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Linguagem Visual Aula 1 Profa. Sionelly Leite da Silva Lucena Conversa inicial Olá! Seja bem-vindo(a) à primeira aula da disciplina Linguagem Visual! Você já deve ter ouvido falar que “uma imagem vale mais do que mil palavras”, certo? Bem, então, prepare-se para desconstruir esse e outros conceitos sobre a fotografia que a definem como algo “naturalmente legível”, ou uma “linguagem universal”. Para entender o poder da imagem, neste tema vamos trabalhar a desconstrução do olhar e depois reconstruí-lo com novos significados, tudo isso pensado para a Publicidade. Bons estudos! Para começarmos da melhor maneira, vamos conferir o vídeo de introdução da professora Sionelly acessando o material on- line! Contextualizando Muito se tem discutido sobre a "realidade" na fotografia, ou seja, seu papel como prova da existência do seu objeto, e assim, de comunicação e construção social. O pensamento corrente no século XIX era de que a fotografia era a reprodução perfeita, a exata similitude de seu referente na natureza. Em nosso século, essa ideia perdeu terreno para uma nova concepção que passou a ver na imagem uma recriação da realidade, isto é, uma forma subjetiva de construir, embora sua construção se materialize mecanicamente, através de uma tecnologia. A visão do operador da câmera, deixada de lado, acabou sendo, portanto, dirigida, tecnicista. Ao abrir espaço para a subjetividade do olhar, a fotografia do século XXI lança discussões multifacetadas: sua visão tecnológica, e, portanto, baseada em princípios físicos e ópticos; o operador da câmera, que escolhe e seleciona os recortes do mundo para a construção da imagem; e o efeito da imagem construída para informação e documentação histórica dos eventos sociais. Este raciocínio é muito importante para que você possa compreender o poder das fotografias na comunicação de maneira geral, e também especificamente na publicidade. Esses são tópicos muito interessantes para refletir e debater, certo? Não se preocupe, a professora Sionelly irá te acompanhar a cada nova descoberta! Acompanhe as palavras dela no material on-line! As possibilidades da imagem na publicidade A expressão de acontecimentos sempre esteve presente nas manifestações humanas. Das cavernas aos contemporâneos, o homem produz arte, deixa vestígios, se expressa. Com o aprimoramento da pintura, as mais diversas cenas do cotidiano são recriadas, cada vez mais realistas, aperfeiçoando a comunicação e expressão visual. Veja por exemplo a imagem a seguir, que retrata a arte egípcia: Mas é com a fotografia que a imagem, sendo a representação do real, espanta, choca e ganha ares de dualidade: primeiro, sendo cópia do objeto, e segundo, uma representação dele. Em razão de seu poder de comunicação, à imagem é atribuída mais que uma mera ilustração do real: ela provoca reflexão, estreita laços e distâncias e aproxima pessoas de diferentes realidades do seu contexto. Com esta magnitude, imagens se transformam em símbolo, e com elas a sociedade aprendeu a ver o cotidiano, as gentilezas e as aberrações do ser humano. Sobre a importância da imagem, Luis Humberto (2000) lembra que: [...] ela [a fotografia] se torna parte integrante de um depósito de referências residuais de uma época. Assumindo um papel relevante como transmissores de conhecimento, ela é, então, um bem público, cabendo à comunidade o direito de exigir que sua produção ocorra dentro dos melhores padrões de competência e honestidade, principalmente por decorrer de um ato de decisão estritamente individual. (HUMBERTO, 2000, p.69) Para saber mais, recomendamos o seguinte livro: HUMBERTO, Luis. Fotografia, a arte do banal. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2000. As imagens na publicidade foram inseridas, primeiramente, na forma de ilustrações e gravuras. Mesmo com o surgimento da fotografia, ela demorou a ser inserida senão como referência para a produção da ilustração, isso porque ainda havia certo descrédito quanto à fotografia, além das limitações técnicas para transportar a imagem para o jornal/a revista, que contratavam gravuristas para a confecção de anúncios. Por ser uma “reprodutora” do real, a princípio vista como um aparato que simplesmente copia a “realidade”, foi conferido caráter objetivista à fotografia. Passaram-se décadas até a fotografia ser vista como um meio de expressão subjetiva. Você pode observar isso a seguir em um anúncio da década de 1920: Fotografia, sendo arte e documento, traz um quê de individualidade no olhar, ao mesmo tempo em que lança imagens de representação social. Neste