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m5 'PoLIcIflIzL Direito Penal Parte Geral Material Didático “Ff-'afiael Andrade de Mede'ilros 23/01/2919 RAFAEL ANDRADE DE MEDEIROS 2 ALFACON 23/01/2019 DIREITO PENAL PARTE GERAL Sumário 1. PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO PENAL .......................... 3 1.1. PRINCÍPIO DA EXCLUSIVA PROTEÇÃO DE BENS JURÍDICOS ............. 3 1.2. PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA .............................................. 3 1.3. PRINCÍPIO DA FRAGMENTARIEDADE ................................................. 3 1.4. PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE ...................................................... 3 1.5. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA......................................................... 3 1.6. PRINCÍPIOS DA LEGALIDADE E ANTERIORIDADE ............................. 3 1.7. PRINCÍPIO DA RESERVA LEGAL .......................................................... 3 2. APLICAÇÃO DA LEI PENAL ...................................................... 4 2.1. CONCEITO E PRECEITOS ...................................................................... 4 2.2. CLASSIFICAÇÃO .................................................................................... 4 2.3. CARACTERÍSTICAS ............................................................................... 4 2.4. LEI PENAL EM BRANCO (CEGAS OU ABERTAS) ................................. 4 2.5. INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL ......................................................... 5 2.5.1. Quanto ao sujeito ...................................................................... 5 2.5.2. Quanto ao modo ........................................................................ 5 2.5.3. Quanto ao resultado ................................................................ 5 2.6. INTEGRAÇÃO DA LEI PENAL ................................................................ 5 2.6.1. Analogia ........................................................................................ 5 3. LEI PENAL NO TEMPO .............................................................. 6 3.1. EXTRA-ATIVIDADE DE LEI PENAL ...................................................... 6 3.2. LEI EXCEPCIONAL OU TEMPORÁRIA .................................................. 6 3.3. TEMPO DO CRIME. ............................................................................... 6 4. LEI PENAL NO ESPAÇO ............................................................. 6 4.1. LUGAR DO CRIME ................................................................................. 6 4.2. TERRITORIALIDADE ............................................................................ 6 4.3. EXTRATERRITORIALIDADE INCONDICIONADA ................................. 7 4.4. EXTRATERRITORIALIDADE INCONDICIONADA E A LEI DE TORTURA 7 4.5. EXTRATERRITORIALIDADE CONDICIONADA ..................................... 7 5. PENA CUMPRIDA NO ESTRANGEIRO .................................. 7 6. EFICÁCIA DA SENTENÇA PENAL ESTRANGEIRA ............. 7 7. CONTAGEM DO PRAZO ............................................................ 8 8. CONFLITO APARENTE DE NORMAS PENAIS..................... 8 8.1. ESPECIALIDADE ................................................................................... 8 8.2. SUBSIDIARIEDADE ............................................................................... 9 8.3. CONSUNÇÃO ......................................................................................... 9 8.4. ALTERNATIVIDADE ............................................................................. 9 9. INFRAÇÃO PENAL: ESPÉCIES .............................................. 10 9.1. INFRAÇÃO PENAL: SUJEITO ATIVO E SUJEITO PASSIVO. ................. 10 9.2. REQUISITOS BÁSICOS DA INFRAÇÃO PENAL.................................... 10 9.3. INFRAÇÃO PENAL: ELEMENTOS ....................................................... 10 10. FATO TÍPICO E SEUS ELEMENTOS .................................... 10 10.1. NEXO CAUSAL (RELAÇÃO DE CAUSALIDADE) ................................. 10 10.2. SUPERVENIÊNCIA DE CAUSA RELATIVAMENTE INDEPENDENTE . 11 10.3. OMISSÃO PENALMENTE RELEVANTE .............................................. 11 10.4. CRIME DOLOSO ................................................................................... 11 10.5. CRIME CULPOSO ................................................................................. 11 10.5.1. Requisitos do crime culposo .............................................. 11 10.5.2. Espécies de crime culposo .................................................. 11 10.6. AGRAVAÇÃO PELO RESULTADO ........................................................ 12 10.7. CRIME CONSUMADO .......................................................................... 12 10.8. CRIME TENTADO ................................................................................ 12 10.9. DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E ARREPENDIMENTO EFICAZ ............ 12 10.10. ARREPENDIMENTO POSTERIOR ....................................................... 12 10.11. CRIME IMPOSSÍVEL ............................................................................ 12 10.12. TIPOS DE TENTATIVA ........................................................................ 12 10.13. INADMISSIBILIDADE DA TENTATIVA ............................................... 12 11. CONCURSO DE CRIMES .......................................................... 12 11.1. CONCURSO MATERIAL (OU REAL) ................................................... 12 11.2. CONCURSO FORMAL PRÓPRIO (PERFEITO) .................................... 12 11.3. CONCURSO FORMAL IMPRÓPRIO (IMPERFEITO)............................ 13 11.4. TABELA DE CONCURSOS DE CRIMES ................................................ 13 11.5. MULTAS NO CONCURSO DE CRIMES ................................................. 13 11.6. LIMITE DAS PENAS ............................................................................. 13 11.7. CONCURSO DE INFRAÇÕES ................................................................ 13 12. ILICITUDE E CAUSAS DE EXCLUSÃO ................................. 13 12.1. LEGÍTIMA DEFESA (ART. 25) ........................................................... 13 12.1.1. Tipos de legítima defesa ...................................................... 13 12.2. ESTADO DE NECESSIDADE (ART. 24).............................................. 13 12.2.1. Tipos de estado de necessidade ........................................ 13 12.3. ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL .................................... 14 12.4. EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO .................................................... 14 12.5. CONSENTIMENTO DO OFENDIDO (SUPRALEGAL) .......................... 14 12.6. EXCESSO PUNÍVEL ............................................................................. 14 13. PUNIBILIDADE ......................................................................... 14 14. CULPABILIDADE E SEUS ELEMENTOS ............................. 15 14.1. SISTEMA DE CONDENAÇÃO UNITÁRIO OU VICARIANTE ................ 15 14.2. IMPUTABILIDADE .............................................................................. 15 14.2.1. Inimputabilidade (caráter biopsicológico) .................. 15 14.2.2. Inimputabilidade (caráter biológico) ............................. 15 14.2.3. Emoção, paixão e embriaguez ........................................... 15 14.2.4. Espécies de embriaguez....................................................... 15 14.2.5. Inimputabilidade (caráter psicológico) ......................... 15 14.3. POTENCIAL CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE ........................................ 15 14.3.1. Excludentes da consciência de ilicitude ........................ 16 14.3.2. Erro de tipo e erro de proibição ....................................... 16 14.3.3. Descriminantes putativas ................................................... 16 14.4. EXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA ........................................... 16 14.4.1. Coação irresistível: moral xfísica .................................... 16 14.4.2. Obediência hierárquica ........................................................ 17 15. CONCURSO DE PESSOAS ....................................................... 17 15.1. EXCEÇÃO À TEORIA MONISTA: TEORIA DUALISTA E TEORIA PLURALISTA 17 15.2. AUTORIA ............................................................................................. 17 15.2.1. Autoria mediata ...................................................................... 17 15.2.2. Autoria colateral ..................................................................... 17 15.2.3. Autoria incerta ........................................................................ 17 15.3. COMUNICABILIDADE E INCOMUNICABILIDADE DE ELEMENTARES E CIRCUNSTÂNCIAS ....................................................................................................... 18 15.4. COAUTORIA ........................................................................................ 18 15.4.1. Coautoria sucessiva ............................................................... 18 15.5. PARTICIPAÇÃO ................................................................................... 18 15.5.1. Teorias da acessoriedade .................................................... 19 15.5.2. Participação moral ................................................................. 