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APOSTILA DE DIREITO PENAL MARCEL

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CONCEITO 
 O Direito penal, também conhecido como Direito criminal, é o ramo do direito 
público dedicado às normas emanadas pelo Poder Legislativo para reprimir 
os delitos, lhes imputando penas com a finalidade de preservar a sociedade e 
proporcionar o seu desenvolvimento. 
 
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE 
CONSTITUIÇÃO FEDERAL ~> STATUS CONSTITUCIONAL 
Artigo 5º, XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem 
prévia cominação legal; 
 
CÓDIGO PENAL ~> STATUS LEGAL 
 Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia 
cominação legal. 
 
CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS ~> STATUS SUPRALEGAL 
Artigo 9. Princípio da legalidade e da retroatividade Ninguém pode ser 
condenado por ações ou omissões que, no momento em que forem cometidas, não 
sejam delituosas, de acordo com o direito aplicável. Tampouco se pode impor pena 
mais grave que a aplicável no momento da perpetração do delito. Se depois da 
perpetração do delito a lei dispuser a imposição de pena mais leve, o delinqüente será 
por isso beneficiado. 
 
Obs: Legalidade penal é considerada cláusula pétrea! 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Direito_p%C3%BAblico
https://pt.wikipedia.org/wiki/Direito_p%C3%BAblico
https://pt.wikipedia.org/wiki/Norma_jur%C3%ADdica
https://pt.wikipedia.org/wiki/Poder_Legislativo
https://pt.wikipedia.org/wiki/Delito
https://pt.wikipedia.org/wiki/Pena_(Direito)
https://pt.wikipedia.org/wiki/Sociedade
https://pt.wikipedia.org/wiki/Desenvolvimento_social
ABRANGÊNCIA: 
-Alcança contravenções penais -Não abrange os inimputáveis 
 
CARACTERÍSTICAS DA LEI PENAL 
1. PRÉVIA – Anterioridade Penal 
2. ESCRITA – É literal. Costumes não criam crime nem pena 
3. ESTRITA – Incide apenas no fato previsto 
4. TAXATIVA – Lei é clara e precisa 
5. NECESSÁRIA 
 
PRINCÍPIO DA EXCLUSIVA PROTEÇÃO AO BEM JURÍDICO 
Apenas os bens jurídicos realmente vitais para a sociedade, elencados na 
Constituição, podem ser resguardados pela intervenção penal. Direito penal como 
ultima ratio. 
 
PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA 
Direito penal só deve intervir quando estritamente necessário, ou seja, quando os 
outros ramos do direito falharem. 
 
LEGALIDADE 
Formal Procedimento 
Material 
Adequação 
constitucional 
Direito Penal 
Quando outros ramos 
falharem 
SUBSIDIARIEDADE 
(edição da Lei) 
Relevante lesão 
necessária 
FRAGMENTARIEDADE 
(aplicação da Lei) 
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA OU BAGATELA 
A insignificância da lesão afasta a intervenção penal e a tipicidade material. Ainda 
que formalmente haja o crime, o fato é atípico. 
 
Obs¹: Insignificância ≠ Crime de menor potencial ofensivo. 
Obs²: Insignificância é incompatível com violência ou grave ameaça! 
Obs³: Reincidência e antecedentes NÃO impedem a insignificância. 
Requisitos: 
 Mínima ofensividade da conduta 
 Ausência de periculosidade da ação 
 Reduzido grau de reprovabilidade do comportamento 
 Inexpressividade da lesão jurídica provocada 
 
PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO SOCIAL 
Não pode receber tutela penal a conduta aceita ou fomentada pela sociedade. 
Ex: Vender cd pirata. 
 
PRINCÍPIO DA MATERIALIZAÇÃO (EXTERIORIZAÇÃO) DO FATO 
Só podem ser incriminadas penalmente condutas humanas voluntárias que se 
exteriorizem por meio de concretas ações ou omissões (FATOS). 
Obs¹: Ninguém pode ser castigado por seus pensamentos, desejos ou cogitações. 
Bagatela 
Própria 
Afasta a 
tipicidade 
material 
Imprópria 
Desnecessidade 
completa da 
pena 
Obs²: Forma de vida, convicção pessoal, ideologia e personalidade não podem 
servir de fundamentos para a responsabilidade criminal. 
Obs³: ALTERIDADE: Direito penal não pune a autolesão. 
 
PRINCÍPIO DA OFENSIVIDADE (LESIVIDADE) 
É requisito para a intervenção penal a real lesividade da conduta. 
Obs: É necessária a adequação da conduta a um conceito material de crime! 
 
PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL (INTRANSCENDÊNCIA) 
Artigo 5º, XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a 
obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos 
da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do 
patrimônio transferido; 
 
PRINCÍPIO DA CULPABILIDADE 
Artigo 5º, LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de 
sentença penal condenatória; 
Sob Direito Processual Penal: Presunção de inocência 
Sob Direito Penal: Culpabilidade 
Obs¹: Não há crime sem culpa ou dolo 
Obs²: A punição deve ser proporcional a responsabilidade da conduta 
 
 
 
PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE PENAL SUBJETIVA 
Ninguém pode ser castigado senão pelas consequências queridas (dolo) ou 
previstas (culpa) de seus atos 
 
PRINCÍPIO DA IGUALDADE 
 
 
 
 
LEI PENAL NO TEMPO 
Regra Geral: TEMPUS REGIT ACTUM (tempo rege o ato) 
Exceção: Extra atividade benéfica: possibilidade de a lei penal, depois de 
revogada, continuar a regular fatos ocorridos durante a vigência (ultra-atividade) 
ou retroagir para alcançar fatos ocorridos antes de sua entrada em vigor 
(retroatividade). 
Para resolver os casos de sucessão de lei, basta observar um único critério: 
aplica-se a regra penal mais benéfica ao acusado, na forma retroativa ou 
ultra-ativa. 
Em regra, aplica-se a lei penal vigente ao tempo da prática do fato criminoso, de 
acordo com o princípio do tempus regit actum. Quer-se dizer que a lei penal 
ISONOMIA 
Formal Todos igualmente 
Material 
Todos 
desigualmente 
(ações afirmativas) 
produzirá efeitos, em regra, no período da sua vigência, de acordo com a lei vigente 
na época do fato. 
Assim, praticado um crime, por exemplo, na data de 22 de julho de 2013, reger-se-
á a pretensão punitiva estatal, a princípio, de acordo com as regras vigentes nesta 
data. Exceção à regra supracitada ocorre nos casos de extra-atividade da lei penal, 
em que abrange a retroatividade da lei mais benéfica e sua ultra-atividade. 
Em síntese: “O fenômeno jurídico pelo qual a lei regula todas as situações ocorridas 
durante seu período de vida, isto é, de vigência, denomina-se atividade. A atividade 
da lei é a regra. Quando a lei regula situações fora de seu período de vigência, ocorre 
a chamada extra-atividade, que é a exceção” (CAPEZ, 2007. P. 54) 
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS 
Três são os fundamentais princípios aplicados no instituto da eficácia da lei penal 
no tempo: a) legalidade, no sentido de anterioridade; b) irretroatividade e c) 
retroatividade da lei mais benigna. 
Não há infração ou sanção penal sem lei anterior, isto é, sem lei prévia. Esse 
desdobramento do princípio da legalidade traduz a ideia da anterioridade penal, 
segundo o qual a para a aplicação da lei penal, exige-se lei anterior tipificando o 
crime e prevento a sua sanção. 
O segundo princípio constitucional (irretroatividade), descrito no art. 5º, XL da CF, 
dispõe que a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu, impondo-se, 
assim, a irretroatividade da lei penal, salvo quando a lei nova seja benéfica ao 
acusado. Destarte, nas palavras de Luiz Flávio Gomes e Valério de Oliveira 
Mazzuoli “qualquer que seja o aspecto disciplinado do Direito penal incriminador 
(que cuida do âmbito do proibido e do castigo), sendo a lei nova prejudicial ao 
agente, não pode haver retroatividade” (GOMES e MAZZUOLI, 2008, p. 125). 
Por fim, quanto à retroatividade da lei mais benigna, “é indispensável investigar 
qual a que se apresenta mais favorável ao indivíduo tido como infrator. A lei anterior, 
quando for mais favorável, terá ultratividade e prevalecerá mesmo ao tempo de 
vigência da lei nova, apesar de já estar revogada. O inverso também é verdadeiro, 
isto é, quando a lei posterior foi mais benéfica, retroagirá para alcançar fatos 
cometidos antes de sua vigência” (BITENCOURT, 2007. P. 162). O Supremo Tribunal 
Federal tem adotado entendimento literal do princípio: “A lei nova é lex in melius e 
por isso deve retroagir, por força do dispostono art. 5º, inc. XL, da Constituição: alei 
penal não retroagirá, salvo para beneficiar. 
LEGISLAÇÃO APLICÁVEL 
CF, Art. 5º, XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu; 
CADH, art. 9º. Princípio da legalidade e da retroatividade. Ninguém pode ser 
condenado por ações ou omissões que, no momento em que forem cometidas, não 
sejam delituosas, de acordo com o direito aplicável. Tampouco se pode impor pena 
mais grave que a aplicável no momento da perpetração do delito. Se depois da 
perpetração do delito a lei dispuser a imposição de pena mais leve, o delinquente 
será por isso beneficiado. 
CP, art. 2º. Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar 
crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença 
condenatória. 
Parágrafo único. A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-
se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada 
em julgado. 
CP, art. 3º. A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua 
duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato 
praticado durante a sua vigência. 
CP, art. 4º. Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda 
que outro seja o momento do resultado. 
 