caso – e na visão de quem a produz – a fotografia age como mediadora. Uma das características da fotografia, assim, é refletir os conceitos da época ao mesmo tempo em que as dissemina, num encadeamento de recepções, construções, desconstruções e novos olhares. Desta forma, transferimos sentimentos, impressões e significados aos produtos e ideias através da fotografia, visando que o público-alvo se identifique com isto. Logo, comunicamos por meio de imagens. Para finalizar esse tema, assista ao vídeo da professora Sionelly no material on-line! Fotografia: entre a ficção e a realidade Você já notou como estamos rodeados de imagens o tempo todo? Preste atenção ao redor: outdoors, desenhos em camisetas, quadros nas paredes, porta-retratos, até mesmo imagens e marcas na caneca do café; as imagens estão em todo lugar. Isso se dá de forma tão tênue que às vezes demoramos a perceber certo objeto ou referência, mesmo passando tantas vezes por um mesmo lugar. Muitas imagens do cotidiano, de tão presentes, são digeridas automaticamente e se tornam ausentes. Isso acontece porque a visão humana é seletiva. Como nos concentramos em algo que nos é mais interessante em determinado momento, nossos olhos buscam apenas as informações que precisamos. Se prestássemos atenção em absolutamente tudo, focando em 100% das informações ao nosso redor, nosso cérebro teria uma grande carga de conteúdos para perceber, identificar, interpretar e armazenar. E o resultado seria nada menos que um colapso mental, ao menos para o nível de uso cerebral que possuímos hoje. Para onde quer que nos voltemos, há imagens. Como diz Joly (2000): “Por toda parte no mundo, o homem deixou vestígios de suas faculdades imaginativas sob a forma de desenhos, nas pedras, dos tempos mais remotos do paleolítico à época moderna. ” Esses desenhos destinavam-se a comunicar mensagens, e muitos deles constituíram o que se chamou “os precursores da escrita”. Sobre esse assunto, recomendamos o seguinte livro: JOLY, Martine. Introdução a análise da imagem. Lisboa: Ed. 70, 2007. Observe a fotografia de Daniel Castellano a seguir e note a quantidade de informações que podemos extrair da imagem. O que você consegue concluir sobre ela? Fotografia: Daniel Castellano Inteligentes, nossos olhos são também testados. Quando encaramos uma imagem, por exemplo, analisamos em seus elementos as cores, formatos, texturas, o meio onde é exposta, etc. Após isso, a imagem gera um resultado, que pode sofrer alterações em sua interpretação e, assim, a associação com as ideias do mundo. Sendo a interpretação individual, mas também coletiva, as imagens nos testam. Dessa forma, normalmente somos fisgados e persuadidos por elas. Das formas de expressão visual, a pintura e a fotografia são as que mais nos rodeiam. Contudo, uma mesma imagem, exposta em uma fotografia ou em uma pintura realista, tem recepções diferentes e, portanto, leituras diferentes. Pois, enquanto a pintura teria em seu âmago o “recriar”, de acordo com a apreciação e inspiração de seu criador, sendo sua expressão de ordem subjetiva, a fotografia teria em sua essência a cópia direta como referência,sendo assim, uma mimese dos fenômenos. Ao menos assim se imaginava quando a fotografia surgiu na era vitoriana, época de sucessivos avanços com a Revolução Industrial. Essa crença, advinda do surgimento tecnológico da fotografia, teria abastecido essa expressão visual de uma crédula relação com o objeto fotografado, sendo um atestado de que aquilo aconteceu em um determinado espaço-tempo. Como afirma Duane Michals (1982, apud SOULAGES, 2010, p.80): As pessoas acreditam na realidade das fotografias, mas não na realidade das pinturas. Isso dá uma vantagem para os fotógrafos. O problema é que os fotógrafos também acreditam na realidade das fotografias. É que tanto a pintura quanto a fotografia, ambas enquadradas no visual, estão encobertas pela subjetividade do olhar de quem a faz, mas o suporte comumente dirige parte da interpretação e credibilidade. Um exemplo é o trabalho do fotógrafo estadunidense David LaChapelle “Rape of Africa” (2009), que faz um exame artístico da política mundial através de recriações de obras-primas da pintura. A seguir você vê a fotografia de LaChapelle e a obra que o inspirou, “Venus e Marte” de Sandro Botticelli. Navegue pelos slides para uma comparação: Fonte: http://www.davidlachapelle.com/series/rape-of-africa/ Fonte: http://www.nationalgallery.org.uk/paintings/sandro- botticelli-venus-and-mars A discussão sobre a realidade e a ficção na fotografia traz, portanto, essa característica imperialista, dando início a uma