Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Montes Claros/MG - 2011 Iara Soares França Marcos Esdras Leite Geografia Urbana 2011 Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei. EDITORA UNIMONTES Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG) Caixa Postal: 126 - CEP: 39.401-089 Correio eletrônico: editora@unimontes.br - Telefone: (38) 3229-8214 Catalogação: Biblioteca Central Professor Antônio Jorge - Unimontes Ficha Catalográfica: Copyright ©: Universidade Estadual de Montes Claros UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES REITOR João dos Reis Canela VICE-REITOR Maria Ivete Soares de Almeida DIRETOR DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕES Giulliano Vieira Mota CONSELHO EDITORIAL Maria Cleonice Souto de Freitas Rosivaldo Antônio Gonçalves Sílvio Fernando Guimarães de Carvalho Wanderlino Arruda REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA Ângela Heloiza Buxton Arlete Ribeiro Nepomuceno Aurinete Barbosa Tiago Carla Roselma Athayde Moraes Daniela Imaculada Pereira Costa Julieta Sueldo Boedo Luci Kikuchi Veloso Maria Cristina Ruas de Abreu Maia Maria Lêda Clementino Marques Ubiratan da Silva Meireles REVISÃO TÉCNICA Admilson Eustáquio Prates Cláudia de Jesus Maia Josiane Santos Brant Karen Tôrres Corrêa Lafetá de Almeida Káthia Silva Gomes Marcos Henrique de Oliveira DESIGN EDITORIAL E PRODUÇÃO Andréia Santos Dias Camilla Maria Silva Rodrigues Clésio Robert Almeida Caldeira Francielly Sousa e Silva Hugo Daniel Duarte Silva Marcos Aurélio de Almeida e Maia Patrícia Fernanda Heliodoro dos Santos Sanzio Mendonça Henriques Tatiane Fernandes Pinheiro Tatylla Ap. Pimenta Faria Vinícius Antônio Alencar Batista Wendell Brito Mineiro Chefe do Departamento de Ciências Biológicas Guilherme Victor Nippes Pereira Chefe do Departamento de Ciências Sociais Maria da Luz Alves Ferreira Chefe do Departamento de Geociências Guilherme Augusto Guimarães Oliveira Chefe do Departamento de História Donizette Lima do Nascimento Chefe do Departamento de Comunicação e Letras Ana Cristina Santos Peixoto Chefe do Departamento de Educação Andréia Lafetá de Melo Franco Coordenadora do Curso a Distância de Artes Visuais Maria Elvira Curty Romero Christoff Coordenador do Curso a Distância de Ciências Biológicas Afrânio Farias de Melo Junior Coordenadora do Curso a Distância de Ciências Sociais Cláudia Regina Santos de Almeida Coordenadora do Curso a Distância de Geografia Janete Aparecida Gomes Zuba Coordenadora do Curso a Distância de História Jonice dos Reis Procópio Coordenadora do Curso a Distância de Letras/Espanhol Orlanda Miranda Santos Coordenadora do Curso a Distância de Letras/Inglês Hejaine de Oliveira Fonseca Coordenadora do Curso a Distância de Letras/Português Ana Cristina Santos Peixoto Coordenadora do Curso a Distância de Pedagogia Maria Narduce da Silva Ministro da Educação Fernando Haddad Secretário de Educação a Distância Carlos Eduardo Bielschowsky Coordenador Geral da Universidade Aberta do Brasil Celso José da Costa Governador do Estado de Minas Gerais Antônio Augusto Junho Anastasia Vice-Governador do Estado de Minas Gerais Alberto Pinto Coelho Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior Alberto Duque Portugal Reitor da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes João dos Reis Canela Vice-Reitora da Unimontes Maria Ivete Soares de Almeida Pró-Reitora de Ensino Anete Marília Pereira Diretor do Centro de Educação a Distância Jânio Marques Dias Coordenadora da UAB/Unimontes Maria Ângela Lopes Dumont Macedo Coordenadora Adjunta da UAB/Unimontes Betânia Maria Araújo Passos Diretor do Centro de Ciências Humanas - CCH Antonio Wagner Veloso Rocha Diretora do Centro de Ciências Biológicas da Saúde - CCBS Maria das Mercês Borem Correa Machado Diretor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas - CCSA Paulo Cesar Mendes Barbosa Chefe do Departamento de Artes Maria Elvira Curty Romero Christoff Autores Iara Soares França Professora e pesquisadora do Departamento de Geociências da UNIMONTES. Mestre em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia. Doutoranda em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia. Marcos Esdras Leite Professor e pesquisador do Departamento de Geociências da UNIMONTES Doutor em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia. Mestre em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia. Sumário Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9 UNIDADE 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 Cidade, urbanização e produção do espaço urbano. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 1.1 O estudo da geografia urbana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 1.2 A história da cidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .13 1.3 O crescimento das cidades e as atividades que transformam as cidades . . . . . . . . . . .19 1.4 Cidade, urbano e espaço urbano. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .29 1.5 A Urbanização Brasileira. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .35 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .42 UNIDADE 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .45 Problemas socioambientais urbanos, a gestão urbana e as políticas públicas . . . . . . . . .45 2.1 Problemas socioambientais urbanos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .45 2.2 Gestão urbana e políticas públicas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .51 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .65 Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .67 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .69 Atividades de aprendizagem – AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .71 9 Geografia - Geografia Urbana Apresentação Estudar o espaço urbano, a partir da geografia urbana é estimulante, haja vista que a cidade é um espaço complexo e dinâmico. As transformações do ambiente urbano são rápidas compa- radas a outros espaços estudados pela geografia como as transformações naturais. Essa dinâmi- ca intensa torna o interesse pela cidade ainda maior, pois não corremos o risco de cair na mono- tonia ao estudar a reprodução do espaço urbano. Além desse fato, a concentração de pessoas nas cidades, devido sua concentração econômi- ca, tem chamado a atenção dos pesquisadores e dos órgãos de planejamento e gestão. O cres- cimento das cidades implica em uma série transformações como a ambiental. O meio ambiente urbano foi bastante alterado com o processo crescente de urbanização, dessa forma, entender esses problemas ambientais é o primeiro passo para propor alternativas para reverter essa situa- ção. Além disso, a convergência de capital para a cidade e a subordinação do campo relação ao urbano tem feito com que o espaço intra-urbano sofra mutações e adaptações que culminaram em novas formas de organização da cidade. A mudança econômica tem impacto direto no as- pecto social, pois a cidade é a materialização das relações sociais que são regidas pela lógica do capital. Com isso, a presença do capital na cidadegera espaços segregados, como as favelas. Diante dos diversos problemas presentes no espaço urbano, o Estado, através da constituição tem imposto alguns instrumentos para melhorar a gestão urbana e da cidade. Essa diversidade de elementos e processos presentes na cidade torna o estudo da geografia urbana entusiasmante, sobretudo para aqueles que desenvolvem um racíocinio crítico sobre as formas desiguais de reprodução do espaço. No intuito de facilitar o processo de ensino-apreendizagem, principalmente por se tratar de uma material para a educação à distância, este material de geografia urbana está dividido em duas unidades e estas estão divididas em tópicos e subtópicos, como exposto no sumário apre- sentado em seguida. Essa estrutura do texto tem como objetivo facilitar o entendimento e o debate sobre a ge- ografia urbana, além de dar maior coesão aos temas tratados na disciplina de geografia urbana. Compreendemos também que a busca do conhecimento deve ser realizada sempre de for- ma crítica, uma vez que a ciência se desenvolve refletindo o momento histórico da sociedade que a cria e a amplia. Professor Marcos Esdras Leite Professora Iara Soares França 11 Geografia - Geografia Urbana UNIDADE 1 Cidade, urbanização e produção do espaço urbano 1.1 O estudo da geografia urbana Durante a disciplina História do Pensa- mento Geográfico (HPG) podemos entender que a ciência geográfica teve um processo de formação complexo e passou por interferência de algumas linhas de pensamento. Essa diver- sidade de formação fez com que a geografia, em alguns momentos apresentasse crises, pois havia linhas de pensamentos divergentes. No entanto, isso que no início se apresentou com um problema é, atualmente, responsável pela riqueza e multidisciplinaridade dessa ciência. A geografia se configura como a ciência responsável por estudar o espaço geográfico. Esse objeto de estudo complexo leva a geo- grafia a interagir com profundidade com ou- tras ciências. Embora, isso não afirme que a geografia é apenas uma “ciência de síntese”, pois a geografia produz conhecimento sobre os processos espaciais e as transformações pelas quais o espaço geográfico passa. Sendo assim, quando trabalhamos com espaços com- plexos que exigem vários olhares para enten- dê-lo, o profissional da geografia se torna re- comendado para fazer a análise espacial. A cidade é um desses espaços complexos, pois nele encontramos a manifestação de vá- rios fenômenos de diversas ordens, que vão desde processos naturais até os culturais. Na cidade as relações tanto naturais, quanto so- ciais são mais intensas e, consequentemente, há constantes transformações resultantes des- sas relações. Assim o espaço