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TCC RUBI 2018

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RUBSLENI RODRIGUES DOS SANTOS 
 
Faculdade Mato Grosso do Sul- FACSUL 
Curso de Direito 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ADOÇÃO DE CRIANÇAS POR CASAIS HOMOAFETIVOS: 
Uma análise a partir da afetividade e do melhor interesse da 
criança 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAMPO GRANDE-MS 
2018 
 
 
RUBSLENI RODRIGUES DOS SANTOS 
 
Faculdade Mato Grosso do Sul- FACSUL 
Curso de Direito 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ADOÇÃO DE CRIANÇAS POR CASAIS HOMOAFETIVOS: 
Uma análise a partir da afetividade e do melhor interesse da 
criança 
Trabalho de Conclusão de Curso realizado pela 
acadêmica Rubsleni Rodrigues dos Santos, sob 
orientação do Professor Aristógno Espindola da 
Cunha, como requisito para aprovação na 
disciplina de TCC II da Faculdade Mato Grosso 
do Sul. 
 
 
 
 
 
 
 
CAMPO GRANDE-MS 
2018 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 5 
2 A AUTORIDADE PARENTAL E A FAMÍLIA A LUZ DA CONSTITUIÇÃO 
FEDERAL ................................................................................................................................ 6 
3 DEVER CONSTITUCIONAL DE AFETO ....................................................................... 8 
4. A IMPORTANCIA DO INSTITUTO DA ADOÇÃO PARA O DIREITO 
BRASILEIRO ........................................................................................................................ 11 
5. ADOÇÃO DE CRIANÇAS POR CASAIS HOMOAFETIVOS: UM 
ENFRENTAMENTO COM BASE NO CONCEITO DE AFINIDADE FAMILIAR E NO 
MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA ............................................................................. 14 
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 17 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 18 
 
 
 
ADOÇÃO DE CRIANÇAS POR CASAIS HOMOAFETIVOS: Uma análise a partir da 
afetividade e do melhor interesse da criança 
ADOPTION OF CHILDREN BY HOMOAFETIVE COURSES: An analysis based on the 
affinity and the best interest of the child 
Rubsleni Rodrigues dos Santos 
Aristógno Espindola da Cunha 
 
RESUMO: O presente artigo teve por escopo averiguar a possibilidade de adoção de crianças 
por casais homoafetivos, objetivando um estudo acurado no que se refere à proteção integral da 
criança e de seu melhor interesse. Nesse sentido, problematizou-se a ideia de que a opção sexual 
dos adotantes importa para fins de concessão de adoção, de modo que a pesquisa justificou-se 
na necessidade de evidenciar os instrumentos jurídicos capazes de sanar a deficiência do Estado 
em garantir o desenvolvimento pleno das crianças. Para a construção da pesquisa foi utilizado 
o método hipotético-dedutivo, a partir de pesquisas bibliográficas e documentais, entendendo-
se, como hipótese inicial, que a opção sexual dos adotantes não pode ser utilizada como 
pressuposto para negar o direito de adoção, devendo, em verdade, ser analisada precipuamente 
o entendimento do melhor interesse do adotado. Desse modo, conclui-se que a adoção não pode 
ser visualizada a partir da opção sexual dos adotantes, mas deve levar em consideração dois 
fatores essenciais, que são concomitantemente direcionados tanto aos adotantes quanto aos 
adotados. Aos primeiros, o direito à paternidade e à constituição plena de família, enquanto que 
aos segundos o direito à convivência familiar, ao desenvolvimento pleno, ao seu melhor 
interesse e à proteção integral. Todas essas categorias de direitos voltam-se à principal 
perspectiva que deve ser compreendida o embate objeto da pesquisa, que é a preservação da 
dignidade humana sobre todos os seus vieses. 
PALAVRAS-CHAVES: 1. Adoção; 2. Melhor interesse da criança; 3. Adoção por casais 
homoafetivos; 4. Homoafetividade; 5. Afetividade 
ABSTRACT: The purpose of this article was to investigate the possibility of adoption of 
children by homoaffective couples, aiming at an accurate study regarding the integral 
protection of the child and its best interest. In this sense, the idea that the sexual choice of 
adopters is important for the purposes of granting adoption was problematized, so that 
research was justified on the need to highlight the legal instruments capable of remedying the 
State's deficiency in guaranteeing full development of children. For the construction of the 
research, the hypothetical-deductive method was used, based on bibliographical and 
documentary researches, it being understood, as an initial hypothesis, that the sexual choice of 
adopters cannot be used as a presupposition to deny the right of adoption, in fact, the 
understanding of the best interest of the adoptee should be analyzed. Thus, it can be concluded 
that adoption cannot be visualized from the sexual choice of adopters, but must take into 
account two essential factors, which are concomitantly directed to both adopters and adoptees. 
To the former, the right to paternity and the full constitution of the family, while to the latter 
the right to family life, to full development, to their best interest and to integral protection. All 
these categories of rights return to the main perspective that must be understood the clash 
object of the research, which is the preservation of human dignity over all its biases. 
KEYWORDS: 1. Adoption; 2. Best interest of the child; 3. Adoption by homosexual couples; 
4. Homoafetividade; 5. Affinity 
5 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
Na medida em que as relações sociais avançam e, por consequência, o direito se 
adéqua, como efeito de causa versus consequência surge no ordenamento jurídico novas 
situações que devam ser amplamente observadas. É o que ocorre, principalmente, com o direito 
de família que, no perpassar dos séculos, sofreu inúmeras alterações significativas. 
Em razão do entendimento do que viria a ser o conceito de família tradicional e de 
quem exerceria o poder familiar, como consequência, passou-se a ter na sociedade relações 
mais dinâmicas e menos duradouras, ficando a cargo do direito, portanto, buscar adequar o 
ordenamento jurídico em torno dessas novas situações. Sob este viés, o objetivo do estudo é 
tratar de duas situações decorrentes, que é justamente o alargamento do conceito de constituição 
familiar e o instituto da adoção do ordenamento jurídico. 
Nesse sentido, considerando que com o alargamento do conceito de família, passou a 
subsistir dúvidas no ordenamento jurídico acerca da possibilidade de adoção de crianças por 
casais homoaefetivos, o objetivo do presente estudo é justamente aprofundar nesta análise, com 
a intenção de evidenciar a possibilidade de adoção sob o enfoque dos princípios do melhor 
interesse da criança e da proteção integral. 
Para tanto, o capítulo 2 tratará de analisar a evolução histórica do exercício da 
autoridade parental e do novo conceito de família advindo da Constituição Federal, com a 
intenção de evidenciar a dinamicidade do direito e a relevância que foi atribuída à família na 
criação e desenvolvimento da criança. 
Ademais, o capítulo 3 abordará o dever de afeto decorrente de um mandamento 
constitucional, apontando os motivos pelos quais a Constituição Federal busca tutelar esse 
dever, mas principalmente os efeitos do afeto na criação do filho. Já no capítulo 4, a intenção 
da pesquisa é abordar o instituto da adoção e sua importância no direito brasileiro, enfocando a 
relevância do instituto para o desenvolvimento da criança e, ainda, para a garantia do direito de 
constituir família. 
No capítulo 5 repousa o ápice da pesquisa, que é justamente um estudo aprofundado 
sobre a possibilidade de adoção de crianças por casais homoafetivos, valendo-se como 
fundamento principal o conceito de constituição de família pautada na ideia de afetividade e 
sob enfoque do melhor interesse da criança, para o fimde elucidar os benefícios advindos dessa 
possibilidade no que se refere ao desenvolvimento e criação de uma criança. 
Por fim, destaca-se que na consecução da pesquisa será utilizado o método hipotético-
dedutivo, a partir de pesquisas bibliográficas e documentais, entendendo-se, como hipótese 
6 
 
