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ADAPTAÇÕES DE MATERIAIS PRA ALUNOS SURDO: NO CONTEXTO MATEMÁTICO. Maria José da Silva Pereira Portela 1 Maria Conceição Batista dos Santos Vânia Gomes Bandeira 2 RESUMO O presente trabalho tem por objetivo refletir a importância de adaptações de materiais pedagógicos para a prática educacional na sala de aula, voltado para o ensino da matemática. Entende-se que para um bom resultado as adaptações feitas em sala de aula realizada pelo professor é que irá garantir o acesso e condições pedagógicas para que aprendizagem aconteça. Em virtude do distanciamento social a pesquisa será bibliográfica, embasada nos estudos de (LACERDA, COSTA, MOREIRA E SILVEIRA). Palavras-chaves: Adaptações, matemática e surdo. 1.INTRODUÇÃO Os alunos com deficiência, independentemente de qual seja, têm o direito à educação garantida desde a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948). A Declaração de Salamanca de (1994) impulsiona o direito à educação desta parcela do corpo discente. Conforme definido na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei nº 9.394/1996), a Base deve nortear os currículos dos sistemas e redes de ensino das Unidades Federativas, como também as propostas pedagógicas de todas as escolas públicas e privadas de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio, em todo o Brasil. Visto que, a inclusão do aluno surdo em escola regular vem sendo uma luta diária pelos movimentos e Comunidades Surdas, que hoje estão legitimamente assegurados por leis e decretos. Tem sido crescente a frequência de alunos surdos nas escolas regulares, em classes de alunos ouvintes que, por sua vez, torna indispensável a necessidade de um currículo pensado e elaborado de forma a atender a heterogeneidade das salas de aula. Todavia, esses alunos são tratados com um tipo de “igualdade” desfavorável, no sentido de que devem acompanhar os 1 Maria José da Silva Pereira Portela Maria Conceição Batista dos Santos 2 Vânia Gomes Bandeira. Centro Universitário Leonardo da Vinci-UNIASSELVI-Letras Libras (PED3797) -Prática do Módulo 4- 03/12/2020 conteúdos sem que haja qualquer alteração no currículo ou na metodologia de ensino, e que propiciem condições reais para o seu aprendizado (LACERDA, s/d). Nesse sentido: [...] políticas de Educação Especial voltadas ao alunado surdo são fundamentais porque suas dificuldades de aprendizagem não são inerentes à condição de surdez. Em geral são secundárias a práticas pedagógicas equivocadas, com propostas educacionais que embora tenham como objetivo proporcionar o seu desenvolvimento pleno têm lhes causado uma série de limitações [...] (LACERDA, s/d, p. 3). A autora aponta ainda que, ao desconsiderar a condição linguística do aluno surdo, as instituições de ensino e os professores insistem em utilizar as mesmas estratégias e metodologias de ensino elaboradas para alunos ouvintes, e que tais abordagens têm apresentado resultados pouco satisfatórios no ensino e aprendizagem desses alunos. Isso ocorre porque a inclusão e todos os seus aspectos exigem mudança de atitude, pois ela deve conduzir outros fatores educacionais, por isso deve ser vista como processo de transformação, em busca de uma nova modalidade de escola, de uma educação para todos. “A construção de uma sociedade inclusiva implica, certamente, mudanças radicais em alguns valores e padrões fundamentais profundamente enraizados na nossa cultura” (OMOTE, 2006, p. 267). O processo ensino-aprendizagem dos alunos surdos tem colocado em xeque a eficiência do sistema educacional brasileiro. As práticas pedagógicas constituem o maior problema na escolarização das pessoas com surdez. Torna-se urgente repensar essas práticas, para que os alunos com surdez não acreditem que suas dificuldades para o domínio da leitura e da escrita são advindas dos limites que a surdez lhes impõe, mas principalmente pelas metodologias adotadas para ensiná-los (DAMÁSIO, 2007, p. 21). Metodologias, materiais inadequadas e algumas práticas são o real motivo do insucesso escolar dos alunos surdos. A partir desta explanação, este trabalho levanta a seguinte problemática: Como adaptar materiais de matemática para o ensino de aluno surdo? 