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A Cultura Material como Metodologia do ensino da História no ensino Fundamental e Médio TCC 100%

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A Cultura Material como Metodologia do ensino da História no ensino Fundamental e Médio.
EVARISTO FRANÇA, Fábio.
RU: 2144172
 THEREZA DAVID JOÃO, Maria
RESUMO
O objetivo deste trabalho é o de suscitar uma análise teórica da cultura material em seus diferentes prismas propondo um leque de possibilidades como ferramenta a ser usada dentro do ensino básico na disciplina de História, ampliando e enriquecendo o
fazer pedagógico, dinamizando a construção de uma consciência histórica a partir do material, do mundo físico modificado pelo homem, para além de uma historiografia produzida através do documento escrito. O texto procura colocar a cultura material, o objeto, como centro das perspectivas para uma análise do homem ao longo do tempo, estudando a conjuntura histórica das sociedades, através do discurso de sua materialidade ligada a subjetividade humana, analisando a relação museu-escola, onde a cultura material toma sentido de objeto de estudo, percorrendo também postulados recentes das teorias sociais trabalhando com uma interdisciplinaridade entre Antropologia, História e Arqueologia, buscando perceber as diferentes relações do homem, em uma interação humano e objeto.
Palavras- chave: Cultura material, História, Materialidade, Educação básica, Museu.
 
1 INTRODUÇÃO
   
O ensino de História dentro do âmbito escolar, criada como disciplina para a educação, sempre estará sujeita e atrelada ao seu contexto histórico, em um constante diálogo com os paradigmas científicos vigentes. Dessa forma, ao historicizar esta ciência no espaço escolar, percebemos que a História, no passado, prestou-se a servir e endossar ideologias, formas de dominação intelectual, catequizando uma sociedade para pensar como unidade em uma insurgente ideia de nação, para uma repetição enfadonha de informações criadas para a manipulação do imaginário popular. Nesta ótica, a sala de aula, foi um dos maiores palcos para a disseminação desta forma de se aprender História. Mesmo que para o mundo acadêmico-científico esta perspectiva desmoronaria mais cedo do que para a escola básica, ainda sim nos é comum depararmos com um resquício de ensino tradicional de História sendo ainda trabalhado nos dias de hoje, em uma insistente continuidade impregnada no fazer pedagógico atual.
 Para este tipo de citação, o espaçamento entrelinhas é simples. Inicialmente foi objeto de poucos estudos nas escolas encarregadas de alfabetizar, mas, à medida que se organizava e se ampliava esse nível de escolarização, a partir da década de 70 do século XIX, sua importância foi ampliada como conteúdo encarregado de veicular uma “história nacional”. Esse objetivo sempre permeou o ensino da História para os alunos de “primeiras letras” e ainda está presente na organização curricular do século XXI. (BITTENCOURT, 2008, P.60)
Mas então como pensar o ensino de História hoje, dentro das salas de aula? Remete-se a pensar na famosa pergunta que faz refletir cotidianamente o fazer pedagógico desta ciência, ou seja, para que serve história? A que se destina aprender História?
Para responder a essa pergunta, podemos refletir a respeito do estreitamento dos laços entre a academia e a escola, não de reprodução fidedigna dos conteúdos e objetivos, mas principalmente do próprio construto de conhecimento através da utilização da ciência História, assim como a Física, através dos fenômenos físicos, assim como a Química através dos experimentos, assim como a Matemática e suas aplicações cotidianas, ou seja, é no conhecimento adquirido através da prática, na resolução de uma determinada pergunta-problema, na análise de um objeto, ou qualquer vestígio humano é que o saber deve se pautar e não na reprodução de fatos.
De um modo ou de outro, o ensino de História desempenhou sempre um papel civilizatório, participando do processo de afirmação de projetos de identidade nacional, marcados pelo comprometimento com a inserção da sociedade do Brasil nos quadros da cultura ocidental.
