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Governador Vice Governador Secretária da Educação Secretário Adjunto Secretário Executivo Assessora Institucional do Gabinete da Seduc Coordenadora da Educação Profissional – SEDUC Cid Ferreira Gomes Domingos Gomes de Aguiar Filho Maria Izolda Cela de Arruda Coelho Maurício Holanda Maia Antônio Idilvan de Lima Alencar Cristiane Carvalho Holanda Andréa Araújo Rocha Apostila de Meio Ambiente CURSO TÉCNICO EM MINERAÇÃO Engenheiro de Minas José Chaves Neto 2013 Mineração – Meio ambiente e Mineração 1 ÍNDICE Tópico Página 1- Objetivos................................................................................................. 03 2- Introdução............................................................................................... 04 3- Conceitos básicos.................................................................................... 06 4- Impactos ambientais da atividade de mineração...................................... 07 5- Fatores que influenciam a natureza e a extensão dos impactos ambientais 26 6- Delimitação dos impactos causados pela mineração................................... 28 7- Exemplos no Brasil do efeito da mineração no meio ambiente.................. 41 8- A questão econômica.................................................................................. 46 9- Engenharia Ambiental............................................................................... 47 10- Demanda crescente................................................................................... 48 11- O impacto positivo da mineração............................................................. 50 12- O bom exemplo da VALE e da MRN.......................................................... 53 13- Exemplos positivos de fechamento de mina........................................... 57 14- Licenciamento Ambiental....................................................................... 60 15- Barragens e depósitos de rejeitos............................................................ 61 16- Controle de vibrações, ruídos e pó.......................................................... 64 17- Revegetação e reflorestamento................................................................ 77 18- Paralisação temporária e fechamento de mina....................................... 79 19- Insumos e resíduos................................................................................. 82 20- Plano de Controle de Impactos Ambientais na Mineração (PCIAM).... 84 21- Conclusões.............................................................................................. 116 22- Bibliografia...................................................................................... 116 Mineração – Meio ambiente e Mineração 2 1- Objetivos O presente curso objetiva identificar e descrever ao aluno, os processos de recuperação ambiental de áreas degradadas através de revegetação, construção de barragens e depósitos de rejeitos. Também busca apresentar os processos de reaproveitamento e reuso dos rejeitos do tratamento de minérios e por fim, propor alternativas de solução com vistas a recuperação do meio ambiente. Deve ficar claro que uma das premissas do curso e seu material é a de que mineração e meio ambiente podem e devem conviver de maneira harmoniosa (histórico e desenvolvimento sustentável). Figura - Pousada e churrascaria alocadas na área revegetada do pit da mina. Mineração – Meio ambiente e Mineração 3 2- Introdução Mineração é um termo que carrega com sigo um pesado significado, destruição. Em nosso passado a mineração se inicia na pré-história com a obtenção de silex e cherte com o objetivo de fazerem armas e utensílios domésticos. A partir daí tornou-se cada vez mais avançada a tecnologia para extração e beneficiamento do minério com melhor teor e melhor qualidade. Uma Jazida e voltada para o mineral que extrai tornando cada mineração individual e especifica. A principal diferença e a mais importante encontram-se nos tipos de lavra (céu aberto ou subterrânea). Para o futuro é indispensável a existência da mineração, como conseqüência disso é considerada um bem público devido seus produtos serem utilizados em tudo que esta a nossa volta. Baseado nisso a sua maior preocupação é a recuperação de áreas degradadas em sua exploração. Os impactos que a mineração pode causar na comunidade que esta inserida e dentro de sua própria organização são alarmantes. De forma sucinta são descritos abaixo: 1- Os recursos hídricos são tomados por partículas sólidas vindas do processo de pesquisa, beneficiamento e da infra-estrutura; óleos, graxas e elementos químicos deixados no solo podendo alterar águas subterrâneas - poluindo a matéria prima indispensável para a atividade humana. 2- A geologia de sua área é perdida após a abertura da cava modificando de forma brusca o relevo, podendo causar erosões voçorocas e assoreamentos. 3- O solo é alterado de forma drástica após a retirada da cobertura vegetal para abertura da cava e construção de vias de acesso altera de gravemente em sua permeabilidade. 4- A vegetação da área pode ser perdida se não retirada de forma cuidadosa catalogando todas as espécies que poderão ser usadas para recuperação da área. 5- A fauna também deve ser catalogada, fazendo controle de refugio aos bichos após a destruição de seu habitat. 6- A qualidade do ar é alterada, provocada por veículos pesados e leves que circulam na empresa e no desmonte de rocha onde partículas sólidas finas desprendem-se formando uma nuvem de poeira alastrando a uma grande distancia. Mineração – Meio ambiente e Mineração 4 7- Ruídos e vibrações gerados pelos desmontes de rocha podendo ser amenizado com outras técnicas. 8- As condições socioeconômicas da comunidade serão interferidas voltando sua formação profissional e estrutura da cidade para a mineração. A mineração é um dos setores básicos da economia do Brasil, contribuindo de forma decisiva para o bem estar e a melhoria da qualidade de vida das presentes e futuras gerações. É importante reconhecer e manter sob controle os impactos que esta atividade provoca no meio ambiente, assim proporcionando um meio ambiente adequado para as futuras gerações que estão por vir. As alterações do equilíbrio ecológico e o impacto da atividade humana sobre o planeta começaram a se transformar em assunto de preocupação de alguns cientistas e pesquisadores durante a década de 60 e ganharam dimensão política a partir da década de 70., sendo que atualmente são um dos assuntos mais polêmicos do mundo. Não é mais possível implantar qualquer projeto ou discutir qualquer planejamento sem considerar o impacto sobre o meio ambiente. As atividades humanas, as chamadas econômicas, alteram o meio ambiente, sendo a mineração e a agricultura as duas atividades econômicas básicas da economia mundial. Através destas, o homem extrai recursos naturais que alimentam toda a economia. Sem elas, nenhuma das atividades subseqüentes pode existir. A mineração e a agricultura, junto com a exploração florestal, a produção de energia, os transportes, as construções civis (urbanização, estradas, etc.) e as indústriasbásicas (químicas e metalúrgicas) são os causadores de quase todo o impacto ambiental existente na terra. O impacto das demais atividades econômicas torna-se pouco significativo quando comparado às citadas anteriormente. A mineração, evidentemente, causa um impacto ambiental considerável. A atividade minerária altera intensamente a área minerada e as áreas vizinhas, onde são feitos os depósitos de estéril e de rejeito. Além do mais, quando temos a presença de substâncias químicas nocivas na fase de beneficiamento do minério, isto pode significar um problema sério do ponto de vista ambiental. Figura – Aspecto do terreno remanescente de uma lavra a céu aberto abandonada. Mineração – Meio ambiente e Mineração 5 Figura- Remoção dos topos da montanha pelas minas de carvão, na região de Appalachia/EUA 3- Conceitos básicos Os recursos minerais são bens esgotáveis e não renováveis. Por esse fato, tendem a escassez à medida que se desenvolve a sua exploração. Antes de discutirmos mais detalhadamente a questão ambiental, é necessário se conhecer algumas definições técnicas muito utilizadas na para alguns termos utilizados na área de mineração: Beneficiamento ou tratamento: processamento da substância mineral extraída, preparando-a com vistas à sua utilização industrial posterior. Mineração – Meio ambiente e Mineração 6 Bota-fora: local para deposição do estéril da mina e, às vezes, para o rejeito da usina de beneficiamento. Capeamento: Camada estéril que recobre a jazida mineral e que deve ser retirada para efeito de extração do minério na lavra a céu aberto. Estéril: termo usado em geologia econômica para as substâncias minerais que não têm aproveitamento econômico. Jazidas minerais: Massa individualizada de substância mineral ou fóssil, aflorando à superfície ou existente no interior da terra, em quantidades e teores que possibilitem seu aproveitamento em condições econômicas favoráveis. Mina: é a jazida mineral em fase da lavra, abrangendo a própria jazida e as instalações de extração, beneficiamento e apoio. Mineral: é toda substância natural formada por processos inorgânicos e que possui composição química definida. Minério: mineral ou associação de minerais que pode, sob condições econômicas favoráveis ser utilizado como matéria prima para a extração de um ou mais metais. Rejeito: rochas ou minerais inaproveitáveis presentes no minério e que são separadas deste, total ou parcialmente, durante o beneficiamento. Figura- Mineração de carvão no Rio Grande do Sul, processo de recuperação de áreas mineradas. 