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Glaucoma Série Oftalmologia Brasileira

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S É R I E O F T A L M O L O G I A B R A S I L E I R A
C O N S E L H O BRASILEIRO DE O F T A L M O L O G I A 3s Edição
Coordenador 
M ILTO N RU IZ A LV ES
G L A U C O M A
PAULO AUGUSTO DE ARRUDA MELLO 
REMO SUSANNA JR. 
HOMERO GUSMÃO DE ALMEIDA
CONSELHO BRASILEIRO DE OFTALMOLOGIA
SÉRIEOFTALMOLOGIA BRASILEIRA
3a Edição
GLAUCOMA
2013-2014
CONSELHO BRASILEIRO DE OFTALMOLOGIA
SERIEOFTALMOLOGIA BRASILEIRA
3a Edição
GLAUCOMA
2013-2014
III
SÉRIEOFTALMOLOGIA BRASILEIRA
Conselho Brasileiro de Oftalmologia - CBO
GLAUCOMA
EDITORES
Paulo Augusto de Arruda MelloProfessor Associado do Departamento de Oftalmologia da Universidade Federal de São Paulo - Setor de GlaucomaPresidente da Sociedade Latino Americanade Glaucoma
Remo Susanna Jr.Professor Titular de Oftalmologia do Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, HC-FMUSPCoordenador da Disciplina de Oftalmologia no Curso de Graduação em Medicina da FMUSP, SP
Membro do Conselho Internacional da Associação de Pesquisadores em Oftalmologia e Visão - ARVO
Homero Gusmão de AlmeidaProfessor-Adjunto da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, MGDoutor em Medicina, Oftalmologia pela Universidade de Minas Gerais, MGChefe dos Serviços de Glaucoma e de Catarata do Instituto de Olhos de BeloHorizonte, MG
COORDENADOR
Milton Ruiz Alves
m
GUANABARA
KOOGAN Cultura Médica®
Rio de Jane iro - RJ - B razil
V
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
G462 
3. ed.
Glaucoma / editores Paulo Augusto Arruda de Mello, Remo Susanna Jr., Homero Gusmão 
de Almeida. - 3. ed. - Rio de Janeiro : Cultura Médica : Guanabara Koogan, 2013.
II. (Oftalmologia Brasileira)
Inclui bibliografia e índice 
ISBN 978857006569-8
1. Glaucoma. I. Mello, Paulo Augusto de Arruda. II. Susanna Junior, Remo.
III. Almeida, Homero Gusmão. IV. Alves, Milton Ruiz. V. Conselho Brasileiro de 
Oftalmologia. VI. Série.
13-02644 CDD: 617.741
CDU: 617.7-007.681
© Copyright 2013 Cultura Médica®
Esta obra está protegida pela Lei nQ 9.610 dos Direitos Autorais, de 19 de fevereiro de 1998, sanciona­da e publicada no Diário Oficial da União em 20 de fevereiro de 1998.Em vigor a Lei n- 10.693, de 1- de julho de 2003, que altera os Artigos 184 e 186 do Código Penal e acrescenta Parágrafos ao Artigo 525 do Código de Processo Penal.Caso ocorram reproduções de textos, figuras, tabelas, quadros, esquemas e fontes de pesquisa, são de inteira responsabilidade do(s) autor(es) ou colaborador(es).
Qualquer informação, contatar a Cultura Médica®
Impresso no Brasil 
Printed in BrazilResponsável pelo Lciyout/Formatação: Cultura Médica Responsável pela Impressão: Guanabara Koogan
Cultura Médica®Rua Gonzaga Bastos, 163 20541-000 - Rio de Janeiro - RJ Tel.(55 21)2567-3888 Site: www.culturamedica.com.br e-mail: cultura@culturamedica.com.br
VI
Colaboradores
Adriana Silva Borges-Giampani Alberto Diniz Filho André Batista Ferreira Augusto Paranhosjr.Bruno Pimentel de Figueiredo Carlos Akira Omi Carlos Rubens de Figueiredo Carmo Mandia Jr.Celso Antônio de Carvalho Christiane Rohm de Moura Ednajar Tavares Macedo Filho Edson Quedas Emílio Rintaro Suzuki Jr.Enyr Saran Arcieri Fábio Nishimura Kanadani Felício A. da Silva Geraldo Vicente de Almeida Ivan Maynart Tavares Jair Giampani Jr.João Agostini Netto João Antonio Prata Jr.
João Batista Nigro Santiago MaltaJoel Edmur BoteonJosé Paulo Cabral VasconcellosJosé Ricardo RedherLuciana Afonso PiresLuciana BernardiLuciana Meirelles FranklinMarcelo HatanakaMarco Antonio Fares RamalhoMaria Cristina Nishiwaki-DantasMaurício Delia PaoleraMauro WaiswolNassim CalixtoNassim Calixto Jr.Natanael Cavalcanti Figueiroa FilhoNiro KasaharaPaula Boturão de AlmeidaPaulo Gelman VaidergornRalph CohenRegina Ceie SilveiraRenato Dias Cardoso
Ricardo Nunes EliezerRicardo SuzukiRiuitiro YamaneRoberto Freire Santiago MaltaRoberto Murad VessaniRodrigo Antonio Brant FernandesRodrigo AvelinoRogério LacerdaRui Barroso SchimitiRuth R. Schor
Sebastião CronembergerSérgio Henrique Sampaio MeirellesSérgio Henrique TeixeiraTiago dos Santos PrataWagner Duarte BatistaWilma Lelis BarbozaVera Christina Waller de LimaVinícius Paganini NascimentoVital Paulino Costa
VIII
Apresentação
Quando do lançamento da Serie Oftalmologia Brasileira, o Professor Hamilton Moreira, entào presidente do CBO, inicia o seu prefácio da seguinte maneira: sào acima de 6000 páginas, es­critas por mais de 400 professores. É a maior obra da maior instituição oftalmológica brasilei­ra: o Conselho Brasileiro de Oftalmologia.A concretização da Série Oftalmologia Brasileira representa a continuidade de um traba­lho, um marco, a realização de um sonho.Com o pensamento voltado na defesa desse sonho que, tenho certeza, é compartilhado pela maioria dos oftalmologistas brasileiros, estamos dando início a uma revisão dos livros que compõem a série. Além das atualizações e correções, resolvemos repaginá-los, dando-lhes uma nova roupagem, melhorando sua edição, de maneira a tornar sua leitura a mais prazerosa possível.Defender, preservar e aperfeiçoar a cultura brasileira, aqui representada pelo que achamos de essencial na formação dos nossos Oftalmologistas, é responsabilidade e dever maior do Conselho Brasileiro de Oftalmologia.O conhecimento é a base de nossa soberania, e cultuar e difundir o que temos de melhor é a nossa obrigação.O Conselho Brasileiro de Oftalmologia se sente orgulhoso por poder oferecer aos nossos residentes o que achamos essencial em sua formação.Sabemos que ainda existirão erros e correções serão sempre necessárias, mas também temos consciência de que todos os autores fizeram o melhor que puderam.Uma boa leitura a todos. Marco Antônio Rey de Faria 
Presidente do CBO
IX
I
Agradecimentos
O projeto de atualização e impressão desta terceira edição da “Série Oftalmologia Brasileira”contou, novamente, com a parceria privilegiada estabelecida pelo Conselho Brasileiro de Oftal­mologia com importantes empresas do segmento oftálmico estabelecidas no Brasil.Aos autores e colaboradores, responsáveis pela excelente qualidade desta obra, nossos mais profundos agradecimentos pela ampla revisão e atualização do conteúdo e, sobretudo, pelo resultado conseguido que a mantém em lugar de destaque entre as mais importantes publicações de Oftalmologia do mundo.Aos presidentes, diretores e demais funcionários da Alcon, Genom, Johnson & Johnson e Varilux nossos sinceros reconhecimentos pela forma preferencial com que investiram neste projeto, contribuindo de modo efetivo não só para a divulgação do conhecimento, mas, tam­bém, para a valorização da Oftalmologia e daqueles que a praticam.Aos jovens oftalmologistas, oferecemos esta terceira edição da “Série Oftalmologia Bra­sileira” , importante fonte de transmissão de conhecimentos, esperando que possa contribuir tanto para a formação básica quanto para a educação continuada. Sintam orgulho desta obra, boa leitura! Milton Ruiz Alves 
Coordenador da Série Oftalm ologia Brasileira
A lcori
a Novartis company GENOM
OFTALMOLOGIA
uma Lente OssiLor CssiLor
XI
Sumário
SEÇÃO I
Princípios BásicosAnatomia do Globo O cular.............................................................................................................................. 3
Rui Barroso Schimiti • Vital Paulino CostaG en ética .................................................................................................................................................................. 11
José Paulo Cabral Vasconcellos • Vital Paulino CostaEpidemiologia do Glaucoma......................................................................................................................... 19
José Paulo Cabral Vasconcellos • Vital Paulino CostaPressão Intraocular............................................................................................................................................29
Enyr Soron Arcieri • Vital Paulino CostaAvaliação do Segmento Anterior.................................................................................................................39
Enyr Saran Arcieri • Vital Paulino CostaGonioscopia............................................................................................................................................................45
Rui Barroso Schimiti • Vital Paulino Costa
rAvaliação Anatômica do Nervo Ó p tico ................................................................................................... 55
Luciana Bernardi • Rodrigo Avelino • Vital Paulino Costa
8 Avaliação Funcional do Glaucoma.............................................................................................................75
Luciana Bernardi • Vital Paulino Costa
SEÇÃO II
Glaucoma Primário de Ângulo AbertoGlaucoma Primário de Ângulo Aberto.....................................................................................................97
