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Mário de Sá Carneiro

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ento,lhe escrevia um
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orais que s
e
 atribui c
o
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 violencia e até m
e
s
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o
 
crueldade. N
o poem
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cados p
ara acen
tu
ar-lh
e a falta d
e caráter: o "d
ú
b
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 m
ascarado, o m
en
tiro
so
", 
o 'R
ei-lua postiço, o falso atónito", "o covarde rigoroso", chegando à im
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 igualando-a a
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provocado pelo vôm
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 qual define poeticam
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obre, a quem
 
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 profunda depressão, vindo a m
atar- 
se em
 26 de abril de 1916, prestes a com
pletar 26 anos de idade.
co
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m
ará n
o
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terro
 
N
arcisista, transitando da autoadm
iração à autorrejeição, sem
pre
e
n
-
tre, sem
pre quase, S
á-C
arneiro, em
 seus breves anos de vida, se fez um
 dos 
grandes escritores 
- poeta e prosador 
-
da língua portuguesa. U
m
 dos s
e
u
s
 
m
ais belos poem
as encerra, desde o titulo, o que poderia ser considerada a 
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arca: "Q
uase." P
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o
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a 
por dois quartetos quase iguais. Só os diferencia no tem
po verbal: passa-se 
do im
perfeito para o m
ais-que-perfeito do indicativo, am
bos usados c
o
m
 
sentido hipotético.condicional. Entre ambos, decorreuo tem
po do poema 
das experiências tentadas, m
a
s
 incom
pletam
ente vividas: "U
m
 pouco m
ais 
EXCLUÍDO POR
SI M
ESM
O 
Sá-Carneiro,homem e poeta, é o que foi som
ado ao que se sonhou; da ir-
realização
do sonho, alto dem
ais, ficou-lhe o am
argor do insucesso, que o 
levou à autodefinição impiedosa e a
o
 desejo de u
m
 en
terro
 desm
oralizan-
te, impressos
n
o
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a "Fim":"Que o m
e
u
 caixão vá sobre u
m
 b
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/() 
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Opoela só lala de si pondo-se e
m
 ridículo, u
m
 ridículo que 
o persegB 
ale o m
om
ento final. Aí se põe 
n
o
 centro da cena, grotescamente m
ontauo 
num
 burro, quebrado o silèneio, a seu
 pedido, pelo ruído áspero do baler e 
latas, do estalar dos chicotes e dos saltos dos palhaços e acrobatas. O
s 
trazidos para a ribalta não lhe fazem contraponto: obedecem-lhe as orue 
no afa de tirar toda a dignidade do momento definitivo da morte 
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 golpe de asa... / Se ao m
enos eu perm
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indicadas nas n
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tas apostas ao seu
 título: 
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e, ad
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 ortograia d
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 ESCRITO
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 lançar-se u
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 olhar sobre a obra de Sá-Carneiro, necessário 
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 partes d
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 n
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incluídas na antologia. 
lacar sua criatividade e
o
 aspecto "feérico" observados e
m
 s 
tanto na poesia com
o em
 su
a prosa 
-
,
 e principalmente, s 
de renovação da Literatura Portuguesa; de trazer 
época, que persiste até nossos dias. 
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S
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 utilizado para indicag�o 
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le, sua capacidade 
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2. 
13. 
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A
 
O
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inha desconhecida 
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osa deves ser.. 
D
ava toda a m
inha vida 
Só para te conhecer! 
M
ais fresca 
e m
ais perfum
ada 
D
o que as m
anh�s 
lum
inosas, 
A
 tua carne dourada 
C
om
o há de saber a rosas! 
D
a m
inha boca de am
ante 
S
e
r o m
anjar preferido 
O
 teu
 co
rp
o
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aecid
o
 
T
odo 
n
u
 e perturbante. 
Q
ue bem
 tu m
e hás de beijar 
C
om
 o
s
 te
u
s lábios viçosos! 
O
s teu
s seios capitosos 
C
om
o hão de saber am
ar.. 
O
s teus cabelos esparsos 
Serão o m
anto da noite, 
U
m
 refúgio onde m
e acoite 
D
o sol dos teu
s olhos garços. 
O
lhos garços, cor do céu, 
C
abelos de noite escura, 
S
erá feita de incoerèncias 
Toda a tua form
osura. 
27. 
M
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n
io
r 
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m
 ti 
m
e
s
m
o
 e 
e
r
a
s
 corajoso, 
Tu tinhas ideais e tinhas confiança, 
O
h! quantas v
e
z
e
s
 desesp'rançoso, 
N
ão invejei a 
tu
a
 esp'rança! 
Dizia para m
im
:-Aquele há de v
e
n
c
e
r
 
