto: construir reputação, via qualidade e diferenciação, para os produtos do agro brasileiro. (Vieira, et al. 2018) O agronegócio brasileiro tem demonstrado ao longo dos ciclos econômicos ser de fundamental importância para o desenvolvimento do país, exercendo destacado papel na dinâmica econômica e social (Buainain et al., 2014). No período recente o setor agrícola brasileiro tem exercido papel fundamental ao garantir, além do fornecimento interno, valores recordes de produtos exportados, o que contribui fortemente para a geração de divisas. A dinâmica da economia brasi- leira continua dependente do crescimento das exportações do agronegócio e da con- quista de novos mercados internacionais (Contini, 2014). Uma rápida análise da balança comercial nos últimos anos permite observar a importância das exportações dos produtos do agronegócio. Historicamente o Brasil tem baixo volume de importações de produtos agrícolas e as exportações são eleva- das resultando em saldos comerciais significativos. (Santos et al, 2016) CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA GRADUAÇÃO UNEC / EAD DISCIPLINA: INTRODUÇÃO A AGRONOMIA NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 5 Professor: Humberto Bomfim – humberto.agro@bol.com.br REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. AGROSTAT: portal para acesso gratuito às estatísticas de comércio exterior do agronegócio brasi- leiro. 2018a. BRASIL. Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. Comex Vis: por- tal para acesso gratuito às estatísticas de comércio exterior do Brasil. 2018b. Buainain, A.M.; Alves, E.; Silveira, J.M. e Navarro, Z. (2014) - O mundo rural no Brasil do século 21. A formação de um novo padrão agrário e agrícola. Brasília, Em- brapa/Instituto de Economia da Unicamp. 1182 p. CEPEA. Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada. PIB Agronegó- cio. CEPEAUSP/CNA, 2018. Contini, E. (2014) - Exportações na dinâmica do agronegócio. In: Buainain, A.M.; Alves, E.; Silveira, J.M. e Navarro, Z. (Eds.) - O mundo rural no Brasil do século 21. A formação de um novo padrão agrário e agrícola. Embrapa/Instituto de Economia da Unicamp, p. 147-173. FERREIRA, J. D.; SCHNEIDER, M.B. As cadeias globais de valor e a inserção da indústria brasileira. Revista Tecnologia e Sociedade, Curitiba, v. 11, n. 23, p. 106- 128, jun./set. 2015. OECD. Relatórios Econômicos OCDE: Brasil 2018. OECD Publishing: Paris, 2018. 172 p. REBELO, A. Código Florestal 5 anos - um Debate sobre o Brasil. São Paulo: [S.n.], 2017. p.73-121. CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA GRADUAÇÃO UNEC / EAD DISCIPLINA: INTRODUÇÃO A AGRONOMIA NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | Professor: Humberto Bomfim – humberto.agro@bol.com.br INTERAÇÃO HOMEM x NATUREZA Durante toda a existência, o homem sempre manteve relação com a natureza, mas essa relação mudou intensamente ao longo da história da humanidade. O homem primitivo utilizava a natureza de forma harmônica, ou seja, tirava da natureza apenas o necessário para sua subsistência. Inexistia a visão do uso da terra e de seus recursos para obtenção de lucros. O homem primitivo vivia em pequenos grupos, mas estes não chegavam a constituir uma sociedade organizada. A forma com que o homem utilizava a natureza não gerava impactos que dificultassem a recuperação dos ecossistemas. Ele caçava, pescava e colhia frutos e produtos vegetais para se alimentar e se vestir, à medida que sentia necessidade, portanto, não acumulava tais produtos. Com o tempo, o homem foi fazendo descobertas, como o fogo, a roda, entre outras, as quais possibilitaram gradativamente melhorias em sua condição de vida e mudanças na sua forma de relação com a natureza. Mais adiante, o homem descobriu que poderia cultivar as espécies que lhe eram agradáveis, ou seja, que lhe serviam de alimento. Com isso, o homem começou a retirar trechos da vegetação nativa e cultivar plantas de seu interesse. Inicialmente, esse cultivo ainda era feito em pequena escala, visando apenas sua subsistência. Da mesma forma que ocorreu com a agricultura, o homem também percebeu que podia modificar áreas para a criação dos animais. O pastoreio foi outra ação humana que muito contribui para modificação das paisagens naturais. Editora BEI, Assim, a retirada da vegetação e o plantio das espécies de interesse, bem como o estabelecimento de áreas de pastagens, apesar de modificarem as paisagens, pos- sibilitaram a fixação do homem nos diferentes habitats. Essa fixação foi importante, fazendo com que o homem se organizasse para caçar e cultivar a terra. Nasce a percepção da propriedade da terra. O homem, sem perceber, deixava de se ver como uma parte da natureza para se comportar como dono da mesma. CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA GRADUAÇÃO UNEC / EAD DISCIPLINA: INTRODUÇÃO A AGRONOMIA NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | Professor: Humberto Bomfim – humberto.agro@bol.com.br Com o passar do tempo, nascem as relações de trocas que vão marcar o início da história do comércio. Os grupos humanos percebem que podem trocar seus bens ou produtos obtidos de seu trabalho de caça e lavoura. Mais tarde, o comércio passa a adotar uma moeda para troca dos produtos da