 
TEMPO DO CRIME 
Há três correntes quanto à determinação do momento da prática do crime (tempus 
delicti). São elas: a) da atividade; b) do resultado e c) mista. 
TEORIA DA ATIVIDADE 
Para a teoria da ATIVIDADE, também chamada de teoria da ação, considera-se o 
momento do crime quando o agente realizou a ação ou a omissão típica. Ou seja, 
considera-se praticado o crime no momento da conduta do agente, não se levando 
em consideração o momento do resultado, se diverso. Essa é a teoria adotada 
pelo Código Penal, em seu artigo 4º. 
Cezar Roberto Bitencourt cita algumas exceções à teoria adotada. Ensina que “o 
Código, implicitamente, adota algumas exceções à teoria da atividade, como, por 
exemplo: o marco inicial da prescrição abstrata começa a partir do dia em que o 
crime consuma-se; nos crimes permanentes, do dia em que cessa a permanência; e 
nos de bigamia, falsificação e alteração de assentamento do registro civil, da data em 
que o fato torna-se conhecido” (BITENCOURT, 2007, p. 172). 
TEORIA DO RESULTADO 
A segunda corrente, denominada como do RESULTADO, do evento ou do efeito, 
defende que o momento do crime é aquele em que ocorreu o resultado. Deste 
modo, considera-se praticado o delito no momento em que ocorre o resultado, o 
efeito da conduta ilícita. Damásio leciona que “Não é de aceitar-se a teoria do 
evento, principalmente quando a ação ocorre antes de entrar em vigor uma lei que 
define um crime ex novo e o resultado se produz no período de sua vigência. Se a 
conduta é lícita perante o ordenamento jurídico, lícito é o resultado, ainda que 
ocorra sob a eficácia da lei nova que define o fato (conduta e evento) como crime. 
Mesmo que a ação ocorra durante o lapso da vacatio e o resultado após a entrada da 
lei em vigor, a solução é a mesma: o fato se considera cometido ao tempo da lei 
antiga, que não o considerava crime, aplicando-se o princípio da reserva legal” 
(JESUS, 2006, p. 104). 
TEORIA MISTA 
A última corrente (MISTA, ubiquidade ou unitária) sustenta que o tempo do crime 
é o da ação ou da omissão quanto o do resultado. Assim, conforme ensinamento de 
Régis Prado “o tempo do crime pode ser tanto o da ação como o do resultado” 
(PRADO, 2010, p. 46). 
SUCESSÃO (CONFLITO) DE LEIS NO TEMPO 
Em uma situação ideal, de normalidade, a lei penal vigente na época do fato 
delituoso é a que embasará o julgamento e a execução penal do agente (tempus 
regit actum). Noutras palavras, praticado o ilícito, fixa-se a lei penal aplicável que 
perdurará enquanto não extinta, revogada ou modificada. A lei penal da época do 
fato dará supedâneo para a aplicação das sanções penais e forma de execução. 
Porém, nem sempre haverá estabilidade (no sentido de manutenção) da lei penal; 
nem sempre a lei penal vigente na época do fato regulará toda persecução penal do 
fato criminoso. Assim, entre a data do fato e o término do cumprimento da pena 
poderá haver alteração das leis penais, ocorrendo a sucessão ou conflito de leis 
penais no tempo. Nesse caso, “torna-se necessário encontrar qual a norma que é 
aplicável ao fato; se aquela que vigia quando o crime foi praticado, ou a que entrou 
depois em vigor” (DELMANTO, 2010, p. 85). 
Para resolver esses casos de sucessão de lei, basta observar um único critério: 
Aplica-se a regra penal mais benéfica ao acusado, na forma retroativa ou 
ultra-ativa. A lei penal mais favorável é aplicada mesmo que o fato punível tenha 
sido julgado, com trânsito em julgado (retroatividade) ou mesmo que tenha sido 
revogada com o advento da lei nova (ultra-atividade). 
Consequentemente, a lei penal será irretroativa quando colocar o agente em 
situação pior àquela prevista por outra lei anterior. Desta maneira, “toda lei penal, 
que, de alguma forma, represente um gravame aos direitos de liberdade, que agrave 
as consequências penais diretas do crime, criminalize condutas, restrinja a liberdade, 
provisoriamente ou não, caracteriza lei penal mais grave, e consequentemente, não 
pode retroagir” (BITENCOURT, 2007, p. 163). 
A fim didático, separar-se-á em tópicos a forma de sucessão de leis penais no 
tempo: 
a)abolitio criminis; 
b) novatio legis incriminadora; 
c) novatio legis in pejus; 
d) novatio legis in mellius. 
 
ABOLITIO CRIMINIS 
Haverá abolição de crime quando a lei nova deixa de considerar 
crime/contravenção penal o fato anteriormente tipificado como ilícito penal. Nesse 
caso, o legislador retira a ilicitude da conduta, descriminalizando o ato que outrora 
era considerado como delito. 
O instituto da abolitio criminis está descrito no caput do art. 2º do Código Penal, 
sendo causa de extinção de punibilidade (art. 107, inciso III, do CP). 
Para Rogério Sanches Cunha “a abolição do crime representa a supressão da figura 
criminosa. Trata-se de revogação de um tipo penal pela superveniência de lei 
descriminalizadora” e ocorre “sempre que o legislador, atendendo às mutações 
sociais (e ao princípio da intervenção mínima), resolve não mais incriminar 
determinada conduta, retirando do ordenamento jurídico-penal a infração que a 
previa, julgando que o Direito Penal não mais se faz necessário à proteção de 
determinado bem jurídico” (CUNHA, 2013, p. 100). 
Importante esclarecer que o instituto da abolitio criminis não ofende a coisa 
julgada, tendo em vista que a coisa julgada resguarda a garantia do indivíduo 
frente ao Estado e não a pretensão punitiva do Estado contra o indivíduo. 
Ainda, reconhecendo a abolitio criminis de determinado crime, isto é, lei posterior 
revogando a conduta que antes era tipificada como infração penal, a lei retroage, 
atingindo todas as situações que se enquadrem na abolição, desaparecendo, por 
conseguinte, todos os efeitos penais. Entretanto, os efeitos extrapenais (cíveis, 
administrativos) não são atingidos pela descriminalização da conduta. A propósito, 
Paulo Queiroz aconselha que “embora não subsistindo quaisquer dos efeitos penais 
(v.g. reincidência) persistem todas as consequências não penais (civil, 
administrativo) do fato, como a obrigação civil de reparar o dano, que independe do 
direito penal” (QUEIROZ, 2008, P. 108). 
NOVATIO LEGIS INCRIMINADORA 
Em se tratando de novatio legis incriminadora, ou seja, uma lei posterior que 
criminaliza determinada conduta, aplica-se a regra geral da irretroatividade penal. 
Segundo Capez “é a lei posterior que cria um tipo incriminador, tornando típica a 
conduta considerada irrelevante penal pela lei anterior” (CAPEZ, 2007, p. 56). Como 
se vê, nesta hipótese, a regra é aquela insculpida no princípio da legalidade e da 
anterioridade: não haverá crime ou pena sem lei prévia. 
Portanto,em decorrência da máxima nullum crimen nullum poena sine praevia lege, 
as condutas que superveniente tornaram-se crime não retroagem, sendo aplicáveis 
a partir de sua vigência. 
NOVATIO LEGIS IN PEJUS 
Entende-se por novatio legis in pejus, também chamada de lex gravior, a lei 
posterior que, de qualquer modo, agrava a situação do agente. 
Aplicando-se o critério supracitado, a lei nova que prejudica o agente não retroage, 
isto é, deve ser mantida a lei revogada (ultra-atividade da lei vigente na época do 
fato). Destarte, havendo inovação legislativa para pior, “A lei que terá incidência, 
nesse caso, é a antiga (que vai continuar regendo os fatos ocorridos em seu tempo). 
Esse é o princípio da ultra-atividade da lei penal anterior mais benéfica (leia-se a lei 
anterior, embora já tenha perdido sua vigência, diante da lei nova, continua válida e 
aplicável para os fatos ocorridos durante o seu tempo; se alei nova é prejudicial, ela 
não retroage, não alcança os fatos passados; desse modo, eles continuam sendo 
regidos pela lei anterior, mesmo tendo essa lei anterior já perdido sua vigência; aliás, 
justamente porque já não está vigente é que se fala em ultra-atividade, ou seja, a lei 
acaba tendo atividade mesmo depois de ‘morta’)” (GOMES e MAZZUOLI, 2008, p. 
126). 
NOVATIO LEGIS IN MELLIUS 
Finalmente, a quarta hipótese de conflito de lei penal no tempo é a novatio legis in 
mellius, vale dizer, ocorre quando a lei posterior que traz um benefício, de certa 
forma, para o agente do fato (a lei nova beneficia a situação do acusado). Rene Ariel 
Dotti leciona que “O advento de uma lei nova poderá beneficiar o agente não apenas 
quando descriminaliza o fato anteriormente punível, mas quando institui uma regra 
de Direito Penal que: a) altera a composição do tipo de ilícito; b) modifica a 
natureza, a qualidade, a quantidade ou a forma de execução da pena; c) estabelece 
uma condição de punibilidade ou processabilidade; d) de qualquer outro modo é 
mais favorável” (DOTTI, 2010, p. 343). 
Ocorrendo, portanto, essa novatio legis in mellius, aplicar-se-á a lex mitior (lei 
melhor) ao caso concreto, retroagindo à data dos fatos. Esse instituto está previsto 
no parágrafo único do artigo 2º do Código Penal e também não encontra obstáculo 
à coisa julgada, não havendo que se falar em direito adquirido do jus 
puniendi estatal. 
Em suma, a novatio legis in mellius, assim como a abolitio criminis, retroage para 
beneficiar o agente criminoso, aplicando-se de forma imediata aos processos em 
andamento, sentenciados ou não, e também à execução penal. 
APURAÇÃO DA LEI PENAL MAIS BENÉFICA 
Para verificar qual a lei penal mais benéfica, em regra, é possível a sua verificação 
hipoteticamente. Quando ambas as leis penais (anterior e posterior) forem de fácil 
constatação naquilo em que houve o favorecimento ao agente, aplica-se desde logo 
a mais vantajosa ao réu. É o que ocorreu, por exemplo, com o crime de “porte ilegal 
de drogas para consumo próprio” do art. 16, da Lei nº 6368/76 revogada pelo 
artigo 28 da Lei nº 11.343/06 (lex mitior), que foi possível a verificação literal da 
lei mais benéfica. 
Todavia, em casos mais complexos, “Não basta a comparação, em abstrato, de duas 
leis penais, para descobrir-se qual é a mais benéfica. Elas devem ser comparadas em 
cada casos concreto, apurando-se quais seriam os resultados e consequências da 
aplicação de uma e de outra” (DELMANTO, 2010, p. 85). 
Nesses casos, é necessário que o julgador verifique, no caso concreto, comparando-
a, nas leis questionadas, qual será a mais benéfica ao acusado. Persistindo a dúvida, 
a doutrina tem entendido que se deve perguntar ao acusado, aconselhado pelo seu 
defensor, qual das leis lhe parece ser a mais favorável (Neste sentido: Sanches, 
Hungria, Delmanto e Bacigalupo). Damásio finaliza que “nos casos de séria dúvida 
sobre a lei mais favorável, deve a nova ser aplicada somente aos fatos ainda não 
decididos, nada impedindo seja ouvido o réu a respeito” (JESUS, 2006, p. 93). 
COMPETÊNCIA PARA APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO TEMPO – SÚMULA 611 DO 
STF 
Para saber qual o juiz competente para a aplicação da lei penal mais benéfica, basta 
observar a existência de trânsito em julgado da sentença. Inexistindo trânsito em 
julgado da sentença condenatória, a competência é do juízo de conhecimento 
(primeiro grau ou o Tribunal, caso seja ação penal originária) ou do tribunal 
recursal, caso esteja em grau de recurso (Tribunais Estaduais, TRF, Superiores 
etc.). Havendo o trânsito em julgado, compete ao Juízo da Execução, nos termos do 
artigo 66, inciso I, da LEP, art. 13 LICPP e da Súmula 611 do STF: “transitada em 
julgado a sentença condenatória, compete ao juízo das execuções a aplicação de lei 
mais benigna”. 
Frise-se que, embora entendimento contrário, em regra, não é cabível a revisão 
criminal para aplicação da lei mais benéfica, visto que a hipótese não se enquadra 
nas situações previstas no artigo 621 do CPP. 
 
