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2017 Políticas Públicas do agronegócio Prof. Gilmar Ferreira de Moraes Copyright © UNIASSELVI 2017 Elaboração: Prof. Gilmar Ferreira de Moraes Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 361.61 M827p Moraes, Gilmar Ferreira de Políticas Públicas do Agronegócio / Gilmar Ferreira de Moraes. Indaial: UNIASSELVI, 2017. 240 p. : il. ISBN 978-85-515-0110-8 1.Política Social. I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. Impresso por: III aPresentação Caro acadêmico! A execução desse estudo teve como objetivo produzir de forma simples e clara um material teórico e eficiente no processo de ensino-aprendizagem para a atuação da sua formação. Assim, executamos uma pesquisa que em um primeiro momento pontuou uma abordagem teórica preocupada com ideias em torno da funcionalidade da agropecuária como instrumento de política agrícola e, em um segundo momento, avaliou o Estado e sua política pública para o agronegócio. Dessa forma, elaboramos esse material em três unidades, que listamos a seguir: Na Unidade 1 – A Agropecuária no Brasil: uma análise do processo de evolução, modernização e gestão – apresentamos um estudo histórico referente à agropecuária brasileira e algumas observações introdutórias da evolução da política pública para a agropecuária através do Crédito Rural, Seguro Rural e Pronaf, como também definições de inovação tecnológica aplicada à agropecuária, à biotecnologia e ao sistema agroindustrial no Brasil. Na Unidade 2 – Políticas Públicas para o Agronegócio – tratamos da evolução das políticas públicas para o agronegócio e a influência e dinâmica dos seus instrumentos consultivos. Apresentamos as transformações operadas pelo Estado ao agronegócio através de suas políticas públicas. Na Unidade 3 – As Políticas Públicas e suas influências no Agronegócio Brasileiro – apresentamos a importância da política econômica, comercial e de ordenamento territorial para o agronegócio. Trataremos das temáticas trabalhistas, reforma agrária, da política florestal e tecnológica. Esperamos que este livro seja instrumento de formação significativa no desenvolvimento de sua habilidade profissional, contribuindo para que você seja uma pessoa diferenciada no mercado de trabalho, que faça parte das “pessoas que saibam fazer a diferença”. Boa leitura e bons estudos! Professor Gilmar Ferreira de Moraes IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA V VI VII UNIDADE 1 - A AGROPECUÁRIA NO BRASIL: UMA ANÁLISE DO PROCESSO DE EVOLUÇÃO, MODERNIZAÇÃO E GESTÃO ............................................. 1 TÓPICO 1 - CONTEXTUALIZAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO DA AGROPECUÁRIA NO BRASIL .................................................................................................................... 3 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 3 2 A AGROPECUÁRIA: CONCEITO, DEFINIÇÃO E IMPORTÂNCIA ................................... 3 3 A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA AGRICULTURA NO BRASIL ........................................... 6 3.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PECUÁRIA NO BRASIL ...................................................... 11 LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................................... 17 RESUMO DO TÓPICO 1 .................................................................................................................... 20 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 22 TÓPICO 2 - POLÍTICA AGRÍCOLA E O PROCESSO DE INOVAÇÃO NA AGROPECUÁRIA ................................................................................................. 25 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 25 2 POLÍTICA AGRÍCOLA BRASILEIRA: CRÉDITO RURAL, SEGURO E PRONAF ........... 25 3 A MECANIZAÇÃO DO CAMPO E AS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS APLICADAS À AGROPECUÁRIA ............................................................................................... 32 4 A AGROPECUÁRIA E A BIOTECNOLOGIA ............................................................................ 35 5 SISTEMA AGROINDUSTRIAL: PRINCÍPIOS E CONCEITOS ............................................ 40 LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................................... 46 RESUMO DO TÓPICO 2 .................................................................................................................... 49 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 51 TÓPICO 3 - GESTÃO E PRODUTIVIDADE DA AGROPECUÁRIA NO BRASIL ............... 53 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 53 2 COMPETITIVIDADE DA AGROPECUÁRIA NO BRASIL .................................................... 53 3 COOPERATIVAS AGROPECUÁRIAS NO BRASIL ................................................................. 59 4 AGRICULTURA FAMILIAR .......................................................................................................... 63 5 DIFICULDADES E DESAFIOS DA GESTÃO DO AGRONEGÓCIO .................................. 68 6 OS PRINCIPAIS PRODUTOS CULTIVADOS PELA AGROPECUÁRIA NO BRASIL ..... 72 LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................................... 75 RESUMO DO TÓPICO 3 .................................................................................................................... 77 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 79 UNIDADE 2 - POLÍTICA PÚBLICA PARA O AGRONEGÓCIO .............................................. 81 TÓPICO 1 - A EVOLUÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS VOLTADAS AO AGRONEGÓCIO ...................................................................................................83 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 83 2 O AGRONEGÓCIO: CONCEITOS E OBJETIVOS ................................................................... 83 3 POLÍTICA ECONÔMICA: O CRÉDITO RURAL E A POLÍTICA DE PREÇOS MÍNIMOS ......................................................................................................................... 87 sumário VIII 4 AS IDEIAS DOS FÓRUNS NA CONSTRUÇÃO E NAS MUDANÇAS DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DA AGRICULTURA FAMILIAR BRASILEIRA ................................................... 92 5 O AVANÇO DAS AÇÕES EM DEFESA DO AGRONEGÓCIO ATRAVÉS DAS CONFERÊNCIAS DE AGROPECUÁRIA .................................................................................... 95 RESUMO DO TÓPICO 1 .................................................................................................................... 101 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 102 TÓPICO 2 - OS INSTRUMENTOS CONSULTIVOS PARA A POLÍTICA DO AGRONEGÓCIO ................................................................................................... 105 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 105 2 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O AGRONEGÓCIO: CONCEITOS E OBJETIVOS .......... 105 3 A REGULAMENTAÇÃO ESTATAL NO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO .......................... 108 3.1 MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO (MAPA) ............. 109 3.2 MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO (MDA) .............................................. 111 3.3 CONSELHO DO AGRONEGÓCIO (CONSAGRO), SUAS CÂMARAS SETORIAIS E TEMÁTICAS ............................................................................................................................. 114 3.4 CONSELHO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL – CONDRAF ................................................................................................... 115 RESUMO DO TÓPICO 2 .................................................................................................................... 118 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 119 TÓPICO 3 - AS POLÍTICA PÚBLICAS PARA O AGRONEGÓCIO ATRAVÉS DOS PROGRAMAS DO GOVERNO FEDERAL ............................................................. 121 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 121 2 PROGRAMA DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO DO SETOR AGROPECUÁRIO (PRODESA) ........................................................................................................................................ 121 2.1 PROGRAMA APOIO AO PEQUENO E MÉDIO PRODUTOR ............................................ 124 2.2 PROGRAMA ASSISTÊNCIA TÉCNICA E DESENVOLVIMENTO RURAL NA AGRICULTURA .......................................................................................................................... 126 2.3 PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DE PROJETOS DE ASSENTAMENTOS ..................................................................................................................... 127 2.4 PROGRAMA DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DE TERRITÓRIOS RURAIS ....... 127 2.5 PROGRAMA DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO AGRONEGÓCIO ................. 128 2.6 PROGRAMA GARANTIA SAFRA ........................................................................................... 130 2.7 PROGRAMA TERRITÓRIOS DA CIDADANIA .................................................................... 131 RESUMO DO TÓPICO 3 .................................................................................................................... 134 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 135 TÓPICO 4 - O AGRONEGÓCIO BRASILEIRO E O COMÉRCIO EXTERIOR ...................... 