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PPssiiccoollooggiiaa IInnffaannttiill Módulo I Parabéns por participar de um curso dos Cursos 24 Horas. Você está investindo no seu futuro! Esperamos que este seja o começo de um grande sucesso em sua carreira. Desejamos boa sorte e bom estudo! Em caso de dúvidas, contate-nos pelo site www.Cursos24Horas.com.br Atenciosamente Equipe Cursos 24 Horas Sumário Introdução..................................................................................................................... 3 Unidade 1 – Conceitos e Dados Históricos da Psicologia Infantil .................................. 5 1.1 – O que é psicologia? .......................................................................................... 5 1.2 – A psicologia da infância ................................................................................. 15 1.3 – História da saúde mental infantil..................................................................... 20 1.4 – A educação infantil e a psicologia................................................................... 25 Unidade 2 – Conceitos e Descobertas do Mundo Infantil............................................. 29 2.1 – Fundamentos do pensamento reichiano e suas contribuições na compreensão da criança .................................................................................................................... 32 2.2 – Características da criança: viver o imediato, mudanças e descobertas ............. 33 2.3 – As mudanças das gerações ao longo da história .............................................. 43 Conclusão do Módulo I............................................................................................... 51 3 Introdução Olá! Bem-vindo(a) ao curso de Psicologia Infantil. Como sabemos, as crianças do século XXI apresentam características diferentes das gerações anteriores. Normalmente, elas são mais agitadas, alegres, comunicativas e passam a maior parte do tempo, conectadas à internet. As mudanças que vêm acontecendo com essa nova geração são, de certa forma, consideradas positivas, porém, os pais têm levado seus filhos cada vez mais cedo à escola, fazendo com que adquiram responsabilidades precoces. Essa atitude se não for bem administrada poderá gerar a essas crianças alguns dos chamados “transtornos psicológicos infantis”. Antigamente, esses problemas já eram conhecidos, porém, nas últimas décadas eles se tornaram mais comuns. Não é difícil encontrar crianças com distúrbios alimentares, ou seja, que comem demais ou que têm falta de apetite, crianças hiperativas que não conseguem ficar quietas e fazem várias atividades ao mesmo tempo, ou ainda crianças com dificuldade de se relacionar com as outras e que sofrem preconceito, entre outros. Porém, não existem muitas alternativas para solucionar esses problemas. Os pais precisam buscar imediatamente um psicólogo infantil, que seja especializado e que conheça a fundo os sintomas, bem como, o tratamento dos transtornos que acometem, geralmente, as crianças. Não há dúvidas de que o tratamento infantil é diferente daquele aplicado a um adulto. As ferramentas utilizadas para diagnosticar uma criança são diferentes das 4 usadas para os adolescentes e adultos, além disso, o tratamento é mais intenso, longo e requer uma dedicação maior do profissional. Além disso, como as crianças costumam apresentar sintomas semelhantes para diferentes transtornos, o diagnóstico deve ser feito com cautela e precisão. O psicólogo não pode confundir os sintomas de stress com hiperatividade e nem de depressão com ansiedade, porque, mesmo que apresentem causas semelhantes, o tratamento é diferente e se for mal feito, pode deixar sequelas por todas as fases da vida da criança. Por isso, no decorrer deste curso mostraremos como é possível fazer o diagnóstico correto de cada distúrbio infantil, discutiremos algumas formas de tratamento e falaremos também sobre a importância dos pais e da escola para a eficácia do tratamento. A partir de agora, você entenderá o porquê de tantos problemas infantis e saberá como solucioná-los. Bom curso! 5 Unidade 1 – Conceitos e Dados Históricos da Psicologia Infantil Olá! Para iniciarmos o nosso estudo sobre psicologia infantil é preciso entender, primeiramente, o que é essa ciência e quais são seus principais conceitos e suas teorias. Por isso, nesta unidade, você entenderá o que é psicologia, quais são os ramos de estudo desta ciência e os contextos históricos que envolvem a criança e os mecanismos da mente. Além disso, vai entender também como é possível aliar o trabalho pedagógico ao trabalho psicológico e quais são os benefícios que essa fusão pode trazer para as crianças. Bom estudo! 1.1 – O que é psicologia? A palavra psicologia vem do grego psiché - que significa alma e logia - que significa estudo, determinando assim o estudo da alma. Com o passar dos anos, passou a ser designada como ciência que estuda o comportamento humano e animal, capaz de analisar e diagnosticar desvios na razão, nos sentimentos, nos pensamentos e nas ações de cada indivíduo. Por isso, a psicologia não estuda apenas a mente, mas integra cada reação física, ou seja, o corpo e a mente funcionam de forma conjunta e um pode causar efeitos sobre o outro. Esses efeitos podem gerar distúrbios psicológicos e levar o sujeito a procurar um profissional especializado na área, o psicólogo. 6 O que o psicólogo faz? Esse profissional busca compreender o porquê de determinados pensamentos ou comportamentos das pessoas que possuem problemas psicológicos. Para fazer esse diagnóstico, o psicólogo irá utilizar ferramentas específicas da área e alguns métodos, como: conversas, observações, análises de outros membros do ciclo de relacionamento ou estudos do paciente aplicando algumas técnicas. Confira: • Experiências: método que possibilita controlar o comportamento estudado. Dessa forma, o profissional pode mudar determinados fatores e observar o efeito que causa no paciente, buscando assim a melhor resposta; • Observação natural: é a análise do comportamento de qualquer ser, seja ele humano ou animal em seu ambiente natural, como: casa, trabalho, escola etc. Para que essa ação seja eficaz é necessário que a observação seja feita detalhadamente; • Relatos: essa técnica está diretamente ligada às informações passadas pelo paciente, como ações e aflições, pensamentos e sentimentos do presente e passado. Esse método é muito utilizado porque sua principal ferramenta é a entrevista e pode ser realizada quando o método da experiência não trouxer respostas positivas; • Pesquisas: são utilizadas quando o objetivo é analisar o comportamento de diversas pessoas que pertencem a um mesmo grupo. Esse método tem como ferramenta entrevistas presenciais orais ou por meio de questionário. A partir dessas informações, o psicólogo faz uma análise estatística dos dados obtidos e pode traçar resultados para o comportamento que foi diagnosticado. Todos os métodos apresentados têm como objetivo buscar a saúde mental dos indivíduos para que elespossam ser mais felizes e se relacionarem melhor com a família, sociedade, pessoas ao seu redor, mas com eles mesmos. 