inicial, que a opção sexual dos adotantes não pode ser utilizada como pressuposto para negar o 
direito de adoção, devendo, em verdade, ser analisada precipuamente o entendimento do melhor 
interesse do adotado. 
 
2 A AUTORIDADE PARENTAL E A FAMÍLIA A LUZ DA CONSTITUIÇÃO 
FEDERAL 
 
No decorrer da história, a instituição família sofreu significativas alterações, desde a 
compreensão de qual seria o papel da mulher na sociedade conjugal até o conceito de família 
com o advento da promulgação da Constituição Federal em 1988. Sob essa perspectiva, a 
mulher passou a galgar espaço na sociedade, o que lhe permitiu romper com os ideários 
tradicionais de que seu papel seria apenas para a manutenção da vida humana e, de igual 
maneira, transpôs-se o entendimento originário para constituição de família, onde se adotou a 
afinidade como peça elementar para definir família1. 
Acerca de qual seria a ideia da família originária, construída nos direitos grego e 
romano, destaca seu papel voltado à procriação e manutenção da espécie humana: 
No direito romano, assim como no grego, o afeto natural, embora pudesse 
existir, não era o elo entre os membros da família, que era concebida como 
um dever cívico, para que os jovens pudessem servir aos exércitos de seus 
países, visando, assim, à constituição da prole, principalmente masculina, com 
a finalidade de perpetuação da espécie2. 
 
O modelo antigamente praticado conferia aos homens o poder de controle sobre os 
membros da instituição família, razão pela qual a mulher compunha “uma posição inferior, 
sendo considerada incapaz de reger sua própria vida, igualando-se aos filhos”3. Dessa forma, a 
família ficava adstrita ao poder familiar do homem, que possuía autoridade sobre seu lar e seus 
membros. Essa autoridade conferia ao homem o poder de punir, vender ou até mesmo matar 
qualquer membro de sua família, podendo, inclusive, determinar a religião a ser praticada por 
seu lar. Não obstante, Akel destaca que os filhos e a esposa sequer possuíam patrimônios, uma 
vez que não eram dotados de capacidade civil4. 
Esse poder familiar perdeu força quando da transição à idade média, uma vez que em 
 
1 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 10. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, p.98. 
2 LISBOA, Roberto Senise. Manual elementar de direito civil: direito de família e das sucessões, v. r, ed. rev., 
atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p.27. 
3 SILVA, Marcello Alves Cazé. Vantagens e desvantagens da guarda compartilhada. Monografia jurídica. 
Governador Valadares: Repositório online da Faculdade de direito, ciências administrativas e econômicas da 
Universidade Vale do Rio Doce, 2010, p.10. 
4 AKEL, Ana Carolina Silveira. Guarda compartilhada: um avanço para a família. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2009, 
s/p. 
7 
 