4- Impactos ambientais da atividade de mineração. Mineração – Meio ambiente e Mineração 7 Assim como toda exploração de recurso natural, a atividade de mineração provoca impactos no meio ambiente seja no que diz respeito à exploração de áreas naturais ou mesmo na geração de resíduos. Segundo CPRM (2002), os principais problemas oriundos da mineração podem ser englobados em cinco categorias: poluição da água, poluição do ar, poluição sonora, subsidência do terreno, incêndios causados pelo carvão e rejeitos radioativos. A seguir, serão relatadas algumas atividades de exploração mineral onde são abordados os impactos ambientais gerados durante o processo de exploração e disposição de seus resíduos. Já na fase inicial (prospecção geológica) de um do projeto de mineração, os conflitos se iniciam com a chegada mesma da equipe de prospecção ao local de estudo geológico, como é facilmente identificável numa pequena localidade, geralmente, aonde estranhos se dirigem e iniciam frenético trabalho de amostragem e eventuais perfurações, com interações entre tal equipe e a comunidade local possuindo vários graus de confiabilidade, embora, quase sempre, “meio-que-misteriosa”! Nesta fase, há o início de falsas expectativas, otimistas ou pessimistas, que se avolumam de forma incontrolada, caso deixadas ao acaso. Nos dias que correm, quando de um trabalho de prospecção geológica, numa determinada área ou localidade, sem histórico de atividade mineira anterior, é comum o envio, primeiro, de “olheiros”, geralmente especialistas em psicologia de grupo ou antropologia, que possam identificar o “quem-é-quem” naquela particular comunidade, ou comunidades vizinhas, preparando o terreno para a equipe geológica vir a executar seu trabalho, dessa forma minimizando riscos de falsas expectativas e comunicação. A prospecção geológica e, mais tarde, os estudos propriamente ditos, ocasionam perturbações ao meio-ambiente, quer através de desmatamentos, quer através da obtenção de amostras, quer através da utilização de equipamentos, podendo, inclusive, gerar exposições de afloramentos com suas consequências nem sempre inocentes, por exemplo, focos produtores de drenagem ácida. Em suma, uma boa campanha de prospecção geológica e mais tarde estudos geológicos, deve visar a MINIMIZAÇÃO das massas envolvidas (amostras tomadas, pontos de amostragem, água utilizada e descartada e dejetos produzidos); minimização da energia utilizada equipamentos e maquinaria) assim como na minimização dos efluentes Mineração – Meio ambiente e Mineração 8 gerados pela atividade de amostragem e fontes de energia utilizada, diesel, por exemplo, bem como impactos ecológicos durante operações de desmatamento e perfuração. Por outro lado, como já observado, deverá buscar uma maximização da satisfação social, tal como definida anteriormente, através da geração de clima favorável a uma boa percepção publica do que está ocorrendo e/ou ocorrerá, bem como minimizando falsas, sejam pessimistas ou otimistas, expectativas. Mineração – Meio ambiente e Mineração 9 Figura – Etapas e procedimentos básicos para a recuperação de áreas degradadas. Mineração – Meio ambiente e Mineração 10 Mineração – Meio ambiente e Mineração 11 4.1. Alguns dos principais tipos de extração mineral no Brasil 4.1.1. Carvão O carvão catarinense foi descoberto em 1822. Durante o século XIX predominavam as pequenas produções, com extração totalmente manual, possibilitando uma lavra seletiva. No início do século XX, principalmente a partir de 1930 e 1940, foram elaboradas as primeiras leis que obrigavam o consumo, pelas indústrias nacionais, de 10 e 20%, respectivamente, do carvão nacional em substituição ao importado. A partir de 1961 foi abandonada a mineração seletiva, e o produto minerado continha de 60 a 65% de estéril, tornando seu transporte antieconômico ao Lavador Central de Capivari. Assim, foram instalados prélavadores nas bocas das minas para produzir o chamado "carvão pré-lavado”, com 28 a 32 % de cinzas, o qual era enviado ao Lavador de Capivari. Os rejeitos xistoso e piritoso produzidos nos pré-lavadores foram sendo depositados, durante décadas, próximos aos pré-lavadores, causando grande impacto ambiental, principalmente devido à presença da pirita. As drenagens ácidas são provenientes dos rejeitos contendo sulfetos, em forma de pirita, que ao ficarem expostos à água e ao ar, oxidam-se gerando acidez. Este passivo ambiental até hoje causa danos aos recursos hídricos da região. Os Governos Federal e Estadual e o mineradores de carvão de Santa Catarina foram condenados em Sentença da JustiçaFederal, em janeiro de 2000, a promover toda a recuperação ambiental da região afetada pela mineração carvão no prazo de três anos. Com o objetivo de atender a sentença citada, os réus criaram um Comitê Gestor que está desenvolvendo estudos e trabalhos de recuperação ambiental, que resultou no Projeto Conceitual para Recuperação Ambiental da Bacia Carbonífera Catarinense, elaborado pelo CETEM, CANMET, órgão do Natural Resources do Canada e SIECESC Sindicato da Indústria de Carvão do Estado de Santa Catarina. No caso da mineração de carvão, a céu aberto, que geralmente abrange grandes áreas, pode ocorrer a poluição nas águas e no ar e por isso, requer um sistema rígido de recuperação da área pós-minerada. Mineração – Meio ambiente e Mineração 12 Na região carbonífera de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul a poluição hídrica causada pela drenagem ácida é provavelmente o impacto mais significativo das operações de mineração e beneficiamento do carvão mineral. Essa poluição decorre da infiltração da água de chuva sobre dos rejeitos gerados nas atividades de lavra e beneficiamento, que alcançam os corpos hídricos superficiais e/ou subterrâneos. Essas águas adquirem baixos valores de pH (< 3), altos valores de ferro total, sulfato total e vários outros elementos tóxicos que impedem a sua utilização para qualquer uso e destroem a flora e a fauna aquática. Figura- Rio contaminado por rejeitos de extração de carvão no município de Siderópolis (SC). (foto: Célio Yano) Figura- Rejeito de carvão em Criciúma (SC). O material bruto extraído em solo brasileiro, com altos teores de cinza e enxofre, é considerado de baixíssima qualidade. Em algumas áreas, chega-se a descartar 75% do que é extraído. (foto: Célio Yano) Mineração – Meio ambiente e Mineração 13 Figura- Além dos acidentes de trabalho, os mineiros estão expostos a outra grave ameaça, a pneumoconiose. Causada pela inalação contínua da poeira do carvão, a doença reduz a expectativa de vida do portador, uma vez que restringe a entrada de ar pelas vias respiratórias. (foto: Célio Yano) 4.1.2. Ouro Na província aurífera do Quadrilátero Ferrífero em Minas Gerais, a presença do elemento tóxico arsênio merece destaque no que se refere aos efeitos da mineração no meio ambiente. Em Nova Lima e Passagem de Mariana, funcionaram, por várias décadas, fábricas de óxido de arsênio, aproveitado como subproduto do minério. Os rejeitos de minério ricos em arsênio foram estocados às margens de riachos ou lançados diretamente nas drenagens, provocando grande comprometimento ambiental do solo e água. 4.1.3. Chumbo, Zinco e Prata As minas de chumbo, zinco e prata do Vale da Ribeira/SP estiveram ativas durante longo período do século XX, especialmente nas décadas de 70 e 80. Os materiais resultantes dos processos de metalurgia e refino do minério de chumbo foram estocados nas margens do rio Ribeira. As últimas minas e a refinaria encerraram suas atividades em novembro de 1995. Segundo a CPRM foram realizados estudos na população infantil, nos municípios de Adrianópolis e Cerro Azul no Paraná e, Ribeira e Iporanga em São Paulo, envolvendo análises de Chumbo total em sangue e arsênio em urina. As concentrações de chumbo no sangue foram superiores aos limites aceitos pelos padrões técnicos internacionais. Mineração – Meio ambiente e Mineração 14 Figura – Pilha de rejeito no vale do ribeira/PR de chumbo. Figura – Mineradora Plumbum instalada a beira do rio no Vale do Ribeira/PR. 4.1.4. Agregados para Construção Civil Os bens minerais (areia, argila e brita) de emprego direto na construção civil, por sua importância para os setores de habitação, saneamento e transportes, são considerados como bens minerais de uso social. A produção desses minerais, por fatores mercadológicos, impõe sua atuação próxima dos centros consumidores, caracterizando-se como uma atividade típica das regiões metropolitanas e urbanas. O índice de clandestinidade dessa atividade é significativo e preocupante. Os impactos ambientais Mineração – Meio ambiente e Mineração 15 provocados são grandes e descontrolados, degradando ambientes de delicado equilíbrio ecológico (dunas e manguezais), alterando canais naturais de rios e os aspectos paisagísticos. No geral as cavas são utilizadas como bota-fora da construção civil e até mesmo como lixões. Figura – Lavra em cava em pedreira localizada no município de Eusébio. 