2.FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Entendemos que ensinar matemática tem sido um desafio há tempos e é comum sabermos que essa disciplina causa certa aversão por parte dos alunos, que não encontram sentido em estudar matemática, bem como um desconforto por parte dos professores que se sentem fracassados na missão de ensinar. Sobre o ensino de matemática para surdos, Costa, Moreira e Silveira (2015) Dissertam que O professor, ao ministrar uma aula de matemática, terá que dominar algumas técnicas importantes para que o sucesso seja alcançado, tais como metodologias adequadas e materiais visuais. Porém, independente das escolhas, o uso da linguagem em sala de aula, ou seja, a aplicação da forma de expor o conteúdo deve ser visto com muito cuidado, pois se a comunicação não se estabelecer da melhor forma, o aluno poderá dar um sentido diferente à proposição matemática (2015, p 70) Os autores com isso apresentam que uma das questões centrais envolvendo a educação de surdos na disciplina matemática é a visualização dos aspectos das linguagens presentes em sala de aula, tais como o uso da Língua de sinais. A matemática é um instrumento necessário para a sustentação de diversas áreas do conhecimento. Porém, apesar da sua importância, existem muitos problemas na aprendizagem. A matemática lida com conceitos abstratos e possui uma estrutura própria e autônoma, mesclando palavras e símbolos, pela simbiose entre linguagem matemática e linguagem natural (MACHADO, 2011). Tendo em vista a polissemia da linguagem natural, pode haver má interpretação nos enunciados matemáticos. No aprendizado do aluno surdo em relação à matemática, percebemos que uma inquietação central se refere à tradução e interpretação dos símbolos algébricos. Silveira (2014) apresenta acerca da interpretação de textos matemáticos: A interpretação do texto matemático consiste em traduzir os símbolos para a linguagem natural e, posteriormente, conferir sentido às palavras imersas em regras gramaticais e regras matemáticas. Fidelidade na tradução dos símbolos e liberdade limitada na produção de sentidos, já que os sentidos dependem das regras matemáticas que devem ser obedecidas. No exercício matemático, traduzem-se os símbolos da linguagem matemática para a linguagem natural. Este jogo de linguagem é necessário porque a linguagem natural não dá conta de explicar os conceitos matemáticos (2014, p.58). Sabem-se que na constituição de um enunciado matemático há a presença de códigos e símbolos próprios da linguagem matemática, fazendo com que o aluno precise traduzir para sua língua materna estes conteúdos para seu melhor entendimento. Nesse sentido, a linguagem matemática é tida como obstáculo à aprendizagem da disciplina. Esse obstáculo se verifica em todo o sistema formal, se destacando nos anos iniciais da escolarização. Entretanto, a falta ou a má interpretação do funcionamento dessa linguagem pode ser um grande entrave a aprendizagem. Sabemos que, no ensino com surdos, a Libras é importantíssima para a busca do aprendizado, tendo em vista que esta é a língua materna dessas pessoas. Entretanto, vemos que as escolas ainda não estão totalmente preparadas para o processo inclusivo. Por exemplo, no processo comunicativo em sala de aula. De acordo com Quadros e Karnopp (2004) A linguagem é restringida por determinados princípios (regras) que fazem parte do conhecimento humano e determinam a produção oral ou visuoespacial, dependendo da modalidade das línguas (falada ou sinalizada), da formação das palavras, da construçãodas sentenças e da construção dos textos. Os princípios expressam as generalizações e as regularidades da linguagem humana nesses diferentes níveis (2004, p. 16). Karnopp (1994) destaca que a percepção visual é de grande importância para o desenvolvimento dos surdos. E isso é fato, e assim a autora mostra que as escolhas que são apresentadas aos alunos devem versar sobre essa possibilidade. O ensino de matemática apresenta algumas características que nos remetem a ideia da visualidade, pois além da existência de conteúdos que favorecem a possibilidade do visual (geometria, por exemplo) os conteúdos algébricos são comumente explicados pelos professores a partir de elementos visuais (como o quadro e o pincel) para serem mais bem expostos. 