natureza. Portanto, o homem passou a observar e utilizar a natureza como fonte de lucro, com o pensamento de que os recursos eram inesgotáveis. Nessa postura, ele foi de- senvolvendo ações que, gradativamente, modificaram as paisagens naturais, cada vez mais. Assim, o homem foi se distanciando da sua relação primitiva com a natureza e se vendo cada vez menos como parte integrante da mesma. Resumindo, a relação homem-natureza deixava de ser um processo passivo à medida que aumentavam os conhecimentos e a organização dos agrupamentos hu- manos. Esses grupos foram transformados em sociedade primitiva, e, nela, as ativi- dades de cultivar, caçar, pescar e pastorear caracterizavam as relações de trabalho. O desenvolvimento de novas tecnologias e o surgimento das indústrias foram momentos importantes na história da relação do homem, natureza e sociedade, pois levaram à transformação da sociedade primitiva na sociedade moderna. Nessa nova fase, a relação econômica do homem com a natureza (produtor-consumidor) foi subs- tituída por relações mais complexas, com elevada divisão do trabalho, onde o homem deixou de ser o dono direto dos meios de produção. A exploração dos recursos da natureza tornou-se intensa e numa velocidade maior que o potencial de recuperação da mesma. O homem precisou produzir para atender a demanda do aumento populacional. Portanto, o impacto das transformações da economia, na sociedade moderna, sobre a natureza, foi desastroso e levou à es- cassez dosrecursos e esgotamento dos habitats para o estabelecimento e renovação das diferentes populações de plantas e de animais. Na sociedade moderna, então, a urbanização aparece e as cidades se aglome- ram próximas aos centros industriais. O homem, nesses centros urbanos, procura construir seu espaço de lazer, convivência social, entre outros. O distanciamento do homem em relação à natureza torna-se máximo. Na sociedade urbanizada, os resí- duos das atividades do sistema produtivo humano e do consumo dos produtos indus- trializados são lançados no ambiente, gerando diferentes formas de poluição, como poluição do ar, da água, do solo, etc. CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA GRADUAÇÃO UNEC / EAD DISCIPLINA: INTRODUÇÃO A AGRONOMIA NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | Professor: Humberto Bomfim – humberto.agro@bol.com.br Por exemplo, o lixo urbano é hoje um grande problema nas grandes cidades, trazendo prejuízos econômicos e de saúde pública. Esses problemas ambientais levaram o homem a refletir sobre sua forma de relação com a natureza e admitir a necessidade de ações educativas, como forma de minimizar a degradação ambiental. Entre essas ações, nasce o que hoje chamamos de Educação Ambiental, visando contribuir para mudanças de percepção e de atitude do homem para com a natureza. CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA GRADUAÇÃO UNEC / EAD DISCIPLINA: INTRODUÇÃO A AGRONOMIA NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | Professor: Humberto Bomfim – humberto.agro@bol.com.br Bibliografia Consultada ARAÚJO-LIMA, M.J. 1984. Ecologia Humana: realidade e pesquisa. Editora Vozes, Petrópolis. Rio de Janeiro. 164p. BERNA, V. 2001. Como fazer educação ambiental. Editora Paulus. São Paulo. 142p. CARVALHO, I.C.M. 2004. Educação Ambiental: a formação do sujeito ecoló- gico. Editora Cortez. São Paulo. 256p. DIAS, G. F. 2004. Educação Ambiental: princípios e práticas. Editora Gaia. 9ª Edição. São Paulo. 546. NEIMAN, Z. 2002. Meio Ambiente, Educação e Ecoturismo. Editora Manole. São Paulo. 181p. TOZONI-REIS, M.F. C. 2004. Educação ambiental: natureza, razão e história. Editora Autores Associados. São Paulo. 170p. Nesse do, este guia pr CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA GRADUAÇÃO UNEC / EAD DISCIPLINA: INTRODUÇÃO A AGRONOMIA NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 1 Professor: Humberto Bomfim – humberto.agro@bol.com.br A INTERAÇÃO HOMEM x NATUREZA E A HISTÓRIA DA AGRICULTURA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA GRADUAÇÃO UNEC / EAD DISCIPLINA: INTRODUÇÃO A AGRONOMIA NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 2 Professor: Humberto Bomfim – humberto.agro@bol.com.br A HISTÓRIA DA AGRICULTURA 12000 AC - África Na pré-história, em torno de 12000 A.C., Começaram a surgir as primeiras for- mas de agricultura (domesticação de espécies de vegetais) e pecuária (domesticação de animais), junto com a formação das primeiras aldeias agrícolas. Nesse período, o uso do fogo e de algumas ferramentas, assim como do esterco animal, passaram a fazer parte do cotidiano dos aglomerados urbanos, os quais deram origem às cidades. Brasil / Antes de 1500 No Brasil, antes da chegada dos portugueses, as populações indígenas que viviam no litoral alimentavam-se, basicamente, de peixes e crustáceos, abundantes na costa brasileira. Esses restos alimentares deram origem aos fósseis chamados de sambaquis. Além disso, consumiam raízes (mandioca, cará) e praticavam a caça de pequenos animais nas áreas próximas à Mata Atlântica. Brasil / Século XVI e XVII Os colonizadores europeus, desde o século XVI, realizaram a devastação das vegetações litorâneas brasileiras, iniciadas com a exportação do pau-brasil como ma- téria-prima para