Importa sublinhar que é o conteúdo moral da história que sempre marcou o ensino da disciplina nas escolas, permanecendo submetido ás orientações de conteúdo das diversas filosofias da História, enfatizando o sentido sagrado da História ou o sentido profano. Não é demasiado afirmar que o ensino da moral sempre distanciou a história do ensino da ciência. (Paulo Knuss, 2005, P.282)
Outro ponto que merece atenção é como a História se torna tão atraente fora da esfera educacional, através do entretenimento midiático, como novelas, filmes ou ainda através do teatro, músicas, jogos eletrônicos, revistas, programas e canais de televisão, cada vez mais dependente de nossa ciência para construir diversão, em contrapartida, o trato com essa disciplina ser tão precário no magistério e na construção da educação histórica de nossos alunos.
É neste sentido que o presente trabalho se faz necessário para uma reflexão acerca da cultura material dentro do mundo escolar. A mágica da educação só acontece quando há alguém que quer ensinar e alguém sedento por querer aprender, nas palavras do professor José Monir Nasser. É proporcionar os objetos de investigação para o educando se maravilhar com suas descobertas.
Assim, mesmo que um pouco distante de nossa realidade, dentro da sala de aula, a cultura material e o estudo da Arqueologia, são fatores importantes para despertar e instigar a curiosidade e principalmente tornar os alunos agentes críticos de seus saberes.
2 CULTURA MATERIAL X MATERIALIDADE
Direcionar os estudos de uma sociedade através de sua cultura material, seus objetos, seus artefatos usados como fonte histórica é algo que nos remete pensar em descobertas, peculiaridades escondidas, informações para qual não encontramos apenas nos documentos escritos. A sedução e a complexidade andam juntas nesta ferramenta de análise, pois sabemos que não é tão simples lidar com a cultura material como objeto de investigação, assim como qualquer outro vestígio humano. A cultura material obedece a seus questionamentos para que responda de forma eficaz aquilo que queremos saber, se perguntarmos da maneira correta, pois é no por que, para quem, por quem, como e quando foram construídos (as) é que logramos um entendimento mais profundo das subjetividades humanas mergulhadas em um contexto, em um recorte tempo-espaço. É nas entrelinhas, que o objeto toma a direção das análises, aquilo de mais orgânico, de mais humano, refletindo as necessidades mais básicas que os indivíduos possuem ao longo de sua existência:
No seu significado humano, o objeto apresenta-se como o “meio de relação” entre os indivíduos que vivem em sociedade, como forma peculiar de inter-relação, pois todo o relacionamento das pessoas com o mundo em que vivem passa pelos artefatos. (FUNARI, 2003, P.33)
 Logo a cultura material, o objeto, encarado no seu papel mais genuíno, dá poder de fala aos extratos marginalizados pela sociedade, é a representatividade do cotidiano de todas as pessoas nas mais variadas situações do dia a dia, tanto em suas relações sociais, em suas expressões artísticas, na religiosidade, no consumo e na educação. Desta forma, ao se comparar o documento escrito com o objeto, percebemos que este era produzido para um público letrado, dotados de prestígios e vantagens que a plebe não usufruía, enaltecendo os feitos políticos, os grandes combates, bem como seus ilustres personagens, dotados de protagonismo. 
Tomando este caminho como análise, o documento escrito promove um entendimento de que, quem tem poder de fala são apenas as esferas de poder, emudecendo o resto da sociedade desprovida de bens ou capital, segundo as palavras de FUNARI (2003, p.33):
Os estudos das camadas subalternas muito tem se ampliado e para isso, as fontes arqueológicas contribuem de forma notável, com seu caráter anônimo e involuntário. Culturas espirituais e materiais revelam-se parte de um mesmo todo, como discursos a serem interpretados pelo historiador. Nunca as fontes arqueológicas foram tão difundidas entre os historiadores e seu êxito só tende a aumentar.
Aofalarmos sobre cultura material, objeto de estudo da Arqueologia, a de se desconstruir um mito muito frequente entre o senso comum que é o de imaginarmos se tratar de uma sociedade em um tempo pretérito, um tempo que já se foi, algo relacionado a uma civilização que não mais pertence aos dias de hoje, mas de acordo com Funari (2003, p.20), ”A Arqueologia, nos dias atuais, tem ampliado seus estudos da cultura material de qualquer época, tanto no passado quanto no presente.”, desse modo, refletir sobre cultura material também esta intimamente ligada aos dias de hoje, onde o humano continua construindo uma relação cada vez mais forte com seus objetos, dotada cada vez mais de uma ampliação de suas simbologias, desta forma a encarar a relação humana e não humano independente da temporalidade, pois o criador e a criação ainda se relacionam intimamente.