A
quele há de colar a boca sequiosa 
N
u
n
s láb
io
s co
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sa 
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u
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u
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c
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im
 
-
a
s
a
s
 partidas. 
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as esp ranças, am
bições.. 
A
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h
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res ilusões, 
E
ssas e
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a
m
 já perdidas.. 
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ersa n
o
 azul d
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s cam
p
o
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erais 
S
orria para ti a grande encantadora. 
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 grande caprichosa, 
a grande a
m
a
n
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sso
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eais. 
R
obusto cam
inheiro e forte lutador 
H
avias de chegar ao fim
 da longa estrada 
7/ 
O
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om
ás C
abreira Jú
n
io
r, seu am
igo, com
 quem
 eserevera a peça A
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izade, 
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te, m
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29. 
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e ti, voltava-m
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lória.. a partir! 
la lançar-m
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bir!... 
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 dia, tu, o grande corajoso, 
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n
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T
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bém
 desfaleceste. 
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ão
 te esp
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u eras m
ais brioso: 
E, sereno, esperarias 
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quela segunda vida 
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o
rreste. 
F
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cid
o
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ão sei. 
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os eternos vencedores 
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ão
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en
cid
o
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ue revivenm 
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A
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istir sem
 v
iv
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Eu teria adorm
ecido 
Espojado no cam
inho, 
Preguiçoso, entorpecido, 
Cheio de raiva, daninho.. 
Recordo c
o
m
 saudade a
s
 horas que passava 
Quando ia a tua casa e tu, m
uito anim
ado, 
M
e lias u
m
 trabalho há pouco term
inado, 
Na salazinha verde e
m
 que tão bem
 s
e
 estava. 
F
oi triste,
m
u
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 triste,am
igo,
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tu
a
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te
 
M
ais triste d
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 de 1911 
Dizíamos ali sinceram
ente 
As nossas ambições, o
s n
o
sso
s ideais: 
U
m
 livro impresso, u
m
 dram
a e
m
 cen
a, o n
o
m
e
 nosjo 
Dizíamos tudo isso, amigo, seríamente.. 
a
i... 
31. 
M
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30. 
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Eu, que até hoje 
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uito, m
uito grande. E
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E
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ãe souberam
 resistir. 
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unca devem
os sucum
bir a
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 pranto; 
E
 preciso te
r força 
e reagir. 
Paris. In
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 e sol. T
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e gentil. 
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 quando, 
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 de abril. 
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erdido o seu am
paro, o seu am
or, 
C
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 por terra, escravos dum
a dor 
Que é apenas o fim
 dum
 sonho lindo. 
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gora sigo a 
s
u
a
 silh
u
eta 
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tédesaparcer no boulevard, 
E
eu que n�o 
sou nem
 nunca fui p
o
eta, 
Estes versos com
eço a m
editar. 
E
las trabalham
. T
êm
 confiança. 
S
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ezes o seu
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e seca, e v
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lta-lh
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Perfil perdido. Im
aginariam
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Vou conhecendo a s
u
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 vida inteira. 
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ssim
 vou suscitando, em
 fantasia, 
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 que o pai lhe m
o
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 recentem
ente. 
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oda a ventura dum
a vida pobre 
E
u
 co
m
p
reen
d
o
 n
este fim
 d
e dia: 
(Ah c
o
m
o
 n
esse instante a invejei, 
Olhando a minha vida deplorável-
P
ara um
 bairro longínquo e salutar, 
U
m
a casa m
o
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esta e sossegada; 
S
eis divisões (a renda é lim
itada) 
M
as que gentil salinha de jantar.. 
o
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m
a
, enviado por Sá-C
arneiro
a Pessoa e
m
 c
a
rta
 de fevereiro 
d
e
 ig' 
puna de g2 versos, exatam
ente divididos 
e
m
 duas partes, de 13 quaara 
precedido de u
m
a recomendação (c 
se
 com
e 
A
legre, confortávele pequena; 
M
ó
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teis, sen
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ela janela sã
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 jardins floridos 
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a. 
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e
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a
 