tingir tecidos. Posteriormente, através das culturas de exportação, como a cana-de-açúcar seguida pela pecuária extensiva, passando pelos ciclos do ouro, para chegar à exploração do café. Toda a economia era voltada para a exporta- ção. Um continente com terras inexploradas a milhões de anos seria extremamente fértil a qualquer tipo de exploração agrícola. Até porque, conforme escreveu Pero Vaz de Caminha:"...em se plantando tudo dá...". Primeira Revolução Agrícola O crescimento populacional e a queda da fertilidade dos solos utilizados após anos de sucessivas culturas no continente europeu, causaram, entre outros proble- mas, a escassez de alimentos. Nesse sentido, por volta dos séculos XVII e XIX, inten- sifica-se a adoção de sistemas de rotação de culturas com plantas forrageiras (capim e leguminosas) e as atividades de pecuária e agricultura se integram. CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA GRADUAÇÃO UNEC / EAD DISCIPLINA: INTRODUÇÃO A AGRONOMIA NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 3 Professor: Humberto Bomfim – humberto.agro@bol.com.br No final do século XIX e início do século XX, os problemas de escassez crô- nica de alimentos em solos europeus intensificam-se, levando a uma série de desco- bertas científicas e tecnológicas: fertilizantes químicos, melhoramento genético, má- quinas e motores à combustão. Estas descobertas possibilitaram o progressivo abandono das antigas práticas, levando a uma especialização dos agricultores tanto nas culturas quanto nas criações. Inaugurava-se uma nova fase nos sistemas agropecuários, na qual a forma de conceber e gerenciar a atividade rural passa a ser chamada de Agricultura Indus- trial (AI), Agricultura Convencional ou Agricultura Química. Esta fase é chamada de Segunda Revolução Agrícola. Em meados do século XVIII e no século XIX, após um crescimento contínuo da grande lavoura de exportação (cana-de-açúcar), que se confundiu com a expansão do café pelas serras e vales do interior da província do Rio de Janeiro, começaram a aparecer sinais evidentes de que a agricultura brasileira vivia uma profunda crise. Esta crise era atribuída, sobretudo, à falta de braços (pelo fim da escravidão) e de capitais, além do atraso técnico e administrativo na condução das lavouras. A maioria dos grandes proprietários acreditava na exploração extensiva dos sistemas de produção, através da expansão das fronteiras agrícolas, abandonando as lavouras atuais quando estas não tivessem mais produtividade satisfatória e indo em busca de novas áreas reiniciando, assim, o ciclo de exploração da fertilidade dos solos. Esta era a cultura nômade de expropriação do solo brasileiro, na qual pouco se pensava nas consequências negativas dos manejos agropecuários empregados, es- pecialmente no que diz respeito à destruição florestal. Embora minoria, uma tradição intelectual brasileira, que remonta ao final do século XVIII início do século XIX, formada por estudantes brasileiros na Universidade de Coimbra, começou a reproduzir escritos e memórias onde se condenava o trata- mento predatório dado ao meio natural no Brasil. Esta tradição original de crítica eco- lógica brasileira encontrou sua formulação mais ampla e consistente nos escritos de José Bonifáciode Andrada e Silva, influenciou uma linhagem posterior de intelectuais que garantiram a sua continuidade ao longo do período monárquico. Em torno de D. Pedro II existia um grupo de intelectuais e naturalistas que diri- giam as grandes associações culturais do império, como o Instituto Geográfico Brasi- leiro e o Museu Nacional. Além deles, políticos e fazendeiros da corte brasileira, na CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA GRADUAÇÃO UNEC / EAD DISCIPLINA: INTRODUÇÃO A AGRONOMIA NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 4 Professor: Humberto Bomfim – humberto.agro@bol.com.br província do Rio de Janeiro, capital da monarquia, estavam preocupados com as questões ecológicas. Dois pilares permitem entender a ecologia política do Brasil setecentista e oito- centista, e perceber a identificação por ela estabelecida entre a modernização tecno- lógica e a superação do desastre ecológico. A modernização que se queria estava mais ligada com o progresso do mundo rural do que uma opção pelo mundo urbano e industrial, chegando alguns a perceberem o mundo urbano como uma variante inde- sejável da modernidade europeia. A vocação agrícola do país era vista como uma vantagem comparativa em termos civilizatórios, desde que a paisagem rural fosse ra- cionalizada e modernizada (capacitação da mão de obra e o uso de máquinas). Em linhas gerais, desta forma, a aposta histórica de autores da época como o barão do café Francisco de Lacerda Werneck, de Vassouras-RJ, o intelectual com entrada na corte Guilherme Capanema, o empresário e engenheiro agrônomo Cae- tano da Rocha Pacova, o fazendeiro Luiz Corrêa de Azevedo do município de Canta- galo-RJ, o colaborador da Revista Agrícola Nicolau Moreira, eram extremamente eco- lógicas. Todas as propostas passavam pela superação do trabalho servil, da derrubada, da queimada, da lavoura extensiva e da grande propriedade, em favor de uma ordem rural calcada no trabalho livre, na lavoura intensiva e na pequena