Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO/HIPERATIVIDADE TEORIA E CLÍNICA ANTONIO EGIDIO NARDI • JOÃO QUEVEDO ANTÔNIO GERALDO DA SILVA // ORGANIZADORES ABP artmed Associação Brasileira de Psiquiatria TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO/HIPERATIVIDADE ABP Associação Brasileira de Psiquiatria A Artmed é a editora oficial da ABP artmed Nota: A medicina é uma ciência em constante evolução. À medida que novas pesquisas e a experiência clínica ampliam o nosso conhecimento, são necessárias modificações no trata mento e na farmacoterapia. Os organizadores/coautores desta obra consultaram as fontes consideradas confiáveis, num esforço para oferecer informações completas e, geralmente, de acordo com os padrões aceitos à época da publicação. Entretanto, tendo em vista a pos sibilidade de falha humana ou de alterações nas ciências médicas, os leitores devem con firmar estas informações com outras fontes. Por exemplo, e em particular, os leitores são aconselhados a conferir a bula de qualquer medicamento que pretendam administrar, pa ra se certificar de que a informação contida neste livro está correta e de que não houve al teração na dose recomendada nem nas contraindicações para o seu uso. Essa recomenda ção é particularmente importante em relação a medicamentos novos ou raramente usados. RIZAD OPIA NÃO AT CRIME SSOCIAÇA BRASILERA DE DIRETOS REPROGRÁACOS RESPEITES E O DIREITO A AUTORAL T772 Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade : teoria e clínica [recurso eletrônico] / Organizadores, Antonio Egidio Nardi, João Quevedo, Antônio Geraldo da Silva. – Porto Alegre : Artmed, 2015. (Teoria e Clínica). Editado como livro impresso em 2015. ISBN 978-85-8271-161-3 1. Psiquiatria. 2. Distúrbios da atenção. 3. TDAH. I. Nardi, Antonio Egidio. II. Quevedo, João. III. Silva, Antônio Geraldo da. CDU 616.89-008.47 Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO/HIPERATIVIDADE TEORIA E CLÍNICA ANTONIO EGIDIO NARDI • JOÃO QUEVEDO • ANTÔNIO GERALDO DA SILVA ORGANIZADORES Versão impressa desta obra: 2015 artmed 2015 © Artmed Editora Ltda., 2015 Gerente editorial Letícia Bispo de Lima Colaboraram nesta edição: Coordenadora editorial Cláudia Bittencourt Capa Tatiana Sperhacke Preparação de original Juliana Cunha da Rocha Pompermaier Leitura final Antonio Augusto da Roza Projeto gráfico e editoração eletrônica Bookabout Editoração Eletrônica - Roberto Vieira Reservados todos os direitos de publicação à ARTMED EDITORA LTDA., uma empresa do GRUPO A EDUCAÇÃO S.A. Av. Jerônimo de Ornelas, 670 - Santana 90040-340 - Porto Alegre, RS Fone: (51) 3027-7000 Fax: (51) 3027-7070 É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na Web e outros), sem permissão expressa da Editora. SÃO PAULO Av. Embaixador Macedo Soares, 10.735 - Pavilhão 5 Cond. Espace Center - Vila Anastácio 05095-035 - São Paulo, SP Fone: (11) 3665-1100 - Fax: (11) 3667-1333 SAC 0800 703-3444 - www.grupoa.com.br IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL Autores Antonio Egidio Nardi Psiquiatra. Professor titular da Faculdade de Medicina, Instituto de Psiquiatria, Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPUB/UFRJ). Membro titular da Academia Nacional de Medicina. João Quevedo Psiquiatra. Doutor em Ciências Biológicas (Bioquímica) pela Universidade Federal do Rio Gran de do Sul (UFRGS). Professor titular de Psiquiatria e coordenador do Curso de Medicina da Uni versidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC). Professor visitante no Department of Psychia try and Behavioral Sciences da The University of Texas Medical School at Houston, Estados Uni dos. Pesquisador 1A do CNPq. Antônio Geraldo da Silva Psiquiatra. Especialista em Psiquiatria e em Psiquiatria Forense pela Associação Brasileira de Psi quiatria (ABP/AMB/CFM). Doutoramento em Bioética pela Universidade do Porto - CFM. Presi dente da ABP. Professor de Psiquiatria do HUCF - Unimontes. Médico psiquiatra da Secretaria de Saúde do Distrito Federal. Diretor acadêmico do PROPSIQ. Psicologia da UFBA. Pesquisadora do Labora tório de Pesquisa em Neuropsicologia Clínica e Cognitiva (Neuroclic) da UFBA. Adriana Cardoso Psicóloga. Doutora em Psicologia pela UFRJ. Professora da Faculdade de Medicina e do Programa de Pós-graduação em Psiquiatria e Saúde Mental do IPUB/UFRJ. Vice-coordena dora do Laboratório de Pânico e Respiração do IPUB/UFRJ. Pesquisadora do Instituto Nacio nal de Ciência e Tecnologia Translacional em Medicina (INCT-TM/CNPq). Alexandre Martins Valença Psiquiatra. Psiquiatra Forense pela ABP. Mes tre e Doutor em Psiquiatria pelo IPUB/UFRJ. Pós-doutorado em Fisiologia da Respiração pelo Instituto de Biofísica Carlos Chagas Fi lho (IBCCF), UFRJ. Professor associado do Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental da Universidade Federal Fluminense (UFF). Professor do Programa de Pós-graduação em Psiquiatria e Saúde Mental do IPUB/UFRJ. Adriele Wyzykowski Psicóloga. Especialista em Neuropsicologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Mestranda no Programa de Pós-graduação em Autores dica em Psiquiatria do Hospital das Clínicas da UFMG. Médico da Divisão de Saúde do Trabalhador (DVST/UFRJ) e do Programa de Ensino e Pes quisa em Psiquiatria Forense do IPUB/UFRJ. Pesquisador do Laboratório de Pânico & Res piração do IPUB/UFRJ. Ana Carolina Castro Médica. Residente em Psiquiatria no IPUB/ UFRJ. Bruno Palazzo Nazar Psiquiatra. Mestre em Psiquiatria e Saúde Mental pelo IPUB/UFRJ. Coordenador da Dis ciplina de Psiquiatria Clínica e Psicofarmaco logia do IPUB/UFRJ. Pesquisador do Grupo de Estudos do Déficit de Atenção (GEDA) do IPUB-UFRJ. Ana Paula Martins dos Santos Psiquiatra. Psiquiatra da Infância e Adolescên cia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCF MUSP). Camila Souza Alves Cosmo Neurologista. Especialista em Neurologia. Mes tre em Medicina e Saúde pela UFBA. Douto randa em Processos Interativos dos Órgãos e Sistemas pelo Instituto de Ciências da Saú de da UFBA, com período sanduíche na Esco la de Medicina de Harvard, Estados Unidos. Pós-doutorado Research Fellow pela Escola de Medicina de Harvard, Estados Unidos. André B. Veras Psiquiatra. Doutor em Psiquiatria pela UFRJ. Professor do Programa de Mestrado e Douto rado em Psicologia da Saúde da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB). António Alvim Soares Psiquiatra da Infância e Adolescência. Mestre e doutorando em Medicina Molecular na Uni versidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Carla Ramos Vidal Psiquiatra. Psiquiatra adjunta do Programa de Transtorno Mental Grave da Infância e Ado lescência, Consorcio Hospitalario Provincial Castellón, Espanha. Arão Nogueira de Araújo Psicólogo. Especialista em Neuropsicologia Clínica pelo Centro de Psicologia Hospitalar e Domiciliar (CPHD), reconhecido pelo Conse lho Federal de Psicologia (CFP). Especialista em Psicoterapia Analítica pelo Instituto Jun guiano da Bahia (IJBA). Mestre em Processos Interativos dos Órgãos e Sistemas pela UFBA. Doutorando em Processos Interativos dos Ór gãos e Sistemas na UFBA. Carlos Guilherme Figueiredo Psiquiatra. Especialista emPsiquiatria pela ABP/AMB/CFM. Psiquiatra da Secretaria Es tadual de Saúde do Distrito Federal (SES/DF), Instituto de Saúde Mental (ISM). Preceptor do Internato em Psiquiatria da Universidade Ca tólica de Brasília (UCB). Coordenador científi co dos cursos de Atualização em Psiquiatria e Preparatório para Concursos pela Associação Psiquiátrica de Brasília (APBr/ABP). Bernardo Carnevale Nessimian Médico. Residente em Psiquiatria no IPUB/ UFRJ. Clayton Peixoto de Souza Psicólogo. Estudante do Estágio Probatório para Mestrado do Programa de Pós-graduação em Psiquiatria e Saúde Mental do IPUB/UFRJ, Laboratório de Pânico & Respiração. Breno Satler Diniz Psiquiatra. Doutor em Ciências pela FMUSP. Pós-doutorado em Neurociências Clínicas e Psicogeriatria pela Universidade de Pittsburgh, Estados Unidos. Professor do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina da UFMG. Cocoordenador da Residência Mé Daniel Segenreich Psiquiatra. Mestre e Doutor em Psiquiatria pelo IPUB/UFRJ. Pesquisador do Programa de Estudos de Déficit de Atenção (GEDA) da UFRJ. Membro da Comissão Científica da As Autores vii sociação Brasileira do Déficit de Atenção (AB DA). Ciências pelo IBCCF/UFRJ. Professor associa do da UFRJ. Daniela de Bustamante Carim Psicóloga. Especialista em Neuropsicologia pe lo CFP. Mestre em Psicobiologia pela Universi dade Federal de São Paulo (Unifesp). Coorde nadora do Curso de Especialização em Neu ropsicologia da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro. Gabriela Dias Psiquiatra. Especialista em Saúde Mental e Desenvolvimento Infantil pela Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro. Mestre em Psi quiatria e Saúde Mental pela UFRJ. Médica as sistente do Setor de Psiquiatria da Infância e Adolescência da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro. Danielle de Souza Costa