carta n° 5). As 13 quadras iniciais. q
u
e
 e
le
 classiia 
n
a
lu
ra
s, seguem-se 
a
s
 outras 13, irreais, ideais. Estas últim
as, ae 
nelras, constituirão 
o poem
a de abertura do volum
e Dispersã0, que 
fiftulo"Partida"', que 
se m
antém
 nesta antologia, com
o e
m
 todas 
algumas 
erações su
as nas estrofes u
m
e
 três, 
não havia na versão enviada n
a carta). 
s das pri 
em
 to
d
as as edições 
és, e com
 a in
serção
 d
e um
as 
do poela, com
 
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ia
l(q
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9 eurioso que Sá-Carneiro, 
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e
u
 ver visceralmente poeta, duviae 
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 poeta, d
u
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 d
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 gênio. 
33. 
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32. 
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fé robusta dispersou a d
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aquela vida faz c
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az, sim
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e 1913 
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A
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a era a segunda parte d
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u
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titu
lo
 "Sim
ples- 
m
ente...",Sá-C
arneiro
enviara a P
essoa e
m
 carta de a6
 d
e fevereiro d
e 1913 
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o
 prim
eiro poem
a de Dispersão s
e
 retlete a m
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ania d
o
 poeta. 
12/ 
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inhalm
a nostálgica d
e além
 
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 verso-chave d
a atitude d
e
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a vida, q
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POESIA 
3
5
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M
iragem
 roxa de n
im
b
ad
o
 e
n
c
a
n
to
- 
S
into os m
neus olhos a volver-se em
 espaço! 
A
lastro, venço, ch
eg
o
 e ultrapasso; 
S
ou labirinto, sou lico
rn
e e acanto.5 
E
 su
scitar c
o
r
e
s
 e
n
d
o
id
e
c
id
a
s,4
 
Ser garra im
perial enclavinhada, 
Enum
a extrem
a-unção de alm
a am
pliada, 
Viajar o
u
tro
s sentidos, o
u
tra
s vidas. 
S
ei a D
istància, co
m
p
reen
d
o
 o A
r; 
S
ou chuva de o
u
ro
 e sou esp
asm
o
 de luz; 
S
ou taça de cristal lançada ao m
ar, 
D
iadem
a e tim
bre, 
elm
o
 real e cruz... 
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
 
Sercoluna de fum
o, astro perdido, 
Forçar os turbilhoes aladam
ente, 
Ser ram
o de pam
eira, água nascente 
Earco de ouro e cham
a distendido... 
O
 bando das q
u
im
eras longe assom
a... 
Q
ue apoteose im
en
sa pelos céus! 
A
 
c
o
r
 j
á
 n
ã
o
 é 
c
o
r
 -
é 
s
o
m
 e 
a
r
o
m
a
!
7
 
V
êm
-m
e saudades d
e ter sido D
eus... 
Asa longinqua a sacudir loucura, 
Nuvem precoce de sutil vapor, 
Ansia revolta de m
istério e olor, 
A
o triunfo m
aior, av
an
te, pois! 
O
 m
eu
 destino é o
u
tro
 -
é
 alto
e é raro. 
Sombra, vertigem, ascensão 
-
A
ltura! 
U
nicam
ente custa m
uito caro: 
A
tristeza d
e n
u
n
c
a
 serm
os d
o
i.. 
Eeu dou-me todo neste fim
 de tarde 
A
 espira aérea que m
e eleva ao
s cum
es. 
P
aris fevereiro de 1913 
4N
otar a 
a
r a presença da cor e
m
 todo 
o poemae 
preponderante 
n
a
 poesia de Sá-Carneiro, aplic 
sentimentos e estados d'alma: ao
 roxo vai semp 
ruivo se liga um
 sentido de sensua Carneiro, aplicando-se às coisas concretas, b
em
 com
o a0 
re
tu
d
o
, n
e
s
te
 v
e
r
s
o
.
 A
 cor é elemen 
ensualidade, ao
 azul, u
m
a
 c
e
rta
 m
e
la
n
c
o
lia
 e 
a
o
 d
o
u
r
a
d
o
, áureo 
em
pre ligada a ideia de tris
te
z
a
, a
s
s
im
 c
o
m
o
 a 
ou de ouro, esplendor
das coisas preciosas. O
 poeta 
5
/ 
E
 frequente na poesia de S
á-C
arneiro
o em
prego do vocabulário sim
bolista. 
6
/ 
O
uso de term
os heráldicos, tão caro aos sim
bolistas, tam
bém
 o é a S
á-C
arneiro. 
Optou se por manter essa allernância. 
17 
U
m
a das m
ais belas sinestesias de toda a obra poética de S
á-C
arneiro. 
e o
r
 
