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1 UNIVERSIDADE FDERAL DO MARANHÃO DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA QUÍMICA CADERNO DIDÁTICO QUÍMICA ANALÍTICA QUALITATIVA Prof. Meubles Borges Júnior São Luís-MA/2020 1 APRESENTAÇÃO Mesmo de modo aleatório e sem conhecimento das causas dos fenômenos as transformações químicas sempre estiveram presentes desde os mais longínquos das atividades humanas. Segundo Cutius (1982) a Química Analítica pode ser considerada a mãe da química e destaca ainda que: No início da História escrita do Homem já se conhecia o tingimento das fibras, o curtimento de couro e a cerâmica. A Química como ciência só apareceu nos primeiros séculos da era cristã com a Alquimia e o projeto de se obter ouro através da transformação de substâncias fundamentais. A história da Química Analítica tem mais de 4 mil anos. A balança é tão antiga que sua invenção era atribuída aos Deuses. Por uma necessidade comercial a pureza do ouro e da prata, já na antiguidade, era controlada, pesando-se o metal antes e depois de tratamento térmico. (CURTIUS, 1982, p. 134). Observa-se nesse maravilhoso relato de fatos do passado que a Química Analítica sempre esteve presente na vida do ser humano e não poderia ser diferente porque na evolução do homem no planeta Terra, ele naturalmente precisou de utilizar de substâncias químicas (matéria) em suas várias atividades (alimentação, moradia, saúde, entre outras). Na luta pela sobrevivência, o ser humanao deu início a vários processos na conservação dos alimentos como a defumação e a salga. Além da fabricação de utensílios de vidro e cerâmica. Alvim e Andrade (2006, p.168), também destacam que existem relatos, já no primeiro século da era cristã sobre registros de testes químicos. Segundo os autores Os conhecimentos ensinados na parte experimental desta disciplina têm sua origem na Antiguidade. Há cerca de 2000 anos atrás, Caius Plinius Secundus (23-79 d.C.) fez o primeiro registro de um teste químico de análise qualitativa1. Esse teste, que visava detectar a contaminação de sulfato de ferro (II) em acetato de cobre (II), consistia em tratar uma tira de papiro embebida em extrato de noz de galha (ácido tânico) com a solução sob exame. Se a tira adquirisse a cor preta, indicava presença do sulfato de ferro (II). (ALVIM; ALMEIDA, 2006, p.168). Entretanto, o desenvolvimento da Química Analítica nos últimos 200 anos foi marcante para o progresso tecnológico que a humanidade vive agora no século XXI. E já estamos entrando em novas fronteiras e paradigmas com a teoria quântica, apesar de ainda não compreendermos bem sua teoria e as consequências dessa descoberta. Apesar de todo o avanço da teoria quântica, a humanidade de modo geral ainda vive no paradigma cartesiano e ainda se faz necessário compreendermos as bases conceituais da “velha química” que nos rodeia, e não menos importante, considerando estado atual do desenvolvimento humano global. Nesse sentido, “a disciplina Química Analítica Qualitativa dos cursos de Química, tem de modo geral, como conteúdo programático a teoria do equilíbrio químico em solução aquosa e a análise 2 química qualitativa inorgânica em amostras sólidas ou líquidas” (ALVIM; ANDRADE, 2006, p.168). Não há dúvidas que sem a compreensão deste importante tópico, “Equilíbrio Químico”, o estudante de Química Analítica não poderá avançar na compreensão do ocorrido nas reações químicas e no desenvolvimento e aperfeiçoamento de análises químicas. Portanto, pretende-se nesta disciplinar apresentar os fundamentos básicos da Química Analítica, bem como descrever as etapas básicas de uma análise química, além de sua importância e objetivos. Espera-se que o conteúdo possa despertar seu desejo e sua vontade no prosseguimento dos estudos neste ramo da Química. Saudações ... Professor Meubles Borges Júnior 3 I – FUNDAMENTOS DA QUÍMICA ANALÍTICA 1. INTRODUÇÃO Os seres humanos, desde o primórdio dos tempos, observam as transformações das substâncias (a carne cozinhando, a madeira queimando, o gelo derretendo) e especulam sobre as causas dessas transformações. Os primeiros registros de processos químicos CONHECIDOS foram feitos pelos artesãos da Mesopotâmia, do Egito e da China. A princípio, trabalhavam com metais como o ouro e o cobre, às vezes encontrados em estado puro na natureza; mas rapidamente aprenderam a esquentar os minérios com madeira ou carvão de lenha para obtenção dos metais. A maioria dos artesãos trabalhava nos mosteiros e palácios, fazendo artigos de luxo. Nos mosteiros, especialmente, os monges tinham tempo para especular sobre a origem das mudanças que viam. Suas teorias se baseavam freqüentemente na magia, mas também elaboraram idéias astronômicas, matemáticas e cosmológicas, que utilizavam em suas tentativas de explicar algumas mudanças que hoje são consideradas químicas. Na Grécia, por volta de 600 anos a.C., os filósofos começaram a fazer especulações lógicas sobre o mundo físico, em vez de mitos para explicar os fenômenos. Tales (de Mileto) acreditava que toda a matéria procedia da água, que podia solidificar-se para formar a terra ou evaporar-se para formar o ar. Seus sucessores ampliaram essa teoria na idéia de que o mundo era composto por quatro elementos: terra, água, ar e fogo. Aristóteles acreditava que a cada um desses elementos correspondiam quatro qualidades: calor, frio, umidade e secura; e que a combinação de elementos e qualidades em diferentes proporções resultava nos componentes do planeta. Portanto, mudando-se as proporções, podia-se transformar um elemento em outro, bem como as substâncias materiais formadas por eles, por exemplo, o chumbo em ouro. Tais idéias resultaram na alquimia que dominou boa parte da Idade Média. Entretanto, essas idéias não estão em desacordo com a filosofia de sua época que valorizava as qualidades transcendentes à matéria (qualidades energéticas dos seres humanos). Além disso, a radioatividade muito já provou que, os Alquimistas não estavam errados na possibilidade de um elemento químico se transformar em outro. Fenômeno esse denominado de decaimento radioativo natural, pois ocorre de forma espontânea pela liberação de partículas alfa (α) e/ou gama (γ), e radiações beta (β), liberadas pelos núcleos instáveis, transformando-se em outro elemento químico. A Alquimia é um estudo de uma Química Quântica, muito superior ao estudo puro e simples da matéria, busca sua essência energética e, portanto, não pode ser utilizada para as interpretações da química analítica, que busca essencialmente o estudo da matéria. 