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[FISILOGIA CARDIOVASCULAR] P r o p r i e d a d e s e l é t r i c a s d o c o r a ç ã o 0 | P á g i n a Denilson Duarte – TXXX – Medicina UFCA [SISTEMA CARDIOVASCULAR] [FISILOGIA CARDIOVASCULAR] P r o p r i e d a d e s e l é t r i c a s d o c o r a ç ã o 1 | P á g i n a Propriedades elétricas do coração O coração possui um sistema especial para exercer duas funções: a primeira é responsável por gerar impulsos elétricos e rítmicos que causam contrações do miocárdio e, a segunda função, é realização da condução desses impulsos de forma rápida por todo o coração. O funcionamento adequado desse sistema faz com que os átrios se contraiam antes da contração ventricular, o que permite o enchimento dos ventrículos. Danos a esse sistema geram impactos que podem levar a ritmos cardíacos bizarros ou sequencias anormais e contrações das câmaras cardíacas. O sistema excitatório e condutor especializado do coração O sistema especializado do coração é composto por: i. Nodo sinusal: responsável por gerar os impulsos rítmicos normais. ii. Vias intermodais: conduzem os impulsos do nodo sinusal ao nodo atrioventricular. iii. Nodo atrioventricular: retarda os impulsos vindo do átrio antes de irem para os ventrículos. iv. Feixe atrioventricular: Conduz os impulsos do átrio para o ventrículo. v. Ramos direito e esquerdo do feixe de fibras de Purkinje: responsáveis por conduzir os impulsos para todas as partes dos ventrículos. 1. Nodo Sinusal (Sinoatrial) Também denominado de nodo sinoatrial é uma faixa pequena, achatada e elipsoide de músculo cardíaco especializado. Está situado na parede posterolateral superior do átrio direito. As fibras do nodo sinusal se conectam diretamente às fibras musculares atriais, de modo que qualquer potencial de ação que se inicie no modo sinusal se espalhe de imediato para a parede do músculo atrial. a. Ritmicidade elétrica automática das fibras sinusais Algumas fibras cardíacas têm a capacidade de autoexcitação, processo que pode causar descarga automática rítmica e, consequentemente, contrações rítmicas. É por essa razão que o nodo sinusal controla a frequência dos batimentos de todo coração. i. Mecanismos da ritmicidade do nodo sinusal As fibras sinusais são por natureza mais permeáveis ao cálcio e ao sódio, e as cargas positivas desses íons que cruzam a membrana neutralizam boa parte da negatividade intracelular. Para explicar o mecanismo da ritmicidade é preciso entender os tipos de canais iônicos presente na membrana do miocárdio. ▪ Canais rápidos de sódio: esses canais são responsáveis por gerar o pico do potencial. ▪ Canais lentos de cálcio-sódio: são responsáveis por causar o platô do potencial de ação ventricular. ▪ Canais de potássio: promovem o retorno do potencial de membrana ao nível de repouso. A diferença no funcionamento desses canais nas fibras do nodo sinusal se encontra no valor de repouso, que é bem menos negativo – -55 milivolts em lugar de -90 milivolts. Nesse valor Figura 1 Sistema especializado condutor e excitatório do coração. [FISILOGIA CARDIOVASCULAR] P r o p r i e d a d e s e l é t r i c a s d o c o r a ç ã o 2 | P á g i n a de -55mV, os canais rápidos de sódio já foram em sua maioria “inativados”. Dessa maneira, só os canais lentos podem se abrir e deflagrar o PA, que tanto ocorre como retorna lentamente. ii. Autoexcitação das fibras do nodo sinusal Os íons positivos de sódio tendem a vazar para o interior dessas fibras (altas concentrações no LEC e presença de canais de sódio já abertos). Entre os batimentos cardíacos, o influxo de sódio provoca lento aumento do potencial de membrana de repouso em direção aos valores positivos. Assim, o potencial de repouso fica menos negativo entre dois batimentos cardíacos e quando atinge o limiar (cerca de -40mv) os canais lentos de cálcio-sódio são ativados, desencadeando o potencial de ação. • Por que esse vazamento de íons sódio e cálcio não faz com que essas