utiliza a
s
 duas fo
rm
as: o
u
r
 
36. 
DOEIA 
37. 
M
A
R
IO
 D
E SA
 C
A
R
N
E
IR
O
 
A
N
T
O
L
O
G
IA
 
E
S
C
A
V
A
Ç
Ã
O
 
IN
T
E
R
-SO
N
H
O
 
N
um
a
an
sia d
e
 te
ralgunm
a c
o
u
s
a
,
 
D
ivago por m
im
 m
e
s
m
o
 a p
ro
cu
ra 
D
esço-m
e todo, e
m
 v
ão
, s
e
m
 n
a
d
a
 achar, 
E
a
m
in
h
a
lm
a
 perdida n
ã
o
 re
p
o
u
sa
. 
N
um
a incerta m
elodia 
Toda a m
inhalm
a se esconde. 
R
em
iniscencias de A
onde 
P
erturbam
-m
e em
 nostalgia.. 
N
ada tendo, d
ecid
o
-m
e a c
ria
r: 
M
anhã de arm
as! M
anh� 
de arm
as! 
B
rando a espada: s
o
u
 luz ha
rm
o
n
io
sa
 
E
 cham
a genial que tudo o
u
s
a
 
U
nicam
ente à força de sonhar... 
R
om
aria! R
om
aria! 
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
 
* 
T
ateio... dobro... resvalo... 
M
as a vitória fulva esvai-se logo... 
Ecinzas, cinzas só, e
m
 vez de fogo.. 
O
nde existo que não existo e
m
 m
im
? 
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
 
P
rincesas de fantasia 
D
esencantam
-se das flores.. 
********************************e*********************s******re** 
******************************************** 
* 
****************. 
Um cem
itério falso9 s
e
m
 ossadas, 
Q
ue pesadelo tão bom
.. 
N
oites d'am
or sem
 bocas esm
agadas -
ludo outro espasm
o
que princípio o
u
 fim
... 
* 
**************** 
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
 
Paris,3 de maio de 1913 
P
ressinto um
 grande intervalo, 
D
eliro todas as cores," 
V
ivo em
 roxo e m
o
rro
 em
 so
m
.. 
Paris, 6 de m
aio de 1913 
2
0
/ 
P
ela substantivação do advérbio de lugar, o poeta consegue localizar no inm
preciso a 
19 Apesar da alirmação reiterada da própria genialidade, 
a
r
n
e
i
r
o
 
s
e
n
t
e
-
s
e
 in
c
a
p
u
 
origem
 de s
u
a
s
 rem
iniscências. 
21/ 
A
 regência inusitada do verbo d
elirar denota a íntim
a afinidade do poeta 
c
o
m
 a
s
 c
o
- 
18/ 
Este éo problema máximo do poeta: abusca do próprio ser. 
de realizar-s inseguro, falso. Este últimno adjetivo volta- 
re
s
 e 
a 
s
u
a
 a
c
u
id
a
d
e
 se
n
so
ria
l que ta
m
b
é
m
 s
e
 m
a
n
ife
sta
 