LEX MITIOR X VACATIO LEGIS 
Uma das questões mais importantes desse estudo se refere à incidência da lei 
penal que se encontra em vacatio legis. Sancionada, promulgada e publicada uma 
lei penal mais benéfica, é possível sua aplicação imediata? Isto é, antes mesmo de 
encerrar o prazo da sua vacatio, caso existente? 
Há duas teorias sobre o assunto. A primeira, seguida por Damásio de Jesus, 
Guilherme de Souza Nucci e Frederico Marques, defende que não é possível a lei 
nova abranger o fato anterior ou concomitante ao período da vacatio. Isto é, “a lei 
penal não possui eficácia jurídica ou social, devendo imperar a lei vigente. 
Fundamenta-se esta corrente no fato de que a lei no período de vacatio legis não 
passa de mera expectativa de lei. Esta é a corrente predominante” (CUNHA, 2013, 
p. 104). 
A segunda corrente, defendida por Rene Dotti, Celso Delmanto e Alberto Silva 
Franco, entende que, em se tratando de lex mitior, deve a lei ser aplicada desde 
logo, independentemente se se encontra em vacatio legis ou não. Isso porque “a lei 
em período devacatio não deixa de ser lei posterior, devendo ser aplicada desde logo, 
se for mais favorável ao réu” (DOTTI, 2010, p. 344/345). 
COMBINAÇÃO DE LEIS PENAIS – LEX TERTIA 
Eis o ápice da aplicação da lei no tempo: é possível a conjugação de leis penais, 
formando, o que a doutrina chama de terceira lei (lex tertia)? Em outras palavras, 
pode o julgador utilizar-se de partes de leis diferentes favoráveis ao réu para 
aplicação no caso concreto? 
Duas são as teorias que respondem essa questão. 
A primeira, corrente tradicional, defendida principalmente por Nelson Hungria, 
Aníbal Bruno, Heleno Cláudio Fragoso, Eugenio Raul Zaffaroni, José Henrique 
Pierangeli, Costa e Silva, afirma NÃO ser possível a fusão de leis, isto é, que não é 
possível dividir a norma para aplicar a parte mais benéfica, criando uma terceira 
lei (lex tertia). Sobre o assunto: “Nessa tarefa deve-se analisar em separado uma e 
outra lei, mas não é lícito tomar preceitos isolados de uma e outra, mas cada uma 
delas em sua totalidade. Se assim não fosse, estaríamos aplicando uma terceira lei, 
esta inexistente, criada unicamente pelo intérprete” e continua afirmando que “o juiz 
não pode criar uma terceira lei porque estaria aplicando um texto que, em momento 
algum, teve vigência” (ZAFFARONI e PIERANGELI, 2004, p. 219/220). O Superior 
Tribunal de Justiça corrobora com este entendimento (HC 124782 / ES, RHC 
22407 / PR). 
Por outro lado, a corrente moderna, da qual fazem parte Basileu Garcia, Damásio 
de Jesus, Frederico Marques, Celso Delmanto, Cezar Roberto Bitencourt, Rene Ariel 
Dotti, Bustos Ramirez, Francisco de Assis Toledo e Magalhães Noronha, admite a 
combinação de leis favoráveis ao réu, sob o fundamento de que o juiz não cria uma 
terceira lei, mas apenas efetua uma integração das normas, pois, quem pode 
aplicar o todo, pode aplicar somente uma parte dela. A propósito,Damásio disserta 
que “Se o juiz pode aplicar o todo de uma ou de outra lei para favorecer o sujeito, não 
vemos por que não possa acolher parte de uma e de outra para o mesmo fim, 
aplicando o preceito constitucional. Este não estaria sendo obedecido se o Juiz 
deixasse de aplicar a parcela benéfica da lei nova, porque impossível a combinação 
de leis” (JESUS, 2006, p. 94/95). 
O Supremo Tribunal Federal tem se posicionado majoritariamente no sentido da 
possibilidade da combinação das leis, quando houver ineditismo penal, conforme 
julgamento do Recurso Extraordinário em Repercussão Geral, em que analisou a 
minorante do art. 33, § 4º da Lei n. 11.343/06 em conjunto com a Lei n. 6368/76: 
“No plano do agravamento da pena de reclusão, a regra mais nova não tem como 
retroincidir. Sendo (como de fato é) constitutiva de política criminal mais drástica, a 
nova regra cede espaço ao comando da norma penal de maior teor de benignidade, 
que é justamente aquela mais recuada no tempo: o art. 12 da Lei 6.368/1976, a 
incidir por ultra-atividade. O novidadeiro instituto da minorante, que, por força 
mesma do seu ineditismo, não se contrapondo a nenhuma anterior regra penal, 
incide tão imediata quanto solitariamente, nos exatos termos do inciso XL do art. 5º 
da Constituição Federal” (STF. RE 596152 RG / SP. Rel. p. Ac. Min. Ayres Britto. 
Pleno. Julg. 13.10.2011). No mesmo diapasão: “A causa de diminuição de pena 
prevista no art. 33 da Lei nº 11.343/2006, mais benigna, pode ser aplicada sobre a 
pena fixada com base no disposto no art. 12, caput, da Lei nº 6.368/76”. (STF. HC 
95435 / RS. Rel. p. Ac. Min. Cezar Peluso. 2ª T. Julg.21/10/2008). 
Sobre as duas correntes, Juarez Cirino perfeitamente resume a combinação de leis 
sucessivas: 
“a) posição tradicional rejeita a combinação de leis sucessivas, sob o argumento de 
construção de uma lex tertia, proibida ao intérprete; 
b) posição moderna admite a combinação de leis sucessivas, sob o argumento 
convincente de que a expressão “de qualquer modo” (art. 2º, parágrafo único, CP) 
não conhece exceções” (SANTOS, 2011, p. 26/27). 
CRIME CONTINUADO E CRIME PERMANENTE 
Em se tratando de crime continuado (ou continuidade delitiva, art. 71, do Código 
Penal) ou de crime permanente (cuja consumação se prolonga no tempo), a regra é 
que se aplica a lei mais nova, ainda que maléfica ao acusado. Portanto, havendo a 
modificação da lei quando ainda em prosseguimento a prática de crime continuado 
ou permanente, a lei nova é aplicada a toda a série de delitos praticados (caso seja 
crime continuado) ou para o crime permanente. 
Neste sentido, o Supremo Tribunal Federal editou a 
Súmula 711: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime 
permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da 
permanência”. 
Ao comentar a referida súmula, Roberval Rocha Ferreira Filho aduz que “o STF 
discute sobre a aplicabilidade da lei posterior mais gravosa aos fatos praticados pelo 
acusado, responsável pela sequência de atos do crime continuado ou pelo crime 
permanente. Conforme o entendimento [da] Corte, se o agente permaneceu na 
prática de crimes (crime continuado) ou permaneceu na prática delituosa (crime 
permanente), mesmo após edição de lex gravior, a aplicação da pena deverá ocorrer 
na forma prevista pela nova lei, ainda que sofra maior punição pelo crime”. 
(FERREIRA FILHO, 2009, p. 228). 
No caso de crime continuado, o Superior Tribunal de Justiça assim decidiu: 
“Caracterizada a continuidade delitiva, a aplicação da Lei 11.343/06, mesmo quando 
mais gravosa ao sentenciado, mostra-se adequada, já que a atividade delitiva 
prolongou-se até a entrada em vigor da novel de legislação de drogas. Enunciado 
sumular 711 do Supremo Tribunal Federal”. 
PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE NORMATIVO-TÍPICA 
Aplica-se o princípio da continuidade normativo-típica quando uma lei é revogada, 
porém, a conduta ainda continua incriminada em outro dispositivo legal, não 
ocorrendo, nessa hipótese, a abolitio criminis. 
Sobre o assunto, Rogério Sanches Cunha diferencia ambos os institutos: “A abolitio 
criminis representa supressão formal e material da figura criminosa, expressando o 
desejo do legislador em não considerar determinada conduta como criminosa. É o 
que aconteceu com o crime de sedução, revogado, formal e materialmente, pela Lei 
nº 11.106/2005” E prossegue “O princípio da continuidade normativo-típica, por sua 
vez, significa a manutenção do caráter proibido da conduta, porém com o 
deslocamento do conteúdo criminoso para outro tipo penal. A intenção do legislador, 
nesse caso, é que a conduta permaneça criminosa” (CUNHA, 2013, p. 106). 
Neste raciocínio tem decidido o Supremo Tribunal Federal, aplicando o princípio 
da continuidade normativa-típica: “Abolitio Criminis.Inocorrência. Princípio da 
continuidade normativo-típica. Precedentes. (...). 1. A jurisprudência desta Suprema 
Corte alinhou-se no sentido de que, nos moldes do princípio da continuidade 
normativo-típica, o art. 3º da Lei nº 9.983/2000 apenas transmudou a base legal de 
imputação do crime de apropriação indébita previdenciária para o Código Penal 
(art. 168-A), não tendo havido alteração na descrição da conduta anteriormente 
incriminada na Lei nº 8.212/90. (...)” (STF. AI 804466 AgR / SP. Rel. Min. Dias 
Toffoli. 1ª T. Julg. 13/12/2011). E também: “A revogação da lei penal não 
implica, necessariamente, descriminalização de condutas. Necessária se faz a 
observância ao princípio da continuidade normativo-típica, a impor a manutenção 
de condenações dos que infringiram tipos penais da lei revogada quando há, como in 
casu, correspondência na lei revogadora” (STF. HC 106155 / RJ. Rel. p. Ac. Min. 
Luiz Fux. 1ª T. Julg. 04/10/2011). 
Ainda, no campo jurisprudencial, o Superior Tribunal de Justiça tem 
entendido que não houve abolitio criminis em relação ao crime de atentado 
violento ao pudor: “Diante do princípio da continuidade normativa, descabe falar 
em abolitio criminis do delito de atentado violento ao pudor, anteriormente previsto 
no art. 214 do Código Penal. O advento da Lei n.º 12.015/2009 apenas condensou a 
tipificação das condutas de estupro e atentado violento ao pudor no artigo 213 do 
Estatuto repressivo”. (STJ. HC 217531 / SP. Rel. Min. Laurita Vaz. T5. DJe 
02/04/2013). No mesmo diapasão: “O princípio da continuidade normativa típica 
ocorre quando uma norma penal é revogada, mas a mesma conduta continua sendo 
crime no tipo penal revogador, ou seja, a infração penal continua tipificada em outro 
dispositivo, ainda que topologicamente ou normativamente diverso do originário”. 
(STJ. HC 204416 / SP. Rel. Min. Gilson Dipp. T5. DJe 24/05/2012). 
Assim, pelo princípio da continuidade normativo-típica não há supressão do 
conteúdo penal, isto é, da conduta incriminadora, inexistindo abolitio criminis. O 
que ocorre é uma migração do conteúdo da norma penal para outro tipo penal, 
havendo apenas a revogação formal do artigo, permanecendo, porém, o fato típico. 
LEI TEMPORÁRIA E LEI EXCEPCIONAL 
Previstas no artigo 3º do Código Penal, a lei temporária (também chamada de lei 
temporária em sentido estrito) é aquela que tem prazo determinado de 
vigência, i.e., é a norma que foi instituída por certo e determinado lapso temporal 
de vigência (Ex. art. 30 e seguintes da Lei nº 12.663/2012). Já a lei excepcional 
(lei temporária em sentido amplo) é aquela promulgada para vigorar em 
situações anormais, tendo sua vigência subordinada à duração dessa 
circunstância emergencial que a criou. Ambos os tipos de leis são espécies do 
gênero leis auto-revogáveis (ou intermitentes, pois encerrado o prazo ou a 
situação de anormalidade, a lei é revogada automaticamente), cuja característica 
essencial é a ultra-atividade (aplica-se ao fato realizado durante a sua vigência, 
mesmo após revogada). 
Novamente, Régis Prado ensina que a lei excepcional “visa atendersituações 
excepcionais, de anormalidade social ou de emergência, não fixando prazo para sua 
vigência; vale dizer, tem eficácia enquanto perdurar o fato que a motivou. De sua vez, 
a lei temporária prevê formalmente o período de tempo de sua vigência, ou seja, 
delimita de antemão o lapso temporal em que estará em vigor. Exige duas 
condicionantes: situação transitória de emergência e termo de vigência”. (PRADO, 
2010, p. 45). 
O fundamento para a ultra-atividade é, segundo Celso Delmanto, que as leis 
“perderiam toda a sua força intimidativa, caso o agente já soubesse, de antemão que, 
após cessada a anormalidade (no caso das leis excepcionais) ou findo o período de 
vigência (das leis temporárias) acabaria impune pela aplicação do princípio da 
retroatividade” (DELMANTO, 2010, p. 90). 
Discute-se aqui se as leis temporárias e excepcionais são constitucionais. Para a 
primeira corrente, denominada como posição constitucionalista, em que são 
adeptos Raul Eugênio Zaffaroni, José Henrique Pierangeli e Paulo José da Costa 
Junior, sustenta que não é possível a ultra-atividade das leis auto-revogáveis, pois 
o artigo 3º do CP não teria sido recepcionado pela constituição (art. 5º, XL – 
retroatividade da lei penal mais favorável). “Esta disposição legal é de duvidosa 
constitucionalidade, posto que constitui exceção à irretroatividade legal que 
consagra a Constituição Federal (“salvo para beneficiar o réu”) e não admite 
exceções, ou seja, possui caráter absoluto (art. 5º, inc. XL)” (ZAFFARONI e 
PIERANGELI, 2004, p. 221). 
Por outro lado, a corrente legalista “fundamenta a ultra-atividade em dilações 
processuais obstativas de aplicação da lei durante o tempo ou o acontecimento 
determinados, ou sob o argumento técnico de que o tempo ou o acontecimento 
integram o tipo de injusto, excluindo a retroatividade da lei penal mais favorável” 
(SANTOS, 2011, p. 27). Essa teoria é defendida por Nelson Hungria, Jescheck, Luiz 
Flávio Gomes, Celso Delmanto e Fernando Capez. 
 