urbano se torna um espaço onde as coisas mudam com maior rapidez e, por isso, necessita uma visão inter- disciplinar para entendê-lo. Na ciência geográfica, a geografia ur- bana é a disciplina responsável por estudar o espaço urbano, bem como sua relação com o espaço rural. O objeto de estudo da geografia urbana é a cidade e o processo de produção desse espaço. A geografia urbana, como outras áreas da geografia, interessa-se por um determina- do espaço e seus fenômenos de (re)produção, como a geografia agrária que se interessa pelo espaço rural. Sendo assim, os elementos socio- espaciais que compõem a cidade são analisa- dos dentro dessa disciplina, denominada de geografia urbana. Para estudar a geografia urbana é impor- tante definir cidade. Esse é um problema no Brasil, haja vista que no nosso país não adota- mos um critério quantitativo para definir cida- de, isto é, não é o número de moradores que determina se um espaço é cidade ou não. No Brasil, cidade é a sede administrativa do muni- cípio. É na cidade que temos o poder local, ou seja, a Prefeitura e a câmara de vereadores. Em outros países, o critério quantitativo é utilizado, no caso da França os povoados com mais de 20 mil habitantes passam a ser con- siderados como cidade. No Brasil, o distrito deve se emancipar do município ao qual per- tence, para isso, deve ser aprovado pelo poder legislativo estadual. Outro ponto complexo é a definição da população rural e urbana. Indiscutivelmente, o Brasil é um país predominantemente urbano. No entanto, alguns autores como Veiga (2002) acredita que o “Brasil é menos urbano do que se calcula se utilizarmos critérios mais comu- mente usados internacionalmente”. Para esse autor não podemos generalizar e considerar que o urbano é apenas o que está dentro do limite da cidade e que o rural é tudo que está fora desse limite. Da mesma forma, não po- demos definir se a população é rural, apenas pelo fato de se dedicar a atividades econômi- cas primárias. As considerações feitas pelo professor José Eli da Veiga, em seu livro Cidades Ima- ginárias, traz um debate importante sobre como devemos classificar o urbano e o rural. Singer (2002), também compartilha dessa preocupação. Podemos compreender essa si- tuação com o exemplo dos trabalhadores em GLOSSáRIO Município é a menor divisão administrativa no Brasil. É a unidade em que o estado (uni- dade da federação) é dividido. O município é composto pela cidade e a área rural. Cidade é a sede do mu- nicípio, isto é, o núcleo urbano principal. 12 UAB/Unimontes - 6º Período atividades de comércio e serviço, como hotel fazenda, pesque-pague e restaurantes. Esses empreendimentos estão localizados na zona rural, mas esses trabalhadores se dedicam a funções urbanas. Outro caso são os moradores da zona rural que trabalham na cidade e retor- nam no final do expediente para suas casas. Por isso, Veiga (2002) critica o fato do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE considerar como urbana a população que mora nas cidades. Entretanto, esse estu- do de Veiga é entendido por muitos autores como provocativo, mas nada prático, pois qual seria a forma de se quantificar a população ur- bana se não pelo fato da população residir na cidade? Essa abordagem expõe sucintamente al- guns questionamentos teóricos e metodológi- cos que a geografia urbana tem se dedicado. Mas, apesar desses questionamentos os dados oficiais mostram que o índice de urbanização não apenas no Brasil, mas no mundo tem ele- vado bastante. O crescimento demográfico nas cidades tem despertado o interesse pela geografia urbana, por isso, essa é umas das disciplinas com elevado número de obras pu- blicadas na geografia. Os relatórios divulgados pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) de- monstram a preocupação que os organismos internacionais e mesmo nacionais tem tido com a migração intensa da população para as cidades dos países em desenvolvimento e os periféricos. Em 2007 foi divulgado o estudo da UNFPA “Situação da população mundial em 2007: Desencadeando o potencial para o cres- cimento urbano”. Os dados desse relatório são preocupantes, pois aponta para o crescimento da população mundial em 2050 em cerca de 2,5 bilhões de habitantes a mais do que em 2007. Esse número elevará o total de habitan- tes do planeta para nove bilhões. O ponto de maior enfoque desse relatório trata do cresci- mento da população urbana do planeta, que nesse documento prevê que, em 2030, cinco bilhões de pessoas viverão nas cidades, o que representará 60% da população mundial nes- se período. (LEITE; PEREIRA, 2008). Com esse crescimento acelerado e con- centrado nos países mais pobres, as cidades, sobretudo dos países periféricos multiplica- rão os problemas sociais de forma exponen- cial, considerando que são vítimas de um crescimento populacional incompatível com a capacidade de absorção econômica dessa população crescente, além de estarem des- providas de infraestrutura para atender a to- dos. Essa dinâmica faz com que Díaz (2005, p.76) conclua que: as cidades são construídas em espaços contraditórios. Por um lado, são vistas como geradoras de oportunidades, em relação ao emprego e ao acesso ao conhecimento, mas, por outrolado, se tornam os lugares onde existe a mais variada problemática social, pobreza, marginalização, insegurança, violência, entre outras coisas. Corroborando com as palavras de Diaz (2005) temos que entender que a concentra- ção de pessoas na cidade traz graves conse- quências, que, normalmente, resultam em problemas socioambientais. No entanto, as pessoas de menor renda são as mais vulne- ráveis a esses problemas, pois a cidade é um espaço desigual. Existe uma cidade destinada a população de maior renda e um destinada as pessoas de baixa renda. Nesta última, a presença do Estado é menor e os problemas são potencializados. Essa constatação imprime a necessida- de de se pensar a cidade, por isso, o plane- jamento urbano moderno exige um melhor ordenamento da cidade, sem que exista privilégio a determinadas classes sociais e interesses individuais. Essa medida interven- cionista é importante para minimizar a apro- priação desigual do espaço urbano e para promover o pleno desenvolvimento das fun- ções sociais da cidade, garantindo o bem-es- tar de seus habitantes e o cumprimento da função social do solo urbano. Diante dessa complexidade, a cidade tem despertado o interesse de vários geógra- fos que se dedicam a elementos pontuais do espaço urbano. A cidade como materializa- ção das relações sociais que ocorre no espaço urbano, possui elementos que se relacionam entre si, mas que podem ser estudados de maneira especifica. É comum encontrarmos geógrafos urbanistas que se dedicam a estu- dar o comércio urbano, da mesma forma que outro se interessa pelas formas de segrega- ção social materializadas na cidade. Assim, dentro da geografia urbana, há certas espe- cialidades. A complexidade do espaço urbano e a concentração crescente de pessoas nas cida- des têm destacado a geografia urbana, entre as disciplinas do conhecimento geográfico. 13 Geografia - Geografia Urbana Buscando referências sobre a importância e desenvolvimento da geografia urbana, encon- tramos o livro “Iniciação ao estudo da geogra- fia”, do professor da Universidade de Minneso- ta, Broek (1976). Nessa obra, apesar de antiga, o autor destaca o crescimento dos estudos da geografia urbana em função da concentração demográfica no espaço urbano. As palavras desse geógrafo estaduniden- se mostram que já em meados da década de 1970 as cidades se tornaram ponto de conver- gência de capital e de pessoas. Consequente- mente, o espaço urbano passou por metamor- fismo e provocou a formação de novas formas. No entanto, se buscarmos na história das cidades perceberemos que a cidade sur- ge com a característica de concentração. Os estudos ainda não revelaram com precisão o momento e o local de surgimento da primei- ra cidade, embora é comum encontrarmos nos livros de geografia urbana, a afirmação de que as primeiras cidades surgiram por volta de 3.500 a.C. Esses mesmos livros, como "Capita- lismo e Urbanização", da professora Sposito (2002), apontam como local das primeiras ci- dades a região da Mesopotâmia, atualmente é a área onde se localiza o Iraque, entre os rios Tigres e Eufrates. 