Psicóloga. Mestre em Medicina Molecular pe la UFMG. Doutoranda em Medicina Molecu lar na UFMG. Gislaine Zilli Reus Bióloga. Doutora em Ciências da Saúde e Pós -doutorada em Neurociências pela UNESC. Debora Marques de Miranda Pediatra. Professora adjunta do Departamen to de Pediatria da UFMG. Cocoordenadora do Ambulatório NITIDA do Hospital das Clínicas da UFMG. Gonzalo Haro Cortés Psiquiatra. Doutor em Medicina. Professor as sociado de Psiquiatria na Universidad Carde nal Herrera de Castellón (CEU), Espanha. Psi quiatra do Programa de Patologia Dual Grave do Hospital Provincial de Castellón, Espanha. Eduardo Pondé de Sena Psiquiatra. Especialista em Psiquiatria pela ABP. Professor associado de Farmacologia do Departamento de Biorregulação e professor permanente da Pós-graduação em Processos Interativos dos Órgãos e Sistemas do Institu to de Ciências da Saúde da UFBA. Inis Leahy Psicóloga e neuropsicóloga clínica. Especialis ta em Neuropsicologia pelo Instituto de Psico logia (IPS) da UFBA. Mestranda em Medicina e Saúde na Faculdade de Medicina da Bahia (FAMEB), UFBA. Membro do Neuroclic e da equipe do Ambulatório de Neuropsicologia do Adulto e Idoso do Hospital Universitário Pro fessor Edgard Santos (HUPES), UFBA. Emanuel Henrique Gonçalves Querino Psicólogo. Pesquisador do Laboratório de In vestigações em Neurociência Clínica do INCT -MM da UFMG. Júlia Rodrigues Figueiredo Torres Psiquiatra. Fábia Martins Autuori de Mello Médica. Residente em Psiquiatria no IPUB/ UFRJ. Karin Martins Gomes Psicóloga. Mestre e Doutora em Ciências da Saúde pela UNESC. Fábio Barbirato Psiquiatra. Professor d e Psiquiatra da PUC -Rio. Chefe do Setor de Psiquiatria da Infância e Adolescência do Hospital Geral da Santa Ca sa da Misericórdia do Rio de Janeiro. Karine da Silva Figueiredo Bacharel em Direito. Graduanda em Psicolo gia na Universidade Paulista, Distrito Federal (UNIP-DF). Fernando Portela Câmara Psiquiatra. Especialista em Psiquiatria pe la ABP/AMB/CREMERJ. Mestre e Doutor em Katia Badin Fonoaudióloga. Fonoaudióloga do Serviço de Psiquiatria Infantil da Santa Casa da Miseri córdia do Rio de Janeiro vi Autores Leandro F. Malloy-Diniz Neuropsicólogo. Doutor em Farmacologia Bio química e Molecular pela UFMG. Professor da Faculdade de Medicina da UFMG. Presiden te da Sociedade Brasileira de Neuropsicologia (SBNP). Matias Real López Psiquiatra. Coordenador do Programa de Transtorno Mental Grave da Infância e da Adolescência, Consorcio Hospitalario Provin cial de Castellón, Espanha. Natália Canário Psicóloga. Mestranda em Psicologia do Desen volvimento na UFBA. Luis Paulo Vieira Braga Professor. Mestre em Matemática Aplicada pe la Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Doutor em Engenharia de Sistemas pela COPPE/UFRJ. Professor colabo rador no Departamento de Geologia do Insti tuto de Geociências (IGEO), UFRJ. Neander Abreu Psicólogo. Especialista em Neuropsicologia, Mestre e Doutor em Neurociências e Compor tamento pela USP. Pós-doutorado pela Univer sité du Luxembourg, Luxemburgo, e Universi ty of York, Reino Unido. Professor adjunto do IPS/UFBA. Marco Aurélio Romano-Silva Professor titular do Departamento de Saúde Mental da UFMG. Maria Antonia Serra Pinheiro Psiquiatra. Mestre e Doutora em Psiquiatria e Saúde Mental pela UFRJ. Rafael Ferreira-Garcia Psiquiatra. Especialista em Psiquiatria pelo IPUB/ UFRJ. Mestre em Psiquiatria e Saúde Mental pelo IPUB/UFRJ. Psiquiatra no IPUB/UFRJ. Marina Saraiva Garcia Psicóloga. Especialista em pelo CFP. Psicologia Clínica Renata Nayara S. Figueiredo Médica. Residente em Psiquiatria na Universi dade Estadual de Montes Claros (Unimontes). Agradecimentos A nossas esposas e nossos filhos pela com preensão em relação ao tempo que dedi camos ao trabalho acadêmico, muitas ve zes em detrimento de atividades em fa mília. À Associação Brasileira de Psiquia tria pelo apoio e chancela à coleção Teo ria e Clínica. Ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Translacional em Medicina, fi nanciado pelo CNPq, pe la infraestrutura e condições que tem oferecido às nossas pesquisas. Aos pacientes, fonte constante de inspiração na luta por uma psiquiatria de qualidade. Esta página foi deixada em branco intencionalmente. Apresentação No seguimento da série Teoria e Clíni- ca, da Associação Brasileira de Psiquia tria, este livro aborda o transtorno de dé ficit de atenção/hiperatividade (TDAH), um transtorno cujo diagnóstico gerou po lêmica durante muitos anos, e que pode trazer graves consequências para o desen volvimento da personalidade de crianças e adolescentes, prejudicando de maneira mais ou menos intensa seu desempenho escolar, sua aprendizagem e suas relações interpessoais. Além disso, ao contrário do que se pensava, trata-se de um transtor no que pode acompanhar o indivíduo pe lo resto da vida. Esta obra, organizada por Antonio Egidio Nardi, João Quevedo e Antônio Geraldo da Silva, renomados professo res, com reconhecidas qualificações pro- fissionais e científicas, vem enriquecer a literatura médica brasileira, sendo desti nada não somente a profissionais, estu dantes e pesquisadores da área biomédi ca, mas também a educadores, pacientes, familiares, legisladores e a todos aqueles interessados em melhor compreender es anstorno que afeta a vida de inúme- ras pessoas, prejudicando sua existência e trazendo sofrimento não somente a elas, mas a suas famílias e à sociedade. Apesar de figurar com destaque na literatura psiquiátrica, psicológica, psica- nalítica e de educadores somente nas úl timas décadas, é possível encontrar men ções ao TDAH, tanto na literatura como em relatos médicos, desde o início do século passado. Em 1865, um ale mão, Heinrich Hoffman, dublê de médi co e poeta, fez menção ao transtorno em um de seus poemas. Já no domínio cien tífico, em 1902, o médico inglês George Still fez uma descrição mais sistematiza da dessa patologia. No final dos anos de 1950 e nos anos de 1960, surgiu a expres são “disfunção cerebral mínima”, descre vendo uma patologia infantil com sinto mas de déficits cognitivos, inquietação, impulsividade e transtorno escolar, rela cionada a uma possível “lesão cerebral” e às vezes acompanhada de hiperativi dade. Em 1968, foi publicado nos Esta dos Unidos o DSM-II (Manual diagnósti co e estatístico de transtornos mentais, da American Psychiatric Association - APA), com a menção ao quadro de hiperativida de. Na época, os pacientes com deficit de atenção e hiperatividade já eram tratados com anfetaminas (ritalina), associando -se a patologia a uma possível fraca ativi dade eletromagnética do córtex cerebral, que precisava ser estimulado para ini bi r a s atividades subcorticais, regulando funções cognitivas como a dificuldade de concentração, reforçando a memorização se vi Apresentação eo aprendizado com consequente melho ra no desempenho escolar. No fim dos anos de 1960, início dos anos de 1970, o tema passou a preocu par profundamente educadores e profis sionais da área biomédica. Vários outros sintomas - como falta de coordenação motora, fala excessiva, interrompendo a palavra do interlocutor, problemas com o sono, dificuldade para aprender a ler ou compreender textos lidos (mais tarde des critos como consequência e uma altera ção no processamento central da audição ou da visão), assim como dificuldade na aritmética - começaram a chamar a aten ção desses profissionais devido a suas re percussões não somente na escolaridade, mas no desenvolvimento da personalida de e na vida interpessoal das crianças e adolescentes com o transtorno. Também sintomas como dificuldade de contro lar os impulsos (“pavio curto"), inibição e significativa instabilidade de humor, facilidade em distrair-se, baixa tolerân cia à frustração, comportamento antisso cial, dificuldade de coordenar e planejar a ções, falta de disciplina, desorganização e comportamento rebelde e desobedien te prejudicavam muito a relação interpes soal e levavam a conflitos com familiares, professores, colegas, entre outros. Em 1980, no DSM-III, surge a defi- nição de transtorno de déficit de atenção (TDA) com ou sem hiperatividade. Poste riormente, no DSM-III-R, no DSM-IV, no DSM-IV-TR e, agora, no DSM-5, o TDAH passa a ser descrito de maneira mais pre cisa. No início dos anos de 1990, a Orga nização Mundial da Saúde, no capítulo V da 10a edição da Classificação internacio nal das doenças (CID-10), também inclui os transtornos de atenção e hiperativida de, classificados na categoria F90. Nas últimas décadas, o TDAH pas sou a ocupar lugar de destaque nas pes- quisas, com inúmeros profissionais bus- cando suas causas a partir da compreen são de sua fisiopatologia. Este livro reflete esse s avanços no conhecimento em relação ao transtorno. Nele, o leitor encontrará capítulos que trazem desde a história do transtorno, passando pelos desenvolvimentos mais atuais de exames que auxiliam os profis sionais na busca de uma explicação para essa patologia, como imagem por resso nância magnética funcional e