n
o
 ú
ltim
o
 
v
e
r
s
o
:
 "V
iv
o
 e
m
 ro
x
o
 
e 
Sucesso. 
m
o
rro
 e
m
 so
m
." 
ra
d
a
 in
 
v
o
lta-lh
e ao
s láb
io
s e à 
38. 
POEIA 
39 
M
A
R
IO
 
D
E
 
S
A
 C
A
R
N
E
IR
O
 
A
N
T
O
L
O
G
IA
 
A
L
C
O
O
L
 
G
u
ilh
o
tin
a
s
. pelouros e 
c
a
s
te
lo
s
 
R
esv
alam
 lo
n
g
em
en
te e
m
 p
ro
cissão
; 
V
o
lteiam
-m
e c
re
p
ú
se
u
lo
s a
m
a
re
lo
s
, 
M
o
rd
id
o
s, d
o
e
n
tio
s de ro
x
id
ã
o
. 
Que droga foi a que m
e
 inoculei? 
O
pio de inferno em
 vez de paraíso?.. 
Q
ue sortilégio a m
im
 próprio lancei? 
C
om
o é que em
 d
o
r genial eu
 m
e eterizo? 
N
em
 ó
p
io
 n
e
m
 m
o
rtin
a. O
 q
u
e
 m
e
 ard
eu
, 
Foi álcool m
ais r
a
r
o
 e penetrante: 
E
 só de m
im
 q
u
e ando delirante- 
M
an
h
�tão
 
fo
rte q
u
e
 m
e
 a
n
o
ite
c
e
u
.5
 
B
atem
 a
s
a
s
 de a
u
ré
o
la
 a
o
s
 m
e
u
s
 o
u
v
id
o
s," 
G
rifam
-m
e sons de cor e de p
erfu
m
es,3
 
Ferem
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e os olhos tu
rb
ilh
õ
es d
e
 g
u
m
e
s, 
D
escem
-m
e a alm
a, san
g
ram
-m
e o
s
 se
n
tid
o
s. 
P
aris, 4 de m
aio de 1913 
Respiro-m
e n
o
 a
r que a
o
 longe v
e
m
, 
Da luz que m
e
 ilu
m
in
a participo; 
Quero reunir-m
e e todo m
e
 dissipo -
4
 
Luto, estrebucho.. Em
 vão! Silvo pra além
.. 
C
orro e
m
 volta de m
im
 se
m
 m
e
 en
co
n
trar.. 
Tudo oscilae se
 abate c
o
m
o
 espum
a.. 
Um
 disco de o
u
ro
 surge a voltear.. 
Fecho o
s m
eu
s olhos c
o
m
 pavor da brum
a.. 
2 
Aproximamos a frase "asas de auréola" desta outra, do poem
a rar 
auréola", embora não percebendo bem
 
o sentido 
de a 
(V
 2
0
): m
ã
o
8
 
q
u
e
 lhes atribui o 
o
e
t
a
;
 s
e
rá
, talvez, 0 
s q
u
e
 o v
o
c
á
b
u
lo
 a
u
ré
o
la
 
a
le
 m
u
ilo
 
a asase m
ãos que coroam
, que glorificam? M
as crem
os que 
o vocabu 
pela presença do ouro e por su
a
 beleza sonora que terá impressiona 
lista Sá-Carneiro. 
23 Nova sinestesia 
-visual-sonoro-olfativa 
-
, esta m
uito espee 
cor e o perfume são o instrumento, 
o poeta é o pac1 
opoeta acentua a sua passividade perante o exterior, que procu 
24 
Näo 
se esqueça de que 
o título do volume é 
originalmente. 
S
o
n
s
 s
ã
o
 o agen 
paciente. D
esta m
aneira 
e
s
t
r
a
n
h
a
 e o
rig
n
l 
35/ 
N
estes d
o
is elem
en
to
s an
titético
s c
o
lo
c
a
d
o
s n
o
 início e 
n
o
 fim
 d
o
 ú
ltim
o
 v
e
r
s
o
 d
o
 poe- 
m
a
, S
á-C
arn
eiro
 sin
tetiza a d
u
alid
ad
e d
o
 s
e
u
 s
e
r
 e 
a disparidade ex
isten
te e
n
tre
 ele e
o
 o
u
tro
. 
é Dispersa 
q
u
a
l o 
p
o
e
m
a
 está in
s
e
rid
o
 