propriedade. Uma aposta histórica que, guardadas as grandes diferenças de contexto, não perdeu total- mente a sua atualidade, continuando a ser, ainda nos dias de hoje, um desafio neces- sário para a democratização da sociedade brasileira. A agricultura moderna tem sua origem ligada às descobertas do século XIX, a partir de estudos dos cientistas Saussure (1797-1845), Boussingault (1802-1887) e Liebig (1803-1873), que derrubaram a teoria do húmus, segundo a qual as plantas obtinham seu carbono a partir da matéria-orgânica do solo (De Jesus, 1985). Liebig difundiu a idéia de que o aumento da produção agrícola seria direta- mente proporcional à quantidade de substâncias químicas incorporadas ao solo. Toda a credibilidade atribuída às descobertas de Liebig deu-se ao fato de estarem apoiadas em comprovações científicas. Junto com Jean-Baptite Boussingault, que estudou a fixação de nitrogênio atmosférico pelas plantas leguminosas, Liebig é considerado o maior precursor da "agroquímica" (Ehlers, 1996:22). As descobertas de todos esses cientistas, segundo Ehlers (1996), marcam o fim de uma longa data, da Antiguidade CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA GRADUAÇÃO UNEC / EAD DISCIPLINA: INTRODUÇÃO A AGRONOMIA NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 5 Professor: Humberto Bomfim – humberto.agro@bol.com.br até o século XIX, na qual o conhecimento agronômico era essencialmente empírico. A nova fase será caracterizada por um período de rápidos progressos científicos e tecnológicos. No início do século XX, Louis Pasteur (1822-1895), Serge Winogradsky (1856- 1953) e Martinus Beijerinck(1851-1931), precursores da microbiologia dos solos, den- tre outros, contribuíram com mais fundamentos científicos que fizeram uma contrapo- sição às teorias de Liebig, ao provarem a importância da matéria orgânica nos pro- cessos produtivos agrícolas (Ehelrs, 1996:24-25). Contudo, mesmo com o surgimento de comprovações científicas a respeito dos equívocos de Liebig, os impactos de suas descobertas haviam extrapolado o meio científico e ganhado força nos setores produtivo, industrial e agrícola, abrindo um am- plo e promissor mercado: o de fertilizantes "artificiais" (Frade, 2000: 17). Na medida em que certos componentes da produção agrícola passaram a ser produzidos pelo setor industrial, ampliaram-se as condições para o abandono dos sis- temas de rotação de culturas e da integração da produção animal à vegetal; que pas- saram a ser realizadas separadamente. Tais fatos deram início a uma nova fase da história da agricultura, que ficou conhecida como "Segunda Revolução Agrícola". São também parte desse processo o desenvolvimento de motores de combustão interna e a seleção e produção de sementes como os outros itens apropriados pelo setor indus- trial. Estas inovações foram responsáveis por sensíveis aumentos nos rendimentos das culturas (Frade, 2000). A expansão da revolução verde deu-se rapidamente, quase sempre apoiada por órgãos governamentais, pela maioria dos engenheiros agrônomos e pelas empre- sas, produtoras de insumos ( sementes híbridas, fertilizantes sintéticos e agrotóxicos); além do incentivo de organizações mundiais como o Banco Mundial, o Banco Intera- mericano de Desenvolvimento (BID), a United States Agency for International Deve- lopment(USAID - Agência Norte Americana para o Desenvolvimento Internacional), a Agência das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação(FÃO), dentre outras ( Ehlers, 1996:34). Junto com as inovações, o "pacote tecnológico" da revolução verde criou uma estrutura de crédito rural subsidiado e, paralelamente, uma estrutura de ensino, pes- quisa e extensão rural associadas a esse modelo. CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA GRADUAÇÃO UNEC / EAD DISCIPLINA: INTRODUÇÃO A AGRONOMIA NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 6 Professor: Humberto Bomfim – humberto.agro@bol.com.br Contudo, esse modelo de agricultura a partir da década de 60 começava a dar sinais de sua exaustão: desflorestamento, diminuição da biodiversidade, erosão e perda da fertilidade dos solos, contaminação da água, dos animais silvestres e dos agricultores por agrotóxicos passaram a ser decorrências quase inerentes à produção agrícola (Ehlers, 1993). Em 1962, Rachel Carson publica o livro Primavera Silenciosa, no qual a autora questionava o modelo agrícola convencional e sua crescente dependência do petróleo como matriz energética. Ao tratar do uso indiscriminado de substâncias tóxicas na agricultura, em pouco tempo a obra de Carson tornou-se mais do que um "best seller" nos EUA: foi também um dos principais alicerces do pensamento ambientalista na- quele país e no restante do mundo (Ehlers,1993). Logo após a publicação de Primavera Silenciosa, trabalhos como o de Paul Ehrlich, The Population Bomb (1966) e o de Garret Hardin, Tragedy of the Commons (1968), reforçaram a teoria malthusiana, relacionando a degradação ambiental e a degradação dos recursos naturais ao crescimento populacional. Na prática, porém, o que se viu nos anos seguintes foi a continuação do avanço da agricultura convencional, particularmente nos países em desenvolvimento, com o agravamento dos danos ambientais. No início dos anos 70 a