PET-SCAN, estudos de biologia molecular, neurofi siologia e genética. A presença do trans torno em outros membros da família e a compreensão de que ele não está res trito à infância e à adolescência (apesar de suas consequências serem mais gra ves nessas fases de formação da persona lidade e aprendizado escolar), mas conti nua na fase adulta, prejudicando o indiví duo em suas atividades pessoais, afetivas, familiares e profissionais, também são abordadas, assim como condições que si mulam o transtorno e o papel das comor bidades, como transtorno bipolar, de an siedade e uso de drogas e álcool. Apesar de alguns grupos na socie dade se manifestarem contra a interven ção farmacológica, alegando que se tra taria de medicalização de fenômenos que poderiam ser resolvidos por outros méto dos, como pe la educação, está comprova da a importância da intervenção farmaco lógica no TDAH em função de alterações na atividade cerebral observada s nessa patologia. No entanto, o ser humano não poder ser reduzido a sua dimensão bioló gica, sendo de fundamental importância um tratamento multidisciplinar, que leve em consideração, entre outros fatores, a baixa autoestima e os estresses a que são submetidos os portadores do transtorno. Assim, tanto os tratamentos farmacoló gicos como os psicoterápicos, bem como orientações às famílias, são tratados nes te livro. Apresentação vi A partir da leitura desta obra, cujos capítulos foram escritos por autores con- sagrados, profundos conhecedores dos te mas relacionados ao TDAH, certamente será possível a profissionais e estudantes da área da saúde mental, bem como a edu cadores, familiares e demais interessados, uma compreensão mais detalhada desse transtorno. Sem dúvida, este volume vem enriquecer a literatura científica brasileira. Jorge Alberto Costa e Silva Ex-presidente da Associação Mundial de Psiquiatria (WPA) Ex-di retor Internacional da Organização Mundial da Saúde em Genebra (OMS) Presidente do Instituto Brasileiro do Cérebro Esta página foi deixada em branco intencionalmente. Prefácio Transtorno de déficit de atenção/hiperativi dade é o novo livro da coleção Teoria e Clí nica, que já contava com as obras Transtor no bipolar, Depressão, Transtorno de pânico e Transtorno de ansiedade social. O objetivo da coleção é que cada obra apresente uma visão o mais completa possível do diag nóstico e do tratamento do transtorno psi quiátrico em questão, com sólida funda mentação teórica e prática, além de orien tação à abordagem terapêutica. A escolha do tema transtorno de dé ficit de atenção/hiperatividade se deve ao fato de esse ser um transtorno bastan te prevalente não apenas em crianças e adolescentes, mas também em adultos, impactando a vida do portador em dife rentes contextos, seja nos âmbitos educa cional e profissional, seja em seus relacio namentos pessoais. Neste livro são apresentadas as mais importantes teorias biológicas e psicodi nâmicas da sua gênese, bem como as fer ramentas clínicas necessárias ao diagnós tico acurado e ao tratamento preciso, tanto do p onto de vista farmacológico quanto do psicoterapêutico. Boa leitura! Os Organizadores Esta página foi deixada em branco intencionalmente. Sumário 1 Histórico do diagnóstico do transtorno de déficit de atenção/hiperatividade...... Alexandre Martins Valença, Antonio Egidio Nardi Etiologia do transtorno de déficit de atenção/hiperatividade Daniel Segenreich, Ana Carolina Castro, Bernardo Carnevale Nessimian Modelos animais de transtorno de déficit de atenção/hiperatividade ............ Gislaine Zilli Reus, Karin Martins Gomes,João Quevedo 4 Sub tipos de transtorno de déficit de atenção/hiperatividade....... .. Júlia Rodrigues Figueiredo Torres 5 Comorbidades no transtorno de déficit de atenção/hiperatividade: transtornos do humor.. Camila Souza Alves Cosmo, Eduardo Pondé de Sena, Arão Nogueira de Araújo 6 Desfecho do transtorno de déficit de atenção/hiperatividade ao longo da vida .......... Neander Abreu, Adriele Wyzykowski, Inis Leahy, Natália Canário Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade em adultos ......... Bruno Palazzo Nazar, Fábia Martins Autuori de Mello 8 Exames complementares no transtorno de déficit de atenção/hiperatividade.. Daniel Segenreich 9 Neuropsicologia do transtorno de déficit de atenção/hiperatividade ................ .85 Danielle de Souza Costa, Debora Marques de Miranda, Marina Saraiva Garcia, Karine da Silva Figueiredo, Antônio Geraldo da Silva, Leandro F. Malloy-Diniz Condições clínicas que simulam transtorno de déficit de atenção/hiperatividade... ............................... 101 Adriana Cardoso, Antonio Egidio Nardi ....... 18 Sumário ......... 131 11 Comorbidades no transtorno de déficit de atenção/hiperatividade - transtornos de ansiedade, transtorno obsessivo-compulsivo e transtorno de estresse pós-traumático.......... .109 Rafael Ferreira-Garcia 2 Comorbidades no transtorno de déficit de atenção/hiperatividade - transtornos disruptivos ....... Maria Antonia Serra Pinheiro 13 Comorbidades no transtorno de déficit de atenção/hiperatividade - transtorno específico da aprendizagem........ Gabriela Dias, Katia Badin 14 Comorbidades no transtorno de déficit de atenção/hiperatividade - drogas e álcool... Carla Ramos Vidal, Matias Real López, Antônio Geraldo da Silva, Renata Nayara S. Figueiredo, Gonzalo Haro Cortés 15 Uso de escalas de rastreamento no transtorno de déficit de atenção/hiperatividade ............ Emanuel Henrique Gonçalves Querino, Marina Saraiva Garcia, Breno Satler Diniz, Antônio Geraldo da Silva, Leandro F. Malloy-Diniz 16 Avaliação crítica de escalas de rastreamento.......... 155 Fernando Portela Câmara, Antônio Geraldo da Silva, Luis Paulo Vieira Braga | Gênero e transtorno de déficit de atenção/hiperatividade ....... . 163 Clayton Peixoto de Souza, Ana Paula Martins dos Santos, André B. Veras Tratamento farmacológico com estimulantes no transtorno de déficit de atenção/hiperatividade.... .......... Fábio Barbirato, Carlos Guilherme Figueiredo, Gabriela Dias, Antônio Geraldo da Silva 19 Tratamento do transtorno de déficit de atenção/hiperatividade com não estimulantes ..... .. ... Fábio Barbirato, Carlos Guilherme Figueiredo, Gabriela Dias, Antônio Geraldo da Silva, Antonio Alvim Soares Custo-efetividade no tratamento de transtorno de déficit de atenção/hiperatividade ...... .... ......... .. 185 Marco Aurélio Romano-Silva, Debora Marques de Miranda, António Alvim Soares 21 Orientação aos pais no transtorno de déficit de atenção/hiperatividade...... .... 193 Daniela de Bustamante Carim, Fábio Barbirato Índice .. ....... .......... ............203 Histórico do diagnóstico do transtorno de déficit de atenção/hiperatividade Alexandre Martins Valença Antonio Egidio Nardi INTRODUÇÃ O ciência sobre um objeto, e a espontânea, que é o tipo de atenção suscitado pelo inte resse momentâneo, incidental, sendo des pertada por esse ou aquele objeto. A aten ção espontânea geralmente está aumen tada naqueles estados mentais em que o indivíduo tem pouco controle voluntário O termo atenção refere-se àquela parte do aparato cognitivo que permite ao indiví- duo focalizar aspectos seletivos de esti mulos sensoriais e ideias enquanto man- tém estímulos potencialmente perturba dores à parte. Visto que a mente humana não pode processar, ao mesmo tempo, to dos os estímulos que recebe de fontes in- ternas e externas, os processos de atenção selecionam, filtram e organizam informa ções provenientes dos meios externo e in terno.1 Como todos os demais fenômenos psíquicos, a atenção não pode ser enten dida desvinculada do restante do psiquis mo. Essa função psíquica desempenha importante papel na afetividade, na me- mória e na consciência. Na área cognitiva do psiquismo, a atenção funciona como elemento da seletividade perceptiva e no direcionamento do pensamento. Trata -se de uma função diferente da consciên- cia, mas dependente desta. Assi m, graus variados de atenção são possíveis com consciência plena, mas atenção e concen tração completas são impossíveis com a consciência diminuída.3 A atenção pode ser dividida em dois tipos básicos: a voluntária, que exprime a concentração ativa e intencional da cons- A atenção espontânea é determina da pelas mudanças e oscilações do exte rior e depende da intensidade do estímu lo, das mudanças bruscas e repetidas, da novidade do estímulo e das condições do indivíduo (seus interesses, necessidades, estados de ânimo, higidez psíquica, fadi ga, etc.). A atenção voluntária representa a dimensão humana da atenção, resulta da atividade deliberada e consciente do homem.2 Outros conceitos importantes no es tudo da atenção são a tenacidade e a vi gilância. Tenacidade (ou capacidade de concentração) é a capacidade de man ter a atenção em determinado objeto por certo tempo. Vigilância ou mobilidade da atenção é a capacidade de, a qualquer momento, desviá-la de um objeto para outro. Tenacidade e vigilância são quali dades opostas: se uma aumenta, a outra tende a