Carlos Rubens de Figueiredo • Wagner Duarte BatistaCOLABORADORES
André Batista Ferreira • Bruno Pimentel de Figueiredo 
Emílio Rintaro Suzuki Jr. • Fábio Nishimura Kanadani 
João Agostini Netto • Luciana Meirelles Franklin
SEÇÃO III
Glaucoma Primário de Ângulo Fechado
10 Glaucoma Primário de Ângulo Fechado............................................................................................... 121
Riuitiro Yamane• Sérgio Henrique Sampaio Meirelles
SEÇÃO IV
Glaucomas Associados a Anomalias CongênitasGlaucomas Associados a Anomalias Congênitas..............................................................................135
Nassim Caiixto • Sebastião
SEÇÃO V
Glaucomas Secundários
12 Classificação....................................................................................................................................................... 165
Homero Gusmão de Almeida
13 Glaucoma e Hemorragias Intraoculares.............................................................................................. 171
Ralph Cohen • Geraldo Vicente de Almeida • Ricardo Nunes Eliezer
14 Traumatismo e Glaucom a............................................................................................................................181
Sebastião Cronemberger • Nassim Caiixto
15 Ectopia e Intumescência do Cristalino.................................................................................................195
Ralph Cohen • Geraldo Vicente de Almeida • Mauro Waiswol
Maurício Delia Paolera
XIV
16
17
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19
20 
21 
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23
24
25
26
27
28
Glaucoma Facolítico......................................................................................................................................207
Carmo Mandia Jr. • Geraldo Vicente de Almeida 
Paula Boturão de Almeida • Ralph CohenPseudoexfoliação Capsular........................................................................................................................215
Remo Susanna Jr. • Roberto Murad VessaniGlaucoma Secundário a Afecções da Episclera e Esclera............................................................227
Geraldo Vicente de Almeida • Ralph Cohen 
Maria Cristina Nishiwaki-DantasGlaucoma Secundário a U veites............................................................................................................. 235
Homero Gusmão de Almeida • Rogério Lacerda
José Ricardo RedherGlaucoma Neovascular.................................................................................................................................257
Homero Gusmão de Almeida • Alberto Diniz FilhoGlaucoma Associado a Doenças da R etina........................................................................................ 281
Renato Dias Cardoso • Nassim Calixto Jr. • Nassim CalixtoGlaucoma Associado a Extração da Catarata..................................................................................... 291
Homero Gusmão de AlmeidaGlaucoma Associado à Ceratoplastia Penetrante...........................................................................307
Homero Gusmão de Almeida • Joel Edmur BoteonGlaucoma Maligno............................................................................................................................................321
Roberto Freire Santiago Malta • João Baptista Nigro Santiago Malta • Marco Antonio Fares RamalhoInvasão Epitelial e Proliferação Fibrosa................................................................................................ 329
Nassim Calixto • Sebastião CronembergerGlaucoma e Distrofias Endoteliais Corneanas...................................................................................335
Nassim Calixto • Sebastião CronembergerGlaucoma Cortisônico....................................................................................................................................345
Celso Antônio de CarvalhoGlaucoma e Hipertensão Venosa Episcleral........................................................................................ 351
Geraldo Vicente de Almeida • Ralph Cohen • Niro Kasahara
XV
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31
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38
39
Glaucoma Pigm entário....................................................................................................................................365
Nassim Calixto • Sebastião CronembergerGlaucoma Associado a Cistos e Tumores Intraoculares.................................................................373
Felício A. da Silva • Homero Gusmão de Almeida
SEÇÃO VI
Tratamento Clínico
Princípios Gerais..................................................................................................................................................399
Remo Susanna Jr.
Fármacos/Farmacologia....................................................................................................................................405
Rodrigo Antonio Brant Fernandes • Sérgio Henrique Teixeira
Carlos Akira OmiNeuroproteção......................................................................................................................................................413
Ja ir Giampani Jr. • Adriana Silva Borges-GiampaniQuando e Como Iniciar o Tratamento......................................................................................................419
Ruth R. Schor • João Antonio Prata Jr.
Como Conduzir o Tratamento.......................................................................................................................425
Roberto Murad Vessani
Fármacos em Fase de Pesquisa....................................................................................................................429
Tiago dos Santos Prata • Edson Quedas • Luciana Afonso Pires
SEÇÃO VII
Tratamento Cirúrgico
Laser em Glaucom a............................................................................................................................................. 437
Christiane Rohm de Moura • Vera Christina Waller de Lima
rCirurgia de Iris........................................................................................................................................................ 451
Paulo Gelman Vaidergorn • Natanael Cavalcanti Figueiroa Filho
Trabeculectomia: Evolução da Técnica................................................................................................... 461
Paulo Augusto de Arruda Mello • Sérgio Henrique Teixeira
XVI
Implantes de Drenagem
Marcelo Hatanaka
471
41 Cirurgia do Glaucoma Congênito........................................................................................................... 477
Regina Ceie Silveira • Augusto Paranhos Jr.
42 Procedimentos Ciclodestrutivos..............................................................................................................485
Wilma Lelis Barboza • Vinícius Paganini
Nascimento
43 Glaucoma e Catarata Coexistentes........................................................................................................ 493
Ednajar Tavares Macedo Filho • Ivan Maynart Tavares
44 Outros Procedimentos Combinados......................................................................................................501
Ricardo Suzukiíndice Alfabético..............................................................................................................................................505
XVII
o<U " Princípios Básicos
Anatomia do Globo Ocular
RUI BARROSO SCHIMITI • VITAL PAULINO COSTA
Para possibilitar uma melhor descrição espacial e, consequentemente, proporcionar uma me­lhor localização das estruturas oculares na prática clínica e na cirúrgica, alguns autores consi­deram que o olho é formado por dois segmentos:1. O segmento anterior, que engloba todas as estruturas e regiões que estão situadas diante do cristalino (incluindo este).2. O segmento posterior, que engloba todas as estruturas e regiões que estão localizadas posteriormente ao cristalino. Por sua vez, o segmento anterior contém duas câmaras:a) Câmara anterior - espaço compreendido entre a face posterior da córnea e a face anterior da íris.b) Câmara posterior - espaço compreendido entre a face posterior da íris, a face anterior do cristalino e, lateralmente, o corpo ciliar.
O globo ocular é preenchido por dois fluidos:1. O humor aquoso: fluido opticamente transparente presente no segmento anterior, é uma solução de água e eletrólitos similar aos outros fluidos tissulares, diferenciando-se destes pelo fato de que apresenta, em condições fisiológicas, pouca quantidade de proteínas.2. O humor vítreo: gel transparente, consiste em um emaranhado de fibras colágenas com seus espaços preenchidos por moléculas de ácido hialurônico e água. Ocupa a cavidade do segmento posterior denominada cavidade vítrea, delimitada pela superfície posterior do cristalino, pelo corpo ciliar e pela retina.