oposição em relação ao padrão produtivo agrícola con- vencional concentrava-se em torno de um amplo conjunto de propostas "alternativas", movimento que ficou conhecido como "agricultura alternativa". Em 1972 é fundada em Versalhes, na França, a InternationalFederation on Organic Agriculture (IFOAM). Logo de início, a IFOAM reuniu cerca de 400 entidades "agro ambientalistas" e foi a primeira organização internacional criada para fortalecer a agricultura alternativa. Suas principais atribuições passaram a ser a troca de infor- mações entre as entidades associadas, a harmonização internacional de normas téc- nicas e a certificação de produtos orgânicos (Ehlers, 2000). No Brasil, pesquisadores como Adilson Paschoal, Ana Maria Primavesi, Luís Carlos Machado, José Lutzemberger, contribuíram para contestar o modelo vigente e despertar para novos métodos de agricultura. Em 1976, Lutzemberger lançou o "Ma- nifesto ecológico brasileiro: fim do futuro?", que propunha uma agricultura mais eco- lógica, influenciando profissionais e pesquisadores das ciências agrárias, produtores e a opinião pública em geral. CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA GRADUAÇÃO UNEC / EAD DISCIPLINA: INTRODUÇÃO A AGRONOMIA NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 7 Professor: Humberto Bomfim – humberto.agro@bol.com.br Em 1979, Paschoal publicou "Pragas praguicidas e crise ambiental" mostrando que o aumento do consumo de agrotóxicos vinha provocando o aumento do número de pragas nas lavouras, por eliminar também grande parte dos inimigos naturais. Es- ses trabalhos despertaram o interesse da opinião pública pela questão ambiental, crescendo também o interesse pelas propostas alternativas para a agricultura brasi- leira Durante a década de 80, o movimento para uma agricultura alternativa ganhou força com a realização de três Encontros Brasileiros de Agricultura Alternativa (EBAAs); que ocorreram, respectivamente, nos anos de 1981, 1984 e 1987. Se nos dois primeiros as críticas se concentravam nos aspectos tecnológicos e na degrada- ção ambiental provocada pelo modelo agrícola trazido pela Revolução Verde, o ter- ceiro encontro privilegiou o debate sobre as condições sociais da produção, sobre- pondo as questões políticas sobre as questões ecológicas e técnicas. A partir do ter- ceiro EBAA, foram realizados diversos Encontros Regionais de Agricultura Alternativa (ERAAs), nos quais os problemas ambientais decorrentes da produção convencional de alimentos passaram a ser vistos como problemas ambientais decorrentes do sis- tema econômico hegemônico no mundo ( o capitalismo); incorporando de modo per- manente os aspectos socioeconômicos, que juntamente com os aspectos ecológicos e técnicos passam a compor a pauta do debate sobre a produção da alimentos em todo o mundo (Pianna,1999). Foi também na década de 80 que surgiram várias Organizações Não Governa- mentais voltadas para a agricultura, articuladas em nível nacional pela Rede Projeto Tecnologias Alternativas - PTA (hoje AS-PTA- Assessoria e Serviços - Projeto Agri- cultura Alternativa). A denominação "tecnologias alternativas" foi usada nesse perí- odo, para designar as várias experiências de contestação à agricultura convencional, passando a ser substituída numa fase seguinte, por agricultura ecológica, identificada como parte da agroecologia. De modo geral é possível afirmarmos que, na década de 80, o interesse da opinião pública pelas questões ambientais e a adesão de alguns pesquisadores ao movimento alternativo, sobretudo em função dos afeitos adversos dos métodos con- vencionais, tiveram alguns desdobramentos importantes no âmbito da ciência e da tecnologia. CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA GRADUAÇÃO UNEC / EAD DISCIPLINA: INTRODUÇÃO A AGRONOMIA NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 8 Professor: Humberto Bomfim – humberto.agro@bol.com.br As características mais marcantes destes desdobramentos são: a busca de fundamentação científica para as suas propostas técnicas e, no caso da agroecologia o firme propósito de valorizar os aspectos sócio culturais da produção agrícola. A prin- cipal meta da agroecologia é a resolução dos problemas da sustentabilidade. No entanto, Miguel Altieri, (expoente pesquisador de sistemas agroecológicos de produção) ressalta que não basta abordar apenas os aspectos tecnológicos sem considerar as questões econômicas e sociais. Considerando os aspectos ecológico, tecnológico e socioeconômico, a Agroe- cologia, ao contrário do que aparenta, não é uma disciplina nova, mas um novo campo de estudos, que busca combinar as contribuições de diversas disciplinas: Agronomia, Sociologia Rural, Ecologia e Antropologia. (De Jesus, 1996). Nesse sentido, a preo- cupação com os aspectos sociais e o enfoque científico dado ao estudo dos agro ecossistemas são, provavelmente, os componentes que mais contribuíram para a rá- pida divulgação da agroecologia nos E.U.A (particularmente na Califórnia) e na Amé- rica Latina. Desta forma, o termo " agroecologia" deixa de ser compreendido como uma disciplina científica que estuda os agro ecossistemas, ou seja, as relações ecológicas que ocorrem em um sistema agrícola, para tornar-se mais uma prática agrícola pro- priamente