4 No século XVIII, Lavoisier demonstrou, com uma série de experiências que na composição do ar existem aproximadamente 20% de oxigênio e que a combustão se devia à combinação deste elemento com uma substância combustível. Definiu os elementos como substâncias que não podem ser decompostas por meios químicos, abrindo o caminho para a lei de conservação da massa, fazendo surgir à química moderna. Outros fatores importante para o desenvolvimento da química analítica foram: i) a teoria atômica do cientista inglês John Dalton, que atribuiu arbitrariamente ao hidrogênio a massa atômica 1 calculando a massa atômica relativa dos elementos até então conhecidos; ii) a descoberta pelo físico italiano Amedeo Avogadro que a uma temperatura e pressão dadas, o número de partículas em volumes iguais de gases era o mesmo e introduziu a distinção entre átomos e moléculas; iii) os estudos dos espectros de emissão e absorção dos elementos e compostos culminando no desenvolvimento do campo da espectroscopia e iv) a pesquisa básica sobre os colóides e a fotoquímica. Todos esses estudos foram englobados em um campo conhecidocomo físico-química, ao final do século XIX, chegando-se à descoberta da radioatividade. 2. CONCEITOS DE QUÍMICA ANALÍTICA É o ramo da química que estuda os princípios teóricos e práticos das análises químicas; É o ramo da química que estuda os métodos através dos quais é possível determinar quais os elementos e quanto de cada elemento existe numa substância; É o ramo da química que estuda e determina a composição dos sistemas químicos em termos dos elementos ou compostos que contêm. É o ramo da química que envolve a separação, identificação e determinação das quantidades relativas dos componentes de uma amostra. Lorenzo Romano Amedeo Carlo Avogadro de Quaregna e di Cerreto (1776 - 1856) Começou sua educação universitária aos 13 anos e se formou aos 16 anos, licenciando-se em jurisprudência. Aos 20 anos, completou seu doutorado em direito canônico. Físico e químico de destaque, propôs a teoria molecular, conhecida mundialmente como "Lei de Avogadro". Doutor em direito da igreja, apaixonou- se pelo estudo da matemática e da física, desistindo de sua carreira de advogado. Dedicou ao ensino de física natural no Royal College of Vercelli e posteriormente, assumiu a cadeira de física matemática na Universidade de Torino. Fonte: https://www.biografias.es/fam osos/amedeo-avogadro.html Fonte: https://www.biografias.es/fil es/star/thumb/a/amedeo- avogadro_1oo29.jpg https://www.biografias.es/famosos/amedeo-avogadro.html https://www.biografias.es/famosos/amedeo-avogadro.html https://www.biografias.es/files/star/thumb/a/amedeo-avogadro_1oo29.jpg https://www.biografias.es/files/star/thumb/a/amedeo-avogadro_1oo29.jpg https://www.biografias.es/files/star/thumb/a/amedeo-avogadro_1oo29.jpg 5 É o ramo da química que se dedica ao desenvolvimento e aperfeiçoamento de métodos de identificação, separação e quantificação de um analito na amostra que está sendo analisada. 3. OBJETIVOS DA QUÍMICA ANALÍTICA Desenvolver a teoria dos métodos analíticos; Estudo e desenvolvimento de métodos para a determinação da composição química da matéria Aperfeiçoar os métodos analíticos já existentes; Estudo qualitativo e quantitativo dos materiais ou sistemas úteis ao homem. Produzir conhecimento científico nas áreas da Química e Ciências afins como: bioquímica, Agronomia, Geoquímica, Farmácia, Medicina, Biologia, Engenharia, etc. 4. DIVISÃO CONCEITUAL DA QUÍMICA ANALÍTICA A análise química pode compreender simplesmente a identificação dos componentes da amostra (Análise Qualitativa) ou a determinação da quantidade em que cada um dos constituintes se encontra na amostra (Análise Quantitativa). Uma análise qualitativa deve preceder uma análise quantitativa, pois conhecendo-se todas as espécies químicas presentes em uma determinada amostra, e muitas vezes suas proporções aproximadas, pode-se escolher melhor o método a ser utilizado na análise quantitativa. Quando se dispõe de mais de um método quantitativo para a dosagem da substância em estudo, sabendo-se a composição qualitativa da amostra pode-se evitar escolher um método no qual essa composição não venha a causar interferência no resultado quantitativo. A crescente demanda de métodos de análises mais precisos, mais sensíveis e mais rápidos levou ao desenvolvimento de técnicas sofisticadas com a utilização de instrumentos, dando origem a uma nova linha, chamada Análise Instrumental. John Dalton (1766-1844) Químico, físico e meteorologista inglês, um dos mais destacados cientistas do mundo. Descobriu a anomalia da visão das cores, conhecida como daltonismo. Fundador da teoria atômica revolucionando a química moderna. Filho de tecelão manual estudou na Quaker’s School de Eaglesfield, ganhando reputação local como gênio na matemática. Aos 12 anos, autoridades locais o permitiram substituir seu professor John Fletcher. Aos 15, transferiu-se para a aldeia de