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Ação Nº 1049400-79.2015.8.26.0053 (TJ/SP) Substituição Tributária Regressiva do ICMS e Creditamento Indevido – Operação Alumínio. (Ação noticiada no Boletim CEPGE v. 42, n. 1) A contestação oferecida pela PGE-SP na ação sob comento tem como matéria fática central o tratamento tributário diferenciado, para fins da cobrança do ICMS, entre o alumínio em sua forma bruta e o alumínio manufaturado. Com relação ao alumínio manufaturado, não há substituição tributária, de forma que o ICMS é pago em cada etapa da cadeia produtiva, obedecendo-se o sistema de créditos e débitos do ICMS (inerente à não-cumulatividade do imposto). Por outro lado, o alumínio em sua forma bruta se submete à substituição tributária regressiva ou “para trás” (ou ainda “diferimento”). De acordo com o art. 400- D do Regulamento do ICMS do Estado de SP: Artigo 400-D - O lançamento do imposto incidente nas operações internas com alumínio em formas brutas, alumínio não ligado, ligas de alumínio, inclusive a granalha de alumínio, e quaisquer outras mercadorias classificadas na posição 7601 da Nomenclatura Brasileira de Mercadorias - Sistema Harmonizado - NBM/SH, fica diferido para o momento em que ocorrer: I - sua saída para outro Estado; II - sua saída para o exterior; III - sua entrada em estabelecimento industrial que promova a transformação da mercadoria, em suas próprias instalações, para formas acabadas ou semi-acabadas, exceto quanto às mercadorias das posições 7601 e 7602 NBM/SH. As condutas ilegais constatadas pela “Operação Alumínio” e trazidas na contestação dizem respeito justamente a esse tratamento diferenciado: de forma fraudulenta, a empresa “VASKA” (remetente do alumínio, terceiro alheio à relação jurídica) estava enviando à Autora alumínio em sua forma bruta, mas fazendo constar nas notas fiscais de que a operação envolvia alumínio manufaturado, e destacando na nota o valor do ICMS (o qual nem sequer deveria incidir nessa etapa, haja vista o diferimento do alumínio bruto). Ou seja: a VASKA estava simulando a saída de alumínio em barras (manufaturado), quando, na verdade, estaria efetuando saída de alumínio em sua forma bruta. Isso permitiu à Autora se creditar do ICMS supostamente pago pela remetente, quando na verdade ela deveria pagar também o tributo da etapa anterior, na condição de substituta. anafr Realce anafr Realce Constatadas as condutas fraudulentas, o Fisco paulista emitiu Auto de Infração e Imposição de Multa (AIIM), lavrado em face do creditamento indevido de ICMS realizado pela Autora (Brakematic Ltda. – EPP). A Autora então, após a inscrição desse crédito tributário em dívida ativa e, inclusive, do início da execução fiscal, propôs ação anulatória do auto de infração, alegando que (i) o emitente das notas fiscais teria destacado o ICMS e o imposto teria sido recolhido; (ii) que, ao se creditar do ICMS, teria agido corretamente, não podendo ser punida pelo fato de seu fornecedor, VASKA, ter sofrido fiscalização; (iii) que a fiscalização não teria comprovado os pressupostos básicos para a constatação da ocorrência da infração; (iv) que o AIIM não teria os elementos necessários à sua compreensão; (v) que não poderia ser responsabilizado por atos ilícitos praticados por terceiros; e (vi) que seria terceiro de boa-fé. A PGE-SP, na defesa da Fazenda Estadual, apresentou contestação, com as seguintes teses: 1) Preliminarmente: impossibilidade de discutir, nas vias ordinárias, débitos que já são objeto de execução fiscal. - Quando o débito fiscal já está submetido ao processo de execução, não cabe ao contribuinte propor ação anulatória; sua defesa está restrita aos embargos à execução fiscal; - Admitir ação anulatória quando já proposta a execução fiscal obrigaria a admitir que a fixação do prazo para propor embargos (art. 16 da LEF) seria algo inócuo; - Interpretando-se o art. 38 da LEF, a ação anulatória, na mais permissiva das hipóteses, somente poderia alcançar a dívida inscrita, mas não ajuizada (por uma interpretação mais