dita, ou ainda um guarda-chuva conceitual que permite abrigar várias ten- dências alternativas (Ehlers, 2000). Em 1989, o Conselho Nacional de Pesquisa (NRC) - um órgão formado por representantes da Academia Nacional de Ciências, da Academia Nacional de Enge- nharia e do Instituto de Medicina, todos dos EUA, dedicou-se a um estudo detalhado sobre a agricultura alternativa. Este trabalho culminou com a publicação do relatório intitulado "Alternative Agriculture" um dos principais reconhecimentos da pesquisa ofi- cial a esta tendência da produção agrícola. Em 1992, com a Conferência Mundial da ECO92, no Rio de Janeiro - Brasil, surge o conceito de sustentabilidade, que manifestou uma nova ordem mundial que expressa a vontade das nações de conciliar ou reconciliar o desenvolvimento econô- mico e o meio ambiente, em integrar a problemática ambiental ao campo da economia. Mais do que um conceito que orienta de maneira imediata ação e decisão, a susten- CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA GRADUAÇÃO UNEC / EAD DISCIPLINA: INTRODUÇÃO A AGRONOMIA NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 9 Professor: Humberto Bomfim – humberto.agro@bol.com.br tabilidade manifesta em primeiro lugar uma problemática de aspectos múltiplos (cien- tífico, político, ético) oriunda da emergência de problemas ambientais em escala pla- netária e principalmente da percepção do risco subjacente. A partir dos anos 90 emergem os processos de certificação ambiental dos pro- dutos agrícolas - como os "selos verdes". A certificação ambiental fundamenta-se no princípio da produção com uso de técnicas e processos que não degradem o meio ambiente. A iniciativa de certificar tem partido quase que exclusivamente de organiza- ções não governamentais, que estabelecem os seus critérios próprios de certificação, o que para a agricultura, refere-se a produtos orgânicos ou biodinâmicos. Em 1999, após a mobilização das ONGs brasileiras que trabalhavam direta ou indiretamente com a agroecologia, é publicada a Instrução Normativa 007/99, que traz, entre outras novidades a criação de um Órgão Colegiado Nacional e dos respec- tivos órgãos estaduais, responsáveis pela implementação da Instrução Normativa e fiscalização das certificadoras e a exigência de que a certificação seja conduzida por entidades nacionais e sem fins lucrativos (BRASIL, 1999). De acordo com Da Silva (1999), a transformação da certificação de produtos orgânicos de um processo interno e próprio das ONGs (que consideramas diversas características de uma localidade: socioeconômicas, ecológicas, culturais, etc.) para modelos nacionais e oficiais de normas vai requerer alguns cuidados para questões que necessitarão ser estudadas. Uma delas é que, a partir da institucionalização da certificação, são abertos "nichos" de mercado que demandam produtos com características e padrões que ofe- recem grandes possibilidades de inserção para os produtos provenientes da agroeco- logia, nas diferentes redes de distribuição e nos seus diferentes níveis de abrangência (local, regional, nacional e internacional). Contudo, a concretização de tais oportuni- dades vai depender das estratégias de organização e articulação da produção e das quantidades demandadas dos produtos (Campanhola,1999). Neste cenário, é o pú- blico, são os consumidores que, nos países de alto nível tecnológico, levam à imple- mentação de novos compromissos seja com os produtores, seja com o poder público. Globalmente, pode-se dizer que a agroecologia (incluindo todas as suas cor- rentes: orgânica, biodinâmica, natural, ecológica, permacultura) emerge como uma nova visão de mundo (chamada no meio acadêmico de "paradigma"), que eleva a agricultura a um novo patamar, que supõe uma diferenciação social. O recurso às CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA GRADUAÇÃO UNEC / EAD DISCIPLINA: INTRODUÇÃO A AGRONOMIA NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 10 Professor: Humberto Bomfim – humberto.agro@bol.com.br tecnologias sustentáveis passa por um investimento em equipamentos e técnicas es- pecíficas e por um acesso privilegiado à informação. Considerar o acesso à informação como um novo insumo não é uma simples fórmula e é possível estimar que alguns segmentos ficarão ainda mais dispersos, se considerarmos os desafios à extensão rural, cuja eficiência pode ser reduzida por po- líticas públicas que concentrem permanentemente a informação e as tecnologias ape- nas nos agentes de maior poder econômico. Assim, aumenta o contingente de produ- tores suscetíveis a serem excluídos, por insuficiência de renda ou por impossibilidade de aumentarem um acréscimo nas margens de trabalho ou de risco econômico. Por isso, no momento atual é importante ressaltar que a agroecologia como um novo paradigma técnico-científico, ambiental e cultural está sendo construída de forma progressiva e desigual, com base em uma grande multiplicidade de práticas produti- vas, de ecossistemas e de estratégias diversificadas de sobrevivência econômica (Al- meida et. al, 2001:43). O aprendizado dessa nova maneira de pensar e fazer agricul- tura passa por experiências de êxito e fracasso, como todo projeto que é idealizado e realizado pela sociedade. Portanto, é razoável