Kendal, lecionando em escola fundada por seu primo George Bewley. Ensinou Matemática e Ciência por 12 anos. Após concluir sua formação se estabelecendo definitivamente em Manchester, tornando-se professor de Matemática, Física, e Química do New Collegee de prestígio. Fonte: https://www.ebiografia.com/john _dalton/ Fonte: https://epi-rsc.rsc- cdn.org/globalassets/07-news- events/rsc-news/news- articles/2016/09- september/2287-john-dalton-f2c- 900.jpg?version=3f1b90b3&id= 20535&width=1120&format=jp g&quality=60 [Barras laterais são excelentes para chamar a atenção para pontos importantes do seu https://www.ebiografia.com/john_dalton/ https://www.ebiografia.com/john_dalton/ https://epi-rsc.rsc-cdn.org/globalassets/07-news-events/rsc-news/news-articles/2016/09-september/2287-john-dalton-f2c-900.jpg?version=3f1b90b3&id=20535&width=1120&format=jpg&quality=60 https://epi-rsc.rsc-cdn.org/globalassets/07-news-events/rsc-news/news-articles/2016/09-september/2287-john-dalton-f2c-900.jpg?version=3f1b90b3&id=20535&width=1120&format=jpg&quality=60 https://epi-rsc.rsc-cdn.org/globalassets/07-news-events/rsc-news/news-articles/2016/09-september/2287-john-dalton-f2c-900.jpg?version=3f1b90b3&id=20535&width=1120&format=jpg&quality=60 https://epi-rsc.rsc-cdn.org/globalassets/07-news-events/rsc-news/news-articles/2016/09-september/2287-john-dalton-f2c-900.jpg?version=3f1b90b3&id=20535&width=1120&format=jpg&quality=60 https://epi-rsc.rsc-cdn.org/globalassets/07-news-events/rsc-news/news-articles/2016/09-september/2287-john-dalton-f2c-900.jpg?version=3f1b90b3&id=20535&width=1120&format=jpg&quality=60 https://epi-rsc.rsc-cdn.org/globalassets/07-news-events/rsc-news/news-articles/2016/09-september/2287-john-dalton-f2c-900.jpg?version=3f1b90b3&id=20535&width=1120&format=jpg&quality=60 https://epi-rsc.rsc-cdn.org/globalassets/07-news-events/rsc-news/news-articles/2016/09-september/2287-john-dalton-f2c-900.jpg?version=3f1b90b3&id=20535&width=1120&format=jpg&quality=60 https://epi-rsc.rsc-cdn.org/globalassets/07-news-events/rsc-news/news-articles/2016/09-september/2287-john-dalton-f2c-900.jpg?version=3f1b90b3&id=20535&width=1120&format=jpg&quality=60 6 A análise química quantitativa pode, portanto, fazer uso de métodos clássicos de análise (Ex: gravimetria, volumetria) e métodos instrumentais de análise (Ex: espectrofotometria de absorção atômica, espectrofotometria de emissão óptica com plasma acoplado por indução). Métodos Clássicos No início do desenvolvimento da química, para as análises qualitativas as amostras em estudo eram tratadas com reagentes que em contato com o analito (elemento de interesse numa análise) em estudo produziam compostos identificados pela sua cor, solubilidade, etc. Nos procedimentos de identificação se adiciona reagentes específicos para de mudança de cor, sensação de odor, efervescência/desprendimento de gases; formação/dissolução de precipitados, outro. Já a quantificação do analito podia e ainda pode ser realizada por técnicas simples e relativamente precisas, como titulações (volumetria) e medidas de massa (gravimetria). Como requisitos para quantificação tem-se: conhecer a reação química estequiométrica, conhecer volume e/ou massa da amostra, volume e concentração dos reagentes utilizados. Métodos Instrumentais No início do século 20, os pesquisadores começaram a explorar outros fenômenos diferentes daqueles observados nos métodos analíticos clássicos. Dessa forma, medidas de propriedades físicas dos analitos tais como a condutividade elétrica, absorção ou emissão de luz passaram a ser utilizadas na análise quantitativa de uma grande variedade de analitos inorgânicos, orgânicos e biológicos. Assim sendo, novas técnicas como a cromatografia líquida e gasosa e as técnicas de espectrofotometria de absorção e emissão passaram a ser utilizadas tornando as análises químicas cadavez mais sofisticadas. Esses novos métodos passaram a ser conhecidos como métodos instrumentais de análise. Seu crescimento foi favorecido pelo avanço tecnológico dos dispositivos eletrônicos e dos computadores. Mede propriedade física ou química proporcional à concentração do(s) componente(s). Propriedades utilizadas (dependendo do método): medida de absorbância de luz; medida de emissão de luz; medida de fluorescência; medida de corrente elétrica voltagem, condutividade, etc. A maioria dos equipamentos analíticos modernos possui ou estão conectados a um ou mais dispositivos eletrônicos sofisticados capazes de detectar e registrar dados relativos aos analíticos. Esses dispositivos podem ser amplificadores, circuitos integrados, microprocessadores ou mesmo computadores. De fato existem máquinas que apresentam uma imensa complexidade enquanto outras são mais simples. O cientista deve definir o problema e então decidir o método mais apropriado para solucioná-lo de acordo com suas condições. 7 A Química Analítica Instrumental, devido ao nível de desenvolvimento alcançado e à consequente complexidade adquirida, divide-se de acordo com os métodos de análise utilizados na identificação e quantificação do analito. Os métodos Espectrométricos, por exemplo, utilizam conhecimentos relacionados com a interação entre a luz e a matéria. Entre eles destacam-se a Espectrometria de Absorção Atômica, Espectrometria de Absorção Molecular, Espectrometria de Emissão Atômica, entre outras técnicas. Diversas outras características específicas das espécies químicas são exploradas na Química Analítica. Os métodos eletroanalíticos são capazes de determinar analitos a partir de seus potenciais padrão de redução. Esses métodos envolvem técnicas como a Potenciometria, Coulometria e os diversos tipos de Voltametria. 