 
SUCESSÃO DE LEIS PENAIS NO TEMPO E NORMA PENAL EM BRANCO 
Havendo alteração do complemento da norma penal em branco, aplica-se a 
retroatividade penal da norma mais favorável? Para Celso Delmanto, “Sem dúvida, 
a solução do problema reside na análise sobre a natureza do complemento da norma 
penal, ou seja, se tem ele nítido caráter excepcional ou temporário ou não” 
(DELMANTO, 2010, P. 91). 
Porém, a questão não é de fácil resolução. Atualmente, existem cinco teorias que 
explicam a retroatividade em casos de normas penais em branco. 
A primeira, defendida por Paulo José da Costa Junior e Basileu Garcia, entende que 
sempre deve retroagir, desde que benéfico ao réu, isto é, havendo alteração da 
complementação e, sendo favorável ao acusado, há retroatividade. 
A segunda, em que são adeptos Frederico Marques, Nelson Hungria, Magalhães 
Noronha e Damásio de Jesus, afirma que é irretroativa a mudança da 
complementação da lei penal em branco, inobstante ser benéfico ou maléfico, pois 
a norma penal não é revogada. Neste sentido, Cezar Roberto Bitencourt assevera 
que “as leis penais em branco não são revogadas em consequência da revogação de 
seus complementos. Tornam-se apenas temporariamente inaplicáveis por carecerem 
de elemento indispensável à configuração da tipicidade” (BITENCOURT, 2007, p. 
171). 
Já a terceira corrente defende que somente haverá retroação da norma 
complementar no caso de haver uma real modificação na norma penal em branco, 
isto é, havendo modificação da conduta criminosa, há retroatividade. Julio 
Mirabete é o defensor desta teoria. 
Para a quarta teoria, em que são partidários Fernando Capez e Luiz Régis Prados, 
as normas penais em branco sujeitam-se as regras gerais da sucessão de leis no 
tempo (irretroatividade e retroatividade), porém, é necessário verificar o critério 
de temporariedade no complemento da lei penal em branco. Existindo a 
temporariedade (típico de normas de vigência temporária), haverá ultra-atividade, 
no entanto, inexistindo a temporariedade, haverá a retroatividade in mellius. Desta 
maneira, “ocorrendo modificação posterior in mellius do complemento da norma 
penal em branco, para se saber se haverá ou não retroação, é imprescindível verificar 
se o complemento revogado tinha ou não as características de temporariedade” 
(CAPEZ, 2007, p. 65). 
Por fim, a quinta corrente, seguida por Alberto Silva Franco e pelo Supremo 
Tribunal Federal, entende que: a) em se tratando de norma penal em branco 
homogênea, sempre haverá efeitos retroativos; b) em se tratando de norma penal 
em branco heterogênea, revestindo-se o complemento de excepcionalidade, não há 
retroatividade, no caso contrário, isto é, não havendo excepcionalidade no 
complemento da norma penal, incide a retroatividade. 
LEI INTERMEDIÁRIA 
Consiste a lei intermediária aquela que não era vigente ao tempo do fato e 
nem ao tempo do julgamento, porém, vigorou durante o processo criminal. 
Em outros termos, a lei intermédia surge no interregno de tempo entre o fato 
criminoso e o julgamento e prevalecerá, caso seja mais favorável, às demais leis (do 
tempo do fato ou do julgamento). 
O Supremo Tribunal Federal já decidiu: “Lei penal no tempo: incidência da norma 
intermediária mais favorável. Dada a garantia constitucional de retroatividade da lei 
penal mais benéfica ao réu, é consensual na doutrina que prevalece a norma mais 
favorável, que tenha tido vigência entre a data do fato e a da sentença: o contrário 
implicaria retroação da lei nova, mais severa, de modo a afastar a incidência da lei 
intermediária, cuja prevalência, sobre a do tempo do fato, o princípio da 
retroatividade in melius já determinara”. (STF. RE 418876 / MT. Rel. Min. 
Sepúlveda Pertence. 1ª T. Julg. 30/03/2004). 
Portanto, “Se a lei intermediária for a mais favorável, deverá ser aplicada. Assim, a 
lei posterior, mais rigorosa, não pode ser aplicada pelo princípio geral da 
irretroatividade, como também não pode ser aplicada a lei da época do fato, mais 
rigorosa. Por princípio excepcional, só poderá ser aplicada a lei intermediária, que é 
a mais favorável. Nessa hipótese, a lei intermediária tem dupla extra-atividade: é, ao 
mesmo tempo, retroativa e ultra-ativa!” (BITENCOURT, 2007, p. 167/168). 
RETROATIVIDADE DA LEI INTERPRETATIVA E DA JURISPRUDÊNCIA 
Para encerrar o estudo sobre lei penal no tempo, será respondida a seguinte 
questão: É possível a retroatividade da lei interpretativa e da jurisprudência? 
No caso da lei interpretativa, Nelson Hungria entende que as leis interpretativas 
não podem retroagir em desfavor do réu. Contudo, para Frederico Marques e 
Fernando Capez, a interpretação autêntica não cria nem inova o ordenamento 
jurídico, por isso, deve ser aplicada de forma ex tunc. A lei interpretativa “limita-se 
a estabelecer o correto entendimento e o exato alcance da regra anterior, que já 
deveriam estar sendo aplicados desde o início de sua vigência” (CAPEZ, 2007, p. 61). 
Em relação á retroatividade da jurisprudência, o entendimento majoritário, 
segundo Rogério Sanches Cunha, é da impossibilidade de retroação. Isto é, 
mudando o entendimento jurisprudencial, salvo se se tratar de recurso repetitivo, 
controle de constitucionalidade ou de súmula vinculante, não há que se falar em 
irretroatividade. A propósito, “não se pode negar a possibilidade de retroatividade 
(benéfica) da jurisprudência quando dotada de efeitos vinculantes (presente nas 
súmulas vinculantes e decisões em sede de controle concentrado de 
constitucionalidade)”. (CUNHA, 2013, p. 110). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LEI PENAL NO ESPAÇO 
A lei penal de um Estado soberano vige em todo o seu território. Contudo, visando 
o combate eficaz à criminalidade, a lei pode ser aplicada fora de suas fronteiras, ou 
até mesmo leis de outros estados podem atuar dentro do país. Por isso são 
necessárias limitações, para definir qual lei será aplicada, dependendo dahipótese, 
de acordo com alguns princípios. 
a) Princípio da territorialidade 
Define que a lei local se aplica a todos os crimes ocorridos no território nacional, 
independente da nacionalidade do agente, da vítima ou do bem jurídico lesado, 
respeitando limites de tratados, convenções e regras internacionais (CP: art. 5º, §§ 
1º e 2º). Está ligado ao próprio princípio da soberania do Estado, pelo qual ele 
detém o monopólio do poder nos limites de seu território. 
b) Princípio real, de defesa ou de proteção 
Estende a aplicação da lei para fora dos limites do território se o bem lesado for da 
nacionalidade do Estado, independente da nacionalidade do infrator, a fim de 
proteger bens jurídicos considerados essenciais (CP: art. 7º, I), bem como os 
interesses do Estado além-fronteiras. 
c) Princípio da nacionalidade ou da personalidade 
Aplica-se a lei penal da nacionalidade do agente, independentemente de onde 
ocorreu o delito, pois ao nacional é exigido que cumpra a lei de seu país, mesmo 
estando no estrangeiro. Considera-se tanto a personalidade ativa, levando em 
conta a nacionalidade do autor do delito (CP: art. 7º, II, b), quanto a personalidade 
passiva, pela nacionalidade da vítima (CP: art. 7º, § 3º). Isso visa combater a 
impunidade de agentes nacionais se eles não forem atingidos pela lei do 
estrangeiro, onde o delito ocorreu. 
 