pensarmos que em países em desenvolvimento como o Brasil, o desafio da produção de alimentos em sistemas agroecológicos dentro de uma economia globalizada e flexível, implica na retomada do debate sobre políticas públi- cas amplas e diferenciadas, reforma agrária, agricultura familiar e segurança alimen- tar. Fica claro, porém, que apesar de não ser pequeno, é imprescindível o esforço de toda sociedade para uma mudança de paradigma da pesquisa agrícola, principal- mente, quando esta se encontra atrelada a alterações sócio políticas de caráter estru- tural. CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA GRADUAÇÃO UNEC / EAD DISCIPLINA: INTRODUÇÃO A AGRONOMIA NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 11 Professor: Humberto Bomfim – humberto.agro@bol.com.br Bibliografia Almeida, Silvio G.; Petersen, P& Cordeiro, A Crise Socioambiental e Conversão Ecológica da Agricultura Brasileira: subsídios à formação de diretrizes ambien- tais para o desenvolvimento agrícola. Rio de Janeiro: AS-PTA,2001. Billaud, Jean-Paul. Agricultura sustentável nos países desenvolvidos: conceito aceito e incerto. Agricultura Sustentável, p.25-44, jul/dez. 1995. BRASIL. Ministério da Agricultura e do Abastecimento. Instrução Normativa n. 007 de 17 de maio de 1999. Brasília, 1999. 12p. (mimeo) Da Silva, Marco Antônio. Normatização e certificação da produção orgânica: presente e futuro. In: In: 3a Conferência Brasileira de Agricultura Biodinâmica, Piracicaba - SP, 14 a 17 de outubro de 1998. Anais. Miklós, Andreas A de W. (organizador). São Paulo: SMA/CED, 1999. 294p. 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A AGRICULTURA NO PASSADO A agricultura foi considerada como uma arte e um ofício. Hoje é uma ciência, se tornou cada vez menos empírica, mais eficiente e previsível. É renovada não no campo através de experimentos casuais, mas em laboratórios, campos experimentais, centros de pesquisa, universidades e escolas. O desenvolvimento da agricultura está associado à domesticação de espécies. O avanço da agricultura foi acompanhado pelo avanço da degradação ambiental. Exemplos: Mesopotâmia – salinização das terras irrigadas; Grécia clássica – destrui- ção das florestas e degradação dos campos de cultivo; Romanos – as ricas terras de Cartago - deserto; Em diversas ocasiões (Ex. final da Idade Média) houveram crises sociais oca- sionadas pela baixa produção da agricultura: secas, ataque de pragas, doenças, des- gaste do solo, e outras. Por outro lado, tais adversidades fizeram com que o homem do campo acumulasse um vasto conhecimento, ao longo da história, sobre técnicas de preparo do solo, de fertilização, de seleção de espécies e variedades, dentre ou- tras. Tais avanços são registrados na história como as Revoluções Agrícolas. • Primeira Revolução Agrícola: ocorreuentre os séculos XVI a XIX. • Características: Aproximou a produção vegetal da pecuária; Reduziu o problema da escassez de alimentos (maior escala de produção de alimentos); CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA GRADUAÇÃO UNEC / EAD DISCIPLINA: INTRODUÇÃO A AGRONOMIA NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 2 Professor: Humberto Bomfim – humberto.agro@bol.com.br Foi o primeiro estágio da agricultura moderna, hoje este modelo é chamado de “tradicional”. • O principal alicerce foi a implantação do sistema de rotação de culturas, o que permitiu: Maior lotação de gado – com leguminosas; Aumento da fertilidade do solo; Aumento da diversidade de culturas na mesma propriedade; Intensificar o uso do solo; Abandonar o sistema de pousio. • O interesse em associar a criação de animais à atividade agrí- cola relacionava-se à: Obtenção de produtos de origem animal para o auto- consumo; Força de tração animal; Produção de esterco – para a adubação do solo. • Dificuldades: Insuficiência de adubos orgânicos; Tempo e mão-de-obra necessária; Ocupação de parte das terras com os animais. • Segunda Revolução Agrícola: ocorreu em meados do século XIX. • Características: Em 1840, Liebig constatou que a nutrição mineral das plantas se dá pelas subs- tâncias químicas. Liebig desprezava a matéria orgânica e a baixa solubilidade do húmus era tido como evidência de sua inutilidade para a nutrição vegetal. Formulou a tese de que a produção agrícola seria proporcional à quantidade de substâncias químicas adicionadas ao solo – lei do mínimo. Tais ideias/teorias impulsionaram a adubação química e mineral (sintética). As descobertas de Liebig conquistaram o setor produtivo (industrial e agrícola), Abriu um amplo e promissor mercado de fertilizantes artificiais/sintéticos. CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA GRADUAÇÃO UNEC / EAD DISCIPLINA: INTRODUÇÃO A AGRONOMIA NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 3 Professor: Humberto Bomfim – humberto.agro@bol.com.br • Consequências: Os agricultores foram abandonando as criações e a rotação de cultura com leguminosas. A substituição dos sistemas complexos, por sistemas simplificados e monocul- turais. • Para os agricultores, as consequências foram: Adubos químicos/sintéticos são de mais fácil aplicação; Adubos químicos/sintéticos reduzem o tempo e a necessidade de mão-de-obra para a aplicação; Muitas indústrias de fertilizantes