139 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 139 2 GLOBALIZAÇÃO E A INSERÇÃO DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO NO COMÉRCIO INTERNACIONAL .................................................................................................. 139 3 POLÍTICA DE EXPORTAÇÃO E O AGRONEGÓCIO ............................................................. 142 4 PRINCIPAIS PRODUTOS E MERCADOS ................................................................................. 145 LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................................... 151 RESUMO DO TÓPICO 4 .................................................................................................................... 153 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 154 UNIDADE 3 - AS POLÍTICAS PÚBLICAS E SUAS INFLUÊNCIAS NO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO ............................................................................ 157 TÓPICO 1 - AS POLÍTICAS ECONÔMICAS, COMERCIAIS, DE ORDENAMENTO TERRITORIAL E DE INFRAESTRUTURA PARA O AGRONEGÓCIO ........... 159 IX 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 159 2 A POLÍTICA ECONÔMICA E O AGRONEGÓCIO ................................................................. 159 3 POLÍTICA COMERCIAL PARA O AGRONEGÓCIO .............................................................. 164 4 A POLÍTICA DE ORDENAMENTO TERRITORIAL PARA O AGRONEGÓCIO ............. 170 5 POLÍTICA DE INFRAESTRUTURA PARA O AGRONEGÓCIO .......................................... 172 LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................................... 176 RESUMO DO TÓPICO 1 .................................................................................................................... 179 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 180 TÓPICO 2 - A BANCADA RURALISTA, A REFORMA AGRÁRIA E O NOVO RURAL BRASILEIRO ................................................................................................... 181 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 181 2 A BANCADA RURALISTA ............................................................................................................ 181 3 A REFORMA AGRÁRIA ................................................................................................................. 184 4 O NOVO RURAL BRASILEIRO .................................................................................................... 187 RESUMO DO TÓPICO 2 .................................................................................................................... 191 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 192 TÓPICO 3 - A POLÍTICA FLORESTAL E DE PROTEÇÃO AMBIENTAL .............................. 193 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 193 2 O HISTÓRICO DA POLÍTICA FLORESTAL E DE PROTEÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL ........................................................................................................................................ 193 3 A LEGISLAÇÃO AMBIENTALBRASILEIRA ............................................................................ 198 4 O CÓDIGO FLORESTAL E SEU CONTEXTO ATUAL ............................................................ 202 RESUMO DO TÓPICO 3 .................................................................................................................... 206 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 207 TÓPICO 4 - AS POLÍTICAS DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA, FOMENTO, PESQUISA E EXTENSÃO VOLTADAS AO AGRONEGÓCIO ................................................ 209 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 209 2 A PARTICIPAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES PÚBLICAS VOLTADAS ÀS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS DO AGRONEGÓCIO ................................................................................... 209 3 DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO PARA POLÍTICAS PÚBLICAS DO AGRONEGÓCIO ...................................................................................................................... 212 4 OS DESAFIOS DAS POLÍTICAS DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA PARA O SETOR DO AGRONEGÓCIO .............................................................................................................................. 215 LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................................... 219 RESUMO DO TÓPICO 4 .................................................................................................................... 222 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 223 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................................... 225 X 1 UNIDADE 1 A AGROPECUÁRIA NO BRASIL: UMA ANÁLISE DO PROCESSO DE EVOLUÇÃO, MODERNIZAÇÃO E GESTÃO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir dessa unidade, você será capaz de: • conhecer o conceito e a história da agropecuária brasileira; • compreender o processo da política agrícola e de inovação na agropecuária; • identificar princípios e conceitos do sistema agroindustrial; • reconhecer os mecanismos de gestão e de produtividade do agronegócio. Esta unidade de estudos está dividida em três tópicos de conteúdos. Ao longo de cada um deles você encontrará sugestões e dicas que visam potencializar os temas abordados, e, ao final de cada um, estão disponíveis resumos e autoatividades para fixar os temas estudados. TÓPICO 1 – CONTEXTUALIZAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO DA AGROPECUÁRIA NO BRASIL TÓPICO 2 – POLÍTICA AGRÍCOLA E O PROCESSO DE INOVAÇÃO NA AGROPECUÁRIA TÓPICO 3 – GESTÃO E PRODUTIVIDADE DA AGROPECUÁRIA NO BRASIL 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 CONTEXTUALIZAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO DA AGROPECUÁRIA NO BRASIL 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico! Nesse momento você está iniciando seus estudos da disciplina de Políticas Públicas no Agronegócio. Diante disso, entendemos que o processo de ensino e aprendizagem é um procedimento muito complexo. Dessa forma, procuramos começar essa disciplina com uma abordagem didática a fim de facilitar a sua compreensão do estudo que se apresenta. Sendo assim, nesse primeiro tópico da Unidade 1 do livro didático serão abordados aspectos históricos referentes à agropecuária brasileira. Nessa direção procuramos contextualizar o objeto do agronegócio, ou seja, a agricultura e a pecuária. O objetivo desse primeiro tópico é proporcionar a você, acadêmico, um conhecimento em relação à evolução histórica da agropecuária no agronegócio. Portanto, no decorrer desse primeiro tópico descreveremos o conceito, as contribuições e a evolução do setor agropecuário. A seguir vamos contextualizar historicamente o processo de desenvolvimento da agricultura e do setor pecuário. Bons estudos! 2 A AGROPECUÁRIA: CONCEITO, DEFINIÇÃO E IMPORTÂNCIA A agricultura e a agropecuária têm sido utilizadas, tradicionalmente, como sinônimos na economia brasileira. De acordo com a maioria dos dicionários pesquisados nesse estudo, o conceito de agropecuária consiste na prática da agricultura e da pecuária em uma afinidade de reciprocidade, ou seja, produção de plantas e criação de animais, dentro dessa afinidade recíproca é o que define o conceito da agropecuária. Conforme Bacha (2004), o termo agropecuária é usado para denominar o grupo de atividades que usam a terra como fator de produção, seja para o plantio de culturas, para a criação de animais, o plantio de florestas e a aquicultura. Dentro desse entendimento, o presente estudo descreve que a agropecuária é composta de setores como: silvicultura, exploração florestal, pecuária e pesca. A produção de alimentos advinda da agricultura e da pecuária é atividade econômica indispensável. Assim, como imaginar a probabilidade da vida UNIDADE 1 | A AGROPECUÁRIA NO BRASIL: UMA ANÁLISE DO PROCESSO DE EVOLUÇÃO, MODERNIZAÇÃO E GESTÃO 4 humana sem a utilização dos procedimentos agrícolas? Em termos simples, sem nenhuma interpretação filosófica, o homem, desde os primórdios, tem na prática da agricultura e da pecuária sua atividade de subsistência: No início das civilizações, os homens viviam em bandos, nômades de acordo com a disponibilidade de alimentos que a natureza espontaneamente lhes oferecia. Dependiam da coleta de alimentos silvestres, da caça e da pesca. Não havia cultivos, criações domésticas, armazenagem e tampouco trocas de mercadorias entre bandos. Assim, passavam por períodos de fartura ou de carestia. Em cada local em que um bando se instalava, a coleta, a caça e a pesca, fáceis no início, ficavam cada vez mais difíceis e distantes, até um momento em que as dificuldades para a obtenção de alimentos se tornavam tão grandes que os obrigavam a mudar sempre de lugar, sem fixação de longo prazo (ARAÚJO, 2007, p. 13). No seu processo de evolução o homem foi se transformando e transformando a sociedade, assim foram surgindo novas formas de produção, acompanhadas de novos instrumentos. Nesse ínterim, segundo Araújo (2007), durante milhares de anos, as atividades agropecuárias continuaram a proceder de maneira muito extrativa, extraindo de forma fluente o que a natureza poderia proporcionar. As práticas tecnológicas, por sua vez, se fizeram de forma lenta e simples, como as adubações de materiais orgânicos (esterco e outros compostos) e o preparo de solos. O grande salto tecnológico do setor agropecuário vai ocorrer a partir da Revolução Industrial principiada no século XVIII, na Inglaterra. Os avanços de modernização e de tecnologia proporcionados por essa revolução vão influenciar o setor agropecuário de forma incisiva. Consequentemente, no atual período da história, a prática de fortes investimentos no setor agropecuário faz com que essa atividade venha a apresentar alto índice de desenvolvimento. Dessa forma, a agropecuária ganha destaque no cenário econômico. Conforme Baccarin (2011, p. 10), “além dos interesses privados, a modernização agropecuária costuma ser estimulada por políticas públicas, através de ações nas áreas da pesquisa, extensão rural, infraestrutura, crédito subsidiado, garantia de preços e renda, entre outras”. Dentro do contexto social, o setor agropecuário atua sob diferentes aspectos. Nesse sentido, além de abastecer uma demanda de alimentos variados para o consumo humano, o setor agropecuário fornece matérias-primas para a produção de remédios, de roupas, biocombustíveis, entre outros, constituindo-se em uma importante área do setor primário responsável pela produção de bens de consumo. TÓPICO 1 | CONTEXTUALIZAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO DA AGROPECUÁRIA NO BRASIL 5 UNI A Agropecuária também pode ser definida como teoria e técnica da agricultura associada à pecuária. Para Amorim, Coronele Teixeira (2009), “[...] o setor agropecuário gera relativamente menos empregos e, consequentemente, renda direta na economia, em contrapartida há uma elevada capacidade de multiplicação do emprego e renda nas demais atividades demandantes de insumos de sua produção, tais como indústria de transformação e indústria extrativa mineral”. Segundo Bacha (2004, p. 29), o desenvolvimento econômico considera que a agropecuária tem, basicamente, cinco funções importantes: • Fornecer alimento para a população total. • Fornecer capital para a expansão do setor agrícola. • Fornecer mão de obra para o crescimento e diversificação de atividades de economia. • Fornecer divisas à compra de insumos e bens de capitais necessários ao desenvolvimento das atividades econômicas. • Constitui-se em mercado consumidor para os produtos do setor não agrícola. Mediante o exposto, podemos reconhecer o setor agropecuário como um dos pilares econômicos de um país. No Brasil foi uma das primeiras atividades econômicas a serem desenvolvidas, tornando-se a base econômica do país; sob o mesmo ponto de vista, dadas as devidas proporções, hoje também responsável por transformações econômicas e sociais. Dessa forma, caro acadêmico, vamos descrever nos tópicos seguintes como a agricultura e a pecuária no Brasil, historicamente, passaram de processos de monocultura para atividades de produção diversificadas. UNI A relevância do setor da agropecuária no Brasil não está só na produção de alimentos, o setor fornece matérias-primas para vários segmentos de bens primários de consumo. UNIDADE 1 | A AGROPECUÁRIA NO BRASIL: UMA ANÁLISE DO PROCESSO DE EVOLUÇÃO, MODERNIZAÇÃO E GESTÃO 6 3 A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA AGRICULTURA NO BRASIL Inicialmente é necessário questionar o que é agricultura, antes de falarmos da sua evolução no Brasil. Estamos falando de um método relacionado ao cultivo da terra, atividade que o homem pratica há milhares de anos. Nessa direção, em vários momentos históricos o homem, condicionado pela sua cultura, educação e costumes, produziu alimentos e matéria-prima para a fabricação das suas necessidades materiais. Certamente, a sociedade, ao longo da sua história, teve na agricultura o meio para a sua sobrevivência. De acordo com Santana e Junior (2013, p. 129): Contudo, para obtenção do alimento por meio da agricultura, o homem usou nos tempos mais remotos técnicas e equipamentos tradicionais e arcaicos. Com o passar do tempo a sociedade foi se transformando, surgindo novos meios de produção, acompanhados de novas ferramentas. Entretanto, a evolução passa para a lavoura, e o homem, até no processo do preparo do solo, já passa a utilizar ferramentas que façam a remoção e a engenhosidade necessária na topografia do terreno para propiciar o plantio de determinadas lavouras. Nos estudos de muitos historiadores, a agricultura no Brasil, antes da chegada dos portugueses, era praticada de forma rudimentar. Os nativos que viviam no Brasil, em 1500, utilizavam o extrativo da natureza local, a exemplo das frutas nativas. Dentro do cultivo, entre outros, estava a plantação de feijão, milho, batata-doce e principalmente mandioca. O sistema de plantio consistia na derrubada da mata e queimada do solo, técnica conhecida como coivara. De acordo com Priore (2010), com a chegada dos portugueses, o conhecimento desse tipo de agricultura praticada pelos indígenas foi fundamental para a sobrevivência dos europeus. Assim, os gêneros alimentícios cultivados pelos nativos do Brasil foram incorporados ao alimento dos colonos lusos. UNI Conforme alguns historiadores, as principais plantas cultivadas antes da chegada dos europeus no Brasil eram a mandioca, o milho e a batata–doce. Portugal tinha em síntese, no início do povoamento do Brasil, o seguinte plano: constituía-se em dividir a costa brasileira em doze setores lineares até a linha de Tordesilhas, com extensões variáveis entre 180 a 600 quilômetros de costa, atribuídas aos donatários, e tinha por motivação econômica principal a exploração da cana-de-açúcar, além do pau-brasil, do algodão e outros produtos (PAIVA et al., 1973). TÓPICO 1 | CONTEXTUALIZAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO DA AGROPECUÁRIA NO BRASIL 7 Com o processo de colonização do Brasil, a cana-de-açúcar passou a ser o primeiro alimento a ser lançado em larga escala. O projeto de plantação da cana deparou com uma terra fértil no Nordeste do Brasil. Imediatamente a cana-de- açúcar tornou-se o produto principal da agricultura brasileira. Tal estrutura ficou sujeita ao trabalho escravo e à exploração da terra em latifúndios. Nesse contexto, os estudos de Roberto C. Simonsen descrevem que: No Brasil, não se justificava, nos primeiros tempos, o plantio de um artigo já em superprodução nos mercados portugueses. Com a melhoria dos preços, que se foi verificando a partir da segunda década do século XVI, incrementaram os portugueses a produção das ilhas e parece que, na terceira década, se plantou cana junto à feitoria de Pernambuco (SIMONSEN, 2005, p. 120). De acordo com Simonsen (2005), a plantação de cana-de-açúcar era exclusivamente para a produção de açúcar, a qual exigia uma complexa organização de terras, técnicas e homens. Dessa maneira, a construção de engenhos se fez necessária para atender à demanda. O engenho representava uma verdadeira povoação, obrigando a utilização não só de muitos braços, como as necessárias terras de canaviais, de mato, de pasto e de mantimentos. Com efeito, da casa do engenho, da de moradia, senzala e enfermarias, havia que contar com uns cem colonos ou escravos, para trabalharem umas mil e duzentas tarefas de massapê (de novecentas braças quadradas), além dos pastos, cercas, vasilhames, utensílios, ferro, cobre, juntas de bois e outros animais. Acarretavam, pois, um grande serviço de transporte de canas, de lenha e do artigo produzido. Dadas as dificuldades de locomoção e os riscos de ataques dos silvícolas, evitava-se o afastamento da costa, e estabeleciam-se os engenhos de preferência na faixa litorânea, junto aos pequenos rios, onde se utilizavam de barcas para os serviços de transporte; tornou-se, porém, logo necessário o emprego do carro de boi e o apelo à junta de tiro (SIMONSEN, 2005, p. 12). No entendimento de Caio Prado Junior (1983), em grande parte o açúcar foi o responsável pelas características sociais, políticas e econômicas daquele período. Isto porque a fábrica, o açúcar e a plantação do canavial eram dispendiosas e demandavam consideráveis investimentos. Com isso surgiram grandes propriedades de monocultura e, como resultante, a figura do senhor de engenho e a necessidade de mão de obra escrava, elementos que se conjugam em um sistema típico, a grande exploração rural constituída da célula fundamental da economia agrária brasileira (BARROS, 1989). UNIDADE 1 | A AGROPECUÁRIA NO BRASIL: UMA ANÁLISE DO PROCESSO DE EVOLUÇÃO, MODERNIZAÇÃO E GESTÃO 8 NOTA O período Colonial teve como principal produto econômico a cana-de-açúcar. Atualmente a cana-de-açúcar é um importante segmento do agronegócio. A cultura prioritária da cana-de-açúcar conteve o comércio do produto entre os séculos XV e XVI, no entanto, as perdas ocasionadas pelo sistema de monocultura fizeram com que alguns proprietários de fazenda migrassem para outro tipo de cultivo, como o cacau e o algodão. De acordo com Junior (1983, p. 56), o algodão, o tabaco e o cacau começam a ser plantados em grande escala. Em meados do século XVII, o algodão, o tabaco e o cacau passam a ser produzidos em larga escala e a integrar a pauta de exportações da colônia. A produção algodoeira desenvolve-se no Nordeste, em especial Maranhão e Pernambuco. O tabaco é produzido principalmente na Bahia, seguida por Alagoas e Rio de Janeiro e, ao longo do século XVII, o produto é usado como moeda de troca para aquisição de escravos nos mercados da costa africana. O cacau é explorado inicialmente apenas em atividade extrativista, no Pará e no Amazonas.Começa então a ser cultivado na Bahia e no Maranhão com mão de obra escrava. Entretanto, as concorrências