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AULA 5 - Teoria da Imagem (IMAGEM E CONSTRUÇÃO SOCIAL)


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IMAGEM E CONSTRUÇÃO 
SOCIAL 
AULA 5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Sionelly Leite da Silva Lucena 
 
 
 
 
 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Quando falamos em leitura, logo pensamos em texto, certo? Mas, nesta 
aula, vamos trabalhar com a leitura de imagens, com base em algumas teorias 
da imagem, a fim de entender seus significados e impactos com base em sua 
construção social, técnica e estética. Para tal, vamos conhecer e debater teorias 
dos autores Boris Kossoy, Henri Cartier-Bresson e Roland Barthes, grandes 
nomes entre os pensadores críticos dessa área. Bons estudos! 
CONTEXTUALIZANDO 
Para entendermos o poder da imagem, é preciso aprofundar nossas 
experiências sensíveis sobre as interpretações da imagem. Um exemplo 
simples: um círculo pode ter diversos significados quando pensado em diferentes 
contextos sociais. 
• Podemos relacioná-lo à representação do infinito, quando pensando em 
circularidade e movimento sem fim. Exemplo: a aliança que une, por meio 
de um anel de ouro (que é circular), um casal. 
• O Deus Sol é representado por um círculo desde os tempos mais remotos, 
como na civilização egípcia. 
Assim, entendemos que uma “simples” imagem pode carregar preciosos e 
diversos significados. 
Pesquisa 
Confira quais temas trabalharemos nesta aula: 
1. Introdução à leitura da imagem; 
2. Teorias da imagem 1: Boris Kossoy; 
3. Teorias da imagem 2: Henri Cartier-Bresson; 
4. Teorias da imagem 3: Roland Barthes; 
5. Análise e crítica fotográficas. 
TEMA 1 – INTRODUÇÃO À LEITURA DA IMAGEM 
Você se lembra da menina vietnamita ferida, fotografada por Huynh Cong 
Ut em 1972? Ela se chama Phan Thị Kim Phúc e é personagem de uma das 
 
 
3 
imagens mais icônicas da história, vencedora do prêmio Pulitzer, um dos maiores 
do mundo: 
 
Crédito: AP PHOTO/NICK UT. 
Essa mesma fotografia, saindo do campo do fotojornalismo, estampou 
uma campanha publicitária sobre a liberdade de imprensa, mudando, assim, seu 
contexto usual. 
 
Fonte: <https://clios.com/awards/winner/10462>. Acesso em: 12 dez. 2019. 
Para analisar ou ler uma imagem (aqui estudaremos a fotografia, referente 
a uma imagem estática) devemos entender dois conceitos fundamentais, 
derivados da conceituação semiológica de Roland Barthes, que classifica o 
sentido em dois: 
• Denotativo: é o sentido literal, que se refere a uma descrição dos 
objetos num determinado contexto e espaço. A descrição de uma 
 
 
4 
palavra no dicionário, por exemplo, é um sentido denotativo, pois 
denota determinado significado a cada verbete. 
• Conotativo: refere-se a um sentido metafórico, mais subjetivo, em que se 
devem analisar as mensagens numa imagem/num texto, na forma como 
a informação aparece, escondida ou reforçada por meio de elementos e 
recursos visuais/textuais 
Para entender esses conceitos na prática, vamos analisar a imagem a 
seguir: 
 
Créditos: Epicstockmedia/Shutterstock. 
• Sentido denotativo: praia, mar, água, onda, céu azul, nuvens, 
montanha, surfista e surfe. 
• Sentido conotativo: pode representar aventura, a “melhor onda”, 
adrenalina, homem e natureza. 
Para Umberto Eco, a conotação é a soma de todas as unidades culturais 
que o significante pode evocar institucionalmente na mente do destinatário. 
Assim, há de se entender quais são os elementos que compõem a imagem e 
agrupá-los de forma a construir significados denotativos e conotativos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
Por exemplo, vamos analisar a imagem a seguir: 
 