1.2 A história da cidade Para Spósito (2002) e Carlos (2003) a for- mação das primeiras cidades está relacionada à “revolução agrícola”, quando o homem dei- xa de ser nômade (não tinha moradia fixa e migrava atrás de alimentos) e passa ser seden- tário, com o cultivo de alimentos e criação de animais. O desenvolvimento da atividade agríco- la primeiramente realizada na Mesopotâmia (área de grande fertilidade na Ásia, situada en- tre os Rios Tigre e Eufrates), no período Neolí- tico, foi o grande vetor responsável pelo surgi- mento da cidade. A prática agrícola iniciada neste momento contribuiu para a existência de excedente ali- mentar que poderia ser armazenado e atender um número maior de população. Em função disso, as cidades iam se formando em torno das áreas agrícolas, que por sua vez, concentra- vam assentamentos humanos cada vez maio- res. Até então o homem vivia da caça, pesca e coleta vegetal garantidas somente para aten- der suas necessidades imediatas. Assim, surge a agricultura e as cidades intrinsecamente liga- das por meio do excedente alimentar que re- sultou na divisão social do trabalho. Dessa forma, o homem passa a viver em comunidade. Essa mudança traz alterações cul- turais, como mencionou Mumford citado por Spósito (2002, p.15) Aquilo a que chamamos revolução agrícola foi, muito possivelmente, ante- cedido por uma revolução sexual, mudança que deu predomínio não ao ma- cho caçador, ágil, de pés velozes, pronto a matar, impiedoso por necessidade vocacional, porém, à fêmea, mais passiva, presa aos filhos, reduzida nos seus movimentos ao ritmo de uma criança, guardando e alimentando toda sorte de rebentos, inclusive, ocasionalmente, pequenos mamíferos lactantes, se a mãe destes morria, plantando sementes e vigiando as mudas, talvez primeiro num ritmo de fertilidade, antes que o crescimento e multiplicação das sementes su- gerissem uma nova possibilidade de se aumentar a safra de alimentos. (...) Com a grande ampliação dos suprimentos alimentares, que resultou da domestica- ção cumulativa de plantas e animais, ficou determinado o lugar central da mu- lher na nova economia. (...) A casa e a aldeia, e com o tempo a própria cidade, são obras da mulher. (SPÓSITO, 2002, p.15). O comércio é elemento crucial para a formação das cidades da forma que conhecemos atu- almente, pois a necessidade de realizar o comércio induziu a concentração de pessoas num de- terminado espaço, com isso, surgiram as cidades. Sobre o desenvolvimento comercial a partir da agricultura, Souza relata: [...] um processo de passagem da produção de subsistência para uma produ- ção de alimentos visando também o comércio externo, assim como para o sur- gimento da manufatura especializada, tudo isso tendo um rebatimento demo- gráfico sob a forma de uma acentuada expansão da população – fundamentos sob os quais se darão a transformação de povoados de agricultores em cidades e a proliferação destas, [...]. (SOUZA, 2003, p.44). 14 UAB/Unimontes - 6º Período No decorrer do tempo, as cidades se modificam profundamente e em cada mo- mento histórico apresentam peculiaridades, tornando-se complexas. As peculiaridades, a organização e a dinâmica das cidades, bem como, o conteúdo do seu conceito passaram por mudanças. No entanto, esse processo foi lento e gradual, pois anos mais tarde essas práticas se sistematizaram através do plantio, cria- ção e domesticação de animais. A partir da necessidade de um lugar fixo para morar o homem vai produzindo e reproduzindo seu espaço a ponto de socializar-se. O lugar fixo de moradia proporciona ao homem um lo- cal seguro para praticar suas culturas, suas artes e construir uma família, além de pro- porcionar condições melhores de vida. Com essa nova estabilidade do homem na terra, surge a “cidade” que possui caracte- rísticas de uma aldeia. Spósito (2002, p.13), res- salta que “não é o número de pessoas, casas e atividades comerciais que definem se o lugar é uma cidade ou não”. Nessa perspectiva, a re- ferida autora sustenta que “estruturalmente, a aldeia tem um nível de complexidade ainda elementar, pois nela quase não há divisão de trabalho, a não ser do feminino e masculino ou determinado pelas possibilidades e limites da idade e da força”. Para um aglomerado humano tornar- -se uma cidade é necessária a constituição de uma base sólida chamada “organização social” (SPÓSITO, 2002). Esta, por sua vez, sendo bastante complexa, deve ser inter- pretada juntamente com a divisão social do trabalho, e consequentemente, com a segre- gação socioespacial. A divisão social do trabalho baseada em uma produção de excedente alimentar onde o agricultor produz mais que o neces- sário para a população é uma das condições básicas para o surgimento das cidades, pois através dela geram-se as outras subdivisões e os conflitos sociais. O excedente de produçãoé também um dos pilares para repensar a divisão do trabalho. A divisão social é revelada através da participação desigual dos homens, seja ela, no processo de produção, distribuição e apropriação de riquezas. (SPÓSITO, 2001). Essa divisão social se concretiza a partir do momento que diversas classes sociais se concentram no mesmo lugar. A classe domi- nante tem grande possibilidade de ampliar territorialmente seu domínio, até o ponto de encontrar um poder equivalente ou maior, não obstante, a classe pobre tem seu poder enfraquecido pela classe dominante. Após seu surgimento, as cidades passa- ram por modificações em cada período his- tórico (Antiguidade, Idade Média, Moderna e Contemporânea), adquirindo importân- cia e apresentando funções diversificadas. (BRUMES, 2001). Na Antiguidade, a cidade possuía uma função política, pois organizava, dominava, protegia, administrava e explorava territó- rios com os camponeses, aldeões e pastores. (BRUMES, 2001, p.51). Nesse período, as cidades se dissemina- ram rapidamente e o seu papel era concen- trar o poder político e militar com nítida hie- rarquia de trabalho. (ANDRADE, 1981). Jericó, as margens do rio Jordão na Pa- lestina, possivelmente foi o primeiro aden- samento humano a receber o nome de ci- dade. Conhecida pelos relatos bíblicos, seu aparecimento está situado a quase oito mil anos antes de Cristo. (SOUZA, 2003). Com isso, o comércio, fundamental para a formação das cidades, surgiu de ma- neira simples através da mera troca de mer- cadorias, isto é, o escambo. Com a adoção da moeda para facilitar a troca, o comércio se intensificou e determinados locais, prin- cipalmente, estradas com grande fluxo de pessoas, se tornaram ponto para feiras co- merciais. A formação das primeiras cidades está relacionada ao comércio e ao poder po- lítico e social. Voltando, na origem das primeiras ci- dades Spósito (2002) destaca a importância da hidrografia na localização das primeiras cidades, tanto na região dos rios Tigres e Eufrates, quanto no rio Nilo. Essa autora in- forma que devido ao clima semiárido dessas regiões a proximidade de cursos de água era fundamental para as cidades. Esse é o caso da capital do Iraque, a cidade de Bagdá, mostrada na figura 01. Essa cidade está loca- lizada nas margens do rio Tigres. 15 Geografia - Geografia Urbana Além da proximidade com os rios, as cidades na antiguidade tinham uma estrutura orga- nizacional interessante, pois havia uma divisão funcional. No caso da cidade de Mileto funda no século V a.C, na Grécia, conforme mostra a figura 02, possuía um estrutura que valoriza o co- mércio, pois a Agora, espécie de mercado, ficava localizada no centro das cidades. Da mesma forma, o poder político estava nessa área. A cidade de Mileto era cercada por muros e mostrava a importância dada ao espaço urbano. Nesse sentido, a cidade era tratada como ponto de co- mércio, poder político e atividades sociais. Isso a tornava o ponto principal para se estabelecer as relações humanas, tanto no aspecto social, como econômico. ▲ Figura 1: Cidade de Bagdá nas margens do rio Tigres. Fonte: http://pt.wikipedia. org/wiki/Bagd%C3%A1. Acesso: 29/11/2010. ◄ Figura 2: Cidade de Bagdá nas margens do rio Tigres. Fonte: http://hipoda- modemileto.blogspot. com/2010/03/mileto-gre- cia-sec-v-ac.html. Acesso: 29/11/2010. 16 UAB/Unimontes - 6º Período A cidade, como centro político, econômico e social, foi potencializada com a expansão dos impérios antigos. Isto porque a cidade era o ponto de referência para a administração do impé- rio, logo, era o local que abrigava os reis e imperadores. Os avanços na infraestrutura se destaca- ram nesse período, um exemplo, é a construção, para a época, de um sistema moderno de esgo- to e abastecimento de água. O exemplo mais emblemático desse período é a cidade de Roma, capital do Império Romano. Destacando as contribuições do Império Romano para a expansão das cidades Spósito (2002, p.22) relata que O poder político do Império Romano permitiu portanto, não apenas que a ur- banização deixasse de ser um processo “espontâneo”, uma vez que muitas ci- dades foram fundadas nas áreas recém-conquistadas para permitir a hegemo- nia política romana sobre estas áreas, como também acabou por propiciar uma ampliação imensa da divisão interurbana do trabalho, pois os ofícios exercidos e a produção das maiores cidades do Império deixaram de suprir apenas os cidadãos (habitantes de uma cidade) e a população rural dos seus arrabaldes, para suprirem também a população de outras áreas do Império e os povos bár- baros além fronteira, incentivando o papel comercial urbano. Essa narrativa de Sposito (2002) aponta o quanto o Império Romano foi importante para difundir a cidade e expandir sua centralidade política e comercial. Obviamente com a queda desse império houve um retrocesso na forma- ção de cidades e a articulação da rede urbana. O fim do império Romano marca o sur- gimento da Idade Média, que se estendeu do século V ao XV, durando cerca de mil anos. O período feudal marca a Idade Média. Esse sistema era demasiadamente agrícola e, ape- nas dois tipos de cidades permaneceram, as cidades episcopais e os burgos. A primeira se destaca como ponto de administração ecle- siástica, haja vista que a Igreja tinha grande força nesse período. A segunda era consti- tuída por espaços cercados por muralhas, construídas por ordens dos senhores feudais. A figura 03 mostra a cidade de Ávila, na Es- panha, exemplo de cidade medieval, com características de fortaleza com presença de muralha e torres. Figura 3: Cidade Medieval de Ávila, na Espanha. Fonte: http://www.portal- saofrancisco.com.br/alfa/ feudalismo/economia- -feudal.php. Acesso: 01/12/2010. ▼ 17 Geografia - Geografia Urbana Sposito citando Mumford (2002) infor- ma que as cidades medievais, tendiam à for- ma arredondada, eram limitadas, concretas e marcadas por planos irregulares, cujas vias principais apontadas para o núcleo central. Embora esses espaços sejam considerados cidades, não podem ter a mesma convicção para afirmar que se tratava de espaços ur- banos, pois a economia e a cultura estavam ligadas ao rural, uma vez que o feudo era basicamente agrícola. Benevolo citado por Spósito (2002, p.32) afirma que para entender a cidade an- tiga, é suficiente uma descrição completa de poucas cidades dominantes: Atenas, Roma, Constantinopla. Ao contrário, na idade