A túnica mais externa do globo ocular é constituída pela córnea, esclera e, posterior­mente, lâmina crivosa. A córnea é a sexta parte anterior da túnica fibrosa do olho. Os cinco sextos posteriores dessa túnica, contínuos à córnea, são formados pela esclera e somente
3
4 Glaucoma
uma pequena área pela lâmina crivosa. A córnea é transparente, lisa e apresenta um formato aproximadamente esférico na sua superfície anterior, com um raio de curvatura menor que o da esclera. A área de junção da córnea com a esclera é denominada limbo esclerocorneano. Abaixo e internamente ao limbo situa-se o seio camerular, principal local de drenagem do hu­mor aquoso.Na região do limbo, o epitélio da superfície externa da córnea torna-se contínuo com a con­juntiva, uma membrana mucosa fina e transparente que cobre a parte anterior da esclera. A con­juntiva e a esclera são separadas por um tecido conectivo frouxo denominado cápsula de Tenon.A esclera apresenta uma consistência rígida e sua cor é branco-opalescente. A falta de um arranjo regular das fibras colágenas e também a falta de mucopolissacarídeos na sua consti­tuição a tornam uma estrutura opaca. Posteriormente, a esclera apresenta uma perfuração, o forame escleral posterior, onde se encontra a lâmina crivosa (uma lâmina fenestrada constituí­da de fibras colágenas densas). Por essa estrutura passa o nervo óptico, formado por feixes de axônios das células ganglionares da retina.A camada intermediária do olho é altamente vascularizada e denominada túnica média, túnica vascular, ou úvea. A parte anterior da úvea é formada pela íris e pelo corpo ciliar e sua parte posterior é formada pela coroide.A íris é a parte mais anterior da úvea. Ela é fina e delicada, circular e apresenta um orifício central denominado pupila. Funciona como um diafragma que controla a quantidade de luz que atinge a retina. A contração do músculo esfíncter da íris contrai a pupila. A dilatação da pupila ocorre pela contração do músculo dilatador da pupila.O corpo ciliar também é denominado úvea intermediária. Quando seccionado sagitalmen- te, apresenta uma forma triangular e está aderido anteriormente à íris e ao esporão escleral; posteriormente, ele é contínuo com a coroide. A parte anterior do corpo ciliar é a mais curta e se relaciona com o seio camerular dando origem à íris. O lado externo do triângulo (princi­palmente o músculo ciliar) se relaciona com a esclera. O lado interno é dividido em duas par­tes: a pars plicatci, apresentando aproximadamente 2 mm de extensão, é representada pelos processos ciliares; a pars plana, que constitui a porção plana posterior de cerca de 4,5 mm de extensão, contínua com a coroide e com a retina. Mais profundamente e abaixo da pars pli- 
cata, situa-se o músculo ciliar, constituído pelas fibras circulares (mais internas), pelas fibras longitudinais (mais externas e mais próximas à esclera) e pelas fibras radiais. A parte posterior da úvea é denominada coroide e consiste em uma estrutura extremamente vascularizada com função primordialmente nutridora.A túnica mais interna do olho é uma túnica neurossensorial. Posteriormente, esta túnica é representada pela retina. Anteriormente, ela se relaciona com a superfície interna do corpo ciliar e da íris na forma de um epitélio pigmentado de dupla camada. Estas camadas podem ser delineadas na retina que é composta de um epitélio pigmentado externo e de uma parte sensorial interna que contém os cones e bastonetes, as células bipolares e as células glanglio- nares.A retina é, sem dúvida, a principal estrutura anatômica do olho, uma vez que é responsá­vel pela fotorrecepção. A retina apresenta 10 camadas bem definidas que, do sentido externo ao interno, estão dispostas na seguinte sequência: epitélio pigmentar (EP), camada de cones
Anatomia do Globo Ocular 5
e bastonetes, membrana limitante externa, camada nuclear externa, camada plexiforme ex­terna, camada nuclear interna, camada plexiforme interna, camada de células ganglionares, camada de fibras nervosas e membrana limitante interna.Juntamente com os demais meios dióptricos do olho, o cristalino desempenha a impor­tante função de refratar os raios luminosos, permitindo que a imagem se forme na superfície retiniana. O cristalino é uma estrutura biconvexa de origem ectodérmica. Sua face anterior se relaciona com a pupila, com a face posterior da íris. Sua face posterior é mais convexa que a anterior e se relaciona com o corpo vítreo. As zônulas ciliares constituem um sistema de fibras estendidas. O conjunto de fibras radiadas da zônula tem a forma de um triângulo. Estas fibras originam-se no nível do corpo ciliar, dirigindo-se ao cristalino para, em seguida, inserirem-se em suas faces anterior e posterior.
FISIOLOGIA DO HUMOR AQUOSOComo já pudemos ver, o globo ocular é constituído por um continente e por um conteúdo (Fig. 1). Parte do seu conteúdo é representada pelo humor aquoso, produzido continuada-
Conjuntiva
C rista lin o
Câm ara anterior
Córnea
Canal de Schlemm
Zônula
Câm ara posteóor
Corpo ciliar
Músculo rdo 
lateral
Cápsula do 
cnstafcno
Corotde
Musculo reta 
medrai
Ora serrara
Esclerôtica 
Veia vorfocosa
Pupáa
Retina
Coroide
EacwnMtMVRUO
Epítélio pigmentar
Mácula
Artána ciliar posterior longa 
o nervo ciliar longo
Arlehotas e 
vetas retinianas
Lâmina cribrosa 
Aracnoido
Papila optica
Nervo óptico
Artéria e veta centrais da retina
Fig. 1 Ilustração esquemática das camadas externa (córnea e 
esclera), intermediária (coroide, corpo ciliar e íris) e interna (retina) 
e das estruturas do interior do globo ocular humano. In: Vaughan 
D & AsburyT. Oftalmologia Geral.
I Glaucoma
mente e constantemente renovado, que escoa do interior do globo ocular por meio de estruturas específicas. O humor aquoso apresenta características peculiares e é muito importante para a manutenção da homeostase das estruturas internas do olho, principal­mente
aquelas desprovidas de vasos sanguíneos. O conhecimento dos processos respon­sáveis pela formação do humor aquoso, da interação com as estruturas avasculares do olho, das suas funções metabólicas e das particularidades do seu escoamento é fundamen­tal para que se entendam os mecanismos que, quando em desequilíbrio, podem ocasionar o glaucoma.O corpo ciliar pode ser dividido em uma porção pregueada denominada pcirs plicata e em outra porção posterior e plana, denominada pcirs plana. A pars plicata é a porção responsável pela formação do humor aquoso e o músculo ciliar é responsável por parte da regulação do seu escoamento bem como pelo processo de acomodação visual.
Produção do humor aquosoO humor aquoso é uma solução opticamente transparente constituída de eletrólitos diluídos em água. Após ser formado pelos processos ciliares, ele passa através da pupila para a câmara anterior, sendo a maior parte escoada pela malha trabecular, passando para o canal de Schlemm, daí para as veias aquosas e então para as veias episclerais e conjuntivais.O humor aquoso é produzido em um ritmo contínuo de aproximadamente 2 microlitros por minuto, por cerca de 70 processos ciliares que estão dispostos circunferencialmente
re posicionados posteriormente à íris. E formado a partir do plasma, na rede de capilares fenestrados, presentes no interior dos processos ciliares. Para que seja constituído, os ele­mentos de sua composição necessitam atravessar o endotélio capilar, o estroma que envol­ve os capilares e os epitélios pigmentado e não pigmentado dos processos ciliares (Fig. 2). Assim, necessitam atravessar algumas barreiras físicas como a membrana citoplasmática e os complexos juncionais (desmossomos, zonula ocludens, tight junctions, etc.) presentes nas duas camadas epiteliais. Estas estruturas constituem a barreira hematoaquosa dos proces­sos ciliares (Fig. 3).A formação do humor aquoso envolve diferentes processos biofísicos como a secreção, a difusão e a ultrafíltração. Entre esses processos, o que desempenha o papel mais impor­tante para a formação do humor aquoso é o mecanismo de secreção ativa, que depende do acionamento da bomba de sódio e potássio (com gasto de ATP) e é capaz de promover um movimento de moléculas contra um gradiente de concentração. Este processo, ainda não com­pletamente elucidado, proporciona a passagem de íons, principalmente de sódio, para a câ­mara posterior. A bomba de sódio e potássio é dependente da presença de bicarbonato (cuja formação depende, por sua vez, da enzima anidrase carbônica) e da ativação de receptores da adenilciclase que, em conjunto, exercem influência direta na velocidade e no volume de produção do humor aquoso (Fig. 4). Uma vez na câmara posterior, o sódio acarreta uma força osmótica que facilita a difusão de mais fluido em direção à câmara posterior. A ultrafíltração, que desempenha um papel menor na formação do humor aquoso, consiste em uma diálise (passagem seletiva de elementos por uma membrana semipermeável) sob força de uma pres­são hidrostática. Estes diferentes mecanismos irão, conjuntamente, determinar o volume final do humor aquoso produzido pelos processos ciliares. Existe uma flutuação circadiana na pro-
Anatomia do Globo Ocular 7
Fig. 2 Seção transversal de processo ciliar mostrando os capilares, o 
estroma e os epitélios pigmentado e não pigmentado com aumento de 350 
vezes. In: Ritch R, Shields MB, Krupin T. The Glaucomas, 2nd edição, 1996.
Câmara posterior
Fig.3 Desenho esquemático das duas camadas do epitélio ciliar. 
Uma membrana basal constitui a membrana limitadora interna 
(MLI) na superfície interna. Nas células não pigmentadas do epi­
télio encontram-se mitocôndria (M), zônula occludens (ZO) e 
interdigitações laterais e de superfície (I) e junções lacunares (JG= 
gop junctions). O epitélio pigmentado apresenta grânulos de 
melanina (GM) e lateralmente, junções intercelulares tipo desmos- 
somos (D). In: Shields, Glaucoma 2â edição, Buenos Aires: Médica 
Panamericana, 1989.
MLI
Célula epitelial 
pigmentada
— BM
Núcleos M
(Superfícies
apicais)
Núdeos 
GM
Célula epitelial 
pigmentada
Fig. 4 Diagrama simplificado do mecanismo de ação da 
anidrase carbônica e dos íons envolvidos na secreção ativa do 
humor aquoso. (Extraído de Sherwood MB. New Topical 
Treatments for Glaucoma.)
8 Glaucoma
dução do humor aquoso, com menor produção durante o período noturno, e também uma diminuição relativa à idade (2% por década).
Escoamento do humor aquosoApós desempenhar suas funções de nutrição e de remoção de catabólitos das estruturas avas- culares do interior do globo ocular (como o cristalino e a córnea), a maior parte do humor aquoso escoa da câmara anterior do globo ocular para a circulação sanguínea através de estru­turas formadas especificamente para esse propósito, situadas no seio camerular.Esta via de escoamento é denominada via trabecular ou convencional e é responsável pela drenagem de aproximadamente 80 a 95% do volume do humor aquoso, sob condições fisioló­gicas. O humor aquoso atravessa inicialmente a malha trabecular (Fig. 5) e após atravessar suas porções (uveal, corneoescleral e tecido justacanalicular), atinge um canal circular denominado canal de Schlemm (Fig. 6); a partir desse canal, dirige-se ao plexo venoso escleral profundo, ao plexo venoso intraescleral e, posteriormente, ao plexo venoso episcleral, passando daí para a circulação venosa geral.A teoria proposta por Thripathi (1971) explica a passagem final do humor aquoso para o canal de Schlemm. Devido à pressão hidrostática na face endotelial do canal de Schlemm vol­tada para o trabeculado, inicia-se uma invaginação progressiva da parede celular (semelhante a um processo de pinocitose) que culmina com a formação de um canal transcelular transitório (plasmalema transitório basal e apical de curta existência). Durante esse breve momento, ocor­re a passagem de um volume substancial de humor aquoso para o interior do canal de Sch-
Córnea
Canal de Schlemm
^ Malha 
trabecular
Cristalino
Fig. 5 Via trabecular ou convencional de escoamento do humor 
aquoso (Fonte Alcon).