confusão entre dois conceitos: a descoberta de possibilidades e a essência da fotografia. Com a mistura entre o que seria possível e o que seria essência, a cópia exata e fiel dos fenômenos foi mantida como estatuto da fotografia, descartando de seu alicerce, a princípio, o estreitamento com a arte. Ainda a respeito do estado da arte, recomendamos alguns interessantes filmes que podem abrir mais visões para você sobre conceitos como realidade, essência e percepção de mundo. Confira os trailers! A Origem (Inception), 2010 Direção: Christopher Nolan https://www.youtube.com/watch?v=TxiZoP9LTUU Mera coincidência (Wag the Dog), 1997 Direção: Barry Levinson https://www.youtube.com/watch?v=TxiZoP9LTUU Desde seu surgimento, datado oficialmente de 1826, a fotografia é interpretada como registro do real. No ano de 1839, o jornalista Jules Janin usou a metáfora do reflexo, sendo o daguerreótipo um espelho que reflete e conserva a impressão dos objetos. “Nenhuma mão humana poderia desenhar como o sol desenha”, proclamou Janin, em 1839, entusiasmado com a nova possibilidade da cópia. Nessa concepção objetivista, a realidade poderia se materializar, ao duplicar a imagem do objeto. Sendo assim, a fotografia serviria de testemunho. Mas de onde teria surgido essa exatidão da fotografia e esse caráter representacional ligado ao objeto? Alguns pontos iniciais advêm da pintura renascentista, a exemplo do efeito da perspectiva, com o qual o hábito perceptivo teria se desenvolvido. Com a introdução da câmara escura, teria se renovado o procedimento do verdadeiro, tendo por base os processos físicos e químicos que reproduziriam e fixariam a imagem. Por ser um processo técnico, é nesse momento que se rompe a ligação do homem no processo de produção da obra: sendo um processo de captura “direta” de um fenômeno, não caberia espaço na fotografia para a subjetividade advinda da pintura, já que a imagem, neste caso, surgiria da imaginação do artista. Entretanto, a realidade na fotografia se situa no mesmo plano da pintura. Assim como a pintura é construída conforme a imaginação de seu autor, na fotografia essa abertura também estaria ao alcance: Através da manipulação de suas unidades sígnicas, durante a composição do quadro, ou seja, a escolha dos elementos que irão compor a imagem; As escolhas técnicas de revelação em laboratório ou de softwares de tratamento e manipulação de imagem; Nos ajustes do equipamento segundos antes de apertar o botão; Softwares de tratamento como o Photoshop. Esses são alguns exemplos de como a fotografia está aberta à construção através da luz e pixels, assim como o pintor que escolhe seus pincéis, tintas e cores, a fim de trazer vida à imagem pré-visualizada. Assim, a fotografia como um produto subjetivo, não sendo mais uma reprodução, estaria também ao lado da ficção, e a publicidade faz uso disso. Consegue identificar isso na imagem a seguir? Preste atenção ao cenário, por exemplo. Será que o casal retratado está atuando em um espaço real? Campanha publicitária de Lady Dior Blue Sobre ficção, François Soulages (2010) nos apresenta a origem da palavra em francês, que pode remeter a dois sentidos: O que é mentiroso e falso; e o que é imaginado e inventado, sem vontade de enganar. (SOULAGES, 2010, p.115). A ficção incorporou o primeiro sentido, associando à ficção a farsa na construção de algo; embora para o autor a ficção possa ser, também, fonte de verdade, já que é subjetiva. Com esse paradoxo, a fotografia traz uma sensação mágica de verdadeiro e também cede espaço para a ficção, a construção e a imaginação. É nesse hibridismo que a imagem faz ver seu suporte, que é somado na interpretação. Em vez de uma forma de apresentar o visível, a fotografia se aproxima mais da tentativa de tornar visível algum fenômeno, para que se possa tentar compreender a condição humana, já que: Não se trata de tentar atingir a realidade pela fotografia, mas de visá-la na realidade da fotografia. (SOULAGES, 2010, p.115) Para saber mais, leia o artigo “Fotograficidade: a perda e a permanência na estética fotográfica”, disponível a seguir: http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/discursosfotograficos/arti cle/download/8120/7035 Segundo Kossoy (2009), a fotografia tem uma realidade própria que não corresponde necessariamente à realidade que envolveu o assunto, objeto de registro, no contexto da vida passada. Trata- se da realidade do documento, da representação, uma segunda realidade, construída, codificada, sedutora em sua montagem, em sua estética, de forma alguma ingênua, inocente, mas que é, todavia, o elo material do tempo e