fizeram propaganda contra os adubos orgâni- cos, considerando-os como práticas antiquadas. • Desdobramentos: Os adubos químicos aumentaram a fertilidade do solo (num primeiro mo- mento); Simplificação do trabalho (a monocultura simplifica o processo produtivo) Sistemas rotacionais exigem mão-de-obra qualificada. Os adubos químicos elevaram a produtividade; Diminuiu o trabalho necessário; Toda a terra pode ser ocupada com a cultura de interesse comercial, originando a monocultura; Além dos adubos químicos, a indústria se “apropriou” do desenvolvimento de máquinas e equipamentos; A questão referente às pragas e doenças logo apareceu; Os tóxicos foram criados para fins bélicos e depois adaptados à agricultura. Depois, ocorreu o “apropriacionismo” genético e biológico– melhoramento ge- nético. • Revolução Verde • Terceira Revolução Agrícola: Ocorreu a partir dos anos 1960 e 1970. Monocultura; CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA GRADUAÇÃO UNEC / EAD DISCIPLINA: INTRODUÇÃO A AGRONOMIA NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 4 Professor: Humberto Bomfim – humberto.agro@bol.com.br • Fundamentos: Melhoria da produtividade agrícola; Conjunto homogêneo de práticas tecnológicas (semente, fertilizantes, agrotó- xicos, moto-mecanização e irrigação), chamado de “pacote tecnológico”; Maior independência em relação ao meio; Controlar e modificar processos biológicos; Adaptar culturas de clima temperado aos diferentes ambientes; Do ponto de vista da produção agrícola total, a Revolução Verde foi um su- cesso. Aumentou a produção (mais que dobrou) e a disponibilidade de alimentos por habitante. Da euforia à preocupação, em razão: • Dos impactos ambientais: Destruição do solo; Destruição florestal; Perda da biodiversidade; Contaminação do solo, da água, dos animais silvestres; Do homem e dos alimentos; Da viabilidade energética; Aumento dos custos de produção. • Dos impactos sociais; • Revolução Biotecnológica Quarta Revolução Agrícola - (transgênicos e clonagem). Está em curso e se constituindo; Os seus contornos ainda estão sendo definidos; • Continuidade: Por que dá prosseguimento ao processo de concentração varietal; As variedades mais lucrativas, de interesse do mercado. • Ruptura: Por que nunca uma tecnologia manipulou tão diretamente os genes; CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA GRADUAÇÃO UNEC / EAD DISCIPLINA: INTRODUÇÃO A AGRONOMIA NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 5 Professor: Humberto Bomfim – humberto.agro@bol.com.br Também, por conta da extrema concentração, O processo está nas mãos de um ator, as multinacionais do setor de sementes, Estão redefinindo, em escala global, as estratégias comerciais; Segundo DE LA PERRIERE (2001), significa continuidade e ruptura com a Re- volução Verde. • AGRICULTURA CONVENCIONAL Entende-se por agricultura convencional aquela resultante da Segunda e Ter- ceira Revolução Agrícola. Inclui também a Quarta Revolução Agrícola. • Características centrais: Mecanização intensa e redução do emprego de mão-de-obra; Uso intensivo de produtos químicos (fertilizantes e biocidas); Regime da monocultura (especialização). • Objetivos explícitos: Obter rendimentos máximos das culturas; Aumentar a disponibilidade de alimentos para evitar o espectro da fome. Aumentar o fluxo e a velocidade do fluxo de capital. • Objetivos implícitos: Maximizar lucros; Efeitos: • Degradação ambiental Compactação do solo; Eliminação, inibição e redução da flora microbiana do solo; Perda acentuada do potencial produtivo do solo; • Exclusão social Desemprego rural; Êxodo rural; Concentração de terra, renda e poder; • Poluição alimentar Absorção desequilibrada de nutrientes, produzindo alimentos desnaturados CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA GRADUAÇÃO UNEC / EAD DISCIPLINA: INTRODUÇÃO A AGRONOMIA NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 6 Professor: Humberto Bomfim – humberto.agro@bol.com.br Efeitos: • Encarecimento violento dos custos de produção Maquinaria e insumos; Monetarização da atividade e endividamento); • Erosão cultural Introdução de pacotes tecnológicos fechados; Monetarização da vida; • Aumento da fome Problema não está na produção, mas na distribuição dos alimentos); • Redução da biodiversidade Segundo a FAO, a humanidade usou cerca de 7000 espécies de plantas para se alimentar e 75000 poderiam ser utilizadas; hoje cerca30 espécies cobre 90% da dieta mundial. CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA GRADUAÇÃO UNEC / EAD DISCIPLINA: INTRODUÇÃO A AGRONOMIA NÚCLEO DE ENSINO A DISTÂNCIA - NEAD Página | 7 Professor: Humberto Bomfim – humberto.agro@bol.com.br BIBLIOGRAFIA SZMRECSÁNYI, Tamás. Pequena história da agricultura no Brasil. 4ed. São Paulo: Contexto, 1998. VILA NOVA, Sebastião. Introdução à sociologia. 2ed. São Paulo: Atlas, 1992. GOHN, Maria da Glória. História dos movimentos e lutas sociais: a construção da ci- dadania dos brasileiros. São Paulo: Loyola, 1995. MARTINS, José de Souza. Reforma agrária: o impossível diálogo. São Paulo: Edi- tora da Universidade de São Paulo, 2000. 173p. LIMA ELI NAPOLIAO DE. CPDA 30 ANOS, Desenvolvimento, agricultura. Editora Mauad. 2010. 232p.
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