19 15.5.3. Participação material ............................................................ 19 15.5.4. Participação inócua ............................................................... 19 15.5.5. Participação por omissão .................................................... 19 15.5.6. Participação sucessiva.......................................................... 19 15.6. TEORIAS ADOTADAS AO CONCURSO DE PESSOAS .......................... 19 16. DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS APLICÁVEIS AO DIREITO PENAL ................................................................................. 19 16.1. PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA ............................ 19 16.2. PRINCÍPIO DA HUMANIDADE ............................................................ 19 16.3. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE AO PARTICULAR (SENTIDO AMPLO) 19 16.4. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE PENAL (SENTIDO ESTRITO) .............. 19 16.5. PRINCÍPIO DA CULPABILIDADE ........................................................ 19 16.6. PRINCÍPIO DA RETROATIVIDADE BENÉFICA DE LEI PENAL .......... 19 16.7. PRINCÍPIO DO FATO........................................................................... 20 16.8. PRINCÍPIO DA ALTERIDADE OU TRANSCENDENTALIDADE ........... 20 16.9. PRINCÍPIO DA OFENSIVIDADE OU LESIVIDADE .............................. 20 16.10. PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO SOCIAL ................................................. 20 16.11. PRINCÍPIO DO “NE BIS IN IDEM” ...................................................... 20 16.12. PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE .............................................. 20 16.13. PRINCÍPIO DA INTRANSCENDÊNCIA, PERSONALIDADE OU INDIVIDUALIDADE ..................................................................................................... 20 16.14. PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIZAÇÃO DE PENA .................................. 20 16.15. RACISMO ............................................................................................. 20 16.16. CRIMES HEDIONDOS E EQUIPARADOS ............................................. 20 16.17. AÇÃO DE GRUPOS ARMADOS ............................................................ 20 16.18. DEVIDO PROCESSO LEGAL ................................................................ 20 16.19. TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL ................................................ 20 16.20. PROTEÇÃO AO SALÁRIO .................................................................... 20 16.21. IMUNIDADE DE DEP. ESTADUAL ...................................................... 20 16.22. FORO PREVILEGIADO A PREFEITO ................................................... 20 16.23. DEP. E SEN. FEDERAIS SÃO INVIOLÁVEIS ........................................ 20 16.24. CRIME DE RESPONSABILIDADE DO PRES. DA REPÚBLICA ............. 20 16.25. JECRIM .............................................................................................. 20 16.26. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA ................................................... 21 16.27. CRIMES AMBIENTAIS ......................................................................... 21 16.28. CRIMES CONTRA A CRIANÇA E ADOLESCENTE ............................... 21 “Quanto menos alguém entende, mais quer discordar.” (Getúlio Vargas) 3 DIREITO PENAL CARREIRAS POLICIAIS ALFACON 212585212 1. PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO PENAL 1.1. PRINCÍPIO DA EXCLUSIVA PROTEÇÃO DE BENS JURÍDICOS O Direito Penal possui como objetivo principal a proteção de bens jurídicos que sejam fundamentais ao convívio da sociedade e do cidadão — para sua proteção e seu desen- volvimento. Outrossim, “o Direito Penal se destina à tutela de bens jurídicos, NÃO PODENDO ser utilizado para resguar- dar questões de ordem moral, ética, ideológica, religi- osa, política ou semelhantes.”. (MASSON, 2017, p. 59-60, grifo meu) “Pelo que é possível extrair do ordenamento jurídico brasi- leiro a premissa de que toda conduta penalmente típica só é penalmente típica porque significante, de alguma forma, para a sociedade e a própria vítima. É falar: em tema de política criminal, a Constituição Federal pressupõe lesão significante a interesses e valores (os chamados ‘bens ju- rídicos’) por ela avaliados como dignos de proteção nor- mativa.” (STF, HC 109.277/SE, Rel. Min. Ayres Britto, 2ª Turma, em 13/12/2011). 1.2. PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA O princípio da intervenção mínima do Estado é reflexo do Estado Democrático de Direito, haja vista que quando em um Estado absolutista, totalitário ou autoritário o Direito Penal acaba sendo a primeira opção para punição dos ilí- citos (para causar terror, como o nazismo e o fascismo), assim, “a missão do Direito Penal moderno consiste em tutelar os bens jurídicos mais relevantes. Em decor- rência disso, a intervenção penal deve ter o caráter frag- mentário, protegendo apenas os bens jurídicos mais impor- tantes e em casos de lesões de maior gravidade” (STJ, HC 50.863/PE, Rel. Min. Hélio Quaglia Barbosa, em 04/04/2006). Dessa forma, o princípio da intervenção mínima é gênero e se desmembra em outras duas espécies: fragmentarie- dade (o Direito Penal não irá proteger todos os bens jurídi- cos de todos os ataques) e subsidiariedade (o Direito Pe- nal será aplicado quando os outros ramos do Direito fracas- sarem, ultima ratio). Contudo, alguns ilícitos são tão gra- ves que o Direito Penal será o primeiro, por exemplo, no caso do homicídio. 1.3. PRINCÍPIO DA FRAGMENTARIEDADE O Direito Penal deve proteger os bens jurídicos mais rele- vantes contra os ataques mais gravosos (caráter frag- mentário). 1.4. PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE Aos outros ramos do Direito cabe a intervenção primária, sendo o Direito Penal o último ramo para intervir (ultima ratio — caráter subsidiário). 1.5. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA Tipicidade formal x Tipicidade material Princípio da insignificância: decorrente da intervenção mínima do Estado, pressupondo que nem todas as condu- tas tipificadas como crime (formalmente) serão material- mente típicas, devendo ser analisadas no caso em con- creto se houve lesão expressiva a um bem jurídico rele- vante e se houve um comportamento agressivo pelo agente. “A tipicidade penal não pode ser percebida como o trivial exercício da adequação do fato concreto à norma abstrata. Além da correspondência formal, para a configuração da tipicidade, é necessária uma análise materialmente valorativa das circunstâncias do caso concreto, no sentido de se verificar a ocorrência de alguma lesão grave, contun- dente e penalmente relevante do bem jurídico tutelado. O princípio da insignificância reduzo âmbito de proibição aparente da tipicidade legal e, por consequência, torna atí- pico o fato na seara penal, apesar de haver lesão a bem ju- ridicamente tutelado pela norma penal.” (STF, HC 108946, Rel. Min. Cármen Lúcia, 07/12/2011). Requisitos objetivos: Mínima ofensividade da conduta do agente; Ausência de periculosidade social da ação; Reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; Inexpressividade da lesão jurídica provocada. Natureza jurídica: Causa supralegal de exclusão da tipi- cidade. Aplicabilidade: Qualquer delito que seja com ele com- patível, sua maior incidência ocorre nos crimes patrimo- niais (furto). É inadmissível quando o crime acontecer com violência ou grave ameaça à pessoa. Crimes contra a Adm. Pública: Regra: Não admite Descaminho, Crimes Tributários: STF + STJ: R$ 20 mil Crimes Funcionais: Regra: Não admite STF: Peculato ínfimo Crimes ambientais: STJ/STF: Admite Moeda Falsa, Fé Pública: Inaplicável Tráfico de drogas, Posse de droga para uso pes- soal: Inaplicável Crimes de perigo abstrato: Regra: Não admite Crime eleitoral: Inaplicável Rádio Clandestina: Inaplicável 1.6. PRINCÍPIOS DA LEGALIDADE E ANTERIORIDADE Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal. ➢ NÃO HÁ CRIME: 1) Sem lei (admite-se somente lei em sentido estrito); 2) Anterior (veda-se retroatividade maléfica da lei pe- nal); 3) Escrita (veda-se o costume incriminador); 4) Estrita (veda-se a analogia incriminadora); 5) Certa (veda-se o tipo penal indeterminado); 6) Necessária (intervenção mínima). 1.7. PRINCÍPIO DA RESERVA LEGAL Normas penais incriminadoras somente por meio de lei formal em sentido estrito (leis ordinárias). Salvo, normas penais NÃO incriminadoras (poderá medida provisória). CAIU EM PROVA! (CESPE - 2011) Uma das funções do princípio da legali- dade refere-se à proibição de se realizar incriminações va- gas e indeterminadas, visto que, no preceito primário do Certo RAFAEL ANDRADE DE MEDEIROS 4 ALFACON 23/01/2019 DIREITO PENAL PARTE GERAL tipo penal incriminador, é obrigatória a existência de de- finição precisa da conduta proibida ou imposta, sendo ve- dada, com base em tal princípio, a criação de tipos que contenham conceitos vagos e imprecisos. CAIU EM PROVA! (CESPE - 2014) O princípio da reserva legal aplica-se, de forma absoluta, às normas penais incriminadoras, exclu- indo-se de sua incidência as normas penais não incrimi- nadoras. 