espaço representado, pista decisiva para desvendarmos o passado. A credibilidade das fotos quando vistas em jornais e revistas, por exemplo, cria a sensação de verdade, que parece vir embutida à própria essência da fotografia, e que é explorada no veículo jornalístico, confundindo fotografia com a realidade subjetiva dos fenômenos. No caso da fotografia publicitária, a sensação é diferente, pois há um espectro de ficção, já que é uma imagem planejada e construída antecipadamente. Contudo, indiferente de onde é publicada, trata-se de fotografia e, assim, uma imagem portadora de uma segunda realidade, como teoriza Boris Kossoy (1999). Observe a seguir uma faceta de construção de realidade na campanha Unhate da empresa Benetton, que apresenta diversos líderes mundiais se beijando em um manifesto contrário à cultura do ódio. Acesse um artigo relacionado à campanha: http://www.b9.com.br/27506/advertising/unhate-benetton- apresenta-campanha-contra-a-cultura-do-odio/ A seguir, você pode conferir o vídeo da campanha: https://youtu.be/qImJFg5dgTE Sobre assunto, recomendamos ainda os seguintes livros: SOULAGES, François. Estética da fotografia: perda e permanência. Tradução de Iraci D. Poleti e Regina S. Campos. São Paulo: Editora São Paulo, 2010. SANTAELLA, L. Por que as comunicações e as artes estão convergindo? São Paulo: Paulus, 2005 KOSSOY, Boris. Realidades e ficções na trama fotográfica. Ateliê Editorial: Cotia, SP, 1999. Para Boris Kossoy (1999), há diversos aspectos que devem ser levados em conta na análise e leitura fotográfica, pois, com o ato fotográfico, é construídauma segunda realidade, a medida que a imagem nada mais é que uma representação a partir do real. Assim, para se compreender a imagem enquanto documento fotográfico, existem elementos constitutivos e coordenadas de situação que permitem a fotografia se materializar, ou seja, se tornar possível e visível. O ato fotográfico não pode mudar o que está fixado no negativo/sensor, pois o fotógrafo não pode voltar no tempo para capturar novamente a mesma imagem. O filme/sensor exposto à luz daquele instante não é mais virgem e sobretudo o instante será sempre outro. Pode-se modificar a imagem apenas agindo sobre ela, na revelação do negativo e durante os processos de lavagem ou secagem: diferentes tempos revelarão diferentes imagens e uma infinidade de fotografias poderá surgir do mesmo negativo. No caso das imagens digitais, isso é feito em softwares, simples ou sofisticados, próprios para edição digital. A fotografia resulta, portanto, de um assunto que tenha chamado a atenção de um fotógrafo, que manipula um equipamento tecnológico dentro de um espaço em um determinado momento. Acessando o material on-line, assista ao vídeo da professora Sionelly e aprofunde ainda mais seus conhecimentos sobre o delicado equilíbrio entre ficção e realidade na fotografia! A geração de sentidos na fotografia Henry Jenkins, no livro A Cultura da Convergência (2009), menciona a história de Dino Ignacio, um jovem americano que produziu algumas colagens em seu computador através do programa de edição Photoshop, manipulando imagens de personalidades conhecidas, de Adolf Hitler à Pamela Anderson, junto ao personagem Beto, do programa de TV americano Vila Sésamo (1970). Uma de suas produções consistiu em “unir” na mesma imagem Beto e Osama bin Laden, considerado o inimigo número um dos Estados Unidos. Isso causou um incidente internacional, que veremos a seguir. O programa Vila Sésamo fez sucesso em diversos países e é exibido também no Paquistão, mas em um formato adaptado, o que vetou a participação do personagem Beto e o seu possível reconhecimento em Bangladesh. Estava preparado o cenário para o mal-entendido que viria a seguir. Após os ataques às torres gêmeas americanas, em 11 de setembro de 2001, um editor em Bangladesh, ao buscar na Internet uma imagem de bin Laden, se deparou com a colagem de Ignácio e decidiu imprimi-la em cartazes e blusas para usar o material em um protesto. A rede de TV americana CNN ficou surpresa ao perceber a confusão durante a cobertura do protesto: Beto e bin Laden juntos em um protesto antiamericano. Como era possível? As imagens circularam nas TV’s americanas e causaram indignação, inclusive, entre os produtores do programa Vila Sésamo, por estarem vinculando a imagem de um de seus personagens a uma figura tão emblemática e odiada em seu país, os Estados Unidos. A decisão era reverter isso em processo judicial, mas a quem se deveriam cobrar as devidas providências? Ignácio? O editor em Bangladesh? Quem, afinal, seria penalizado pela dimensão do acontecido? Ao