4.1.5. Garimpos A garimpagem provoca impactos ambientais comuns a todas as áreas submetidas a esse tipo de extração rudimentar e predatória, principalmente a contaminação dos recursos hídricos. No Brasil existem diversas áreas, localizadas nos estados de Minas Gerais e Bahia, que historicamente possuem atividades garimpeira. Os principais impactos ambientais decorrentes dessa atividade são: a) desmatamentos e queimadas; b) alteração nos aspectos qualitativos e no regime hidrológico dos cursos de água; c) queima de mercúrio metálico ao ar livre; d) desencadeamento dos processos erosivos; e) turbidez das águas e mortalidade da ictiofauna; g) fuga de animais silvestres; h) poluição química provocada pelo mercúrio metálico na biosfera e na atmosfera. Mineração – Meio ambiente e Mineração 16 4.2. Conseqüências da Mineração no Meio Ambiente 4.2.1. Degradação da Paisagem O principal e mais característico impacto causado pela atividade minerária é o que se refere à degradação visual da paisagem. Não se pode, porém, aceitar que tais mudanças e prejuízos sejam impostos à sociedade, da mesma forma que não se pode impedir a atuação da mineração, uma vez que ela é exigida por essa mesma sociedade. Figura – Lavra de rochas ornamentais em matacões, Rio Grande do Sul. Pedreira desenvolvida sem planejamento e pouco mecanizada Mineração – Meio ambiente e Mineração 17 4.2.2. Ruídos e Vibração O desmonte de material consolidado (maciços rochosos e terrosos muito compactados) é feito através de explosivos, resultando, em conseqüência, ruídos quase sempre prejudiciais à tranqüilidade pública. Para minimizar estes impactos podem ser adotadas certas medidas: - orientação da frente de lavra; - controle da detonação. A onda de choque gerada por explosivos apresenta comportamentos distintos, de acordo com a distância e o tipo de material. Um método para suavizar os impactos causados pela detonação consiste em provocar uma descontinuidade física no maciço rochoso. Para evitar ruídos decorrentes dos equipamentos de beneficiamento, deve-se aproveitar ao máximo os obstáculos naturais ou então criar barreiras artificiais, colocando o estoque de material beneficiado ou a ser tratado entre as instalações e as zonas a proteger. 4.2.3. Tráfego de Veículos O tráfego intenso de veículos pesados, carregados de minério, causa uma série de transtornos à comunidade, especialmente naquela situação mais próxima às áreas de mineração, como: poeira, emissão de ruídos, freqüente deterioração do sistema viário da região. 4.2.4. Poeira e Gases Um dos maiores transtornos sofridos pelos habitantes próximos e/ou os que trabalham diretamente em mineração, relaciona-se com a poeira. Esta pode ter origem tanto nos trabalhos de perfuração da rocha como nas etapas de beneficiamento e de transporteda produção. Estes resíduos podem ser solúveis, ou particulares que ficam em suspensão como lama e poeira. A contribuição da mineração para a poluição do ar é principalmente uma poluição por poeira. A poluição por gases a partir da mineração é pouco significativa, e em geral de restringe à emissão dos motores das máquinas e veículos usados na lavra e beneficiamento do minério. 4.2.5. Contaminação das Águas Mineração – Meio ambiente e Mineração 18 Quanto à poluição das águas provocada pela mineração, a maior parte das minerações no Brasil provoca poluição por lama. A poluição por compostos químicos solúveis, também existe e pode ser localmente grave, mas é mais restrita. O controle no caso de lama é termicamente simples, mas pode requerer investimentos consideráveis. As minerações de ferro, de calcário, de granito de areia e argila, da bauxita, de manganês, de cassiterita, de diamante e várias outras, provocam em geral poluição das águas apenas por lama. O controle tem que ser feito através de barragens para contenção e sedimentação destas lamas. As barragens são muitas vezes os investimentos mais pesados em controle ambiental realizado pelas empresas de mineração. Por outro lado, estas barragens servem também para recirculação de água e podem não ser considerados investimentos exclusivos de controle ambiental. Além da poluição por lama, muitas minerações provocam poluição de natureza química, por efluentes que se dissolvem na água usada no tratamento do minério ou na água que passa pela área de mineração. As minerações de ouro podem apresentar problemas mais complexos de contaminação das águas, por usarem cianetos altamente tóxicos no tratamento do minério. Além disso, muitos minérios de ouro são ricos em arsenopirita e provocam contaminação por arsênico. Pode-se dizer com segurança que o problema ambiental mais sério provocado pela mineração no Brasil, é a contaminação por lama e por mercúrio de rios da Amazônia, causada pelos garimpos de ouro. Como os "garimpeiros" usam uma tecnologia rudimentar, o controle ambiental é difícil e a contaminação só não é muito mais grave porque os rios da Amazônia são muito volumosos e a área é ainda pouco povoada. Figura- Mortandade de peixes causada por despejo de mercúrio em rio. Mineração – Meio ambiente e Mineração 19 Figura- Degradação oriunda do trabalho do garimpeiro. 4.2.6. Rejeito e Estéril A disposição final de rejeitos não constitui problema mais sério, quando destinados aos trabalhos de recuperação das áreas. Entretanto, durante a fase da lavra devem ser observados cuidados especiais para que estes não sejam lançados no sistema de drenagem. Quando esses depósitos ficam muito volumosos, tornam-se, por si mesmos, instáveis e sujeitos a escorregamentos localizados. No período de chuvas, devem ser removidos e transportados continuamente até as regiões mais baixas e, em muitos casos, para cursos de água. A repetição contínua do processo provoca o transporte considerável desse material, ocasionando gradativamente o assoreamento dos cursos de água. Além do volume provindo do material estéril, devem ser consideradas as quantidades advindas da área das próprias jazidas e o material produzido pela decomposição das rochas e erosão do solo. O problema pode ser minimizado através do adequado armazenamento do material estéril e sua posterior utilização para reaterro de áreas já mineradas e de tanques de decantação que retenham os sedimentos finos na própria área, preservando a hidrografia. Figura - O rompimento da barragem de rejeitos da mineradora Rio Verde em Macacos/MG, ocorrido em 2001, atingiu cerca de 43 hectares e assoreou 6,4 quilômetros do leito do Córrego Taquaras. Mineração – Meio ambiente e Mineração 20 4.3. Impactos em áreas urbanas Segundo IBAMA (2006), a mineração em áreas urbanas e periurbanas é um dos fatores responsáveis pela degradação do subsolo. Atualmente, junto às grandes metrópoles brasileiras, é comum a existência de enormes áreas degradadas, resultante das atividades de extração de argila, areia, saibro e brita. A proximidade de pedreiras de centros habitados é uma decorrência natural da forte influência do custo dos transportes no preço final do produto. Isso ocorre, principalmente, com os agregados, devido ao seu baixo valor unitário. Os fatores geológicos ligados à localização natural da jazida e ao grande volume das reservas, proporcionando longa vida útil aos empreendimentos, são fatores rígidos e imutáveis que impedem a mudança das áreas de extração. Por outro lado, o crescimento desordenado e a falta de planejamento urbano facilitam a ocupação de regiões situadas nos arredores das pedreiras, provocando o fenômeno de "sufocamento" das mesmas e originando um quadro crescente de conflitos sociais. O consumo de agregados constitui-se em um importante indicador da situação econômica e social de uma nação. Enquanto os EUA consomem, anualmente, Mineração – Meio ambiente e Mineração 21 cerca de 7,5 t por habitante de agregados e a Europa Ocidental, de 5 a 8 t por habitante/ano, no Brasil, o consumo está pouco acima de 2 t por habitante/ano. Mesmo dentro do país, os níveis de consumo de agregados têm diferenças significativas. O consumo no Estado de São Paulo chega a 4,5 t/hab/ano, enquanto que, em Fortaleza e Salvador, não atinge 2 t/hab/ano (Valverde, 2001). Os efeitos ambientais estão associados, de modo geral, às diversas fases de exploração dos bens minerais, como à abertura da cava, (retirada