Malha trabecular JustacanalicularComoescteral
Canal de 
Schlemm
Canal 
de saída
I
Fig. 6 Desenho esquemático de corte das camadas da malha 
trabecular: porções uveal, corneoescleral e tecido justacanalicular 
(parede interna do canal de Schlemm). In: Shields. Glaucoma 2- 
edição, Buenos Aires: Médica Panamericana, 1989.
Anatomia do Globo Ocular 9
lemm. Imediatamente após esse momento, começa o fechamento da porção basal deste canal transcelular temporário, iniciando-se uma nova invaginação e a formação de um novo canal.Ao deixar o interior do olho pela via trabecular, o humor aquoso pode encontrar as se­guintes regiões de resistência: 1) a parede interna do canal de Schlemm, ou seja, no tecido justacanalicular (normalmente, este é o local de maior resistência à drenagem) e; 2) as traves intermediárias do trabeculado, onde pode ocorrer acúmulo de glicosaminoglicanos (principal­mente ácido hialurônico, sulfato de condroitina e sulfato de dermatana). O próprio canal de Schlemm também pode se tornar local de resistência à drenagem quando está colapsado por causas degenerativas.Um fator importante que exerce influência na drenagem do humor aquoso pela via trabe­cular é o nível da pressão venosa episcleral, que apresenta um valor normal médio de apro­ximadamente 10 mmHg. Devido ao fato de o canal de Schlemm estar em comunicação direta com o sistema venoso, quando há elevação da pressão venosa episcleral pode ocorrer estag­nação ou até mesmo refluxo de humor aquoso ou de sangue.A pilocarpina (fármaco de ação parassimpatomimética) promove contração do músculo ciliar. Por sua vez, tendões do músculo ciliar que se inserem nas diferentes porções da malha trabecular e no esporão escleral promovem uma modificação da arquitetura do trabeculado, aumentando os seus espaços e diminuindo a resistência ao escoamento do humor aquoso
pela via trabecular.A segunda via de escoamento é denominada via uveoescleral ou não convencional e é responsável pelo escoamento de 5 a 20% do humor aquoso, quando em situações fisiológicas (Fig. 7). Por essa via, o escoamento do humor aquoso ocorre através da raiz da íris, atingindo os espaços intermusculares no corpo ciliar até alcançar o espaço supraciliar (contíguo ao espa­ço supracoroidal). Daí, o humor aquoso passa pelos canais emissários de vasos sanguíneos e de filetes nervosos que atravessam a esclera e chega à região episcleral, onde será absorvido por vasos sanguíneos. O escoamento do humor aquoso pela via uveoescleral é caracterizado pela ausência de barreira epitelial entre a câmara anterior e o espaço supraciliar. Apresenta um fluxo constante e, ao contrário daquele que ocorre por meio da via trabecular, não é influen­ciado pelos níveis da pressão intraocular ou da pressão venosa episcleral. Fármacos como a atropina, os análogos de prostaglandinas e os alfa-agonistas (como a epinefrina) aumentam o escoamento pela via uveoescleral, enquanto os fármacos com ação parassimpatomimética (como a pilocarpina e o carbacol) diminuem a drenagem por essa via.
Fig. 7 Via uveoescleral ou não convencional do escoamento do 
humor aquoso (Fonte Alcon).
1 0 I Glaucoma
Características e funções do humor aquosoO humor aquoso é uma solução opticamente transparente constituída de eletrólitos diluídos em água, que representa 99,69% de sua constituição. Seu volume normal é de 0,25 a 0,3 ml, apre­senta uma viscosidade de 1,025 a 1,04 (maior do que a água) e um índice de refraçào de 1,336.O humor aquoso apresenta importantes funções no globo ocular. Uma delas é a funçào trófica, pois cabe a ela o fornecimento de substratos e a remoção de metabólitos do cristalino, da malha trabecular e da córnea, estruturas avasculares. A funçào de sustentação representa a capacidade de separar as frágeis e dinâmicas estruturas da parte anterior do olho, impedindo que estas sofram aderências entre si. A sua funçào óptica deve ser sempre ressaltada, pois no sentido anteroposterior, representa o segundo meio dióptrico do olho. O humor aquoso tam­bém exerce funçào protetora, ao absorver o estresse mecânico e a energia térmica liberada pe­los raios luminosos que o atravessam. Finalmente, devemos sempre ter em mente que o nível da pressào intraocular depende continuamente do balanço entre a produção e o escoamento do humor aquoso. Pressões intraoculares elevadas podem decorrer do aumento de produção ou da redução do escoamento do humor aquoso, enquanto pressões intraoculares baixas são provenientes da redução da produção ou do aumento do escoamento do humor aquoso.
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CM
Genética
JOSÉ PAULO CABRAL VASCONCELLOS - VITAL PAULINO COSTA
PRINCÍPIOS BÁSICOSA genética é a ciência da diversidade biológica. Nos últimos 50 anos, a genética humana evo­luiu da diversidade fenotípica até chegar à variação do DNA propriamente dito. A genética médica é um ramo da genética humana que estuda a relação entre a diversidade biológica em seres humanos, saúde e doença. Dedica-se à investigação de doenças que acometem pacientes e seus familiares, seu diagnóstico, prevenção e tratamentoA evolução da genética médica permitiu determinar que as doenças podem apresentar um padrão monogênico de hereditariedade, que incluem os tipos autossômico dominante (AD), autossômico recessivo (AR), ligado ao sexo (ligado ao X) e mitocondrial; ou apresentar um pa­drão complexo de hereditariedade, que envolve mais de um gene e possíveis fatores ambien­tais na determinação etiológica da doença (herança poligênica multifatorial). No padrão AD de herança, a presença de um alelo alterado (uma das versões alternativas de um gene que pode ocupar um determinado locus) é suficiente para a manifestação do fenótipo, ao passo que no padrão AR, existe a necessidade dos dois alelos estarem modificados para o desenvolvimento da moléstia. Na herança mitocondrial, a transmissão genética dá-se por meio do DNA mito­condrial, presente somente nas células germinativas femininas, de modo que nenhum homem afetado transmite a doença.A determinação exata do padrão de herança é dificultada pela variabilidade da penetrân- cia e expressividade da doença. Penetrância é um conceito que se refere à expressão de um genótipo mutante, normalmente aplicado aos caracteres dominantes em heterozigose. A pe­netrância de um alelo mutante pode variar de acordo com a porcentagem de indivíduos por­tadores deste que manifestem seu fenótipo correspondente. Por exemplo, se uma condição se expressar em 100% dos indivíduos que possuam o alelo responsável, este alelo apresentaria uma penetrância de 100%, ao passo que, se esta mesma condição estiver presente em 70% das
11
12 Glaucoma
pessoas portadoras do alelo mutante, isso corresponderia a uma penetrância de 70% para este alelo. Expressividade corresponde à gravidade de uma doença associada a uma alteração ge­nética. Se uma condição apresentar expressividade variável, o fenótipo (manifestação clínica) determinado por esta alteração genética variará em grau de intensidade (leve a intenso), mas sempre presente entre os indivíduos que possuírem o genótipo correspondente.Recentemente, com o desenvolvimento da biologia molecular, vários pesquisadores têm procurado identificar genes associados aos mais diversos tipos de doenças humanas. Assim, um grande número de afecções oculares já tem seu locus (posição no cromossomo) e gene de­terminados por meio do mapeamento genético e das análises de ligação e associação.A informação genética está contida em 23 pares de cromossomos localizados no núcleo de cada célula humana, 22 dos quais chamados de autossomos e dois cromossomos sexuais (X e Y). Os indivíduos recebem um cromossomo de cada par herdado dos pais. Cada cromossomo é composto por uma fita dupla de ácido desoxirribonucleico (DNA). O DNA é uma molécula de ácido nucleico polimérica composta por um açúcar de cinco carbonos a desoxirribose, um grupo fosfato e uma das quatro bases aminadas: duas purínicas, a guanina (G) e adenina
(A); e duas bases pirimidínicas a timina (T) e citosina (C). Ao conjunto de uma base, um fosfato e uma molécula de açúcar dá-se o nome de nucleotídeo. Os nucleotídeos, por meio de ligações fosfodiéster 5’-3’entre as unidades de desoxirribose adjacentes, polimerizam-se formando as cadeias de polinucleotídeos que é a fita de DNA propriamente dita. As fitas de DNA são com­plementares e têm direção oposta, mantidas unidas por meio de ligações de hidrogênio entre os pares de base: A com T e C com G assumindo a forma de uma dupla hélice. A molécula de DNA tem a capacidade de replicar-se a partir da separação de seus dois filamentos que servem como molde para a síntese de dois novos filamentos complementares transmitindo as infor­mações contidas em seu código genético para gerações futuras.A informação genética armazenada no DNA não tem apenas propósito de replicação, mas
atambém oferecer, entre outras, condições para a síntese de proteínas. A informação contida no DNA que leva à formação de uma proteína damos o nome de gene (sequência de bases específica que codifica uma proteína particular) As proteínas são construídas a partir de uma sequência de moléculas denominadas aminoácidos (aa) e têm uma função estrutural ou bioquí­mica a desempenhar no organismo. O processo de síntese proteica a partir do DNA é chamado de dogma central da biologia molecular. Para que tal processo ocorra é necessário, primeira­mente, que a informação contida na sequência de nucleotídeos de um gene seja enviada ao citoplasma em um processo chamado transcrição para orientar a formação de uma proteína.Vários mecanismos podem ocasionar alterações na sequência normal do DNA. Quando isso ocorre e leva a uma alteração de função da proteína damos o nome de mutação. Uma mutação pode ser transmitida através de gerações, bastando que esta ocorra na linhagem de células germinativas do indivíduo. As mutações representam a base das doenças genéticas. Outras variações da sequência do DNA que podem aumentar a suscetibilidade para o desen­volvimento de doenças são chamadas de polimorfismos e, finalmente, algumas regiões de variação do DNA dispostas em padrões de repetição ou com variação de um único par de base
Genética 13
são utilizados como marcadores para o mapeamento de genes causadores ou de suscetibili­dade para as doenças.