Segundo estudos relativamente recentes, na área de Antropologia, Latour (1989, p.29) discursa sobre a tentativa do homem, pós-iluminismo, de se apartar do seu relacionamento com o mundo material, a natureza, de onde provem a matéria bruta para o desenvolvimento de sua cultura material, mas que não há como separar humanos e não humanos em uma rede de relações, onde o material, também dotado de protagonismo, age como influenciador e modificador dos comportamentos sociais:
[...]. Olhem em volta: os objetos científicos circulam simultaneamente enquanto sujeitos, objetos e discurso. As redes estão preenchidas pelo ser. E as maquinas estão carregadas de sujeitos e de coletivos. Como e que o ente poderia perder sua continuidade, sua diferença, sua incompletude, sua marca? Ninguém jamais teve tal poder, senão precisaríamos imaginar que fomos verdadeiramente modernos. (LATOUR, 1989, P.65).
Desta forma, mesmo que os estudos de Latour sejam relativamente recentes e que seu objeto de estudo sejam as tecnologias na área de comunicação, ainda sim em seu trabalho ele discursa sobre a influência do objeto inserido na sociedade, corroborando com a ideia de que esta relação é atemporal, sendo assim a problematização dos objetos no presente também se faz necessário, em um diálogo constante entre passado e presente.
Assim a cultura material, considerada como centro dos estudos e pesquisas, traçando um paralelo com esta teoria social, passa agora a tomar papel de destaque, ela é agora interpretada como agente ativo nas relações sociais inserida em uma rede de interação entre humanos e não humanos. O material passa a ser a gente.
 Sentir a pedra é sentir o seu toque em minhas mãos. Existe uma relação reflexiva entre os dois. Eu e pedra estamos em contato um com o outro através do meu corpo, mas esse processo não é externo ao meu corpo e não faz parte dele. Tocar na pedra é possível por que tanto o meu corpo como a pedra fazem parte do mundo. Existe nesse sentido uma relação de identidade e continuidade entre os dois. No entanto, há também assimetria e diferença a pedra não é senciente e, embora eu seja tocado pela pedra, ao toca-la, não há a mesma relação de reversibilidade que no caso de minha mão esquerda tocar minha mão direita, uma ação que poderia ser revertido com a mão direita tocando minha mão esquerda. No entanto, podemos afirmar, como Gell (1998), que coisas, como pessoas, possuem agência por que nos afetam fisicamente, ajudam a estruturar nossa consciência (TILLEY, 2004, P.17).
Para a Arqueologia, o objeto, o material é muito mais do que seu uso-função, ele pode ser interpretado nas diferentes etapas, tanto no processo de fabricação, no processo como mercadoria, relacionado intimamente com a esfera do consumo, suas significações afetivas, ou seja, a todo o momento se relacionando com o humano, como se tivesse vida própria, assim de acordo com Funari (2003, p.45):
O artefato, ao deixar de ser apenas um objeto, parece adquirir uma vida biológica, dotada de nascimento, crescimento, maturidade, envelhecimento e morte, o que é ilusão apenas, pois coisas de fato não “vivem”.
Assim a cultura material só começa a ser pensada como fonte histórica a partir da nova perspectiva advinda da Escola dos Annales, através de uma forte oposição a história positivista, seus integrantes destituíam os documentos escritos de seu protagonismo na heurística das fontes, como única fonte capaz de informar sobre as ações do homem no tempo, com Marc Bloch e Lucien Febrev, as cores e os matizes da Historia mudariam de rumo, agora preocupados com uma História de mentalidades, de cotidiano, abrangendo todas as esferas da sociedade, a busca pela história total, não apenas da vida política, mas uma história de tudo e de todos, ampliando o sentido de fontes para construção da narrativa, nas palavras de Bloch, “A diversidade dos testemunhos históricos é quase infinita. Tudo o que o homem diz ou escreve, tudo o que constrói, tudo o que toca, pode e deve fornecer informações sobre eles”. A Escola dos Annales ainda construiria um conceito bastante trabalhado em sua trajetória, promoveria algo inédito para a História: a interdisciplinaridade.