3.MATERIAIS E MÉTODOS Este estudo constituiu-se em uma pesquisa bibliográfica que adotou, como procedimento metodológico, a Revisão Sistemática da Literatura. Durante o desenvolvimento optou-se pela pesquisa nas bibliotecas virtuais e a busca em trabalhos que também utilizaram fontes de pesquisas análogas com objetivos similares, em universidades que possuíam Programas de Graduação e Pós-graduação em Educação e autores como (COSTA, MOREIRA E SILVEIRA 2015) (QUADROS E KARNOPP (2004) dentre outros. Durante a idealização do plano de trabalho realizaram-se encontros online com professor (tutor) orientador para sanar dúvidas recorrente ao artigo no qual, contemplaria a pesquisa. Para nortear o desenvolvimento do presente trabalho, buscou-se subsídios no pensamento de COSTA, MOREIRA E SILVEIRA especialistas e pesquisadoras na área da matemática que muito contribui com suas pesquisas para aprofundamento do tema escolhido. Silveira (2014, p. 48) assevera ter a linguagem matemática Seus códigos, dentre outras coisas, representa de forma abreviada o texto escrito pela linguagem natural. Esta abreviatura surge por meio da formalização da linguagem, mas que comporta um resíduo indicador dos sentidos contidos no texto não abreviado, que foram suprimidos no processo de abreviação. A autora assume que o texto matemático tem uma estrutura específica, onde muitas vezes pode adquirir uma forma abreviada, ou seja, quando o texto é traduzido da linguagem natural para a linguagem matemática e é codificado por meio de seus símbolos. Para que o aluno compreenda o texto matemático, faz-se necessário que ele domine os conceitos que estão utilizados no referido texto. No ensino de alunos surdos, é uma das dificuldades que mais se apresenta em sala de aula, pois alguns símbolos matemáticos do texto não encontra uma tradução equivalente em LIBRAS. Entretanto, pensamos que a presença do intérprete de LIBRAS pode ser a solução mais fácil e rápida para suprir essa questão, porém devemos ressaltar que se a forma da abordagem em sala não se mostrar inclusiva, pode haver o profissional tradutor-intérprete de LIBRAS que as dificuldades para os surdos ocorrerão da mesma forma. Como a língua de sinais é visual e a linguagem matemática utiliza de muitos elementos visuais, é importante que o profissional que utiliza os sinais na sala de aula (o professor e/ou o intérprete) domine esta linguagem, para que as traduções sejam compreendidas, pois com o conhecimento matemático, quem faz a interpretação terá condições de repassar com maior propriedade os conceitos matemáticos, favorecendo a aprendizagem dos surdos. Para exemplificar melhor obtivemos algumas fotos de materiais utilizados em sala de aula com alunos surdos no ensino de matemática do Colégio Bom Pastor da cidade de Rio verde. 4. RESULTADO E DISCUSSÃO Ao se examinar alguns documentos verifica-se que muitos conceitos matemáticos não são compreendidos pelos surdos, devido principalmente as barreiras comunicativas que se apresentam no processo de ensino e de aprendizagem. O fato de não haver muitos sinais matemáticos traduzidos para a LIBRAS e que os que existem ainda não são amplamente divulgados pelos usuários da língua de sinais, tende a dificultar ainda mais o avanço desta área de estudo. Em vista do que foi analisado reflete-se e conclui-se que o ensino e aprendizagem do aluno surdo voltado para ensino da matemática precisa se adequar de acordo com a realidade vivenciada na sala de aula, pois esse alunado ainda está longe de ter uma educação de qualidade, adaptações de conteúdos deverão ser revistos pelo professor e sistema de ensino. 5.REFERÊNCIAS COSTA, Walber Christiano Lima da; SILVEIRA, Marisa Rosâni Abreu da. Desafios da comunicação no ensino de matemática para alunos surdos. BoEM, Joinville, v.2. n. 2, p. 72-87, jan./jul. 2014. LACERDA, C. B. F. Atendimento educacional especializado: necessidades educativas do sujeito surdo. São Carlos: UFSCar, s/d. LACERDA, C. B. F.; LODI, A. C. B. Uma escola duas línguas: letramento em Língua Portuguesa e língua de sinais nas etapas iniciais de escolarização, 4. ed. Porto Alegre: Mediação, 2012. MACHADO, N. J. Matemática e Língua Materna. São Paulo: Cortez, 2011. SILVEIRA, Marisa Rosâni Abreu da. A Dificuldade da Matemática no Dizer do Aluno: Ressonâncias de sentido de um discurso. Educação e Realidade. Porto Alegre, v. 36, n. 3, p.761- 779, set./dez. 2011. SILVEIRA, Marisa Rosâni Abreu da. Tradução de textos matemáticos para a linguagem natural em situações de ensino e aprendizagem. Educ. Matem. Pesq., São Paulo, v.16, n.1,pp. 47-73, 2014. QUADROS, Ronice Muller de; KARNOPP, Lodenir Becker. Língua de Sinais Brasileira –Estudos Linguísticos. ArtMed Editora. Porto Alegre, 2004. UNESCO. Declaração de Salamanca e linhas de ação sobre necessidades educativas especiais. Brasília: CORDE, 1994.