 
d) Princípio da universalidade ou cosmopolita 
A lei penal deve ser aplicada a todos, onde quer que estejam. Isso é viabilizado 
através da cooperação entre estados, permitindo a punição do agente por qualquer 
Estado para crimes que forem objeto de tratados e convenções internacionais. 
Aplica-se a lei penal do Estado onde o agente se encontrar, independentemente de 
nacionalidade do autor ou do bem jurídico lesado (CP: art. 7º, II, a), considerando 
que o crime é um mal universal que todos os estados têm interesse em coibir. 
e) Princípio da representação ou da bandeira 
No caso de crimes ocorridos em embarcações ou aeronaves, quando houver 
deficiência legislativa ou desinteresse de quem deva reprimir, aplicar-se-á a lei de 
onde a aeronave ou embarcação estiver registrada, ou da bandeira que ostenta 
(CP: art. 7º, II, c). 
O Código Penal Brasileiro adotou o princípio da territorialidade como regra, e, 
como exceção, os demais princípios de forma subsidiária. 
 
O LUGAR DO CRIME 
A identificação do local do crime – locus commissi delicti – é importante para saber 
qual princípio deverá ser adotado, implicando na definição da competência e 
jurisdição sobre o fato, podendo ser adotadas diversas teorias. 
a) Teoria da ação ou da atividade 
É considerado o local onde a conduta típica criminosa foi realizada. O problema é 
que esta teoria impede a ação do Estado a que pertence o bem jurídico lesado, que 
é onde o delito acaba produzindo seus maiores efeitos nocivos. 
 
 
b) Teoria do resultado ou do evento 
O local do crime é considerado onde seus resultados se concretizam, onde o evento 
se consuma, independente da ação ou intenção do agente. Mas acaba excluindo a 
atuação do Estado no qual a ação foi deflagrada. 
c) Teoria da intenção 
É considerado local do crime aquele onde o agente tinha intenção que o resultado 
de sua ação se concretizasse. É uma teoria que não oferece respostas para questões 
envolvendo crimes culposos ou preterdolosos (que acabam tendo resultado mais 
grave que a intenção do agente). 
d) Teoria do efeito intermédio ou do efeito mais próximo 
O local do crime é aquele onde a “energia” movimentada pela atuação do agente 
atinge a vítima ou bem jurídico. 
e) Teoria da ação à distância ou da longa mão 
O local do crime é aquele onde se verificou o ato executivo. 
f) Teoria limitada da ubiquidade 
O local do crime pode ser tanto o local da ação quando do resultado. 
g) Teoria pura da ubiquidade, mista ou unitária 
Tanto pode ser o local da ação ou do resultado, ou o local do bem jurídico atingido. 
É a teoria adotada pelo Código Penal Brasileiro (art. 6º). A adoção desta teoria visa 
resolver conflitos de jurisdição e de adoção de teorias, no caso concreto, bem como 
aplicar “compensação” de penas caso o agente venha a ser condenado, por 
exemplo, no estrangeiro e depois no Brasil (CP: art. 8º). 
 
 
EXTRATERRITORIALIDADE 
Conforme o art. 7º do CP, a lei penal brasileira poderá ser aplicada no exterior em 
alguns casos. 
a) Extraterritorialidade incondicionada 
Será aplicada a lei brasileira, sem qualquer condicionante, mesmo que o agente 
tenha sido julgado no exterior (CP: art. 7º, I), para crimes contra a liberdade ou a 
vida do Presidente da República, crimes contra o patrimônio ou a fé publica da 
União, Distrito Federal, estados, municípios, empresas e órgãos públicos, pessoas a 
serviço destas entidades, etc., ou genocídio (quando o agente for brasileiro ou 
domiciliado no Brasil). 
A fim de proteger bens jurídicos essenciais, o poder brasileiro é exercido 
independentemente da concordância do Estado onde o crime ocorreu (mesmo que 
lá o ato não seja crime), podendo o agente ser julgado à revelia, caso não esteja no 
Brasil. 
b) Extraterritorialidade condicionada 
Aplica-se a lei brasileira obedecendo alguns requisitos, segundo os princípios da 
universalidade, personalidade, bandeira e defesa (CP: art. 7º) para crimes que, por 
tratado ou convenção, o Brasil se comprometeu a reprimir, crimes praticados por 
brasileiros, por aeronaves ou embarcações brasileiras em território estrangeiro 
que não sejam lá julgados ou praticados por estrangeiros contra brasileiros fora do 
Brasil (caso o agente ingresse no Brasil ou seja passível de extradição para cá). 
É importante lembrar que, de modo algum, o Brasil concede a extradição de 
brasileiros natos para que sejam julgados e condenados no país onde cometeram o 
crime, e, para evitar a impunidade, estando aqui, serão julgados pela lei brasileira 
relacionada ao crime lá cometido. 
 
 
Lei penal em relação às pessoas 
Seguindo regras e convenções internacionais, o Brasil concede imunidades 
diplomáticas em seu território, bem como imunidades parlamentares, segundo 
normas de direito público interno. Estas imunidades não estão relacionadas à 
pessoa em si, mas são dadas em função do cargo que exercem. 
a) Imunidade diplomática 
A imunidade diplomática limita o princípio da territorialidade e concede 
privilégios a representantes diplomáticos de outros países. De acordo com a 
Convenção de Viena, adotada pelo Brasil, o diplomata está imune à nossa legislação 
penal, estando sujeito à lei do país que representa. No entanto, o Estado 
representado poderá renunciar a esta imunidade, dependendo do caso. 
Além de representantes diplomáticos, esta imunidade se estende agentes e 
funcionários de organizações internacionais como a ONU e a OEA, quando em 
serviço, incluindo seus familiares, excluindo empregados particulares. 
b) Imunidade parlamentar 
Embora, logicamente, não seja uma exceção ao princípio da territorialidade, aos 
membros do Poder Legislativo, para assegurar o exercício de seus cargos com 
liberdade e independência, a Constituição garante-lhes prerrogativas como a 
imunidade penal. Ela decorre da função exercida, não se estende a mais ninguém, e 
pode ser de duas espécies: material ou formal. 
A imunidade material ou absoluta (penal, civil, disciplinar e política), protege o 
parlamentar em razão de suas ações no exercício de seu mandato, seja por suas 
opiniões, palavras ou votos (CF: arts. 53, caput, 27, § 1º e 29, VIII). Ela ocorre desde 
a diplomação até o fim do mandato do parlamentar. 
A imunidade formal, relativa ou processual refere-se à prisão, processo ou 
prerrogativas de foro (CF: arts. 53, § 4º e 102, I, b; CPP: art. 84), ou seja, processo e 
julgamento (CF: art. 53, §§ 1º e 3º). Aplica-se a membros do Congresso Nacional e a 
deputados estaduais (CF: art. 27, § 1º), contudo, estes estão sujeitos à justiça de 
seu estado-membro. Osvereadores também são imunes por suas opiniões, 
palavras e votos, mas somente na circunscrição de seu município (CF: art. 29, VIII), 
e não têm imunidade processual nem direito a foro privilegiado. 
A imunidade material ou inviolabilidade faz com que a lei penal não incida sobre 
determinadas pessoas, ou seja, elas não são consideradas destinatários da lei 
penal. A imunidade processual ou formal resguarda o próprio Poder Legislativo, 
exigindo licença da Casa Legislativa para que o parlamentar seja processado. Nos 
crimes inafiançáveis, porém, admite-se a prisão em flagrante de delito, como para 
qualquer cidadão. 
 