virtude do exponencial crescimento da igreja, seus ideais expandiram-se às diversas esferas da 
sociedade, incluindo a política, econômica, social e, principalmente, a jurídica. No tocante à 
esfera jurídica, a instituição família sofreu significativo impacto no sentido de que não haveria 
que se falar um poder absoluto conferido ao homem, de modo que caberia, doravante, a 
autoridade destinada a ambos os pais5. 
Salvador destaca que a previsão da autoridade parental (que é destinada a ambos os 
pais) foi indicada no artigo 1.136 do código de direito canônico, onde aos pais destinar-se-ia “o 
gravíssimo dever e o direito primário de, na medida de suas forças, cuidar da educação, tanto 
física, social e cultural, como moral e religiosa da prole”6. 
Não obstante no Brasil com o advento do código civil de 1916 ter-se volvido ao modelo 
de poder patriarcal, é salutar destacar que o código de 2002 inovou no sentido de que um poder 
familiar seria exercido pelo casal, de modo que independentemente da maneira em que se desse 
a constituição familiar, o exercício da autoridade parental seria desempenhada por ambos os 
pais. Sobre o assunto, Diniz elucida que essa autoridade parental configurou-se como sendo um 
dever dos pais e sua finalidade deveria ter como observância o interesse e a proteção dos filhos: 
Um conjunto de direitos e obrigações, quanto à pessoa e bens do filho menor 
não emancipado, exercido, em igualdade de condições, por ambos os pais, 
para que possam desempenhar os encargos que a norma jurídica lhes impõe, 
tendo em vista o interesse e proteção dos filhos7. 
 
Toda essa evolução histórica acerca de quem exerceria o poder familiar influenciou, 
também, naquilo que viria ser considerado como família. O que inicialmente remetia-se à 
constituição familiar a partir da união de homem e mulher com propósito de constituir um lar 
foi abrindo espaço para novos conceitos e novas formações, onde se abandonou o tradicional 
ideal de família e preconizou, com o advento da Constituição Federal de 1988, a afinidade como 
sendo base de uma estrutura familiar8. 
A família moderna, portanto, cuja autoridade é desempenhada pelas figuras dos pais – 
em acepção ampla – é considerada como sendo um núcleo base da sociedade, formado por 
lastros de afetividade com interesse comum. Para Nader a família moderna consiste em "uma 
instituição social, composta por mais de uma pessoa física, que se irmanam no propósito de 
desenvolver, entre si, a solidariedade nos planos assistencial e da convivência ou simplesmente 
 
5 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA, Rodolfo Filho. Novo Curso de Direito Civil: Direito de Família. As 
Famílias em Perspectiva Constitucional. 3. Ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p.40. 
6 SALVADOR, Carlos Corral (org). et al. Dicionário de direito canônico. Madri: editora tecnos, 1989, p.297. 
7 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. 33. Ed, com remissões a dispositivos do novo CPC: lei 
n. 13.105/2015. São Paulo: Saraiva, 2016, p.514. 
8 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA, Rodolfo Filho. Novo Curso de Direito Civil: Direito de Família. As 
Famílias em Perspectiva Constitucional. 3. Ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p.48. 
8 
 
descendem uma da outra ou de um tronco comum”9. 
Na contemporaneidade, a família pode ser constituída por diversos fatores e há 
possibilidade de ser preenchida por vários envolvidos, mormente porque o ordenamento 
jurídico atualmente reconhece a existência de famílias pluriparentais, homoafetivas, 
uniparentais, entre outras, todas constituídas a partir de laços de afetividade. 
A família do novo milênio, ancorada na segurança constitucional, é igualitária, 
democrática e plural, não mais necessariamente casamentária, pois a 
Constituição Federal de 1988 tutela todo e qualquer modelo de vivência 
afetiva. Essa é a família da pós-modernidade, compreendida como estrutura 
sócio-afetiva e forjada em laços de solidariedade. Desse modo, surge a 
justificativa constitucional de que a proteção a ser conferida aos novos 
modelos familiares tem como destinatários, imediatos e mediatos, os próprios 
cidadãos, pessoas humanas, merecedoras de tutela especial, assecuratória de 
sua dignidade e igualdade10. 
 
O conceito de família e o exercício da autoridade parental na sociedade atual regem-
se pela afetividade, de modo que se afasta da concepção tradicional casamentaria e passam a 
ser reconhecidos no ordenamento jurídico direitos oriundos de novas demandas sociais. 
Percebe-se, desta maneira, a existência de uma evolução histórica no sentido de 
compreender a instituição família como base elementar de uma sociedade, cuja formação 
advém, contemporaneamente, da existência delaços de afetividade. Assim, considerando que 
o exercício da autoridade parental cabem a ambos os pais – em um entendimento amplo – é 
necessário compreender doravante as mudanças e o desempenho do dever constitucional de 
afeto. 
 
3 DEVER CONSTITUCIONAL DE AFETO 
 
Feitas as primeiras considerações sobre a família e a autoridade parental à luz da 
constituição federal de 1988, entende-se pertinente para os fins desta produção conferir ao leitor 
interessante noção acerca do dever constitucional de afeto. 
Das incursões interpretativas no texto constitucional pátrio percebe-se o papel 
essencial dos direitos fundamentais. Estes estão presentes ao longo de grande parte da lei 
máxima, inferindo forte mentalidade asseguradora dos direitos inerentes ao homem, de tal 
forma que percebe-se claramente, por exemplo, a vontade constitucional em delimitar a atuação 
do poder público de maneira a vinculá-la ao interesse público, revelando, assim, a preocupação 
 
9 NADER, Paulo. Curso de direito civil. 9 ed., ver. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2013, p.13. 
10 FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil: famílias. Volume 6. 7. ed. rev. 
ampl. e atual. São Paulo: Atlas, 2015, p.9. 
9 
 
com o ser humano, único capaz de manifestar vontade pública e o principal afetado pelas 
ações11. 
Assim, resta evidente o papel dos direitos fundamentais, básicos por essência, na 
proteção constitucional do ser humano, bem como na construção de uma ordem jurídica 
democrática e justa. Percebe-se, desse modo, a centralidade do ser humano na ordem positiva 
do direito brasileiro. 
A reflexão em questão comprova-se significativa ao presente capítulo dado às 
ponderações feitas anteriormente. É consenso a importância da instituição familiar na formação 
do ser humano, sendo inclusive reafirmada na redação constitucional, como por exemplo no 
artigo 227 da Constituição Federal de 1988, que dispõe acerca do dever da família na formação 
e desenvolvimento da criança12. Acerca do assunto, Neves complementa que: 
[...] o direito à convivência familiar é um direito fundamental da criança e do 
adolescente, seres em processo de formação de personalidade. O referido 
direito deve ser exercido, a fim de que se possibilite pleno desenvolvimento 
da personalidade da criança, em sua formação como pessoa. A negativa deste 
direito representará violação ao direito fundamental à convivência familiar e 
um dano à sua personalidade13. 
 