mé- dia não existe nenhuma supercidade, mas um grande número de cidades médias, en- tre as quais uma dúzia nos séculos XIII e XIV alcança mais ou menos o mesmo tamanho: dos 300 aos 600 hectares de superfície e dos 50.000 a 150.000 habitantes. Essa situação começa a mudar com o renascimento urbano. Esse fenômeno con- siste na expansão comercial para além da muralha (foris-burgus). Com isso, sugiram novas cidades, agora baseadas na atividade comercial, em pontos de grande fluxo de pessoas. Esse momento marca a transição do sistema feudal para o sistema capitalista. O renascimento das cidades ocorreu no final da Idade Média. Com o comércio, as ci- dades passam a surgir nas rotas comerciais im- pulsionando um novo modelo de produção, o capitalismo. Nesse contexto, Carlos (1994, p.65) aponta que: “o ressurgimento da cidade aparece como um elo responsável pela disso- lução do modo de produção feudal e da tran- sição deste para o capitalismo, na medida em que o destrói, ultrapassando-o ela mesma”. Depois de sua estagnação durante o desenvolvimento do feudalismo na Idade Média, com a intensificação do comércio as cidades passam a concentrar poder político, econômico e cultural. Com o desenvolvimento do comércio ,ocorreu a Revolução Comercial do Sécu- lo XVI que permitiu as cidades crescerem e exercerem poder sobre o espaço em que si- tuavam. A Revolução Comercial se deu por meio do desenvolvimento do comércio re- alizado entre os europeus cristãos e os ára- bes muçulmanosdominadores do Oriente Médio e do norte da África - e também por meio das grandes navegações – pós século XV. Como resultado da Revolução Comercial teve-se a acumulação de capital nas mãos de grupos empreendedores, fortalecimen- to do poder do Estado e o desenvolvimento das técnicas ligadas à indústria e aos trans- portes. (ANDRADE, 1981). No início do capitalismo a classe bur- guesa foi responsável pelo fortalecimento desse novo sistema econômico. A burguesia se enriqueceu com o capitalismo, além dis- so, passou a ter poder político com a forma- ção dos Estados Nacionais. Dessa forma, os burgueses foram responsáveis por financiar e se manterem do capitalismo. A vocação comercial dessa classe social fez com que ela incentivasse o comércio. Assim, a cida- de como palco da circulação e do comércio se fortalece. Portanto, o capitalismo surge e sustenta na cidade. O avanço do capitalismo levou ao au- mento da divisão do trabalho, com a forma- ção das corporações de ofício e as manufa- turas. Isso fez com que surgisse o trabalho assalariado. O aumento da circulação de capital impulsionou o comércio, o que para burguesia era muito importante. A burguesia na tentativa de desenvol- ver ainda mais o comércio incentiva uma expansão marítima comercial. Esse proces- so foi importante para levar a formação de cidades para as “novas terras”. Além disso, enriqueceram, ainda mais, a burguesia e as cidades das metrópoles colonialistas, como Lisboa, Madri e Londres. No caso da expansão Portuguesa, a bur- guesia financiou várias viagens em busca de mercadorias, como ouro e especiarias. A im- plantação da Escola Náutica de Sagres mos- tra a valorização dada à expansão marítima e os resultados que a mesma traria para a burguesia. A figura 04 mostra as principais rotas realizadas pelos navegantes da Coroa Por- tuguesa. Nela se destaca a busca por mer- cadorias, como escravos, especiarias, pedras preciosas e ouro. Além da conquistas de no- vas terras e mercadorias, esse processo foi importante para a criação de novas cidades em pontos distantes da Europa. 18 UAB/Unimontes - 6º Período As grandes navegações realizadas pe- los portugueses no Atlântico primeiramente e, depois, no Mediterrâneo - sob o pretexto de propagar a fé cristã - se expandiram pela África e Ásia. Os colonizadores (portugueses, espanhóis, franceses, ingleses, holandeses) lançavam-se às navegações, à conquista de novas terras e novos mercados explorando áreas em busca de metais preciosos, com isso, intensificou-se o comércio das especiarias no continente europeu. (Andrade, 1981). No caso de algumas colônias Inglesas, como as Treze Colônias, na América do Norte, as cidades se expandiram com a fixação do homem, que implantava uma economia só- lida. No Brasil, os portugueses, fundaram 18 cidades no século XVI. Entre essas, se destaca a cidade de Salvador. As cidades coloniais fun- cionavam como centro político-administrativo, militar ou para escoamento de mercadorias. A importância emergente de cidades lito- râneas e daquelas que se localizavam no interior dos continentes - no contexto das grandes nave- gações - sublinha o caso das cidades da América, como, por exemplo, Lima/Peru, que foi constru- ída pelos espanhóis com a finalidade de se tor- nar porto onde eram embarcados os produtos vindos do interior e que atenderiam a metrópole portuguesa. No Brasil, Olinda, Recife, Salvador e Rio de Janeiro, localizadas no litoral, foram cida- des construídas pelos colonizadores que ganha- ram importância e riqueza. (ANDRADE, 1981). Com o desenvolvimento do capitalismo e a industrialização, as cidades intensificaram seu papel de centro convergente de pessoas e dinheiro. Isso torna o espaço urbano complexo, pois várias atividades passam a ocorrer na cida- de. Como consequência desse interesse pela cidade temos o processo de urbanização. Foi a partir do século XVIII com a Revolu- ção Industrial na Europa que as cidades tiveram mudanças ainda mais significativas e profundas quanto ao tamanho e complexidade. A indús- tria, isto é, a transformação de matérias-primas em produtos elaborados, mudou radicalmen- te as cidades no século XIX com o desenvolvi- mento das máquinas. O desenvolvimento das máquinas multiplicou a força humana; o êxodo rural acelerou-se com o cercamento das terrras comunais e com a possibilidade de empregos pelas fábricas nas cidades. A urbanização se ge- neralizou e a partir daí várias cidades começa- ram a girar em torno da indústria. O comércio entre os vários continentes e a demanda de produtos fabricados pelos burgueses nas indústrias dos centros urbanos aumentou consideravelmente e, um grande contingente de mão de obra proveniente do campo foi incorporado ao trabalho industrial vendendo sua força de trabalho aos burgue- ses, nas cidades. A transferência da população do campo para a cidade propiciou um grande aumento populacional. Isto se deu, sobretu- do1, em função da migração das populações para atender a demanda da mão de obra que as indústrias necessitavam. O desenvolvimento da Revolução Indus- trial foi marcado pela intensificação da produ- Figura 4: Principais rotas marítimas da Coroa Portuguesa. Fonte: http://historia- doriolbeato.blogspot. com/2010_08_01_archive. html. Acesso: 01/12/2010. ► DICAS 1As populações também migram em função da deteriora- ção das condições de reprodução social no meio rural, tais como: escassez de terra, efei- tos climáticos; sendo que estes segmentos não necessariamente serão absorvidos como mão-de-obra pela indústria urbana. 19 Geografia - Geografia Urbana ção de mercadorias que levou a necessidade de mão de obra para atender o setor e poste- riormente, ao aumento do consumo de produ- tos industriais pela população. Já neste momento começam a surgir “ci- dades industriais, com bairros pobres, com grande poluição e com sérios desníveis so- ciais”. (ANDRADE, 1981, p.270). A transforma- ção das cidades e consequentemente do seu meio ambiente foi intensificada com a indus- trialização iniciada em fins do século XVIII. Conforme Stoke on Trent apud Kliass (2002), a exploração de carvão que alimen- tava todo o processo de industrialização degradou a paisagem e o meio ambiente de regiões inteiras da Inglaterra. Nesse período, problemas de tráfego, congestionamento e atropelamentos também foram registrados nas cidades inglesas. Esses, entre outros im- pactos de ordem econômica, política e pro- dutiva foram apontados por Andrade (1981), [...], a Revolução Industrial tornou a cidade, que antes era, sobretudo centro de comércio e de serviços, um centro produtivo que beneficiava a matéria- -prima oriunda do campo, aumentando a dependência do campo em relação à própria cidade e permitindo que os seus habitantes tivessem maior acesso à riqueza que os do campo. Possibilitou também o grande crescimento urbano, acentuando a estratificação espacial do uso do solo – separação entre bairros habitados por pessoas de classes diferentes, e o aumento da poluição. (AN- DRADE, 1981, p.270). Dessa maneira, a indústria teve na cida- de o palco para o seu desenvolvimento: “A ci- dade guardando a reunião dos mercados, da força de trabalho, dos consumidores, acabou por potencializar a atividade industrial”. (DA- MIANI, 1999, p.119). Mas a evolução e a transformação das cida- des viriam a se intensificar ainda mais com o fe- nômeno da urbanização (século XIX) denotando uma nítida e forte relação cidade-urbanização. Na Idade Contemporânea, as cidades não mais se especializam em uma mesma função, cada uma delas pode apresentar uma ou mais funções que são elas: comercial, industrial, reli- giosa, política e turística. A cidade contemporânea resulta de to- das as outras e a partir das transformações que nelas ocorreram em diversos períodos. Assim, Spósito (2001, p. 11), reitera que a ci- dade de hoje: “(...) é o resultado cumulativo, de todas as outras cidades de antes, trans- formadas,destruídas, reconstruídas, enfim produzidas pelas transformações sociais ocorridas através dos tempos engendrados pelas relações que promovem estas trans- formações”. As cidades da atualidade e suas paisa- gens são resultados da intensa modificação pelas quais passou e passa a humanidade. Um dos fatores de grande importância que coopera para as modificações urbanas são as migrações, quando homens em busca de melhores condições de vida vivem em cons- tante migração. 