de outras áreas produtoras no contexto mundial vieram por inibir o algodão e o tabaco. Nesse contexto, entre o final do século XVIII e o início do século XIX, o café surgiu como a nova força da economia nacional. De acordo com algumas historiografias, o café origina-se da África Oriental entre a Etiópia e a região dos grandes lagos. Daí teria sido levado ao Iêmen, onde iniciou sua cultura em meados do século XV. A planta foi introduzida no Brasil em 1727, e em 1760 algumas mudas foram plantadas no Rio de Janeiro, onde a cultura se desenvolveu de tal maneira que em 1826 a exportação do café brasileiro representava 20% das exportações mundiais do produto (PAIVA; CHATAN; FREITAS, 1976). Em meados do século XIX inicia-se uma fase de real prosperidade em função da contribuição da exportação do café brasileiro, que a partir dessa época toma vulto. A balança comercial do país, que vinha apresentando saldos negativos desde a sua independência, passa a apresentar superávits a partir de 1860. Dotado de clima e solo excepcionalmente adequados à produção de café, e sendo praticamente o único produtor mundial de expressão, somente o problema da mão de obra poderia se constituir em um empecilho à expansão acelerada da produção. TÓPICO 1 | CONTEXTUALIZAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO DA AGROPECUÁRIA NO BRASIL 9 Com efeito, tendo o tráfico de escravos sido eliminado em 1850, o desenvolvimento das plantações se via comprometido pelo fato de os escravos estarem sendo amplamente utilizados nas plantações de cana-de-açúcar ou atividade doméstica. A imigração veio solucionar a questão. Segundo Paiva, Chatan e Freitas (1976), as estatísticas revelam terem entrado no Estado de são Paulo, principal centro das imigrações, 928.445 pessoas entre 1879 e 1899. Conforme Paiva et al. (1973), a partir de 1831 o café passa a ocupar o primeiro lugar na pauta das exportações. Nesse ínterim, a indústria cafeeira veio a se tornar a principal base econômica da sociedade brasileira do século XIX e início do XX. Dessa forma, garantiu o acúmulo de capitais para a urbanização de algumas localidades do Brasil. De acordo com o autor: Além disso, graças à elevada rentabilidade da exploração e à abundância de terras novas e férteis, ensejava oportunidade a grande número de fazendeiros, sitiantes e assalariados. Isso não ocorria, de modo geral, com a cana-de-açúcar, pois o elevado investimento necessário para a exploração açucareira deu origem a um número relativamente pequeno de fazendeiros e usineiros. Vale ressaltar, também, que a cultura cafeeira, permitindo o cultivo intercalar de cereais, favorecia grandemente a produção subsidiária de alimentos de baixo preço, ao contrário do que ocorre com a cana-de-açúcar ou algodão (PAIVA et al., 1973, p. 14). Entre os fatores responsáveis por essa grande expansão da produção brasileira de café, podemos citar, de acordo com Albuquerque e Nicol (1987, p. 154-155): • O grande aumento na demanda mundial de café, principalmente na Europa e EUA, onde o café era usado como bebida estimulante; • o colapso da mineração em Minas Gerais, que liberou a mão de obra para as atividades de pecuária e agricultura. Observe que a mão de obra aqui considerada era escrava, de modo que estava havendo transferência de capital entre as atividades, da mineração para cafeicultura; • a boa adaptação do cafeeiro às condições climáticas dos arredores do Rio de Janeiro; e • a transferência da Corte portuguesa para o Rio de Janeiro, a qual incentivou o plantio dos cafeeiros. Em síntese, o desenvolvimento da cafeicultura levou à geração de capital necessário à nossa diversificação econômica, bem como a criação de um mercado. Entretanto, no período de 1871 a 1896 não ocorreram medidas públicas diretas de incentivo à expansão da produção da produção cafeeira. As preocupações do poder público concentraram-se nos aspectos fiscais envolvidos nas exportações do café (basicamente no mecanismo de cobrança de impostos, dado que o café produzido em algumas principais cidades era exportado pelos portos de outras províncias – como de Minas Gerais e Rio de Janeiro) e na propaganda de produtos no exterior. Em vez de incentivar a produção de café, as autoridades governamentais preocuparam-se em incentivar outras atividades agropecuárias, preocupando-se em evitar a monocultura do cafeeiro (BACHA, 1988). UNIDADE 1 | A AGROPECUÁRIA NO BRASIL: UMA ANÁLISE DO PROCESSO DE EVOLUÇÃO, MODERNIZAÇÃO E GESTÃO 10 DICAS Se você quiser aprofundar seus conhecimentos sobre a cultura do café, sugerimos a leitura do artigo: Cultura do Café, de Álvaro Ferraz. <http://www.ifcursos.com.br/sistema/admin/arquivos/15-09-28-apostilaculturadocafe.pdf>. Entre os anos 1897 e 1929 a grande produção acelerada e desordenada da cafeicultura acabou por gerar várias crises de superprodução e adoção de medidas públicas, visando defender a cafeicultura. Com a Revolução de 1930 iniciou uma nova fase, na qual se adotou uma estratégia de centralização da política econômica na esfera federal e teve início uma fase de desincentivo à cafeicultura (BACHA, 2004). Dessa forma, o período de 1930 a 1945 marcou uma transição na agropecuária centrada na cafeicultura para uma estrutura mais diversificada. O setor agrário no Brasil, entre 1946 e 1964, sofre com a discriminação caracterizada pelas ideias cepalinas de que o desenvolvimento econômico deve ser liderado pela industrialização e não pela agropecuária, essas ideias fundamentaram o estabelecimento de planos econômicos visando incentivar as atividades industriais via substituição de importações. Conforme Bacha (2004), no período de 1945 a 1964, poucas políticas foram adotadas de modo a estimular a agricultura no Brasil. Todavia, conforme o autor, a expansão da agricultura foi possível mediante a abertura de novas fronteiras agrícolas, a exemplo do Estado do Paraná, que intensificou as plantações de café. Não foi apenas a cafeicultura que teve grande dinamismo no período. Conforme Bacha (2004), as culturas de mandioca, de batata inglesa, algodão, café e cana-de-açúcar tiveram grande produtividade. As culturas de feijão, cacau, soja e trigo diminuíram sua produtividade. E as culturas do arroz, milho e laranja mantiveram suas produtividades relativamente estáveis. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), criada em 1973, no período do regime militar, terá a missão de diversificar a produção agrícola nas diversas regiões do país. Nesse ínterim, acontecerá o alargamento das fronteiras agrícolas para regiões do Cerrado. Da mesma forma, tem-se o incentivo de latifúndios monocultores com a produção em escala semi-industrial de soja, algodão e feijão. Na década de 1970, segundo Paiva, Schattan e Freitas (1976, p. 18), os objetivos do setor agrícola eram: TÓPICO 1 | CONTEXTUALIZAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO DA AGROPECUÁRIA NO BRASIL 11 A oferta de alimentos e de matérias-primas a preços menores, de modo a: • atender à demanda do mercado doméstico; • ampliar as possibilidades de exportação; • elevar a renda líquida do próprio setor, de modo que constitua um importante mercado consumidor de produtos do setor não agrícola, de início de bens de produção essenciais à modernização da agricultura e, posteriormente, dos demais bens de consumo e serviço oferecidos pelo setor; • aumentar o número de empregos no setor agrícola e as possibilidades de acesso à terra, de preferência na forma de propriedades familiares; • melhorar a distribuição de renda no setor, elevando os níveis de salário e melhorando as condições de trabalho; • garantir condições satisfatórias de vida familiar e social aos agricultores, proprietários ou não. O crescimento da atividade agrícola, embora não homogêneo entre 1965 e 1986, foi bem relevante, segundo Bacha (2004, p. 52): Tanto a lavoura como a pecuária tiveram grande crescimento no período entre 1960 e1985, houve acréscimo de 21,3 milhões de hectares com lavouras permanentes. O total de áreas com lavouras em 1985 (42,2 milhões de hectares) era de 102% maior do que existente em 1960 (20,9 milhões de hectares). De outro lado, o total de área ocupada com lavouras permanentes em 1985 (9,9 milhões de hectares) era 27% maior do que o existente em 1960 (7,8 milhões de hectares). Em 1994 o Brasil vive um processo de estabilização econômica proporcionada pelo Plano Real. Nesse contexto, o setor agrícola recebe atenção especial através de incentivos do próprio mercado, por meio da cadeia do agronegócio. A agricultura passa a viver um período de produtividade proporcionada pela mecanização do campo. UNI A inovação no campo está associada à vinda de empresas multinacionais para o Brasil (1960-1970), que começaram a produzir maquinários, implementos e insumos agrícolas. Nesse contexto, desenvolvem-se pesquisas para o setor agropecuário e estímulos governamentais através de planejamentos de financiamento. 3.