E bom, a meu ver, e indispensável que o historiador possua ao menos um verniz de todas as principais técnicas de seus ofícios. [...] Nenhum remédio, senão substituir a multiplicidade de competências em um mesmo homem por uma aliança de técnicas praticadas por eruditos diferentes, mas todas voltadas para elucidação de um tema único. (BLOCH, 2001, P.81)
2 CULTURA MATERIAL PARA O ENSINO DE HISTÓRIA
Trabalhar com Cultura Material dentro do espaço escolar se torna então um desafio, refletir nas complexidades, na forma de acesso, bem como trabalhar a forma do fazer pedagógico com este tipo de fonte histórica, exige um trabalho árduo, mas que o retorno em relação à construção do conhecimento, o gosto e o fascínio pela investigação, instiga o desejo de se aprender por parte dos educandos. Usar este tipo de fonte histórica requer um trato especial e um desejo do renovo diário, por parte do educador, assim como os demais vestígios do homem no tempo, como pinturas, textos, fotografias, filmes, e outros, requer uma metodologia própria de discernimento, onde o ensino de História pede uma dinamização e um estímulo à descoberta constante por parte dos alunos, uma construção intermitente, onde o educando é levado a produzir o seu conhecimento, emancipando-se e sendo agente do desenvolvimento de sua consciência histórica, através da atividade de pesquisa, do contato direto com o objeto:
Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade. (FREIRE, 1996. P.16)
Desta forma o conhecimento está atrelado à experiência prática do educando ao ser desafiado a resolver determinada questão, deixando de ser sujeito passivo para ser o agente de seu próprio saber; nesta ótica, a educação em história passa a ser realmente fator modificador de atitudes, transformador de intelecto, à medida que vai ampliando e desenvolvendo o mundo cognitivo individual.
É na dialética entre curiosidade e significado, provocando a inquietação, a razão do querer saber, do entender, que a cultura material pode ser interpretada como ferramenta indispensável para uma melhor dinâmica nas aulas de História.
Nesta forma de compreender e de viver o processo formador, eu, objeto agora, terei a possibilidade, amanhã, de me tornar o falso sujeito da “formação” do futuro objeto de meu ato formador. É preciso que, pelo contrário, desde os começos do processo, vá ficando cada vez mais claro que, embora diferentes entre si, quem forma se forma e re-forma ao for-mar e quem é formado forma-se forma ao ser formado. É neste sentido que ensinar não é transferir conhecimentos, conteúdos nem forrar é ação pela qual um sujeito criador dá forma, estilo ou alma a um corpo indeciso e
acomodado.(FREIRE, 1996, P.13).Através da cultura material local, o aluno é levado ao sentimento de pertencimento, de identidade de coletividade, de se perceber como agente histórico, buscando refletir o seu lugar na sociedade, se equivalendo de suas experiências sociais, equalizando seus saberes escolares com sua experiência de vida. Seguindo esta ótica, a cultura material, os objetos que os alunos interagem em seu cotidiano, também tem espaço para aprendizagem e reflexões, trazendo para mais próximo de suas realidades o poder que o plano material tem para compreensão das ações humanas no passado. Esse paralelo traçado entre o ontem e o hoje, permite ao professor facilitar a compreensão deste tipo de fonte histórica para os alunos.
Conhecer o passado de modo crítico significa, antes de tudo, viver o tempo presente com mudança, como algo que não era, que está sendo e que pode ser diferente. Mostrando relações historicamente fundamentadas entre objetos atuais e de outros tempos... [...], pois há relações entre o que passou o que está passando e o que pode passar. (RAMOS, 2008, P.21).