7 Muitas vezes, as pessoas que procuram o atendimento psicológico apresentam outros problemas, tais como: doenças físicas, falta de vontade de frequentar a escola, dificuldade de aprender, de se relacionar, entre outros. Por isso, os profissionais precisam se integrar à medicina, à pedagogia, à sociologia etc, buscando assim solucionar esses transtornos. Por exemplo, o paciente pode apresentar doenças psicológicas, como depressão, estresse, síndromes ou distúrbios alimentares devido a doenças no corpo, insatisfação estética, doença grave, entre outros motivos. Com isso, o tratamento psicológico deve estar alinhado ao tratamento físico para garantir resultados positivos em ambas as áreas. Para que o tratamento psicológico seja eficaz, a psicologia possui ramos específicos para cada problema, como: • Psicopatologia: estuda o comportamento humano do qual é considerado anormal ou incomum; • Psicologia clínica: para aqueles que buscam melhorar o relacionamento consigo e com o mundo; • Psicologia comparada: é direcionada ao estudo do comportamento dos animais; • Psicologia no desenvolvimento: acompanha as mudanças de comportamento nas diversas fases da vida humana, desde o nascimento até a velhice; • Psicologia educacional: é a aplicação da psicologia no ambiente escolar; • Psicologia industrial: consiste na aplicação da psicologia no ambiente industrial; 8 • Psicologia fisiológica: não analisa somente o comportamento humano, mas os mecanismos do sistema nervoso; • Psicologia social: consiste no estudo do comportamento humano e as relações interpessoais no estudo da linguagem, comunicação e opinião pública; • Psicologia esportiva: consiste na aplicação da psicologia no ambiente esportivo; • Sexologia: estuda o comportamento sexual dos indivíduos; • Psicologia do trabalho: se dedica à avaliação e reestruturação das atividades no ambiente de trabalho para minimizar ou resolver problemas de relacionamento ou pessoais, como estresse, depressão etc; • Psicologia corporal: estuda o funcionamento da mente e do corpo simultaneamente, já que o corpo interfere no funcionamento da mente e a mente interfere no comportamento do corpo; • Psicologia forense: estuda o comportamento humano de pessoas que cometem crimes, por isso, também chamada de psicologia judiciária ou criminal; • Psicologia integral: integra os aspectos físicos, mentais, espirituais e emocionais do indivíduo para realizar o estudo. A psicologia tem várias teorias ou linhas de pensamento que traçaram as mudanças e evoluções históricas, portanto, são considerados norteadores importantes para os profissionais da área. Podemos citar então: • Behaviorismo; 9 • Funcionalismo; • Estruturalismo; • Gestalt; • Psicanálise; • Humanismo; • Psicologia analítica; • Psicologia transpessoal. O behaviorismo é uma teoria da psicologia que estuda o comportamento e tem como origem a palavra inglesa behavior, que significa justamente conduta, comportamento. A partir dessa definição surgiram os teóricos positivistas, que tratam o comportamento humano como mensurável, ou seja, capaz de ser observado e controlado, como se fosse uma ciência exata baseado no mecanismo estímulo-resposta. O psicólogo norte-americano John Broadus Watson é considerado o pai do behaviorismo metodológico, já que foi um dos principais pesquisadores do ramo. Seu interesse pelo assunto era tão grande, que chegou a publicar em 1913 o artigo intitulado “Psicologia vista por um behaviorista”. No texto, Watson deixava claro que, para ele, a psicologia era experimental e tinha como principal objetivo prever e controlar o comportamento de todos os seres. Esse conceito foi proposto por causa dos estudos realizados pelo médico russo Ivan Pavlov, quando ganhou o Prêmio Nobel de Medicina ao provar que os cães não salivavam apenas ao ver a comida, mas quando o cérebro associava som, gestos ou 10 cheiros com a chegada do alimento, o que deixou claro a possibilidade de prever e controlar a mente. Com isso, muitos estudos começam a ser realizados. Surgiu então o behaviorismo radical, que foi desenvolvido com base nas teorias filosóficas do século XX, que tinha o psicólogo norte-americano Burruhs Skinner como o principal autor. Sua teoria defendia a explicação de que o comportamento era uma consequência, ou seja, a ação pode ser repetida, caso o indivíduo perceba que foi positiva. Além desses modelos, existe o behaviorismo filosófico que afirmava que as ações eram resultantes do estado mental do indivíduo e, por isso, deveriam ser analisadas, principalmente as situações mentais de cada pessoa. Essa teoria foi baseada nas ideias dos filósofos Gilbert Ryle e Ludwig Wittgenstein. O Funcionalismo foi elaborado por William James, um dos mais importantes psicólogos norte-americanos do século XIX. A teoria funcionalista se baseia nos processos de funcionamento da mente, ou seja, a mente serviria para quê? Podendo ser: • Computacional: começou a ser discutida na década de 1960, ela afirmava que a mente apresenta influência da inteligência artificial, como se o cérebro fosse uma máquina que processa informações; • Psicofuncionalismo: explicava que o comportamento humano pode ser entendido por meio do pensamento, sensações e vários outros fenômenos, e não como uma máquina; • Funcionalismo analítico: defendia a hipótese de que a mente pode ser descrita de acordo com o comportamento de um indivíduo. Essa teoria tinha como objetivo demonstrar que um efeito não pode ser definido em termos químicos, biológicos ou psicológicos, mas deve ser definido nas relações interpessoais e cotidianas. 