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PECUÁRIA NO BRASIL Consideradas de suma importância alimentar, as proteínas animais são incomparavelmente superiores à natureza vegetal, nesse sentido, merecem destaque as proteínas nobres, essenciais e indispensáveis à vida do homem. Nesse contexto, caro acadêmico, qual seria a finalidade da pecuária? Seria só a alimentação? UNIDADE 1 | A AGROPECUÁRIA NO BRASIL: UMA ANÁLISE DO PROCESSO DE EVOLUÇÃO, MODERNIZAÇÃO E GESTÃO 12 A historiografia pertinente ao tema pecuária descreve que, principalmente, objetiva a produção primária de alimentos de origem animal e ao fornecimento de matéria-prima para a indústria de transformação, como vestuário e sapatos. Engloba a bovinocultura, ovinocultura, equinocultura, avicultura, bem com a criação de muares, asininos e caprinos. Foi com o processo de colonização que começou a se desenvolver a pecuária no Brasil como a conhecemos. Nesse período foi introduzido o gado bovino, visando inicialmente colaborar com a cultura canavieira, grande fonte de riqueza da época, porquanto os bois eram indispensáveis aos engenhos, quer como principal agente motor de transporte, quer como produto básico de alimentação. Conforme Neto (1970), foi no século XVI que chegaram ao Brasil os primeiros equinos, ovelhas e cabras, procedentes de Portugal e Cabo Verde, de raças ibéricas, de ovinos bordaleiros, meridianos e asiáticos. No século XVIII a pecuária começou a exercer relevante função social no Brasil. De acordo com os estudos de Neto (1970, p. 49), “no princípio desse século, o total de rebanho brasileiro orçava em 1.500.000 animais, na estimativa então feita por André Antonil, na antiquada e célebre Cultura e Opulência do Brasil, de 1711”. No século XIX a pecuária no Brasil tem a preocupação de cuidar do aperfeiçoamento das raças, dessa forma começam a ser introduzidas algumas raças nobres. Esse século é considerado, pela historiografia, como o século das feiras de gado. Eram os paulistas os boiadeiros por excelência, porque a eles incumbia ir ao extremo sul buscar os gados e distribuí-los às outras regiões. Nos relatos de Simonsen (2005), o grande negócio no setor da criação de gado do século XIX estava na venda e utilização do couro. Muitas vezes era o único artigo de exportação da pecuária. A produção do couro era utilizada nas portas das cabanas, cordas, alforjes para comida, a maca para guardar roupa, as mochilas, as roupas de viagem, além de uma variedade de utensílios. NOTA Pecuária e agricultura integram o mesmo espaço, constituindo um grau de dependência uma da outra. Economicamente a pecuária corresponde à criação e reprodução de animais domésticos, os quais abastecem o mercado consumidor. A partir do século XX os governantes brasileiros começaram a dar atenção à pecuária. Dessa forma foram criados vários decretos governamentais destinados à pecuária, materializando algumas medidas públicas para o setor. Essa constatação foi averiguada nos estudos de Neto (1970, p. 54): TÓPICO 1 | CONTEXTUALIZAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO DA AGROPECUÁRIA NO BRASIL 13 • Em 1907 ampliaram as facilidades de importação dos reprodutores (Decreto 6.454) e foi regulamentado o serviço de registro genealógico (Decreto 7.945). • Igualmente, em 7 de abril do mesmo ano foram estabelecidas condições para a implantação do parque frigorífico no país, concedendo favores e condição. • O Serviço de Veterinária do Ministério da Agricultura foi criado pelo Decreto n° 8.831, de 31 de outubro de 1910, no sentido de combater a mortalidade elevadíssima do rebanho, o que tornava a pecuária uma atividade menos compensadora. • Em 1912, o Decreto 9.515 regulamentou as escolas permanentes de laticínios, as quais, no entanto, só funcionaram durante algum tempo. Também nesse ano, pelo Decreto 9.704 foram regulamentadas as fazendas modelos. • Em 1915 foram regulamentados os postos de zootécnicos (11.461, de 27/01/1915). • No mesmo ano foram regulamentadas as importações e transportes de animais reprodutores (Decreto 11.579). • Em 1918 foram propiciados favores especiais à criação de ovinos e caprinos (Decreto 12.889). No mesmo ano, foram concedidos transportes nas estradas ferroviárias para reprodutores de raça (Decreto 12.890). • Também nessa ocasião, o Decreto 13.026 proibiu a matança de vitela e vacas aptas para a reprodução, estabelecendo condições para a concessão de atestados de salubridade de couros de animais abatidos no país. Podemos perceber que mediante o apresentado acima, o século XX representou um grande avanço para a pecuária brasileira. Nessa direção, o rebanho brasileiro passou a apresentar no século XX os seguintes números, nos anos de 1950, 1960 e 1966, conforme a pesquisa de Neto baseada nos dados do Censo e do Serviço de Estatística da Produção (SEP), fornecidos em milhares (SEP, 1967 apud NETO, 1970): 1950 1960 1966 Bovinos 52.655 73.962 90.153 Suínos 26.059 47.944 61.728 Ovinos 14.251 18.162 22.102 Equinos 6.937 8.273 9.082 Caprinos 8.256 11.195 13.957 QUADRO 1 – O REBANHO BRASILEIRO FONTE: Adaptado de SEP (1967 apud NETO, 1970, p. 56) No tocante aos bovinos, os dados do Censo e do Serviço de Estatística da Produção (SEP) destaca que a evolução zootécnica verificou-se, de maneira distinta, em três regiões do país. Assim, na parte meridional, notadamente no Rio Grande do Sul, “o melhoramento da espécie bovina deve-se a importações de inúmeros animais selecionados da Inglaterra, Argentina, Uruguai e França, sendo que as raças mais criadas na década de 1970 eram as seguintes: Hereford, Devon, Poled Angus, Charolês, Holandês, Shorthorn e Santa Gertrudis” (SEP, 1967 apud NETO, 1970, p. 56). UNIDADE 1 | A AGROPECUÁRIA NO BRASIL: UMA ANÁLISE DO PROCESSO DE EVOLUÇÃO, MODERNIZAÇÃO E GESTÃO 14 No Triângulo Mineiro procurou-se pesquisar qual o melhor tipo de zootécnico para aquela região, em virtude das condições climáticas serem um tanto desfavoráveis ao gado puro europeu. O gado indiano, o zebu, tão combatido no princípio, foi o que acabou tendo ótimos resultados, assim firmando-se, sendo denominado como gado dos trópicos. As raças mais criadas nesse período foram: Gir, Guserá, Nelore e Indu-Brasil. Quanto aos suínos, as primeiras importações foram de raças inglesas, como Large Black, Yorkshire, Berkshire e Tammorth. Depois veio o Duroc Jersey. Em 1930 e 1940 aportaram os suínos de raças Landschwein, Wessex-Sadleback e Hampshire. E finalmente, em 1950, os Landrace e Montana. Nos apontamentos da pesquisa de Neto (1970), a partir de 1920 a história da pecuária brasileira sofre transformações rápidas em todos os sentidos, quase sempre com o objetivo de melhoria do nível zootécnico de gado, de modernização dos métodos criatórios, na melhor assistência técnica, na erradicação de epizootias e doenças, na melhor atenção do governo etc. De acordo com a historiografia pertinente à pecuária no Brasil, a partir do século XX surge uma nova mentalidade, ouseja, uma preocupação em melhor progredir. De acordo com Simonsen (2005), essa mudança verificada no setor deve-se, antes de tudo, ao próprio progresso do século XX, com sua tremenda revolução industrial, com o advento da máquina transformando tudo, com o aperfeiçoamento da comunicação, levando os mais variáveis informes e ensinamentos a todo o mundo, com a melhoria dos transportes, inclusive com a invenção da aviação, aproximando as nações, antigamente tão separadas. Na década de 1920, vários criadores, preocupados com o futuro de seus negócios, mandaram seus filhos estudar, inclusive na Europa e América do Norte. Esse novo comportamento veio modificar a realidade da pecuária no Brasil, possibilitando que as práticas modernas fossem aplicadas às explorações rurais. Nesse contexto, até mesmo os criadores modestos, que não podiam mandar seus filhos para as faculdades no exterior, os enviavam às escolas técnicas, a exemplo da Escola Borges de Medeiros, situada em Porto Alegre, que admitia até gratuitamente determinado número de aprendizes de cada município (NETO, 1970). Assim, diversos tradicionais estancieiros renovaram seus métodos de exploração pastoril e modernizaram seus estabelecimentos, dinamizando suas atividades graças aos novos conhecimentos, conseguidos mediante contatos internacionais. Dessa forma, podemos perceber que o setor pecuário demonstrava séria preocupação em melhorar e acompanhar as últimas inovações havidas no ruralismo. Por outro lado, Silva (1998) destaca que essa “revolução” rural contempla outro lado a ser destacado, uma formação de excelentes profissionais, agrônomos e veterinários, especializados em zootecnia, que desde o início do século TÓPICO 1 | CONTEXTUALIZAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO DA AGROPECUÁRIA NO BRASIL 15 vinham crescendo em número, lentamente, formados por faculdades instituídas progressivamente no Brasil, cujas últimas gerações conseguiram, por seu dinamismo e entusiasmo, quebrar velhos preconceitos. Isso porque havia nesse período uma quantidade de estancieiros que julgavam esses técnicos como meros teóricos, de cultura livresca, sem o valor da experiência e da prática, simples aventureiros, incapazes de aconselhar as pessoas que trabalhavam diretamente no campo. Outro fator relevante dessa quebra de paradigma foi o fracionamento dos campos, circunstância tornada inevitável, em virtude de sucessão (causa mortis) que originou, de único e vasto tronco, uma série de pequenas propriedades, obrigando os novos e menos afortunados pecuaristas a racionarem suas explorações, modernizando-as a fim de obterem melhores rendimentos, sob pena de terem prejuízos nos negócios. O estudo de Nunes (2007) destaca que nesse contexto, paralelamente, a grande valorização do gado e do campo, que de tempos em tempos registrou- se no setor pastoril – por exemplo, nas duas grandes guerras, 1914 e 1939, bem como quando houve o “crack” do café, em 1929 – trouxe interesses maiores para a pecuária brasileira, criando riquezas nesse período, reinvestidas de maneira inteligente, muitas vezes com a criação de estabelecimentos atualizados, portadores de modelares instalações, de acordo com as mais modernas técnicas dos países mais desenvolvidos. Veja, caro acadêmico, que os estudos