2. APLICAÇÃO DA LEI PENAL 2.1. CONCEITO E PRECEITOS Conceito: é a fonte formal imediata do Direito Penal, uma vez que, por expressa determinação constitucional, tem a si reservado, exclusivamente, o papel de criar infrações penais e cominar-lhes as penas respectivas. Sua estrutura apresenta dois preceitos, um primário (conduta) e outro secundário (pena). No crime de homicí- dio simples, tipificado pelo art. 121 do Código Penal, o preceito primário é “matar alguém”, enquanto a pena de “reclusão, de 6 a 20 anos” desempenha a função de pre- ceito secundário. 2.2. CLASSIFICAÇÃO As leis penais apresentam diversas divisões. Podem ser: a) Incriminadoras: são as que criam crimes e cominam penas. Estão contidas na Parte Especial do Código Pe- nal e na legislação penal especial; b) Não incriminadoras: são as que não criam crimes nem cominam penas. Subdividem-se em: (i) Permissivas: autorizam a prática de condutas tí- picas, ou seja, são as causas de exclusão da ilici- tude. Em regra, estão previstas na Parte Geral (Art. 23, CP), mas algumas são também encontra- das na Parte Especial, tal como ocorre no Art. 128 (aborto legal) e Art. 142 (exclusão da ilicitude nos crimes contra a honra); (ii) Exculpantes: estabelecem a não culpabilidade do agente ou ainda a impunidade de determina- dos delitos. Ex.: doença mental, menoridade, pres- crição e perdão judicial. Encontram-se comu- mente na Parte Geral, mas também podem ser identificadas na Parte Especial do Código Penal, tais como no Art. 312, §3º, 1ª parte (reparação do dano antes da sentença no crime de peculato), e Art. 342, §2º (retratação antes da sentença no pro- cesso em que ocorreu o ilícito no crime de falso tes- temunho ou falsa perícia); (iii) Interpretativas: esclarecem o conteúdo e o sig- nificado de outras leis penais. Ex.: Art. 150, §4º (conceito de domicílio) e Art. 327 (conceito de fun- cionário público para fins penais); (iv) De aplicação, finais ou complementares: deli- mitam o campo de validade das leis incriminado- ras. Ex.: Arts. 2º e 5º do Código Penal; (v) Diretivas: são as que estabelecem os princípios de determinada matéria. Ex.: Princípio da Reserva Legal (Art. 1º do Código Penal); (vi) Integrativas ou de extensão: são as que comple- mentam a tipicidade no tocante ao nexo causal nos crimes omissivos impróprios, à tentativa e à participação (Art. 13, §2º; Art. 14, inc. II; e Art. 29, caput, todos do Código Penal). c) Completas ou perfeitas: apresentam todos os ele- mentos da conduta criminosa, é o caso do Art. 157, ca- put, do Código Penal. Não necessitam de comple- mento valorativo ou normativo. d) Incompletas ou imperfeitas: são aquelas que neces- sitam de complemento valorativo ou normativo. Re- servam a complementação da definição da conduta criminosa ou a uma outra lei, ou a um ato da Adminis- tração Pública, ou ao julgador. São as leis penais em branco, nos dois primeiros casos; e os tipos penais abertos, no último. 2.3. CARACTERÍSTICAS 1. Exclusividade: só elas definem crimes e cominam pe- nas. 2. Anterioridade: as que descrevem crimes somente têm incidência se já estavam em vigor na data do seu cometi- mento. 3. Imperatividade: impõem-se coativamente a todos, sendo obrigatória sua observância. 4. Generalidade: tem eficácia erga omnes, ou seja, diri- gindo-se a todos, inclusive inimputáveis. 5. Impessoalidade: dirige-se de forma impessoal e indis- tintamente a todos. Não se concebe a elaboração de uma norma para punir especificamente uma pessoa. 2.4. LEI PENAL EM BRANCO (CEGAS OU ABERTAS) Conceito: são normas cujas descrições da conduta não es- tão completas, ou seja, normas incompletas. Elas necessi- tam de complemento valorativo ou normativo e sua com- plementação será feita por outro dispositivo legal ou re- gulamentar. O seu preceito secundário é completo, o que não se verifica no tocante ao primário, carente de imple- mentação. Divide-se em: a) Normas penais em branco em sentido lato ou ho- mogêneas: são as chamadas de impróprias. O com- plemento tem a mesma natureza jurídica e provém do mesmo órgão que elaborou a lei penal incriminadora, isto é, provém da mesma fonte formal, ou seja, a lei é completada por outra lei. Ex.: Art. 237 do Código Penal (completado pela regra do Art. 1.521, I a VII, do Código Civil). Além disso, tanto a Lei Civil como a Penal têm como fonte de produção o Poder Legislativo Federal (Art. 22, inc. I, CF/88). Pode ser homovitelina, quando a lei incriminadora e seu complemento (outra lei) encontram-se no mesmo diploma legislativo (Có- digo Penal → Código Penal), ou heterovitelina, se es- tiverem alocadas em diplomas diversos (Código Penal → Código Civil). Guarde como sinônimos: • Sentido lato » Amplo ou Lato Sensu; • Homogêneas » Homólogas. b) Normas penais em branco em sentido estrito ou heterogéneas: são as chamadas de próprias. O com- plemento provém de fonte formal diversa; a lei é com- plementada por ato normativo infralegal, como uma portaria ou um decreto. Ex.: Art. 33 da Lei de Drogas nº 11.343/06 e Portaria do Ministério da Saúde elen- cando o rol de substâncias entorpecentes. Art. 121 - Matar alguém Preceito primário Pena - reclusão, de 6 a 20 anos. Preceito secundário Certo “Quanto menos alguém entende, mais quer discordar.” (Getúlio Vargas) 5 DIREITO PENAL CARREIRAS POLICIAIS ALFACON 212585212 Guarde como sinônimos: •Sentido estrito » Stricto Sensu; • Heterogêneas » Heterólogas. c) Normas penais em branco inversas ou ao avesso (ou ao revés): são aquelas que o preceito primário está completo, porém o preceito secundário está va- zio, ficando a cargo de uma norma complementar, ne- cessariamente uma lei em sentido formal. Ex.: Lei do Genocídio nº 2889/56, Art. 1º, “a”: “Será punido: Com as penas do art. 121, §2º, do Código Penal”. Caso o com- plemento for um ato normativo infralegal, então esta norma será inconstitucional, pois somente a lei pode cominar penas. CAIU EM PROVA! (PUC-PR - 2014) As normas penais em branco homólogas, ou em sentido amplo, podem ser homovitelinas e hetero- vitelinas, sendo que essas últimas são aquelas que têm suas respectivas normas complementares oriundas de outro ramo do direito. 2.5. INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL • Conceito: é a atividade que consiste em extrair da norma penal seu exato alcance e real significado. • Natureza: a interpretação deve buscar a vontade da lei, desconsiderando-a de quem a fez. A lei terminada independe de seu passado, importando apenas o que está contido em seus preceitos. • Classificação: 1) Quanto ao sujeito, levando em consideração aquele que realiza a interpretação; 2) Quanto ao modo, considerando os meios empre- gados para a interpretação; 3) Quanto ao resultado, tendo em conta a conclu- são a que chegou o exegeta. 2.5.1. QUANTO AO SUJEITO Quanto ao sujeito, a interpretação pode ser autêntica, doutrinária ou jurisprudencial. 1. Interpretação autêntica: também chamada de le- gislativa, é aquela que emana do próprio órgão en- carregado da elaboração do texto legal, podendo ser: a) Contextual: quando feita no bojo do próprio texto interpretado (ex.: Art. 150 e §4º do CP e o conceito de casa); b) Não contextual ou posterior: quando feita por outra lei de edição posterior. 2. Interpretação doutrinária: é aquela feita pelos estudiosos do direito: em livros, artigos, teses, mo- nografias, comentários etc. A doutrina pode ser conceituada como o conjunto de estudos jurídicos de qualquer natureza, feito pelos cultores do di- reito. Não se trata de fonte do direito, mas de forma de procedimento interpretativo. 3. Interpretação jurisprudencial: também denomi- nada judicial, é aquela dada pelos tribunais, medi- ante a reiteração de seus julgamentos. Jurisprudên- cia é a reiteração de decisões no mesmo sentido, lançadas em casos idênticos, por meio da interpre- tação e aplicação do direito ao caso concreto. Da mesma forma que a doutrina, não se trata de fonte do direito, mas de procedimento interpretativo. 2.5.2. QUANTO AO MODO Quanto ao modo, a interpretação pode ser gramatical ou lógica. 1. Interpretação gramatical: também chamada de literal ou sintática, é aquela fundada nas regras gra- máticas, levando-se em consideração o sentido li- teral das palavras. 2. Interpretação lógica: igualmente chamada teleo- lógica, é aquela que procura descobrir a vontade do legislador, assim como a finalidade com a qual a lei foi editada. 2.5.3. QUANTO AO RESULTADO Quanto ao resultado, a interpretação pode ser declara- tiva, restritiva e extensiva. 1. Interpretação declarativa: é aquela que dá à lei o seu sentido literal, sem extensão nem restrição, correspondendo exatamente ao intuito do legisla- dor. 2. Interpretação restritiva: é aquela que, concluindo ter dito mais do que queria, o legislador restringe seu sentido. Aos limites da norma. 3. Interpretação extensiva: é aquela que, concluindo ter a lei dito menos do que queria, o legislador es- tende seu sentido para que corresponda ao da norma. Intepretação analógica (há lei): permitida tanto para beneficiar quanto para prejudicar o réu (Exem- plo: Art. 121, §2º, I, in fine: “ou por outro motivo torpe”). 