A0. 
DOESIA 
41. 
M
A
R
IO
 D
E
 
S
A
C
A
R
N
E
IR
O
 
A
N
T
O
L
O
G
IA
 
V
O
N
T
A
D
E
 D
E
 D
O
R
M
I
R
 
D
ISPERSÃ
o 
F
io
s de o
u
r
o
 p
u
x
a
m
 p
o
r m
im
 
Perdi-m
e dentro de m
im
 
A
 
s
o
e
r
g
u
e
r
-
m
e
 na p
o
e
ira
- 
C
ada u
m
 p
a
ra
 o 
s
e
u
 im
, 
C
ada u
m
 p
ara o s
e
u
 n
o
r
te
... 
Porque eu era labirinto, 
E
 hoje, quando 
m
e
 sinto, 
E
 co
m
 sau
d
ad
es d
e m
im
. 
Passei pela m
inha vida 
U
m
 astro doido a sonhar. 
*
*
*
s
*
s
*
 
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
 
N
a ansia de ultrapassar, 
N
em
 dei pela m
inha vida.. 
-A
i q
u
e sau
d
ad
es da m
o
r
te
.. 
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
 
*
*
*
 
******** 
P
ara m
im
 é sem
p
re o
n
tem
, 
N
ão tenho am
anh� 
n
e
m
 hoje: 
O
 tem
po que a
o
s
 o
u
tro
s foge 
C
ai sobre m
im
 feito ontem
. 
Q
uero dorm
ir.. ancorar. 
***************************"************ 
* 
A
rranquem
-m
e esta grandeza! 
-
Pra que m
e
 sonha a beleza, 
Sea não posso transmigrar?.. 
(O
 D
o
m
in
g
o
 d
e P
aris 
L
em
bra-m
e o desaparecido 
Q
ue sentia com
ovido 
O
s D
om
ingos de Paris: 
Paris, 6 de m
aio de 1913 
Porque u
m
 domingo é fam
ília. 
E
 bem
-estar, é singeleza, 
E
os que olham
 a beleza 
N
ão tem
 bem
-estar nem
 fam
ília.) 
27/ 
E
m
 c
a
rta
 a F
ern
an
d
o
 Pessoa, datada d
e Paris, de 3 de m
aio de 1913. S
á-C
arneiro c
o
n
ta
- 
-Ihe a gênese d
estes v
e
rs
o
s
: e
sta
v
a
 ele só, sen
tad
o
 n
a
 te
rra
sse
 de u
m
 calé, e
. para passar 
o 
tem
po, fazia b
o
n
eco
s n
u
m
 papel; 
súbito, c
o
m
e
ç
o
u
 a 
e
s
e
r
e
v
e
r
 v
e
r
s
o
s
 "c
o
m
o
 que a
u
to
m
a
- 
ticam
ente". A
ssim
 fez m
ais de m
etad
e das quadras, "boa tradução d
o
 estado sonolento, 
m
aquinal, 
e
m
 q
u
e e
s
c
e
re
v
e
ra
 e
s
s
e
s
 versos". O
 re
sto
 do poem
a, fê-lo 
n
o
 dia seguinte, "n
u
m
 
estado norm
ale retletidam
ente." (C
. carta n
° 8). 
2b Nole-se a atitude de passividade do poeta perante a 
Ma inversão de posições:
a belezao 
s 
ex
terio
res, aq
u
i exp 
1
o
 sonha, ele é
o
 sonhado. 
4
3
. 
M
Á
R
IO
 D
E S
Å
 CA
RN
EIRO
 
A
N
T
O
L
O
G
IA
 
42 
CAS1 
O
 pobre m
o
ç
o
 d
a
s â
a
n
s
ia
s
. 
Tu, sim
., tu
 e
r
a
s
 a
lg
u
é
m
! 
Efoi por isso
 ta
m
b
é
m
 
Oue te
 a
b
is
m
a
s
te
 n
a
s
 â
n
s
ia
s
. 
N
ãoperdiam
inha alm
a, 
Fiquei com
 ela, perdida. 
A
ssim
 eu
 choro, da vida, 
A
 m
o
rte
 da m
in
h
a
 alm
a. 
A
g
ran
d
e av
e d
o
u
ra
d
a
 
S
a
u
d
o
sa
m
e
n
te
 re
c
o
rd
o
 
B
ateu a
s
a
s
 para o
s
 c
é
u
s 
M
as fechou-as saciad
a 
U
m
a gentil com
panheira 
Q
ue 
n
a
 m
in
h
a
 v
id
a in
te
ira
 