 Tomamos como exemplo os computadores, os smartphones e suas influências no comportamento humano, a partir de seus usos em comparativo com a imprensa e a disseminação do livro, ou a invenção da máquina fotográfica, ou ainda a criação da arma de fogo. Abordar o relacionamento entre objeto e seu contexto histórico, técnicas empregadas para fabricação, o que muda na sociedade partir do uso cotidiano deste objeto, quais as significações que este objeto representa para o humano, suas consequências e seus desdobramentos.
[...]. Sem o ato de pensar de pensar sobre presente vivido, não há meios de construir conhecimento sobre o passado. E o próprio conhecimento do presente já pressupõe referências ao pretérito. (RAMOS, 2008, P21).
Desta forma, o ensino de História deixa de ser algo a ser decorado, concentrado em personagens históricos, em datas, obedecendo a uma linearidade, uma noção de progresso, onde os conteúdos trabalhados não fazem sentido para o aluno, não fazem parte do seu contexto, estão desconexos de sua realidade. O ensino de História tradicional cai em desuso, a partir do avanço da tecnologia, através da revolução que a internet proporcionou, o professor perde essa função de reprodutor de informação, pois para o educando, há milhares de formas de informação, acessadas através de seu computador.
Estudar história é muito mais do que decorar nomes e datas. É descobrir, analisar fatos registrados no passado, entender as atividades dos homens do mundo. É através dela que as relações estabelecidas em uma determinada época podem ser estudadas, podendo perceber as mudanças, resistências e permanências com o passar do tempo. (PEREIRA, 2007 P.05)
Para (Bittencourt, 2008, p179), o objeto, segundo afirmativas de especialistas em educação museológica, proporciona através de sua observação e manuseio, duas situações de descobrimento: o estético, onde o aluno percebe a tridimensionalidade, guiado por suas percepções intuitivas, através de seu contato físico, permitindo uma compreensão maior do objeto e a outra situação, a científica, onde o aluno é inserido no contexto histórico do objeto, levado aos questionamentos e hipóteses com relação a ele.
Nesta perspectiva, o objeto passa também a ser ferramenta pedagógica para o ensino de história, deixando de ser mero auxiliar da imagem ilustrada no livro didático, como simples comprovante daquilo que foi escrito, para saltar aos olhos do aluno, proporcionando uma interação mais orgânica, levando o educando a uma experiência mais prática na descoberta do cotidiano das pessoas que interagiam com este objeto, fazendo comparações com o passado e presente, dando destaque as experiências individuais dos próprios alunos com relação aos objetos atuais.
3 MUSEU E A SALA DE AULA
A trajetória do objeto, relíquia, até agora, vem sendo analisada no sentido de seu uso e função original, em seus significados na cadeia de sua produção, como mercadoria, na esfera do consumo, ou objeto no sentido afetivo e suas significações como fetiche humano, transformando a sociedade com quem interage, mas ao analisar o objeto como peça de museu, toma uma função diferente, dotado de outras significações, como se fosse a última fase de sua existência. Nessa perspectiva, o objeto perde seu uso, não tem mais função no sentido de servir para propósito de sua criação, ao homem, mas agora se torna peça de coleção, escolhido cuidadosamente para significar algo, para ilustrar um fato, protagonista de uma cena, desenvolvendo uma narrativa criada para ser mostrada a um público.
Ninguém vai a uma exposição de relógios antigos para saber as horas. Ao entrar no espaço expositivo, o objeto perde o seu valor de uso: a cadeira não serve de assento, assim como a arma de fogo abandona sua condição utilitária. Quando perdem suas funções originais, as vidas que tinham no mundo fora do museu, tais objetos passam a ter outros valores, regidos pelos mais variados interesses. (RAMOS, 2008, P. 19).
Logo, o ato de colecionar é algo exclusivamente inerente ao ser humano, uma necessidade, pois agora o objeto é dotado de outra simbologia pelo homem, é outro tipo de relação, é algo que já o acompanha desde os seus primórdios, para Bataille (1987), o homem começou a exteriorizar a sua existência através de objetos, em ambientes, dotando os de permanência, de continuação para além da morte, desta forma há um sentido de imortalidade, de memória, representado através dos mesmos, desta forma, o espaço museal é a representatividade deste sentimento, desta relação humana com a relíquia.