apresentados nos permitem perceber que houve uma série de fatores, aliados a outros, que serviram para modificar muito o panorama pastoril no Brasil, e de forma rápida. Os estudos de Neto (1970, p. 59), o qual buscou descrever a realidade da pecuária no seu período, descrevem outro fato interessante, de que: “As novas gerações de fazendeiros, quer aquela formada no trabalho dos campos, quer nas faculdades rurais, constituíram uma verdadeira elite, atuante, dinâmica, capaz, atualizada, desejosa de seguir os mais eficientes padrões da técnica criatória”. O mundo rural da pecuária foi se modernizando, e de acordo com as fontes pesquisadas, foram introduzidos no Brasil, a partir de 1970, os mais novos métodos de criação, com atualizada divisão de potreiros, pastagem adequada, racional manejo do gado, profilaxia de epizootias de doenças que afligem os animais, instalações e benfeitorias eficazes e oportunas, sedes confortáveis, confortáveis dependências para empregados, excelentes reprodutores para os rebanhos etc. Conforme Neto (1970, p. 60), o melhoramento registrado na pecuária brasileira ainda teve como responsáveis os seguintes fatores: UNIDADE 1 | A AGROPECUÁRIA NO BRASIL: UMA ANÁLISE DO PROCESSO DE EVOLUÇÃO, MODERNIZAÇÃO E GESTÃO 16 a) A exposição agropecuária, realizada desde 1899/1900; a) O dinamismo comercial das cabanhas de reprodutores; b) A criação do CREA, em 1938, e sua atuante participação no crédito rural; c) O fomento proporcionado pelo governo, no século XX, em especial nos últimos tempos (Carta de Brasília - Reforma Agrária - Estatuto da Terra – Estatuto do Trabalhador Rural – Fundepe); d) A indústria de carne frigorificada e exigência de mercado internacional de carnes. Progressiva depreciação do charque; e) A criação e multiplicação de cooperativas de produtos a partir de 1907. UNI O Brasil se tornou um dos maiores exportadores de carne bovina do mundo, porque tem um produto barato e este é o grande trunfo dos exportadores para conquista de novos mercados, tornando-se uma “commodity”, o que fez com que alguns grupos de frigoríficos se tornassem verdadeiros conglomerados, sendo muitos já com atuação internacional (SOUZA, 2008, p. 429). Prezado acadêmico, o estudo apresentado possibilita verificar que a pecuária no Brasil passou por diversas fases, assim, passando por um processo de desenvolvimento em cada uma dessas fases, em certo momento, impulsionado de forma considerada pela Revolução Industrial. Atualmente podemos encontrar bovinocultura em todas as regiões brasileiras. Nessa direção, alguns estudos consideram que a manutenção da pecuária em todas as regiões do país está condicionada a um sistema de culturas alternativas, que de certa forma contribui para seu desenvolvimento, a exemplo da soja, o milho e a cana no cerrado brasileiro. TÓPICO 1 | CONTEXTUALIZAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO DA AGROPECUÁRIA NO BRASIL 17 LEITURA COMPLEMENTAR UMA NOVA REVOLUÇÃO NA AGRICULTURA Aline Borba dos Santos Fábio Santos do Nascimento O que se busca atualmente são práticas sustentáveis, que se comparem às obtidas pela agricultura tradicional, mas que impliquem em menores custos ambientais (TILMAN, 1998). Esse desafio marca uma nova fase da agricultura, momento em que a sustentabilidade do modelo produtivista vem a ser questionada e que serão implantados valores ambientais nas práticas agrícolas, na opinião pública e na agenda política. Com base nesta forma de agricultura dita sustentável, muitos são os tipos de agricultura que vão surgindo, dentre as quais tem-se: agricultura orgânica, agricultura biodinâmica, agricultura natural, agricultura biológica, e a agricultura ecológica (HESPANHOL, 2008). Essas formas que foram surgindo buscavam um maior equilíbrio entre o homem e a natureza, de modo que fossem empregadas práticas menos agressivas, como o uso de produtos naturais e a diversidade de culturas em um mesmo campo, contrapondo à agricultura tradicional. Neste contexto merece destaque a agroecologia, termo que surge na América Latina na década de 80, e que tem como principal destaque o chileno Miguel Altieri. Esse movimento procura atender às necessidades da preservação ambiental e de promoção socioeconômica dos pequenos agricultores (TAMISO, 2005). Menos agressiva ao meio ambiente, a agroecologia ou agricultura ecológica promove a inclusão social e proporciona melhores condições econômicas para os agricultores, além disso, oferece produtos sem resíduos químicos (CAPORAL; COSTABEBER, 2002). Diferente da agricultura convencional, também chamada de tradicional, a agroecologia tem como alicerce processos de controle de pragas e doenças que se baseiam no equilíbrio químico e fisiológico da planta, buscandomaior resistência pelo equilíbrio energético e metabólico vegetal (MEDEIROS et al., 2007). A partir do contexto e da divulgação da agroecologia, algumas técnicas devem ser desenvolvidas para reverter o uso dos químicos e minimizar os impactos causados pela prática intensiva; é um retorno ao passado, uma busca pelas características das primeiras práticas agrícolas, onde o agricultor tinha o interesse na produção para suprir as necessidades, mas implantava técnicas para minimizar os impactos ao meio. UNIDADE 1 | A AGROPECUÁRIA NO BRASIL: UMA ANÁLISE DO PROCESSO DE EVOLUÇÃO, MODERNIZAÇÃO E GESTÃO 18 Várias são as alternativas da nova fase da agricultura. Dentre as que buscam reduzir a população de ‘pragas’ agrícolas está a luta autocida, onde são introduzidos machos estéreis na comunidade, o que reduzirá o número de crias (ACOT, 1990). Ou ainda, o uso de produtos microbianos à base de fungos e bactérias e extratos de plantas, que apresentam bons resultados no controle de pulgões, cochonilhas, da mosca branca, de larvas de lepidópteros, entre outros (MEDEIROS et al., 2007). Já entre as alternativas utilizadas para aumentar a produção preservando os insetos associados à cultura, Imperatriz-Fonseca et al. (2005) apontam, por exemplo, o uso de abelhas sem ferrão associadas às culturas, para a produção de produtos como o mel e também para o aumento da produção dos vegetais. Ou ainda o emprego da polinização que pode ser programada ou natural e permitindo uma maior variabilidade genética, tendo como objetivo preservar as condições naturais do meio. Campos et al. (1987) apontam que um dos animais que podem ser utilizados com essa finalidade e que já está sendo estudado, embora ainda haja muito o que conhecer, são as abelhas. A relação entre as abelhas e as flores funciona nos dois sentidos: ao mesmo tempo em que as abelhas se beneficiam visitando as flores e colhendo ali o seu alimento, as flores se beneficiam da visita produzindo melhores frutos. Outra característica que está cada vez mais evidente no setor agrícola é a tendência na utilização de produtos orgânicos, que apesar de apresentarem um custo mais elevado para o consumidor, têm garantia de qualidade. Embora este uso seja evidente, a conversão de sistemas convencionais para orgânicos envolve diversos aspectos, com destaque para os econômicos e políticos. O produtor tem como dificuldade os custos de implantação do sistema devido à perda inicial da produção pelo recondicionamento do solo e a incerteza de comercialização pela estrutura precária existente (ASSIS; ROMEIRO, 2007). Tilman (1998) apresenta as vantagens desses produtos não só na sua qualidade em relação à saúde dos consumidores, mas também em relação ao meio ambiente. Para este autor, os orgânicos aumentam a fertilidade do solo e garantem que os mesmos podem resultar em produções equivalentes aos métodos convencionais. No Brasil os primeiros movimentos que tiveram relação com a agricultura orgânica estavam ligados a produtos hortigranjeiros, onde tinham destaque frutas e principalmente legumes e verduras. Esse movimento começou a acontecer nos estados do Rio de Janeiro, Brasília, Rio Grande do Sul, São Paulo e Paraná (ASSIS; ROMEIRO, 2007). TÓPICO 1 | CONTEXTUALIZAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO DA AGROPECUÁRIA NO BRASIL 19 Estas observações que cada vez mais estão sendo realizadas permitem concluir que a agricultura com base orgânica é uma das tendências para o futuro, embora seja necessária uma maior divulgação e conscientização dos produtores sobre, respectivamente, as vantagens na qualidade dos produtos e na preservação das características do meio, e sobre os danos causados à saúde das diversas formas bióticas existentes. O desenvolvimento sustentável da agricultura, paradigma que agora pretende ser seguido, visa uma máxima produção conservando as bases de recursos naturais, além de obedecer à viabilidade econômica e social (SALAMONI; GERARDI, 2001). FONTE: SANTOS, Aline Borba dos; NASCIMENTO, Fábio Santos do. Transformações Ocorridas ao Longo da Evolução da Atividade Agrícola: algumas considerações. Centro Científico Conhecer - ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Goiânia, v. 5, n. 8, 2009. Disponível em: <http://www. conhecer.org.br/enciclop/2009B/transformacoes.pdf>. Acesso em: 2 jun. 2017. 