EXTRADIÇÃO 
Segundo o Congresso Internacional de Direito Comparado de Haia, 1932, a 
extradição é “uma obrigação resultante da solidariedade internacional na luta 
contra o crime”, pela qual um Estado entrega a outro Estado alguém acusado ou 
condenado pela prática de um crime para que lá seja julgado ou cumpra pena. No 
Brasil, é regulada especialmente pelo Estatuto do Estrangeiro e citada pelo art. 22, 
XV da CF. O princípio básico que a sustenta é que o crime deve ser pago no local 
onde foi praticado. 
Além disso, de acordo com o Estatuto do Estrangeiro, a extradição deve respeitar a 
princípios quanto ao delito, como o da legalidade (o crime deve estar previsto em 
tratado ou convenção internacional), da especialidade (o extraditado não poderá 
ser julgado por fato diverso do que motivou a extradição), principio da identidade 
da norma (o fato deve ser crime em ambos os países), e princípios quanto à pena e 
à ação penal, como o princípio da comutação (condicionada, pelo Brasil, a não 
aplicação de pena de morte, prisão perpétua ou pena corporal, que devem ser 
convertidas pelo país requerente em pena de privação de liberdade, para que a 
extradição seja aceita), princípio “non bis in idem” (não há extradição se o Brasil for 
igualmente competente para julgar o caso) e princípio da reciprocidade (pois 
convém ao Estado que sofreu o delito aplicar a pena e ao Brasil, no caso, “livrar-se” 
de um internacional delinquente). 
Cada caso, aqui, deverá atender a requisitos, como exame prévio pelo STF, incluído 
em um processo específico, existência de tratado ou convenção firmado com o 
Brasil ou oferecimento do princípio da reciprocidade, existência de sentença 
condenatória, o fato deve ser crime no Brasil e no Estado requerente, a pena 
máxima imputada ao extraditado deve ser superior a um ano de reclusão, o crime 
não pode ser político ou de opinião, o extraditado não pode estar sendo 
processado ou já absolvido no Brasil pelo mesmo crime, o Brasil deve ser 
incompetente para julgar a ação e o Estado requerente deve provar ser 
competente, o extraditado não pode ser submetido a tribunal de exceção e o 
extraditado deve ser estrangeiro (o Brasil não extradita brasileiros natos), além de 
outras limitações especiais. 
Deportação e expulsão 
São medidas administrativas que visam obrigar o estrangeiro a deixar o território 
nacional. A deportação é a saída compulsória de um estrangeiro para o país de sua 
nacionalidade, procedência ou outro que o aceite (EE: art. 58) nos casos de entrada 
ou estada irregular dele no país (EE: art. 57), podendo voltar ao país sob certas 
condições (EE: art. 64). 
A expulsão ocorre quando o estrangeiro atentar contra a segurança nacional, a 
ordem política e social, a economia popular, etc., ou quando seu procedimento for 
nocivo à convivência e aos interesses nacionais, em caso de fraude a fim de entrar e 
permanecer no país, quando não respeitar o prazo de solicitação para que deixe o 
país, caso se entregue à vadiagem ou mendicância ou desrespeite proibição 
prevista em lei para estrangeiros (EE: art. 65). 
A expulsão não é pena, mas uma medida policial preventiva, visando a defesa da 
soberania nacional, cabendo ao Presidente da República a deliberação quanto à 
expulsão do estrangeiro (EE: art. 66). Há ainda alguns impedimentos quanto à 
expulsão determinados no art. 75 do EE, bem como legislação especial (Decreto 
98.961/90) que dispõe sobre expulsão de estrangeiro condenado por tráfico de 
drogas. 
 
O Tribunal Penal Internacional 
Este tribunal é regido pelo Estatuto do Tribunal Internacional, de 1998, assinado 
pelo Brasil em 7 de Fevereiro de 2000 e ratificado em 2002. Contudo, este tribunal 
somente irá intervir quando o Estado jurisdicionado não atuar para promover a 
investigação e a justiça nos casos em questão. Embora o Estado signatário se 
submeta à jurisdição deste tribunal, ele não é superior à soberania nacional, 
servindo, como exemplificado, ao princípio da complementariedade. 
No Brasil, a pena de morte e a prisão perpétua são expressamente proibidas pela 
Constituição Federal, ressalvando-se a pena de morte nos casos de guerra 
declarada (CF: arts. 5º, XLVII, a e 84, XIX). Essas garantias são protegidas como 
cláusulas pétreas (CF: art. 60, § 4º, IV). Por outro lado, não se ignora a importância 
do Tribunal Penal Internacional diante do contexto global como grande conquista 
da civilização contemporânea disciplinando os conflitos internacionais, 
especialmente contra as crescentes ameaças de grupos terroristas à ordem e paz 
global e a necessidade de combatê-los severamente. 
A previsão excepcional de penas de prisão perpétua ou de morte pelo TPI não o 
desqualifica nem o caracteriza como antiético ou desumano, uma vez que tais 
penas circunscrevem crimes inaceitáveis como genocídio, crimes de guerra e 
crimes contra a humanidade. Até mesmo o Brasil deve acatá-lo, reconhece-lo e 
prestigiá-lo, inclusive em respeito a tantos países reconhecidamente democráticos 
que o integram e aceitam em seus ordenamentos locais penas assim. Mas, por este 
motivo, baseado no princípio da humanidade do Direito Penal brasileiro, a 
legitimação constitucional da ratificação do Brasil ao Tribunal Penal Internacional 
ainda será algo muito difícil. 
 
 
 
 
TEORIA DO CRIME 
Conceito de Crime 
A doutrina do Direito Penal tem procurado definir o ilícito penal sob três aspectos 
diversos. Atendendo-se ao Aspecto Externo, puramente nominal do fato, obtém-se 
um Conceito Formal; observando-se o Conteúdo do fato punível, consegue-se 
um Conceito Material ou Substancial; e examinando-se as Características ou 
Aspectos do crime, chega-se a um Conselho Analítico, como se segue: 
 Conceito Formal => Crime é a ação ou omissão proibida pela lei, sob 
ameaça de pena; 
 Conceito Material=> Crime é a violação de um bem penalmente protegido; 
 Conceito Analítico=> Crime é o fato típico, ilícito e culpável. 
 
Crime e Contravenção 
Segundo a maioria dos penalistas, não há diferença ontológica, substancial, entre 
o Crime e a Contravenção Não são categorias que se distinguem pela sua 
natureza, mas realidades que se diversificam pela sua maior ou menor gravidade. 
A questão residiria na quantidade da infração, não em sua substância. 
Adotando o critério quantitativo, o art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal 
dispõe: 
a)Crime=>infração penal a que a lei comina pena de Reclusão ou Detenção, quer 
isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente, com pena de multa; 
b)Contravenção=> infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena 
de Prisão Simples ou Multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente. 
Existe uma corrente, porém, para a qual o crime corresponde às condutas que 
causam Lesão ou Perigo de Lesão, ao passo que a Contravenção resultaria 
em Perigo de Lesão 
CONDUTA 
Conceito: é a ação ou omissão humana consciente dirigida a uma finalidade. 
Teorias de Conduta São três as teorias acerca da conduta: 
a)Teoria Causal => ação ou conduta é o efeito da vontade e causa do resultado, 
consistindo num fazer voluntário que atua sobre o mundo exterior. Essa 
teoria, orientada pela aplicação das leis naturais ao fenômeno penal, 
prescinde do exame do conteúdo da vontade para a caracterização da 
conduta, bastando que se tenha certezade que o comportamento do agente 
foi voluntário para imputar-lhe o resultado. 
b)Teoria Social=> é a realização de um resultado socialmente relevante, 
questionado pelos requisitos do Direito e não pelas leis naturais. 
c)Teoria Finalista - é a atividade final humana e não um comportamento 
simplesmente causal. Implica necessariamente numa finalidade. 
 
A direção final da ação tem duas fases: 
Interna- ocorre na esfera do pensamento (inclui a escolha do fim, a relação dos 
meios, aceitação dos efeitos secundarios da concretização da ação. 
Externo - manifestação da ação dominada pela finalidade. 
 
Ausência de Conduta: Conceito e Casos. 
Considerando a Vontade um Elemento da Conduta, evidentemente não há 
Conduta quando o ato é Involuntário. 
 
 
Assim, caracteriza-se a Ausência de Conduta nos casos de: 
o a) Atos reflexos; 
o b) Coação física irresistível; 
o c) Estados de inconsciência (sonambulismo, hipnose etc.). 
 
Formas de Condutas: Ação e Omissão 
A CONDUTA pode consistir numa Ação ou Omissão. 
Crimes Comissivos são os crimes praticados mediante Ação. 
 
SUJEITO ATIVO DO CRIME 
É a pessoa que pratica o fato típico. Só o homem (pessoa física) pode ser Sujeito 
Ativo do crime. A pessoa jurídica não pode ser Sujeito Ativo do Crime. 
 
Capacidade Penal do Sujeito Ativo 
Capacidade Penal é o conjunto das condições exigidas para que o sujeito possa 
tornar-se titular de Direitos e Obrigações no campo do Direito Penal. Nesse 
sentido, distinguem-se Capacidade Penal e Imputabilidade. Um imputável pode 
não ter Capacidade Penal se passa a sofrer de doença mental após o delito. 
Os mortos, entes inanimados e animais não possuem Capacidade Penal, podendo 
apenas ser Objeto ou Instrumento do crime. 
 
 
 
SUJEITO PASSIVO DO CRIME 
É o titular do bem jurídico lesado ou ameaçado pela conduta criminosa. 
Duas são as espécies do Sujeito Passivo: 
a) Sujeito Passivo Formal=> é o Estado, que, sendo o titular do 
mandamento proibitivo, é lesado pela conduta do sujeito ativo; 
b) Sujeito Passivo Material=> é o titular do interesse penalmente 
protegido, podendo ser pessoa física, jurídica, o Estado ou uma 
coletividade destituída de personalidade. 
 
OBJETO DO CRIME 
É tudo aquilo contra o que se dirige a conduta criminosa, podendo ser: 
a)objeto Jurídico=>é o bem-interesse protegido pela lei penal (p. 
ex., vida, integridade física, honra, patrimônio, paz pública etc.); 
Objeto Material=> é a Pessoa ou Coisa sobre a qual recai a conduta 
criminosa. 
Crimes Omissivos são os crimes cometidos mediante omissão. 
Omissão é a não realização de um comportamento exigido quando o sujeito tem 
possibilidade de concretizar. 
Assim, a caracterização da Omissão depende de: 
a) Dever de agir; 
b) Possibilidade de realização da conduta. 
 