5. IMPORTÂNCIA E APLICAÇÕES DA QUÍMICA ANALÍTICA NA SOCIEDADE ATUAL Qual é o papel da Química Analítica no mundo moderno? Várias páginas poderiam ser escritas sobre a química analítica e os sistemas produtivos, o meio ambiente, a saúde humana, etc. A química analítica é uma ciência experimental por excelência e a maioria de seus resultados encontra aplicação imediata. Sua atuação é direcionada por “Problemas Analíticos” que são fatos concretos resultantes da necessidade de se conhecer a natureza qualitativa e quantitativa de uma amostra. Alguns estudos analíticos podem não atingir a solução do Problema Analítico, porém, podem auxiliar na formulação da solução (Ex: estudos cinéticos e de equilíbrio). Também, podemos ter resultados analíticos despertando a curiosidade de outros Químicos Analíticos que acrescentam sua criatividade, desenvolvendo novas linhas de pesquisa nesta área (Ex: A espectroscopia no Infravermelho, utilizada pela primeira vez por Karl Norris nos anos 60, com a finalidade analítica específica de quantificar o teor de umidade em grãos de cereais, atualmente, tornou-se uma área definida de pesquisa). Assim sendo a química analítica pode ser encontrada em alguns ramos da atividade produtiva ou de interesse social como na medicina, na avaliação da qualidade do meio ambiente e detecção de fontes poluidoras e da qualidade de alimentos e medicamentos. Consideraremos alguns exemplos práticos: a) A fabricação de um medicamento simples e de uso comum como a aspirina (princípio ativoácido acetilsalicílico). Neste exemplo a Química Analítica se faz presente com as técnicas e métodos, por ela desenvolvidos, para avaliar a qualidade dos insumos utilizados na produção do medicamento, verificando sua pureza e ausência de contaminantes. 8 Na etapa de produção a Química Analítica se faz presente monitorando a evolução das reações de síntese do ácido acetilsalicílico de forma que o processo possa ser executado de maneira rápida e econômica, atestando o rendimento da reação. Uma vez terminado o processo de produção, o ácido é purificado e o grau de pureza obtido é acompanhado por técnicas analíticas. O produto, com sua pureza atestada é enviado à produção dos comprimidos. Neste estágio, todos os demais insumos (enchimento, dispersante, cobertura, etc.) necessitam ter sua pureza identificada. Os insumos são misturados para produzir a matéria prima dos comprimidos. A homogeneidade desta mistura (que garante a composição final do comprimido) necessita ser avaliada por métodos e técnicas analíticas. A seguir, os comprimidos são produzidos. A velocidade de dissolução destes comprimidos, importante para estabelecer a absorção do ingrediente ativo pelo organismo, deve ser verificada utilizando métodos analíticos que observem a velocidade de liberação do princípio biologicamente ativo em condições simuladas, em laboratório. Finalmente, uma amostra representativa do lote de comprimidos produzido é obtida de forma a certificar, através de metodologias analíticas, o teor médio de ácido acetilsalicílico presente nos comprimidos e a ausência de contaminantes, o que torna segura a ingestão do medicamento. b) No monitoramento da qualidade do meio ambiente, a atuação da Química Analítica se faz sentir de forma mais clara. A qualidade do ar, por exemplo, está diretamente relacionada à quantidade presente de uma série de espécies químicas, produzidas pela atividade humana, que excedendo certos valores compromete a qualidade de vida. A quantidade destas espécies necessita ser monitorada continuamente por técnicas e metodologias analíticas desenvolvidas especificamente para o seu controle. O mesmo podemos dizer a respeito da água que bebemos, das águas residuais das indústrias e do solo utilizado para a agricultura. Poderíamos citar muitos outros exemplos (análise de bebida, aplicações à arqueologia, conservação e restauração de obras de arte) que atestam a importância atual da Química Analítica e sua relação com as diversas atividades humanas (Figura 1). É de grande importância observarmos que a maioria das atividades humanas se valem de forma direta ou indireta dos resultados, produtos e metodologias gerados pela atuação dos Químicos Analíticos. Entretanto, isso não significa que já dispomos de todos os recursos analíticos necessários à solução de todos os problemas gerados, mas sim que os desafios que se impõem à área da Química Analítica tornam-se cada vez mais diversificados, alterando-se continuamente na mesma proporção em que o homem aumenta o conhecimento sobre si mesmo, modificando seu meio ambiente e gerando novas tecnologias. 9 Figura 1. Relações entre a química analítica, outras áreas da química e outras ciências. Fonte: Bezerra, Passos e Romão (2009)1 6. ETAPAS DE UMA ANÁLISE QUÍMICA Uma análise química envolve algumas etapas básicas importantes, que o analista químico deve considerar para seus resultados possam ser validados. De modo geral, as principais etapas de uma análise química de rotina envolvem: a) escolha do método analítico; b) amostragem; c) preparo da amostra; d) eliminação de interferências; e) calibração e medidas de concentração; f) cálculo dos resultados; g) avaliação: tratamento e interpretação dos dados, controle de qualidade analítica e apresentação dos resultados. 6.1 Escolha do Método Analítico Primeira etapa de uma análise, a escolha do método analítico será preponderante para a definição das próximas etapas. Na escolha do método analítico, alguns critérios devem ser considerados: precisão, exatidão, sensibilidade, seletividade, limite de detecção, tempo de análise, custo, materiais e equipamentos disponíveis. Todas essas questões associadas estarão presentes no método escolhido. Por ser um processo importante, a escolha requer experiência do químico responsável, e em alguns casos, pode não ser uma tarefa fácil. A exatidão do método é o primeiro 1 Bezerra, D. S.; Passos, E. A.; Romão, L. P. C. Química Analítica Experimental.São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe, CESAD, 2008. 