Créditos: BPlanet/Shutterstock. 
É possível ver uma cena de futebol, mais precisamente um gol, certo? 
Essa resposta é resultado da primeira visão, que seria global. Agrupamos os 
elementos “bola”, “movimento”, “rede” e “gramado verde” e montamos um 
significado geral: gol. Apenas depois de um tempo é que reparamos nesses 
“detalhes”, ou seja, os elementos à parte. Cada um dos elementos será parte da 
soma, que gerará resultados, levando-se em conta que o objeto/a cena pode 
suscitar diferentes emoções e experiências. 
Há vários teóricos que se dedicam às teorias da imagem. Entre eles, 
vamos entender alguns sistemas, ao menos de forma introdutória, para 
compreensão das formas de interpretação da imagem, em específico da 
fotografia. Nos próximos temas, vamos falar de Boris Kossoy, Henri Cartier-
Bresson e Roland Barthes. 
TEMA 2 – TEORIAS DA IMAGEM 1: BORIS KOSSOY 
Entendemos até aqui que a fotografia traz uma sensação mágica de 
verdadeiro, enquanto cede espaço para a ficção; além disso, vimos que é nesse 
hibridismo que a imagem faz ver seu suporte, o qual é somado na hora da 
interpretação. A fotografia, assim, se aproxima mais da tentativa de tornar visível 
algum fenômeno, para que se possa tentar compreender a condição humana 
fenomenal. 
A credibilidade das fotos quando vistas em jornais, por exemplo, cria 
a sensação de verdade, que parece vir embutida na essência da fotografia e 
 
 
6 
que é explorada no veículo jornalístico, confundindo fotografia com a 
realidade subjetiva dos fenômenos. Sobre realidade, podemos definir como 
as diferentes formas que o homem tem de se relacionar com o mundo. Para 
Boris Kossoy (1999): 
A fotografia tem uma realidade própria que não corresponde 
necessariamente à realidade que envolveu o assunto, objeto de 
registro, no contexto da vida passada. Trata-se da realidade do 
documento, da representação, uma segunda realidade, construída, 
codificada, sedutora em sua montagem, em sua estética, de forma 
alguma ingênua, inocente, mas que é, todavia, o elo material do tempo 
e espaço representado, pista decisiva para desvendarmos o passado. 
(Kossoy, 1999, p. 22) 
Segundo Kossoy, há diversos aspectos que devem ser levados em conta 
na análise e leitura fotográfica. Isso porque com o ato fotográfico é construída 
uma segunda realidade, considerando que a imagem nada mais é do que uma 
representação a partir do real. 
Assim, para se compreender a imagem enquanto documento fotográfico, 
existem elementos constitutivos e coordenadas de situação que permitem à 
fotografia se materializar, ou seja, tornar-se possível e visível. O autor fala do 
momento e das circunstâncias que circunscrevem o ato fotográfico. 
 
Crédito: Sionelly Leite da Silva Lucena. 
A fotograficidade revela, assim, o seu poder de articular imagens e suas 
representações, seja no tempo, nas marcas da história ou nas imagens que 
constroem o sentido do mundo. 
O assunto de interesse do fotógrafo se materializa, mediado pela 
tecnologia, num determinado espaço-tempo. Imperativa, a fotografia esbarra na 
“leitura da realidade”, mas não passa de uma trama de construções da 
 
 
7 
realidade subjetiva dos fatos. Isso porque é com as imagens do mundo que 
se constroem e restituem a memória, e se estruturam realidades visuais, próprias 
para a interpretação. 
A fotografia apresenta cenários constituídos por objetos imóveis, 
inanimados, paisagens urbanas ou naturais ou então que abrigam 
situações; servem de fundo para ações, fatos que têm o elemento 
humano como personagem. [...] Qualquer que seja o foco de nossa 
atenção, os elementos que comporão a imagem são transpostos 
para a sua nova realidade: o retângulo eterno que os abrigarão. 
Estamos diante de uma nova realidade, uma segunda realidade cujo 
conteúdo arquitetado em função do novo espaço carrega em si, na 
longa duração, a visão de mundo de seu operador. (Kossoy, 1999) 
Vamos analisar mais uma imagem, dessa vez de Robert Doisneau. 
Você já ouviu falar dele? É o responsável por aquela famosa foto de beijo em 
Paris. Para mais informações sobre ele, acesse o link a seguir: 
<http://www.istoe.com.br/reportagens/193954_O+RETRATISTA+DE+PARIS
>. 
A imagem em questão é a seguinte: 
 