11 Já a teoria do Estruturalismo tem como principal teórico o psicólogo inglês Edward Bradford Titchener, que afirmava que a consciência era composta por alguns elementos de estruturação. Segundo o teórico, para descobrir quais são os elementos de sua estrutura, era preciso analisar cada parte do sistema nervoso central. A outra teoria é a Gestalt, palavra alemã originária da bíblia e que significa figura, forma, aparência. O principal teórico foi o filósofo italiano Von Ehrenfels, que afirmava que as partes de uma imagem nunca podiam proporcionar a compreensão real da mensagem visual. Observe as imagens a seguir. Elas formam duas figuras. A primeira mostra uma paisagem com um homem e uma mulher segurando o bebê, porém, todos os elementos juntos formam a imagem de um senhor. A segunda imagem é um cálice formado por duas silhuetas da face humana: Fonte: http://www.infoescola.com/wp-content/uploads/2007/09/gestalt.png 12 Fonte:http://design.blog.br/design-grafico/o-que-e-gestalt-2 Ao perceber que o cérebro consegue captar espontaneamente essas imagens, foram elaboradas seis leis que regem essa ação de reconhecer objetos: • Semelhança: os objetos parecidos tendem a permanecer juntos. Isso significa que elementos que tenham cores, formas ou texturas semelhantes se unem na percepção; • Proximidade: partes muitas próximas em um determinado local são percebidas como um grupo; • Boa continuidade: alinhamento correto das formas; • Pregnância: simplicidade natural da percepção, ou seja, o cérebro não precisa de esforços para entender ou interpretar a imagem; • Clausura: a figura deve ser feita com traços bem marcados; • Experiência fechada: é preciso ter experiência para identificar a imagem, ou seja, isso significa que o cálice na imagem acima só será 13 identificado por pessoas que já viram um cálice anteriormente, seja em livros, fotografias ou pessoalmente. Outra teoria da psicologia é a Psicanálise que surgiu em 1890, e foi desenvolvida pelo médico neurologista Sigmund Freud. Este método era realizado da seguinte forma: em um sofá, confortavelmente acomodado, o indivíduo contava todos os seus sonhos, medos, aflições, anseios, pensamentos e toda a sua história de vida, desde fatos que ocorreram na infância. A função do analista era ouvir o cliente, sem interromper ou demonstrar gestos de julgamento para que, ao final do processo, pudesse fazê-lo se compreender melhor, se controlar e se relacionar melhor com o mundo externo e interno. Essa forma de análise surgiu quando Freud percebeu que a maior parte dos problemas dos seus pacientes era resultante da não aceitação de alguns acontecimentos da vida, com isso, se reprimiam e passavam a ser infelizes. Já a psicologia Humanista ou Teoria do Humanismo surgiu na década de 1950, mas começou a ser aprimorada na década de 1960. Os principais teóricos dessa corrente eram os psicólogos norte-americanos Abraham Maslow e Carl Rogers. Maslow, por exemplo, traçou etapas para que o homem alcançasse a realização pessoal. Por isso, o psicólogo criou uma pirâmide, na qual colocou os níveis indispensáveis para que o ser humano chegasse à satisfação completa. As pessoas que seguiam corretamente cada etapa podiam ser chamadas de saudáveis. Veja abaixo a Pirâmide de Maslow: 14 Fonte: http://psiquehumanista.blogspot.com.br/ Carl Rogers seguiu a mesma linha de pesquisa de Maslow, mas focou em indivíduos atarefados e perturbados. Porém, ele atribuiu às experiências acumuladas ao longo da vida, como fatores determinantes para ajudar ou prejudicar a autorrealização do indivíduo. Por isso, o foco dos psicólogos deveria ser a pessoa. A teoria da Psicologia Analítica foi proposta pelo médico suíço Carl Jung e defende a ideia de que a vida é uma luta constante entre forças antagônicas, ou seja, opostas, gerando assim conflitos para que o indivíduo seja capaz de solucioná-los para se desenvolver. Para representar o modelo proposto por Jung, ele também desenvolveu a Estrutura da Psique, na qual o Ego do ser humano é o centro de tudo e pode sofrer influência dos sentimentos, da intuição, da sensação e do pensamento. Como mostra a figura abaixo: 15 Fonte: http://www.psiqweb.med.br/site/?area=NO/LerNoticia&idNoticia=330 Para finalizar, a psicologia tem a teoria Transpessoal, que buscou compreender os diferentes estados da consciência e a superação dos conflitos da mente, por meio do inconsciente coletivo e não estava relacionada aos conceitos da ciência. As ferramentas utilizadas pela psicologia transpessoal eram regressões ao que os profissionais chamam de vidas passadas, levando assim a uma expansão temporal e espacial do consciente. Esse tratamento tem como objetivo ajudar as pessoas a superar medos, fobias, aflições, entre outros, em busca de uma vida melhor. 1.2 – A psicologia da infância 16 Todas as fases humanas são importantes e repletas de transformações. As experiências são levadas por toda a vida e garantem que o indivíduo forme sua personalidade, descubra habilidades e medos, e que se aprimore ao longo de seu desenvolvimento. Porém, a infância é a fase da experimentação, do aprendizado e da despreocupação. Este é um importante período para a formação do ser humano e qualquer acontecimento traumático pode trazer consequências para as outras fases da vida. É na infância que a criança pode brincar, cantar, dançar e se divertir. Este é um período ingênuo e inocente, marcado pela vivência e percepção do mundo por meio de gestos, como: o olhar, o tocar, o saborear etc. Podemos dividir as fases de uma pessoa da seguinte forma: • Primeira infância: período entre o nascimento aos 3 anos; • Segunda infância: período entre 3 aos 7 anos; • Terceira infância: período entre os 7 aos 12 anos; • Pré-adolescência: período entre os 12 aos 14 anos; • Adolescência: período entre os 14 aos 18 anos; • Juventude: período entre os 18 aos 29 anos; • Adulta: período entre os 30 aos 40 anos; • Maturidade: período entre os 40 aos 60 anos; 17 • Idoso: 60 em diante. Como já falamos, cada fase pode deixar consequências psíquicas para as fases seguintes. Por isso, as três fases da infância são tão importantes e devem ser respeitadas. As crianças precisam fazer atividades comuns, como conviver com outras crianças, brincar, fazer exercícios que desenvolvam as habilidades motoras, assistir menos televisão, frequentar uma escola que esteja de acordo com o seu período de aprendizagem, aprender regras, ouvir histórias, alimentar-se e dormir corretamente. Embora essas atividades pareçam comuns no dia a dia de toda criança, é preciso lembrar que a sociedade do século XXI mudou. Os pais costumam trabalhar por longos períodos e as crianças passam muito tempo com babás ou em escolas. Por isso, perdem a oportunidade de passar mais tempo com a família, de brincar e de se divertir. Além disso, pela falta de tempo com os filhos, os pais deixam de estabelecer regras, não permitem que a criança durma o tempo adequado e, ainda, incentivam o uso excessivo de televisão e de alimentos industrializados, considerados pouco nutritivos e muito calóricos. Essa atitude dos pais interfere no desenvolvimento das crianças e pode trazer muitos problemas psicológicos, como stress, distúrbio alimentares, distúrbio do sono, hiperatividade, dificuldades de relacionamento social, entre outros. Esses problemas, geralmente, afetam as fases seguintes de desenvolvimento humano