10 requisito a ser considerado, associado é claro aos demais fatores. A exatidão de um método pode ser descrita pelo erro relativo: %𝐸𝑟𝑟𝑜 = |𝑅𝑒𝑠𝑢𝑙𝑡𝑎𝑑𝑜 𝑜𝑏𝑡𝑖𝑑𝑜 − 𝑅𝑒𝑠𝑢𝑙𝑡𝑎𝑑𝑜 𝐸𝑠𝑝𝑒𝑟𝑎𝑑𝑜| 𝑅𝑒𝑠𝑢𝑙𝑡𝑎𝑑𝑜 𝐸𝑠𝑝𝑒𝑟𝑎𝑑𝑜 100 Quando a %Erro ≤ 1 % a exatidão é considerada alta, %Erro ≤ 5 a exatidão é considerada moderada, e quando %Erro > 5 é considerada baixa. Esta indicação não possui uma referência de um estudo de critério, portanto, deve ser observada como uma sugestão. Por exatidão entenda o quanto o valor medido está próximo do real ou esperado. Já precisão diz respeito ao quanto as medidas das repetições de uma mesma amostra, estão próximas umas das outras, sendo, portanto, uma indicação da reprodutibilidade de uma medida ou resultado. Podemos estimar a precisão por meio do cálculo do desvio padrão de uma série de repetições da mesma análise da mesma amostra. = √ ∑(𝑥𝑖 − µ)2 𝑁 Onde: é o desvio padrão quando a média da população é conhecida; µ é a média da população; xi é o resultado das repetições; n é o número de repetições. Entende-se por seletividade a resposta do método (sinal eletrônico, volume e ou massa obtido, resposta analítica, etc.) é função apenas do analíto presente na amostra. Entretanto, quando existe algum interferente presente na amostra o sinal obtido é função do analíto e da interferência. Entende-se por Limite de detecção de um método, a medida estatística acerca da menor quantidade de analito que pode ser determinado com confiança pelo método. Outra consideração importante que deve ser feita, em função do fator econômico e de tempo de execução, é o número de amostras que serão analisadas. 6.2 Obtenção da Amostra Próxima etapa em uma análise quantitativa, para gerar informações representativas, a amostra precisa ter a mesma composição do material do qual ela foi tomada. Quando o material é amplo e heterogêneo, grande esforço é requerido para se obter uma amostra representativa. Considere, por exemplo, vários vagões de trem transportando 200 toneladas de minério de ferro. O comprador e o vendedor do minério precisam concordar com o preço, que deverá ser baseado no teor de ferro do carregamento. O minério propriamente dito é inerentemente heterogêneo, consistindo em muitos torrões que variam em tamanho e igualmente no conteúdo de ferro. 11 A dosagem desse carregamento será realizada em uma amostra que pesa cerca de um grama. Para que a análise seja significativa, essa pequena amostra deve ter uma composição que seja representativa das 200 toneladas (ou aproximadamente 200.000.000 g) do minério contido no carregamento. O isolamento de um grama do material que represente de forma exata a composição média de aproximadamente 200.000.000 g de toda a amostra é uma tarefa difícil, que exige manipulação cuidadosa e sistemática de todo o material do carregamento. A amostragem é o processo de coleta ou recolhimento de uma pequena massa de um material, substância ou produto cuja composição represente exatamente o todo do material que está sendo amostrado para análise, ensaio ou calibração. Os resultados obtidos por análise química de uma amostra são desprovidos de significado ou mesmo inúteis se a recolha da amostra não for convenientemente efetuada. Nem toda amostragem é complexa, existem amostragens com questões menos complexas e, portanto, mais fáceis de serem resolvidos. Não importando que a amostragem seja simples ou complexa, todavia, o analista deve ter a certeza de que a amostra de laboratório é representativa do todo antes de realizar a análise. A amostragem, pode vim a ser a etapa mais difícil e a fonte dos maiores erros. A confiabilidade dos resultados finais da análise nunca será maior que a confiabilidade da etapa de amostragem. Assim sendo, questões relacionadas com a coleta, acondicionamento e conservação das amostras são muito importantes, dado que constituem os motivos mais frequentes para a falta de representatividade da amostra submetida à análise química. Portanto, durante a amostragem devem ser tomadas todas as precauções para assegurar que as amostras não sofram alterações entre a coleta e a análise. Feitas todas essas considerações temos agora uma outra forma de conceituarmos amostragem. A amostragem é o processo pelo qual uma amostra da população é coletada e reduzida em tamanho para uma quantidade de material homogêneo que pode ser convenientemente manuseado no laboratório e cuja composição seja representativa da população. A porção coletada para análise é chamada amostra. A primeira avaliação a ser feita durante a amostragem de um material é a dimensão da amostra e seus constituintes. Amostra Bruta: Conjunto de incrementos coletados do universo total do material que se quer analisar, que deve ser representativo do todo. Amostra de Laboratório: amostra com quantidades menores que a amostra bruta. Amostra para Análise: fração da amostra de laboratório que será pesada para ser analisada, de acordo com o método de análise. 12 6.3 Preparo da Amostra O melhor preparo de amostra é não ter que prepará-la (Ex: Determinação direta de Cd em urina por ETV-ICP OES2) ou procedimentos apenas de diluição e/ou dissolução. Em geral, a maioria das amostras requer etapas de pré-tratamento preliminares. Estas etapas preliminares são necessárias dependendo do estado em que as amostras são coletadas e, em alguns casos, podendo ser realizadas antes e/ou depois de serem entregues ao laboratório analítico. A maioria destas operações envolve métodos predominantemente físicos, como lavagem, secagem, moagem, peneiramento, refrigeração, agitação magnética, ou simples polimento, dependendo do tipo de amostra. 