2.6. INTEGRAÇÃO DA LEI PENAL 2.6.1. ANALOGIA A analogia não é forma de interpretação da lei penal, mas trata-se de integração da lei penal, pois não existe lei. É vedada a analogia in malam partem!! Interpretação extensiva Interpretação ana- lógica Analogia É forma de in- terpretação. É forma de interpre- tação. É forma de integração do direito. Existe norma para o caso con- creto. Existe norma para o caso concreto. Não existe norma para o caso concreto. Amplia-se o al- cance da palavra (não importa no surgimento de uma nova norma). Utilizam-se exem- plos seguidos de uma fórmula gené- rica para alcançar outras hipóteses. Cria-se nova norma a partir de outra (analo- gia legis) ou pelo em- prego de um princípio geral do direito (ana- logia iuris). Prevalece ser possível sua aplicação no Di- reito Penal in bonam partem ou in malam partem. É possível sua apli- cação no Direito Pe- nal tanto para bene- ficiar (in bonam par- tem) quanto para prejudicar (in ma- lam partem). É possível sua aplica- ção no Direito Penal somente in bonam partem. Ex.: a expressão “arma” no crime de extorsão ma- jorada (Art. 158, §1º, CP). Ex.: homicídio me- diante paga ou pro- messa de recom- pensa, ou por outro motivo torpe (Art. 121, §2º, I, III e IV, CP). Ex.: isenção de pena prevista nos crimes contra o patrimônio para o cônjuge e, ana- logicamente, para o companheiro (Art. 181, I, CP). Certo RAFAEL ANDRADE DE MEDEIROS 6 ALFACON 23/01/2019 DIREITO PENAL PARTE GERAL Interpretação analógica: pode ser utilizado tanto para be- neficiar quanto para prejudicar. Analogia: somente para beneficiar (in bonam partem). 3. LEI PENAL NO TEMPO 3.1. EXTRA-ATIVIDADE DE LEI PENAL Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a exe- cução e os efeitos penais da sentença condenatória. Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em jul- gado. 1) Irretroatividade da lei penal maléfica; 2) Retroatividade da lei penal mais benéfica; 3) Ultratividade da lei penal mais benéfica; 4) Abolitio Criminis (Mantêm-se os efeitos civis); 5) Crime continuado e permanente (Súmula 711 do STF); 6) Princípio da continuidade normativo-típica (Atentado violento ao pudor virou estupro). SÚMULA 711, STF: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigên- cia é anterior à cessação da continuidade ou da permanên- cia.”. A lei penal mais grave (lex gravior) jamais retroagirá! Portanto, se a nova norma favorecer o réu, ela voltará: retroagirá. Caso a nova lei seja mais grave, então a lei an- terior continuará vigorando até o momento da sentença, ou seja, ultratividade! Então, ela terá validade se um crime for praticado durante a sua vigência e posterior- mente uma lei mais gravosa entre em vigor! LEMBRE-SE: Para frente: Ultratividade. Para trás: Retroatividade. 3.2. LEI EXCEPCIONAL OU TEMPORÁRIA Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência. ➢ CARACTERÍSTICAS: 1) Ultra-ativaS; 2) Autorrevogáveis. ➢ Circunstâncias de prazo = Lei temporária. ➢ Circunstâncias de emergência = Lei excepcional. 3.3. TEMPO DO CRIME. Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resul- tado. TEORIAS: 1) Atividade (no momento da ação/omissão); 2) Resultado (no momento do resultado); 3) Ubiquidade (misto: atividade + resultado). ➢ TEORIA ADOTADA: ATIVIDADE. FIQUE LIGADO! O Código Penal não adota a teoria do resultado! Somente da atividade ou da ubiquidade!! 4. LEI PENAL NO ESPAÇO 4.1. LUGAR DO CRIME Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. ➢ TEORIA ADOTADA: UBIQUIDADE. (Tanto o lugar da execuçãoquanto do resultado) Relaciona-se ao conflito de jurisdições entre “Estados”, isto é, dentro do Brasil será utilizado o CPP! 4.2. TERRITORIALIDADE Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de conven- ções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional. ➢ TEORIA ADOTADA: TERRITORIALIDADE MITI- GADA OU TEMPERADA. a) IMUNIDADE DIPLOMÁTICA: os diplomatas e suas fa- mílias possuem imunidade total (material e processual), isto é, não podem ser presos (mate- rial), nem julgados (processual) no Brasil. b) IMUNIDADE CONSULAR: os cônsules possuem imu- nidade funcional (relativa), isto é, somente possuem imunidade sobre os atos praticados no desempenho do cargo e que tenham relação com a função desempenhada. ➢ TERRITÓRIO NACIONAL POR EXTENSÃO: As embarcações e aeronaves brasileiras: DE NATUREZA PÚBLICA: onde quer que se encon- trem. A SERVIÇO DO GOVERNO BRASILEIRO: onde quer que se encontrem. MERCANTES OU DE PROPRIEDADE PRIVADA: em alto- mar ou no espaço aéreo correspondente. ➢ AERONAVES OU EMBARCAÇÕES ESTRANGEIRAS: A lei penal brasileira será aplicada às embarcações e ae- ronaves estrangeiras de propriedade privada, quando estiverem no território brasileiro, em pouso ou em voo no espaço aéreo correspondente, ou em porto ou mar ter- ritorial do Brasil (às de natureza pública, aplicar-se-á a lei do país correspondente). (I) Mar territorial brasileiro: 12 milhas marítimas = 22,22 km. (II) Passagem inocente: “compreende o parar e o fun- dear, mas apenas na medida em que tais procedimen- tos constituam incidentes comuns de navegação ou sejam impostos por motivos de força ou por dificul- dade grave, ou tenham por fim prestar auxílio a pes- soas a navios ou aeronaves em perigo ou em dificul- dade grave”. CAIU EM PROVA! (CESPE - 2002) Whesley, cônsul honorário no Brasil do país BBB, exasperou-se com a secretária no consulado da- quela República por causa de um ex-namorado dela, Errado EXTRA- ATIVIDADE “Quanto menos alguém entende, mais quer discordar.” (Getúlio Vargas) 7 DIREITO PENAL CARREIRAS POLICIAIS ALFACON 212585212 tendo-a constrangido, mediante violência, a manter com ele conjunção carnal e cópula anal. Nessa situação, pelo fato de o autor dos eventos ser funcionário consular, apli- car-se-á a lei do país BBB. 4.3. EXTRATERRITORIALIDADE INCONDICIONADA Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: I - os crimes: a) contra a vida (Arts. 121-127) ou a liberdade (Arts. 146-149A) do Presidente da República; b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Dis- trito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autar- quia ou fundação instituída pelo Poder Público; c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço (crimes funcionais); d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domi- ciliado no Brasil; §1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estran- geiro (exceção ao “non bis in idem”). 4.4. EXTRATERRITORIALIDADE INCONDICIONADA E A LEI DE TORTURA Sem prejuízo dos casos previstos no Código Penal, o Art. 2º da Lei 9.455/97 estatuiu mais uma situação de extra- territorialidade incondicionada, nos seguintes termos: “O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime não te- nha sido cometido em território nacional, sendo a vítima brasileira ou encontrando-se o agente em local sob jurisdi- ção brasileira”. 4.5. EXTRATERRITORIALIDADE CONDICIONADA Deve-se preencher alguns requisitos para que o crime seja julgado pelo Brasil. Hipóteses: Art. 7º, II: “os crimes: a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; b) praticados por brasileiro; c) praticados em aeronaves ou embarcações brasilei- ras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados.” Condições cumulativas: Art. 7º, §2º: Nos casos do inciso II, a aplicação da lei bra- sileira depende do concurso das seguintes condições: a) Entrar o agente no território nacional; b) Ser o fato punível também no país em que foi praticado; c) Estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; d) Não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; e) Não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável. ➢ Princípios aplicáveis: 1. Princípio da territorialidade: aplica-se a lei penal do local do crime, não importando a nacionalidade do agente, da vítima ou do bem jurídico (Art. 5º). 2. Princípio da nacionalidade ou personalidade ativa: aplica-se a lei do país a que pertence o agente, pouco importando o local do crime, a nacionalidade da vítima ou do bem jurídico violado (ex.: crime no estran- geiro praticado por brasileiro). 3. Princípio da nacionalidade ou personalidade pas- siva: aplica-se a lei penal da nacionalidade do ofen- dido (ex.: crime no estrangeiro contra brasileiro). 4. Princípio da defesa, real ou da proteção: aplica-se a lei penal da nacionalidade do bem jurídico lesado (ou colocado em perigo), não importando o local da infra- ção penal ou a nacionalidade do sujeito ativo (ex.: crime contra a vida do Pres. da República). 5. Princípio da justiça penal universal ou da justiça cosmopolita: o agente fica sujeito à lei do país onde for encontrado, não importando a sua nacionalidade, do bem jurídico lesado ou do local do crime. Esse prin- cípio está normalmente presente nos tratados interna- cionais de cooperação de repressão a determinados delitos de alcance transnacional (ex.: genocídio). 6. Princípio da representação, do pavilhão, da subs- tituição ou da bandeira: a lei penal nacional aplica- se aos crimes cometidos em aeronaves e embarcações privadas, quando praticados no estrangeiro e aí não sejam julgados (Art. 7º, II, “c”). 