e podem piorar a cada período da vida. Para amenizar os sintomas desses distúrbios ou procurar a cura do problema, existe a psicologia infantil, que é uma área da psicologia que estuda o desenvolvimento da criança desde o útero da mãe até a adolescência. Mas como podemos descobrir quando a criança precisa da ajuda de um psicólogo? Muitas vezes, os pais, professores,familiares e todos que participam do ambiente de convivência da criança, notam que ela tem comportamentos anormais e, por isso, precisa de um psicólogo infantil. Porém, não procuram um profissional da área 18 por acreditarem que a criança vá superar o problema sozinha, e que aquela atitude é correspondente a essa fase da vida. Em outros casos, os pais não buscam ajuda porque sabem que são responsáveis por aquele comportamento e imaginam que, mudando atitudes em relação à forma de educar ou de tratar a criança, podem resolver os problemas sem a ajuda de um profissional. Há ainda aquelas famílias que não têm informações suficientes e que ainda confundem psicólogo com psiquiatra (médico que trata pessoas com altos graus de distúrbios). Por isso, não procuram o psicólogo infantil por preconceito e por acharem que a criança não apresenta nenhum problema grave. É por essa atitude dos pais que muitos problemas comportamentais deixam de ser estudados, acompanhados e tratados por profissionais especializados. Na verdade, a maioria das crianças que faz algum tipo de terapia é indicada pela escola, quando identificados os problemas de hiperatividade, como: falta de concentração, agressividade e dificuldade de aprendizagem são notadas pelo professor, comprometendo o desempenho escolar. Porém, é preciso entender que nem toda a atitude deve ser tratada como um distúrbio, anomalia ou problema comportamental. Muitas crianças costumam mudar de comportamento por ciúmes de outra criança, por querer ganhar brinquedos novos ou por não ter vontade de frequentar a escola. Essas atitudes são, em alguns casos, passageiras e não configuram um distúrbio que necessite de terapia. Mas, se o problema for frequente ou recorrente, os pais precisam procurar a ajuda de um psicólogo, que poderá informar se a criança realmente precisará ou não, passar por um período de tratamento. Em determinadas situações, o psicólogo poderá fazer um tratamento rápido com a criança, podendo conversar apenas com a família ou até mesmo dizer se existe a real necessidade da intervenção de um profissional no caso. 19 E como será essa intervenção profissional? Quando o psicólogo precisa tratar de um adolescente ou adulto, ele utiliza o método de relatos, que consiste em um conversa com o indivíduo que irá lhe passar sua vida, sua história e sua experiência. Porém, com as crianças o método utilizado é o da observação. O tratamento consiste nas seguintes etapas: • O psicólogo deverá ter uma conversa com os pais e familiares próximos da criança para entender sua história e tentar avaliar o porquê de determinados comportamentos; • A partir dessa conversa, o profissional poderá realizar seções de brincadeira ou atividades artísticas para observar o comportamento da criança; • Em determinados momentos, é possível também fazer comentários e conversar com criança sobre a atividade que ela realizou, como um desenho ou uma brincadeira; • Durante esse período de avaliação, o profissional deverá manter contato com os pais e passar relatórios frequentes em relação ao progresso ou mudanças da criança. Os tratamentos psicológicos costumam trazer resultados positivos. Dependendo da gravidade do caso, as consultas podem ser mais numerosas e longas, enquanto em casos mais simples, as visitas ao consultório chegam a duas vezes por semana. Por isso, para que o problema seja solucionado ou amenizado, o tratamento precisa ser seguido à risca pelos pais. Só assim é possível garantir que a infância dê continuidade para outras fases da vida, sem interrupções ou sequelas. 20 1.3 – História da saúde mental infantil A história da psicologia no Brasil, apesar de recente, demonstra grande importância. Como mostramos anteriormente, os estudos sobre o comportamento humano ficaram muito populares nos Estados Unidos e na Europa durante o século XIX. Porém, não foi neste período que surgiu a psicologia. Relatos históricos deixam claro que essa ciência surgiu no século V, a.C., mas estava atrelada aos estudos de filosofia. Os principais pensadores dessa ciência eram os filósofos gregos Tales, Pitágoras, Heráclito e Parmênides que estudaram a mente e o aspecto racional do ser humano nesta época. No Brasil, os estudos relacionados à psicologia acompanharam os movimentos que ocorrem no mundo. No final do século XIX surgiram vários estudos sobre o comportamento e os processos da mente. Porém, os teóricos brasileiros desta fase precisavam estudar em outros países. Na verdade, os interessados que eram principalmente médicos, viajavam para o exterior com o objetivo de aprimorar os conhecimentos sobre a mente humana. 21 Esse quadro só mudou após a chegada da família real portuguesa ao Brasil, em 1808. Como grande parte da elite de Portugal passou a morar em solo brasileiro, o rei D. João VI decidiu abrir a Universidade do Brasil, atualmente chamada de Universidade Federal do Rio de Janeiro, que deu espaço à intelectualidade e, consequentemente, propiciou a oportunidade de estudos para a psicologia. Veja abaixo a foto da primeira universidade brasileira: Fonte: http://www.ufpr.br/portalufpr/historico-2/ Com isso, os estudos sobre a psicologia se desenvolveram lentamente e os ramos desta ciência eram quase inexistentes. A saúde mental infantil, por exemplo, só começou a ser estudada no Brasil após a implantação da universidade no país. Mas o estudo só foi intensificado após a criação de hospitais da área, como o Hospício D. Pedro II, em 1852. Para aqueles que acreditam que as crianças daquela época não precisavam de ajuda psicológica, determinados autores relatam alguns acontecimentos corriqueiros no período colonial. Podemos citar o autor Gilberto Freyre, que deixa claro que as crianças trabalhavam como adultos e eram tratadas com muita violência. Como a religião que predominava era a católica, muitos pais costumavam corrigir os filhos com castigos, 22 palmatória e vara de marmelo que deixavam marcas pelo corpo e ainda interferiam no comportamento das crianças que ficavam ainda mais agressivas, resultando em sérios problemas emocionais. Com poucos recursos, falta de médicos e de medicamentos, a mortalidade infantil apresentava índices muito altos. Isso porque não existia tratamento adequado para doenças, como sarampo, varíola, verminoses etc. Muitas crianças morriam sem ajuda médica. Para amenizar o sofrimento dos