Crédito: Robert Doisneau/Getty Images. 
Nessa imagem, é possível ver crianças brincando: uma parada, à 
esquerda, e outras quatro, à direita, em ponta de pé. Por serem crianças, é 
fácil identificar que se trata de uma brincadeira,inclusive que se trata de um 
lugar mais frio, tendo em vista as vestimentas dos personagens. No entanto, 
não podemos decifrar tão facilmente quem são as crianças, mas podemos 
imaginar. Por isso, é possível afirmar, de acordo com Kossoy, que a fotografia 
possui duas realidades: 
 
 
8 
1. A realidade do assunto; 
2. A realidade do assunto representado. 
Podemos ilustrar essa teoria com um exemplo ainda mais simples: a 
imagem de uma escada, que pode ter diferentes recepções e interpretações. 
Para a maioria das pessoas, a escada será um elemento identificável. 
Contudo, para outros, podem representar um trauma de infância (para alguém 
que, em uma determinada experiência, caiu da escada ou teve vertigens no 
alto, por exemplo); pode rememorar uma nova visão de mundo, sendo o 
acesso para um lugar mais alto; entre outras experiências individuais, 
armazenadas de forma singular. 
A segunda realidade da fotografia, assim, são essas lembranças 
suscitadas, sensações peculiares de cada um que transformam a 
interpretação resultante da imagem. 
Leitura obrigatória 
Acesse o link a seguir e leia o texto “O paradigma da fotografia”, de 
Boris Kossoy, escrito em 1994. Disponível em: <http://boriskossoy.com/wp-
content/uploads/2014/11/paradigma_pt.pdf>. Acesso em: 13 jan. 2020. 
TEMA 3 – TEORIAS DA IMAGEM 2: HENRI CARTIER-BRESSON 
Veja esta fotografia: 
 
Fonte: 
<http://www.magnumphotos.com/C.aspx?VP3=CMS3&VF=MAGO31_10_VForm&ERID=24KL 
53 ZMYN>. Acesso em: 12 dez. 2019. 
 
 
9 
A imagem vista acima é uma fotografia feita por Henri Cartier-Bresson, 
considerado por uma larga maioria o grande mestre da fotografia mundial. Tão 
fácil quanto ver a correria da criança registrada na imagem é associá-la à 
brincadeira e à energia que normalmente as crianças têm. É possível fazer 
algumas considerações a respeito de sua composição e assim sua leitura: 
• A criança, bem ao centro da imagem tomada na horizontal, parece envolta 
nas sombras, também distribuídas ao centro. 
• Contornando o lado esquerdo, podemos reparar nas escadas e na 
charmosa portinha de acesso à casa. 
• No lado direito temos a solidez da porta, que preenche todo o lado direito 
da imagem. 
• O lugar onde a criança se encontra equilibra todas as formas, luzes e 
sombras; ao centro, ela traz também movimento e se torna a protagonista. 
Considerado o pai do fotojornalismo, Bresson possui importantes 
contribuições na produção de imagens e na teoria do que chamou de “instante 
decisivo” (1952), em que defende que não há nada que faça o tempo voltar 
ou que restitua o passado. Assim como o fogo, o tempo consome a madeira e 
nada faz ela voltar ao que era antes. É como a imagem quando capturada na 
fotografia: uma vez registrada no filme/sensor, os sais de prata/pixels são 
sensibilizados pela luz e a imagem se fixa para então se tornar o registro de uma 
lembrança que será dali para frente rememorada. 
Trabajamos en unicidad com el movimiento como algo 
premonitório de cómo la vida misma se desarrolla y mueve. Pero 
dentro del movimiento hay um momento en el cual los elementos 
que se mueven logran um equilíbrio. La fotografia debe capturar 
este momento y conservar estático su equilíbrio. (Cartier-
Bresson, 1952, p. 229) 
Para Bresson (1908-2004), há um instante no tempo em que os 
elementos se encontram em perfeita harmonia, um ponto exato inscrito na 
banalidade do cotidiano, um enquadramento de elementos banais 
transformados em uma cena “nova”. Aquilo que o fotógrafo chama de 
“momento decisivo” é o momento único do tempo num determinado 
espaço, em que é possível registrar com equilíbrio a composição dos 
elementos no quadro, das formas geométricas que compõem a 
linguagem visual. 
 