dar o pontapé ao complexo percurso da colagem de Beto e bin Laden, Ignácio transformou sua “criatividade” em um problema internacional. Por não reconhecer o personagem Beto, já que não faz parte de seu repertório visual, o editor em Bangladesh nos atenta para mais um desdobramento do caso: Por que uma imagem gerou interpretações e reações diferentes? Afinal, quais os efeitos de sentido da colagem feita por Ignácio? Para responder a essas questões, é preciso entender a polissemia da fotografia. Para a semântica, há três níveis na interpretação dos signos. Sendo assim, na análise da imagem de Ignácio temos pelo menos três pontos de vista/interpretação: Ignácio, editor e produtores do programa Vila Sésamo. Clique em cada um dos sentidos para entender a relação. Denotativo: sentido literal da expressão/signo; para o editor de Bangladesh, a imagem vista foi no sentido denotativo, pois seu foco se concentrou na busca da figura de Osama bin Laden, que foi identificada na colagem de Ignácio. Conotativo: sentido metafórico; para Ignácio, o sentido da imagem seria o conotativo, pois ao retirar Beto e Osama bin Laden de seus contextos originais, a colagem faz uma metáfora com suas figuras. Subjetivo: sentido individual e psicológico, de acordo com a experiência de cada um. Já para os produtores do programa Vila Sésamo, a leitura foi interpretada em caráter subjetivo, pois, por terem uma relação próxima ao Beto, além da relação patriótica, a imagem veio em sinal de ofensa ao seu programa e ao seu país. Embora se possa entender a imagem também pelo sentido conotativo, a subjetividade da interpretação é erguida pela relação de proximidade. (Paulo Boni e André Acorsi, 2006, p.130) Para mais embasamento sobre a relação entre interpretação, geração de sentido e fotojornalismo, leia o artigo a seguir: http://casperlibero.edu.br/wp-content/uploads/2014/05/A- margem-de-intepreta%C3%A7%C3%A3o-e-a- gera%C3%A7%C3%A3o-de-sentido-no-fotojornalismo.pdf Assim, concluímos que uma imagem pode gerar diferentes sentidos e interpretações, por fatores como: Experiências pessoais e coletivas; Contexto onde a imagem é exposta (em um anúncio de revista, por exemplo); Processo de leitura; Mensagem verbal que acompanha a imagem, como legenda, subtítulo ou título. São elementos externos à imagem que complementam e conduzem o leitor a assentar os pensamentos em algo já pré- determinado. São os elementos de significação, que, atrelados, induzem o leitor a decodificar, segundo Boni e Acorsi (2006). Afinal, a fotografia começa sua construção nas escolhas do fotógrafo: Entre a objetividade e a subjetividade; A apreciação estética e a decodificação sígnica; A grande angular e a teleobjetiva; As cores primárias e os tons variantes do preto e do branco; A profundidade de campo e os planos nítidos; O enquadramento; A escolha do momento de apertar o botão. Após essas e outras escolhas, nasce a imagem com um universo de mensagens que os leitores poderão absorver por simbiose, em cada traço desenhado pela luz. Não se pode esperar da imagem uma interpretação única: é o leitor (no nosso caso, o público-alvo) quem identifica os signos de acordo com suas peculiaridades culturais e quem lhe confere o sentido final. Um exercício rápido: o que você consegue interpretar a partir deste anúncio da marca Gucci? Campanha publicitária da coleção Primavera-Verão Gucci Na performance executada na visão do fotógrafo, as formas, como a imagem, são concebidas, e a técnica empregada se reflete na mensagem. Há razões para se acreditar na fotografia, assim como há contrapontos que convencem do contrário: é fato que não se pode esperar da imagem uma verdade ou uma ligação direta com o real. Mas, ao se acrescentar que toda fotografia é construção de realidades, amplia-se a discussão não somente para o indivíduo que fotografa e que expõe, através de seu olhar, a sua interpretação e escolhas. Ainda que às vezes não se pretenda dizer coisa alguma, seja no jogo das imagens abstratas, por exemplo, como as telas do pintor Jackson Pollock, ou nas confusões de signos e elementos inseridos em um contexto diferente do natural. Também o leitor absorve e interpreta a imagem de acordo com o contexto em que ela está inserida, seja em um outdoor publicitário, campanha política ou um mapa de um livro de geografia que explica onde está situado cada país. O leitor constrói a mensagem induzido pela linguagem inerente à fotografia. E essa é mais uma carga tributada à mutação interpretativa da fotografia. Em um museu de arte, a imagem cria uma elegante aura que a investe de elegância. Em uma campanha publicitária