5. PENA CUMPRIDA NO ESTRANGEIRO Art. 8º - A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena im- posta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas. Da análise da extraterritorialidade da lei brasileira, é pos- sível que ocorra a hipótese de o agente ser processado, jul- gado e condenado pela lei brasileira e pela estrangeira, cumprindo nesta a pena total ou parcial. Nesse caso, será aplicado o Artigo 8º do CP. A redação do artigo permite concluir que dois fatores de- vem ser considerados: a quantidade e a qualidade das pe- nas. Se da mesma qualidade (duas penas privativas de liberdade, por exemplo), da sanção aplicada no Brasil será abatida a pena cumprida no exterior; se de qualidade di- versa (privativa de liberdade e pecuniária), o julgador de- verá atenuar a pena aqui imposta considerando a pena lá cumprida. Exemplo: agente é condenado a pena de 8 (oito) anos na França por ter atentado contra a vida do nosso Presidente da República. No Brasil, é também processado e conde- nado, mas a pena imposta na sentença foi de 20 (vinte) anos. Neste caso, serão abatidos os 8 (oito) anos cumpri- dos na França, cumprindo o agente, no Brasil, somente 12 (doze) anos. 6. EFICÁCIA DA SENTENÇA PENAL ESTRANGEIRA Art. 9º - A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na espécie as mesmas consequências, pode ser homologada no Brasil para: I - obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros efeitos civis; II - sujeitá-lo a medida de segurança. Parágrafo único - A homologação depende: a) para os efeitos previstos no inciso I, de pedido da parte interessada; b) para os outros efeitos, da existência de tratado de extra- dição com o país de cuja autoridade judiciária emanou a RAFAEL ANDRADE DE MEDEIROS 8 ALFACON 23/01/2019 DIREITO PENAL PARTE GERAL sentença, ou, na falta de tratado, de requisição do Ministro da Justiça. Em regra, não há necessidadede homologação da sen- tença estrangeira para se produzir efeitos no Brasil, con- tudo o Art. 9º traz duas exceções. A sentença judicial, emanada de Poder Constituído do Es- tado, é ato representativo de sua soberania. Para uma efi- caz valoração de sua autoridade, contudo, deve ser execu- tada. E essa execução deveria ser feita sempre no país em que foi proferida. Assim, é definido por Cléber Masson. Contudo, para enfrentar com maior eficiência, no âmbito de seus limites, a prática de infrações penais, o Estado se vale, excepcionalmente, de atos de soberania de outras nações, aos quais atribui efeitos certos e determinados. Para atingir essa finalidade, homologa a sentença penal estrangeira, mediante o procedimento constitucional- mente previsto, a fim de constituí-la em título executivo com validade em território nacional. Exige-se, contudo, que a decisão judicial tenha transitado em julgado. SÚMULA 420, STF: “Não se homologa sentença proferida no estrangeiro sem prova do trânsito em julgado”. Como se nota, é imprescindível que a aplicação da lei bra- sileira produza na espécie as mesmas consequências. Algumas características: 1) A reparação do dano, as restituições e outros efeitos de natureza civil são institutos do Direito Privado. 2) A medida de segurança pertence ao Direito Penal. 3) A homologação da sentença penal estrangeira com- pete ao STJ. No que tange à obrigação de reparação do dano, a res- tituições e a outros efeitos civis, haverá sempre necessi- dade de requerimento da parte interessada. Já quanto à medida de segurança, para a sua homolo- gação é necessário que: i) haja tratado de extradição com o país de cuja auto- ridade judiciária emanou a decisão; ii) ou, na falta de tratado, de requisição do Ministro da Justiça. DEPENDE: a) Reparação do dano: Pedido da parte interessada. b) Medida de segurança: Tratado de extradição (PGR); Falta de tratado (Min. Justiça). CAIU EM PROVA! (CESPE - 2013) A homologação de sentença estrangeira para obrigar condenado à reparação de dano requer a existência de tratado de extradição com o país de cuja au- toridade judiciária emanou a sentença. CAIU EM PROVA! (CESPE - 2016) Sentença penal estrangeira pode ter efi- cácia no Brasil, possibilitando, inclusive, a reparação civil ex delicto. A sua eficácia depende de homologação pelo STJ, desde que haja comprovação da ocorrência do seu trânsito em julgado no país de origem. 7. CONTAGEM DO PRAZO Art. 10 - O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calendário co- mum. Art. 11 - Desprezam-se, nas penas privativas de liberdade e nas restritivas de direitos, as frações de dia, e, na pena de multa, as frações de cruzeiro. CAIU EM PROVA! (CESPE - 2006) O dia do começo inclui-se na contagem do prazo penal e tem relevância para as hipóteses de cálculo de duração da pena, do livramento condicional e da pres- crição. Em todos esses casos, a contagem dos dias, meses e anos é feita pelo calendário gregoriano. CAIU EM PROVA! (FCC - 2015) Para fins da contagem do prazo no Código Penal, o dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se as horas, os dias, os meses e os anos. 8. CONFLITO APARENTE DE NORMAS PENAIS Fala-se em concurso aparente de normas quando, para determinado fato, aparentemente, existem duas ou mais normas que poderão sobre ele incidir. Porém, as denomi- nações são inadequadas, pois não há conflito ou concurso de disposições penais, mas exclusividade de aplicação de uma norma a um fato, ficando excluída outra em que tam- bém se enquadra. O conflito é aparente, pois desaparece com a correta in- terpretação da lei penal, que se dá com a utilização de princípios adequados. São quatro os princípios que resol- vem os conflitos aparentes de normas: 1. ESPECIALIDADE, 2. SUBSIDIARIEDADE, 3. CONSUNÇÃO, 4. ALTERNATIVIDADE. 8.1. ESPECIALIDADE Art. 12 - As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos incriminados por lei especial, se esta não dispuser de modo diverso. O princípio da especialidade está previsto no Artigo 12 do Código Penal e determina que se afaste a lei geral para aplicação da lei especial. Entende-se como lei especial aquela que contém todos os elementos da norma geral, acrescida de outros que a tor- nam distinta (chamados de especializantes). O tipo espe- cial preenche integralmente o tipo geral, com a adição de elementos particulares. Como exemplo, os crimes de homicídio e infanticídio. Mesmo que ocorra a morte de uma pessoa, será aplicado o Art. 123, pois existem determinadas elementares conti- das no seu tipo que fazem o fato se amoldar a ele e não ao Art. 121. Se uma parturiente, ao dar à luz um filho, sem qualquer perturbação psíquica originária de sua especial condição, desejar, pura e simplesmente, causar-lhe a morte, responderá pelo crime de homicídio. Agora, se durante o parto ou logo depois dele, sob a influência do estado puerperal, causar a morte do próprio filho, já não mais responderá pela infração a título de homicídio, mas, sim, por infanticídio, uma vez que as elementares contidas nesta última figura delitiva a tornam especial em relação ao homicídio. Errado Certo Certo Errado “Quanto menos alguém entende, mais quer discordar.” (Getúlio Vargas) 9 DIREITO PENAL CARREIRAS POLICIAIS ALFACON 212585212 Consequência: a lei especial prevalece sobre a geral, a qual deixa de incidir sobre aquela hipótese. 8.2. SUBSIDIARIEDADE Pelo princípio da subsidiariedade, a norma dita subsidiária é considerada, na expressão de Hungria, como um “sol- dado de reserva”, isto é, na ausência ou impossibilidade de aplicação da norma principal mais grave, aplica-se a norma subsidiária menos grave. A subsidiariedade pode ser: a) Expressa ou explícita; b) Tácita ou implícita. ➔ É expressa quando a lei prevê a subsidiariedade expli- citamente, anunciando a não aplicação da norma menos grave quando presente a mais grave. Exemplo: Art. 307, Falsa identidade, parte final do preceito secundário: “Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa, se o fato não constitui elemento de crime mais grave”. ➔ É tácita quando um delito de menor gravidade cede di- ante da presença de um delito de maior gravidade, inte- grando aquele a descrição típica deste. Exemplo: Constran- gimento ilegal (Art. 146, CP), subsidiário diante do estupro (Art. 213, CP). “A diferença que existe entre especialidade e subsidiarie- dade é que, nesta, ao contrário do que ocorre naquela, os fatos previstos em uma e outra norma não estão em rela- ção de espécie a gênero, e se a pena do tipo principal (sem- pre mais grave que a do tipo subsidiário) é excluída por qualquer causa, a pena do tipo subsidiário pode apresen- tar-se como ‘soldado de reserva’ e aplicar-se pelo resi- duum” (Nélson Hungria). Rogério Greco explica que, na verdade, não possui utili- dade o princípio da subsidiariedade, haja vista que pro- blemas dessa ordem podem perfeitamente ser resolvidos pelo princípio da especialidade. Se uma norma for espe- cial em relação a outra, como vimos, ela terá aplicação ao caso concreto. Se a norma dita subsidiária foi aplicada, é sinal de que nenhuma outra mais gravosa poderia ter apli- cação. Isso não deixa de ser especialidade. 8.3. CONSUNÇÃO Segundo Fernando Capez, consunção é o princípio segundo o qual um fato mais amplo e mais grave consome, isto é, absorve, outros fatos menos amplos e graves, que funcio- nam como fase normal de preparação ou execução ou como mero exaurimento. Costuma-se dizer: o peixão (fato mais abrangente) engole os peixinhos (fatos que integram aquele como sua parte). Também conhecido como princípio da absorção, verifica- se a continência de tipos, ou seja, o crime previsto por uma norma (consumida) não passa de uma fase de reali- zação do crime previsto por outra (consuntiva) ou é uma forma normal de transição para o último (crime progres- sivo). Os fatos aqui nãose acham em relação de espécie e gê- nero, mas de parte a todo, de meio a fim. Rogério Sanches fala em princípio da consunção nas seguintes hipóteses: a) Crime progressivo: se dá quando o agente para al- cançar um resultado/crime mais grave passa, neces- sariamente, por um crime menos grave. Por exemplo, no homicídio, o agente tem que passar pela lesão cor- poral, um mero crime de passagem para matar al- guém. b) Progressão criminosa: o agente substitui o seu dolo, dando causa a resultado mais grave. O agente deseja praticar um crime menor e o consuma. Depois, quer praticar um crime maior e também o concretiza, aten- tando contra o mesmo bem jurídico. Exemplo de progressão criminosa é o caso do agente que inicial- mente pretende somente causar lesões na vítima, po- rém, após consumar os ferimentos, decide ceifar a vida do ferido, causando-lhe a morte. Somente inci- dirá a norma referente ao crime de homicídio, Artigo 121 do Código Penal, ficando absorvido o delito de le- sões corporais. c) “Antefactum” impunível: são fatos anteriores que estão na linha de desdobramento da ofensa mais grave. É o caso da violação de domicílio para praticar o furto. Note que o delito antecedente (antefato impu- nível) não é passagem necessária para o crime fim (distinguindo-se do crime progressivo). Foi meio para aquele furto. Outros furtos ocorrem sem haver violação de domicílio. Também não há substituição do dolo (diferente da progressão criminosa). d) “Postfactum” impunível: pode ser considerado um exaurimento do crime principal praticado pelo agente e, portanto, por ele não pode ser punido. O sujeito que furta um automóvel e depois o danifica não praticará dois crimes (furto + dano), mas somente o crime de furto, sendo a destruição fato posterior impunível. Crime progressivo, portanto, não se confunde com pro- gressão criminosa: no crime progressivo o agente, desde o princípio, já quer o crime mais grave. Na progres- são criminosa, primeiro o sujeito quer o crime menos grave (e consuma) e depois decide executar outro, mais grave. Em ambos o réu responde por um só crime. 