fibras permaneçam continuamente despolarizadas? Porque os canais de cálcio-sódio se inativam dentro de 100 a 150ms e os canais de potássio se abrem nesse mesmo tempo – negativando o potencial de ação que retorna ao seu valor de repouso. Os canais de potássio permanecem aberto por mais alguns décimos de segundos, causando a hiperpolarização. O estado de hiperpolarização leva de início os valores do potencial de membrana “de repouso” até cerca de -55 a 60mV, quando termina o PA. • Por que esse estado de hiperpolarização não se mantém permanentemente? Porque pelos próximos décimos de segundo após o fim do PA, cada vez mais canais de potássio vão progressivamente se fechando. O vazamento de cargas de sódio e cálcio para o interior da célula ultrapassa o efluxo de cargas de potássio, fazendo com que o “potencial de repouso” se eleve mais uma vez até atingir o limiar de descarga. A autoexcitação gera um ciclo que continua indefinidamente durante a vida de cada pessoa: a autoexcitação causa o potencial de ação, depois ocorre a recuperação do potencial de ação, em seguida a elevação do potencial “de repouso” até o disparo e finalmente a reexcitação que deflagra mais um ciclo. 2. As vias intermodais e a transmissão do impulso cardíaco pelos átrios Potenciais de ação originados no nodo sinusal se propagam por meio das fibras suas fibras que se conectam ao tecido muscular atrial circundante. Desse modo, o potencial de ação se espalha por todo átrio, e por fim, até o nodo A-V. A velocidade de condução na maior parte do músculo atrial é de 0,3 m/s, mas a condução é mais rápida em diversas pequenas faixas de tecido atrial, como ocorre na banda interatrial anterior (1 m/s), que cursa pelas paredes anteriores dos átrios para alcançar o átrio esquerdo. Adicionalmente, existem três outras faixas teciduais denominadas vias internodais anterior, média e posterior, que terminam no nodo A-V e se curvam respectivamente pelas paredes anterior, lateral e posterior dos átrios. A causa da maior velocidade de condução se deve a presença de fibras condutoras especializadas. Essas fibras se assemelham às fibras de Purkinje. 3. O nodo atrioventricular e o retardo da condução do impulso dos átrios para os ventrículos O sistema condutor atrial é organizado para impedir que o impulso cardíaco não se propague dos átrios aos ventrículos muito rapidamente. Por meio desse retardo os átrios podem se contrair antes que comece a contração ventricular. Os principais responsáveis por esse atraso é o nodo A-V e suas fibras condutoras adjacentes. O impulso gerado no nodo sinusal demora cerca de 0,03 segundo para percorrer as vias internodais e atinja o nodo A-V, então ocorre o retardo de cerca de 0,09 segundo no próprio nodo A-V, antes que o impulso alcance a porção penetrante do feixe A-V, pelo qual atinge os ventrículos. Nesse feixe penetrante ocorre um atraso de cerca de 0,04 segundo. Assim, o retardo total apenas no nodo A-V é de aproximadamente 0,13 segundo. Somado ao [FISILOGIA CARDIOVASCULAR] P r o p r i e d a d e s e l é t r i c a s d o c o r a ç ã o 3 | P á g i n a retardo de 0,03 segundo desde o nodo sinusal até o nodo A-V, resulta em 0,16 segundo. a. Causa da condução lenta A condução lenta nas fibras transicionais, nodais e do feixe penetrante A-V, é explicada em grande parte pelo reduzido número de junções gap entre as sucessivas células das vias de condução, de modo que existe grande resistência para a passagem de íons excitatórios de uma fibra para a próxima. 