Dessa forma é claro o entendimento que aponta para a constituição de uma família 
saudável como um direito fundamental do indivíduo. Permite-se tal compreensão exatamente 
pela configuração das disposições legais constitucionais, que conceituam a família como um 
ambiente no qual o sujeito poderá se desenvolver nos primeiros anos de sua vida, sendo a ele 
fundamental, vez que a consolidação de uma família maculada infere diretamente na formação 
do ser humano, incutindo-lhe vicissitudes que poderiam ter sido evitadas14. 
Ressalta-se também a importância de um meio familiar saudável se forem 
considerados os efeitos da formação do indivíduo sobre a sociedade em que ele está inserido. 
Assim, um sujeito que tem sua formação em uma situação familiar saudável, que lhe introduz 
bons valores morais e éticos, terá menor probabilidade de incorrer pelos caminhos do crime, 
por exemplo15. 
Em resumo, é evidente a importância da família na formação individual do sujeito, 
sendo um quesito fundamental em seu desenvolvimento, assegurado pela Constituição Federal 
 
11 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 10. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, p.102. 
12 BRASIL. Constituição Federal da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília: Diário Oficial da União, 
1988. 
13 NEVES, Rodrigo Santos. Responsabilidade civil por abandono afetivo. Revista Síntese Direito de Família. 
Porto Alegre: Síntese, v.14, n.73, p.96-108. ago./set. 2012, p.101. 
14 TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único. São Paulo: Método, 2011, p.1098. 
15 FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil: famílias. Volume 6. 7. ed. rev. 
ampl. e atual. São Paulo: Atlas, 2015, p.25. 
10 
 
de 1988. Para Kaloustian, quando se fala do dever de afeto não se pretende colocar em discussão 
questões relativas à moral, mas sim de vida digna da criança: 
O vínculo é um aspecto tão fundamental na condição humana, e 
particularmente essencial ao desenvolvimento, que os direitos da criança o 
levam em consideração na categoria convivência – viver junto. O que está em 
jogo não é uma questão moral, religiosa ou cultural, mas sim uma questão 
vital. Na discussão das situações de risco para a criança a questão da 
mortalidade infantil ou da desnutrição é imediata. Sobreviver é condição 
básica, óbvia, para o direito à vida. Deve-se acrescentar a dimensão afetiva na 
defesa da vida. Em outras palavras, sobreviver é pouco. A criança tem direito 
a viver, a desfrutar de uma rede afetiva, na qual possa crescer plenamente, 
brincar, contar com a paciência, a tolerância e a compreensão dos adultos 
sempre que estiver em dificuldade16. 
 
Dessa perspectiva, atrelada às considerações feitas no capítulo anterior, percebe-se o 
estrito dever afetivo quando na instancia de uma relação familiar. Isto se dá uma vez que, 
conforme mencionado, a família, com a vigência do documento constitucional de 1988, passou 
a ser entendida essencialmente como uma instituição social que liga os agentes dela partícipes 
através do afeto. Assim, fica claro a necessidade de ao mencionar-se a palavra família, 
considera-la como uma relação de vínculo afetivo17. 
Nesse mesmo sentido, interpretação de Maciel no que se refere ao dever dos pais em 
assistir, participar e dar afeto aos filhos: 
[...] no que tange ao dever dos pais de assistir os filhos menores, notamos a 
amplitude do termo e as suas vertentes possíveis. Se, por um lado, significa 
ajudar, auxiliar e socorrer, por outro, há a vertente de estar presente, perto, 
comparecer, presenciar, acompanhar e até mesmo coabitar.18 
 
Portanto, não é absurda, mas sim correta a interpretação, com base no texto 
constitucional, da existência de um dever de afeto que obriga os partícipes da relação familiar. 
Sendo que todos possuem direito à uma família que lhes assegure as bases para a constituição 
do ser, é também pertinente afirmar que todos possuem direito ao afeto, como categoria 
indispensável à formação regular e saudável do ser humano, dado à atual semelhança de 
conceito entre as duas palavras e à presença de norma constitucional. 
 
4. A IMPORTANCIA DO INSTITUTO DA ADOÇÃO PARA O DIREITO 
BRASILEIRO 
 
 
16 KALOUSTIAN, Sílvio Manoug. Família brasileira: a base de tudo. 9 ed. São Paulo: Cortez, 2010, p.50. 
17 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 10. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, p.102. 
18 MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade. Curso de Direito da Criança e do Adolescente - Aspectos 
teóricos e práticos. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010, p.85. 
11 
 