diminuir de intensidade.5 No transtorno de déficit de atenção/ hiperatividade (TDAH), ocorrem hipote 10 Nardi, Quevedo & Silva (orgs.) nacidade e hipermobilidade da atenção. Além do distúrbio da atenção, há impul- sividade e hiperatividade. O crescente in teresse pelo TDAH em adultos é demons trado pelo significativo aumento de publi cações a esse respeito nos últimos anos. Estudos demonstraram que o transtorno persiste na vida adulta em um grande nú mero de indivíduos, causando compro metimento significativo.6 HISTÓRICO DO CONCEITO DE TDAH Primórdios As características de crianças e adoles centes com TDAH sã o atividade moto ra excessiva, falta de atenção e impulsi vidade. Uma análise histórica da lite ratura sugere que crianças com e sses sintomas vêm sendo descritas por mui tos autores durante os últimos duzentos anos. A primeira descrição de um trans torno semelhante ao que hoje é conheci do como TDAH foi feita pelo médico esco cês Alexander Crichton, em seu livro Uma investigação da natureza e origem da per turbação mental: Compreendendo um sis tema conciso da fisiologia e patologia da mente humana e uma história das paixões e seus efeitos. Nesse livro, Crichton descre- veu a "incapacidade de prestar atenção com um grau necessário de constância a qualquer objeto”.? Também, que, nessas crianças, "a atenção era mudada de for ma incessante de uma impressão para ou tra”. Crichton apontou, ainda, a dificulda de delas em atenderdemandas educati vas e suas dificuldades escolares.? As descrições de Crichton, entretan to, não refletem inteiramente o concei to atual de TDAH. Ele não menciona, por exemplo, sintomas de hiperatividade. Os pacientes com "atenção mórbida”, descri tos por ele, poderiam apresentar outros transtornos associados com deficits aten- cionais, como trauma cerebral, disfunção metabólica e epilepsia. Em 1902, o pediatra inglês George Still descreveu crianças que eram inquie tas, impulsivas e desatentas e com proble mas da conduta, alterações comportamen tais essas que até então eram explicadas por falta de educação. Esse autor acredi tava que uma combinação de fatores or gânicos e ambientais resultava em falta de inibição do controle e desatenção, sendo esses os sintomas primários da síndrome.8 Depois da epidemia de encefalite em 1919 e 1920, muitos pediatras nota ram um aumento no número de pacientes com sintomas de hiperatividade, falta de foco e impulsividade. Na época, acredita va-se que os distúrbios comportamentais apresentados por essas crianças eram de correntes de alguma lesão cerebral, ain da que não demonstrável. Pesquisas dos anos de 1930 e 1940 davam suporte à ideia de que haveria uma conexão cau sal entre dano cerebral e comportamen to desviante. A partir dessa ideia surgiu o conceito de lesão cerebral mínima, que persistiu até a década de 1960 , seguido pelo conceito de disfunção cerebral mí nima. Esse conceito enfatizava a impor tância de fatores neurológicos, incluindo lesões cerebrais por hipoxia pré-natal ou perinatal, na etiologia da disfunção cere bral mínima.? C. Bradley, em 1937, demonstrou que a benzedrina (d- e l-anfetamina) re duzia a inquietude e melhorava a capaci dade de concentração e a motivação das crianças com a síndrome. Keith Conners confirmou essa observação, em 1967, por meio de um estudo controlado com place bo e dextroanfetamina em crianças com problemas de aprendizado e comporta mento escolar. Durante a década de 1970, estudos realizados com base em pesquisas cientí ficas demonstraram que as principais difi culdades das crianças com essa síndrome Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade pareceu como “tipo predominantemen te desatento". Essa classificação também incluía os tipos "hiperativo/impulsivo” e eram a manutenção da atenção e o con- trole dos impulsos. Na CID-9,10 foi des- crita como síndrome hipercinética da in fância, que destacava "curto período de atenção", distraibilidade, hiperatividade extrema e impulsividade, alterações do humor e agressividade. Diagnóstico e classificações contemporâneas O termo transtorno de déficit de atenção (TDA) surgiu em 1980, com a publicação do DSM-III.11 Essa nova definição enfa tizava que o ponto central do problema era a dificuldade de concentrar-se e man ter a atenção. De acordo com o DSM-III, 11 havia dois tipos de TDA: com hiperativi dade e sem hiperatividade, com ambos os tipos incluindo dificuldade de aten ção. As crianças que se enquadravam no TDA com hiperatividade eram considera das excessivamente ativas, impulsivas e se comportavam muitas vezes de manei ra destrutiva, forma essa mais comum no sexo masculino. O DSM-III11 também re conhecia que as crianças com TDA muitas vezes se transformavam em adultos com TDA e, em função disso, o termo “TDA-ti- po residual” foi incluído. Em 1987, na terceira edição revisada do Manual diagnóstico e estatístico dos trans tornos mentais (DSM-III-R), 12 da American Psychiatric Association (APA), todos os sintomas (déficit de atenção, impulsivida de e hiperatividade) foram considerados igualmente importantes, e surgiu o termo Transtorno de déficit de atenção/hipera tividade. A descrição do TDAH no DSM - III-R12 eliminou o subtipo TDA sem hipe ratividade. Em seu lugar, havia referên cia a um “tipo indiferenciado” de TDAH. Esse problema foi remediado no DSM -IV,13 com a retirada do “tipo indiferen- ciado", e a permanência da expressão TDAH. O TDAH sem hiperatividade rea- A CID-1014 aproximou suas diretri zes diagnósticas às resultantes das pes quisas que gerariam os critérios diagnós ticos do DSM-IV,13 embora tenha mantido a designação de transtornos hipercinéti cos. De acordo com Martins e colabora dores, 15 estudos têm demonstrado que os critérios da CID-1014 para o TDAH são convergentes com os critérios do DSM -IV13 para o TDAH combinado. No DSM-5,16 a lista de 18 sintomas, sendo nove de desatenção, seis de hipe ratividade e três de impulsividade (estes dois últimos computados conjuntamen te), permaneceu igual à edição anterior. O ponto de corte para o diagnóstico, isto é, o número de sintomas acima a partir do qual se faz o diagnóstico, também per maneceu o mesmo (seis sintomas de de satenção e/ou seis sintomas de hiperativi dade-impulsividade). No caso de adultos, esse número passou para cinco sintomas, o que é um novo critério. Para serem con siderados clinicamente significativos, os sintomas de desatenção e hiperatividade -impulsividade devem estar presentes du rante pelo menos seis meses. A necessi dade de haver comprometimento em pe lo menos duas áreas diferentes (p. ex., casa e escola), o Critério C, permaneceu inalterado. A necessidade de haver claro comprometimento na vida acadêmica, so cial, profissional, etc. (Critério D), tam bém permaneceu idêntica. O Critério E se modificou em rela ção ao DSM-IV.13 Antes, não era possível fechar o diagnóstico de TDAH caso hou vesse um quadro de autismo, o que ago ra é viável. Entretanto, permanecem as exigências de os sintomas não ocorrerem exclusivamente durante outro quadro (p. ex., esquizofrenia) e não serem mais bem explicados por outro transtorno (p. ex., WWS Nardi, Quevedo & Silva (orgs.) ansiedade e depressão). O Critério B, que determina a idade de início dos sintomas, também foi modificado. Anteriormente, era necessário demonstrar que os sinto mas estavam presentes antes dos 7 anos de idade, o que era particularmente di fícil no caso de adultos com TDAH que em geral têm dificuldade para lembrar-se desse período e cujos pais já são mais ve lhos. O limite de idade foi modificado pa ra 12 anos. Os "subtipos” foram retirados do manual; optou-se, em seu lugar, pelo em prego do termo "apresentação", denotan do que o perfil de sintomas atuais pode se modificar com o tempo (o que é bas tante comum). O termo "subtipo ” favore c ia a interpretação errada de que aquela era uma "subcategoria” estável, fixa, do TDAH. As apresentações mantêm as mes mas "divisões” que os antigos subtipos: com predomínio de desatenção, com pre domínio de hiperatividade-impulsividade e apresentação combinada.17 O DSM-516 traz a opção d e TDAH com remissão parcial, que deve ser em pregado naqueles casos em qu e houve diagnóstico pleno de TDAH anteriormen te (i.e., de acordo com todos os critérios), porém com um menor número de sinto mas atuais. Uma última novidade dessa quinta edição é a possibilidade de se classificar o TDAH como leve, moderado e grave, de acordo com o grau de comprometimen to que os sintomas causam na vida do in divíduo. 17 2. Sá Júnior LSM. Psicopatologia e propedêutica.Rio de Janeiro: Atheneu; 1984. p.122-4. 3. Sims A. Sintomas da mente. 2. ed. Porto Alegre: Artmed; 2001. p. 45-54. 4. Dalgalarrando P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre: Artmed; 2000. p. 71-3. 5. Cheniaux E. Manual de psicopatologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2002. p. 25-8. 6. Dias G, Segenreich D, Nazar B, Coutinho G. Diagnosticando o TDAH em adultos na prática clínica. J Bras Psiquiatr. 2007;56 Suppl 1:9-13. 