ou revista, a imagem se condensaà ficção, produto de indução para atingir o público-alvo e refletir sua mensagem. Não se pode obter de uma fotografia um único texto: cabe ao leitor decifrar essa imagem e interpretá-la. A imagem é lida de acordo com os caracteres decodificados e de acordo com a tal "bagagem cultural" de um indivíduo, constituída de seus pensamentos a respeito das coisas abstratas e materiais do mundo. É na imaginação do espectador onde se formula e extrai a mensagem, e é através do que ele aprendeu sobre o mundo que as qualidades do signo se revelam e ganham sentido na mostra fotográfica. Podemos dizer que a fotografia é tomada de ilusão. Por isso, toda imagem é um conto: traz uma história, mas os personagens se concentram na imaginação do espectador, o qual confere, através de seus sentidos, a porta da interpretação do que lhe é mostrado. E é ele quem dá sentido e forma ao que os fotógrafos dizem, intencionalmente ou não. Assim como na ilusão de um conto, a imagem se revela como uma discrepância: cada um vê e lê uma fotografia distinta, mesmo vinda do mesmo referente. E atualmente, nas redes de computadores e internet, as imagens vão muito além de seus contextos e significados mais óbvios. Para saber mais, recomendamos os seguintes livros: JENKINS, Henry. Cultura da convergência. 2. ed. São Paulo: Aleph, 2009. BONI, Paulo César (Org.). Fotografia: Múltiplos Olhares. Londrina-PR: 2011. Para finalizar, assista ao vídeo da professora Sionelly sobre o tema acessando o material on-line! A idade da luz: a história da câmara escura Em plena era vitoriana, no século da expansão de diversos meios e auge das transformações da sociedade, vieram as máquinas a vapor, as estradas de ferro, o telégrafo e novos meios de comunicação. Entre as inovações, estava a fotografia. O primeiro registro fotográfico da história veio do inventor francês Joseph Nicéphore Niépce (1765-1833), em 1826, em um processo batizado como heliografia, ou seja, gravação da imagem com a luz do sol. Foram exigidas cerca de 8 horas de exposição para fixar a paisagem vista da janela da oficina de Niépce, e, como você pode ver na imagem a seguir, a qualidade era baixíssima. A fotografia, no entanto, não teve um único inventor, nem surgiu do dia para a noite. Ela é uma síntese de descobertas físicas e químicas, que vão da Antiguidade aos tempos contemporâneos. Para citar alguns nomes, além de Niépce, temos as observações ópticas de Aristóteles (384-322 a.C.) sobre a qualidade de projeção da imagem do sol em um eclipse parcial, que passava à superfície através do furo em uma folha de árvore. Em seus registros, há o primeiro apontamento para a câmara escura, dispositivo em formato de caixa, com paredes totalmente opacas, isoladas de luz, com um pequeno orifício em uma das paredes. Se for colocado algum objeto/cena em frente à câmara, na parede oposta será projetada uma imagem menor e invertida, refletindo o objeto. Aristóteles costumava utilizá-la para ver o sol. Além do filósofo grego, o pintor italiano Leonardo da Vinci utilizava a câmara escura para projeção em seus desenhos. Em experimentações químicas, há nomes como o do inglês William Henry Fox Talbot (1800–1877), que desenvolveu o sistema positivo e negativo da fixação da imagem, batizado de calotipo, o que permitia a duplicação da imagem em larga escala. Para entender em mais detalhes o funcionamento da câmara escura, acesse o vídeo a seguir: https://www.youtube.com/watch?v=pJFipBO7og0 No Brasil, o pioneiro da fotografia é Antoine Hercule Romuald Florence (1804 –1879), que em 1832 começa a investigar as possibilidades de fixação da imagem por meio da câmara escura e experiências fotoquímicas, dão origem a imagens que ele batiza de photographie, em 1833. O francês Louis Jacques Mandé Daguerre (1781-1851) também deu contribuições importantes para o desenvolvimento da fotografia e trabalhou junto a Niépce na invenção do daguerreotipo. Criado em 1837 e fabricado por Alphonse Giroux, este foi o primeiro equipamento fotográfico produzido em escala comercial. Foi apresentado publicamente em 1839, na França, ano em que o governo francês declarou o invento como domínio público, pois havia financiado os experimentos de Daguerre. "Boulevard du Temple", Louis Daguerre, Paris, 1838 Foto produzida com uma placa de metal em exposição à luz por dez minutos. O daguerreotipo acelerou o tempo de exposição, possibilitando a produção de retratos em que o fotografado não tivesse que ficar imobilizado por vários minutos, às vezes com a ajuda de um aparato de ferro que o prendia na cintura, alinhava o tronco e segurava a