Com base na concepção que o ordenamento jurídico é construído com vistas a proteger 
integralmente o desenvolvimento da criança, principalmente porque impõe esse dever conjunto 
aos agentes sociais do Estado (especialmente à família), o instituto da adoção no direito 
brasileiro serve justamente para, quando da ausência da família no desenvolvimento da criança, 
possibilitar a constituição de uma família e garantir o desenvolvimento pleno da criança19. 
Destaca-se que a adoção não significa um ônus ao adotante, mas sim, corolário da efetiva 
proteção da instituição família e da criança, porquanto permite a associação de interesses 
comum entre a família (que possui a pretensão de adoção),criança (que possui a pretensão de 
compor uma família) e ao Estado, que possui a obrigação de atuar de modo a buscar a 
concretização dos interesses desses agentes justamente em caso da ausência de condições que 
possibilitam o desenvolvimento da criança20. 
Acerca da adoção, Liberati apresenta um conceito pautado na etimologia da palavra, 
elucidando que “[...] deriva do latim adoptio, que significa dar seu próprio nome a, pôr um 
nome em; tendo, em linguagem mais popular, o sentido de acolher alguém”21, tratando-se, 
portanto, de um direito do adolescente ou da criança que carece da proteção familiar. Nesse 
sentido, é possível compreender que o instituto da adoção possui um caráter humanitário na 
medida em que o que se tutela principalmente são os direitos humanos fundamentais da criança. 
Sobre esse assunto, destaca-se o conceito afetivo, social e moral apresentado pro Seabra Diniz: 
Podemos definir a adoção como inserção num ambiente familiar, de forma 
definitiva e com aquisição de vínculo jurídico próprio da filiação, segundo as 
normas legais em vigor, de uma criança cujos pais morreram ou são 
desconhecidos, ou, não sendo em o caso, não podem ou não querem assumir 
o desempenho das suas funções parentais, ou são pela autoridade competente, 
considerados indignos para tal. [...] A adoção hoje, não consiste em dar filhos 
para aqueles que por motivos de infertilidades não os podem conceber, ou por 
“ter pena” de uma criança, ou ainda, alívio para a solidão. O objetivo da 
adoção é cumprir plenamente às reais necessidades da criança, 
proporcionando-lhe uma família, onde ela se sinta acolhida, protegida, segura 
e amada22. 
 
Com base nesses ensinamentos, é possível compreender que o instituto da adoção no 
direito brasileiro é construído com a finalidade de tutelar a criança e o adolescente. Daí decorre 
a existência de dois princípios que tutelam o instituto, sendo eles o do melhor interesse do 
adotando e da proteção integral. O princípio do melhor interesse da criança ou adolescente, que 
regula toda a ideia de sua proteção, voltando-se a atenção do Estado no atendimento daquilo 
 
19 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 10. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, p.231. 
20 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. 33. Ed, com remissões a dispositivos do novo CPC: 
lei n. 13.105/2015. São Paulo: Saraiva, 2016, p.34. 
21 LIBERATI, Wilson Donizeti. Adoção internacional. São Paulo: Malheiros, 2003, p.13. 
22 DINIZ, Maria Helena. Op.Cit., p.67-68. 
12 
 
que seja efetivamente positivo ao seu desenvolvimento23. 
Esse princípio não se confunde, de modo algum, com uma consulta ao adotando a 
respeito do que ele deseja e como gostaria que fosse oficializada sua adoção, visto que o menor 
não possui plena capacidade jurídica, tampouco psicológica para decidir, com a certeza e 
maturidade devida – muito embora sua opinião possua importância – os rumos que pretende 
seguir para sua vida e de, talvez, sua futura família24. 
Acerca do referido princípio, Mendes preleciona que o interesse do menor, em 
detrimento de outras parcelas sociais, constitui direito fundamental, porquanto a criança e o 
adolescente se demonstram hipossuficientes, merecendo prioridade: 
Caminhamos, assim, ao encontro de um dos maiores princípios balizadores 
dos Direitos Fundamentais dos menores, qual seja, o princípio de prevalência 
dos interesses do menor. Aliás, não poderia ser diferente, uma vez que a 
Criança e o Adolescente, por serem considerados pessoas ainda em 
desenvolvimento são carentes de cuidados especiais e, com isso, devem ter 
prioridade quando em confronto com outros segmentos da sociedade, desde 
que se tratando de direitos iguais25. 
 
Portanto, no processo de adoção deve ser desempenhado um trabalho em conjunto 
tendente a nortear a adoção de modo que, como bem sugere Cardoso, a aplicação dos institutos 
jurídicos sejam observados e aplicados tomando por “[...] base o que é mais benéfico para a 
criança em todos os aspectos, sejam sociais, econômicos, emocionais, afetivos etc”26, com a 
finalidade de protegê-la no meio social. É por conta disso que Carvalho salienta que a adoção 
não pode ser compreendido como “[...] um ato de caridade, mas como o estabelecimento de 
uma relação de filiação sem vínculos biológicos, que se dá no campo do afeto e do amor, 
independente de genética, construída na convivência, no afeto recíproco”27, razão pela qual, em 
decorrência disso, o melhor interesse da criança deverá ser amplamente observado. 
Já o princípio da proteção integral, constante do artigo 227, da Constituição Federal e 
do artigo 1º, do Estatuto da Criança e do Adolescente tem por objeto a proteção da criança na 
medida que a compreende como sendo ser humano em condição de vulnerabilidade, cujos 
direitos e garantias fundamentais devam ser atendidos por todos os agentes sociais 28. Em outras 
 