8.4. ALTERNATIVIDADE Ocorre quando a norma descreve várias formas de reali- zação da figura típica, em que a realização de uma ou de todas configura um único crime. São os chamados tipos mistos alternativos, os quais descrevem crimes de ação múltipla ou de conteúdo variado. Exemplo: o Art. 33, caput, da Lei nº 11.343/06 (Lei de Dro- gas), que descreve dezoito formas de prática do tráfico ilí- cito de drogas, mas tanto a realização de uma quanto a de várias modalidades configurará sempre um único crime. Nesses casos, não se pode falar em concurso ou conflito aparente de normas, uma vez que as condutas descritas pelos vários núcleos se encontram num só preceito pri- mário. Art. 33, Lei nº 11.343/06: Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer con- sigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar. RAFAEL ANDRADE DE MEDEIROS 10 ALFACON 23/01/2019 DIREITO PENAL PARTE GERAL 9. INFRAÇÃO PENAL: ESPÉCIES ➢ INFRAÇÃO PENAL: é gênero que se divide em duas espé- cies: crime e contravenção. SISTEMA DUALISTA, DICOTÔMICO OU BIPARTIDO. Não há diferença conceitual, apenas valorativa. Não há diferença ontológica, apenas axiológica. CAIU EM PROVA! (CESPE - 2014) Na legislação pátria, adotou-se o critério bipartido na definição das infrações penais, ou seja, estas se subdividem em contravenções penais e crimes ou deli- tos, inexistindo diferença conceitual entre as duas últimas espécies. CAIU EM PROVA! (CESPE - 1999) A afirmação de que se deve considerar crime a infração penal a que a lei comine pena de reclusão ou de detenção, quer isolada, quer alternativa ou cumula- tivamente com a pena de multa; e contravenção, a infra- ção penal a que a lei comine, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulati- vamente, estabelece um critério de diferenciação mera- mente quantitativa entre essas infrações. 9.1. INFRAÇÃO PENAL: SUJEITO ATIVO E SUJEITO PASSIVO. a) SUJEITO ATIVO DO CRIME: quem comete o crime, em suma, somente há crime por uma conduta humana, ou seja, somente as pessoas capazes (imputáveis) po- dem cometer crimes, b) SUJEITO PASSIVO DO CRIME: a vítima, pode ser qualquer pessoa física ou jurídica, ou mesmo a coletividade (a sociedade). Pessoa jurídica pode ser sujeito ativo de um crime? • Sim, nos crimes ambientais! A obrigatoriedade da dupla imputação da pessoa jurídica é tema descartado pelos Tribunais Superiores. O STJ decidiu se curvar à posição fixada pelo STF sobre o tema. A mu- dança jurisprudencial foi noticiada no Informativo 566 e no canal comunicativo do site do STJ em 12/04/2016: Para STJ, dupla imputação em crimes ambientais não é obri- gatória. Empresas, associações e organizações que come- terem crimes ambientais podem ser rés em processo penal, sem a necessidade de dupla imputação (empresa e diretor), segundo entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STJ). 9.2. REQUISITOS BÁSICOS DA INFRAÇÃO PENAL Para que um indivíduo tenha a real capacidade de come- ter uma infração penal é importante entender alguns con- ceitos básicos: (i) Conduta humana: é necessária uma conduta hu- mana, pois apenas seres humanos possuem a ca- pacidade de agredir, seres irracionais (animais) somente atacam. Contudo, caso um animal seja utilizado (como meio) para atacar uma pessoa, ocorrerá um crime. Exemplo: Homem que atiça seu cão contra seu inimigo. (ii) Consciência da ilicitude: o ser humano deve ter consciência daquilo que está fazendo, por esse motivo quem comete o fato estando em sonam- bulismo ou hipnose, não poderá responder pelo fato. (iii) Voluntariedade da conduta: se o comporta- mento praticado, ainda que previsto em um tipo penal, não for precedido da vontade do seu agente, não haverá conduta, e, consequente- mente, desfigurado estará o fato típico (substrato do crime), faltando seu primeiro elemento. Por esse motivo, os casos de coação física irresistí- vel e coação moral irresistível não são punidos pelo ordenamento jurídico penal. (iv) A conduta deve ser propositada ou descuidada. Esses conceitos serão aprofundados no Artigo 18 do Código Penal, cujo conteúdo trata especifica- mente do dolo e da culpa. (v) Todo crime gera um resultado, ou seja, da con- duta pode advir dois resultados: jurídico e natu- ralístico. 9.3. INFRAÇÃO PENAL: ELEMENTOS CONCEITO DE CRIME: ANALÍTICO, FINALISTA, TRIPARTIDO 10. FATO TÍPICO E SEUS ELEMENTOS 10.1. NEXO CAUSAL (RELAÇÃO DE CAUSALIDADE) Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se Certo Certo “Quanto menos alguém entende, mais quer discordar.” (Getúlio Vargas) 11 DIREITO PENAL CARREIRAS POLICIAIS ALFACON 212585212 causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. ➢ TEORIA ADOTADA (REGRA): TEORIA DA EQUIVA- LÊNCIA DOS ANTECEDENTES CAUSAIS (OU CONDI- TIO SINE QUA NON). 10.2. SUPERVENIÊNCIA DE CAUSA RELATIVA- MENTE INDEPENDENTE Art. 13, §1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produ- ziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou. ➢ TEORIA ADOTADA (EXCEÇÃO): TEORIA DA CAU- SALIDADE ADEQUADA. Exemplos: (I) Motorista imprudente de ambulância (Quebra N.C.); (II) Médico imperito (Quebra N.C.); (III) Médico perito (Não quebra N.C.); (IV) Infecção hospitalar (Não quebra N.C.); (V) Caso fortuito ou força maior (Quebra N.C.). 10.3. OMISSÃO PENALMENTE RELEVANTE ➔ CRIMES OMISSIVOS IMPRÓPRIOS, IMPUROS, ESPÚRIOS OU COMISSIVOS POR OMISSÃO Art. 13, §2º - A omissão é penalmente relevante quando oomitente devia e podia agir para evitar o resultado. O de- ver de agir incumbe a quem: a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigi- lância; b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado (agente garantidor); c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. ➢ TEORIA ADOTADA: TEORIA NORMATIVA. Pois, não se pune qualquer pessoa pelo simples fato de não fazer (omitir-se); mas sim, aqueles que a norma determina (por isso normativo). “1. Para que o agente seja condenado pela prática de crime culposo, são necessários, dentre outros requisitos: a inob- servância do dever de cuidado objetivo (negligência, impru- dência ou imperícia) e o nexo de causalidade. 2. No caso, a denúncia imputa ao paciente a prática de crime omissivo culposo, na forma imprópria. A teor do §2º do art. 13 do Código Penal, somente poderá ser autor do delito quem se encontrar dentro de um determinado círculo normativo, ou seja, em posição de garantidor. 3. A hipótese não trata, evi- dentemente, de uma autêntica relação causal, já que a omissão, sendo um não-agir, nada poderia causar, no sen- tido naturalístico da expressão. Portanto, a relação causal exigida para a configuração do fato típico em questão é de natureza normativa.” (STJ, HC 68.871/PR, Min. Rel. Maria Thereza de Assis Moura, em 06/08/2009). Quando estamos falando de relação de causalidade (Art. 13, CP), questão recorrente é a diferença entre crime omissivo próprio e omissivo impróprio (Art. 13, §2º, CP). Lembre-se que o estudo do nexo causal é pertinente apenas aos crimes materiais. Portanto, os crimes omis- sivos impróprios devem existir um resultado natura- lístico no tipo penal, ademais cabem a tentativa e podem ser dolosos ou culposos. Já os crimes omissivos próprios são crimes de mera conduta (não há resultado natura- lístico, nem cabe a tentativa), ademais são sempre dolo- sos, inexiste a relação de causalidade. Os crimes omissivos impróprios podem ser chamados também de impuros ou crimes de participação por omissão. LEMBRE-SE: A REGRA ADOTADA PELO CÓDIGO PENAL PARA DE- FINIÇÃO DOS CRIMES OMISSIVOS IMPRÓPRIOS (OMISSÃO PENAL- MENTE RELEVANTE) É A TEORIA NORMATIVA. 10.4. CRIME DOLOSO Art. 18, I - Quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo. (I) Dolo direto (primeiro e segundo grau): TEORIA DA VON- TADE. (II) Dolo indireto (alternativo e eventual): TEORIA DO AS- SENTIMENTO. (III) Dolo geral (erro sucessivo): aberratio causae. ➢ A PUNIÇÃO POR CONDUTA DOLOSA É A REGRA! Enquanto a punição por conduta culposa constitui exce- ção, que somente é admitida quando a lei textualmente a prevê (Art. 18, Par. único). 