da vegetação, escavações, movimentação de terra e modificação da paisagem local), ao uso de explosivos no desmonte de rocha (sobrepressão atmosférica, vibração do terreno, ultralançamento de fragmentos, fumos, gases, poeira, ruído), ao transporte e beneficiamento do minério (geração de poeira e ruído), afetando os meios como água, solo e ar, além da população local. Segundo BACCI (2006), os efeitos ambientais estão associados, de modo geral, às diversas fases de exploração dos bens minerais, como à abertura da cava, (retirada da vegetação, escavações, movimentação de terra e modificação da paisagem local), ao uso de explosivos no desmonte de rocha (sobrepressão atmosférica, vibração do terreno, ultralançamento de fragmentos, fumos, gases, poeira, ruído), ao transporte e beneficiamento do minério (geração de poeira e ruído), afetando os meios como água, solo e ar, além da população local. Exemplo: A área de estudo abrange uma pedreira de diabásio, localizada dentro da malha de expansão urbana, na região noroeste do município de Campinas, Estado de São Paulo (Figura abaixo). A ocupação populacional ocorre nas porções leste e nordeste da pedreira. A nordeste da cava, distante 250 m, encontram-se as construções comerciais mais próximas e, acerca de 800 m, começam as primeiras casas do bairro residencial Vila Boa Vista. Mineração – Meio ambiente e Mineração 22 Identificação dos aspectos e impactos ambientais A atividade da pedreira em questão resume-se no decapeamento, desmonte da rocha com uso de explosivos, carregamento e transporte do minério e seu posterior beneficiamento, produzindo brita e "pó de pedra", utilizadosdiretamente na usina de asfalto e como agregado na construção civil. Para identificar e avaliar os aspectos e impactos da pedreira, foram utilizados os dados de levantamento sismográfico obtidos durante o período de um ano de monitoramento dos desmontes, num total de 28 desmontes e 146 medições realizadas (Bacci, 2000). Os quadros apresentados foram elaborados segundo a metodologia utilizada na norma ISO 14001 (1996) e serviram, inicialmente, para identificar as principais fontes que geravam reclamações por parte da comunidade e, num segundo momento, como instrumento para avaliação de desempenho ambiental, dentro de um Sistema de Gestão Ambiental. As atividades descritas nos quadros 1, 2, 3 e 4 são as que ocorrem nas diferentes fases de lavra, no beneficiamento e na manutenção das instalações administrativas. Mineração – Meio ambiente e Mineração 23 Mineração – Meio ambiente e Mineração 24 Mineração – Meio ambiente e Mineração 25 Mineração – Meio ambiente e Mineração 26 5- Fatores que influenciam a natureza e a extensão dos impactos ambientais. Ao extraírem-se os bens minerais da crosta terrestre, automaticamente, gera-se uma alteração bastante profunda que modifica a estrutura física de seu jazimento - localização. Essas alterações, advindas da atividade mineral, podem provocar maior ou menor impacto, conforme os fatores geográficos, o método de lavra utilizado e o tipo de minério extraído. 5.1. Fatores Geográficos Os depósitos minerais encontram-se onde as condições geológicas são favoráveis à sua formação. A este condicionante dá-se o nome de "rigidez locacional da jazida". Alguns fatores geográficos estão relacionados à posição do jazimento, tais como: densidade da população, topografia, clima e aspectos sócio-econômicos, dentre outros, que poderão influir de forma positiva ou negativa na extração econômica destas riquezas. Normalmente a oposição à mineração é mais intensa em regiões de alto valor cênico ou locais de condições favoráveis a raras espécies de flora e fauna. Quanto ao clima, o mecanismo de transporte da poluição originária da mina ao meio ambiente está diretamente relacionado ao regime pluviométrico, temperatura, umidade, direção dos ventos, dentre outros. Sua principal influência é, portanto, sobre a intensidade da poluição, considerando a distância sobre a qual o impacto da mineração é perceptível. No que diz respeito aos aspectos sócio-econômicos, tais como: a criação de empregos, circulação de riquezas, incremento do comércio e serviços, fortalecimento do setor público através da arrecadação de impostos, dentre outros fatores, pode-se constatar que, sem dúvida alguma, a atitude do público, em geral, é condicionada, em parte, pela condição econômica da região e a natureza desta comunidade. 5.2. Tipo de Lavra O método de lavra utilizado na exploração das substâncias minerais é um dos principais fatores determinantes do nível de impacto ao ambiente, tendo grande influência na natureza e na extensão do impacto ambiental. A escolha do método mais adequado depende de certas características das jazidas e às vezes, de fatores externos não controláveis. A grande maioria dos bens minerais é lavrada por métodos tradicionais a céu aberto (em superfície) ou subterrâneo (em subsuperfície). Mineração – Meio ambiente e Mineração 27 Os maiores riscos de comprometimento ambiental ocorrem na lavra a céu aberto, onde se tem um maior aproveitamento do corpo mineral, gerando maior quantidade de estéril, poeira em suspensão, vibrações e riscos de poluição das águas, caso não sejam adotadas técnicas de controle da poluição. A lavra de minerais industriais, freqüentemente, apresenta um alto potencial impactante. Em contrapartida, poucos minerais, desta classe, são tóxicos e o uso de reagentes químicos no tratamento destes é limitado. Por isto, os principais problemas ambientais deste tipo de minerais são o impacto visual, o abandono das lavras, a poeira, o ruído e a vibração. Figura– Exemplos de lavra mal planejada em pedreiras localizadas nos municípios e Itaitinga (A) e Maracanaú (B). Figura – Ambiente subterrâneo e sua interação com o meio ambiente natural. Mineração – Meio ambiente e Mineração 28 As maiores consequências ou riscos ambientais no exterior das explorações subterrâneas: Águas ácidas e contaminadas com metais pesados; Deposição de escombros e rejeitados que podem poluir o solo e as aguas e ocasionar impacto visual; Subsidência devida á lavra subterrânea e presença de falhas; Impacto paisagístico pela instabilidade biológica na zona; Desaparição das linhas d águas superficiais, drenagem ao subsolo e posterior contaminação. 6- Delimitação dos impactos causados pela mineração. 6.1- Formulação dos problemas As atividades mineradoras causam impactos diretamente ao meio ambiente. Tanto no garimpo, quanto, na extração de minérios que se encontram no solo e subsolo. Muito de seus danos são irreversíveis. Assim, a exploração de uma jazida deve-se levar em consideração sua viabilidade econômica e ambiental. Com a abertura de deposito mineral em lavra (mina, garimpo) a geologia da área é perdida modificando o relevo podendo ocasionar erosões e assoreamentos. A produção de maneira inadequada dos minerais pode ter formas direta ou indiretamente quanto à degradação ambiental; gerando chuvas ácidas, o aquecimento global, poluição de reservatórios de água, etc. Além de gerar problemas sócio-ambientais, onde muitas Mineração – Meio ambiente e Mineração 29 famílias são remanejadas de seus locais para dar lugar às empresas mineradoras. Como também a questão visual de deposito mineral. Apesar dos problemas causados ao meio ambiente, a mineração é inevitavelmente essencial a humanidade uma vez que possibilita qualidade de vida e desenvolvimento sustentável. O maior desafio da indústria mineral é reduzir essas interferências no meio ambiente para níveis mais admissíveis, nos seus diferentes estágios de exploração, produção, utilização e disposição de resíduos. É preciso uma análise do avanço que a exploração mineral possui bem como sua degradação ao ambiente. Assim, devem-se levar em conta os benefícios e malefícios acarretados pela indústria mineradora. Para que muitos dos problemas sejam solucionados rege-se a necessidade de uma política conservadora que fiscalize; tanto ao ambiente, quanto, as atividades realizadas pelas mineradoras, bem como melhoria de condições de trabalho as pessoas que atuam no ambiente. Uma vez que estão sujeitas a diversos fatores de riscos. Sabendo que de uma forma ou de outra, todos necessitamos dos recursos minerais explorados, faz se necessário a recuperação de áreas degradadas pelas mineradoras. Deve-se haver o incentivo de cursos ligados a mineração; desde a sua implantação como projeto até seu desativamento recuperando a área degradada. A tendência da indústria mineradora é o crescimento. Para que cresça de forma organizada faz-se necessário um estudo detalhado de seus riscos e benefícios que propiciaa toda sociedade. Nas grandes jazidas, a reconstituição da paisagem é quase impossível na questão do tempo e econômica. Porém, através de condução adequada das operações de lavra e de um projeto de recuperação, que visem o futuro, a degradação ambiental pode ser reduzida e até eliminada. Sendo assim, os cuidados para a recuperação das áreas mineradas vão desde a concepção