23 DINIZ, Maria Helena. Op.cit. p.351. 
24 LIBERATI, Wilson Donizeti. Adoção internacional. São Paulo: Malheiros, 2003, p.17. 
25 MENDES, Moacyr Pereira. A doutrina da proteção integral da criança e do adolescente frente à lei 
8.069/90. Mestrado – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. 2006, p.53. 
26 CARDOSO, Helena Zoraski. A aplicação da guarda compartilhada à luz do princípio do melhor interesse 
do menor. Monografia jurídica. Curitiba: Repositório online da Universidade Tuiuti do Paraná, 2016, p;16. 
27 CARVALHO, Dimas Messias de. Adoção e guarda. Belo Horizonte: Del Rey, 2010. 
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 10. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, pg.12. 
28 ISQUIERDO, Renato Scalco. A tutela da criança e do adolescente como projeção dos princípios da 
dignidade da pessoa humana, da solidariedade e da autonomia: uma abordagem pela doutrina da protação 
integral. In: MARTINS-COSTA, Judith (org.). A reconstrução do direito privado. São Paulo: Revista dos 
13 
 
palavras, volta-se ao cumprimento e à garantia de “[...] direitos e deveres individuais e 
coletivos, bem como todas as oportunidades e facilidades a fim de lhes facultar um bom 
desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e 
dignidade”29. 
Esse princípio, em verdade, decorre de previsão na Convenção Internacional de Haia, 
recepcionada em nosso ordenamento jurídico por meio do Decreto n. 3.087/1999, que dispõe 
acerca do compromisso internacional com a proteção de todas as crianças em relação a todas 
as suas necessidades físicas, morais e demais áreas. 
O nível de proteção relativo a esse princípio decorre também de previsão do Decreto 
n. 99.710, oriundo da Assembleia da ONU que aprovou a ‘Convenção Sobre os Direitos da 
Criança’, que em um de seus dispositivos regulamenta que “os Estados Partes se comprometem 
a assegurar à criança a proteção e o cuidado que sejam necessários para seu bem-estar” 30. Ao 
ver de Piovesan, “a convenção acolhe a concepção do desenvolvimento integral da criança, 
reconhecendo-a como verdadeiro sujeito de direito, a exigir proteção especial e absoluta 
prioridade”31. Em verdade, esse é o princípio mais abrangente de ordenamento jurídico no que 
diz respeito à garantia de desenvolvimento da criança, pois não há um rol taxativo de direitos 
que devam ser resguardados, todavia deve adequar a expressão ‘proteção integral’ no decorrer 
do tempo, a fim de suprir por completo as necessidades do adotando32. 
Nesse sentido, é possível concluir que o instituto da adoção para o ordenamento 
jurídico tem imensa importância porque serve como instrumento para perfectibilizar a garantia 
ao direito ao desenvolvimento integral da criança e do adolescente e, ainda, para possibilitar a 
constituição de família seja para quem tem a pretensão de adotar ou de ser adotado. 
 
5. ADOÇÃO DE CRIANÇAS POR CASAISHOMOAFETIVOS: UM 
ENFRENTAMENTO COM BASE NO CONCEITO DE AFINIDADE FAMILIAR E NO 
MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA 
 
Como já salientado no curso do trabalho, todo o direito de família moderno gira em 
torno do princípio da afetividade, e este ganha cada vez mais destaque por estabelecer uma 
 
Tribunais, 2002, p.521. 
29 PEREIRA. Rodrigo da Cunha. Direito de Família: uma abordagem psicanalítica. Belo Horizonte: Del Rey, 
2006, p.222. 
30 BRASIL, Presidência da República. Decreto n. 99.710, de 21 de novembro de 1990. Brasília: Diário Oficial 
da União, 1990. 
31 PIOVESAN, Flávia. Temas de Direitos Humanos. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 132. 
32 TEPEDINO, Gustavo. Temas de direito civil: t. 3. Rio de Janeiro: Renovar, 2009, pg.214. 
14 
 
quebra de hierarquia familiar e enaltecer a afetividade entre os membros das famílias33. Tal 
princípio está na previsto na Constituição Federal, conforme salienta Lôbo: 
O princípio da afetividade está estampado na Constituição Federal de 1988, 
mais precisamente em seus artigos 226 §4º, 227, caput, § 5º c/c § 6º, e § 6º os 
quais prevêem, respectivamente, o reconhecimento da comunidade composta 
pelos pais e seus ascendentes, incluindo-se aí os filhos adotivos, como sendo 
uma entidade familiar constitucionalmente protegida, da mesma forma que a 
família matrimonializada; o direito à convivência familiar como prioridade 
absoluta da criança e do adolescente; o instituto jurídico da adoção, como 
escolha afetiva, vedando qualquer tipo de discriminação a essa espécie de 
filiação; e a igualdade absoluta de direitos entre os filhos, independentemente 
de sua origem34. 
 
A afinidade, por ser situação que possibilita a constituição familiar, tratando-se de 
princípio de elevado destaque no ordenamento jurídico, não pode ser, de maneira alguma, 
suprimido, deixando-se de reconhecer a transdimensionalidade do direito, especialmente para 
negar a possibilidade de adoção de crianças por casais homoafetivos. Isto porque, o direito de 
gerar e criar filhos deve ser preservado, por estar diretamente relacionado ao princípio da 
dignidade da pessoa humana35. 
Na mesma linha de pensamento, Dias sustenta que a paternidade é construída por meio 
do afeto e do comprometimento com o atendimento ao dever constitucional de guarda da 
criança, o que significa dizer que não importa se os pais são biológicos ou homoafetivos, posto 
que o que deve ser preconização é a satisfação das funções paternas e maternas36. Em verdade, 
os casais homoafetivos também possuem direito à paternidade, carecendo, inclusive, qualquer 
situação impeditiva no exercício deste direito, se presentes, por óbvio a vontade do agente em 
atender a proteção integral da criança e a adoção estar consoante ao melhor interesse da criança. 
Neste sentido, Dias se pociona: 
Cabe lembrar a sombria realidade brasileira, em que muitas crianças jamais 
tiveram qualquer convivência familiar, direito este previsto 
constitucionalmente. [...] Constituindo os parceiros – ainda que do mesmo 
sexo – uma família, é legitimo o interesse na adoção, não se podendo deixar 
ver a existência de reais vantagens a quem não tem nem mais e nem um lar.37 
 