 
10 
Observado como uma estratégia de composição do quadro, o decisivo 
momento de apertar o botão se enquadra em um instante “mágico”, em que 
os elementos ganham sentido e equilíbrio quando enquadrados no devido 
tempo. 
Um exemplo clássico de instante decisivo bressoniano está na 
enigmática imagem “Atrás da Estação Saint Lazare”, tirada em Paris no ano 
de 1932. 
 
Fonte: 
<http://www.magnumphotos.com/C.aspx?VP3=CMS3&VF=MAGO31_10_VForm&ERID=24KL 53 
ZMYN>. Acesso em: 12 dez. 2019. 
Nesta emblemática imagem, temos como instante decisivo o salto 
numa poça de água no exato momento em que o pé do sujeito quase toca a 
superfície da água, o que gera harmonia com o anúncio dos acrobatas ao 
fundo, com a escada e com os anéis de metal, que fazem referência ao circo. 
Sem contar as outras formas geométricas, espalhadas por todo o quadro. 
Há quem diga que o mestre da fotografia pediu para que o personagem 
simulasse o pulo, outros alegam a autenticidade do salto. Verdadeira ou não, 
a imagem remonta ao cálculo exato de apertar o botão e fazer poesia com os 
elementos que se somam. Bresson impressionava com a habilidade de ver 
beleza na periferia das grandes cidades. 
Por forma eu entendo uma organização plástica rigorosa através da 
qual, exclusivamente, nossas concepções e emoções tornam-se 
 
 
11 
concretas e transmissíveis. Em fotografia, esta organização só pode 
ser o fato de um sentimento espontâneo dos ritmos plásticos. 
(Cartier-Bresson, 2004, p. 25) 
O instante decisivo da fotografia, em que a cena é registrada, é 
decisivo, pois servirá de registro único. Para trazer à mente do leitor o impacto 
desejado, a fotografia deve alcançar a percepção do leitor com efeitos de 
sentido que afetem, comovam ou mostrem os fenômenos, inclusive os que 
são anulados pelo repetitivo. 
Sugestão de leitura 
Acesse o link a seguir e leia o texto “O instante decisivo”, de Henri 
Cartier Bresson: <http://www.uel.br/pos/fotografia/wp-content/uploads/downs-
uteis-o-instante-decisivo.pdf>. Acesso em: 13 jan. 2020. 
TEMA 4 – TEORIAS DA IMAGEM 3: ROLAND BARTHES 
A Fotografia não diz (forçosamente) aquilo que já não é, mas 
apenas e de certeza aquilo que foi. Esta sutileza é decisiva. Diante 
de uma foto, a consciência não segue necessariamente a via 
nostálgica da recordação [...], mas, para toda a fotografia existente 
no mundo, a via da certeza: a essência da fotografia é ratificar aquilo 
que representa. (Barthes, 1980, p. 95-96) 
Roland Barthes, em “A Câmara Clara” (1980), afirma que a fotografia é 
o atestado de que aquilo que se vê na imagem de fato aconteceu: é a esse 
referente “real”, existente, que ele chama de “isto foi”. 
Sendo a essência da fotografia a ratificação da cena que apresenta, 
haveria a certeza daquilo que foi presenciado e registrado pelo fotógrafo. 
Barthes (1980, p. 87) afirma ainda que “ao contrário dessas imitações 
[referentes à pintura], na Fotografia nunca posso negar que a coisa esteve lá”. 
A base do “isto foi” se refere ao noema da fotografia, a essa certeza 
de que aquilo que se atesta na imagem foi algo registrado por alguém 
que presenciou o fenômeno e o captou em registro. “A grande noema da 
Fotografia será então o ‘isto foi’ ou, ainda, o inacessível”, estende Barthes 
(1980, p. 97). 
O que Barthes chama de o “referente fotográfico” consiste no objeto 
que colocado diante da objetiva, sem o qual não existiria fotografia. No caso 
da pintura, o referente pode ter origem na imaginação do pintor, o que não 
acontece com a fotografia. Essa autenticação seria o grande diferencial da 
 