GENÉTICA E GLAUCOMA 
HerdabilidadeA história familiar é um dos fatores de risco para o desenvolvimento do glaucoma primário de ângulo aberto (GPAA), segundo diferentes abordagens, incluindo a avaliação de parentes de pacientes com GPAA, estudos do tipo caso-controle, estudos observacionais de prevalência e estudos de avaliação de gêmeos.O principal padrão de herança no GPAA é o poligênico multifatorial (padrão complexo de herança), apesar de já terem sido descritas várias famílias com GPAA apresentando padrão mendeliano de herança. Além disso, características oculares relacionadas com o glaucoma como valor da pressão intraocular (PIO), aspecto anatômico do disco óptico e espessura cor- neana, apresentam na sua determinação (expressão fenotípica) importante contribuição gené­tica. Esta contribuição varia de cerca de 30% para a PIO, até 95% para a espessura corneana, situando-se ao redor de 50% para características anatômicas do disco óptico.
Classificação genética dos glaucomasA classificação proposta pela Organização Mundial do Genoma Humano designa para os ge­nes associados ao glaucoma a sigla “GLC” . Os números “ 1” , “2” e “3” a seguir representam ângulo aberto, ângulo fechado e glaucoma congênito, respectivamente. Finalmente, as letras “A”, “B” , “C” e assim por diante, indicam o primeiro e os subsequentes loci identificados para determinado tipo de glaucoma. Assim, o primeiro locus identificado em associação ao GPAA recebeu o nome GLC1A, enquanto o primeiro locus relacionado para o glaucoma congênito foi denominado GLC3A.
Regiões do genoma (Loci) associadas ao glaucoma primário de 
ângulo abertoAté o momento, pelo menos 13 loci foram identificados, por meio de estudos de ligação e as­sociação, relacionados com o GPAA [Tabela I]. O primeiro locus associado ao GPAA foi descrito por Sheffield et ai em 1993, que estudaram uma família de cinco gerações que apresentava GPAA do tipo juvenil (GPAA-J) (um tipo de GPAA que manifesta-se abaixo dos 40 anos de idade e cursa com PIO elevadas). O locus identificado está localizado no braço longo do cromossomo 1 (Iq21-q23), posteriormente denominado GLCIA. O gene correspondente a este locus foi lo­calizado por Stone etal. em 1997, denominado TIGR/MYOC. Posteriormente, dois outros genes foram identificados, o gene OPTN no locus GLCIE em 2002 e o gene WDR36 localizado no locus 
GLC1G em 2005.
14 Glaucoma
TABELA 1 Loci genéticos descritos para o glaucoma primário de ângulo aberto
Localização no Nome do locus Gene identificado Autor
cromossomo
1q21-q31 GLC1A MYOC Stone et at, 1997
2p4 — — Wiggs JL et ai, 2000
2p16.3-p15 GLC1H — www.gene.ucl.ac.uk/nomenclature
2cen-q13 GLC1B — Stoilova D et ai, 1996
2q33-q34 — — Nemesure B etol., 2003
3p21-p22 GLC1L — Baird PN eta i, 2005
3q21-q24 GLC1C — Wirtz MK et al., 1997
5q21.3-q22.1 GLC1G WDR36 Monemi S eta i, 2005
5q22.1-q32 GLC1M — Pang CP eta i, 2006
7q35-q36 GLC1F — Wirtz MK eta i, 1999
8q23 GLC1D — Trifan OC eta i, 1998
9q22 GLC1J — Wiggs JL et ai, 2004
10pl2-pl 3 — — Nemesure B eta i, 2003
10pl4-pl 5 GLC1E OPTN Rezaie et ai, 2002
14q 11 — — Wiggs JL et ai, 2000
14q21-q22 — — Wiggs JL et ai, 2000
15q 11 -q 13 GLC1I — Allingham RR eta i, 2005
17p13 Wiggs JL et ai, 2000
19q12-q14 Wiggs JL et ai, 2000
20p12 GLC1K Wiggs JL et ai, 2004
Fonte: Adaptado de Bao Jian Fan et a l., 2006.
Gene TIGR/MYOCApós a identificação do gene TIGR/MYOC realizada por Stone et ai, diversos estudos subse­quentes, avaliando mutações neste gene em populações das mais diversas origens étnicas, ob­tiveram frequências de alterações estruturais de 2 a 5%. O rastreamento de mutações no gene 
TIGR/MYOC também foi realizado na população brasileira de pacientes com GPAA, com idade inferior a 35 anos (GPAA-J), e entre os pacientes com GPAA, com idade superior a 40 anos, (parte do éxon 3 do gene TIGR/MYOC, hot spot para mutações), obtendo-se uma frequência de mutações de 35,71% e 3,85%, respectivamente.Portanto, apesar de mutações no gene TIGR/MYOC em casos esporádicos de GPAA ocor­rerem com uma frequência baixa, estas alterações estão presentes em todas as populações estudadas, reforçando o papel deste no desenvolvimento do GPAA. Entretanto, algumas mu­tações no gene TIGR/MYOC estão restritas a determinadas populações, como, por exemplo, a identificação de uma mutação própria da população brasileira: a troca do aminoácido cisteína para arginina no códon 433 (Cys433Arg), presente em 28% dos pacientes com GPAA-J (8/28 in­divíduos estudados) e em famílias com GPAA independente da idade.O mecanismo pelos quais alterações no gene TIGR/MYOC levam ao desenvolvimento do glaucoma está em estudo. Acredita-se que mutações no gene TIGR/MYOC (do tipo ganho de função) acarretem alterações na estrutura quaternária e/ou na capacidade de polimerização da
Genética I
proteína codificada, impedindo sua secreção para o meio extracelular da malha trabecular. Tais aspectos desencadeariam um processo de estresse oxidativo no retículo endoplasmático rugo- so que levaria à morte das células trabeculares e, consequentemente, a uma menor capacidade funcional da malha trabecular para o escoamento do humor aquoso.
Gene OPTNSarfarazi et ai em 1998 avaliaram três gerações de uma família com GPAA identificando a região no braço curto do cromossomo 10 (10pl5-pl4). As características clínicas dos indiví­duos incluíam aparecimento do glaucoma por volta dos 44 anos de idade (variando entre 23 e 65 anos de idade) e PIO inferiores a 30 mmHg. Este foi o quinto locus identificado para o GPAA, denominado GLCÍE. Posteriormente, Rezaie et ai (2002) identificaram o gene Optineurin 
(OPTN) associado ao GPAA neste locus. Alterações na sequência codificadora
deste gene foram observadas em 16,7% entre os GPAA com história familiar positiva e PIO, na sua maioria, den­tro dos níveis estatisticamente normais. A proteína codificada pelo gene OPTN parece intera­gir com outras proteínas durante o processo de apoptose das células ganglionares da retina, particularmente com o fator de necrose tumoral alfa (TNFa).
Gene WDR36O locus GLCIG descrito para o GPAA foi obtido por meio da avaliação de 92 indivíduos de uma família proveniente do estado de Oregon (EUA) localizado no cromossomo 5. Recente­mente, Monemi et ai em 2005 identificaram o gene WDR36, e relataram a presença da muta­ção D658G segregando com o GPAA em uma família ligada ao locus GLCIG e ausente em 476 cromossomos de indivíduos normais avaliados. Os autores observaram 4 diferentes tipos de mutações em 17 indivíduos não relacionados com GPAA (5,02%), sendo 11 com PIO elevada e 6 com glaucoma de pressão normal (GPN). O gene WDR36 parece atuar na ativação dos linfó- citos T e seu papel no mecanismo de desenvolvimento do glaucoma não está determinado.