1.3 O crescimento das cidades e as atividades que transformam as cidades O crescimento das cidades se dá a partir do momento em que elas se tornam atrativas, no- tadamente do ponto de vista econômico e ideo- lógico. As cidades são desiguais em dimensões, paisagens e fatores de atração. Tais fatores fazem com que cada cidade cresça de maneira desigual tanto territorial, social, como economicamente. Para Spósito (2002, p.17), “as cidades, ao do- minarem áreas maiores, tornaram-se receptoras de excedente do campo, fortalecendo a força po- lítica de seus governantes e com isso criando as condições para a constituição de impérios”. Visando atender necessidades diversas de consumo, a população migra para centros de melhor infraestrutura e oferecimento de equi- pamentos urbanos. Os motivos para os deslo- camentos podem ser compras, trabalho, estu- do, dentre outros. DICAS Filme Sugerido para Debate: O Nome da Rosa. O filme permite compreender o pro- cesso de urbanização e as condições históricas para a origem e desen- volvimento das cida- des. A história se passa em 1327, na Europa. DICAS Sugerimos como forma de aprofundamento a Leitura do Livro "Capi- talismo e Urbanização" (SPÓSITO, Maria En- carnação Beltrão. São Paulo: Contexto, 1991). 20 UAB/Unimontes - 6º Período Existem duas formas de expansão das cidades, sendo elas o crescimento horizontal e vertical. Quando a cidade cresce horizontal- mente ela vai ocupando áreas que eram desti- nadas à agricultura e pecuária. Essas áreas são divididas territorialmente em lotes. O lote tem seu caráter de mercadoria, quando bem loca- lizado e juntamente com as benfeitorias que alguns locais dispõem, seu valor é acrescido e varia conforme a supervalorização do local. O crescimento vertical relaciona-se a construção de edifícios. Esse crescimento decorre da necessidade de se criar espaços para a realização de atividades comercial e residencial. O adensamento de edifícios faz- -se maior no núcleo central das cidades e à medida que afastamos dessa região perce- bemos sua minimização, como podemos perceber na figura 5 que mostra a cidade de Montes Claros. É através da ação do poder público e da iniciativa privada que se têm o financiamen- to e a construção de edifícios para os usos residenciais, comerciais e de prestação de serviços. As cidades alteram-se conforme a evolu- ção da sociedade. Elas tornam-se mais dinâ- micas e complexas. Os moradores necessitam dos meios de consumo coletivo, tais como: hospitais, escolas e áreas de lazer. Eles traba- lham, deslocam-se no espaço urbano, pro- duzem e reproduzem a cidade. As atividades urbanas desempenhadas pelo homem trans- formam o espaço para atender as necessida- des da sociedade. Nesse sentido, as cidades mudam seu tra- çado e essas modificações obedecem a uma lógica de distribuição de atividades comer- ciais, prestação de serviços e migração popu- lacional presentes na cidade. Além das alterações ocorridas nas ci- dades, o cotidiano das pessoas se modifica ▲ Figura 5: Vista Parcial de Montes Claros - MG Fonte: www.dkyscra- percity.com. Acesso: 09/11/2010. 21 Geografia - Geografia Urbana acompanhando o ciclo de desenvolvimento da sociedade na qual estão inseridas. Os ha- bitantes urbanos encontram-se em constante movimento, seja para trabalhar, estudar, fa- zer compras. Com o intuito de facilitar o des- locamento, os meios de transporte tentam ser mais eficientes, avenidas e ruas tornam-se mais largas e sinalizadas para que pessoas e veículos se movam com agilidade e tranqüili- dade. Faixas de pedestres, placas, semáforos vão se difundindo pelas ruas na tentativa de controlar os fluxos de pedestres e automóveis. As modificações ocorridas na cidade in- fluenciam também o ritmo de vida no cam- po. Através do aumento do consumo urbano intensifica-se a produção de alimentos, com isso novas técnicas de produção são implan- tadas e à medida que o campo se moderniza inúmeras pessoas migraram para as cidades desenvolvendo atividades econômicas diver- sas, contribuindo assim, para a modificação da estrutura urbana. Os elementos que constituem e modifi- cam as cidades tais como as indústrias e o co- mércio são de fundamental importância para desenvolvê-las ou estruturá-las. O consumo e a produção industrial crescente impactam a estrutura urbana, ampliando e melhorando os meios de transporte, telecomunicação, tais transformações visam facilitar a entrada e a sa- ída de mercadoria e pessoas. A indústria é uma atividade que causa grandes transformações nas cidades. Sua lo- calização é diferente em cada cidade. Algumas indústrias se localizam em áreas distantes do núcleo central, ou seja, em lugares onde o pre- ço da terra é mais acessível, outras se instalam no interior das cidades próximas ao núcleo central. Devemos considerar ainda nessa pers- pectiva, os fatores locacionais, ou seja, as vantagens oferecidas para implantação das atividades industriais, sendo eles: maté- ria prima abundante e barata; mão de obra abundante e barata; energia abundante e barata; mercados consumidores; infraes- trutura; vias de transporte e comunicações; incentivos fiscais; legislações fiscais, tribu- tárias e ambientais amenas. (SPÓSITO, 2004, 1994; ROSS, 2000). Esses fatores contribuem para o aumento da produção, diminuição dos custos e agilidade na inserção do pro- duto no mercado. As cidades também são modificadas por processos e formas espaciais, como será de- batido no próximo item. 1.3.1 Processos e formas espaciais O espaço urbano se produz e reproduz cotidianamente através da ação de atores diversos. Essa ação resulta em processos e formas espaciais que se desenvolvem nas cidades associados à dinâmica econômica e espacial da sociedade capitalista. Os processos e as formas espaciais devem ser analisados numa perspectiva dialética, ou seja, são complementares entre si. Corrêa (1989) aponta os seguintes processos sociais e suas res- pectivas formas: Centralização e Área central; Descentralização e os Núcleos secundários; Coesão e as Áreas especializadas; Segregação e as Áreas sociais; Dinâmica espacial da segregação; Inércia e as Áreas cristalizadas. 1.3.1.1 Centralização e Área Central As atividades comerciais estão espalhadas por todo o espaço urbano, tanto em áreas cen- trais como em áreas periféricas. Tradicionalmente, nas grandes, médias ou pequenas cidades tem-se a maior concentração econômica no Núcleo Central. É nesse local que se concentram o maior número e diversificação de atividades econômicas, pois as pessoas por ali se deslocam para o trabalho, consumo, lazer, enfim, satisfação de necessidades diversas, como é mostrado nas figuras 06 e 07. 22 Com o crescimento territorial e demo- gráfico, a área central transforma-se profun- damente deixando de ser o lócus de consumo exclusivo da população e de reprodução da atividade econômica. O dinamismo econômi- co e a instalação de novas infraestrutura oca- sionam a emergência de novas formas urba- nas em áreas não centrais. A centralização é um processo de concen- tração de atividades econômicas (comércios, serviços e indústrias), político-administrativas e infraestrutura na área urbana. Esse proces- so espacial se materializa, sobretudo, na Área Central. No interior das cidades, as áreas cen- trais expressam espaços onde coexistem usos comerciais e residenciais com uma organiza- ção sócioespacial bastante complexa. As áreas centrais recebemgrande circulação e fluxos de pessoas, mercadorias e capitais que possi- bilitam o consumo e a dinâmica econômica desses espaços. A área central é um importante espaço das cidades que concentra atividades econô- micas, serviços e fluxo diversos – pedestres, veículos, consumidores, além de ser uma área de grande acessibilidade e infraestrutura ur- bana. Em função disso, possui um alto valor no solo urbano se comparada com as demais áreas de uma cidade. Ela é, portanto, dispu- tada por diversos agentes econômicos, que a Figura 6: Vista parcial da Praça Dr. Carlos Versiani. Autor: França, I. S. de./ Nov. 2005. ► Figura 7: Rua Simeão Ribeiro, área comercial central conhecida como Quarteirão do Povo, Núcleo Central de Montes Claros – MG. Autor: França, I. S. de./ Nov. 2005. ► 23 Geografia - Geografia Urbana vislumbram para instalarem atividades econô- micas lucrativas. Spósito (2001, p.235) utiliza a expressão “área central” para designar os diferentes seto- res urbanos nos quais se observa a concentra- ção de atividades comerciais e de serviços, tais como o núcleo principal, os eixos de desdo- bramento das atividades nele desenvolvidas, os subcentros de comércio, os shoppings cen- ters, as vias especializadas, entre outras. Tal como expõe Spósito (2001, p.237), “A ocorrência de áreas centrais nas cidades resulta, via de regra, de um processo histórico de loca- lização das atividades comerciais e de serviços no interior delas”, o que faz essas áreas serem também o local para onde as pessoas se diri- gem quando desejam fazer compras, uma vez que ali, tradicionalmente se concentram os setores de serviços (médicos e odontológicos; comerciais; bancários; administrativos - prefei- turas e fóruns; entre outros). Em outras palavras, a área central expres- sa o espaço de consumo de produtos que uma população busca para satisfazer necessidades diversas, sendo um espaço dominado por seg- mentos de vários níveis econômicos. Assim, pode-se afirmar que as formas de consumo e apropriação da área central, entre os indivídu- os diferenciam-se conforme o maior ou menor poder aquisitivo da população. Conforme Corrêa (1989) o processo de centralização, ao criar a área central, a seg- mentou em dois setores: o núcleo central e a zona periférica. Características associadas ao