 
12 
fotografia entre os outros meios de reprodução visual, sendo essa convicção 
de existência do objeto o seu grande noema. 
O que ela [a fotografia] produz em mim não é o de restituir aquilo 
que é abolido (pelo tempo, pela distância), mas o de confirmar 
aquilo que vejo que existiu realmente. Trata-se, portanto, de um 
efeito verdadeiramente escandaloso. (Barthes, 1980, p. 92) 
Outros dois conceitos designados por Roland Barthes (1980), o óbvio e 
o obtuso, ajudam a segregar as diferentes modalidades de reconhecimento e 
interpretação dos signos. A imagem seria, pois, pontuada por dois vieses de 
leitura: 
• O leitor,ao fazer uma avaliação “ingênua”, identifica os elementos 
constitutivos da narrativa, clareando a possível mensagem: é a fase da 
leitura óbvia, que consiste no reconhecimento dos elementos. 
• Outra fase na assimilação da imagem é o caráter obtuso, a partir do qual 
o leitor decodifica os elementos dando-lhes sentidos conotativos, ao 
subverter a leitura com base nos seus conhecimentos culturais e 
agregando a eles seu conhecimento e sua interpretação com base em 
suas experiências anteriores. Com isso, nasce a diversidade das 
interpretações da imagem de forma geral. 
Nessas duas categorias, Roland Barthes faz menção a mais dois termos, 
ainda no livro A câmara clara (1980): o studium e o punctum. 
• Studium: trata-se da análise com objetivos definidos, algo que engloba a 
metodologia para a abordagem da imagem. 
• Punctum: seria algo além do que o olhar busca, ferindo o leitor com algo 
que sobressai à imagem. 
Enquanto o studium "tem a ver como afeto médio" (1980, p. 45), é um "campo 
muito vasto" (ibidem, p. 47), um detalhe (p. 69); o punctum seria "amor extremo" 
(ibidem, p. 25) e de "interesse geral" (ibidem, p. 47), um "pequeno corte" (ibidem, 
p. 46), um detalhe ao acaso: 
Sinto que a sua presença por si só modifica a minha leitura, que é uma 
nova foto que contemplo, marcada, aos meus olhos, por um valor 
superior. Este “pormenor” é o punctum (aquilo que me fere). (Barthes, 
1980, p. 51) 
 
 
 