7. Lange KW, Reichi S, Lange KM, Tucha L, Tucha 0. The history of attention deficit hyperactivi ty disorder. Atten Defic Hyperact Disord. 2010; 2(4):241-55. 8. Hechtman L. Attention-deficit hyperactivity dis order. In: Sadock BJ, Sadock VA, Kaplan & Sa dock's: comprehensive textbook of psychiatry. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins; 2005. p. 3183-204. V. 2. 9. Portella Nunes E, Bueno R, Nardi AE. Psiquiatria e saúde mental: fundamentos de psiquiatria cli nica. Rio de Janeiro: Atheneu; 2004. p. 13-23. 10. Classificação Internacional de Doenças: CID-9: revisão de 1975. Brasília: Ministério da Saúde/ USP/OPAS; 1978. v. 1. 11. American Psychiatric Association. Diagnos tic and statistical manual of mental disor ders: DSM-III. 3rd ed. Washington: American Psychiatric Association; 1980. 12. American Psychiatric A ssociation. Diagnos tic and statistic manual of mental disorders: DSM-III-R. 3rd ed rev. Washington: American Psychiatric Association; 1987, 13. American Psychiatric Association. Manual diag nóstico e estatístico de transtornos mentais; DSM-IV. 4. ed. Porto Alegre: Artes Médicas; 1995. 14. Classificação de Transtornos Mentais e de com portamento da CID-10. Porto Alegre: Artes Mé dicas; 1992. 15. Martins S, Tramontina S, Rohde LA. Integran do o processo diagnóstico. In: Rohde LA, Mattos P. Principios e práticas em TDAH. Porto Alegre: Artmed; 2003. p. 151-60. 16. American Psychiatric Association. Diagnostic and statistic manual of mental disorders: DSM 5. 5th ed. Washington: American Psychiatric As sociation; 2013. 17. Mattos P. Entenda o TDAH nos critérios do DSM -V. Rio de Janeiro: ABDA; 2013. [capturado em 28 de jul. 2014]. Disponível em: http://www. tdah.org.br/br/textos/textos/item/964-enten da-o-tdah-nos-crit%C3%A9rios-do-dsm-v.html. REFERÊNCIAS 1. Cohen RA, Salloway S, Zawacki T. Aspectos neuropsiquiátricos dos transtornos de atenção. In: Yudofsky SC, Hales RE. Neuropsiquiatria e neurociências n a prática clínica. 4. ed. Porto Alegre: Artmed; 2006. p. 417-45. Etiologia do transtorno de déficit de atenção/hiperatividade Daniel Segenreich Ana Carolina Castro Bernardo Carnevale Nessimian INTRODUÇÃO A investigação de possíveis fatores causais de um fenômeno, com finalidade de me lhor compreender a sua origem, é um dos objetivos das pesquisas sobre etiologia. A medicina, compreendida como parte das ciências naturais, sempre esteve asso ciada à investigação das bases etiológicas das diversas enfermidades que acometem os seres humanos. Intuitivamente, pode- -se supor que o reconhecimento da etiolo gia de uma doença possibilita seu melhor tratamento e prevenção. Esse modelo de pensamento é utilizado com bastante su cesso em diversos campos da medicina, e com frequência é usado para a investiga- ção das causas dos diversos transtornos psiquiátricos. Possivelmente o maior desafio im posto à investigação das bases etiológicas dos transtornos psiquiátricos reside no fa to de que, em quase todos os casos, sua etiologia é multifatorial e de difícil men suração. A etiologia do transtorno de dé ficit de atenção/hiperatividade (TDAH) não foge à regra e pode servir como um ótimo exemplo desse desafio. Se, em um primeiro momento, diversos pesquisado- res e clínicos podem se sentir perdidos ou mesmo desmotivados, um segundo olhar sobre as bases etiológicas do TDAH pode revelar um campo de conhecimento ex tremamente útil e instigante. Uma estratégia metodológica fre quente consiste em se investigarem pos síveis fatores causais por meio de sua as sociação com marcadores biológicos do transtorno. Essa metodologia é especial mente necessária quando a condição pes quisada tem apresentações clínicas mui to heterogêneas. O TDAH é um exemplo claro de heterogeneidade clínica, o que torna a associação direta do diagnóstico com possíveis fatores causais algo quase impossível. Como já se sabe que o TDAH tem alto coeficiente de herdabilidade (76%), pode-se dizer que fatores genéticos são importantes em sua etiologia. Os estudos epidemiológicos, especialmente os de ba se familiar, representaram um marco ini cial na investigação etiológica do TDAH. Um dos achados mais relevantes foi o re conhecimento do aumento da prevalên cia de sintomas de TDAH em familiares de portadores do transtorno, tendo-se co mo base de comparação a população em geral. Demonstrou-se também que paren tes de primeiro grau têm risco aumenta do em 2 a 8 vezes de também apresen tar TDAH quando comparados a contro les. Quando são avaliados os filhos de pacientes com TDAH, o aumento do ris 18 Nardi, Quevedo & Silva (orgs.) co de eles também apresentarem o trans- torno chega a 57%.2 Um estudo que com- parou o aumento de risco em irmãos de indivíduos acometidos mostrou que este é ainda maior em irmãos de adultos com TDAH, quando comparados a irmãos de crianças com o mesmo diagnóstico.3 Há extensa literatura sobre a utiliza ção dos estudos com famílias na pesqui s a sobre etiologia do TDAH. Entretanto, a maioria dos estudos iniciais que inves tigaram associações de sintomas ou mes mo diagnósticos entre integrantes de uma mesma família não mostrou resultados com relevância estatística ou que fossem reproduzidos em outras amostras. Isso acabou se repetindo nos estudos poste riores que tentavam associar sintomas de TDAH e achados de genética molecular, ou, ainda, naqueles que investigavam as sociação entre TDAH e fatores ambientais. Como as investigações que partiram do fenótipo se mostraram imprecisas, houve um crescente aumento pelo inte resse de se usarem fenótipos intermedia rios, denominados endofenótipos, nos es tudos de TDAH. O conceito de endofenótipo foi in troduzido nas pesquisas em psiquiatria há cerca de 40 anos.4 Pode ser considerado como intermediário ao genótipo e o fenó tipo, sendo definido como traços heredi tários, quantitativos, que apontam para a possibilidade de um indivíduo desenvol ver determinada doença. Algumas condições precisam ser atendidas para se identificar um aspecto específico como possível endofenótipo. É necessário que os mesmos genes que in fluenciam um endofenótipo guardem re lação também com o fenótipo. Os endo fenótipos estão presentes em pacientes e também devem estar presentes em fa miliares de primeiro grau que não apre- sentam o transtorno. Sua associação com achados genéticos é potencialmente mais precisa do que a encontrada para o fenó tipo estudado. Os endofenótipos necessi tam ser mensurados e não são diretamen te observados, como os fenótipos. Há di ferentes categorias de endofenótipos: cognitivos (neuropsicológicos), neuroquí micos, anatômicos e neurofisiológicos.5 Os endofenótipos (ou fenótipos in termediários) terão, nes se caso, função semelhante à dos marcadores biológicos citados anteriormente. No campo de pes quisas sobre o TDAH, os endofenótipos mais investigados são relacionados aos déficits neuropsicológicos que se esperam nesses pacientes. Entre eles, podem-se ci tar como exemplos a dificuldade em sus tentar a atenção e o comprometimento das capacidades de inibir respostas pre cipitadase manter a motivação em tare fas demoradas. investigação de possíveis endo fenótipos em TDAH, aliada à pesquisa de associação destes aos fatores gené ticos, psicossociais ou mesmo gestacio nais, constitui, em linhas gerais, o campo atual de pesquisas em etiologia do TDAH. A escolha de endofenótipos candidatos que justifiquem uma pesquisa ocorre por meio do entendimento da fisiopatologia do transtorno. No caso do TDAH, existem pelo menos três importantes modelos teó ricos que objetivam descrever sua fisiopa tologia. Com a finalidade de tornar mais di dático este capítulo, serão apresentados esses três principais modelos teóricos so bre o TDAH e, em seguida, as principais linhas de investigação sobre fatores etio lógicos relacionados ao transtorno. MODELOS TEÓRICOS SOBRE A FISIOPATOLOGIA DO TDAH O TDAH é caracterizado pela presença de um grupo de sintomas bastante heterogê neos entre si, que podem ser divididos em três grandes grupos: desatenção, hipera tividade e impulsividade. Além desses sintomas, sabe-se também que são mui Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade 18 to frequentes sintomas como desorgani- zação, inadequado planejamento de tare fas, comprometimento da percepção de tempo e de memória operacional, além de execução incompleta de tarefas longas e dificuldades em observação e reconhe cimento de erros cometidos durante sua realização. Esses sintomas foram agrupa- dos e denominados como disfunção exe- cutiva. Outros sintomas também frequente mente pesquisados e atribuídos ao TDAH dizem respeito à dificuldade de ativação e ao esforço para a realização de tarefas mais longas, difíceis ou maçantes. Esses sintomas são associados às dificuldades motivacionais características em pacien tes que apresentam o transtorno. O reconhecimento do comprometi mento de funções executivas e também da motivação impulsionou diversas pes quisas sobre a neuropsicologia do TDAH. Os modelos teóricos sobre a