6.3.1 Secagem A secagem visa a eliminação da umidade. De modo geral, o aquecimento é feito à 105 oC em estufa comum ou a 60/70 oC em estufa com circulação de ar (materiais biológicos). Após seca a amostra geralmente é acondicionada sob vácuo, em dessecador (garante a conservação da amostra). Além desse procedimento pode ser utilizado a Liofilização3, congelamento seguido de vácuo com ou sem temperatura. 6.3.2 Preservação da Amostra Independente da natureza da amostra, a estabilidade completa para cada constituinte nunca pode ser obtida. As técnicas de preservação, a seleção adequada dos frascos e a forma de armazenamento, têm por objetivo retardar a ação biológica e a alteração dos compostos químicos; reduzir a volatilidade ou precipitação dos constituintes e os efeitos de adsorção; e/ou preservar organismos, evitando ou minimizando alterações morfológicas, fisiológicas e de densidades populacionais, em todas as etapas da amostragem (coleta, acondicionamento, transporte, armazenamento, até o momento do ensaio). As alterações químicas que podem ocorrer na estrutura dos constituintes acontecem, principalmente, em função das condições físico-químicas da amostra. Assim, metais podem precipitar-se como hidróxidos, ou formar complexos com outros constituintes; os cátions e ânions podem mudar o estado de oxidação; íons podem ser adsorvidos na superfície interna do frasco de coleta; e outros constituintes podem dissolver-se ou volatilizar-se com o tempo. 2 Vaporização eletrotérmica (ETV) acoplada à espectrometria de emissão óptica com plasma indutivamente acoplado (ICP-OES) 3 Liofilização ou criodessecação é um processo de desidratação em que o produto é congelado sob vácuo e o gelo formado, sublimado. 13 a) Adição Química O método de preservação mais conveniente é o químico, através do qual o reagente é adicionado prévia (ensaios microbiológicos) ou imediatamente após a tomada da amostra, promovendo a estabilização dos constituintes de interesse por um período maior. Contudo, para cadaensaio existe uma recomendação específica. Ex: Antioxidantes (amostras líquidas); Anticoagulantes (sangue e amostras clínicas). b) Congelamento É uma técnica aceitável para alguns ensaios e serve para aumentar o intervalo entre a coleta e o ensaio da amostra in natura, sem comprometer esta última. É inadequada para as amostras cujas frações sólidas (filtráveis e não filtráveis) alteram-se com o congelamento e posterior retorno à temperatura ambiente, e para a maioria das determinações biológicas e microbiológicas. c) Refrigeração Constitui uma técnica comum em trabalhos de campo e pode ser utilizada para preservação de amostras mesmo após a adição química, sendo empregada frequentemente na preservação de amostras para ensaios microbiológicos, físico-químicos orgânicos e inorgânicos, biológicos e toxicológicos. 6.3.3 Moagem No caso de amostras sólidas, um dos principais objetivos durante a preparação de uma amostra é a redução do tamanho da partícula, de forma a obter uma granulometria (tamanho de partícula) uniforme. A redução do tamanho da partícula é realizada geralmente por trituração. Vários métodos para moer amostras estão disponíveis (Figura 2). A 14 B C Figura 2: Exemplos de equipamentos utilizados na moagem de amostras sólidas. 2A: Moinho de facas (Fonte: https://www.solabcientifica.com.br/imagens/informacoes/moinho-facas-tipo-willey-02.jpg); 2B: Almofariz e pistilo de porcelana (Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/9/99/Black_peppercorns_with_mortar_and_pestle.jpg); 2C: Almofariz e pistilo de ágata (Fonte: https://http2.mlstatic.com/almofariz-gral-de-agata-cap-50ml- D_NQ_NP_675053-MLB31846522050_082019-F.jpg). 6.3.4 Homogeneização Etapa importante na análise da maioria dos materiais, visa obter uma amostra representativa. Entretanto, o grau de homogeneidade requerido depende predominantemente do tamanho da subamostra. 6.4 Preparo da Amostra para Determinação Analítica De posse da amostra de laboratório, a amostra poderá sofrer Dissolução ou Decomposição. A amostra sólida, líquida ou gasosa pode ser dissolvida em um líquido adequado, envolvendo ou não reação química, com aquecimento, sem aquecimento ou sob resfriamento. A dissolução pode ser realizada: 1) diretamente em água ou solução aquosa sem mudança química; 2) em ácido, ou mistura de ácidos, com mudança química; 3) após fusão da amostra com fundente apropriado. A decomposição, digestão ou abertura da amostra é o processo de conversão dos componentes de uma matriz em uma forma mais simples. 6.4.1 Dissolução ou Solubilização Dissolução é a transformação de uma amostra sólida em uma solução, geralmente aquosa, envolvendo ou não uma reação química. A dissolução, em água, de uma amostra de cloreto de sódio “não envolve” uma reação química propriamente, pois a água tem apenas o papel de solvatar os íons que constituem a amostra salina: 𝑁𝑎𝐶𝑙(𝑠) + 𝐻2𝑂 ⇌ 𝑁𝑎(𝑎𝑞) + + 𝐶𝑙(𝑎𝑞) − No caso de uma amostra de calcário (CaCO3(s)) a amostra deve ser dissolvida em solução ácida havendo uma reação química: 𝐶𝑎𝐶𝑂3(𝑠) + 𝐻 + ⇌ 𝐶𝑎(𝑎𝑞) 2+ + 𝐶𝑂2(𝑔) + 𝐻2𝑂(𝑙) https://www.solabcientifica.com.br/imagens/informacoes/moinho-facas-tipo-willey-02.jpg https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/9/99/Black_peppercorns_with_mortar_and_pestle.jpg https://http2.mlstatic.com/almofariz-gral-de-agata-cap-50ml-D_NQ_NP_675053-MLB31846522050_082019-F.jpg https://http2.mlstatic.com/almofariz-gral-de-agata-cap-50ml-D_NQ_NP_675053-MLB31846522050_082019-F.jpg 15 É normal que a dissolução da amostra provoque alterações nas amostras, podendo ser físicas ou físico-químicas. Entretanto, um método de preparo não pode decompor ou eliminar a espécie de interesse, o analíto. Após a dissolução da amostra com solventes ou reagentes, que podem ser ácidos ou bases, a solução obtida geralmente é diluída em água ou em um meio adequado para que a concentração do analito fique dentro da faixa de trabalho ou, ainda, para minimizar efeitos de matriz. Assim, a diluição da amostra não corresponde à etapa de dissolução. Por outro lado, algumas amostras necessitam de simples diluição como forma de preparo. São exemplos desses casos, dependendo da análise e da técnica a ser utilizada: amostras de água, reagentes líquidos e algumas suspensões (bebidas e sangue). A dissolução das amostras se caracteriza por ser feita em temperatura ambiente, diretamente em béqueres comuns ou, com o auxílio de aquecimento, o qual tende a tornar mais rápido o processo de dissolução. 