cabeça. Isso era necessário para a fotografia não sair tremida, devido ao longo tempo de exposição. Para que toda essa estrutura não aparecesse, o cenário era disfarçado com cortinas, as pessoas vestiam roupas volumosas, etc. Já os olhos, que não ficam imóveis por muito tempo, precisavam ser retocados à mão, normalmente com lápis nanquim. Mas, só porque softwares de edição de imagens não existiam no passado, não significa que era impossível realizar alterações e criar montagens! Confira no artigo a seguir interessantes fatos sobre esses procedimentos e a influência deles na concepção do tratamento de fotos digital: http://photos.com.br/quando-o-photoshop-nao-existia/ E a arte da fotografia continuaria evoluindo em todos os sentidos. Com as câmeras objetivas desenvolvidas por Joseph Maximilian Petzval (1807- 1891), 16 vezes mais luminosas, o tempo de exposição cairia de 15 minutos para em torno de 30 segundos. Com isso, a partir de 1842 foram abertos os primeiros estúdios fotográficos especializados em retratos. Afinal, a sociedade precisava ser mostrada em suas organizações sociais e políticas, como já acontecia com as pinturas. Aliás, os primeiros retratos, pagos pela alta classe burguesa da França, quase sempre buscavam referências de pose, luz e composição na pintura. A fotograficidade revela, assim, o seu poder: articular imagens e suas representações no tempo, nas marcas da história, nas imagens que constroem o sentido do mundo. A fotografia é vista como a “leitura da realidade”, mas não passa de uma trama que constitui a realidade subjetiva dos fatos, pois é com as imagens do mundo que se constroem e restituem a memória. Pinturas e fotografias são imagens a serem decodificadas onde quer que estejam, seja em galerias de arte, revistas ou anúncios publicitários. Por fim, recomendamos os seguintes livros para você se aprofundar no assunto: SONTAG, Susan. Sobre fotografia. Cia das Letras KOSSOY, Boris. Fotografia & História. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001. Edição revista. O que é imagem? Você já deve ter presenciado ou participado da seguinte cena: família reunida, todos se apertam para caber na foto, alguém grita: “Olha o passarinho!”. Embora quase sempre não haja um pássaro à volta, sem questionar, a maioria dos posantes para, não fala, mal respira, segura o sorriso, e o fotógrafo finalmente aperta o botão. Feita a foto, todos voltam a relaxar, como se tivessem tirado o sapato apertado e caminhassem novamente livres. Diante desse cenário corriqueiro algumas perguntas permanecem, como: De onde viria a expressão “Olha o passarinho? ”? Por que ficamos tão sem graça, desajeitados, diante da câmera fotográfica? E, afinal, que poder é esse da imagem? Talvez a primeira pergunta seja a mais fácil de ser respondida. Estudiosos como Ari Riboldi, no livro O Bode Expiatório, explicam que, como as primeiras câmeras exigiam um alto tempo para capturar a imagem, os retratistas, como eram chamados, precisavam de artimanhas para prender a atenção dos retratados. Para isso, muitos mantinham uma gaiola com um pássaro próximo da câmera e assim distraiam os modelos, que fixavam seu olhar no pássaroengaiolado. Mas por que ficamos desajeitados na frente da câmera? O que ela pode revelar? De um click, um instante, a fotografia revela um traço do tempo, em um determinado espaço, sendo vestígio da realidade. Mas, para que isso aconteça, é preciso um olhar e um equipamento que o registre. Assim, da fotografia é provida uma segunda realidade, como defende Boris Kossoy (1999), na análise das tramas fotográficas e suas construções simbólicas do real. E o vestígio fotográfico é influenciado pelos espaços de tempo: o passado, já que o click transforma a fotografia em um evento palpável do passado; o presente, que se dá no ato fotográfico; e o futuro, onde a lembrança estará guardada, em imagem, para ser revivida. Se no folclore espelhos são amaldiçoados, para alguns povos a fotografia era dotada do mesmo poder. Algumas tribos indígenas acreditavam que, se tivessem seu retrato capturado, teriam sua alma aprisionada. Parece loucura ou ignorância, mas eles não estavam completamente errados. Não que o ato fotográfico esteja incutido desse poder assombroso, mas ao ver uma imagem automaticamente refletimos a energia daquilo que vemos. Isso se dá através da memória, ativada pela imagem da fotografia, que desencadeia sentimentos, o que nos faz vibrar e emanar energia. Em rituais religiosos, por exemplo, é comum que pessoas levem fotos de entes queridos para que a pessoa receba graças mesmo estando ausente. A foto age, assim, como substituta