uso do solo, ao crescimento horizontal, a concentração de pessoas e o tráfico de carros diferenciam esses dois segmentos. O núcleo central apresenta ampla escala vertical, pois trata-se de uma área de uso intenso do solo, com um limitado crescimento horizontal. A zona periférica possui ampla escala horizontal, apesar do limitado crescimento horizontal, em virtude das novas indústrias e empresas. O termo “área central” precisa ser distin- guido do conceito de núcleo central, sendo que as áreas centrais incluem as ruas, nas quais se encontram funções próprias do núcleo cen- tral, além de áreas industriais e residenciais, não sendo fácil a tarefa de distinguir área cen- tral e núcleo central. (PEREIRA, 2001). Para uma melhor compreensão dos significados das ex- pressões torna-se necessário discuti-las e elu- cidar suas diferenças e complementaridades. Por muito tempo, os núcleos centrais das cidades eram palco de atividades econômicas, políticas e culturais, visto que sediavam, exclu- sivamente, órgãos de decisões governamen- tais, escritórios, museus, bibliotecas, indús- trias, comércios varejista e atacadista, além de outros setores ligados ao comércio e presta- ção de serviços. É válido lembrar que o núcleo central também possuía, uma forte função residencial, abrigando uma população geral- mente de alto poder aquisitivo. Mudanças no ritmo de consumo das populações e nas estru- turas de transporte e telecomunicações, bem como a emergência de novas tecnologias, em geral, têm provocado novos papéis e uma nova dinâmica nesse espaço. Essa argumentação encontra sustentação em Corrêa (1989) quando o mesmo considera que o núcleo central é a área da cidade de uso mais intensivo, com maior concentração de atividades econômicas, sobretudo, ligadas ao setor terciário. Nele concentram-se edifícios e escritórios juntos uns aos outros que viabi- lizam as ligações comerciais. Nas pequenas e médias cidades, notadamente, o núcleo cen- tral é limitado em termos de extensão, sendo possível percorrê-lo a pé, sendo que, nele há concentração diurna de pessoas e pedestres durante as horas de trabalho. Ele é um foco de transportes interurbanos e é área de impor- tantes decisões. Os núcleos centrais das cidades consoli- dam-se como espaços econômicos na medida que diminuem sua função residencial, sendo que as pessoas que residem no núcleo central optam por morar em apartamentos em razão de segurança e praticidade. Indústrias, comér- cios varejista e atacadista e depósitos, que an- tes se localizavam nos núcleos centrais, vão migrando para as periferias das cidades, em terrenos que lhes ofereçam menores custos e maiores vantagens locacionais e isenção de impostos. Os centros das cidades modernas apresen- tam características especiais em relação à ocu- pação do solo e desempenham funções parti- culares. Na medida em que o tecido urbano se expande eles vão se reestruturando, assumindo novas formas, novos usos e consolidando-se numa estrutura basicamente comercial. São ex- tremamente importantes na compreensão da dinâmica intraurbana, pois é a partir deles que as cidades surgem e se expandem. Nem sempre o núcleo central de uma ci- dade corresponde no seu interior ao núcleo geográfico como também não se pode dizer que sempre ele equivale ao espaço histórico no qual tal cidade se originou e se expandiu. Entretanto, pode-se assegurar que o núcleo central é primordialmente o espaço interno para onde se convergem e divergem fluxos humanos e econômicos constantes. Quanto às mudanças na forma e função dos núcleos centrais que resultam na forte ap- tidão comercial que esses exercem atualmente, pode-se destacar como fatores relacionados a esse processo o aumento dos preços do solo ur- 24 UAB/Unimontes - 6º Período bano, juntamente com a elevação dos aluguéis e impostos; o congestionamento do tráfego pelo grande fluxo de pedestres e veículos; ele- vados custos no sistema de transporte individu- al e coletivo; diminuição de espaço físico para a expansão das atividades econômicas e ausên- cia ou perda de amenidades. (COLBY, 1958). Através do núcleo central, dotado de fi- xos (estabelecimentos comerciais, serviços, praças, igrejas, bibliotecas, museus), a área central, dotada de fluxos (capitais, merca- dorias, pessoas, idéias), produz e reproduz a centralidade e, consequentemente, a multi- centralidade ou centralidades novas. Se o núcleo central se revela pelo que se localiza no território, a centralidade é desvelada pelo que se movimenta no território, relacionando a compreensão da centralidade, no plano conceitual, prevalentemente à dimensão temporal da realidade.O que é central é definido em escalas temporais de médio e lon- go prazo pela mudança na localização territorial de atividades. A centralidade é redefinida continuamente, inclusive em escalas temporais de curto prazo, pe- los fluxos que se desenham através da circulação das pessoas, das mercadorias, das informações, das idéias e dos valores. (SPÓSITO, 2001, p.238). Existe uma tendência nas grandes e médias cidades das áreas centrais se firmarem como espaços quase que exclusivamente comerciais, com o abandono de famílias que vendem suas habitações para residir em outras regiões das cidades. Com isso, a área central com boa infra- -estrutura passa pela valorização e conseqüente especulação imobiliária. 1.3.1.2 Descentralização e núcleos secundários A expansão territorial das cidades aconte- ce por diversos fatores, dentre eles o aumento da demanda por habitações gerado pelo cres- cimento populacional; o surgimento de novas formas de morar, por exemplo, a expansão dos loteamentosque se dá geralmente por mecanis- mos especulativos; as transformações nas áreas centrais que aumentam a concentração de ati- vidades e disponibilidade de serviços, enquanto diminui sua função meramente residencial. Quando uma cidade expande territorial- mente, significa que ela absorve e/ou incor- pora áreas e parcelas de território, processo denominado de expansão territorial horizon- tal. Um fenômeno importante na configuração das cidades é a descentralização da área cen- tral apontando novas centralidades. A expan- são territorial viabiliza a expansão urbana para bairros e novos loteamentos em regiões dis- tantes da área central, apontando o surgimen- to de novos espaços comerciais e de prestação de serviços. Corrêa (1989) argumenta que a descen- tralização está associada ao crescimento da cidade em termos demográficos e espaciais. A competição pelo mercado consumidor leva as firmas comerciais a descentralizarem seus pontos de vendas, através da criação de filiais nos bairros das cidades. Esse processo é via- bilizado pelo desenvolvimento dos meios de transportes mais flexíveis. O autor chama a atenção para a necessi- dade de considerar a própria dinâmica capi- talista, que atua juntamente com fatores de repulsão e atração de atividades, e que, nessa dinâmica, estão também presentes os inte- resses individuais dos setores de transporte e imobiliário. A descentralização torna-se um meio para manutenção da taxa de lucro, que a exclusiva localização central não é mais capaz de fornecer. Assim, constata-se no capitalismo monopolista a centralização de capital e a des- centralização espacial. O processo de descentralização da área central vem ocorrendo no Brasil cidades gran- des e médias, a partir da segunda metade do século XX. Tal área deixa de ser o espaço exclu- sivo de produção e reprodução da atividade econômica. Os subcentros em comércios e serviços, os shopping-centers, os supermercados, as vias especializadas2, entre outras, são exemplos de novas centralidades urbanas. Essas novas for- mas comerciais são resultantes do crescimento demográfico e territorial das cidades que im- põe a necessidade de satisfação de consumo de necessidades da população residente em espaços distantes física e geograficamente do núcleo central. Também a própria lógica de re- produção e maximização do capital responde a essa tendência. Corrêa (1989, p. 45-60) discute o processo de descentralização de equipamentos comer- ciais para outras áreas da cidade como uma tendência necessária e inerente ao espaço in- tra-urbano. DICAS 2Para maior detalha- mento desses temas consultar: FRANÇA, I. S. de. A cidade média e suas centralidades: o exemplo de Montes Claros no Norte de Minas Gerais. Disser- tação de Mestrado em Geografia. UFU – Uber- lândia, MG, 2006. 