6.4.2 Decomposição a) Via Úmida A decomposição “Via Úmida” pode ocorrer em sistemas abertos e fechados. Em sistemas fechados pode ocorrer com aquecimento convencional ou com aquecimento por micro-ondas. Os ácidos mais comumente empregados são (KINGSTON & JASSIE, 1988, KRUG et al., 2000): Ácido Nítrico (HNO3) Ponto de ebulição – 122 °C – agente oxidante mais utilizado na digestão de amostras orgânicas, libera os elementos na forma de nitratos solúveis e é normalmente comercializado com pureza de 65 a 69% (> 69 %, HNO3 “fumegante”). Em concentrações inferiores a 2,0 molL -1 apresenta-se como pobre oxidante. No entanto, quando combinado com ácidos complexantes, principalmente HCl, com H2O2, ou pelo aumento da pressão e da temperatura, ocorre um grande aumento do poder oxidante. Bastante empregado na dissolução de metais, ligas e materiais biológicos. Não dissolve Au e Pt, e alguns metais são passivados, sendo, no entanto, facilmente dissolvidos em HNO3 diluído e quando combinado com outros ácidos. É compatível com as técnicas por ICP. Ácido Clorídrico (HCl) Ponto de ebulição, 110 ºC, comercializado com pureza de 36 a 38% (11,6 a 12,4 molL-1). Apesar de ser um ácido forte, não possui propriedades oxidantes e reage com a maioria dos cátions 16 metálicos de transição, formando complexos bastante fortes com Au, Tl e Hg e mais fracos com Fe, Ga, In e Sn. Os cloretos metálicos são solúveis em água, exceto Hg2Cl2 e AgCl. É empregado na dissolução de metais e ligas, sais de carbonatos, fosfatos, alguns óxidos e alguns sulfatos. Quando em misturas com HNO3 na proporção de 3:1(água régia), empregado na dissolução de materiais geológicos e amostras ambientais. Esta mistura, também é bastante empregada para dissolução de ligas metálicas e silicatos, sendo bastante conhecida devido a sua habilidade em dissolver Au, Pt e Pd.. Não é normalmente empregado para dissolução de matéria orgânica. Quando em concentrações baixas de HCl, adequado para uso com ICP-OES, mas inadequado para ICP-MS (Cl). Ácido Sulfúrico (H2SO4) Ponto de ebulição 338 ºC, comercializado com pureza de 98%, apresenta o ponto de ebulição mais alto entre os ácidos minerais concentrados mais comuns. Útil para o desprendimento de produtos voláteis, apresenta boas propriedades desidratantes (reduz-se para SO2, S0 e H2S) e oxidantes para ligas, metais, óxidos, hidróxidos e sulfatos insolúveis, e é frequentemente empregado combinado com HNO3, elevando o ponto de ebulição da mistura, além de agilizar o processo de oxidação, agindo como oxidante inicial das misturas ácidas. Também usado para remoção de HF e/ou solubilização dos fluorcomplexos Metais em estado de oxidação mais elevado, como Cr3+, Al3+ e terras raras, podem formar sulfatos duplos com sulfato de potássio, de difícil solubilização. Por outro lado, os sulfatos de metais apresentam baixa volatilidade, o que impede perdas por volatilização Cuidado: H2SO4 não deve nunca ser empregado em frascos de PTFE (ponto de fusão desses frascos = 327 ºC, se deformando a partir de 260 ºC), além de apresentar problemas de transporte em ICP durante a nebulização devido à alta viscosidade. Ácido Perclórico (HClO4) Ponto de ebulição 203 ºC, comercializado com pureza de 60 a 72% (nuca se deve utilizar em concentrações superiores). A altas temperaturas,é um forte agente oxidante para matéria orgânica, apresenta baixo poder complexante. Quando utilizado isoladamente, torna-se perigoso devido ao risco iminente de explosão, pela formação de percloratos instáveis. Cuidado: quando se trabalha com esse tipo de ácido, as amostras contendo hidroxilas são normalmente pré-tratadas com HNO3 antes da adição de HClO4. 17 Ácido Fluorídrico – HF Ponto de ebulição 112 oC, ácido fraco, não oxidante, comercializado com pureza de 38 a 48%, é empregado para a dissolução de silicatos, pois o F- é um poderoso ânion complexante, reage com os elementos que forma óxidos refratários difíceis de serem dissolvidos. Necessidade da adição de ácido bórico para mascarar o HF e dissolver os fluoretos precipitados. Há perdas de Si como SiF6 após aquecimento e requer a complexação do F livre com H3BO3. Também não se deve usar vidraria (borossilicatos, atacados pelo HF) e tomar bastante cuidado com o contato com a pele (em caso de queimadura, como primeiro socorro deve-se usar gel de gluconato de cálcio). Dentre os métodos a altas temperaturas empregados em via úmida destacam-se o aquecimento por convecção (blocos digestores, chama ou fornos convencionais) e por micro-ondas, normalmente empregando ácidos minerais oxidantes e peróxido de hidrogênio. Métodos em via úmida a baixas temperaturas também são empregados, como método de Fenton (formação de radical a partir da reação entre Fe2+ e H2O2), métodos enzimáticos, decomposição com surfactantes e irradiação por ultravioleta. b) Decomposição Via Seca A decomposição por via seca é provavelmente o mais simples de todos os tipos de decomposição. Pode ser por fusão ou combustão. Combustão Envolve o aquecimento da amostra em um forno tipo mufla