A
o v
e
r
 que ganhava o
s
 céu
s.2
8
 
E
u
 n
u
n
c
a
 vi... m
a
s
 re
c
o
rd
o
 
C
om
o se chora um
 am
an
te, 
A
 su
a b
o
ca d
o
irad
a 
E
o
 s
e
u
c
o
rp
o
 e
s
m
a
e
c
id
o
, 
E
m
 u
m
 hálito p
erd
id
o
 
Q
ue v
e
m
 n
a
 ta
rd
e
 d
o
irad
a. 
A
ssim
 m
e
 c
h
o
ro
 a m
im
 m
e
s
m
o
: 
Eu fui am
ante in
co
n
stan
te 
Que se
 traiu a si m
e
s
m
0
. 
Não sinto o espaço que e
n
c
e
rro
 
Nem
 as linhas que projeto: 
Se m
e
 olho a um espelbo, e
rro
 
Não m
e
 acho n
o
 que projeto9 
(As m
in
h
a
s grandes sa
u
d
a
d
e
s 
S
ão
 d
o
 q
u
e
 n
u
n
c
a
 en
lacei. 
A
i, 
c
o
m
o
 e
u
 te
n
h
o
 sa
u
d
a
d
e
s 
D
o
s so
n
h
o
s q
u
e
 n�o 
so
n
h
ei!...3
° 
Regresso dentro de mim 
Mas nada m
e fala, nada! 
Tenho a alma amortalhada, 
E
 sin
to
 q
u
e
 a m
in
h
a
 m
o
rte
 
-
M
in
h
a
 d
isp
e
rsã
o
 to
ta
l- 
E
x
iste lá lo
n
g
e, ao
 n
o
rte
, 
N
um
agrande capital.3 
Sequinha, dentro de m
im
. 
28/ 
O
 poeta é um
 permanente insatisfeito, po. 
s
0
t
 
30/ 
A
 sau
d
ad
e d
o
 q
u
e n
ã
o
 pôde 
te
r é s
e
n
tim
e
n
to
 q
u
e ta
m
b
é
m
 aflige 
F
e
rn
a
n
d
o
 Pesso0a, 
e
m
b
o
ra
 c
o
m
 m
atiz algo d
iv
erso
. P
ela b
o
ca d
e s
e
u
 h
e
te
rô
n
im
o
 A
lvaro d
e C
am
pos, diz: "(.) 
o 
q
u
e 
n
u
n
c
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 foi, 
n
e
m
 se
rá
 p
ara trás, 
m
e
 d
ó
i (..)." (PE
SSO
A
, F
e
rn
a
n
d
o
. A
ntologia poética. 
O
rganização, ap
resen
tação
 
e 
e
n
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Palavra, 2012.p. 193). 
Irala-se da m
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a vez atingido, o ideal não ma 
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2/ 
No estudo crítico 
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de Sá-Carneiro, João Gaspar Simões assim 
"Dispersão' diz bem 
a natureza da sua 
Carneiro sentia- se transp 
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da sua sensibilidade. Por falta 
Iransparente: não detinha a sensação 
dade atravessava-o, deixava-o sem
 imagem no espelh0. 
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completas de Mário de Sá-Carneiro. Estudo erítico de Joa 
Ática, ngs3 p.2y6) 
44. 
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ãos longas e lin
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s, 
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enino ideal. 
*
*
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 faltou afinal? 
Um elo? Um
 rastro?... A
i de m
im
..3
 
*
*
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*
*
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*
*
*
 
* 
P
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D
esceu-m
e nalm
a o crepúsculo; 
Eu fui alguém que passou. 
Serei, m
a
s já não m
e
 sou:4 
Não vivo, durm
o o crepúsculo. 
S
I
S
I
m
o
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m
a
 de su
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s m
ais fortes m
aniesia 
ternura pelas próprias m
ãos é tem
a de m
uitos v
erso
s seus. 
33 
Em carla 
a Gaspar Simões, de 
u de dezem
bro de 1931, escreve re 
e 
1931, 
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s
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36/ 
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e Paris, d
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aio
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e 1913. 
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ais alta, to
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 n° 8). 
nãe incógnita (.). 
m
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M
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n
a
 acepção de existir. existirei, m
as ja n
ao
 
não lenho conseiéncia de minha existència. 
s
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o
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 m
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im
, isto 
46. 
POESTA 
47. 
M
A
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