 
13 
Sugestão de leitura 
Acesse o link a seguir e leia o artigo “Para reler A câmara clara”, de 
Ronaldo Entler. 
<http://www.faap.br/revista_faap/revista_facom/facom_16/ronaldo.pdf>. Acesso 
em: 13 jan. 2020. 
TEMA 5 – ANÁLISE E CRÍTICA FOTOGRÁFICAS 
Se toda a imagem é representação, ela deve utilizar, necessariamente, 
algumas regras de desconstrução e leitura para que possa ser compreendida. 
Se essas representações devem ser compreendidas pelos leitores, é porque 
existe entre eles um mínimo de convenção sociocultural. Ao permitir o estudo da 
articulação da imagem com a semelhança, o vestígio e a convenção é que a 
teoria da imagem apresenta não apenas a complexidade, mas também a 
força da comunicação pela imagem. 
Por isso pareceu necessário fazer tais referências teóricas nas aulas 
anteriores, antes de qualquer análise interpretativa. Para Martine Joly (1994, p. 
45), embasada na teoria semiótica de Charles Sanders Peirce (1839-1914), a 
proposta de analisar ou de explicar imagens parece, na maior parte das vezes, 
suspeita e provoca algumas questões: 
• O que se pode dizer de uma mensagem que, precisamente devido à sua 
semelhança, parece naturalmente legível? 
• Uma outra atitude é contestar a riqueza de uma mensagem visual por 
meio de um inevitável e repetitivo “o autor quis tudo isso?”; 
• Uma terceira questão diz respeito à imagem considerada como artística, 
a qual a análise deformaria, porque a arte não seria da ordem do intelecto, 
mas da ordem afetiva ou emotiva. 
Assim, é preciso considerar as generalizações e especificidades da 
fotografia por meio da articulação entre semelhança, vestígio e convenção da 
imagem e dos seus elementos. Como indicado por Boris Kossoy, a fotografia nos 
fornece uma segunda realidade, propensa a mil e uma interpretações, o que 
torna delicado o campo da investigação fotográfica, por três motivos: 
1. Não podemos analisar a imagem com os olhos do presente, pois 
fotografia é passado, mesmo que revivamos o passado no instante 
presente, o que mais um efeito desse meio visual. 
 
 
14 
2. Não conseguiríamos captar com tanta segurança as intenções do 
autor, que pode, inclusive, não ter intenção nenhuma. Isso porque às 
vezes ele tem a “sorte” de capturar um instante decisivo, ou seja, aquele 
momento em que se está no lugar certo, na hora certa e com a câmera 
fotográfica a postos. 
3. Os símbolos e os elementos da imagem são variáveis e fogem da 
interpretação coletiva. Com certeza há símbolos universais (expressão 
redundante no campo da semiótica), mas que, mesmo assim, podem 
sofrer turbulência dentro de experiências individuais. Depende de como 
armazenamos o elemento. 
Diante de tais considerações, para a análise fotográfica, é preciso, 
portanto, ir com calma. Vamos à análise de caso. 
O fotodocumentaristas brasileiro Sebastião Salgado fez um de seus 
registros na Fazenda Giacometti, interior do Paraná (Brasil), em 1996. O trabalho 
é analisado por José de Souza Martins (2008) no livro “8X Fotografia”, em uma 
profunda avaliação estética, técnica e sociológica: 
 
Fonte: <http://gpestudosemjornalismo.blogspot.com.br/2010/10/jogo-de-visibilidade-e-
invisibilidade_26.html>. Acesso em: 12 dez. 2019. 
A análise de Martins sobre a referida imagem está diluída no artigo “A 
epifania dos pobres da terra” (2008) e revela além do que o fotógrafo 
provavelmente pretenderia mostrar. Para o sociólogo Martins, o fingimento teria 
sido necessário para se conseguir a imagem, pois com a intervenção do 
fotógrafo na construção e disposição dos elementos na cena, sua atuação seria 
mais caracterizada como uma direção de cena. 
 