240f. 25 Geografia - Geografia Urbana A descentralização aparece em razão de vários fatores. De um lado, como uma medida das empresas visando a eliminar as deseconomias geradas pela exces- siva centralização na Área Central. De outro, resulta de uma menor rigidez lo- cacional no âmbito da cidade, em razão do aparecimento de fatores de atração em áreas não centrais. [...] A descentralização está também associada ao cres- cimento da cidade, tanto em termos demográficos, como espaciais, amplian- do as distâncias entre Área Central e as novas áreas residenciais; a competição pelo mercado consumidor, por exemplo, leva as firmas comerciais a descentra- lizarem seus pontos de venda através da criação de filiais nos bairros. A escolha de espaços potenciais ao con- sumo e à reprodução do capital é entendida, na visão de Villaça (2001, p.45), como uma con- dição primordial à instalação de novas áreas comerciais em diferentes espaços da cidade. Conforme o autor, “[...] a dominação através da estruturação do espaço intra-urbano visa prin- cipalmente à apropriação diferenciada de suas vantagens locacionais. Trata-se de uma dispu- ta em torno das condições de consumo”. Carlos (2005) relaciona as novas for- mas de consumo associadas ao processo de mundialização e reprodução do capital financeiro que busca novos espaços, inclu- sive demandas locais de menor especializa- ção e funcionalidade. Ao reunir comércio e serviços, os sub- centros (ver figura 08) atraem equipamentos urbanos que, por sua vez, funcionam como atrativos para empreendedores interessados em investimentos. Além disso, atraem a po- pulação que procura espaços para morar que atendam aos seus anseios. As vias especializadas em comércio ou serviços, também conhecidas como desdobramento da área central, constituem formas comercias intra-urbanas. Esses espaços se diferenciam da ex- pansão da área central ou dos subcentros de comércio e serviços por não serem áreas contínuas e de expansão geográfica a eles. Ao fazer referência às vias especializadas, Ribeiro (2004, p.4-5) dispõe que: “Os desdobramentos são áreas que se caracterizam pela especialização de serviços, lazer, empresarial e financeiro. São áreas em que não se reproduzem atividades tipicamente cen- trais, mas de seleção de algumas dessas”. A formação de eixos comerciais especializados começa a se destacar, tanto pela sua impor- tância comercial, como para o desenvolvimento de novas centralidades no âmbito intra-urbano. Corrêa (1989, p.56) considera que para a formação desses eixos especializados, há que se ter um processo de coesão que leve as atividades a se localizarem juntas. A esse respeito Corrêa (1989, p.57) destaca que: “neste sentido é preciso notar que a coesão é um processo que está presen- te tanto na centralização como na descentralização, tornando-os de fato mais complexos, assim como a organização espacial intra-urbana.” 1.3.1.3 Coesão A coesão ocorre tanto na Área Central, ou fora da mesma. O processo de formação de ruas ou avenidas especializadas reúne muitos comércios e/ou prestação de serviços organizados hie- rarquicamente e articulados com várias regiões da cidade e até mesmo com alcance regional. Em Montes Claros, cidade média norte-mineira, assistimos a formação do processo de des- centralização associado à emergência de novas centralidades, como por exemplo, as vias espe- cializadas ligadas a setores diversos, tais como: a) serviços automotivos e de peças e acessórios para automóveis - Avenida Dulce Sarmento; b) concessionárias de caminhões e tratores – Aveni- da Deputado Plínio Ribeiro; c) concessionárias, financiamentos e aluguéis de automóveis – Ave- ▲ Figuras 8: Subcentro em Comércio e Serviços Major Prates, Zona Sul de Montes Claros. Av. Francisco Gaetani: Principais Atividades Comerciais e de Prestação de Serviços Autor: FRANÇA, I. Ju- lho/2010 26 UAB/Unimontes - 6º Período nida Dulce Sarmento; d) serviços, peças e acessórios para motocicletas – Avenida Geraldo Athay- de, dentre outras. Na Avenida Dulce Sarmento, próxima à área central de Montes Claros/MG constituiu-se uma via especializada com concentração de atividades terciárias voltadas para o setor de veículos. Ati- vidades diversas ligadas a esse ramo se aglomeraram nessa via e se especializaram em um tipo de comércio que atende essa demanda de consumo da população. (Figuras 09 e 10). Nessa área encontra-se a localização de atividades classificadas como centrais, mas dotadas de especialização funcional sendo que a Avenida Dulce Sarmento desempenha um papel de eixo comer- cial especializado no setor de veículos com venda, compra, aluguel, serviços e acessórios. Já as Avenidas Geraldo Athayde e Deputado Esteves Rodrigues transformaram-se em vias espe- cializadas em comércio e serviço para motocicletas. (Figuras 11 e 12). Tal concentração de atividades é fruto do processo de coesão já abordado e, forma um conjunto funcional, onde vários consumidores são atraídos face à possibilidade de escolha de determinado produto; no caso específico em análise, de autopeças, acessórios e serviços destinados a veículos automotores e moto- cicletas; bem como ao preço, emuma porção específica do espaço localizado dentro da rede intra-urbana, constituindo assim as vias espe- cializadas, expressão das novas formas espa- ciais urbanas, dentro da economia capitalista. Os consumidores dessas áreas buscam por locais que se distanciem do tumulto do núcleo central, visando compras com maior praticidade e conforto. Os empreendedores tendem a investir em benfeitorias a fim de sa- tisfazer essa clientela seleta e maximizar seus lucros. Essa nova centralidade, ou seja, a via especializada em comércio e serviços está li- gada ao centro principal por meio dos eixos de transporte e infraestrutura urbana, aten- dendo uma clientela local e regional bastan- te diversificada. Sobre esse assunto, SPÓSITO (1991, p.27) aponta que as vias especializadas “[...] geralmente desempenham o papel de acesso das rodovias às áreas mais centrais, Figura 9: Vista parcial: Avenida Dulce Sarmento Autor: FRANÇA, I. S. de./ julho. 2008 ▼ Figura 11: Vista parcial: Avenida Geraldo Athayde. Autor: FRANÇA, I. S. de./ julho. 2008 ► Figura 10: Vista parcial: Avenida Dulce Sarmento. Autor: FRANÇA, I. S. de./julho. 2008 ▼ Figura 12: Vista parcial: Avenidas Deputado Esteves Rodrigues e Geraldo Athayde. Autor: FRANÇA, I. S. de./ julho. 2008 ► 27 Geografia - Geografia Urbana que se caracterizam pela incidência de ofici- nas automobilísticas, lojas de autopeças, con- cessionárias, enfim, comércio e serviços liga- dos ao setor de veículos”. A emergência de novas formas comerciais relaciona-se ao elevado crescimento popula- cional vivenciado pelas cidades que tem gera- do uma expansão da malha urbana, associada à necessidade de moradia, trabalho e, con- seqüentemente, ampliação do consumo. No processo de expansão territorial das cidades, verifica-se o surgimento de bairros e novos loteamentos em regiões distantes da área cen- tral, aponta-se o surgimento de novas formas comerciais. Esses fatores justificam o surgi- mento de subcentros de comércio e serviços, vias especializadas, shopping-centers, dentre outros. 1.3.1.4 Inércia e Áreas Cristalizadas De acordo com Correa (1989) a inércia ocasiona a cristalização de áreas das cidades, implicando na preservação ou permanência de determinadas formas e conteúdos. Toda- via, tais áreas, como por exemplo, os centros antigos das cidades, podem ter a inércia re- vertida, na medida em que processos de re- vitalização desses espaços introduzam ou re- cuperem formas de uso e ocupação. Pode-se destacar algumas cidades que tem investido em moradia e revitalização do comércio nas áreas centrais, como São Paulo/SP. Em Mon- tes Claros/MG o projeto Viva o Centro é um exemplo. 1.3.2 Espaço Intra-urbano e Inter-urbano e a produção do espaço urbano: os agentes urbanos Os espaços urbanos devem ser pensados sob duas escalas – a intra-urbana e a inter-urbana. O intra-urbano é aquele local onde se manifesta a vida econômica, política, social e cultural da cidade e de seus habitantes no âmbito interno. Já o espaço inter-urbano revela o raio de ação es- tendido de uma determinada cidade para além do limite municipal. A partir da articulação entre cidades tem-se a emergência de redes urbanas. Sobre as escalas intra e inter-urbanas, Cavalcanti (2001, p.12-13) destaca que A geografia estuda o espaço urbano numa escala intra-urbana, isto é, o arranjo interno dos espaços urbanos e, numa escala regional, os arranjos de espaços que compõem uma determinada área formada por um conjunto de cidades, que tem sido estudados com base no conceito de rede e região. Nessa perspectiva, deve-se analisar o espaço – articulando seus âmbitos locais e regionais, “o intra-urbano não poderia mesmo ser compreendido sem a apreensão de sua relação com uma totalidade que o extrapola”. (CAVALCANTI, 2001). A respeito da dinâmica interna das cidades e sua organização socioespacial e econômica en- gendrada por processos diversos que culminam na constante transformação e competitividades das áreas urbanas, Bitoun (1997, p.57) destaca: “Nada aponto para o desaparecimento das cida- des, mas tudo indica que os espaços intra-urbanos se tornam cada vez mais selecionados, quali- tativamente diferenciados por misteriosos processos”. É nesse sentido que os espaços intra-urbanos devem ser analisados, ou seja, a partir de sua infraestrutura, tecnologia, produção, consumo, trabalho, lazer, serviços, cultura e modos de vida. Segundo Villaça (1998), o intra-urbano enfoca um conjunto de elementos que são muito relevan- tes para a compreensão do urbano como modo de vida e para o estudo da estrutura interna da cidade. Santos (1989) e Cavalcanti (1999) sistematizaram alguns elementos para análise da escala intra-urbana, sendo eles: • O Plano Urbano, • A Densidade da População, • As Habitações e os Imóveis de Uso Comercial, • Os Equipamentos de Serviços, 28 UAB/Unimontes - 6º Período • Características Demográficas, Étnicas e Sócio-Profissionais, • A produção, a Circulação e a Moradia. Todos esses elementos são importantes para o estudo da dinâmica interna das cidades con- siderando suas especificidades ao longo do tempo. As cidades modernas são marcadas cada vez mais por um grande crescimento demográfi- co, econômico e científico-tecnológico o que tem levado a importantes transformações urbanas quanto à sua estrutura, dinâmica, função e organização. Essas transformações são materializadas no espaço urbano através da ação de diversos agentes. De acordo com Corrêa (1989, p.12) são cinco os agentes responsáveis pelas transformações e modificações do espaço das cidades, a sa- ber: a. os proprietários dos meios de produção, sobretudo os grandes industriais; b. os proprietários fundiários; c. os promotores imobiliários; d. o Estado; e e. os grupos sociais excluídos. Para o autor citado acima, [...] a ação desses agentes serve ao propósito dominante da sociedade capi- talista, que é o da reprodução das relações de produção, implicando a conti- nuidade do processo de acumulação e a tentativa de minimizar os conflitos de classe, este aspecto