10.5. CRIME CULPOSO Art. 18, II - Quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia. 10.5.1. REQUISITOS DO CRIME CULPOSO 10.5.2. ESPÉCIES DE CRIME CULPOSO (I) CULPA INCONSCIENTE OU PRÓPRIA: É a culpa comum, o resultado não é previsto pelo agente, embora previsível. A culpa sem previsão, a culpa por ex- celência, a culpa propriamente dita, que se manifesta na imprudência, negligência ou imperícia. Ressalta-se que a previsibilidade objetiva é requisito necessário para os crimes culposos! (II) CULPA CONSCIENTE: O agente é capaz de prever o resultado, e realmente o prevê, porém, por possuir peculiar habilidade, espera sin- ceramente que ele não ocorra: ele confia que sua ação con- duzirá tão somente ao resultado que pretende, o que só não ocorre por erro no cálculo ou erro na execução (ex.: atirador de facas). (III) CULPA IMPRÓPRIA: Também chamada de culpa por assimilação, por exten- são ou por equiparação, é aquela em que o agente, no 1 • Conduta voluntária; 2 • Violação do dever objetivo de cuidado; 3 •Resultado naturalístico involuntário; 4 • Nexo causal; 5 • Tipicidade; 6 • Previsibilidade objetiva; 7 • Ausência de previsão RAFAEL ANDRADE DE MEDEIROS 12 ALFACON 23/01/2019 DIREITO PENAL PARTE GERAL processo psicológico, entende mal a situação de fato, por erro evitável, supondo que, se existisse o fato real, a sua ação é legítima. É a famosa descriminante putativa: Art. 20, §1º: “É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo.” 10.6. AGRAVAÇÃO PELO RESULTADO Art. 19 - Pelo resultado que agrava especialmente a pena, só responde o agente que o houver causado ao menos cul- posamente. 1. DOLO + DOLO 2. DOLO + CULPA ➔ (PRETERDOLOSO) 3. CULPA + DOLO 4. CULPA + CULPA FIQUE LIGADO! ➔ O crime preterdoloso deve preencher todos os re- quisitos dos crimes culposos, haja vista seu conse- quente ser um crime culposo: conduta voluntária, re- sultado naturalístico involuntário, previsibilidade ob- jetiva, ausência de previsão, nexo causal, violação do dever objetivo de cuidado, tipicidade. 10.7. CRIME CONSUMADO Art. 14, I - Quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal. ➢ Para que o crime seja consumado, é necessário que ele percorra todas as fases do iter criminis, quais se- jam: cogitação, preparação, execução e consuma- ção. O agente, com sua conduta, “caminha” por todas as fases até atingir o resultado. ➢ ITER CRIMINIS: 10.8. CRIME TENTADO Art. 14, II - Quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. a) PENA DA TENTATIVA: Pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, diminu- ída de um a dois terços (Art. 14, Par. único). b) NATUREZA JURÍDICA: Antecipação temporal da fi- gura típica (adequação típica de subordinação medi- ata). 10.9. DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E ARREPENDI- MENTO EFICAZ Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de pros- seguir na execução ou impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados. Requisitos: ➢ Ato voluntário (não precisa ser espontâneo); ➢ Não pode ocorrer a consumação; ➢ Circunstâncias inerentes ao agente (se alheias, é tentativa “conatus”); (A) Ação negativa: desistência voluntária. (B) Ação positiva: arrependimento eficaz. ➔ Também chamado de tentativa qualificada ou abandonada. 10.10. ARREPENDIMENTO POSTERIOR Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ame- aça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços. 1. Sem violência ou grave ameaça à pessoa; 2. Até o recebimento da denúncia/queixa; 3. Reparação integral (se estende ao concurso de agentes). 10.11. CRIME IMPOSSÍVEL Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia ab- soluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime. ➢ TEORIA ADOTADA: OBJETIVA TEMPERADA. 10.12. TIPOS DE TENTATIVA 1. TENTATIVA BRANCA OU INCRUENTA: ➢ Não acerta o alvo. 2. TENTATIVA VERMELHA OU CRUENTA: ➢ Atinge o alvo. 3. TENTATIVA PERFEITA, ACABADA OU CRIME FALHO: ➢ Esgota todos os meios execu- tórios a sua disposição. 4. TENTATIVA IMPERFEITA OU INACA- BADA: ➢ Não utiliza todos os meios exe- cutórios a sua disposição. 5. TENTATIVA ABANDONADA OU QUALI- FICADA: ➢ Desistência voluntária; ➢ Arrependimento eficaz. 6. TENTATIVA INIDÔNEA, INADE- QUADA, IMPOSSÍVEL OU QUASE CRIME: ➢ Crime impossível. 10.13. INADMISSIBILIDADE DA TENTATIVA 11. CONCURSO DE CRIMES 11.1. CONCURSO MATERIAL (OU REAL) Previsão no Código Penal: Art. 69. a) Mais de uma ação ou omissão; b) Pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não; c) Aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade em que haja incorrido (cúmulo material das penas, somam-se as penas). 11.2. CONCURSO FORMAL PRÓPRIO (PERFEITO) Previsão no Código Penal: Art. 70, primeira parte. a) Uma ação ou omissão; P • Preterdolosos; U • Unissubsistentes; C • Contravenções Penais;C • Culposos; A • Atentados; C • Condicionados; H • Habituais; O • Omissivos próprios. PUCCA CHO “Quanto menos alguém entende, mais quer discordar.” (Getúlio Vargas) 13 DIREITO PENAL CARREIRAS POLICIAIS ALFACON 212585212 b) Pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não; c) O agente não queria o segundo crime; d) Aplicar-se-á a pena mais grave das cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qual- quer caso, de 1/6 até metade (exasperação da pena). Se a regra do cúmulo material for mais benéfica ao agente, então será utilizada ela e não a exasperação. 11.3. CONCURSO FORMAL IMPRÓPRIO (IMPER- FEITO) Previsão no Código Penal: Art. 70, segunda parte. a) Uma ação ou omissão; b) Pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não; c) O agente QUERIA o segundo crime ou assumiu o risco; d) Crimes concorrentes resultam de desígnios autôno- mos, a mesma regra do concurso material (cúmulo material das penas, somam-se as penas). 11.4. TABELA DE CONCURSOS DE CRIMES Concurso Material Concurso Formal Próprio Concurso Formal Impróprio Art. 69, CP. Art. 70, 1ª parte, CP. Art. 70, 2ª parte, CP. Mais de uma ação ou omissão. Uma ação ou omis- são. Uma ação ou omis- são. Mais de um resultado. Mais de um resultado. Mais de um resultado. Resultados queridos pelo agente. Segundo resultado não era querido pelo agente. Resultados queridos pelo agente. Cúmulo material de penas (somam-se todas). Exasperação (soma-se 1/6 até metade do crime mais grave). Se o cúmulo material for mais benéfico, en- tão será utilizado ele. Cúmulo material de penas (somam-se todas). Homogêneo: crimes da mesma espécie. Heterogêneo: crimes de espécies diferentes. 11.5. MULTAS NO CONCURSO DE CRIMES Art. 72 - No concurso de crimes, as penas de multa são apli- cadas distinta e integralmente. 11.6. LIMITE DAS PENAS Art. 75 - O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a 30 (trinta) anos. 11.7. CONCURSO DE INFRAÇÕES Art. 76 - No concurso de infrações, executar-se-á primeira- mente a pena mais grave. 12. ILICITUDE E CAUSAS DE EXCLUSÃO A ilicitude é sinônimo de antijuridicidade, é o segundo substrato do conceito analítico de crime. A antijuridici- dade é uma conduta contrária a lei e que não há previsão justificante (permissiva). As causas excludentes de ilicitude (descriminantes ou justificantes) estão previstas do Art. 23 ao 25 do Código Penal. Art. 23 – Não há crime quando o agente pratica o fato: (I) Em Estado de Necessidade; (II) Em Legítima Defesa; (III) Em Estrito Cumprimento do Dever Legal; (IV) No Exercício Regular de Direito. 12.1. LEGÍTIMA DEFESA (ART. 25) ➢ REQUISITOS: a) Repelir injusta agressão (humana); b) Agressão atual ou iminente; c) Uso moderado dos meios necessários; d) Defender direito seu ou de outrem; e) Conhecimento da situação de fato justificante (ciente do injusto). 12.1.1. TIPOS DE LEGÍTIMA DEFESA 1) Legítima defesa recíproca: inadmissível, salvo se ocorrer uma legítima defesa putativa. 2) Legítima defesa sucessiva: somente contra a legí- tima defesa em excesso. 3) Legítima defesa real: exclui a ilicitude. 4) Legítima defesa putativa: imaginária, o agente é isento de pena, mas mantêm os efeitos civis (escusá- vel). Contudo, se inescusável (culpa imprópria), o agente responderá por crime culposo. 5) Legítima defesa própria: defende direito próprio. 6) Legítima defesa de terceiro: defende direito alheio. 7) Legítima defesa subjetiva: excesso acidental (erro do tipo escusável). 8) Legítima defesa com aberratio ictus: afasta a ilici- tude, porém mantêm os efeitos civis. 9) Legítima defesa contra multidão: admissível. 10) Legítima defesa contra pessoa jurídica: admissível. 11) Legítima defesa nas relações familiares: admissí- vel. 12) Legítima defesa contra estado de necessidade: im- possibilidade. 13) Legítima defesa contra terceiro em uma exclu- dente de culpabilidade: admissível (ex.: coação mo- ral irresistível). 14) Legítima defesa presumida: impossibilidade. 15) Legítima defesa da honra: divergência doutrinária, prevalece a impossibilidade. 16) Desafio e legítima defesa: inadmissibilidade (ex.: duelo). 12.2. ESTADO DE NECESSIDADE (ART. 24) ➢ REQUISITOS: a) Salvar de perigo atual; b) Situação não provocada por sua vontade; c) Salvar direito seu ou de outrem; d) Ausência do dever legal de enfrentar o perigo (ex. bom- beiro); e) Inevitabilidade do comportamento lesivo; f) Proporcionalidade; g) Conhecimento da situação de fato justificante. 12.2.1. TIPOS DE ESTADO DE NECESSIDADE 1) Estado de necessidade defensivo: contra quem produziu o perigo, lesionando um bem de sua titula- ridade (não há obrigação da reparação dos danos ci- vis). RAFAEL ANDRADE DE MEDEIROS 14 ALFACON 23/01/2019 DIREITO PENAL PARTE GERAL 2) Estado de necessidade agressivo: contra outra coisa, diversa daquela que originou o perigo, ou con- tra terceiro inocente (mantêm os efeitos civis, poderá entrar com ação regressiva contra o causador do pe- rigo). 3) Estado de necessidade justificante: o bem sacrifi- cado é de valor igual ou inferior ao preservado. Exclui a ilicitude. 4) Estado de necessidade exculpante: o bem sacrifi- cado é de valor superior ao preservado. A ilicitude é mantida. Poderá afastar a culpabilidade, em face da inexigibilidade de conduta diversa (supralegal) → Art. 24, §2º. 5) Estado de necessidade próprio: salva direito pró- prio. 6) Estado de necessidade de terceiro: salva direito alheio. 