De acordo com o disposto no art. 13, § 2º, do Código Penal, existe o dever de 
agir em três casos distintos, a saber: 
a) Quando advém de um mandamento legal específico (Dever 
Jurídico); 
b) Quando o agente, de outra maneira, tornou-se garantidor da não 
ocorrência do resultado (Dever legal ou Contratual); 
c) Quando um ato precedente determina essa obrigação. 
 
Os Crimes Omissivos podem ser: 
a)Crimes Omissivos Próprios - são os crimes praticados com a 
simples Conduta negativa do agente, independentemente da 
produção de resultado posterior; 
b)Crimes Omissivos Impróprios ou Comissivos por Omissão- são 
os crimes em que o agente, mediante Omissão, permite a produção 
de um resultado. Ex.: a mãe que, pretendendo matar o filho, deixa de 
alimentá-lo. 
 
DOLO 
Conceito: É a consciência e vontade na realização da conduta típica. 
Ao se examinar a Conduta, verifica-se que, segundo a teoria finalística, é ela 
um Comportamento voluntário, cuja finalidade é o conteúdo da vontade do 
autor do fato, ou seja, o fim contido na ação, que não pode ser compreendida sem 
que se considere a vontade do agente. Toda ação consciente é dirigida pela 
consciência do que se quer e pela decisão de querer realizá-la, ou seja, 
pela vontade. A vontade é o querer alguma coisa, e o Dolo é a vontade dirigida à 
realização do tipo penal. 
FATO TÍPICO 
Conceitos: 
Em sentido formal é qualquer ação legalmente punível. Essa definição, entretanto, 
alcança apenas um dos aspectos do fenômeno criminal, é a contradição do fato a 
uma norma de direito, ou seja, a sua ilegalidade como fato contrário à normal 
penal. 
Ex.: Artigo 121 do Código Penal - Matar alguém. 
Em sentido material é aquela que tem em vista o bem protegido pela lei penal. 
Ex. O Estado tem o dever de velar pela paz interna, pela segurança e estabilidade 
coletiva diante dos conflitos inevitáveis entre os interesses dos indivíduos e os do 
poder constituído. 
Em sentido analítico=> é o fato típico, ilícito e culpável. 
O Fato Típico é o comportamento humano (positivo ou negativo) que provoca, em 
regra, um resultado, sendo previsto pela lei como infração penal. 
Elementos do fato típico: 
a)Conduta - é toda ação humana 
 ou omissão consciente e dirigida a uma finalidade; 
 dolosa ou culposa - inobservância do objeto. 
A princípio, pune-se apenas quando há vontade (dolo), porém, como exceção, 
pune-se quando não há vontade mas há negligência. 
b)Nexo Causal - é a relação de causa e efeito entre a conduta e o 
resultado; 
c)Resultado - é a modificação do mundo exterior causada pela 
conduta. Exemplo: porte ilegal de arma. 
d) Tipicidade - é a correspondência exata, a adequação perfeita 
entre o fato natural, concreto e a descrição contida na norma penal 
incriminadora. 
Características: 
a) a tipicidade: fato + conduta + resultado 
b) a antijuridicidade (ou, mais adequadamente, ilicitude) - contrário 
às normas jurídicas. 
 
 
 CULPA 
Conceito: Culpa, em sentido estrito, é a conduta voluntária, que produz resultado 
ilícito, não desejado, mas previsível, e excepcionalmente previsto e que podia, com 
a devida atenção, ser evitado. 
A teor do art. 18, II, do CP, o crime diz-se culposo "quando o agente deu causa ao 
resultado por imprudência, negligência ou imperícia". 
Elementos: 
a) Conduta Voluntária=>o fato se inicia com a realização voluntária 
de uma conduta de fazer ou não fazer. O agente não pretende 
praticar um crime nem quer expor interesses jurídicos de terceiros a 
perigo de dano. Falta, porém, com o dever de diligência exigido pela 
norma. A conduta inicial pode ser positiva (p. ex., dirigir um veículo) 
ou negativa (p. ex., deixar de alimentar um recém-nascido); 
b) Inobservância do Dever de Cuidado Objetivo Manifestada 
Através da Imprudência => a todos, no convívio social, é 
determinada a obrigação de realizar condutas de modo a não 
produzir danos a terceiros (cuidado objetivo). Se o agente não 
cumpriu com o dever de diligência que um homem razoável e 
prudente teria observado, a conduta é típica, e o causador do 
resultado será atuado com imprudência, negligência ou imperícia. 
c) Previsibilidade Objetiva=>é a possibilidade de antevisão do 
resultado; 
d) Ausência de Previsão => é necessário que o sujeito não tenha 
previsto o resultado. Se previu, agiu com Dolo não foi previsto pelo 
sujeito. Daí falar-se que a Culpa é a Imprevisão do Previsível. 
e)Resultado Involuntário=>sem o resultado involuntário (porque 
não previsto), não há que se falar em crime culposo; 
f)Tipicidade=>caracteriza-se quando o agente não observa o dever 
de cuidado objetivoque um homem razoável e prudente, nas 
mesmas circunstâncias, teria observado. 
 
Espécies de Culpa 
a) Culpa Inconsciente=>o resultado não é previsto pelo agente, 
embora previsível. É a culpa comum, que se manifesta pela 
imprudência, negligência ou imperícia; 
b)Culpa Consciente=> o resultado é previsto pelo sujeito, que 
levianamente espera que não ocorra ou que pode evitá-lo. 
 
 
 
 
 
CONCURSO DE PESSOAS 
Conceito e teorias 
O concurso de pessoas é o cometimento da infração penal por mais de um pessoa.Tal cooperação da prática da conduta delitiva pode se dar por meio da coautoria, 
participação, concurso de delinquentes ou de agentes, entre outras formas. 
Existem ainda três teorias sobre o concurso de pessoas, vejamos: 
a) teoria unitária: quando mais de um agente concorre para a prática da infração 
penal, mas cada um praticando conduta diversa do outro, obtendo, porém, um só 
resultado. Neste caso, haverá somente um delito. Assim, todos os agentes incorrem 
no mesmo tipo penal. Tal teoria é adotada pelo Código Penal. 
b) teoria pluralista: quando houver mais de um agente, praticando cada um 
conduta diversa dos demais, ainda que obtendo apenas um resultado, cada qual 
responderá por um delito. Esta teoria foi adotada pelo Código Penal ao tratar do 
aborto, pois quando praticado pela gestante, esta incorrerá na pena do art. 124, se 
praticado por outrem, aplicar-se-á a pena do art. 126. O mesmo procedimento 
ocorre na corrupção ativa e passiva. 
c) teoria dualista: segundo tal teoria, quando houver mais de um agente, com 
diversidades de conduta, provocando-se um resultado, deve-se separar os 
coautores e partícipes, sendo que cada "grupo" responderá por um delito. 
 