pais, que precisavam trabalhar e gerar riquezas, os padres consolavam as famílias, por meio de uma lenda criada que dizia que as crianças que morriam se tornavam anjos de Deus e iam para o céu. Por isso, a sociedade da época não buscava respostas para essa mortalidade e tampouco tentava prevenir. Esse quadro só começou a mudar a partir do século XIX, quando os médicos começaram a fazer pesquisas capazes de explicar o motivo do alto índice de mortalidade. Descobriu-se então, que as crianças se alimentavam e se vestiam de maneira inadequada, tinham contato com as escravas portadoras de doenças e ainda não tinham acesso a tratamentos dequalidade. Após a realização dos estudos, os médicos perceberam que essa mortalidade era resultado da estruturação da sociedade da época, porque as crianças não eram tratadas como prioridade pelos pais. Na verdade, os pais alimentavam seus filhos com os restos de comida, não educavam, não protegiam, não cuidavam e por causa disso, muitas crianças sofriam mortes prematuras. Na metade do século XIX, a ciência passou a priorizar a saúde infantil para diminuir a mortalidade. Com a ajuda dos burgueses que tinham estudo no exterior, as técnicas começaram a ser alteradas e foram baseadas em teses, pesquisas e em livros de medicina da época. 23 Essas mudanças foram importantes para mudar os hábitos da sociedade. A medicina criou algumas ações para conscientizar as famílias em relação à gravidez, às doenças, às medidas de prevenção etc. Além disso, o higienismo, movimento que surgiu para defender a importância da saúde para as pessoas, determinou novas condutas e comportamentos para a época. Esse movimento foi importante para esclarecer quais atitudes prejudicavam as crianças. A partir daí, as famílias passaram a mudar os hábitos em relação ao tratamento dos filhos. Nesta fase, os pais aprenderam que as crianças não deveriam se alimentar como adultos e nem ingerir alimentos fortes. Com isso, as famílias começaram a se preocupar com os hábitos alimentares e com as condições físicas das crianças. Mas a questão mental não foi descartada do processo. O higienismo se preocupava também com a saúde mental e intelectual na fase da infância. Durante o século XIX, o sexo era visto como algo pecaminoso, imoral e que trazia consequências graves ao corpo. Crianças que sofriam de distúrbios cerebrais eram apontadas como praticantes de masturbação, assim como os homossexuais. Para evitar que as crianças sofressem com os distúrbios mentais ou se tornassem homossexuais, campanhas para alertar o problema começaram a ser realizadas no Brasil e em alguns países da Europa. Para amenizar os efeitos desta campanha e que o boato fosse disseminado, os higienistas começaram a fazer estudos relacionados à sexualidade na adolescência. Com isso, o objetivo dos médicos praticantes desse movimento passou a ser o de “mudar os hábitos da população no âmbito físico, moral, intelectual e sexual”. Por isso, não há dúvidas de que a defesa à criança foi fundamental para mudar os hábitos da sociedade. Mas a importância para os conceitos psiquiátricos na infância só foi dada décadas depois, quando a medicina começou a se preocupar com o desenvolvimento infantil. Até então, crianças que tinham doenças mentais eram tratadas nos mesmos espaços que os adultos e não contavam com técnicas especializadas para a área. 24 A situação só melhorou no final no século XIX, após a libertação dos escravos e com a chegada dos imigrantes no Brasil. Foi nesta fase que surgiu o jardim de infância e as creches. O primeiro hospital que criou uma ala dedicada somente às crianças com problemas mentais foi o Hospital Psiquiátrico da Praia Vermelha, localizado no Rio de Janeiro, em 1903. Já em 1921, foi a vez do Hospital Juqueri, localizado em Franco da Rocha, em São Paulo, que criou um pavilhão para atender as crianças. Em 1929, a psicóloga russa Helena Antipoff ampliou o local com o Laboratório de Psicologia da Escola de Aperfeiçoamento Pedagógico, para realizar pesquisas sobre o desenvolvimento mental na infância. A partir deste trabalho, foi criado o Instituto Pestalozzi, que cuida de crianças que possuem doenças mentais. Outro instituto de psicologia dedicado às crianças foi realizado em Pernambuco. Primeiramente, o trabalho era atender crianças com problemas mentais. A partir daí, inúmeras técnicas foram desenvolvidas para aprimorar este tratamento. Como resultado, em 1925 foi criado no estado, o Instituto de Psicologia que resultou na realização de trabalhos e pesquisas importantes, ainda usadas como base para os profissionais de hoje e em 1929, o instituto criou um setor para as crianças. Iniciou-se então uma relação entre vários ramos do conhecimento, como psiquiatria infantil, deficiência mental, psicologia e pedagogia. Com isso, muitos estudos passaram a ser realizados com foco na criança. Já no século XX, foram intensificados os processos para auxiliar a vida psíquica, por meio da análise dos distúrbios de conduta infantil. Por isso, o século passou a ser chamado de Século da Criança por muitos teóricos da área. Além disso, com a popularização do higienismo e das transformações sociais na Europa e nos Estados Unidos, a medicina brasileira começou a dar ênfase na psiquiatria e psicologia infantil, o que deu início ao desenvolvimento desta área ainda na década de 1920. 25 1.4 – A educação infantil e a psicologia Com a importância da criança nos séculos XX e XXI, os pesquisadores precisavam desenvolver ferramentas capazes de minimizar a incidência de distúrbios ou desvios comportamentais nas crianças. E uma delas foi a união da pedagogia com a psicologia. Dados históricos afirmam que a primeira iniciativa tomada ocorreu em 1903, quando o Hospital Psiquiátrico da Praia Vermelha decidiu passar orientação pedagógica aos pais em relação ao aprendizado das crianças. Já no Hospital Juqueri, além do pavilhão criado para tratar as crianças, foi montada também uma escola em 1929, que se dedicava à educação primária. Com essa iniciativa houve o aprimoramento ao longo do tempo. As escolas passaram a contar com um psicólogo e os professores precisaram ser capacitados para garantir o desenvolvimento do aluno, para que conseguissem identificar comportamentos considerados impróprios ou inadequados para cada fase. Essa capacitação é importante para que os pais sejam alertados caso o filho apresente dificuldade em aprender, ao se relacionar com os amigos, em brincar, ao fazer as atividades propostas, em se alimentar, entre outros. 