fisiopatolo gia do TDAH têm o objetivo de integrar os sintomas clínicos às bases neuropsicológi cas e anatômicas do transtorno e, com is so, fornecer um sistema teórico que facili te a investigação de sua etiologia. respostas verbais ou motoras ou mesmo comportamentos que sejam inadequa dos em determinado momento ou situa ção. O segundo domínio foi chamado de metacognição e inclui funções executi vas como memória de trabalho verbal e não verbal, planejamento, capacidade de solucionar problemas e autorregulação emocional. Seguindo-se esse modelo, o TDAH seria considerado primordialmente um transtorno do funcionamento executivo, e esse entendimento poderia ajudar nas pesquisas de etiologia, bem como na prá tica clínica, no que tange ao diagnóstico diferencial com outros transtornos que acometem a atenção. Modelo de aversão à espera (delay aversion modeh Modelo de disfunção executiva O foco sobre o comprometimento do fun cionamento executivo em pacientes com TDAH foi defendido por Barkley e outros autores desde a década de 1990. Uma descrição feita em 19976 sugere que pa cientes com TDAH apresentem compro metimento nas seguintes funções: 1) me mória de trabalho; 2) autorregulação de motivação e sustentação de esforço para realização de tarefas; 3) internalização de lingnagem; 4) reconstituição do compor tamento (análise e síntese). Uma revisão mais recente, publicada em 2010,7 suge re a existência de dois domínios distintos de funções executivas. O primeiro refe re-se à capacidade do indivíduo de inibir No início dos anos 2000, Sonuga-Barke8 propôs um novo modelo a partir da ob servação de dois subgrupos distintos de pacientes com TDAH. Sem negar a exis tência de pacientes que apresentavam predominantemente disfunção executi va (sobretudo dificuldades de inibição de respostas indesejadas), ele descreveu pa cientes com TDAH que se destacavam por apresentar maiores dificuldades em mo tivação. Para esses sujeitos, o tempo de corrido entre a realização de uma tarefa e o seu resultado (recompensa) precisa va ser pequeno. Em outras palavras, exi biam menor tolerância para recompensas tardias. Consequentemente, apresenta vam menor motivação para iniciar tarefas mais longas e maior dificuldade em man ter sua execução. A associação entre os déficits neu ropsicológicos recém-descritos e as vias neuroanatômicas correlacionadas tam bém foi detalhada. Achados que indica ram disfunção executiva, especialmente de controle inibitório, foram associados a distúrbios no circuito estriatal fronto 18 Nardi, Quevedo & Silva (orgs.) mente desatenção, e um terceiro, mais di f iculdades em motivação e persistência. dorsal e em seus ramos mesocorticais do- paminérgicos. Já os achados relacionados a déficit em motivação foram associados aos circuitos estriatais de recompensa em região frontoventral, em seus ramos me solímbicos com projeções em estriado ven tral, especialmente no nucleus accumbens. FATORES ETIOLÓGICOS ASSOCIADOS AO TDAH Modelo cognitivo-energético Após as hipóteses teóricas descritas, Sergeant10,11 formulou um novo mode lo para o TDAH que combina achados dos modelos anteriores a uma avaliação mais detalhada dos processos energéti cos necessários para a manutenção de atenção e realização de tarefas. O autor divide seu modelo teórico em três níveis. O primeiro nível (cognitivo) representa mais propriamente a atenção e os com ponentes que a definem - de modo mais específico as capacidades de decodifica ção do estímulo atentivo, seleção de fo co, decisão por realizar tarefa e organi zação e recrutamento de motricidade ne cessária para atividade. O segnndo nível se refere aos aspec tos energéticos. Para a realização de uma atividade, é preciso esforço, que é defini do como a energ ia necessária direciona da para se iniciar uma tarefa. Os outros dois componentes se referem às capaci dades de se manter alerta e predisposto a responder aos estímulos do ambiente e de prontamente responder a um estímu lo específico. O terceiro nível se associa às funções executivas, necessárias para gerencia mento de tarefas. Mais especificamente, planejamento, monitoramento, detecção e correção de erros. Segnndo esse mode lo, pacientes com TDAH podem apresen tar características clínicas heterogêneas e p ossivelmente subtipos diferentes do transtorno. Um paciente pode apresen tar mais sintomas associados à disfunção executiva, enquanto outro, mais propria- Os estudos iniciais sobre a etiologia do TDAH focaram-se sobretudo na investiga ção das bases genéticas do transtorno.13,14 Essa es colha apresentava respaldo nos achados obtidos nos estudos de famílias e no alto coeficiente de herdabilidade encon trado.12 Entretanto, os resultados obtidos nos estudos de genética molecular sobre TDAH não foram suficientes para explicar todos os sintomas e apresentações clínicas do transtorno. Por esse motivo, a hipóte se sobre a natureza multifatorial das bases etiológicas do TDAH foi reforçada. 15-17 Atualmente, existem diversas li nhas de pesquisas que se dedicam a ex plorar de modo detalhado possíveis fato res etiológicos diversos e a relação entre eles (Fig. 2.1). Conhecendo-se essas ba ses, procura-se compreender como todas essas relações se associam aos endofenó tipos, emseguida aos sintomas e, por fim, ao diagnóstico do TDAH. A seguir, serão descritos os principais campos de pesqui sa e as intersecções entre eles. Contribuições da genética molecular para a etiologia do TDAH Existem diferentes modelos propostos pa ra a investigaçã o das bases genéticas do TDAH. Podem-se relacionar os principais a seguir: 1. Investigação de genes candidatos 2. Análise de variantes comuns por meio de varreduras genômicas 3. Análise de variantes raras por meio de varreduras genômicas Em uma metanálise de 200917 que reúne resultados sobre a investigação de Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade 13 genes candidatos, Gizer e colaboradores17 riantes raras para a etiologia do TDAH se apontam para associações relevantes en faz necessária. tre TDAH e genes que codificam o trans A busca por variantes raras vem au portador de dopamina (DAT1) e recepto mentando em frequência nos últimos res dopaminérgicos (DRD4 e DRD5), en anos. Um recente achado sobre variante tre outros. Contudo, os autores também rara em DRD4 pode exemplificar um dos salientam a importante heterogeneidade promissores caminhos do estudo da gené entre os achados de associações e suge tica do TDAH. Tovo-Rodrigues e colabo rem a necessidade de mais estudos que radores, 19 em 2012, demonstraram que considerem fatores moderadores (como indivíduos que apresentavam mais fre gênero, subtipo de TDAH, fatores am quentemente o achado de 7R/7R para o bientais, etc.). VNTR do exon 3 do DRD4 também apre Em 2010, Neale e colaboradores18 sentavam uma quantidade superior de publicaram resultados surpreendentes variantes raras. Esses indivíduos também referentes à metanálise de variantes co apresentavam chances aumentadas de muns em TDAH por meio de varreduras TDAH. A mesma análise para indivíduos genômicas. Em sua investigação, não fo com 4R/4R para este VNTR não mostrou ram encontradas associações com resul associação significativa para o diagnósti tados estatísticos relevantes necessáriosco de TDAH. para estudos de varredura (P-valor de Genro e colaboradores20 revisam os 5x10-8). Seus resultados ratificam que principais marcos do estudo de genética as contribuições individuais de varian do TDAH, com ênfase na produção bra tes comuns são pouco expressivas e que sileira. Concluem que as investigações a realização de mais pesquisas sobre va realizadas até o momento estão longe de Estudos sobre exposição pré-natal Estudos sobre genética molecular Estudos sobre meio familiar Estudos de interação gene e ambiente Estudos sobre epigenética Figura 2.1 Diferentes linhas de pesquisas em etiologia do TDAH. 18 Nardi, Quevedo & Silva (orgs.) (COMT), dopamina B-hidroxilase (DBH) e diversos outros genes. A diferença entre a consistência dos achados genéticos obtidos e a frequência aumentada de TDAH em estudos de famí lias de portadores sugeriram que outros fatores podem estar associados ao trans torno. Pesquisas sobre gestação e hábitos maternos durante o período gestacional (tabagismo, uso de álcool) tornaram-se frequentes.23 Outro campo com resulta dos também muito significativos diz res peito à investigação de como a psicopa tologia parental pode influenciar na for ma de criação, cuidado e educação dos filhos.24 Atualmente, considera-se que é a conjugação de fatores genéticos, ambien te familiar e história gestacional que me lhor pode responder às dúvidas sobre a etiologia do TDAH. apresentar resultados definitivos. A maio- ria das variantes estudadas se localiza em regiões não codificadoras do genoma hu mano. Vários estudos vêm sendo realiza dos para se compreender o papel funcio nal de polimorfismos comuns do genoma humano. As pesquisas que abordam genes relacionados a divisão celular, migração neuronal e processos de remodelação