cabendo particularmente ao Estado. (CORRÊA, 1989, p.12). Cada agente realiza sua ação motivado, sobretudo, por interesses econômicos e po- líticos, todavia eles possuem funções bem definidas. Para Corrêa (1989, p.16), “os pro- prietários fundiários podem então exercer pressões junto ao Estado, especialmente na instância municipal, visando interferir no pro- cesso de definição das leis de uso do solo e do zoneamento urbano”. Os promotores imobiliários, são forma- dos por vários agentes que realizam diver- sas operações no solo urbano, são eles: os arquitetos e economistas; pessoas físicas e jurídicas; firmas especializadas nas mais di- versas etapas do processo produtivo, ou seja, as construtoras civis; os corretores, os plane- jadores de vendas e os profissionais de pro- paganda, etc. Eles são os responsáveis por fazer o capital atuar no mercado imobiliário de maneira efetiva, contribuindo assim com a especulação imobiliária no solo urbano. (CORRÊA, 1989). Corrêa (1989, p.23) aborda a questão da dominação dos promotores imobiliários, que agem no solo urbano instaurando a segrega- ção socioespacial, principalmente quando se cria instrumentos e ambientes que represen- tam essa segregação, como é o caso dos con- juntos habitacionais, que são novas formas de habitat que favorece as classes de média e baixa renda, uma vez que são mais viáveis, em relação aos preços, para essa população. O Estado é o grande responsável por be- neficiar a construção de empreendimentos que favoreçam os grandes promotores imobi- liários, sendo ele também o dono de grande parte do solo urbano. Corrêa (1989, p.24) lem- bra que primeiramente devemos observar as ações do Estado e, posteriormente, as ações dos outros agentes. Uma primeira observação refere-se ao fato de o Estado atuar diretamente como grande industrial, consumidor de espaço e de localizações específicas, proprietáriofundiário e promotor imobiliário, sem deixar de ser também um agente de regulação dos usos do solo e o alvo dos chamados movimentos so- ciais urbanos. (CORRÊA, 1989, p.24) Os Grupos Sociais Excluídos são o produ- to das ações da elite social (promotores imobi- liários, proprietários fundiários e proprietários dos meios de produção) e do Estado. Eles são excluídos de meios que lhe possibilitem melho- res condições de vida e infraestrutura urbana: saneamento, pavimentação, luz elétrica, servi- ços de saúde, educação e lazer. Esses agentes residem em moradias populares ou áreas se- gregadas periféricas onde não há uma boa rede de transporte público e infra-estrutura urbana. Isso demonstra que o espaço urbano é reflexo e condicionante social (CORRÊA, 1989). Os grupos sociais excluídos representam a produção de ci- 29 Geografia - Geografia Urbana dades desiguais, processo intimamente ligado ao capitalismo e ação das classes dominantes detentoras dos bens de capital. Enfim, o espaço urbano se encontra em constante reconfiguração e dinamismo espa- cial. As transformações nele inseridas refletem a ação desses agentes de acordo com as suas intencionalidades. Corrêa (1989) destaca os agentes responsá- veis pela produção e consumo do espaço urba- no: os proprietários dos meios de produção, os proprietários fundiários, os promotores imobili- ários, o Estado e os grupos sociais excluídos. A ação de cada um desses agentes é es- pecífica e ao mesmo tempo conjunta, uma vez que eles compõem o espaço urbano e, conse- quentemente, a sociedade em que se inserem. Na cidade a ação desse agentes se dá a partir da presença de grandes proprietários industriais e empresas comerciais, dos donos de terra urbana ou especuladores ao lado dos promotores imobiliários e do Estado enquanto [...] industrial, consumidor do espaço e de locali- zações específicas, proprietário fundiário e pro- motor imobiliário, sem deixar de ser também um agente regulador do uso do solo e o alvo dos chamados movimentos sociais urbanos. (CORRÊA, 1989, p.24). Soma-se, a presença dos grupos sociais excluídos – moradores que resi- dem em áreas de risco, favelas e periferias. Esta população é aquela que se encontra excluída de serviços básicos à qualidade de vida ou quando dispõem deles – são insuficientes. Problemas relacionados à habitação, baixo ní- vel de escolaridade, subeemprego, doenças es- tão presentes nas cidades e marcam as diferen- ças sociais quanto ao acesso de bens e serviços produzidos socialmente. Isto porque, apreende-se o espaço wurbano como [...] um reflexo da sociedade. Assim o espaço da sociedade capitalista é forte- mente dividido em áreas residenciais segregadas, refletindo a complexa es- trutura social em classes, [...]. Por ser reflexo social e fragmentado, o espaço urbano, especialmente o da cidade capitalista, é profundamente desigual: a desigualdade constitui-se em característica própria do espaço urbano capitalis- ta. (CORRÊA, 1989, p.8). O referido autor destaca entre os processos espaciais3 a segregação que se vincula a existên- cia e reprodução dos diferentes grupos sociais e a divisão social e econômica do espaço. Sobre esse processo, Corrêa (1989, p.64) comenta “A segregação [...] aparece com um duplo papel, o de ser um meio de manuten- ção dos privilégios por parte da classe domi- nante e o de um meio de controle social por esta mesma classe sobre os outros grupos sociais, [...]”. As desigualdades sociais e econômicas são processos típicos do capitalismo, mas são mutáveis ao longo do tempo. Sua dinâmica pode implicar a reprodução de novas formas urbanas, novos conflitos e novas áreas sociais, segregadas ou não. Trata-se de uma dupla di- mensão do processo de segregação que de- manda algumas questões, dentre elas: Quais estratégias e práticas podem ser desempenha- das pelos agentes urbanos na produção de es- paços social e economicamente mais viáveis? 1.4 Cidade, urbano e espaço urbano A análise da cidade e do urbano pelas ciências sociais, humanas e econômicas se faz necessária, no sentido de unir esforços que contribuam para o conhecimento do espaço urbano em constante transformação e as possíveis intervenções voltadas para o bem estar econômico, social e ambiental dos citadinos; para isso é indispensável que as ciências atuem interdisciplinarmente, e se articulem para produzir o todo. Assim, a contribuição da Geografia é de salutar im- portância nesse processo, uma vez que esta possui uma atenção especial sobre o espaço urbano a partir de uma perspectiva espa- cial, o que a diferencia das demais ciências em termos de análise. Nesse sentido, a produção do saber geográfico é de suma importância para contribuir com o conhecimento do espaço que é histórico, social, dinâmico e desigual, ao mesmo tempo em que é contínuo/des- contínuo (CARLOS, 2002, p.163). Com isso, DICAS 3 Trata-se de uma expressão empregada por geógrafos para tentar dar conta do que ocorre no espaço ao longo do tempo. (COR- RÊA, 1989, p.37). 30 UAB/Unimontes - 6º Período a autora chama a atenção acerca de que o pensamento geográfico não é homogêneo e linear, mas ao contrário; é através dos de- bates, contradições e múltiplas abordagens que se busca compreender a realidade socioespacial. Definir as cidades, assim como outros te- mas da Geografia, não é uma tarefa fácil. Já existe uma vasta literatura na Geografia a res- peito dessa temática cujo desenvolvimento se deu notadamente entre os séculos XIX e XX: Entre as ciências humanas e sociais, a geografia parece ter sido a primeira a se interessar pelo estudo das cidades; sua produção científica nesse campo é vas- ta e remonta ao século XIX. No Brasil, essa tradição também é antiga e data da terceira data do século XX. Apesar dessas precedências, só há pouco tempo a disciplina alcançou, em nosso país, a pluralidade de orientações teórico-meto- dológicas que caracteriza a produção das demais áreas. (ABREU, 2002, p.43). Podemos denominar cidades como uma aglomeração de pessoas num determinado local exercendo atividades econômicas que se alteram profundamente ao longo do tempo. As cidades podem ainda, serem conceituadas como espaço de inovação, palco político, eco- nômico e cultural das sociedades. Do ponto de vista material e imaterial elas são a representa- ção e o reflexo dos seus habitantes. Dessa forma, a cidade pode ser interpre- tada do ponto de vista acadêmico e político administrativo, tal como retrata a figura 13. 1- Os significados de Cidade No Brasil, o município é a menor unidade territorial com governo próprio, formado pelo distrito-sede, onde está localizada a cidade, que é a sede municipal e que leva o mesmo nome do município, e que corresponde a zona urbana municipal, e também pelo território ao seu entorno, a zona rural municipal, que pode ser dividida em distritos, cuja maior povoação, recebe geralmente o nome de vila. (SOARES, 2006, p.78). Município e cidade não são, portanto ter- mos sinônimos, embora muitas pessoas assim os considerem. Convém salientar que, no Bra- sil, o termo cidade, desde 1938, designa a sede municipal, independentemente de seu núme- ro de habitantes. (SOARES, 2006, p.78). Ao se apresentarem como palco das transformações na sociedade, as cidades são o resultado do ambiente natural; a primeira natureza4 na visão de Casseti (1991); alterado artificialmente pelo homem para atender suas necessidades como ser social. Na visão de Corrêa (1989, p. 9) as cidades fazem parte do meio ambiente criado pelo ho- mem a seu favor, elas se constituem de forma “fragmentada, articulada, reflexo e condicio- nante social [...], olugar onde as diversas clas- ses sociais vivem e se reproduzem”. No plano socioeconômico as cidades fo- ram bem definidas por Santos (1993, p.10) A cidade em si, como relação social e como materialidade, torna-se criadora de pobreza, tanto pelo modelo socioeconômico de que é o suporte
Compartilhar