Coautoria e participação 
Há dois posicionamentos sobre o assunto, embora ambos dentro da teoria objetiva: 
a) teoria formal: de acordo com a teoria formal, autor é o agente que pratica a 
figura típica descrita no tipo penal, e partícipe é aquele que comete ações não 
contidas no tipo, respondendo apenas pelo auxílio que prestou (entendimento 
majoritário). Exemplo: o agente que furta os bens de uma pessoa, incorre nas 
penas do art. 155 do CP, enquanto aquele que o aguarda com o carro para ajudá-lo 
a fugir, responderá apenas pela colaboração. 
b) teoria normativa: aqui o autor é o agente que, além de praticar a figura típica, 
comanda a ação dos demais ("autor executor" e "autor intelectual"). Já o partícipe é 
aquele colabora para a prática da conduta delitiva, mas sem realizar a figura típica 
descrita, e sem ter controle das ações dos demais. Assim, aquele que planeja o 
delito e aquele que o executa são coautores. 
Sendo assim, de acordo com a opinião majoritária - teoria formal, o executor de 
reserva é apenas partícipe, ou seja, se João atira em Pedro e o mata, e logo após 
Mario também desfere tiros em Pedro, Mario (executor de reserva) responderá 
apenas pela participação, pois não praticou a conduta matar, já que atirou em um 
cadáver. Ressalta-se, porém, que o juiz poderá aplicar penas iguais para autor e 
partícipe, e até mesmo pena mais gravosa a este último, quando, por exemplo, for o 
mentor do crime. 
Sobre o assunto, preceitua o art. 29 do CP que, "quem, de qualquer modo, concorre 
para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade", 
dessa forma deve-se analisar cada caso concreto de modo a verificar a proporção 
da colaboração. Além disso, se a participação for de menor importância, a pena 
pode ser diminuída de um sexto a um terço, segundo disposição do § 1º do artigo 
supramencionado, e se algum dos concorrentes quis participar de crime menos 
grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na 
hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave (art. 29, § 2º, do CP). 
Ademais, quando o autor praticar fato atípico ou se não houver antijuridicidade, 
não há o que se falar em punição ao partícipe - teoria da acessoriedade limitada. 
Crime plurissubjetivo 
O crime plurissubjetivo é aquele que exige a presença de mais de uma pessoa, 
como acontece no crime de associação criminosa, rixa, entre outros. Assim, nestes 
crimes não há o que se falar em participação, já que a pluralidade de agentes 
garantem o tipo penal, sendo todos autores. Em contrapartida, nos crimes 
unissubjetivos, quando houver mais de um agente, aplicar-se-á a regra do art. 29 
do CP, já citado, devendo-se analisar a conduta de cada qual para aplicação da 
pena. 
O crime plurissubjetivo não se confunde com o delito de participação necessária, 
pois neste último o autor pratica vários crimes, porém o tipo penal exige a 
colaboração do sujeito passivo, que não será punido. Exemplo: corrupção de 
menores, favorecimento à prostituição etc. 
Requisitos do concurso pessoas 
a) presença de dois ou mais agentes; 
b) nexo de causalidade material entre as condutas realizadas e o resultado obtido; 
c) não há necessidade de ajuste prévio entre os agentes, mas deve haver vontade 
de obtenção do resultado (vínculo de natureza psicológica). Ou seja, mesmo que os 
agentes não se conheçam pode haver o concurso de pessoas se existente a vontade 
de obtenção do mesmo resultado. Tal hipótese admite ainda a autoria sucessiva. 
Exemplo: empregada deixa a porta da casa aberta, permitindo que o ladrão 
subtraia os bens do imóvel. Enquanto isso, uma outra pessoa, ao ver os fatos, 
resolve dele aderir retirando também as coisas da casa; 
d) reconhecimento da prática do mesmo delito para todos os agentes; 
e) existência de atipicidade e antijuridicidade, já que se o fato não é punível para 
um dos coautores, também não será para os demais. 
Autoria mediata e colateral 
A autoria mediata ocorre quando o agente usa de pessoa não culpável, ou que atua 
sem dolo ou culpa para realizar o delito. São situações que ensejam a autoria 
mediata: valer-se de inimputável, coação moral irresistível, obediência hierárquica, 
erro de tipo escusável ou de proibição, provocados por terceiro. Porém, há 
inúmeros casos em que o inimputável (menor, por exemplo) não é usado como 
instrumento da obtenção do resultado. Quando o inimputável também quiser 
atingir o resultado, será co-autor e tal modalidade de concurso denominar-se-á 
concurso impropriamente dito, concurso aparente ou pseudo concurso, já que um 
agente é penalmente responsável e o outro não. 
Já a autoria colateral ocorre quando dois agentes têm a intenção de obter o mesmo 
resultado, porém um desconhece a vontade do outro, sendo que o objetivo poderá 
ser atingido pela ação de somente um deles ou pela ação de ambos. Exemplo: Jorge 
e Antônio pretendem matar Carlos, e para tanto se escondem próximo à sua 
residência, sem que um saiba da presença do outro, e atiram na vítima. Assim, 
Jorge e Antônio responderão por homicídio em autoria colateral já que um não 
tinha conhecimento da ação do outro (não há vínculo psicológico). Salienta-se que, 
se apenas o tiro desferido por Jorge atingir Carlos, ele responderá por homicídio 
consumado, ao passo que Antônio responderá por homicídio tentado. Se não for 
possível verificar qual tiro matou Carlos, Jorge e Antônio responderão por 
tentativa de homicídio. Porém, se Jorge desfere tiro em Carlos e o mata, e só depois 
é que Antônio atira na vítima, haverá crime impossível para ele. Neste caso, se não 
for possível identificar qual tiro matou Carlos, ambos os agentes serão absolvidos 
por crime impossível (autoria incerta). 
Participação por omissão e conveniência, e co-autoria em crime omissivo 
A participação por omissão ocorre quando a pessoa tinha o dever de evitar o 
resultado e não o fez. Exemplo: responde por crime de incêndio o bombeiro que 
não cumpriu seu dever se agir para combater o fogo. Já a participação por 
conivência ocorre quando a pessoa não tinha o dever de evitar o resultado, nem 
tinha vontade de obtenção do mesmo. Neste caso, não haverá punição - concurso 
absolutamente negativo. Exemplo: o vendedor de uma loja sabe que seu colega 
está furtando dinheiro do caixa, porém, não tem obrigação de denunciá-lo já que 
não exerce a função de segurança, nem trabalha na mesma seção. 
 A autoria em crime omissivo ocorre, por exemplo, quando duas pessoas deparam-
se com alguém ferido e ambas não procuram ajuda. Nesta hipótese, responderão 
por co-autoria em omissão de socorro. Porém, há também entendimento que não 
há possibilidade de co-autoria nestes crimes, e sim autoria colateral, pois existem 
condutasindividuais, sendo o dever de agir infracionável. 
Participação e cumplicidade 
Há três visões sobre o assunto: 
a) cúmplice é aquele que auxilia no cometimento de crime sem ter tal 
conhecimento. Exemplo: dar carona a bandido sem saber que este está fugindo; 
b) cúmplice é aquele que colabora materialmente com a prática de infração penal; 
c) cúmplice é aquele que colabora dolosamente para prática de conduta delituosa, 
mesmo que o autor não tenha consciência deste favorecimento. 
Como não há entendimento majoritário, decidiu-se que quem auxilia na prática de 
um crime é cúmplice, seja co-autor ou partícipe. 
Incomunicabilidade de circunstâncias 
Não se comunicam entre co-autores e partícipes as circunstâncias consideradas 
individualmente no concurso de agentes. Prevê o art. 30 do CP que, "não se 
comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando 
elementares do crime". Considera-se circunstância de caráter pessoal aquela 
situação particular que envolve o agente, mas não é inerente à sua pessoa. 
Exemplo: confissão espontânea, que atenua a pena e não se transfere aos demais 
co-autores. A condição de caráter pessoal consiste em qualidade da pessoa, tais 
como menoridade e reincidência, condições estas que também não se transferem 
aos demais agentes do delito. 
As circunstâncias elementares do crime são componentes do tipo penal, que se 
transmitem aos demais agentes da infração penal. Assim, se uma funcionária 
pública furta bens da repartição com sua colega que não exerce cargo público, 
ambas responderão por peculato-furto (art. 312, § 1º do CP). Em relação ao crime 
de infanticídio há discussão sobre a transferência da circunstância elementar, já 
que a pena para tal crime não é tão gravosa tendo em vista o estado em que se 
encontra a mãe. Sendo assim, muitos não concordam com a transmissão da 
circunstância elementar, pois não seria justo que co-autor fosse favorecido. Em 
contrapartida, há entendimento que, mesmo no infanticídio há transferência da 
circunstância elementar pois a Lei não fez nenhuma ressalva sobre o assunto, e 
esta é a opinião majoritário. Assim, embora o estado puerperal seja circunstância 
personalíssima, também é elementar do tipo, dessa maneira, quem auxilia a 
genitora a matar recém-nascido ou o faz sozinho a pedido da mesma, responderá 
por infanticídio. 
Casos de impunibilidade 
Determina o art. 31 do CP que, "o ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, 
salvo disposição expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, 
pelo menos, a ser tentado". Entretanto, tais condutas - ajuste (acordo), instigação 
(estímulo), auxílio (assistência) e determinação (decisão) - serão puníveis quando 
houver disposição expressa neste sentido, como é o caso do art. 288 do CP - 
"associarem-se 03 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes 
(...)". Assim, serão puníveis tais atos quando houver início da execução do delito, 
pois do contrário serão consideradas condutas atípicas, já que não houve perigo a 
nenhum bem protegido pelo ordenamento jurídico (o mesmo ocorre no crime 
impossível). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CONCURSO DE CRIMES 
Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou 
mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de 
execução e outras semelhantes, devem os subseqüentes ser havidos como 
continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou 
a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços. 
 Parágrafo único - Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos 
com violência ou grave ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a 
culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem 
como os motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se 
idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo, observadas as regras do 
parágrafo único do art. 70 e do art. 75 deste Código. 
 
Espécies 
O concurso de crimes pode ser material ou real, formal ou ideal, e continuado. 
As hipóteses de concurso podem ocorrer entre crimes dolosos e culposos, 
consumados ou tentados, comissivos ou omissivos. 
 
Obs: Não há concurso de crimes: 
No crime permanente: o que se prolonga no tempo (Ex.: sequestro). 
No crime habitual: reiteração de um só crime (Ex.: exercício ilegal da medicina). 
 
Concurso material ou real 
Ocorre quando há duas ou mais condutas (comissivas ou omissivas), que 
resultam em dois ou mais crimes, idênticos ou não. As penas são somadas de 
acordo com o sistema da cumulatividade. No Brasil é observado na análise da 
primeira parte do art. 69 do Código Penal. 
O concurso material pode ser: 
Homogêneo: os crimes são idênticos (Ex.: roubo em duas datas diferentes). 
Heterogêneo: os crimes não idênticos (Ex.: roubo seguido de estupro). 
Todavia, a doutrina diverge acerca de uma terceira espécie de concurso material, 
chamado de concurso material pela homogeneidade heterônoma (aplicados à 
continência de crimes que apesar de diferentes, carregam certo grau de igualdade). 
 
Concurso formal ou ideal 
Ocorre quando há uma única conduta em uma pluralidade de crimes. Pune 
somente um crime ou conduta e aumenta a pena isso dá benefício para o réu . 
O concurso formal se divide em: 
Homogêneo: os crimes são idênticos (Ex.: um disparo com 02 ou várias mortes). 
Heterogêneo: os crimes não idênticos (Ex.: um acidente com uma morte e uma 
lesão corporal). 
Perfeito, Próprio ou Normal: quando há unidade de desígnios em relação aos 
delitos. 
Imperfeito, Impróprio ou Anormal: quando há desígnios autônomos em relação a 
cada delito (Ex.: duas mortes desejadas com um único disparo). Neste caso, será 
aplicado a pena como se fosse em Concurso Material (cumulativamente). 
O concurso formal é um benefício ao réu, se a pena aplicada for maior do que seria 
pelo sistema de soma de penas, será utilizado o concurso material benéfico. 
 
Crime continuado 
O crime continuado comum ou genérico está presente no artigo 71 do Código Penal 
Brasileiro e determina que quando o agente, mediante mais de uma ação ou 
omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de 
tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subsequentes 
ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos 
crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de 
um sexto a dois terços. 
O tipo específico se dá nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos 
com violência ou grave ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a 
culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem 
como os motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se 
idênticas, ou a mais grave, se diversas, em até três vezes, onde o agente pode ser 
preso. 
 
DAS PENAS 
Art. 32 - As penas são: 
 I - privativas de liberdade; 
 II - restritivas de direitos; 
 III - de multa. 
 
Reclusão e detenção 
Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou 
aberto. A de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de 
transferência a regime fechado. 
 § 1º - Considera-se: 
 a) regime fechado a execução da pena em estabelecimento de segurança 
máxima ou média; 
 b) regime semi-aberto a execução da pena em colônia agrícola, industrial ou 
estabelecimento similar; 
 c) regime aberto a execução da pena em casa de albergado ou 
estabelecimento adequado. 
 § 2º - As penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma 
progressiva, segundo o mérito do condenado, observados os seguintes critérios e 
ressalvadas as hipóteses de transferência a regime mais rigoroso: 
 a) o condenado a pena superior a 8 (oito)

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