na presença de ar a 400-800 oC, permitindo a destruição da matéria orgânica. Após a decomposição, o resíduo é dissolvido em ácido e transferido para um frasco volumétrico antes da análise. Esta técnica é interessante em função da possibilidade de ser empregado um grande volume de amostra, para posteriormente ser dissolvido em pequeno volume de ácido antes da determinação, o que diminui a diluição e permite determinação de elementos presentes em baixas concentrações. Outras vantagens são a não necessidade de emprego de reagentes e o baixo tempo de atenção exigido do operador. No entanto, o método pode também levar a perdas de elementos voláteis, como Hg, B, Pb, Zn, Cd, Ca, In, Te, As, Sb, Fe, Cr e Cu. Apesar de haver a possibilidade de adição de compostos que visem retardar as perdas desses elementos, existem outros inconvenientes para essa técnica, que por isso não vem sendo utilizada com muita frequência: - Necessidade de muito tempo para a queima de alguns materiais - Alto gasto de energia - Dificuldade na dissolução dos materiais após a queima 18 Fusão Reação heterogênea, realizada em altas temperaturas, entre um fundente e o material da amostra. Como resultado deste procedimento, um mineral original ou fases refratárias são convertidas em formas sólidas diferentes que são facilmente dissolvidas em ácidos, bases ou em água. Algumas substâncias, tais como silicatos ou óxidos, não são normalmente destruídas pela ação de um ácido. Nessa situação, técnica alternativa é exigida. A fusão envolve a adição de um excesso de reagente (variando de 1:2 a 1:50) sobre a amostra finamente moída, colocada em um cadinho de platina ou grafite (em alguns casos de níquel ou zircônio), seguindo-se por aquecimento em forno mufla (300 – 1200 oC). Após aquecimento por um dado período de tempo (de alguns minutos a várias horas), um mineral original ou fases refratárias são convertidas em formas sólidas diferentes que são facilmente dissolvidas em ácidos, bases ou em água. Os reagentes normalmente empregados incluem carbonato de sódio (800 oC, dissolvido com HCl), meta ou tetraborato de Li (aquecimento a 900-1000 oC, dissolvido com HF), e pirossulfato de K (aquecimento a 900 oC, dissolvido em H2SO4). A adição do excesso de reagentes leva a um alto risco de contaminação. Além disso, as altas temperaturas empregadas aumentam o perigo de perdas por volatilização e os altos teores salinos da solução final podem apresentar problemas na nebulização das amostras durante as análises. Cuidados devem ser tomados quando se utilizam técnicas tais como espectrometria ótica de emissão com plasma acoplado (ICP-OES). Dependendo do material do cadinho, podem ocorrer interferências espectrais (cadinho de Ni – As, Cr, La, Pb e Zr; cadinho de Zr – As, Ba, Ca, Cr, La, Pb e V; fusão com LiBO2 em cadinho de Pt – Cr). Essas desvantagens restringem o emprego da fusão para a determinação de elementos em faixas extremamente baixas, no entanto para a determinação de maiores, menores e mesmo alguns elementos traço em alguns tipos de matrizes, tais como algumas ligas metálicas, minérios, cerâmica, silicatos e cimentos, resultados satisfatórios podem ser obtidos, pois os eletrólitos inorgânicos fundidos são solventes muito poderosos, que, em altas temperaturas, agem como um ácido ou base de Lewis (KRUG et al., 2000). 6.5 Eliminação de Interferências Esta etapa consiste em eliminar substâncias presentes na amostra que possam interferir na medida. O interferente é uma espécie que causa um erro na análise pelo aumento ou atenuação (diminuição) da quantidade que está sendo medida. 6.6 Calibração e Medida da Concentração A calibração do método consiste em obter quantidades conhecidas do analito, em termos de ou concentração e submeter esse material ao método que será utilizado. Após a calibração do método 19 passa-se para a determinação, propriamente dita, da concentração do analito, cujo procedimento dependerá do método adotado. No caso de métodos volumétricos se obtém o volume gasto na titulação que se relaciona com a concentração do analito. Já nos métodos gravimétrico se obtém uma massa que se relaciona com a concentração do analito. Quando se utiliza equipamentos eletrônicos se obtêm-se um sinal eletrônico que se relaciona com a concentração do analito. 6.7 Cálculo dos Resultados O cálculo da concentração do analito é realizado a partir dos dados de medição da amostra, das características do método e/ou do instrumento de medida e da estequiometria das reações químicas envolvidas. 6.8 Avaliação Após o cálculo da concentração é necessário a interpretação dos resultados obtidos a partir da medição e calibração incluindo o controle de qualidade analítica por um procedimento adequado. O resultado obtido é confiável? O resultado final não é apenas um valor e sim uma faixa de valores onde estão incluídas as incertezas inerentes a análise (BEZERRA; PASSOS; ROMÃO, 2019, p. 13). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVIM, Terezinha Ribeiro; ANDRADE, João Carlos de. A importância da Química Analítica Qualitativa nos cursos de Química das instituições de ensino superior brasileiras. Química Nova, v. 29; n. 1, p. 168-172. 2006. BACCAN, N.; ANDRADE, J. C.; GODINHO, O. E. S.; BARONE, J. C. Química Analítica Quantitativa Elementar. Ed. Unicamp, 3 ed. Campinas, 2001. HARRIS, D. Analise Química Quantitativa. Ed. LTC, 5 ed. Rio de Janeiro, 2001. KINGSTON, H.M., JASSIE, L.B., editors. Introduction to Microwave Sample Preparation – Theory and Practice. ACS Professional Reference Book. Washington, 1988. 263p. SKOOG, D. A.; WEST, D. M.; HOLLER, F. J.; CROUCH, S. R. Fundamentos de Química Analítica. Tradução da 8 ed. Americana. Ed. Thomson: São Paulo, 2006. 999p.
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