26 Porém, não é apenas o professor que se torna psicólogo. Na verdade, o psicólogo que atua no ramo escolar também precisa se tornar um educador, agir como um mediador do conhecimento, criar atividades educativas capazes de transformar o comportamento das crianças, detectar e prevenir possíveis problemas futuros. A partir daí, o psicólogo escolar pode desenvolver uma atividade que: • Foque nas habilidades sociais de cada indivíduo como a comunicação, por exemplo; • Incentive o relacionamento interpessoal, como os trabalhos em grupo; • Crie situações para desenvolver comportamentos adaptativos, que observa se a criança é capaz de criar mecanismos para se organizar independentemente da ocasião; • Avalie o nível de independência e autonomia da criança; • Trabalhe questões éticas, respeito e regras; • Inclua a sexualidade. Contudo, essas atividades não devem ser impostas ao aluno. O psicólogo precisa entender que embora as crianças estejam em um processo de formação da personalidade, elas possuem desde muito cedo preferências, gostos e medos, já tendo o discernimento para fazerem ou não determinada atividade. É claro que toda atitude da criança deve ser observada pelo psicólogo. Uma criança que não se interessa em brincar em grupo, em ter amigos, em serelacionar com outras crianças indica que precisa de ajuda para resolver algum transtorno psicológico. 27 Para que o profissional chegue a essa conclusão, ele precisa estimular o aluno a participar das atividades, orientar, conversar e se tornar um companheiro capaz de escutá-lo quando ele achar necessário. Dessa forma, o psicólogo consegue ajudar a criança a se desenvolver de forma saudável, e ainda, contribui para que a escola se torne um ambiente socializador. Por que a realização dessas atividades é importante? Como muitas fobias, distúrbios ou comportamentos se desenvolvem ainda na infância, por meio dessas atividades o psicólogo pode diagnosticar o problema ainda no início, evitando sequelas para outras fases da vida. É importante lembrar que essa falta de acompanhamento e de supervisão na fase infantil pode gerar não só transtornos futuros, mas na própria infância. Crianças que não têm limites, que não respeitam regras ou o espaço das outras crianças, que não conseguem ouvir respostas negativas, que são agressivas e individualistas são comuns no século XXI. Esse comportamento é resultado da ausência dos pais que passam mais tempo no trabalho do que na companhia dos filhos e acabam dando mais liberdade a eles para tentarem suprir essa carência. Porém, essa atitude tem gerado crianças com comportamentos anormais e trazido sérias consequências. É comum, nos dias de hoje, os pais perderem o controle dos filhos, ainda na fase da primeira infância. Por isso, caso não existam formas para amenizar essa conduta, o problema se agrava a cada fase e na adolescência pode ser até irreversível. Justamente por esse motivo, podemos entender a importância do psicólogo na escola. Na verdade, o seu papel não é apenas o de atuar nos processos pedagógicos, mas entender os aspectos emocionais e sociais de cada indivíduo, já que esses refletem diretamente no comportamento humano. 28 Em alguns casos, o psicólogo deve, além de analisar a criança, desenvolver atividades com a família ou professores. Essa atividade pode ser realizada com a ajuda de outros profissionais, como terapeutas educacionais, educadores, entre outros. E quais são as atividades que os profissionais podem fazer para acompanhar o desenvolvimento das crianças? As atividades lúdicas são as mais indicadas. Essas atividades têm como principal objetivo divertir as crianças e podem ser brincadeiras, como jogos ou brinquedos, mas que não estimulem a competição. As características dessas atividades são: • A naturalização da infância e da criança, ou seja, o profissional deve deixar a criança brincar, se divertir e se comportar como criança; • A homogeneização, ou seja, todas as atividades lúdicas são importantes e devem ser tratadas da mesma forma. Porém, o jogo de faz de conta, aquela brincadeira em que as crianças ocupam outro papel, como se fossem atores é a mais indicada, porque estimula a imaginação, a linguagem e o relacionamento com outras pessoas, por isso, contribuem para o seu desenvolvimento; • As relações entre crianças e adultos são importantes porque servem de exemplo, e porque passam aspectos culturais. Com isso, as crianças aprendem desde cedo novas brincadeiras, a fazer críticas e adquirem novas experiências e conhecimentos. 29 Unidade 2 – Conceitos e descobertas do mundo infantil Olá! Para que a psicologia seja eficaz e traga resultados positivos às crianças, os profissionais da área precisam buscar novas ferramentas, fazer estudos, pesquisas e encontrar, nos teóricos de hoje ou do passado, respostas para os problemas das crianças. Por isso, neste capítulo, trataremos de uma teoria muita discutida nos dias de hoje, a teoria reichiana. Além disso, iremos mostrar que, mesmo que os conceitos dessa importante teoria não estejam relacionados à infância, os profissionais da área podem utilizar algumas ideias para aprimorar o tratamento das crianças. Além disso, iremos discutir também, nesta unidade, as características das crianças em cada fase da infância e ainda as mudanças de comportamento das gerações. Bom estudo! 2.1 – Fundamentos do pensamento reichiano e suas contribuições na compreensão da criança 30 O pensamento reichiano é uma teoria proposta pelo psicanalista Wilhelm Reich, baseadas nas ideias de Sigmund Freud. Ela surgiu porque Reich, durante as terapias que realizava com os seus pacientes, percebeu que o tratamento clínico nem sempre trazia resultados positivos e, por isso, precisava de novas técnicas e de novas teorias. A partir daí, começou a trabalhar de outras maneiras. Além de anotar as informações dos pacientes, ele passou a analisar também a forma como a informação era dita e a personalidade de cada indivíduo. Essa percepção era interessante porque os psicanalistas davam os diagnósticos de uma forma racional, baseados apenas no que foi dito pelo paciente, porém, não se atentavam à parte emocional. Porém, Reich trabalhava da mesma forma que os outros analistas. O paciente deveria estar bem acomodado e deitado, o analista se posicionava isolado e sem interferir em seu depoimento. A mudança provocada por Reich foi a observação de cada movimento corporal realizado pelo indivíduo. Com isso, ele percebeu que os gestos eram reflexos da estrutura emocional do paciente. Como funciona a terapia reichiana? Existem diversas linhas de estudo dessa teoria, por isso, os psicanalistas que seguem os preceitos reichianos não trabalhavam da mesma forma. Alguns profissionais focam na interpretação da comunicação, ou seja, não se baseiam no que é propriamente dito, mas no que o paciente quis dizer. Em outros casos, focam no movimento corporal, em cada gesto e englobam todas as informações passadas pelos indivíduos. A maioria dos profissionais que segue esta linha costuma focar na “couraça muscular” ou “estrutura neurótica encouraçada”, denominação dada por Reich e que foca apenas no movimento do corpo durante a psicanálise. Mesmo que o trabalho seja completo e longo, as terapias que seguem a teoria reichiana não trazem resultados mais rápidos e as avaliações nem sempre são inquestionáveis ou corretas. Por isso, o profissional deve ficar atento e buscar emitir um diagnóstico preciso. 