Ao se pensar o museu como um local de exposição de coleções, há de se refletir o próprio conceito como constructo de relações sociais, mergulhado em um contexto histórico, obedecendo à visão de mundo de um determinado corte espaço-temporal, representando ora um endossador da visão dominante, ou como representatividade de descobertas científicas. Deste modo, a própria temática a que o museu se refere é dotada de representatividade, ou seja, há um sentido explícito, ou uma multiplicidade de sentidos, para além de apenas um espaço expositivo.
O que merecia ficar no museu de feição mais tradicional era, em geral, o objeto da elite: a farda do general, o retrato do governante, a cadeira do político, a caneta do escritor, o anel de um bispo... Tudo isso compunha o discurso figurativo de glorificação da história de heróis e indivíduos de destaque... [...] havia, sobretudo no séc. XIX, uma grande valorização em torno dos chamados “Museus de História Natural”, encarregados de coletar, estudar e exibir espécies do mundo animal, vegetal e mineral. Era o auge da ciência moderna, e seu ímpeto era enquadrar o existente em determinadas categorias, assinalando o domínio da classificação enciclopédica. (RAMOS, 2008, P. 19).
Desta forma o museu tem muito mais a oferecer, do que apenas vitrine de peças antigas como mostruário ou para satisfazer curiosidades do público que o visita, ele toma o papel de educador para si, uma vez que os objetos de suas coleções carecem de uma reflexão crítica, um desvelamento do desconhecido sentido que há por trás de suas peças. Há uma necessidade de entender todo o contexto do por que aquela relíquia ou objeto está ali bem como sua razão de existir, o que ela representa e o que ela quer informar, para que possamos aprender a ler os objetos. Neste caso é fazer o papel inverso, ou seja, é preciso educar-se para depois contemplar, e não o contrário, pois desta forma se possibilita a construção do conhecimento acerca do material, Ramos (2008, p.39) nos informa que o museu toma forma de fórum na medida em que sua coleção precisa ser interpretada para um entendimento mais amplo, não mais para um público expectador, mas para um público crítico, capaz de entender os significados que há por trás da imagem.
Para que esse entendimento sobre o museu se concretize é preciso então pensar que é dentro da sala de aula que o conhecimento é construído, criando assim uma relação íntima entre museue o ensino de história, através da análise do objeto, dentro do espaço escolar, viabilizando assim uma metodologia de se aprender história e ao mesmo tempo construir uma consciência histórica. Desta forma, pensar no enriquecimento dos saberes dos professores, através da educação continuada é atender uma necessidade do conhecimento museal, para que se possa trabalhar de forma adequada ao propor uma análise desta importante fonte histórica, pois é necessário que o educador tenha uma compreensão do funcionamento do museu, através da construção de suas coleções, entendendo as narrativas e as informações que estas transmitem para o observador.
No projeto educativo do museu devem existir cursos para orientar a montagem de exposições na própria escola. Procuram-se, com isso, parâmetros básicos sobre o exercício de pensar os modos de construir atividades com objetos que, de alguma forma fazem parte da vida dos alunos e professores. (RAMOS, 2008, P.37).
Logo pensar o museu para dentro da escola é alicerçar uma forma ainda maior de se pensar e refletir sobre o objeto, é construir os paralelos da história-problema, na pergunta do hoje para encontrar as respostas no passado.
4 METODOLOGIA
Para a realização deste trabalho foi feito um levantamento bibliográfico, de caráter qualitativo, através de uma pesquisa dos principais teóricos e seus discursos acerca deste tema, assim como o diálogo e a interlocução entre estes autores para a construção de uma análise mais aprofundada, bem como a reflexão sobre seus pressupostos para convergirem e reafirmarem a relevância deste assunto. Desta forma, buscou-se o percurso entre ciências humanas distintas e seus paradigmas científicos, buscando a interdisciplinaridade e a afirmação de que há uma busca pela descompartimentalização dos estudos humanos, desta forma ampliando um leque cada vez maior de perspectivas para uma compreensão mais abrangente. Corroborando com este argumento, a interdisciplinaridade foi um dos principais pilares da construção de uma busca pela história total, idealizada por Marc Bloch e Lucien Febvre.