restritiva, só seria cabível essa ação antes da inscrição da dívida). Ou a dívida é questionada por ação anulatória (antes do ajuizamento da execução), ou através de embargos, após o ajuizamento do executivo fiscal; - “Insiste a Fazenda na necessidade de manter rigorosa observância aos ditames da legislação, em atenção à segurança jurídica, sob pena de instaurar precedente que permita aos sonegadores de impostos socorrer-se das vias ordinárias sem atenção às normas e prazos estabelecidos no ordenamento, podendo fazê-lo até mesmo às vésperas do leilão designado nas execuções fiscais, após anos de árduo trabalho dos vários órgãos públicos, inclusive judiciais, envolvidos na difícil tarefa de satisfazer créditos tributários não pagos”. - ATENÇÃO: a jurisprudência do STJ é pacífica no sentido de que essa tese não procede, sendo admissível a ação anulatória mesmo após a propositura de execução fiscal (deve-se atentar, entretanto, para a litispendência que pode ocorrer caso haja ação anulatória e embargos à execução – ler o livro de Leonardo da Cunha (“Fazenda Pública em Juízo”) para um aprofundamento do tema. Inclusive, o Juiz de Direito que proferiu decisão na ação sob comento também a refutou. anafr Realce anafr Realce anafr Realce anafr Realce 2) Mérito (acolhido pelo TJ-SP, com total improcedência da ação anulatória) a) A Autora adotou regramento inadequado para a mercadoria adquirida de terceiro (VASKA), não observando a técnica do diferimento do ICMS. Assim, quando da aquisição da mercadoria (alumínio bruto), quebra-se o diferimento, sendo devido o recolhimento do imposto pela adquirente no momento da entrada da mercadoria em seu estabelecimento, bem como descabido o creditamento por suposta tributação anterior; b) Na “Operação Alumínio”, restou inequivocamente demonstrado que a mercadoria adquirida pela Autora foi alumínio bruto e não manufaturado. A aquisição registrada pela Autora em seus livros fiscais, portanto, nunca existiu; ela adquiriu mercadoria sobre a qual se quebra o diferimento, de modo que é cabível o recolhimento do imposto e indevida a escrituração de qualquer crédito (o art. 400-D do RICMS impõe a entrada do produto no estabelecimento do adquirente como momento do lançamento); c) Os atos administrativos possuem presunção relativa de veracidade, cabendo ao sujeito passivo o ônus de provar que a administração atuou ao arrepio da lei ou dos fatos ocorridos. A Autora não trouxe qualquer prova de que o produto adquirido era alumínio manufaturado, apenas alegou que não poderia ser responsabilizada por atos ilícitos de terceiros. Em nenhum momento discutiu sobre a veracidade material dos documentos, ressaltando apenas que recebera as mercadorias e se creditara do imposto destacado nas notas fiscais. Tal afirmação, em conjunto com as provas juntadas, faz prova em favor do próprio Fisco; d) Se a Autora incorreu em erro na eleição de seu parceiro comercial, o prejuízo daí decorrente é inerente à atividade empresarial. Não é o Erário – e indiretamente a sociedade – que deverá arcar com esse ônus; e) A alegação da Autora quanto a sua suposta boa-fé não a exime de cumprir com as obrigações principais e acessórias impostas pela legislação. O destinatário da mercadoria ou do serviço é obrigado a exigir documento fiscal hábil, com todos os requisitos legais, de quem o deva emitir, sempre que obrigatória a emissão (art. 203 do RICMS/00), o que não foi feito pela Autora. f) Não há provas, no caso concreto, de que o imposto destacado na operação anterior pela VASKA tenha sido de fato cobrado (até pela apontada utilização sistemática de notas fiscais frias pelo fornecedor em suas entradas). As notas são inábeis para acobertar as operações com a Autora porque trazem mercadoria diferente da que foi efetivamente remetida, não tendo ocondão de permitir o creditamento do imposto nelas destacado. g) A autuação foi correta, pois obedeceu estritamente ao comando do art. 142 do CTN; o AIIM foi perfeitamente fundamentado e motivado.
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