31 Como muitos pacientes possuem estágios avançados de disfunções comportamentais e mentais, o resultado do tratamento não deve ser demorado. O profissional precisa avaliar em poucas seções de análise e buscar formas de amenizar o problema, já que se trata de questões relacionadas à saúde e à qualidade de vida. Embora os psicólogos costumem buscar atividades para mudar o comportamento ou melhorar a capacidade mental das pessoas, eles realizam o tratamento em busca de melhorias e transformações. Os psicanalistas que seguem a teoria reichiana buscam a cura dos seus pacientes. É por causa dessa diferença que os tratamentos costumam ser de médio a longo prazo. Vale lembrar que, quem procura a ajuda de um psicanalista possui, geralmente, disfunções mais graves, do que aqueles que procuram a ajuda psicológica.Por isso, podem representar perigo para a própria vida e para a sociedade. A única solução para o problema é a cura total do distúrbio. A teoria reichina não precisa, necessariamente, ser aplicada em um consultório de psicanálise. Os novos profissionais têm levado a percepção corporal para outros ramos do estudo da mente. Atualmente, é possível utilizar os conceitos em terapia de grupo, nas atividades realizadas em escolas e com pessoas de várias idades, inclusive com as crianças. É comum aos psicólogos do ramo escolar aplicarem atividades que estimulem a conversa e a comunicação entre as crianças. Com isso, são capazes de interpretar não só as informações passadas, como também seus gestos, seus movimentos corporais etc. Vale lembrar que essa não é a forma correta de fazer a psicanálise reichiana, porém, a teoria contribui para ajudar na resolução de alguns problemas na fase infantil e para encontrar as soluções, evitando assim que o mal se torne uma doença. Como muitas vezes, as crianças não ficam deitadas ou acomodadas, e não conseguem transmitir os seus sentimentos, os seus medos e aflições, essa teoria pode ser 32 aplicada durante uma atividade lúdica, como na realização de trabalhos artísticos, por exemplo. Dessa forma, o profissional pode conversar com o indivíduo e analisar o seu comportamento. Não há dúvidas que todos os processos realizados pelo profissional, desde as informações passadas pelo paciente, os movimentos corporais notados, as síndromes ou qualquer diagnóstico devem ser tratados de forma ética e em sigilo. Isso significa que somente o analista deve ter acesso a essas informações, sem que se divulgue à família, aos professores etc. Em muitos casos, os psicólogos ou psicanalistas precisam fazer reuniões com os pais, seções com a família, para passar os resultados evolutivos da criança, porém, cada informação deve ser passada com cautela e o profissional deve administrar o que pode ser comunicado e o que não deve ser repassado, porque existem informações que prejudicam a criança no relacionamento familiar. Como esse movimento surgiu no Brasil? Embora a técnica seja popular no Brasil e em países ocidentais, sua história é recente. Foi na década de 1960 que os conceitos desta teoria se alastraram pelo mundo e chegaram ao nosso país. Na verdade, eles foram trazidos por um forte movimento histórico da época: a Contracultura, um movimento de contestação, que queria acabar com a sociedade conservadora e a cultura imposta. No início, não existiam cursos dedicados a esta teoria. Os profissionais da área começaram a criar consultórios e a fazer análises reichianas, com base em livros ou palestras que tratavam do assunto. A partir daí, os primeiros psicanalistas começaram a ministrar cursos sobre o tema. O estado do Rio de Janeiro foi o que mais se adaptou ao novo modelo de psicanálise. Como o estudo de Reich focava na sexualidade, este teórico atribuiu a repressão sexual como causadora dos problemas humanos. Por isso, com o tempo, muitos profissionais foram alvos do preconceito e perderam pacientes. Ainda nos dias de hoje, a teoria reichiana é considerada irresponsável e tem como marca essa ligação entre 33 mente e sexualidade. Com isso, não existiam no Brasil muitas instituições relacionadas ao tema. Porém, seus estudos aprimoraram o conceito de relação entre corpo e mente, podendo ser aplicados também para a interferência comportamental de muitas pessoas. Embora algumas técnicas não sejam apropriadas para crianças, justamente porque focam na parte sexual, a terapia reichiana é um conceito fundamental para os profissionais da área. 2.2 – Características da criança: viver o imediato, mudanças e descobertas Para entender como tratar de uma criança, o psicólogo precisa entender como é a sua evolução e seu desenvolvimento em cada fase da vida. Entender como as crianças interagem umas com as outras, como se divertem e como aprendem, também facilita a intervenção do profissional. Por isso, vamos apresentar como são os mecanismos de evolução das crianças no período escolar. Embora muitos pais tenham colocado os filhos ainda bebês em creches porque precisam trabalhar, a idade correta para o ingresso dos filhos no ambiente escolar é a 34 partir da segunda infância, mais precisamente aos 4 anos de idade. Essa idade é indicada porque a criança já sabe se comunicar, ir ao banheiro, comer sozinha, consegue se relacionar sem a presença dos pais e já pode se desenvolver em relação ao aprendizado. Por isso, a criança dessa idade tem como características: • Muita imaginação; • Pergunta o tempo todo sobre diversos assuntos; • É observadora, egoísta e quer atenção; • Apresenta dificuldade em aprender e não aceita levar broncas; • É inquieta e fala sem pensar; • Tem medo do escuro e se assusta com ruídos desconhecidos; • Troca as atividades com frequência, por exemplo: deixa de brincar para assistir televisão, para de almoçar para brincar com um amigo, entre outras; • Não tem habilidades para trabalhos manuais, mas gosta de desenhar e pintar; • Tem interesse por jogos e atividades que não necessitam de esforços físicos. Para que os pais, professores e psicólogos consigam realizar trabalhos com crianças dessa idade, eles precisam ter primeiramente, paciência e bom humor. Posteriormente, precisam motivar as atividades, não brigar ou reprimir e ajudar na observação dos elementos