do plano de lavra até a implantação do projeto que visem o reflorestamento de forma consciente, buscando de forma simples levar as comunidades o conhecimento dessa área tão questionada nos dias atuais. A mineração a céu aberto gera diversos impactos ao meio ambiente. Destrói completamente as áreas da jazida, as bacias de rejeito e as áreas utilizadas para o depósito estéril. Tais impactos provocam danos e desequilíbrios no ciclo da água, no solo, no ar, no subsolo e na paisagem em geral, e são perceptíveis por toda a população, visto que as áreas destruídas jamais voltarão a ser como eram. Mineração – Meio ambiente e Mineração 30 Os impactos causados podem ser intensos e extensos. Por exemplo, quanto à intensidade, o impacto da mineração de argila depende da topografia original da área, da característica e do volume de material que foi extraído da jazida, do método usado para a extração, do quanto foi aproveitado, etc. Enquanto à extensão, destaca-se a erosão do material da superfície por ação das águas da chuva, que causam a poluição dos recursos hídricos, refletindo assim diretamente na bacia onde a mina se localiza. Esses impactos, além de prejudicarem os proprietários, afetam também todo o ambiente circunvizinho. Os danos também podem ser de ordem direta e indireta. Os diretos modificam as características físicas, químicas e biológicas do ambiente, que originam um forte impacto visual, já que a fauna, a flora, o relevo e o solo são completamente transformados. Os indiretos proporcionam mudanças na diversidade das espécies, no ciclo natural dos nutrientes, instabilidade no ecossistema, alterações no nível do lençol freático e no volume de água encontrado na superfície. As alterações na topografia podem causar mudanças na direção das águas de escoamento superficial, fazendo com que áreas que anteriormente eram atingidas pela erosão tornem-se áreas de deposição e vice-versa. Contaminações com produtos químicos no solo decorrentes do derramamento de óleos e graxas das máquinas que são operadas na área também ocorrem com grande freqüência. 6.2 Impactos causados pela extração dos minérios • Mineração de Carvão Como é realizada a céu aberto geralmente compreende grandes áreas, causando grande poluição da água e do ar, sendo necessário assim um sistema rígido de recuperação das áreas depois de explorada. Por exemplo, na região carbonífera de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, há a poluição hídrica causada pela drenagem ácida, que é proveniente da infiltração da água da chuva juntamente com resíduos tóxicos originados pelas atividades de lavra e beneficiamento, que alcançam os corpos hídricos e tornam as águas impróprias para qualquer uso, já que alteram seu pH, elevando os valores de ferro e sulfato e destruindo a fauna e a flora local. Foto-Rio Sangão contaminado com drenagem ácida da mineração do carvão –Forquilhinha (SC). Mineração – Meio ambiente e Mineração 31 • Mineração de Ouro Como exemplo, pode-se citar o Quadrilátero Ferrífero em Minas Gerais, onde há uma elevada presença do elemento tóxico arsênio, decorrente desse tipo de exploração. Em Nova Lima e Passagem de Mariana, funcionaram, por várias décadas, como fábricas de óxido de arsênio, aproveitado como subproduto do minério. Os rejeitos de minério ricos em arsênio foram estocados às margens de riachos ou até mesmo lançados diretamente nas drenagens, provocando comprometimento ambiental do solo e dos recursos hídricos. Foto – Efeito de destruição da exploração de ouro na Amazônia. • Chumbo, Zinco e Prata Como exemplo existe as minas de chumbo, zinco e prata do Vale da Ribeira, que estiveram ativas durante longo período do século X, especialmente nas Mineração – Meio ambiente e Mineração 32 décadas de 70 e 80. Os materiais resultantes dos processos de metalurgia e refino do minério de chumbo foram estocados nas margens do rio Ribeira. As últimas minas e a refinaria encerraram suas atividades em novembro de 1995. Depois de estudos realizados juntamente com a população infantil nos municípios de Adrianópolis e Cerro Azul, no Paraná, e em Ribeira e Iporanga, em São Paulo, envolvendo uma análise da quantidade total de chumbo e arsênio encontrados no sangue e urina das crianças constatou-se que as concentrações de chumbo no sangue foram superiores aos limites permitidos pelo Centers for Disease Control - CDC (1991). • Agregados para construção civil (areia, argila e brita) Os impactos causados pela extração desses materiais são de grandes proporções, pois afetam ambientes de delicado equilíbrio ecológico, como dunas e manguezais e alteram canais naturais de rios e aspectos da paisagem. Normalmente as cavas são utilizadas como depósitos da construção civil e até como lixões. • Garimpos É uma extração rudimentar, que provoca principalmente a contaminação dos recursos hídricos. Porém, diversos impactos ocorrem e já ocorreram devido a essa atividade mineradora. Dentre eles estão: desmatamentos, queimadas, alteração nos aspectos qualitativos e no regime hidrológico dos cursos de água, desencadeamento dos processos erosivos, turgidez das águas, morte da ictiofauna, poluição química provocada pelo mercúrio metálico na biosfera e na atmosfera. No Brasil, existem diversas áreas onde já houveram atividade garimpeira, localizadas nos estados de Minas Gerais e Bahia. 6.3 Principais danos causados pela mineração • Degradação da Paisagem Como é possível constatar, a partir do que já foi apresentado, o maior impacto causado pela atividade mineraria é a degradação visual da paisagem da área de extração. Tais mudanças são prejudiciais, mas devem ser admitidas, uma vez que a atividade de mineração é imprescindível para a sociedade. • Ruídos e vibrações Muitas extrações de minérios são feitas através da utilização de explosivos, gerando assim ruídos, prejudiciais a saúde e bem estar da sociedade. A onda de choque gerada por eles apresentam comportamentos distintos, que dependem da distância e do tipo de material usado na explosão. Mineração – Meio ambiente e Mineração 33 • Tráfego de veículos O tráfego freqüente de veículos pesados, carregados de minérios, causa uma série de transtornos à comunidade circunvizinha da mina de exploração: poeira, emissão de ruídos e freqüente deterioração do sistema viário da região são alguns deles. • Poeira e Gases Um das maiores contrariedades sofridas pelos habitantes localizados próximos e/ou aos que trabalham de maneira direta na extração de minerais, relaciona-se com a poeira. Estas partículas suspensas podem ter sido originadas tanto nos trabalhos de perfuração das rochas como nas etapas de beneficiamento e de transporte dos minerais extraídos. Estes resíduos podem ser solúveis, ou partículas que ficam em suspensão como lama e poeira. A contribuição da mineração para a poluição do ar é principalmente causada pela produção de poeira. A poluição por gasesé pouco relevante, uma vez que em geral se restringe à emissão pelos motores das máquinas e dos veículos utilizados na lavra e no beneficiamento dos minérios. Figura – Instalações de britagem nos municípios de Caucaia (A) e Itaitinga (B), em que se observa grande emissão de pó. Figura- Carreta de perfuração hidráulica provida de sistema de ventilação local exaustora. Mineração – Meio ambiente e Mineração 34 • Contaminação das Águas A maior parte das minerações no Brasil provoca poluição por lama. A poluição por compostos químicos solúveis é mais rara. As minerações de ferro, calcário, granito, areia, argila, bauxita, manganês, cassiterita, diamante e várias outras, provocam normalmente poluição das águas apenas por lama. O controle deve ser feito por meio de barragens para a contenção e sedimentação destas lamas. As barragens são na maior parte das vezes os investimentos mais pesados em controle ambiental realizados pelas empresas de mineração. Muitas minerações provocam também poluição de natureza química, por efluentes dissolvíveis na água usada tanto no tratamento do minério como na água que passa pela área da extração. As minerações que extraem ouro podem apresentar problemas mais sérios e complexos de contaminação das águas, principalmente por usarem cianetos altamente tóxicos no tratamento do minério. • Rejeito e Estéril Quando destinados à recuperação das áreas, os rejeitos não causam problemas sérios. Porém, quando esses depósitos ficam muito volumosos, tornam-se instáveis e sujeitos a escorregamentos localizados. Em períodos de chuvas, devem ser removidos para áreas mais baixas continuamente, e em muitos casos, para cursos de água. A repetição intensa desse processo provoca gradativamente o assoreamento dos cursos de água. A repetição freqüente desse processo provoca o transporte considerável desse material, gerando gradativamente um processo de assoreamento dos cursos d’água. Mineração – Meio ambiente e Mineração 35 O problema pode ser minimizado por meio de um armazenamento adequado do material estéril e sua posterior utilização para reaterro de áreas já mineradas. 