4. Transmissão rápida no Sistema de Purkinje Ventricular A condução do nodo A-V para os ventrículos é feita pelas fibras de Purkinje especializadas. Acredita-se que a transmissão rápida dos potenciais de ação pelas fibras de Purkinje sejaprovocado pelo alto nível de permeabilidade das junções abertas nos discos intercalares, entre células vizinhas, que formam as fibras de Purkinje. Desse modo, os íons são facilmente transmitidos de uma célula à próxima, aumentando a velocidade de transmissão. As fibras de Purkinje também contêm muito poucas miofibrilas, ou seja, elas pouco ou nada se contraem durante a transmissão do impulso. a. Transmissão unidirecional pelo feixe A-V Uma característica especial do novo A-V é a incapacidade dos potencias de ação serem conduzidos retrogradamente para os átrios a partir dos ventrículos. Isso impede a reentrada de impulsos cardíacos por essa via para os átrios. Além disso, deve ser lembrado que os átrios e os ventrículos são separados por uma barreira fibrosa continua. b. A distribuição das fibras de Purkinje nos ventrículos – Os ramos direito e esquerdo Após atravessar o tecido fibroso entre os átrios e os ventrículos, a porção distal do feixe A-V se prolonga pelo septo interventricular. É nesse ponto que o feixe se divide em dois ramos: esquerdo e direito, situado logo abaixo do endocárdio nos dois lados do septo. Esses ramos seguem em direção ao ápice cardíaco e depois cursam em torno de cada câmara ventricular em direção à base do coração. As extremidades das fibras de Purkinje penetram na massa muscular e se tornam continuas com as fibras musculares, assim, quando o impulso chega aos ramos esquerdo e direito ele alcança as terminações de Purkinje rapidamente, fazendo com que o impulso se propague quase que de imediato por toda a massa ventricular. 5. Transmissão do impacto cardíaco pelo músculo ventricular Uma vez que o impulso atinja as extremidades das fibras de Purkinje, ele é transmitido pela massa muscular ventricular pelas próprias fibras musculares. 6. Resumo da dispersão do impulso cardíaco ao longo do coração Uma vez que tenha atingido o feixe, ele se espalha rapidamente por meio das fibras de Purkinje por toda a superfície endocárdica dos ventrículos. Em seguida o impulso se propaga lentamente pelo músculo ventricular em direção à superfície epicárdica. Controle da excitação e da condução no coração 7. O nodo sinusal como marca-passo cardíaco O impulso cardíaco em condições normais se origina no nodo sinusal, mas, em condições anormais, as fibras do nodo atrioventricular e as fibras de Purkinje podem apresentar excitação rítmica, mesmo sem um estimulo externo. A frequência de descarga do nodo sinusal é consideravelmente mais rápida que a frequência da descarga excitatória das fibras do nodo átrio ventricular e fibras de Purkinje. Cada vez que o nodo sinusal é descarregado, seu impulso é conduzido para o nodo átrio ventricular e fibras de Purkinje. Esses tecidos se recuperam do potencial de ação e descarregam quase ao mesmo tempo. O nodo sinusal controla o batimento cardíaco em virtude de sua frequência rítmica de descarga ser maior que em [FISILOGIA CARDIOVASCULAR] P r o p r i e d a d e s e l é t r i c a s d o c o r a ç ã o 4 | P á g i n a qualquer outra parte do coração, por isso o nodo sinusal é o marca-passo normal do coração. a. Marca-passos anormais – Marca-passo ectópico Ocasionalmente, alguma outra parte do coração desenvolve frequência de descargas rítmicas mais rápidas que a do nodo sinusal. Por exemplo, quando ocorre anormalidades no nodo A-V ou nas fibras de Purkinje. Um marca- passo em qualquer lugar que não o nodo sinusal é referido como marca-passo “ectópico”. Ele produz sequências anormais da contração das diferentes partes do coração. Outra causa de troca do marca-passo é o bloqueio da condução do impulso cardíaco do nodo sinusal para as demais porções do coração. O novo marca-passo, frequentemente, situa no nodo A-V ou nas porções penetrantes do feixe A-V. Após o bloqueio A-V repentino, o sistema de Purkinje não inicia imediatamente a emissão de impulsos, mas apenas após 5 a 20 segundos. Durante esse intervalo de tempo os ventrículos não bombeiam sangue, e a pessoa desmaias após 4 a 5 segundos, em virtude da falta de fluxo para o cérebro. Essa retomada tardia dos batimentos cardíacos é chamada de Síndrome de Stokes-Adams. 