do citoesqueleto indicam um amplo campo de n ovas e promissoras possibilidades de estudos em genética molecular do TDAH.21 Li e colaboradores22 publicaram re- cente revisão sobre esses achados. Os re sultados apresentados mostram que ain da não há dados conclusivos que pos sam associar determinados genes à causa do TDAH. Entretanto, alguns desses ge nes parecem contribuir para um peque no aumento na suscetibilidade ao TDAH. Entre os mais estudados, têm destaque O SLC6A3, que codifica o transportador de dopamina (DAT1), e o gene que co difica o receptor de dopamina (DRD4). O intuito de se estudarem esses genes vem da compreensão de como os psico estimulantes utilizados para o tratamen to do TDAH funcionam, bem como dos avanços de neuroimagem e neurofisiolo gia que permitiram mapear vias neuro nais dopaminérgicas associadas a aten ção e funcionamento executivo. Recen te metanálise foi realizada e resumiu os achados sobre genes ligados à transmis são dopaminérgica e sua associação com a etiologia do TDAH. É o caso dos genes DRD1, DRD2, DRD3, DRD5, SLC6A4 e SLC6A2.17 Além das pesquisas sobre transmis são dopaminergica, há resultados tam bém positivos sobre genes que codifi cam os receptores adrenérgicos (ADRA2A e ADRA2C) e também serotonérgicos (HTR2A, HTR2C, HTR1B). Achados sig nificativos também foram relatados em estudos sobre catecol-0 metiltransferase Estudos sobre exposição pré-natal a fatores de risco Já existe uma extensa literatura sobre a influência de determinados fatores asso ciados a história gestacional e exposição pré-natal e o risco para TDAH. Entre os principais fatores pesquisados, destacam -se a exposição materna ao álcool e taba co, bem como histórico gestacional de so frimento fetal e pré-eclâmpsia. Uma pesquisa conduzida por Ge tahun e colaboradores25 identificou que crianças expostas a asfixia neonatal, sín drome de angústia respiratória e pré -eclampsia apresentaram maior risco de desenvolver TDAH quando comparadas às crianças do grupo-controle (não expos tas aos fatores de risco pesquisados). De monstraram também que pré-eclâmpsia se manteve como um fator de risco signi ficativo para TDAH, independentemente da idade gestacional. O tabagismo durante a gestação é com frequência pesquisado como possí Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade 10 pressivos durante a gestação não mostra ram resultados positivos consistentes pa ra associação com aumento de risco de TDAH.29-31 Estudos sobre fatores psicossociais e ambiente familiar vel fator de risco para transtornos do neu- rodesenvolvimento. Linnet e colaborado- res26 encontraram associação significa tiva entre tabagismo durante a gravidez e risco para síndromes hipercinéticas na prole. Essa associação se manteve mes mo após controle de variáveis confundi doras gestacionais ou familiares (p. ex., alterações perinatais diversas, fatores so cioeconômicos e história psiquiátrica fa miliar). Já se sabe que intenso consumo de álcool durante a gestação está associa do ao aumento do risco de malformações congênitas e até mesmo morte fetal. A ex posição pré-natal ao álcool é reconheci da como fator de risco para transtornos neuropsiquiátricos e consequente com prometimento de cognição. Uma recente pesquisa em gestantes demonstrou que o intenso consumo de álcool foi significati vamente associado a sintomas de TDAH n a prole.27Além desses mais comuns, a expo sição intrauterina à intoxicação materna por chumbo parece contribuir como um fator de risco para o desenvolvimento de sintomas de TDAH. Em pesquisa sobre ex posição pré-natal ao chumbo, Nigg28 en controu resultados positivos entre es se aspecto e o aumento de risco para o diagnóstico de TDAH, subtipo combina do. Embora outras pesquisas nesse campo não tenham encontrado resultados seme lhantes, a exposição ao chumbo vem sen do amplamente estudada como possível fator de risco, em função da frequência com que esse metal é encontrado no am biente, sobretudo em países ocidentais. Outros possíveis fatores de risco vêm sendo pesquisados, porém os resul tados atuais ainda não são consistentes. Entre esses achados, destacam-se pesqui s as sobre exposição pré-natal a glicocor ticoides exógenos, paracetamol ou mes mo inseticidas contendo organofosfora dos. Estudos sobre cafeína, modificações em dieta ou mesmo utilização de antide Variáveis relacionadas ao meio fami liar já são amplamente reconhecidas co mo de fundamental importância na etio logia e expressão do TDAH. A psicopato logia parental, em especial, se associa a transtornos psiquiátricos na prole. Os fi lhos de mães com depressão têm chan ces 2 a 5 vezes maiores de desenvol ver algnm transtorno psiquiátrico quan do comparados aos de mães-controle (sem depressão). Em um estudo de se guimento,32 observou-se que a incidên cia de TDAH foi maior entre filhos de mães com depressão. Esse resultado per maneceu positivo quando se excluiu his tória de depressão gestacional, e sugere que a presença de sintomas depressivos nas genitoras interfere de forma negativa na interação entre mães e filhos, tornan do-a mais hostil ou crítica. As consequên cias costumam ser notadas no prejuízo sobre as atividades e práticas parentais. Um meio menos acolhedor ou mais aver sivo pode intensificar sintomas de desa tenção ou comportamentais, aumentando a expressão clínica do TDAH em crianças já suscetíveis. Além dos achados citados sobre sin tomas depressivos e ansiosos em pais, a presença do TDAH em um dos pais exerce diferentes influências no relacionamento familiar e no desenvolvimento da crian ça com esse diagnóstico.33 A variável que mais demonstrou influência foi o gênero do progenitor. Homens que não apresen tavam TDAH, casados com mulheres com esse diagnóstico, mostraram-se mais an siosos e críticos em relação às esposas, e frequentemente associavam sintomas de 30 Nardi, Quevedo & Silva (orgs.) TDAH de seus filhos a seu julgamento de inadequados cuidados maternos. Em contrapartida, a presença de TDAH em pais, quando as mães não apre sentam o diagnóstico, tornam estas mais compreensivas quanto ao s sintomas de TDAH apresentados por seus filhos. Nes se caso, elas passam a apresentar mais to lerância e um papel mais acolhedor com relação a seus filhos. Embora não se possa definir que o meio familiar esteja implicado de modo direto na causa do TDAH, já se sabe que crianças suscetíveis podem ser fortemente influenciadas por psicopatologia parental ou inadequadas práticas parentais e, com isso, ter maior expressão e gravidade de sintomas de desatenção, hiperatividade, ansiedade ou mesmo de depressão. po combinado quando exibia simultanea mente um específico alelo de risco de DAT 1 (DAT 1 9-repeat risk allele) e histó ria de exposição pré-natal à nicotina. Es se resultado não foi encontrado para ex posição ao álcool. O segundo exemplo de GXE diz res peito à interação com estímulo psicosso cial, mais precisamente do meio familiar. Laucht e colaboradores36 não observaram efeito siguificativo das cinco variantes de DAT1 pesquisadas sobre os sintomas de TDAH. Em seguida, todos os indivíduos foram avaliados em seu contexto familiar. Foi aplicado um instrumento que avalia 11 diferentes fatores familiares adversos, como, por exemplo, discórdia parental ou baixo nível educacional parental. Indiví duos homozigóticos para o alelo de ris co DAT1 (DAT 1 10-repeat risk allele), ex postos a níveis mais altos de adversidade familiar, tinham maiores pontuações em instrumentos que avaliavam desatenção e hiperatividade/impulsividade. Estudos de interação gene e ambiente (G X E) Estudos de epigenética em TDAH Muitos dos estudos sobre interação gene e ambiente procuram analisar a influên cia do ambiente sobre um indivíduo que apresenta um alelo de suscetibilidade. 