Genes de suscetibilidade para o GPAAComo descrito anteriormente, o componente genético predominante no GPAA é o poligênico multifatorial (padrão complexo de herança). O estudo de polimorfismos em doenças comple­xas incluindo Alzheimer, diabetes melito, degeneração macular relacionada à idade e esquizo­frenia tem permitido a identificação de alelos de suscetibilidade associados a estas doenças. Estudos do tipo caso-controle em pacientes com GPAA e GPN também têm sido realizados, identificando-se polimorfismos associados ao glaucoma em vários genes relacionados aos pro­cessos neurodegenerativos, à homeostase do humor aquoso, às disfunções vasculares e à res­posta imunológica: genesp53,p2í ,IL-1[3, TNFa, IGF-ll, OPAl, APOF, N0S3,AGTR2, B2AR, TAPl-1 e TAPl-2.
Glaucoma congênito primário (GCP)O GCP, que acomete ambos os olhos em 75% dos casos, apresenta forte componente hereditá­rio, obedecendo, preferencialmente, ao padrão de herança autossômico recessivo, apoiado na
16 I Glaucoma
existência de alta concordância entre os gêmeos monozigóticos e ausência de concordância entre os gêmeos dizigóticos, não afastando, contudo, o padrão poligênico de herança. Em 1995, Sarfarazi et ai avaliaram 17 famílias provenientes da Turquia que apresentavam de 2 a 9 membros afetados com GCP bilateral e identificaram o gene CYPÍBÍ associado ao GCP (locus 
GLC3A). A frequência de alterações estruturais no gene CYPÍBÍ entre pacientes com GCP va­riou segundo a população estudada de mais de 85% entre os turcos, árabes e eslovacos a 50% na população mexicana, 40% nas populações indiana e italiana e 20% na população japonesa. Na população brasileira, a frequência de mutações observadas foi de 50% (52 indivíduos, 26 com mutações), sendo quatro próprias de nossa população. O gene CYPÍBÍ, é composto por três éxons totalizando 1.629 pares de bases (pb), codifica a proteína P4501B1, pertencente à família do citocromo P450 e envolvida no metabolismo do oxigênio, ácido aracdônico e na gênese de esteroides. O papel da proteína P4501B1 na etiologia do GCP não está totalmente esclarecido.
Glaucomas associados à malformação do segmento anterior (glaucomas 
de desenvolvimento)Os glaucomas de desenvolvimento ocorrem devido à malformação dos tecidos mesenquimais (estróina iriano, ângulo iridocorneano, endotélio e estroma da córnea), associados ou não a alterações de tecidos ectodémicos (cristalino) (Dias, 1998). Tais alterações incluem aniridia, malformações de Axenfeld-Rieger, iridogoniodisgenesias. Alguns genes já foram associados a estas disgenesias do segmento anterior, sendo que a maior parte deles atua como fatores de transcrição, ou seja, regula o processo de transcrição de outros genes. Os principais genes são o FOXCÍ, encontrando-se mutações principalmente nas anomalias e/ou síndrome de Axenfeld- Rieger, PITX2 principalmente na síndrome de Axenfeld-Rieger e iridogoniodisgenesia e o gene 
PAX6 onde alterações estruturais estão relacionas com os quadros de aniridia.Dois trabalhos avaliaram mutações nos genes PITX2 e FOXCÍ em famílias brasileiras com síndrome de Axenfeld-Rieger. O primeiro (Borges et ai 2002) estudou cinco famílias com sín­drome de Axenfeld-Rieger apresentando manifestações sistêmicas, identificando mutações no gene PITX2 em duas destas. O segundo (Cella et ai 2006), avaliou oito famílias, incluindo in­divíduos com manifestações restritas ao globo ocular e identificou alterações estruturais no gene FOXCÍ em três famílias, sendo duas consideradas como mutações associadas à doença.
Outras formas de glaucomaAndersen et ai em 1997 estudaram quatro famílias de origem iraniana com síndrome de dis­persão pigmentar (total de 28 indivíduos afetados) e demonstraram que o gene responsável está localizado no locus 7q35-q36, em uma região de 10 cM. Um segundo locus foi subsequen­temente identificado no cromossomo 18(18q 11 -q21).Dois loci associados à síndrome de pseudoexfoliação e ao glaucoma pseudoexfoliativo foram descritos, avaliando-se famílias de origens britânica e canadense: o primeiro deles, no braço curto do cromossomo 2 (2p 16) com padrão de herança AD e o outro sugerindo padrão de herança mitocondrial. No entanto, os genes associados a estas condições não foram iden­tificados.
Genética I 17
O antecedente familiar positivo inclui-se como um dos fatores de risco para desenvolvi­mento de glaucoma primário de ângulo fechado (GPAF). Apesar dos padrões AD e AR já terem sido descritos para o GPAF, admite-se o padrào poligênico multifatorial como o mais aceito para este tipo de glaucoma. No entanto, até o momento, nenhum gene foi identificado para o GPAF.
PER SPEC TIV A SO desenvolvimento das diversas áreas básicas do conhecimento humano, incluindo a biologia celular e a genética, permitirá no futuro caracterizar melhor os diferentes tipos de glaucoma ao qual, atualmente, denominamos como primário de ângulo aberto. Assim, dividi-los em di­ferentes grupos baseado em suas diferentes fisiopatologias permitirá um seguimento clínico mais racional e eficiente. Além disso, o conhecimento dos mecanismos que levam ao dano glaucomatoso nas diferentes estruturas oculares permitirá novas abordagens no tratamento do glaucoma, tais como neuroproteçào, modulação da cicatrizaçào da cirurgia antiglaucoma- tosa, outras formas de redução da PIO entre outras, reduzindo o risco de perda da função visual causada por esta doença.
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Epidemiologia do Glaucoma
JOSÉ PAULO CABRAL VASCONCELLOS • VITAL PAULINO COSTA
INTRODUÇÃO À EPIDEMIOLOGIAA definição e a classificação apropriadas de uma determinada doença são fundamentais para descrevê-la do ponto de vista epidemiológico, que tem o intuito de auxiliar a compreensão e o controle da mesma por meio da avaliação de sua prevalência, incidência e dos seus fatores de risco.O glaucoma pode ser definido como uma doença neurodegenerativa de etiologia multifa- torial compreendendo inúmeras afecções oculares que têm como características em comum a lesão progressiva do nervo óptico (afilamento progressivo da rima nervosa e aumento da relação escavação/disco) com perda de campo visual correspondente. O sítio primário da le­são glaucomatosa são as células ganglionares da retina (CGR), particularmente seus axônios (fibras nervosas). A elevação da pressão intraocular (PIO) é um fator de risco primário. No glau­coma ocorre uma aceleração do processo de apoptose das CGR comparada à perda natural decorrente do envelhecimento. A necessidade de dividi-lo em subgrupos que compartilhem mecanismos fisiopatológicos e epidemiológicos é dificultada, muitas vezes, pelos critérios de classificação provenientes de sua propedêutica, como a tonometria, a gonioscopia, a fundos- copia e a perimetria.
CLASSIFICAÇÃO DOS GLAUCOMASO glaucoma pode ser classificado de acordo com a etiologia (primário ou secundário), o aspec­to anatômico do seio camerular (aberto ou fechado) ou a evolução clínica (agudo ou crônico). Quando os mecanismos fisiopatológicos que levam ao desenvolvimento do glaucoma são co­nhecidos e envolvem condições oculares e/ou sistêmicas que resultam em elevação da PIO e lesão glaucomatosa do disco óptico, o glaucoma é denominado secundário. O termo primário
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se restringe aos glaucomas cujo mecanismo responsável pelo desenvolvimento da lesão glau- comatosa do disco óptico e, na maioria das vezes, do aumento da PIO não está estabelecido. O seio camerular compreende uma série de estruturas que inclui desde a íris periférica até a linha de Schwalbe. A observação destas estruturas e suas correlações topográficas por meio da gonioscopia permitem classificar o seio camerular ou ângulo em aberto e fechado. Os glau­comas, portanto, podem também ser denominados segundo esse aspecto anatômico do seio camerular em: 1) de ângulo aberto ou 2) de ângulo fechado. Para se diferenciar os glaucomas de ângulo aberto e fechado, é fundamental que o oftalmologista domine completamente a gonioscopia, que permite o reconhecimento das estruturas do seio camerular.Foster et al. em 2002 sugeriram uma classificação para o glaucoma primário de ângulo aberto (GPAA) baseada no aumento da escavação vertical do disco óptico e em defeitos carac­terísticos do campo visual. Os critérios diagnósticos foram divididos em três categorias:1. Evidências de danos estrutural e funcional. O dano estrutural definido como olhos apresen­tando relação escavação/disco ou assimetria de escavação maior ou igual a 97,5% do per- centil normal da população em que se inclua o paciente ou uma redução da rima neural do disco óptico menor ou igual a 0,1 da relação escavação/disco nos polos superior e inferior (entre 11 e 1 hora e entre 5 e 7 horas do relógio) associado à presença de defeito de campo visual compatível com glaucoma.
2. Evidência de dano estrutural avançado sem anormalidade do campo visual comprovada. Nessa situação, a relação escavação/disco e assimetria deve ser maior do que 99,5% da dis­tribuição normal, ou seja, o glaucoma é diagnosticado baseado somente nas alterações es­truturais. Considerando-se as categorias 1 e 2 não devem existir outros achados no exame oftalmológico para o aumento ou assimetria da relação escavação/disco, como displasia do disco óptico, anisometropias ou alterações do campo visual secundárias a alterações reti- nianas e neurológicas.