7) Estado de necessidade real: exclui a ilicitude. 8) Estado de necessidade putativo: imaginária, o agente é isento de pena, mas mantêm os efeitos civis (escusável). Porém, se vencível (culpa imprópria), o agente responderá por crime culposo. 9) Estado de necessidade recíproco: é possível. 10) Estado de necessidade em crimes habituais e per- manentes: não é possível (ex.: medicina ilegal – habi- tual – e/ou mãe que submete o filho ao cárcere pri- vado – permanente – para impedi-lo de usar drogas). 11) Furto famélico: é estado de necessidade, exclui a ili- citude. 12) Estado de necessidade com aberratio ictus: afasta a ilicitude, porém se contra terceiro inocente, man- têm os efeitos civis. 13) Estado de necessidade é comunicável: sim, pois o estado de necessidade exclui a ilicitude, de acordo com a teoria adotada pelo CP para a participação, a acessoriedade limitada, deve-se o autor do crime co- meter uma conduta típica e ilícita. CASOS PREVISTOS NA PARTE ESPECIAL: 14) Aborto terapêutico ou necessário: Art. 128, I, pra- ticado por médico quando não havia outro meio para salvar a vida da gestante. 15) Intervenção médica ou cirúrgica: Art. 146, §3º, I, sem o consentimento do paciente ou de seu represen- tante legal, se justificada por iminente perigo de vida (não configura constrangimento ilegal). 16) Flagrante delito: Art. 150, §3º, II, a qualquer hora do dia ou da noite, quando algum crime está sendo ali praticado ou na iminência de o ser (não configura vi- olação de domicílio). 17) Desastre ou para prestar socorro: Art. 5º, XI, CF/88, não incorrerá no crime de violação de domicí- lio. 12.3. ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL Pressupõe o funcionário público ou agente público que age por ordem da lei, não se excluindo o particular que exerça função pública (jurado, perito, mesário, etc.). O cumprimento deve ser estritamente dentro da lei, isto é, fora dos limites traçados pela lei configurará o excesso (abuso) de poder ou o abuso de autoridade (crime), o pró- prio excesso punível, previsto no Código Penal (Art. 23, Par. único). Aquele que deixa de cumprir sua obrigação, quando tinha o dever e podia agir para evitar o resultado, responderá pelo crime ocorrido na modalidade “comissão por omis- são” (omissão imprópria), previsto no Art. 14, §2º, “a”. 12.4. EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO Ao cidadãocomum, quando uma norma regulamenta certa atividade e o autoriza à conduta típica. Exemplos: a) Intervenção médico-cirúrgica; b) Violência desportiva; c) Flagrante facultativo (CPP, Art. 301). Ofendículos: São aparatos para defesa do patrimônio de forma preordenada (ex.: cacos de vidro no muro, pontas de lança, cerca elétrica, etc.). Devem ser sempre visíveis e inacessíveis a terceiros inocentes. Colocação: Exercício Regular de Um Direito. Acionamento: Legítima Defesa Preordenada. 12.5. CONSENTIMENTO DO OFENDIDO (SUPRALE- GAL) O consentimento do ofendido é uma causa supralegal de exclusão da ilicitude (antijuridicidade). ➢ REQUISITOS: a) O consentimento deve ser expresso (oral ou escrito); b) O consentimento deve ser livre (sem coação, fraude, etc.); c) O consentimento deve ser prévio; d) O bem deve ser disponível (a vida é indisponível); e) O bem deve ser próprio; f) O ofendido deve ser plenamente capaz (imputável). 12.6. EXCESSO PUNÍVEL Art. 24, Parágrafo único - O agente, em qualquer das hi- póteses deste artigo, responderá pelo excesso doloso ou cul- poso. (I) Excesso intensivo: excesso na proporcionalidade, ocorre durante a excludente, o agente ultrapassa os limites impostos, ou seja, proporcionalidade (ex.: contra um soco, revida com um tiro). (II) Excesso extensivo: excesso na duração, aqui a agres- são já se cessou, porém o agente continua a sua rea- ção diante o fato, na verdade, é um crime autônomo (ex.: continua a bater no contendor desacordado e gravemente ferido). 13. PUNIBILIDADE A punibilidade é a possibilidade jurídica de aplicação da sanção penal. Não faz parte do substrato do crime, porém para que haja a atuação estatal no sentido de punir o agente, deve coexistir a punibilidade, haja vista o Estado ser o detentor exclusivo do direito de punir, o jus puniendi. Dessa forma, crime é o fato típico (formal e material), ilí- cito e culpável, sendo sua consequência jurídica: a puni- bilidade. Art. 31 - O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado. “Quanto menos alguém entende, mais quer discordar.” (Getúlio Vargas) 15 DIREITO PENAL CARREIRAS POLICIAIS ALFACON 212585212 a) Crimes de atentado: pune-se a tentativa igualmente à forma consumada (ex.: art. 352: evadir-se ou tentar evadir-se o preso mediante violência contra a pessoa); b) Crimes-obstáculo: punem-se os atos preparatórios (ex.: associação criminosa (art. 288), petrechos p/ fal- sificação de moeda (art. 291), etc.). 14. CULPABILIDADE E SEUS ELEMENTOS A culpabilidade é o terceiro substrato do crime, a qual consiste no juízo de reprovação extraído da análise so- bre o sujeito ativo se situou e posicionou diante do episó- dio como o qual se envolveu (fato típico e ilícito). 14.1. SISTEMA DE CONDENAÇÃO UNITÁRIO OU VI- CARIANTE Ou se aplica pena, ou se aplica medida de segurança, nunca os dois. Pode, contudo, haver a substituição de pena por medida de segurança, mas jamais a cumulatividade. O juiz aplicará medida de segurança aos inimpu- táveis (+18 anos): Art. 97 - Se o agente for inimpu- tável, o juiz determinará sua internação (art. 26). 14.2. IMPUTABILIDADE Capacidade de imputação. Considera-se imputável aquele que possui 18 anos completos e que seja inteira- mente capaz de entender o caráter ilícito do fato. ➢ CRITÉRIOS ADOTADOS: (I) Psicológico: ao tempo da conduta, se o agente tinha capacidade de entendimento e autodeterminação; (II) Biológico: ao desenvolvimento do agente, se é do- ente mental ou menor de idade; (III) Biopsicológico: considera-se, além do desenvolvi- mento do agente, a capacidade de entendimento ao tempo do crime. (REGRA ADOTADA PELO CÓDIGO PENAL). ➢ EFEITOS: a) Inimputáveis: isentos de pena (há medida de segu- rança). b) Semi-imputáveis: redução de pena. 14.2.1. INIMPUTABILIDADE (CARÁTER BIOPSICOLÓ- GICO) a) Agente doente mental e inteiramente incapaz de entender ilicitude do ato (CARÁTER BIOPSICO- LÓGICO): Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. b) Redução de pena (semi-imputáveis): Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou re- tardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse en- tendimento. 14.2.2. INIMPUTABILIDADE (CARÁTER BIOLÓGICO) a) Menores de 18 anos (CRITÉRIO BIOLÓGICO): Art. 27 - Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial. Presunção absoluta de que o menor de 18 anos pos- sui desenvolvimento mental incompleto. Cometem atos infracionais, sujeitos à Lei nº 8.069/90 (Esta- tuto da Criança e do Adolescente). 14.2.3. EMOÇÃO, PAIXÃO E EMBRIAGUEZ Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal: I - A emoção ou a paixão; II - A embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos. Em decorrência da actio libera in causa (ação livre na causa), o agente embriagado (voluntária ou culposa- mente) é punido normalmente, mesmo sem consciência. Aqui o CP pune-o objetivamente, é uma exceção à regra da subjetividade. 14.2.4. ESPÉCIES DE EMBRIAGUEZ 1. COMPLETA (total / plena) 3. NÃO ACIDENTAL (voluntária / culposa) 5. PREORDENADA (dolosa) 2. INCOMPLETA (parcial / semiplena) 4. ACIDENTAL (caso fortuito / força maior) 6. PATOLÓGICA (doentia) 14.2.5. INIMPUTABILIDADE (CARÁTER PSICOLÓ- GICO) a) Embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou força maior (CRITÉRIO PSICOLÓGICO): Art. 28, §1º - É isento de pena o agente que, por embria- guez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteira- mente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. b) Redução de pena: Art. 28, §2º - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, por embriaguez, proveniente de caso fortuito ou força maior, não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendi- mento. c) Embriaguez patológica: é considerada uma anomalia psíquica e, conforme o caso concreto, isentará o agente de pena ou causará a sua dimi- nuição de pena, nos moldes do Art. 26. 14.3. POTENCIAL CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE É o segundo elemento da culpabilidade, representa o co- nhecimento do agente sobre as leis penais. Com a evolu- ção do estudo da culpabilidade, adotando-se o conceito RAFAEL ANDRADE DE MEDEIROS 16 ALFACON 23/01/2019 DIREITO PENAL PARTE GERAL finalístico da ação, atualmente basta o “potencial” co- nhecimento da ilicitude, sem necessidade de conheci- mentos técnicos-jurídicos. Com o advindo da teoria finalista da ação, o dolo saiu da culpabilidade, isto é, antigamente o dolo era normativo. Neste conceito antigo, para que fosse preenchido o dolo, era necessário: a vontade, a consciência do tipo e a consciência da ilicitude (todos elementos do dolo nor- mativo). Atualmente, o dolo é natural, isto é, o dolo está na con- duta (no fato típico) e basta apenas: a vontade e a cons- ciência do tipo. A consciência da ilicitude ficou na culpa- bilidade e tornou-se “potencial consciência da ilicitude”. 14.3.1. EXCLUDENTES DA CONSCIÊNCIA DE ILICI- TUDE A potencial consciência da ilicitude é ligada à lei, por isso os erros de proibição (da lei) são as causas que a ex- cluem. Vamos as diferenças entre erro de proibição e erro do tipo: 14.3.2. ERRO DE TIPO E ERRO DE PROIBIÇÃO ERRO DO TIPO
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