6.4. Degradação e Recuperação de áreas impactadas Um dos problemas centrais que envolvem a questão de desmatamento no Brasil é resultante do estabelecimento de sistemas de utilização de terras de forma não sustentáveis, que originam as “áreas degradadas”, caracterizadas pelo elevado nível de danos ambientais e de pequena capacidade de suporte humano (FAO, 1985). A maior parte das áreas degradadas nos Neotrópicos é proveniente de sistemas impróprios de uso de áreas que geram lucros em curto prazo, porém com um alto custo de degradação para o meio ambiente e subdesenvolvimento socioeconômico em longo prazo. Podem-se dividir as áreas degradadas em duas categorias principais, levando em consideração a cobertura da vegetação em: florestas secundárias e pastos abandonados. Além destes, ressalta-se as áreas degradadas provenientes de atividades de mineração. Os fatores que contribuem para a degradação do solo, em ordem decrescente de participação relativa nas áreas degradadas no mundo, são: 1. Superpastejo da vegetação (34,5% das áreas mundiais degradadas); 2. Desmatamento ou remoção da vegetação natural para a agricultura, florestas comerciais, construção de estradas e urbanização (29,4%); 3. Atividades agrícolas, incluindo inúmeras variedades de práticas agrícolas, tais como: uso de forma inadequada de fertilizantes, uso de água para irrigação de baixa qualidade, uso inapropriado de maquinários agrícolas e ausência de práticas para a conservação do solo (28,1%); 4. Exploração intensiva da vegetação para fins domésticos, como combustível, cercas etc., expondo o solo diretamente à ação dos agentes causadores da erosão (6,8%); 5. Atividades industriais ou bioindustriais que geram a poluição do solo (1,2%). A conceituação de uma área degradada é bastante polêmica na sociedade, admitindo-se várias definições baseando-se no enfoque desejado. Logo, é possível afirmar que a degradação acontece a partir do momento que a vegetação e fauna nativa são destruídas, removidas ou expulsas, a camada mais fértil do solo é afetada e a qualidade de vazão do sistema hídrico é alterada. Um ecossistema degradado é aquele no qual, após perturbações, teve suprimida, juntamente com sua vegetação, os seus meios de regeneração. Apresenta, Mineração – Meio ambiente e Mineração 36 portanto, baixa capacidade de recuperação, isto é, seu retorno ao estado anterior pode não acontecer ou ser extremamente vagaroso. Existe também o ecossistema perturbado que é aquele que sofreu distúrbios, mas manteve seus meios de regeneração bióticos. A ação humana nesse processo é dispensável, mas pode auxiliar na recuperação, pois a natureza pode se encarregar dessa tarefa. Nas áreas degradadas, a ação humana para a recuperação é indispensável, pois elas já não dispõem daqueles eficientes mecanismos para sua regeneração. Nas atividades de extração de minérios, as principais fontes que causam a degradação são: a deposição de resíduos ou rejeitos provenientes do processo de beneficiamento dos minerais e a deposição do material não aproveitável, produzido do decapeamento superficial. Além dessas fontes que causam degradação, outras podem ser ressaltadas são elas: lançamento de resíduos domésticos e hospitalares, de esgoto sanitário, vazamentos ou derrames de óleos, ácidos e outros produtos químicos, além da contaminação por elementos que liberam radiação e a poluição visual do local. Os objetivos da recuperação de uma área degradada devem obedecer a requisitos individuais e o plano feito para sua recuperação deve deixar claro, inicialmente, o nível de recuperação a ser alcançado. Existem diversos utilizações para as quais as áreas degradadas podem ser destinadas, como o cultivo/pastagens, reflorestamento, área urbana, parques e áreas para recreação, ou simplesmente, abandoná-las à sucessão vegetal (Griffith, 1980). A vegetação pode ser tida como um elemento de atuação e utilização nos programas de recuperação de áreas degradadas, assumindo diferentes papéis, baseando-se na situação encontrada (Fonseca, 1989). Dentre as alternativas para a recuperação dessas áreas, o reflorestamento para destinação múltipla envolve uma quantidade, mais significativa de benefícios, tanto de caráter social como ecológico. Contudo, e sempre de acordo com o projeto estabelecido, o destino final da área recuperada deverá ser objeto de um estudo conjunto dos componentes de ordem social, ecológica e econômica envolvidos. É preciso estabelecer qual o objetivo inicial a ser alcançado com a recuperação, pois as áreas degradadas podem tanto ser “restauradas” como “reabilitadas” (Cairns, 1988; Viana, 1990). Mineração – Meio ambiente e Mineração 37 Restauração trata-se de uma série de tratamentos que visam recuperar a forma original do ecossistema, isto é, sua estrutura original. Geralmente recomendado para ecossistemas raros e ameaçados, demanda mais tempo e requer um investimento maior. Reabilitação refere-se a uma série de tratamentos que buscam a regeneração de uma ou mais funções do ecossistema. Essas funções podem ser produção econômica e/ou ambiental. Geralmente, as principaisjustificativas para os reflorestamentos de proteção do meio ambiente abrangem a recuperação imediata dos benefícios ambientais. Essa questão em muitos casos não é avaliada com coerência, e a restauração da forma (composição e diversidade de espécies, estrutura trófica etc.), torna-se prioridade frente à recuperação das utilidades do ecossistema, ou seja, da sua função ambiental (Viana, 1990). Vários autores procuraram sistematizar as técnicas de recuperação de áreas degradadas (Willians, 1982; Griffith,1992; Silveira et al., 1992; Adeam, 1990; Daniels, 1994; Pompéia, 1994;Jesus, 1994; Griffith et al., 1996), todavia os sistemas devem ser específicos para cada situação, agrupando, entre outros fatores, a localização, clima, topografia, estabilidade do terreno, solo, vegetação e a natureza do(s) agente(s) causador(es) da degradação. É fato que, depois de desenvolvido o escopo do sistema a ser adotado, e suscetível de alterações durante a implantação das atividades previstas, assim como nas suas manutenções, dando uma dinâmica toda especial às técnicas de recuperação. As técnicas existentes para utilização da vegetação como um agente restaurador de áreas que sofreram degradação são recentes e envolve a regeneração natural, o plantio de espécies arbóreas e arbustivas e a hidrossemeadura (Silva, 1993). Cada situação deve ser estudada para a escolha da técnica que mais se adequada e não são raros os exemplos em que todas elas são utilizadas eu uma mesma área. Jesus (1994) ainda recomenda, que além da implantação desse plano de recuperação, a necessidade indispensável de sua manutenção, garantindo o estabelecimento dos plantios realizados e que devem se prolongar, pelo menos, por um período de dois anos. Na recuperação de áreas oriundas de degradação ao longo de ferrovias e reservatórios de água, assim como na implantação de cinturões verdes, são usados técnicas de plantio de árvores para resgate de biodiversidade, contenção de erosão, florestas de produção e amenização paisagística (FRDSA,1992; FRDSA, 1993; Jesus et al., 1984; Jesus & Engel, 1989, Jesus, 1992). Nestes trabalhos, os autores Mineração – Meio ambiente e Mineração 38 indicam a recuperação por meio da implantação e manutenção dos plantios realizados, sendo que na implantação desse projeto estejam incluídas as atividades de preparo do solo, controle das formigas cortadeiras, coveamento, adubação e plantio. As manutenções são feitas para garantir o estabelecimento dos plantios realizados e são indicadas normalmente durante um período de dois ou três anos posteriores ao plantio. Neste período estão inseridas as atividades de roçada manual, coroamento, controle daquelas formigas e o replantio. FOTO - Viveiro de mudas de espécies arbóreas nativas. Mineração de areia Ponte Alta, São Paulo. 