20 Neste tópico, você viu que: • A agropecuária no Brasil tem seu contexto histórico ligado ao desenvolvimento econômico do país. O setor, além de fornecer alimento, implica a criação de empregos e de matérias primas para outros setores da economia. • Com o processo de colonização do Brasil, a cana-de-açúcar passou a ser o primeiro alimento a ser lançado em larga escala. Tal estrutura ficou sujeita ao trabalho escravo e à exploração da terra em latifúndios. Em grande parte, o açúcar foi o responsável pelas características sociais, políticas e econômicas daquele período, a exemplo do engenho, que era constituído, basicamente, por dois grandes setores: o agrícola, formado pelos canaviais, e o de beneficiamento, a casa do engenho, onde a cana era transformada em açúcar. • Ainda no final do período colonial o café foi introduzido no país. A partir de 1831, o café passa a ocupar o primeiro lugar na pauta das exportações. Nesse ínterim, a indústria cafeeira veio a se tonar a principal base econômica da sociedade brasileira do século XIX e início do XX, e garantiu o acúmulo de capitais para a urbanização de algumas localidades do Brasil. • Entre os fatores responsáveis pela expansão do café, podemos citar o grande aumento na demanda mundial de café, principalmente na Europa e EUA, onde o produto era usado como bebida estimulante; o colapso da mineração em Minas Gerais, que liberou a mão de obra para as atividades de pecuária e agricultura, a boa adaptação do cafeeiro às condições climáticas dos arredores do Rio de Janeiro e a transferência da Corte portuguesa para o Rio de Janeiro, a qual incentivou o plantio dos cafeeiros. • Com a Revolução de 1930 teve início uma nova fase, em que se adotou uma estratégia de centralização da política econômica na esfera federal e se iniciou uma fase de desincentivo à cafeicultura. Dessa forma, o período de 1930 a 1945 marcou uma transição na agropecuária centrada na cafeicultura para uma estrutura mais diversificada. • Entre 1946 e 1964 surgem ideias no Brasil de que o desenvolvimento econômico deve ser liderado pela industrialização e não pela agropecuária, essas ideias fundamentaram o estabelecimento de planos econômicos visando incentivar as atividades industriais via substituição de importações. • Em 1994 o Brasil vive um processo de estabilização econômica proporcionada pelo Plano Real. Nesse contexto, o setor agrícola recebe atenção especial através de incentivos do próprio mercado por meio da cadeia do agronegócio. A agricultura passa a viver um período de produtividade proporcionado pela mecanização do campo. RESUMO DO TÓPICO 1 21 • A pecuária objetiva a produção primária de alimentos de origem animal e o fornecimento de matéria-prima para a indústria de transformação, como vestuário e sapatos. Engloba a bovinocultura, ovinocultura, equinocultura, avicultura, bem como a criação de muares, asininos e caprinos. • No século XIX a pecuária no Brasil tem a preocupação de cuidar do aperfeiçoamento das raças, dessa forma, começam a ser introduzidas algumas raças nobres. Esse século é considerado pela historiografia como o século das feiras de gado. • A partir do século XX os governantes brasileiros começaram a dar atenção à pecuária. Dessa forma, foram criados vários decretos governamentais destinados à pecuária, materializando algumas medidas públicas para o setor. • A pecuária no Brasil, a partir do século XX, assume uma nova mentalidade, ou seja, uma preocupação em melhor progredir. Essa mudança verificada no setor deve-se, antes de tudo, ao próprio progresso do século XX, com sua tremenda revolução industrial. • As duas grandes guerras, em 1914 e 1939, bem comoo “crack” do café, em 1929, trouxeram interesses maiores para a pecuária brasileira. • No Brasil, a partir de 1970, foram introduzidos os mais novos métodos de criação, com atualizada divisão de potreiros, pastagem adequada, racional manejo do gado, profilaxia de epizootias e doenças que afligem os animais, instalações e benfeitorias eficazes e oportunas, sedes confortáveis, confortáveis dependências para empregados, excelentes reprodutores para os rebanhos etc. 22 1 Conforme o contexto histórico estudado nesse tópico, a agropecuária expõe acentuado destaque no cenário da economia nacional. Conforme Bacha (2004), o termo agropecuária é usado para denominar o grupo de atividades que usam a terra como fator de produção, seja para o plantio de culturas, para a criação de animais, o plantio de florestas e a aquicultura. Nessa conjuntura a agropecuária é composta por diversos setores. Nesse sentido, quais são os setores que compõem a agropecuária apresentada nesse tópico? Assinale a alternativa CORRETA: FONTE: BACHA, Carlos, José Caetano. Economia Agrícola no Brasil. São Paulo: Atlas, 2004. a) ( ) Silvicultura, exploração florestal, pecuária e pesca. b) ( ) Indústria pecuária, exploração florestal, pesca e agricultura. c) ( ) Silvicultura, pecuária e pesca, indústria agrária. d) ( ) Indústria pecuária, exploração florestal, criação de bovinos e agricultura. 2 A produção agropecuária no Brasil, a partir de um processo de inovação, teve forte expansão da produção e produtividade, entrando em uma nova fase. Dessa forma, a agropecuária apresenta funções importantes para o incremento econômico do país. Assim, levando em consideração as cinco funções importantes da agropecuária para o desenvolvimento econômico, apresentadas por Bacha (2004) nesse tópico, analise as afirmativas a seguir: FONTE: BACHA, Carlos, José Caetano. Economia Agrícola no Brasil. São Paulo: Atlas, 2004. I - Fornecer alimento para a população total. II - Fornecer mão de obra para o crescimento e diversificação de atividades de economia. III - Fornecer melhores condições de vida para a população urbana. IV - Fornecer divisas à compra de insumos e bens de capitais necessários ao desenvolvimento das atividades econômicas. V - Fornecer mercado consumidor para o setor do vestuário. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As afirmativas II e III estão corretas. b) ( ) As afirmativas I, II e III estão corretas. c) ( ) As afirmativa III, IV e V estão corretas. d) ( ) As afirmativas I, II e IV estão corretas. 3 A indústria cafeeira veio a se tornar a principal base econômica da sociedade brasileira do século XIX e início do XX. Nessa direção, a cultura do café veio constituir uma sociedade e modos culturais que evidenciaram uma época. Com relação aos fatores responsáveis pela grande expansão da produção brasileira do café, analise as afirmativas a seguir: AUTOATIVIDADE 23 I - O café começa a apresentar uma grande demanda mundial, e recebe referência de bebida estimulante. II - Condições climáticas favorecem o cultivo do café no Brasil. III - A ida de D. João VI para Portugal incentivou a plantação do café. IV - A política econômica que valorizou o Real proporcionou novos investimentos na cafeicultura. V - Mão de obra abundante proporcionada pelo esgotamento da mineração em Minas Gerais. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As afirmativas II e III estão corretas. b) ( ) As afirmativas I, II e III estão corretas. c) ( ) As afirmativa III, IV e V estão corretas. d) ( ) As afirmativas I, II e V estão corretas. 4 Embora o processo de industrialização seja a grande preocupação do desenvolvimento da política econômica no contexto atual, a produção pecuária ocupa grande importância na economia política do Brasil. No século XIX a pecuária no Brasil buscava cuidar do aprimoramento das raças, dessa forma, começam a ser introduzidas algumas raças nobres no país. Nesse ínterim, o setor pecuário teve como grande negócio a venda e utilização do couro. Nesse sentido, escreva em quais produtos a produção do couro era utilizada. 24 25 TÓPICO 2 POLÍTICA AGRÍCOLA E O PROCESSO DE INOVAÇÃO NA AGROPECUÁRIA UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Prezado acadêmico, no tópico anterior apresentamos a evolução do contexto histórico da agropecuária no Brasil, nessa mesma direção, esse tópico procura descrever o processo da inovação na agropecuária. Nesse sentido, o que descreveremos a seguir tem como objetivo o estudo de questões que buscam viabilizar o entendimento das Políticas Públicas no Agronegócio. Consideramos no primeiro momento destacar algumas observações introdutórias da evolução da política pública para a agropecuária através do Crédito Rural, Seguro Rural e Pronaf, tendo como objetivo ressaltar a relevância do processo de desenvolvimento rural através da política de estado, tema que abordaremos com mais profundidade na Unidade 2. Nesse tópico também serão apresentados mais três temas: a mecanização no campo e as inovações tecnológicas, que tem como intuito compreender a realidade rural brasileira, seus dilemas e necessidades em relação à inovação do setor. Outro tema é a biotecnologia, nesse estudo procuramos trazer uma reflexão sobre uma prática que tem revolucionado a agricultura e o agronegócio. O tema referente ao sistema agroindustrial, que finaliza esse tópico, procura consolidar o entendimento do complexo agroindustrial, a fim de oferecermos alguns dados que expressam as relações e conexões do complexo agroindustrial. 