3. Impossibilidade de avaliação do disco óptico ou do campo visual na presença de baixa vi­são com aumento da PIO acima do percentil 99,5% da população normal ou evidência de procedimento cirúrgico antiglaucomatoso ou registros médicos confirmando o diagnósti­co de glaucoma.
Vale realçar que esta proposta de classificação é dirigida para estudos epidemiológicos. Na prática clínica, outros sinais de lesão do disco óptico, assim como o acompanhamento do paciente monitorando mudanças da camada de fibras nervosas da retina e aspectos morfoló­gicos do disco óptico, são fundamentais para o diagnóstico do glaucoma mesmo na vigência de exames funcionais dentro da normalidade. Finalizando, na classificação do GPAA pode tam­bém ser considerado o valor da PIO. O glaucoma de pressão normal incluiria indivíduos com lesões estruturais e funcionais glaucomatosas e valores de PIO consistentemente abaixo de 21 mmHg.Os mesmos autores citados anteriormente propuseram uma nova definição para o glau­coma primário de ângulo fechado (GPAF) na tentativa de tornar sua classificação mais ho­mogênea, menos subjetiva e com características semelhantes à classificação utilizada para o glaucoma GPAA.
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Nesta classificação, o ângulo seria considerado estreito (oclusível) quando ao exame go- nioscópico sem identação, não fosse possível a observação do trabeculado posterior em 270° de extensão do seio camerular. Quando indivíduos apresentassem esta condição sem outras alterações secundárias do seio camerular (avaliadas à gonioscopia de identação), pressão in- traocular (PIO) dentro do percentil de 97,5% da população e ausência de lesões glaucomatosas do disco óptico seriam classificados como portadores de ângulo fechado primário suspeito. Os
indivíduos que além do ângulo estreito, apresentassem uma ou mais características clíni­cas descritas a seguir seriam classificados como portadores de ângulo fechado primário. Esses sinais são: 1) presença ao exame gonioscópico de fechamento angular definitivo caracterizado por sinequias anteriores periféricas, ou intermitentes como o aumento localizado da pigmen­tação (im print) do trabeculado; 2) aumento da PIO acima do percentil de 97,5% da população estudada; 3) história clínica compatível com elevação abrupta da PIO (glaucoma agudo) asso­ciada ou não a sinais de isquemia secundária do segmento anterior como atrofia setorial da íris, glaucom fleken entre outras. E, finalmente, os indivíduos que associado ao ângulo fechado primário desenvolvessem lesão glaucomatosa do disco óptico e/ou correspondente perda de campo visual seriam então classificados como portadores de g laucom a prim ário de ângulo f e ­
chado (GPAF).O GPAF pode ainda ser classificado segundo o seu mecanismo fisiopatológico em glauco­ma por bloqueio pupilar, por íris em plateau e por creeping angle closure. Finalmente, aspectos clínicos do GPAF permitem uma classificação em agudo, subagudo ou intermitente e crônico.Finalizando, existem ainda os indivíduos suspeitos de glaucoma. Esta hipótese diagnósti­ca é formulada na presença de uma das características a seguir: discos ópticos com sinais não definitivos de lesão glaucomatosa (discos suspeitos), presença de alterações de campo visual do tipo glaucomatoso sem anormalidades correspondentes do disco e/ou camada de fibras nervosas da retina (campo visual suspeito), PIO acima do percentil 97,5% da população estu­dada e indivíduos com ângulos oclusíveis com aspecto normal do disco óptico, campo visual e PIO dentro da distribuição normal, além da ausência de sinequias periféricas anteriores no seio camerular.
PREV A LÊN CIA E IN CID ÊN CIASegundo dados recentes da Organização Mundial de Saúde, o glaucoma é a segunda causa de cegueira no mundo (12,3%), superado apenas pela catarata (47,8%). Apesar das causas de cegueira no mundo variarem de acordo com as condições socioeconômicas e geográficas de cada população, o glaucoma mantém-se como uma das principais causas, independentemente da população avaliada. Uma estimativa prevê a ocorrência de 60,5 milhões de pessoas com glaucomas de ângulos aberto e fechado em 2010 elevando-se para 79,6 milhões em 2020. As mulheres compreenderão 55% dos casos de ângulo aberto e 70% dos glaucomas de ângulo fe­chado. Os indivíduos de origem asiática serão responsáveis por 47% do total de glaucomatosos e 87% daqueles com diagnóstico de ângulo fechado. Os autores estimaram que 4,5 milhões e 3,9 milhões de indivíduos com glaucomas de ângulos aberto e fechado, respectivamente, apresentarão cegueira bilateral em 2010, aumentando este número para 5,9 e 5,3 milhões em 2020. Apesar da estimativa menor de casos de cegueira bilateral no glaucoma de ângulo fe-
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chado, a proporção de indivíduos que evoluem para cegueira (acuidade visual menor do que 20/400 bilateralmente) nesta forma de glaucoma é estimada em 25% (mais do que 2 vezes a
restimada para o GPAA). Em algumas populações, como em Andhra Pradesh, na índia, 41% dos pacientes com o GPAF apresentavam cegueira mono ou binocular e na China, estima-se que o GPAF cause 10 vezes mais cegueira que o GPAA.A prevalência do GPAA varia também de acordo com a região estudada, com estudos reve-
rlando valores de 1 a 3% na Europa, 1 a 4% na Asia e 2 a 3% na Austrália. Nos Estados Unidos a prevalência varia de 1 a 5% dependendo do grupo populacional avaliado. Em norte-americanos de origem europeia foi de 1 a 2%, de ascendência africana de 4% e de 2 a 5% nos latinos prove-
rnientes do México. Taxas maiores são encontradas na África, variando aproximadamente entre 1% na Nigéria a 8% em Gana. Contudo, as maiores prevalências são observadas no Caribe (7 a 9%) em indivíduos de origem, na sua maior parte, do oeste africano.A informação sobre a incidência de GPAA é mais limitada, sendo cerca de 0,1 a 0,2% por ano nas principais populações europeias após 5 anos de acompanhamento e 0,5% por ano em indivíduos negros acompanhados por 9 anos nos Barbados Eye Studies. As diferenças encontra­das nas incidências entre populações caucasianas e negras estão em acordo com as taxas de prevalências correspondentes.A prevalência do GPAF varia de 0,1 a 5,0% sendo menor nas populações de origem euro­peia e africana e maior entre os asiáticos. No Brasil, existe escassez de informações sobre a prevalência de glaucoma. No Brasil, Sakata et ai (2007) examinaram 1.636 indivíduos maiores de 40 anos de idade. A prevalência de glaucoma neste grupo populacional foi de 3,4% (IC 95% 2,5 - 4,3), sendo 2,4% (IC 95% 1,7 - 3,2) de GPAA, e 0,7% (IC 95% 0,3 - 1,1) de GPAF. Cerca de 12% dos indivíduos apresentaram diagnóstico prévio da doença. Cegueira unilateral devido a glaucoma primário foi observada em 7 indivíduos. Negros apresentaram uma taxa maior de ce­gueira unilateral que brancos (5 vs. 2 casos, respectivamente, p = 0,014). Outro estudo avaliou a distribuição dos diferentes tipos de glaucoma em um serviço universitário de referência no atendimento de pacientes com glaucoma. Nesta amostra de pacientes, 20,4 eram compostas por GPAF.
FATORES DE RISCOOs fatores de risco associados ao GPAA incluem fatores demográficos, familiares, sistêmicos, oculares e ambientais.
Fatores demográficosIdade e ancestralidade são fatores de risco estabelecidos para os glaucomas primários de ângulos aberto e fechado. No GPAA a prevalência entre os negros é maior em todas as faixas etárias quando comparadas às populações brancas e asiáticas. Em indivíduos acima dos 70 anos de idade, a prevalência nos negros foi de 16% seguida de 6% entre os brancos e 3% na população asiática. Entretanto, o aumento da prevalência do GPAA por década de aumento da idade foi maior entre os brancos com razão de chances de 2,05 (IC 95% 1,91 - 2,18), 1,61 (IC 95% 1,53 - 1,70) entre os negros e de 1,57 (IC 95% 1,46 - 1,68) nos asiáticos. Em relação ao
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gênero, não existe concordância na maior frequência entre homens ou mulheres. Uma revisão sistemática da literatura apontou para uma maior prevalência do sexo masculino (RC = 1,37 (IC 95% 1,22 - 1,53). Além disso, existe uma tendência maior de incidência do sexo masculino ao desenvolvimento do GPAA em estudos populacionais longitudinais com esta abordagem, sugerindo que indivíduos do sexo masculino apresentam maior risco para o GPAA do que as mulheres, no mínimo para algumas populações. Os indivíduos negros apresentam maior pre­valência de GPAA em todas as faixas etárias além do desenvolvimento mais precoce da doen­ça. O glaucoma é a principal causa de cegueira neste grupo populacional (32%). Em relação aos asiáticos, a prevalência de GPAA é semelhante à apresentada entre os europeus, contudo, entre os japoneses observam-se valores menores da PIO. Apesar disso, o GPAF é a forma mais frequente nas populações asiáticas.A frequência de GPAF é maior entre os esquimós, asiáticos do leste e do sudeste variando entre 3 a 5% em indivíduos acima de 40 anos de idade. Entre os europeus e africanos a pre­valência varia entre 0,1 e 0,9%. No Brasil, a prevalência foi de 0,7% na Região Sul (composta principalmente por indivíduos de descendência europeia) e de 4,2% ao norte (entre indígenas do Alto do Rio Negro). O aumento da idade eleva a chance da ocorrência do GPAF. A incidência deste tipo de glaucoma aumenta a partir dos 50 anos de idade atingindo o ápice na sétima dé­cada de vida. Na presença de glaucoma de ângulo fechado em indivíduos mais jovens, deve-se avaliar a possibilidade do componente de bloqueio aposicional (íris em plateau) no mecanismo de desenvolvimento do fechamento angular. As mulheres, em todas as raças, apresentam mais frequentemente GPAF e ângulos oclusíveis em relação aos homens. Esta proporção varia de 2 a 5 vezes, dependendo da população avaliada.