Os ensinamentos da autora supracitada são válidos na medida em que se compreenda 
que a criação de uma criança em um meio repleto de afeto, confiança e solidariedade, como é 
 
33 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. 33. Ed, com remissões a dispositivos do novo CPC: 
lei n. 13.105/2015. São Paulo: Saraiva, 2016, p.89. 
34 LÔBO, Paulo Luiz Netto. Código civil comentado: direito de família, relações de parentesco, direito 
patrimonial: arts. 1591 a 1.693. Álvaro Villaça Azevedo (Coord.). São Paulo: Atlas, 2003a, v. XVI. p.43 
35 DINIZ, Maria Helena. Op. Cit, p. 89-90. 
36 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 10. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, 
pg.331. 
37 DIAS, Maria Berenice. Op. Cit., p.338-339. 
15 
 
o caso dos casais homoafetivos, por óbvio é melhor que impossibilitá-la de ter o contato com 
uma convivência familiar. Tão é verdade, que o Estatuto da criança e do Adolescente não 
apresenta qualquer restrição quanto ao sexo, estado civil ou orientação sexual do adotando, 
impondo apenas critérios isonômicos e que atendam a proteção integral e o melhor interesse da 
criança. 
Para Dias não há pesquisas científicas que confirmem – ou ao menos indiquem – que 
a orientação sexual dos genitores é capaz de influenciar na educação das crianças38, razão pela 
qual qualquer julgamento em relação à adoção de crianças por casais homoafetivos deverá partir 
da igualdade jurídica e dignidade humana39, posto que essa pretensão guia-se pela necessidade 
de irradiação plena dos direitos fundamentais. De igual maneira, o escólio de Gonçalves é no 
sentido de que o adotante apenas “[...] deve estar em condições morais e materiais de 
desempenhar a função, de elevada sensibilidade, de verdadeiro pai de uma criança carente, cujo 
destino e felicidade lhe são entregues” 40, ou seja, exige-se tão somente o comprometimento 
integral do adotante em preservar a integridade moral e o pleno desenvolvimento da criança, de 
modo que a adoção deve ser preconizada sob a ótica do melhor interesse e da proteção integral 
do adotado. 
Nessa linha de pensamento, é importante destacar o julgamento Apelação Civil n. 
0013458-56.1998.8.19-0000, sob relatoria de Jorge Magalhães, membro da 9ª Câmara Civel do 
Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, que reconheceu a possibilidade de adoção por 
homoafetivo, evidenciado qualquer situação impeditiva descrita no ordenamento jurídico 
quanto à opção sexual: 
ADOÇÃO CUMULADA COM DESTITUIÇÃO DO PÁTRIO PODER. 
ALEGAÇÃO DE SER HOMOSSEXUAL O ADOTANTE. DEFERIMENTO 
DO PEDIDO. RECURSO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. 1. Havendo os 
pareceres de apoio (psicológico e de estudos sociais) considerado que o 
adotado, agora com dez anos sente agora orgulho de ter um pai e uma família, 
já que abandonado pelos genitores com um ano de idade, atende a adoção aos 
objetivos preconizados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e 
desejados por toda a sociedade. 2. Sendo o adotante professor de ciências de 
colégios religiosos, cujos padrões de conduta são rigidamente observados, e 
inexistindo óbice outro, também é a adoção, a ele entregue, fator de formação 
moral, cultural e espiritual do adotado. 3. A afirmação de homossexualidade 
do adotado, preferência individual constitucionalmente garantida, não pode 
servir de empecilho à adoção de menor, se não demonstrada ou provada 
qualquer manifestação ofensiva ao decoro e capaz de deformar o caráter do 
adotado, por mestre a cuja atuação é também entregue a formação moral e 
 
38 DIAS, Maria Berenice. Op. Cit. p,107. 
39 SANTIAGO, Rafael da Silva. Poliamor e direito das famílias: reconhecimento e consequências jurídicas. 
Editora Juruá, Curitiba, 2015. 
40 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: direito de família. 8ª ed, atual. São Paulo: Saraiva 
2011, p.344. 
16 
 
cultural de muitos outros jovens. Apelo improvido41. 
 
Conforme se infere, do julgamento acima transcrito, é possível verificar que o relator 
não só destacou a ausência de comando legal impeditivo no ordenamento jurídico para a adoção 
por pessoa homoafetiva, mas também, ao analisar seu quadro social, decidiu favoravelmente a 
ele por compreender que possui destaque no tocante à formação de jovens, coaduando com a 
ideia de Pereira de que “[...] o pai é muito mais importante como função social do que como 
genitor” 42. É justamente posicionamento como esse que deve ser sobrelevado em detrimento 
de construções sociais que deixam de reconhecer o avanço do direito e que, à contramão da 
democracia, desmerece o direito de minorias.Para Alves, se a afetividade é causa de constituição familiar, e ainda, corolário da 
preservação da dignidade da pessoa humana, não há motivos para que não se reconheça a 
possibilidade de adoção por casais homoafetivos43, principalmente se entender a família 
homoafetiva enquanto instrumento para atendimento dos princípios do melhor interesse e da 
proteção integral da criança44, uma vez que “[...] a matéria relativa à possibilidade de adoção 
de menores por casais homossexuais vincula-se obrigatoriamente à necessidade de verificar 
qual é a melhor solução a ser dada para a proteção dos direitos das crianças, pois são questões 
indissociáveis entre si”45. 
Dessa maneira, a adoção não pode ser visualizada a partir da opção sexual dos 
adotantes, mas deve levar em consideração dois fatores essenciais, que são concomitantemente 
direcionados tanto aos adotantes quanto aos adotados. Aos primeiros, o direito à paternidade e 
à constituição plena de família, enquanto que aos segundos o direito à convivência familiar, ao 
desenvolvimento pleno, ao seu melhor interesse e à proteção integral. Todas essas categorias 
 