6.5 Medidas de Recuperação e Reabilitação Ambiental As medidas de recuperação têm por finalidade corrigir impactos ambientais negativos, verificados em determinada atividade mineradora, e exigem soluções especiais adaptadas às condições já estabelecidas. Essas soluções, geralmente utilizadas em mineração, respaldam-se em observações de campo e literatura técnica e não raramente envolvem aspectos do meio físico. As principais áreas de um empreendimento mineiro onde medidas de recuperação podem ser aplicadas são: a) Áreas lavradas: Algumas das medidas usualmente empregadas são: retaludamento, revegetação (com espécies arbóreas nas bermas e herbáceas nos taludes) e instalação de sistemas de drenagem (com canaletas de pé de talude, além de murundus - morrotes feitos Mineração – Meio ambiente e Mineração 39 manualmente na crista dos taludes) em frentes de lavra desativadas. A camada de solo superficial orgânico pode ser retirada, estocada e reutilizada para as superfícies lavradas ou de depósitos de estéreis e/ou rejeitos. A camada de solo de alteração pode ser retirada, estocada e reutilizada na construção de diques, aterros, murundus ou leiras de isolamento e barragens de terra, remodelamento de superfícies topográficas e paisagens, contenção ou retenção de blocos rochosos instáveis, redimensionamento de cargas de detonação em rochas e outras. Figuras - Mudas de espécies arbóreas nativas plantadas em bermas rochosas, dispostas junto à crista do talude inferior e Remodelamento setorizado do perfil de bancadas finais , com colocação de aterro (solo de alteração), cobertura de solo superficial e plantio de gramíneas em placas. Pedreira Cantareira, Mairiporã (SP). b) Áreas de disposição de resíduos sólidos: As medidas usualmente empregadas são: revegetação dos taludes de barragens (neste caso somente com herbáceas) e depósitos de estéreis ou rejeitos, redimensionamento e reforço de barragens de rejeito (com a compactação e sistemas de drenagens no topo);instalação, à jusante do sistema de drenagem da área, de caixas de sedimentação e/ou novas bacias de decantação de rejeitos; redimensionamento ou construção de extravazores ou vertedouros em barragens de rejeito; tratamento de efluentes (por exemplo: líquidos ou sólidos em suspensão) das bacias de decantação de rejeitos; tratamento de águas lixiviadas em pilhas de rejeitos ou estéreis; tratamento de Mineração – Meio ambiente e Mineração 40 águas subterrâneas contaminadas. Figura – Revegetação implantada com uso de herbáceas (gramíneas) em talude de via de circulação interna. Figura- Canaleta de drenagem revestida de concreto para captação e condução de água e retenção de sedimentos provenientes da unidade de beneficiamento. Mineração de areia Viterbo Machado Luz, São Paulo. Mineração – Meio ambiente e Mineração 41 c) Áreas de infra-estrutura e circunvizinhas: Algumas medidas possíveis são: captação e desvio de águas pluviais; captação e reutilização das águas utilizadas no processo produtivo, com sistemas adicionais de proteção dos cursos de água naturais por meio de canaletas, valetas, murundus ou leiras de isolamento; coleta (filtros, caixas de brita, etc.) e tratamento de resíduos (esgotos, óleos, graxas) dragagem de sedimentos em depósitos de assoreamento; implantação de barreiras vegetais; execução de reparos em áreas circunvizinhas afetadas pelas atividades de mineração, entre outras de acordo com o problema da região. Figura - Sistema de tanque e caixa de brita para retenção de óleos e graxas. Figura - Barreira em faixa composta de eucaliptos, instalada entre a área da lavra e o local de disposição de bota-foras. Pedreira Embu. Mineração – Meio ambiente e Mineração 42 7- Exemplos no Brasil dos efeitos da mineração no meio ambiente. Inicialmente, voltemos a lembrar de que os minérios, tanto metálicos como não-metálicos, são utilizados, como é sabido, em uma infinidade de produtos humanos, da construção civil a bens industriais. No entanto, como a mineração em geral trabalha bem distante das cidades, poucas pessoas se dão conta dos seus extraordinários impactos ambientais. O máximo que a maioria das pessoas já viu foram as pedreiras urbanas, enquanto elas ainda eram toleradas em cidades como Rio de Janeiro, que deixaram enormes cicatrizes na paisagem citadina. Essas pessoas não se dão conta do assustador volume de resíduos decorrente dessa atividade. A tabela seguinterevela o montante de exploração de três minerais metálicos: Resíduos de Mineração e Rendimento (2000) Metal Resíduo (milhões de ton) Produção (milhões de ton) % que virou metal Ferro 2.113 845 40 Cobre 1648 15 0,91 Ouro 745 0,0025 0,00033 Fonte: Worldwatch Institute Como se vê, a produção mundial de ouro, em 2000, foi de 2,5 mil toneladas, mas os resíduos gerados (estéreis e rejeitos) não foi inferior a 745 milhões toneladas. Uma razão de quase 300 mil quilos de resíduos para um quilo de ouro. Isso significa que 99,99967% da mineração de ouro era puro descarte, obrigatoriamente disposto em algum lugar. Com o avanço tecnológico, já é possível o processamento de minério com teores de ouro ainda mais baixos. Mesmo o minério de ferro, seguramente um dos que apresenta maior rendimento, tem o metal em menos da metade da sua massa. Embora 40% tenham sido aproveitados como matéria-prima, 2 bilhões e 113 milhões de toneladas foram descartados apenas no ano de 2000. Outros metais, como alumínio, chumbo ou prata, oferecem igualmente pequenos percentuais de aproveitamento no minério. Certo, se a humanidade quer manter um nível elevado de conforto material, é inevitável a atividade mineral. No entanto, essa é possivelmente a atividade econômica com menos cuidados com os problemas ambientais. A distância dos centros urbanos e de pessoas conscientes favorece tal desleixo, embora algumas mineradoras, como seria de se Mineração – Meio ambiente e Mineração 43 esperar, tenham progredido bastante nesse item. Entretanto, como um todo, o setor ainda deixa muito a desejar. A mineração consome volumes extraordinários de água: na pesquisa mineral (sondas rotativas e amostragens), na lavra (desmonte hidráulico, bombeamento de água de minas subterrâneas etc.), no beneficiamento (britagem, moagem, flotação, lixiviação etc.), no transporte por mineroduto e na infra-estrutura (pessoal, laboratórios etc.). Há casos em que é necessário o rebaixamento do lençol freático para o desenvolvimento da lavra, prejudicando outros possíveis consumidores. Frente a tudo isso, uma série de impactos pode ocorrer: aumento da turbidez e conseqüente variação na qualidade da água e na penetração da luz solar no interior do corpo hídrico; alteração do pH da água, tornando-a geralmente mais ácida; derrame de óleos, graxas e metais pesados (altamente tóxicos, com sérios danos aos seres vivos do meio receptor); redução do oxigênio dissolvido dos ecossistemas aquáticos; assoreamento de rios; poluição do ar, principalmente por material particulado; perdas de grandes áreas de ecossistemas nativos ou de uso humano etc. No Brasil, a participação da mineração na poluição total é possivelmente maior, em função da posição relativa dessa atividade na produção econômica nacional e de uma fiscalização mais frouxa. Quem desejar mesmo ver o intenso grau de degradação ambiental causado por minas de ferro basta ir a cidades como Itabirito, em Minas Gerais. A gipsita, mineral abundante na natureza, quando parcialmente desidratada (calcinada), dá origem ao gesso, um produto muito usado na construção civil, entre outras aplicações. No Brasil, é explorada principalmente na Bacia do Rio Araripe, na fronteira comum de Pernambuco com o Piauí e o Ceará. Nessa região, a fonte energética usada no processo de calcinação é a lenha da Caatinga. As calcinadoras de gesso são as principais consumidoras de energéticos florestais da região do Araripe, utilizando 56% da produção, seguidas da siderurgia, com 33%. Em 2007, somente em Pernambuco (de longe, o maior produtor), as calcinadoras queimaram 1.102.800 metros cúbicos de lenha. Nas calcinadoras os problemas de poluição são bastante difíceis de controlar, visto que a maior parte delas trabalha com fornos rudimentares e altamente poluentes. A poluição mais visível nas calcinadoras é a proveniente da emissão de gases e particulados no ar. Os diversos combustíveis utilizados para a calcinação - lenha, óleo, coque e gás -, na queima, produzem compostos que são lançados diretamente no ar sem Mineração – Meio ambiente e Mineração 44 http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:MinasGerais_Municip_Itabirito.svg que passe por um filtro. Entrevistados sobre o uso de filtros nas chaminés das calcinadoras, muitos empresários revelaram desconhecer o produto ou disseram que são muito caros e/ou desnecessários, porque o órgão ambiental não exigia tal medida (Quadro abaixo). Quadro – Fontes de Poluentes nas Unidades Calcinadoras e Seus Impactos Fontes Equipamentos/ Máquinas Meio Impactado (Local e Áreas de Influência) Sumário de Impactos ou Alterações do Ambiente Fixas Britador Balança Moinho Correias transportadoras Roscas elevatórias Silos de armazenagem FÍSICO Ar, água e solo BIOLÓGICO Flora e fauna SOCIAL Homem Processos de britagem, moagem e transporte por meio de máquinas geram particulados finos, são lançados no ar e aí permanecem, sendo carregados pelas correntes aéreas, atingindo grandes distâncias e extensão espacial. Como conseqüências mais importantes citam-se a contaminação do ar, do solo, do ambiente e dos trabalhadores, através dos pulmões, o que pode gerar silicose, entre outras doenças respiratórias. Produção de ruído e condições de audibilidade comprometida nas pessoas que trabalham nas proximidades das máquinas. Quando os particulados se depositam no solo pode ocorrer a sulfurização, ou seja, a contaminação por enxofre e seus compostos, aumentando o teor desses elementos. Fornos FÍSICO Ar, água, solo BIOLÓGICO Flora e fauna SOCIAL Homem O processo de calcinação emite considerável quantidade de particulados, poeiras, cinzas e gases, gerando líquidos nocivos ao meio ambiente, que muitas vezes