Fatores familiaresO
antecedente familiar positivo inclui-se como um dos fatores de risco para desenvolvimento do GPAA em diversas populações estudadas. Dois estudos populacionais longitudinais ava­liaram os fatores de risco para GPAA, um deles na Austrália e outro em Barbados, no Caribe. O primeiro (estudo na população australiana) avaliou 3.271 indivíduos (85% de participação) com 5 anos de seguimento. A história familiar (HF) de glaucoma apresentou um risco relativo para o desenvolvimento de GPAA de 2,1 (IC 95% 1,03 - 4,2). O segundo estudo avaliou 3.222 indivíduos (81 a 85% participação) seguidos por 9 anos. Entre os fatores de risco associados ao desenvolvimento do GPAA, HF de glaucoma foi um dos principais fatores com risco relativo de 2,4 (IC 95% 1,3 - 4,6). Além disso, estudos têm indicado que características clínicas asso­ciadas ao glaucoma (como PIO e aspectos morfológicos do disco óptico e da camada de fibras nervosas da retina) também apresentam componente genético na sua determinação. A herda- bilidade estimada para a PIO foi de 0,35 (IC 95% 0,27 - 0,43), 0,48 (IC 95% 0,35 - 0,60) para a espessura da camada de fibras nervosas da retina e 0,39 (IC 95% 0,20 - 0,58) para a rima neural do disco óptico. Além disso, estudo transversal realizado na Tansmânia sugeriu que o grupo de pacientes com GPAA e HF de glaucoma está associado à evolução mais grave de glaucoma do que o grupo de indivíduos com glaucoma esporádico.Apesar da contribuição de fatores genéticos no desenvolvimento do GPAA, poucos genes relacionados com ele foram identificados até o momento. Indivíduos que manifestam a doen­ça mais precocemente podem apresentar um padrão de herança autossômico dominante com
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mutações no gene MYOC. Entretanto, o GPAA desenvolve-se, mais comumente, em faixas etá­rias mais elevadas e apresenta padrão complexo de transmissão genética. Mutações no gene MYOC representam apenas de 3 a 5% dos casos de GPAA. Outros genes como OPTN, OPAl estão associados a alguns casos de glaucoma de pressão normal, dependendo da população avaliada. Outras diferentes regiões do genoma e alguns genes modificadores já identificados têm sido associados ao GPAA. Desde que a etiologia do GPAA esteja associada a uma combina­ção de fatores genéticos e ambientais, o estudo da interação entre os genes já identificados (e de novos genes ainda não revelados associados ao GPAA) com o meio ambiente nos auxiliará na compreensão do real papel das bases genéticas do GPAA.Não existem genes associados ao GPAF, entretanto, estudos apontam um risco aumentado de 3,5 e 6 vezes de GPAF entre parentes de primeiro grau de indivíduos com esta forma de glaucoma. Admite-se o padrão poligênico multifatorial como o mais aceito para este tipo de glaucoma.
Fatores sistêmicosDesde o século XIX, postula-se que fatores vasculares possam estar envolvidos na fisiopatolo- gia do glaucoma. A teoria vascular sugere que distúrbios do fluxo sanguíneo no disco óptico devido a fatores vasculares locais ou sistêmicos, desencadeariam o processo de apoptose das células ganglionares. Estudos sugerem que alterações vasculares como vasoespasmo, enxa­queca, anormalidade no fluxo sanguíneo ocular e distúrbios na autorregulação da circulação sanguínea sistêmica e/ou ocular estão associados a maior suscetibilidade para o desenvolvi­mento do GPAA. O Baltimore Eye Survey demonstrou o aumento de risco de desenvolvimento do glaucoma em até 6 vezes no grupo de indivíduos com pressões de perfusão diastólica menores do que 30 mmHg. Corroborando com este achado, Leske etal. em 2007 constataram que baixa pressão média de perfusão (menor do que 40 mmHg) apresentou um risco relativo de 2,6 (IC 95% 1 ,4 - 4,6) para a incidência de GPAA na população de Barbados, seguida por um período de 9 anos. Em relação ao diabetes, os estudos são conflitantes na associação desta doença com o GPAA.
Fatores ocularesA PIO é o principal fator de risco associado ao GPAA. O risco relativo aumenta de 5,7 até 15,3 para níveis de PIO superiores a 24 e 30 mmHg, respectivamente. Esta relação é mais bem ava­liada por meio de estudos populacionais com abordagem na incidência da doença. Os estudos envolvendo a população de Barbados constataram que o risco relativo para GPAA para indiví­duos com PIO acima de 21 mmHg foi de 5,2 (IC 95% 3,5 -7,6) e para o grupo de pacientes com PIO acima de 25 mmHg foi de 5,9 (IC 95% 3,6 - 9,4). Entretanto, dos 125 novos casos diag­nosticados, 54% apresentaram PIO menores do que 21 mmHg. Indivíduos com PIO elevadas e sem sinais de glaucoma são denominados hipertensos oculares (HO). Na população europeia a prevalência de HO varia de 5 a 10% e é menor entre os japoneses e americanos com ascen­dência mexicana. A variação da PIO relacionada com o dano glaucomatoso do disco óptico dá suporte à etiologia multifatorial do glaucoma que justificaria diferenças na suscetibilidades ao dano glaucomatoso para diferentes níveis de PIO. Recentemente, estudos multicêntricos têm
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avaliado o papel da PIO no diagnóstico e controle do glaucoma. O estudo OHTS (Ocular Hyper­
tension Treatment Study) teve como objetivo estimar o risco de dano glaucomatoso relacionado à PIO em indivíduos com HO e avaliar o benefício do tratamento profilático precoce. Durante o estudo a redução média da PIO foi 22,5% ± 9,9% no grupo tratado e 4,0% ± 11,6% no grupo controle. Com 60 meses, a probabilidade cumulativa de desenvolver GPAA foi de 4,4% no gru­po tratado, enquanto no grupo controle foi de 9,5%.Estudos do tipo transversal têm observado a associação da miopia com o GPAA. Além disso, discos ópticos com escavações maiores apresentam, em alguns estudos, como fator de risco ocular para o GPAA, contudo deve-se considerar que escavações maiores podem ser identificadas como um sinal precoce de dano glaucomatoso.Finalmente, a espessura central da córnea foi considerada como fator preditivo para o de­senvolvimento do GPAA em indivíduos com HO. Mais recentemente, o estudo longitudinal de Barbados observou que o decréscimo de 40 microns na espessura central da córnea aumenta o risco para glaucoma em 1,41 (IC 95% 1,01 - 1,96). Não está ainda esclarecido se olhos com córneas mais finas apresentam maior risco para o GPAA devido à influência na própria medida da PIO ou se estes mesmos olhos apresentam discos ópticos mais vulneráveis à lesão glauco- matosa.GPAF está associado a determinadas características anatômicas oculares, incluindo com­primento axial reduzido, córnea mais plana, câmara anterior rasa, cristalino mais espesso e ângulo oclusível. Além disso, apesar da possibilidade do desenvolvimento do GPAF em todos os tipos de ametropias, este ocorre mais frequentemente em indivíduos hipermetropes. Com­parando-se os olhos contralaterais de pacientes com crise de glaucoma agudo por bloqueio pupilar junto a olhos de indivíduos pareados por sexo e idade selecionados aleatoriamente da mesma região geográfica, os primeiros apresentaram comprimento axial 5% menor, suas lentes eram 7% mais espessas, a câmara anterior destes olhos era 24% mais rasa e o volume final da câmara anterior era 37% menor. Apesar disso, nenhum destes parâmetros apresentou poder preditivo adequado para separar defmitivamente os olhos com câmara anterior rasa que desenvolverão GPAF daqueles que não evoluirão para esta forma de glaucoma. Outro exemplo nesta direção é que, apesar do exame de gonioscopia fornecer uma indicação dos olhos com maior risco de desenvolver ângulo fechado primário, este também não o faz de forma defini­tiva.
Outros fatoresIndivíduos com GPAA apresentam maior risco (46 a 92%) de aumento da PIO em resposta ao uso da cortisona do que indivíduos sem glaucoma (5 a 6%). Este risco é dose-dependente. Além disso, parentes de primeiro grau de indivíduos com glaucoma, míopes e diabéticos também têm risco aumentado para elevação da PIO com o uso de cortisona do que a população normal. No GPAF existem fatores ambientais que contribuem para a instalação da doença, alguns deles bem definidos e denominados

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