34 Esse é o formato mais comum nos estu dos sobre etiologia do TDAH. Uma divi- são inicial pode ser feita, considerando -se a natureza do estímulo ambiental. Es se estímulo pode ser de origem biológica/ química ou a partir de estímulos psicos sociais, e mais propriamente do ambiente familiar. Embora não seja o objetivo des te capítulo descrever todos esses estudos, dois exemplos serão destacados para faci litar a compreensão dessas linhas de pes quisa. Neuman e colaboradores35 conduzi ram uma pesquisa que avaliou interação entre alelos de suscetibilidade para os ge nes que codificavam DRD4 e DAT1 e ex posição pré-natal a tabagismo e álcool. Dentre os resultados mais siguificativos, pode-se destacar o aumento de chan ces de a criança apresentar TDAH subti O conceito de epigenética surge a par tir dos estudos de interação gene e am biente. Representa, na verdade, um tipo peculiar de interação G X E. Nesse caso, um fator ambiental pode modificar dire tamente a expressão de um determinado gene em um indivíduo, modificando, as sim, sua suscetibilidade a um determina do fenótipo. Essas modificações podem ser transmitidas p or gerações e não es tão implicadas em mudanças da estrutura original do DNA. Estudos de epigenética em TDAH ainda são iniciais e frequentemente in conclusivos. Mesmo assim, em recente revisão sobre o tema, Archer e colabo radores37 sugerem um papel importante da epigenética nas pesquisas sobre trans tornos do neurodesenvolvimento. Os es tudos nesse campo reforçam a importân Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade 30 cia das interações entre g ene e ambien- tivo, ser á necessário, por exemplo, com te, bem como as diferentes formas de separar gêmeos monozigóticos a dizigóti modificar a expressão de um gene. Por cos; filhos adotivos a biológicos; ou mes fim, sugerem que a investigação das ba mo famílias migrantes versus famílias ses etiológicas do TDAH se aproxima das estabelecidas. pesquisas sobre etiologia de outros trans Outro grande desafio consiste em tornos do neurodesenvolvimento. aproximar novas estratégias estatísticas, que melhor possam avaliar fenômenos complexos e multifatoriais. Embora mui CONSIDERAÇÕES FINAIS tas delas já sejam empregadas em outras áreas , seu uso recorrente no campo mé o conhecimento sobre a etiologia do dico ainda é incomum. Em pesquisas de TDAH tem avançado muito nas últimas famílias, destaca-se o uso de modelos es duas décadas; mesmo assim, ainda apre tatísticos multiníveis, mais apropriados senta desafios relevantes para sua melhor para se avaliarem dados de observações compreensão, e se podem destacar alguns agrupadas. O uso de equações estruturais deles, bem como os esforços que serão re vem permitindo a formulação de modelos levantes para vencê-los. causais multifatoriais que melhor se ajustam à compreensão de complexos fenô menos comportamentais. Por último, po Novos desafios na genética de-se também ressaltar a utilização de modelos matemáticos bayesianos. A esta A genética molecular ainda representa tística bayesiana se destaca por, entre ou um campo com muitas novas possibilida tros motivos, melhor avaliar amostras pe des de estudos. Estratégias consagradas, quenas, especialmente quando compara incluindo-se varreduras genômicas, ou da à metodologia estatística clássica. mesmo sequenciamento de genes candi datos, não mostraram acurácia suficien te. Técnicas mais recentes, aliadas a co Importância das nhecimento mais avançado, vêm permi variáveis psicossociais tindo, por exemplo, pesquisas genéticas sobre variantes rar as ou mesmo investi Por fim, vale destacar o aumento da im gações mais apuradas sobre epigenética e portância dada aos estudos de ambiente sua importância para as doenças do neu familiar e genética.38 Se, por muito tem rodesenvolvimento. p o, eles foram relegados à pesquisa sobre conduta clínica/terapêutica, atualmen te vêm sendo destaque na compreensão Avanços em genética epidemiológica das bases etiológicas de diversos trans e novos recursos estatísticos tornos neuropsiquiátricos. Modelos mais recentes têm incluído variáveis clínicas, O campo de estudos da genética epide neuropsicológicas e até de neuroimagem miológica consiste em definir desenhos em complexas redes estatísticas e, com is epidemiológicos mais sofisticados como so, encontrado resultados instigantes. 39 intuito de dar melhor suporte às pesqui Pode-se considerar que as últimas sas sobre transmissão de endofenótipos três décadas foram muito importantes pa ou mesmo de g enética molecular, a uxi ra a pesquisa da etiologia dos transtornos liando, assim, na escolha de desenhos de mentais. Há alguns anos, as apostas sobre estudos familiares. Dependendo do obje- quais eram as bases etiológicas do T 30 Nardi, Quevedo & Silva (orgs.) se concentravam nos estudos clássicos da genética molecular. Os resultados que se seguiram comprovaram que, embora o fe nômeno de hereditariedade na gênese do TDAH seja indiscutível, as respostas sobre sua etiologia são mais complexas do que originalmente se imaginava, e, sem som bra de dúvida, não estão restritas apenas ao campo da genética e da biologia mo lecular. REFERÊNCIAS 1. Faraone SV, Perlis RH, Doyle AE, Smoller JW, Goralnick JJ, Holmgren MA, et al. Molecular genetics of attention-deficit/hyperactivity disor der. Biol Psychiatry. 2005;57(11):1313-23. 2. Biederman J, Faraone SV, Mick E, Spencer T, Wi lens T, Kiely K, et al. High risk for attention defi cit hyperactivity disorder among children of pa rents with childhood onset of the disorder: a pi lot study. Am J Psychiatry. 1995;152(3):431-5. 3. Manshadi M, Lippmann S, O'Daniel RG, Black man A. Alcohol abuse and attention deficit di sorder. J Clin Psychiatry, 1983;44(10):379-80. 4. Gottesman I, Shields J. Schizophrenia and ge netics: a twin study Vantage Point. New York: Academic Press; 1972. 5. Rommelse NN. Endophenotypes in the genetic research of ADHD over the last decade: have they lived up to their expectations? Expert Rev Neurother. 2008;8(10):1425-9. 6. Barkley RA. Behavioral inhibition, sustained at tention, and executive functions: constructing a unifying theory of ADHD. Psychol Bull. 1997; 121(1):65-94. 7. Barkley RA. Differential diagnosis of adults with ADHD: the role of executive function and self -regulation. J Clin Psychiatry. 2010;71(7):e17. 8. Sonuga-Barke EJ. Psychological heterogeneity in AD/HD: a dual pathway model of behaviour and cognition. Behav Brain Res. 2002;130(1-2): 29-36. 9. Sonuga-Barke EJ. Causal models of attention -deficit/hyperactivity disorder: from common simple deficits to multiple developmental pa- thways. Biol Psychiatry. 2005;57(11):1231-8. 10. Sergeant JA. The cognitive-energetic model: an empirical approach to attention-deficit hyperac tivity disorder. Neurosci Biobehav Rev. 2000; 24(1):7 -12. 11. Sergeant JA. Modeling attention-deficit/hype ractivity disorder: a critical appraisal of the cog nitive-energetic model. Biol Psychiatry. 2005; 57(11):1248-55. 12. Posthuma D, Polderman TJC. What have we le arned from recent twin studies about the etiolo gy of neurodevelopmental disorders? Curr Opin Neurol, 2013;26:111-21. 13. Franke B, Neale BM, Faraone SV. Genome-wide association studies in ADHD. Human Genetics. 2009;126:13-50, 14. Neale BM, Medland SE, Ripke S, Asherson P. Franke B, Lesch KP, et al. Meta-analysis of ge nome-wide association studies of attention-de ficit/hyperactivity disorder. J Am Acad Child Adolesc Psychiatry. 2010;49:884-97. 15. St ergiakouli E, Hamshere M, Holmans P. Lan gley K, Zaharieva, I, Hawi Z, et al. Investigating the contribution of common genetic variants to the risk and pathogenesis of ADHD. Am J Psy chiatry. 2012;169:186-94. 16. Williams NM, Franke B, Mick E, Anney RJL, Freitag CM, Gill M, et al. Genome-wide analy sis of copy number variants in attention deficit hyperactivity disorder: the role of rare variants and duplications at 15913.3. Am J Psychiatry. 2012;169(2):195-204. 17. Gizer IR, Ficks C, Waldman ID. Candidate gene studies of ADHD: a meta-analytic review. Hum Genet. 2009;126(1):51-90. 18. Neale BM, Medland SE, Ripke S, Asherson P. Franke B, Lesch KP, et al. Meta-analysis of ge nome-wide association studies of attention-de ficit/hyperactivity disorder. J Am Acad Child Adolesc Psychiatry. 2010;49(9)4:884-97. 19. Tovo-Rodrigues L, Rohde LA, Roman T, Schmitz M, Polanczyk G, Zeni C, et al. Is there a role for rare variants in DRD4 gene in the susceptibility for ADHD? Searching for an effect of allelic he terogeneity. Mol Psychiatry, 2012;17(5):520-6. 20. Genro JP, Roman T, Rohde LA, Hutz MH. The Brazilian contribution to Attention-deficit/hype ractivity disorder inolecular genetics in children and adolescents. Genet Mol Biol. 2012;35 Sup pl 4:932-8. 21. Poelmans G, Pauls DL, Buitelaar JK, Franke B. Integrated genome-wide association study fin dings: identification of a neurodevelopmental network for attention deficit hyperactivity di sorder. Am J Psychiatry. 2011;168(4):365-77. 22. Li Z, Chang SH, Zhang LY, Gao L, Wang J. Molecu lar genetic studies of ADHD and its candidate ge nes: a review. Psychiatry Res. 2014;219(1): 10-24. 23. Abbott LC, Winzer-Serhan UH. Smoking during pregnancy: lessons learned from epidemiologi cal studies and experimental studies using ani mal models. Crit Rev Toxicol. 2012; 42(4):279 303. 24. Deault LC. A systematic review of parenting in relation to the development of comorbidities and functional impairments in children with at tention-deficit/hyperactivity disorder (ADHD). Child Psychiatry Hum Dev. 2010;41(2):168-92. Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade 31 25. Getahun D, Rhoads GG, Demissie K, LU SE, Quinn Ve Fassett MJ, et al. In utero exposure to ischemic-hypoxic conditions and attention -deficit/hyperactivity disorder. Pediatrics. 2013; 131(1):e53-61. 26. Linnet KM, Wisborg K, Obel C, Secher NJ, Thomsen PH, Agerbo E, et al. Smoking during pregnancy and the risk for hyperkinetic disorder in offspring. Pediatrics. 2005;116(2):462-7. 27. Glass L, Graham DM, Deweese BN, Jones KL, Riley EP, Mattson SN. Correspondence of parent report and laboratory measures of inattention and hyperactivity in children with heavy pre natal alcohol exposure. Neurotoxicol Teratol.
Compartilhar