ficam impregnados nas engrenagens dos fornos. O grau de poluição depende do tipo de forno; de acordo com o alcance dos poluentes, as áreas afetadas sofrem processos de sulfurização do solo e da água, aumento do pH, entre outros. Geração de calor (poluição térmica) e ruído, a utilização de combustíveis nas fornalhas gera gases como CO2, SO2, NOx, compostos de enxofre e carbono nocivos ao homem e ao meio – flora e fauna. Móveis Caminhões, vagonetes, empilhadeiras e outros. FÍSICO Ar, solo, BIOLÓGICO Flora e fauna SOCIAL Homem Emissão de poeiras do solo, gases de combustão e queda do material transportado. Contaminação do ar pela queima de combustíveis e emissão de poeiras do material transportado. Outras minerações são motivo de polêmica, como a de minério de ferro em Corumbá, no Mato Grosso do Sul. O município, localizado em uma região particularmente sensível do ponto de vista ambiental, o Pantanal, é imprópria para siderúrgicas e mineração, apesar das minas que já operam no local. Estas e as Mineração – Meio ambiente e Mineração 45 siderúrgicas previstas estão no caminho de um importante corredor ecológico. O possível desmatamento decorrente da instalação do pólo minero-siderúrgico de Corumbá é uma das maiores preocupações de quem trabalha com a conservação do Pantanal. A MMX Mineração e Metálicos S.A., do grupo EBX, encarna hoje na região do Pantanal o melhor e o pior papel que uma empresa pode exercer quando o assunto é preservação do meio ambiente. De positivo, se tornou a principal parceira e financiadora da Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) do pólo minero-industrial de Corumbá. Um projeto de quase um milhão de reais que será executadopela COPPE/UFRJ e que estudará a capacidade ambiental da região de suportar, ou não, de forma sustentável, a instalação e expansão de diversas empresas ligadas ao setor de mineração e gás, entre outros que constituirão o pólo. A previsão é que esse estudo fique pronto no fim do ano. O medo dos ambientalistas é que uma nova Cubatão surja em pleno Pantanal. Empresas do porte da Vale do Rio Doce e Rio Tinto Brasil, instaladas no local, retiraram o apoio à avaliação na última hora. Já a MMX manteve o compromisso e aceitou arcar com grande parte dos custos do estudo. Por outro lado, a mineradora tem sido acusada de usar de influência política para acelerar a sua instalação no pólo e atropelar o processo de licenciamento ambiental. A MMX firmou um Termo de Compromisso de Conduta com o Ministério Público Estadual de Corumbá em que se compromete a não comprar carvão oriundo do Pantanal. Mas até agora não revelou de onde exatamente ele virá, alegando segredo comercial. No estudo e relatório de impacto ambiental do empreendimento (EIA-RIMA) lê-se que a empresa tem um cadastro de fazendas que vendem carvão em diversos municípios do estado, incluindo Anastácio, que fica dentro do Pantanal. Mas vários especialistas, entre eles Sandro Menezes, biólogo e coordenador do Projeto Pantanal da ONG Conservação Internacional, garantem que não há base florestal legalmente instalada no Mato Grosso do Sul suficiente para abastecer a MMX com carvão e muito menos o pólo inteiro, que pode chegar a ter 14 siderúrgicas. O possível desmatamento estimulado pelo pólo de Corumbá é uma das maiores preocupações de quem lida com a conservação do Pantanal. Segundo a ONG Conservação Internacional, 17% da cobertura vegetal original desse bioma já foram destruídos. A MMX pretende consumir 225 mil toneladas/ano de carvão vegetal no primeiro ano (25 caminhões tipo gaiola por dia) oriundos do próprio estado e 30% Mineração – Meio ambiente e Mineração 46 importados da Bolívia e do Paraguai. Segundo o IBAMA existem cinco mil carvoarias ilegais no Mato Grosso do Sul – cinco foram fechadas recentemente no Pantanal. Se não houver uma forte vigilância dos órgãos ambientais, a vegetação nativa vai virar cinza. A poluição do ar também causa apreensão. Os ventos que sopram predominantemente na direção de Corumbá e da Bolívia carregarão todo o material particulado que as siderúrgicas expelirem – poeira rica em carvão e outras substâncias tóxicas. Segundo Sonia Hess, doutora em Engenharia Química da UFMS de Campo Grande, esse tipo de poluição afeta a saúde da população. “Esses particulados estão relacionados à hipertensão e a acidentes vasculares, problemas respiratórios e cardíacos”. Parecer técnico da Embrapa Pantanal também alerta que, no caso de acidentes e vazamento de resíduos, o risco de contaminar os mananciais com substâncias extremamente tóxicas, como fenóis e metais pesados, é enorme. Na área existem algumas nascentes, piscinas naturais (que originaram balneários frequentados pela população local) e o córrego Piraputangas. Dependendo de certas condições, pode-se formar nesse riacho o gás cianídrico, altamente letal a seres humanos e peixes. Como ele deságua na baía do Jacadigo, que se conecta ao rio Paraguai, haveria uma contaminação em cadeia. Não se pode esquecer que a mineradora Urucum (da Vale do Rio Doce) já secou o córrego Urucum, contaminando-o com resíduos de ferro. Se a MMX começar a operar antes da conclusão do estudo da COPPE, não haverá tempo para a conclusão de estudos aprofundados sobre o impacto ambiental da atividade na região. E se vários empreendimentos isolados forem sendo licenciados sem se saber quantos serão, quanta energia e água usarão e se a região comporta tantas siderúrgicas, a degradação ambiental sairá do controle. 8- A questão econômica. Historicamente, a atividade de mineração é a que tem mostrado o nível mais baixo de compromisso social e ambiental em comparação, por exemplo, com a exploração de petróleo. É um dos negócios onde os interesses de lucros imediatos mais flagrantemente passam por cima dos interesses públicos, como demonstram exemplos no mundo inteiro. É um dos setores mais conservadores e mais resistentes a ajustes ambientais. Esse comportamento está causando forte retração na indústria minerária nos Estados Unidos, que tem optado por investir em minas/projetos localizados em outros Mineração – Meio ambiente e Mineração 47 países. Fatores econômicos tornam os custos de recuperação ambiental menos suportáveis para essa indústria do que para a de petróleo (e até a de carvão mineral). São eles: margens de lucro mais baixas; resultados econômicos mais imprevisíveis; custos mais altos para restaurar o ambiente natural; poluição mais impactante e mais duradoura; menos capital para enfrentar essas despesas; e até mesmo qualidade inferior de mão-de-obra. Por tudo isso, é um dos setores onde mais frequentemente os custos ambientais costumam ser repassados para a sociedade. Os contribuintes norte-americanos estão enfrentando, nos últimos anos, uma despesa extra de US$ 12 bilhões para limpeza e restauração ambiental de suas minas (Diamond, 2005). Para se reduzir os grandes impactos da mineração, será necessário aumentar as exigências ambientais e a fiscalização, obrigando a mudanças no comportamento das mineradoras. Os preços dos minerais devem igualmente refletir o enorme custo sócio-ambiental da sua exploração, embora isso vá implicar no aumento do preço final dos produtos. Isso seria uma vantagem, ao contrário do que supõem os economistas, pois aumentaria a eficiência e diminuiria o desperdício no uso dessas matérias-primas. Mas, assim, voltamos a um assunto recorrente: o atual nível de consumo da sociedade global é insustentável. Se desejarmos diminuir as profundas consequências da mineração, a par das medidas citadas e de muitas outras, precisamos controlar nossa síndrome consumista. Figura - Desenvolvimento de processos de instabilização (erosão e escorregamentos) em antiga frente de lavra desativada e abandonada. Mineração de caulim Caolinita, Embu-Guaçu. Mineração – Meio ambiente e Mineração 48 9- Engenharia Ambiental. A engenharia ambiental é um ramo da engenharia que estuda os problemas ambientais de forma integrada nas suas dimensões ecológica, social, econômica e tecnológica com vista a promover o desenvolvimento sustentável. O engenheiro ambiental deverá saber reconhecer, interpretar e diagnosticar impactos ambientais negativos e positivos, avaliar o nível de danos ocorridos no meio ambiente e propor soluções integradas de acordo com o direito do ambiente vigente. Essa é uma das profissões que mais imediatamente responde ao sobe e desce da economia. "Vivemos um período de mercado em alta nos últimos anos, graças ao aquecimento da economia e ao aumento dos investimentos em alguns setores, inclusive com o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) para o saneamento. Hoje, vivemos um momento mais estável", avalia Lafayette Dantas da Luz, coordenador do curso de Engenharia Sanitária e Ambiental da Escola Politécnica da UFBA. Mas isso não significa estagnação. Os formados continuam se inserindo rapidamente no mercado de trabalho. As áreas que mais oferecem oportunidades são as de saneamento,
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