 Se a citação possui menos de quatro linhas completas, ela deve vir no corpo do texto principal. [...] E por outro lado digo os homens. Os homens, únicos objetos da história, de uma história que se inscreve no grupo das disciplinas humanas de todas as ordens e de todos os graus, ao lado da Antropologia, da Psicologia, da Linguística, etc... (FEBVRE, 1953, P. 30).
Logo a pesquisa busca explicitar a cultura material, o objeto, tanto na esfera científica como no mundo escolar, onde houve uma procura quanto ao diálogo entre metodologias de ensino, através das falas de teóricos quanto à autonomia e a aprendizagem e descoberta dos alunos, bem como o fascínio humano com relação ao objeto e sua interação na sociedade, na tentativa de uma construção de ligação entre esses assuntos e complementando com a importância do museu para o ensino de história, onde através de uma análise, procurou demonstrar a compatibilidade quase instantânea entre estes dois espaços.
Desta forma, a reafirmação da importância da cultura material, através dos objetos, mostrada neste trabalho, é o seu princípio norteador, partindo do principio subjetivo, onde se buscou problematizar um tema que faz parte dos desafios diários tanto do historiador como o professor de história, onde sempre relegada a um segundo plano, a cultura material através do objeto, agora, cada vez mais, cresce a necessidade de se trabalhar com esta fonte histórica.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A importância do uso da cultura material, da análise do objeto, tanto como fonte histórica, onde o historiador constrói as narrativas, tecendo uma historiografia ou para uso pedagógico para as aulas de história dentro de sala, na qual o aluno é levado a refletir e indagar, ao mesmo tempo em que desenvolve sua consciência histórica, se faz presente ainda com mais força nos tempos atuais. O objeto, a coisa, o não humano, sempre esteve presente, no cotidiano, em diferentes épocas, nas mais variadas sociedades, exercendo um papel fundamental no percurso humano enquanto de sua existência, transformando a natureza e moldando a para suas mais variadas necessidades, sempre atribuído de inúmeros significados, ele reflete as subjetividades humanas, encarnando o que podemos chamar de testemunha ocular de seu tempo, quer seja no passado ou no presente, ele fala para quem quiser aprender a lê-lo ou responde a quem souber pergunta-lo, desvelando assim a capacidade humana de se adaptar, de se reinventar, de se superar a cada dia.
Logo, o objeto, mesmo que carente de uma abordagem mais profunda, tanto na academia quanto na educação básica, nunca perderá sua essência no mundo da ciência histórica. Desta forma, através de experiências pessoais, a reflexão que vem a tona, é que nunca se fez tão necessário, quanto hoje, a aprendizagem quanto leitura do objeto, quer para dinamização do ensino de história onde o ensino tradicional ainda vive, nas obrigações de leituras complexas e de difícil compreensão por parte dos alunos, quer para a compreensão dos vestígios do homem no tempo, através da interação com o meio material.
A necessidade de entender o objeto através da museologia, refletindo sobre a capacidade do museu de ser muito mais do que um espaço expositor também nos é caro. Unir o conhecimento museal com a sala de aula é abrir um horizonte recheado de possibilidades, de estratégias de ensino, provocando interdisciplinaridade e principalmente a autonomia da descoberta através das experiências de vidas dos próprios educandos. Na reflexão dos objetos atuais, de seus usos no cotidiano presente, ou seja, pensar no objeto nos dias atuais, descobrindo o elo de ligação entre passado e presente, refletindo que a história fala de todos nós, não de uma escrita do que já foi mas do que está sendo.
REFERÊNCIAS Remover os hiperlinks (deixar tudo em formato de texto). 
BITTENCOURT, Circe Maria. Ensino de história: fundamentos e métodos. 4º Ed. São Paulo: Cortez, 2011.
BLOCH, March. Apologia da história ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001.
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FEBVRE, Lucien. Combates pela História. 1º Ed. Lisboa: Presença, 1989.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 25ª Ed. São Paulo: Paz e Terra, 2001.
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