 
15 
Essa fotografia de Salgado, em especial, contém várias e 
desencontradas mensagens. Contém o que o autor quis mostrar e o 
que não sabia estar mostrando, mas pode ser visto mediante análise 
do conteúdo da foto. Ela é extensamente reveladora à luz do que tenho 
definido como sociologia do conhecimento visual. Essa é a razão da 
minha escolha. (Martins, 2008) 
Para essa interpretação, Martins (2008) analisa os elementos da imagem, 
percebidos e identificados ao percorrer o olhar sobre a foto: 
• O lugar aparenta ser uma fazenda, por estar cercado de vegetação. Há 
uma região demarcada com estacas e cerca de arame, caracterizando 
uma área privada, possivelmente uma fazenda. 
• No centro da imagem, há um homem usando boné e que levanta uma 
foice à frente de uma multidão. 
• Todos andam na mesma direção, e o líder, ao atravessar o portão, já 
dentro da fazenda, aponta o rumo da caminhada. 
• Há bandeiras que alguns personagens seguram, ao fundo, carregando o 
símbolo do Movimento Social Sem-Terra, identificando quem são os 
participantes do ato. 
• A travessia da porteira, ápice da cena, é identificada como uma ruptura 
com o sistema. A invasão indica a reivindicação do direito ao alcance de 
todos. 
• A linha formada pela multidão conduz o olhar a um passeio por boa parte 
da fotografia: uma romaria estaria representando simbolicamente a busca 
da “Terra Prometida”, a narrativa bíblica referente a Moisés e a seus 
seguidores. 
Em seguida, em uma análise técnica, o autor descreve o ângulo da 
tomada: o fotógrafo fez a imagem do alto, de dentro da fazenda, para trazer efeito 
de profundidade e assegurar ao fundo a vista da multidão insurgente. E é com 
essa observação que Martins atenta para a entrada do fotógrafo na cena: ao 
estar do lado de dentro da fazenda, Salgado teria sido o primeiro personagem a 
entrar no lugar. Com essa antecipação, teria se rompido o clímax e a proposta 
aparente da imagem: a ocupação “forçada” dos sem-terra na fazenda. 
O que Martins propõe, por fim, é que ao se aprofundar na leitura dessa 
imagem são revelados indícios de uma geração de sentido “proposital”, no que 
se pretende retratar a invasão e o simbolismo da luta do MST. Contudo, à luz da 
sociologia do conhecimento, os personagens não lutam mais, e sim fazem pose 
 
 
16 
para Salgado fotografá-los, assim como fazem os fotógrafos contratados para 
registrar um casamento. 
Assim, vê-se que a análise ou a crítica fotográfica deve avaliar os pontos 
técnicos-estéticos da fotografia, os elementos artísticos, mais as variações 
sociais e culturais do fotografado, do fotógrafo e de quem lê a imagem. Portanto, 
não se trata de uma literalidade ou resumo, mas, sim, de interpretação 
aprofundada e leitura, embasada em alguma teoria que discuta as teorias da 
imagem. 
TROCANDO IDEIAS 
Fotógrafos e pensadores da fotografiatêm dado grandes contribuições 
sobre a problematização da imagem. Isso porque é importante perceber a 
imagem não apenas por seu poder de encantamento, mas também por sua 
construção simbólica enquanto representação de algo. Esse “algo” e sua 
significação interessam ao campo da fotografia. As teorias sobre a interpretação 
da imagem nos ajudam a fortalecer os vínculos de sua representação. E você, 
analisa as imagens que vê diariamente de forma crítica? 
NA PRÁTICA 
Escolha uma série fotográfica (reportagem ou ensaio fotográfico) e faça 
sua leitura do trabalho, a partir do conceito do autor Roland Barthes (óbvio e 
obtuso) ou de Henri Cartier-Bresson (instante decisivo). Desenvolva um artigo 
reflexivo (1 página) lendo as imagens de sua escolha, com base na teoria 
escolhida. 
SÍNTESE 
Para entender a fotografia, é preciso ir além de sua superfície. A 
estética e a técnica, enquanto elementos constitutivos da produção da 
imagem, também fornecem indícios da recepção. Se determinada imagem nos 
choca/comove, é porque há algo no leitor da imagem, que é ferido por essa 
lembrança, que, por sua vez, é acionada pela fotografia. 
Além disso, é preciso entender a fotografia enquanto segunda realidade, 
pois ela não é a coisa em si, mas aciona a coisa a partir de sua representação. 
 
 
17 
A fotografia, assim, constitui uma linguagem, e para lê-la é preciso entender os 
elementos que fazem parte dela. 
 
 
 
18 
REFERÊNCIAS 
BARTHES, R. A câmara clara: nota sobre a fotografia. 13. ed. Rio de Janeiro: 
Nova Fronteira, 2008. 
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