do corpo. Uma curiosidade, ao menos aos olhos contemporâneos, são as fotos post-mortem. Feitas em cenários e locações, os modelos usavam vestimentas apropriadas para eventos sociais e maquiagem impecável, na tentativa de simular uma cena de seu cotidiano. Como a fotografia era um artefato caro, ficando restrita, a princípio, à classe nobre, aqueles que queriam ser “eternizados” precisavam recorrer às fotos do morto, mesmo que “disfarçados” em uma situação cotidiana. As famílias, por vezes, poupavam dinheiro para, caso fosse necessário, produzir uma foto post-mortem, assegurando a lembrança do ente querido através da memória fotográfica. Para saber mais sobre esse costume, acesse a reportagem a seguir: http://revistagalileu.globo.com/Sociedade/Comportamento/noticia/ 2015/05/11-fotos-de-pessoas-mortas-que-parecem-estar- vivas.html Até hoje fotos são substitutos da lembrança, portanto, ilusórias. Não são, em absoluto, a tradução da realidade, mas sua representação. Podem ser manipuladas, diferenciadas pela escolha de lentes, enquadramento, ângulos, iluminação, cortes, etc., e representando a visão de seu autor, sendo, portanto, uma versão, uma metáfora. É mais forte que qualquer interpretação de racionalidade, pois é também emoção. É onde o leitor é pego desarmado pela imagem, que lhe causa a emoção da surpresa, como afirma Susan Sontag, 1983, pp. 161,62: Somos mais vulneráveis aos acontecimentos que nos inquietam sob a forma de imagens fotográficas do que sob a forma de fatos reais. [...] uma vez que somos espectadores (passivos) de acontecimentos já configurados. Quando a "ilusão" se completa na mente do leitor, este tem a sensação de assistir a um recorte imprevisível, dotado do sentimento de "realidade". Embora ressaltando o caráter simbólico da mensagem, ela só obtém êxito porque o leitor é cercado pelo sentimento de realidade acima de qualquer suspeita. É sobre essa base inicial que se passam os códigos. A racionalidade é posta somente depois de aceitar a realidade do que se vê, segundo Santaella: O real na sua verdade é sempre algo inatingível, mas, em menor ou maior medida, sempre aproximável pela mediação do signo. É nessa aproximação como meta que reside nossa responsabilidade ética com a linguagem. Essa é uma discussão bastante ampla e, certamente, não tem uma resposta definitiva. Portanto, agregar conhecimentos e refletir constantemente sobre os significados e impactos da fotografia na sociedade é essencial para desenvolver um olhar crítico e relevante sobre a linguagem visual que nos cerca, além de desenvolver um bom trabalho! Claro, não podemos finalizar o tema sem antes saber o que a professora Sionelly tem a dizer! Não deixe de conferir o material on-line! Na prática François Soulages diz que uma fotografia pode gerar diversos significados a partir de diferentes formas de a construir e ler, dependendo das condições do espectador, da contextualização ou da manipulação dos signos a partir de sua constituição. Olhar uma foto, assim, é estar diante de uma tomada de ilusão ao seu referente, a sua segunda realidade. Não sendo uma forma de assemelhar-se ao visível, mas de tornar visível algum fenômeno, portanto, relembrado, associado, percebido e interpretado. Agora é a sua vez de falar sobre imagem e suas fundamentações! Fotografe uma cena ou objeto e discorra sobre suas as características técnicas e estéticas, justificando suas escolhas e argumentos. Síntese Vimos nessa aula que não se uma imagem não possui uma única interpretação: cabe ao leitor interpretá-la com seu olhar particular. Assim como na leitura de um conto, a imagem se revela com discrepâncias: cada um vê e lê uma imagem distinta, mesmo vinda do mesmo referente. Contudo, por bastante tempo creditou-se à fotografia o peso de registro do real, em uma concepção objetivista de que a fotografia seria o testemunho e cópia direta de um fato. A introdução da câmara escura e o processo fotográfico, objetivo, químico e físico, reforçariam esse conceito. Por isso, a fotografia superaria as possibilidades de registrar aquilo que a pintura, principal forma de expressão, ainda não havia conseguido realizar perfeitamente. Essa característica imperialista seria o princípio da confusão entre possibilidade e essência da fotografia. Referências BONI, P. C. (Org.). Fotografia: Múltiplos Olhares. Londrina: 2011. JENKINS, H. Cultura da convergência. 2. Ed. São Paulo: Aleph, 2009. SOULAGES, F. Estética da fotografia: perda e permanência. Tradução de Iraci D. Poleti e Regina S. Campos. São Paulo: Editora São Paulo, 2010.
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