2 POLÍTICA AGRÍCOLA BRASILEIRA: CRÉDITO RURAL, SEGURO E PRONAF A sociedade brasileira atualmente conhece o setor agrário mais pelas imagens na televisão, o impulso da agricultura no agronegócio, os conflitos dos sem-terra, desmatamento na Amazônia, entre outros, assim, muitas vezes, desconhecendo sua participação direta na política econômica e na vida da população. Como já vimos no tópico anterior, no início dos anos 1960 discutiam- se intensamente os rumos da economia brasileira, enfatizando sobretudo a continuidade do processo de industrialização, em razão do esgotamento do modelo de substituição de importações, o que provocou alterações no meio rural. UNIDADE 1 | A AGROPECUÁRIA NO BRASIL: UMA ANÁLISE DO PROCESSO DE EVOLUÇÃO, MODERNIZAÇÃO E GESTÃO 26 Nesse contexto, o setor agrário passaria pela proposta de reforma. Era necessária uma agricultura moderna, que desse conta de responder aos estímulos de demanda pela aplicação de capital e incorporação de novas tecnologias, e não pelo simples aumento dos preços. Como relata Ianni (1984), as políticas adotadas de 1930 a 1965 refletem o deslocamento do centro dinâmico da economia cafeeira para os segmentos urbano-industriais. Tal deslocamento reflete claramente a redução relativa da importância do setor exportador na formação da renda nacional e a consequência emergencial de novos segmentos e frações de classe. Os estudos de Stolcke (1986) mostram que a posição dos proprietários rurais brasileiros na década de 1960 girava em torno de uma posição política de modernização da agricultura, como a importação de máquinas, equipamentos e outros insumos, graças à taxa de câmbio favorecida. Em outras palavras, as elites agrárias desejavam uma política de industrialização que modernizasse a fase técnica da agricultura. Não é por acaso que essa política de modernização conservadora, uma via capitalista de desenvolvimento que não tocaria na estrutura da propriedade rural – seria exatamente o sentido das políticas agrícolas agrárias dos governos militares que se seguiram ao golpe de 1964, apoiados pelo segmento da burguesia brasileira e do capital internacional (SILVA, 1998, p. 50). UNI A Política Agrícola ou Política de Desenvolvimento Rural pode ser compreendida, também, como um conjunto de medidas que procura aferir recursos e tecnologia à exploração da terra sem esgotar seus recursos naturais. Conforme Kageyama et al. (1987), na década de 1960 os interesses na agriculturanão poderiam mais ser articulados apenas em torno de uma política cambial seletiva. Não se tratava mais de favorecer certas importações, mas ao contrário, de coibi-las, de modo a criar um mercado interno cativo para as indústrias que aqui se instalavam, ou seja, se a política cambial seletiva permitia discriminar os produtos a serem importados quando existissem similares nacionais, isso não era suficiente para garantir a demanda interna. A elevada margem de lucro garantida pelas barreiras tarifárias não se realizaria se não houvesse demanda por parte dos agricultores. Era fundamental, portanto, acrescentar às tarifas protecionistas um mecanismo indutivo que garantisse uma modernização quase compulsória à base técnica da agropecuária brasileira. TÓPICO 2 | POLÍTICA AGRÍCOLA E O PROCESSO DE INOVAÇÃO NA AGROPECUÁRIA 27 Esse mecanismo foi o financiamento de taxas subsidiadas e a prazos relativamente longos, quando comparados aos das linhas de crédito comerciais vigentes, através do Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR). “O SNCR foi criado em 1965 com a reforma do sistema financeiro. Antes desse ano, a concessão de crédito rural já era feita pelo Banco do Brasil. Essa instituição criou, em 1935, a Carteira de Crédito Agrícola e Industrial (CREAI), que começou a operar em 1937” (BACHA, 2004, p. 68). NOTA Antes da implementação do Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR) havia algumas concessões de crédito ao setor rural, a partir de 1965, com a criação do SNCR, começa um processo de acesso de crédito rural à agricultura brasileira. De acordo com Silva (1998), a principal política do regime militar foi a política de crédito rural subsidiado. Do lado da indústria criava-se um mercado cativo para as máquinas, os equipamentos e os insumos produzidos. Do lado dos produtores rurais financiava-se, a prazos relativamente longos e juros reais negativos, os elementos necessários à formação na base técnica da produção agropecuária (capital fixo circulante), bem como as próprias necessidade monetárias criadas pela modernização das relações necessárias para que a incipiente política de modernização agropecuária, impulsionada no pós-guerra com a importação de máquinas, equipamentos e insumos químicos, desembocasse na própria industrialização da agricultura. Conforme Bacha (2004, p. 68), “o SNCR estabeleceu as condições necessárias para canalizar compulsoriamente uma porcentagem dos depósitos à vista dos bancos para a política de modernização conservadora”. Mas, de acordo com Kageyama et al. (1987), só os produtores rurais foram contemplados, assim os recursos compulsórios que não conseguiram ser aplicados no campo seriam repassados ao Banco Central na conta do FUNAGRI (Fundo Geral para a Agricultura e Indústria), destinado a incentivar programas agroindustriais. Segundo Silva (1998), os grupos influentes da política brasileira conseguiram traçar estratégias que viabilizassem seus interesses através da política de crédito rural subsidiado. Nessa direção, permitiu ao Estado retornar sua política reguladora macroeconômica (política monetário-financeira expansionista). Para Silva (1998, p. 51), “não é sem razão que a política de crédito rural é considerada o carro-chefe da política de modernização conservadora até o final dos anos 1970”. UNIDADE 1 | A AGROPECUÁRIA NO BRASIL: UMA ANÁLISE DO PROCESSO DE EVOLUÇÃO, MODERNIZAÇÃO E GESTÃO 28 UNI O crédito rural subsidiado foi relevante para o processo de modernização das atividades do campo. A saber, o Manual de Crédito Rural é o documento normativo, editado pelo Banco Central, responsável por manter atualizadas as documentações para acessar o programa, dos prazos de pagamentos, dos encargos financeiros, das garantias etc. Nesse ínterim, conforme Bacha (2004, p. 62), existem três tipos de crédito rural: • Crédito de custeio: relaciona-se à necessidade de capital de giro para as atividades agrícolas. • Crédito de investimento: refere-se aos recursos necessários para a construção, instalação e compra de equipamentos. • Credito de comercialização: relaciona-se à política de preços mínimos. O crescimento do crédito rural propiciou a incorporação de tratores, máquinas agrícolas e compra de insumos químicos (décadas de 1960 e 1970), bem como a renovação da frota brasileira (após 1996). Essa política de crédito, que permitiu fortalecer a aproximação da agricultura com a indústria, tinha como fonte de recursos para conceder o crédito rural duas fontes básicas, conforme Bacha (2004, p. 62): Recursos com baixo custo na captação são: os oriundos da emissão de moeda, da obrigatoriedade de certa parcela dos depósitos à vista ser destinada ao empréstimo à agropecuária (são recursos das exigibilidades sobre os depósitos à vista e as transferências dos recursos do orçamento do tesouro), esses três tipos de recursos, ao serem repassados ao sistema bancário, permitem a concessão e empréstimo sem grande preocupação com o custo de captação dos mesmos. Com isso, os bancos podem emprestar esses recursos a taxas de juros abaixo do mercado livre. Recursos captados com custos financeiros normais são: oriundos da caderneta de poupança rural (poupança ouro do Banco do Brasil), os recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), do programa de geração de Emprego Rural (Proger-rural), os recursos captados no exterior e os recursos livres captados pelo sistema bancário (através, por exemplo, de Certificado de depósito Bancário e Recibo de depósito Bancário). Como esses recursos têm custo normal de captação (igual ao juro que o sistema bancário deve pagar aos proprietários desses recursos), eles só podem ser emprestados a uma taxa de juros igual à taxa de juros de captação acrescida e um spread (que cubra o custo administrativo e dê lucro aos bancos). Por exemplo, se os custos de captação são de 20% ao ano e o spread é de 8%, os empréstimos agrícolas serão feitos a 29,6% ao ano. Entretanto, se não houvesse custo de captação, os empréstimos poderiam ser feitos à taxa de juros de 8% ao ano. TÓPICO 2 | POLÍTICA AGRÍCOLA E O PROCESSO DE INOVAÇÃO NA AGROPECUÁRIA 29 Nos relatos de Silva (1998), depois de 1979, ironicamente, a partir do momento em que a agricultura é dita prioritária no último governo militar pós- 1964, o crédito rural subsidiado perde sua base de sustentação política. A elevação das taxas inflacionárias, de um lado, fez crescer os subsídios implícitos nas taxas nominais prefixadas no SNRC. De outro lado, reduziu drasticamente o volume de depósito à vista nos bancos comerciais, fonte básica dos recursos canalizados para o crédito rural. Nesse contexto: [...] Os programas recessivos de ajustes impostos pelo Fundo Monetário Internacional, a pretexto de combater o déficit público, impediram que o Tesouro Nacional, via Banco do Brasil, pudesse continuar bancando os volumes demandados do crédito rural dos anos 80. A saída foi reduzir os níveis de subsídios embutidos, basicamente trocando as taxas nominais prefixadas (numa conjuntura de ascensão inflacionária) por pós-fixadas (SILVA, 1998, p. 51). Conforme Santana (2014), o crédito rural se constituiu em um dos instrumentos políticos de elevada importância para o desenvolvimento do setor agrário. No entanto, de acordo com o autor: O papel ativo da velha política agrícola foi consideravelmente reduzido e tornou-se quase nulo durante a década de 1990. O crédito oficial foi cortado, os preços mínimos perderam relevância e capacidade de dar suporte à renda agrícola em conjunturas de mercado desfavoráveis, o Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro) entrou em colapso, e a extensão rural ficou inerte. A partir de 1995, começaram a emergir os elementos da nova política agrícola, que aos poucos foi se consolidando sem, no entanto, chegar a superar inteiramente a velha, que também se recompôs parcialmente nos últimos anos (SANTANA, 2014, p. 805). Nesse contexto, cabe destacar o crédito do Pronaf (Programa Nacional de
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