8. O papel das Fibras de Purkinje na sincronia da contração do músculo ventricular Graças ao sistema de Purkinje o impulso cardíaco chega quase que a todas as porções do coração dentro de um pequeno intervalo. Isso faz com que todas as porções musculares dos dois ventrículos iniciem sua contração praticamente ao mesmo tempo e em seguida se mantenham contraídos por mais 0,3 seg. Se o impulso tiver de ser conduzido lentamente pelos ventrículos, boa parte da massa muscular ira se contrair antes da massa restante, o efeito do bombeamento ficará prejudicado. 9. Controle da ritmicidade cardíaca e condução de impulsos pelos nervos cardíaco: os nervos simpáticos e parassimpáticos O coração é suprido por nervos simpáticos e parassimpáticos. Os nervos parassimpáticos estão distribuídos no nodo sinusal e no nodo atrioventricular, em menor grau para os músculos dos dois átrios e muito pouco para o músculo ventricular. Os nervos simpáticos se distribuem para todas as partes do coração, em especial para o musculo ventricular. a. A estimulação vagal pode reduzir ou até mesmo bloquear o ritmo e a condução – o Escape ventricular A estimulação dos nervos parassimpáticos para o coração faz com que o hormônio acetilcolina seja liberado nas terminações vagais. Esse hormônio diminui a frequência rítmica do nodo sinusal e diminui a excitação das fibras juncionais átrio ventricular, entre a musculatura atrial e o nodo átrio ventricular e diminui a transmissão do impulso cardíaco para os ventrículos. A estimulação parassimpática moderada ou fraca diminui a frequência do bombeamento cardíaco até a metade do normal. A estimulação intensa dos vagos pode interromper completamente a excitação rítmica do nodo sinusal ou bloquear a transmissão do impulso cardíaco, através da junção átrio ventricular. Na estimulação moderada ou intensa, os impulsos rítmicos deixam de ser transmitidos para os ventrículos. b. Mecanismo dos efeitos vagais A acetilcolina liberada nas terminações vagais aumenta acentuadamente a permeabilidade das membranas das fibras ao potássio, permitindo o rápido vazamento de potássio para fora das fibras condutoras, isso provoca aumento da negatividade no interior das fibras, chamado de hiperpolarização. No nodo sinusal, o estado de hiperpolarização diminui o potencial de repouso da membrana das fibras do nodo sinusal para um valor consideravelmente mais negativo que o normal. Portanto, a elevação do potencial de membrana do nodo sinusal provocada pelo vazamento de sódio necessita de muito mais tempo para alcançar o potencial liminar para a excitação. Isso diminui [FISILOGIA CARDIOVASCULAR] P r o p r i e d a d e s e l é t r i c a s d o c o r a ç ã o 5 | P á g i n a intensamente a frequência da ritmicidade dessas fibras nodais. Se a estimulação vagal é muito forte, pode-se parar completamente a auto excitação rítmica desse nodo. Devido a hiperpolarização, a subida inicial de potencial de membrana, devida ao influxo de sódio e cálcio, exige muito mais tempo para atingir o limiar de excitação. c. Efeito da estimulação simpática sobre o ritmo cardíaco e a condução A estimulação simpática aumenta a frequência de descarga do nodo sinusal, aumenta a velocidade de condução e aumenta a força de contração da musculatura cardíaca. Ela aumenta a atividade global do coração d. Mecanismo do efeito simpático A estimulação dos nervos simpáticos libera o hormônio norepinefrina nas terminações simpáticas. Ele aumenta a permeabilidade da membrana da fibra aos íons sódio e cálcio. No nodosinusal o aumento a permeabilidade ao sódio produz potencial de repouso positivo, aumentando a frequência de variação do potencial de membrana e acelerando a auto excitação e aumentando a frequência cardíaca. No nodo átrio ventricular a maior permeabilidade ao sódio torna mais fácil o potencial de ação excitar cada região da fibra de condução e diminuir o tempo. [FISILOGIA CARDIOVASCULAR] P r o p r i e d a d e s e l é t r i c a s d o c o r a ç ã o 6 | P á g i n a
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