41 BRASIL, Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. Apelação Civil n. 0013458-56.1998.8.19-0000. Rel. 
Des. Jorge Magalhães. 9ª Câmara Civil. Rio de Janeiro: Diário da Justiça, 1999. 
42 PEREIRA. Rodrigo da Cunha. Direito de Família: uma abordagem psicanalítica. Belo Horizonte: Del Rey, 
2006, p.56. 
43 ALVES, Jones Figueirêdo. Famílias mútuas, uma espécie extraordinária de multiparentalidade. Porto 
Alegre: Revista nacional de direito de família e sucessões, v. 1, n. 5, p. 65-75, 2015, s/p. 
44 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 10. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, p.188. 
45 O caso aqui destacado, julgado pelo Superior Tribunal de Justiça, encerrou-se de maneira positiva ao adotando, 
sendo reconhecido a ausência de qualquer prejuízo em sua pretensão: “[...] É incontroverso que existem fortes 
vínculos afetivos entre a recorrida e os menores – sendo a afetividade o aspecto preponderante a ser sopesado 
numa situação como a que ora se coloca em julgamento. [...] Se os estudos científicos não sinalizam qualquer 
prejuízo de qualquer natureza para as crianças, se elas vêm sendo criadas com amor e se cabe ao Estado, ao mesmo 
tempo, assegurar seus direitos, o deferimento da adoção é medida que se impõe .[...] Por qualquer ângulo que se 
analise a questão, seja em relação à situação fática consolidada, seja no tocante à expressa previsão legal de 
primazia à proteção integral das crianças, chega-se à conclusão de que, no caso dos autos, há mais do que reais 
vantagens para os adotandos, conforme preceitua o artigo 43 do ECA. Na verdade, ocorrerá verdadeiro prejuízo 
aos menores caso não deferida a medida” - BRASIL, Superior Tribunal de Justiça. (Recurso Especial n. 
889.852/RS. Rel. Min. Luís Felipe Salomão. 4ª Turma. Brasília: Diário da Justiça, 2010). 
17 
 
de direitos voltam-se à principal perspectiva que deve ser compreendida o embate objeto da 
pesquisa, que é a preservação da dignidade humana sobre todos os seus vieses. 
 
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
A partir da presente pesquisa foi possível visualizar a existência de uma evolução 
histórica no sentido de compreender a instituição família como base elementar da sociedade 
brasileira, cuja formação deriva, tão somente, da existência de laços de afetividade. De igual 
maneira, auferiu-se que o poder-dever em relação aos filhos não cabe somente à figura paterna, 
mas à ambos os genitores ou, quando da ausência deles, de qualquer outra pessoa que garanta 
o desenvolvimento pleno e saudável da criança. 
Dessa perspectiva, denotou-se que a Constituição Federal impõe um dever afetivo aos 
genitores Isto se dá uma vez que a família passou a ser entendida como instituição social que 
congrega os partícipes por meio do afeto, resultando, portanto, em laços afetivos, na qual 
vincula os pais aos cuidados, à ajuda, ao auxílio, a estar perto a acompanhar a criança e com 
ela se relacionar. 
Quando não exercido esse direito de afeto ou por algum motivo impedido, o 
prejudicado maior é a criança. Neste sentido, compreendeu-se que o instituto da adoção no 
ordenamento jurídico serve justamente para dar tratamento a essa situação, quando ausente o 
dever de cuidado e de afeto por parte de pais. 
Tem-se, portanto, que o instituto da adoção está voltado, em verdade, à preservação 
do desenvolvimento da criança – muito embora reconheça-se a sua importância como meio pelo 
qual famílias possam ser constituídas, principalmente em relação a casais que não podem ter 
filhos –, de modo que o que deve ser observado enquanto pressuposto indispensável é o seu 
melhor interesse para que haja um desenvolvimento pleno e saudável. 
Sob essa perspectiva, foi possível a compreensão que inexiste no ordenamento jurídico 
qualquer impeditivo legal para a adoção por casais homoafetivo. Deveras, a adoção pode ser 
benéfica a criança, tal qual seria para qualquer outro casal, haja vista que o mais importante é a 
concepção do adotante no atendimento de uma função social, que consiste justamente na 
proteção integral e no auxílio ao desenvolvimento do menor. Esse é o entendimento que deve 
ser sobrelevado em detrimento de construções sociais que deixam de reconhecer o avanço do 
direito e que, à contramão da democracia, desmerece o direito de minorias. 
Desse modo, viu-se que a partir do conceito de afetividade e dos princípios protetivos 
à criança no ordenamento jurídico o pilar base para a sustentação da possibilidade de adoção 
18 
 
de crianças por casais homoafetivos, principalmente porque essa situação se trata de corolário 
da preservação da dignidade da pessoa humana, não subsistindo motivos plausíveis para que 
não se reconheça a possibilidade de adoção. 
Conclui-se, portanto, que a adoção deve ser compreendida como instituto 
indispensável à proteção e ao desenvolvimento de crianças e adolescentes, razão pela qual 
estando preservado seu melhor interesse, não haverá qualquer óbice a adoção, mormente se os 
adotantes trataram-se de homoafetivas. Em outras palavras, a opção sexual dos adotantes não 
pode ser utilizada enquanto limitadora de direitos, porquanto referida situação consistiria em 
vilipendia à dignidade da pessoa humana, ao melhor interesse da criança e ao direito à 
paternidade e à constituição familiar. 
 
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