que fazem parte da vida. 35 Proteção em excesso pode interferir no desenvolvimento e todos precisam ficar atentos em relação à liberdade dada à criança. Nesta fase, a personalidade ainda está sendo formada e os pais, professores e psicólogos precisam ficar atentos com as opressões, com os castigos ou palavras ditas às crianças. Aos 5 anos de idade, a criança já se acostumou com as rotinas. Por isso, não relutam mais em ir à escola ou fazer qualquer atividade extra, como: esportes, visitar casa de familiares etc. Além dessa mudança, a criança evolui e já apresenta os seguintes aspectos: • Pensa antes de falar; • Já se acostumou com as responsabilidades, como: frequentar a escola, comer sozinha, escovar os dentes etc; • Gosta de imitar as outras pessoas; • Toma determinadas atitudes para agradar o adulto; • Cria histórias fantasiosas e mente com facilidade, mas na maioria das vezes, consegue assumir que contou mentira; • Tem pesadelos com frequência; • Começa a ser obediente; • O medo da escuridão e de ruídos desconhecidos ainda é presente; • Na escola, começa a dar os primeiros passos no aprendizado normal, aprendendo aos poucos, os números e o alfabeto; • Começa a desenhar objetos ou pessoas; 36 • Já consegue realizar as atividades da escola sozinha; • É comum que algumas crianças não compartilhem com a família as atividades que realizam ou as amizades que possuem na escola; • Consegue jogar determinados jogos sozinha e fica concentrada; • Faz trabalhos em grupo e ajuda os colegas; • Já pode começar a aprender um instrumento; • Amãe é a pessoa mais importante para a criança e nesta fase, ela tem o papel principal na educação dos filhos; Para que os professores, pais e psicólogos consigam ajudar no desenvolvimento dessas crianças, eles precisam ser sinceros e responder a todas as perguntas com a verdade. Além disso, é importante que todos tentem reconhecer quais são as principais características da personalidade e as habilidades da criança ainda nesta etapa. A concentração é uma característica fundamental para que o aprendizado, não só escolar, mas o obtido no dia a dia seja retido. Por isso, é função de todos criarem atividades que estimulem a capacidade de concentração das crianças. O apoio e a orientação também são fundamentais, o elogio é uma forma de motivar e aguçar ainda mais a vontade nesta fase da vida. Já a criança de 6 anos, que já está saindo da segunda infância, costuma saber de tudo e gosta de fazer valer as suas vontades, por isso, é dominadora e agressiva. Com isso, as principais características desta fase são: • A criança costuma trapacear em jogos; 37 • Aceita as broncas com mais facilidade, mas gosta de receber elogios e aprovação; • Não gosta de receber ordem, mas acaba realizando a atividade; • Possui dificuldade em tomar decisões; • Pensa na quantidade, ou seja, quer muita coisa mesmo que não as use e muitas vezes, se apropria do que pertence a outras pessoas; • Não tem responsabilidade; • Está em fase de adaptação na escola e em casa; • Costuma manusear mais os objetos e explora muito o tato; • A criança fica mais agitada e tem hábito de roer unhas; • Gosta de ser o centro das atenções, a primeira e as mais querida; • Exagera ao contar um determinado fato; • O medo da escuridão é amenizado, mas sentir medo da chuva ou de trovão ainda é normal; • Já sabe o que é bom e o que é mau, o que é certo e o que é errado; • Quer agradar o professor e, por isso, o ajuda; • Ainda não está totalmente preparada para aprender a ler, escrever e fazer conta; 38 • As habilidades artísticas, nesta fase, são mais aparentes. A criança consegue fazer desenhos mais próximos da realidade; • Na maioria dos casos, gosta de estudar. A criança de 7 anos, que está entrando na terceira infância, é mais consciente e costuma ser introvertida, ou seja, vive no seu próprio mundo. A distinção entre o bem o mal e o certo e o errado se aprimora, passa a ter o hábito de pensar antes de falar ou de tomar qualquer atitude. Ela tem vergonha de chorar em público e não consegue receber críticas. Além dessas características, podemos citar: • O comportamento da criança é mais calmo e ela aceita melhor receber ordens; • A criança costuma ter medo das novidades e mudanças; • Nesta fase, a criança passa a se interessar mais pelo dinheiro e começa a ter noções de economia; • Costuma se cobrar em relação às atividades e quer terminar tudo com muita rapidez; • Quer chegar primeiro à escola e, em alguns casos, teme o fato de não entregar o trabalho na data correta; • A criança costuma concentrar os amigos na escola e quer atenção do professor. Lidar com crianças de 6 a 7 anos não é uma tarefa fácil. Muitas vezes, os pais ou professores acabam aplicando castigos, mas não percebem que algumas atitudes são passageiras e características desta fase de transição. 39 Na verdade, a atitude deve ser oposta, repleta de carinho e atenção tanto no ambiente doméstico, como no ambiente escolar. Além disso, os pais podem começar a designar tarefas aos filhos, como arrumar a casa, ajudar a fazer compras, pedir auxílio em relação ao trabalho do pai ou da mãe. É importante lembrar que essas atividades não devem ocupar muito tempo e nem podem ser pesadas, das quais exijam esforço físico das crianças. Porém, elas são fundamentais para estimular o senso de responsabilidade e de cooperação. Embora a mãe ocupe um papel fundamental e seja muito importante no ambiente escolar, a professora é quem ocupa esse espaço. Por isso, os educadores precisam transmitir segurança para as crianças e ter estreita relação com os pais. A criança de 8 anos já está com a personalidade mais desenvolvida e possui características próprias, como: seus gestos, o estilo de roupa, de sapato, o cabelo, a forma de expressar, entre outros. Além disso, algumas características são: • A criança, nesta fase, quer fazer parte do mundo dos adultos; • Está mais integrada à família; • Vive da mesma forma que o grupo, ou seja, se veste como os amigos, frequenta os mesmo lugares que as outras crianças, tenta fazer o mesmo corte de cabelo, entre outros; • Sofre com as discussões e brigas familiares. Porém, as mudanças são ainda mais visíveis nas crianças de 9 anos. Como a puberdade se aproxima, a maioria dos indivíduos costuma ser mais responsável, passando a administrar o tempo e as tarefas sem ajuda dos pais ou professores, começa a se planejar e a resolver os problemas sozinho. A personalidade já está quase formada por completo e, por isso, a individualidade é uma característica comum entre as crianças desta idade. Além disso, podemos citar: 40 • A criança cria um mundo imaginário e passa a acreditar nas fantasias que compõem esse mundo; • Costuma ser possessiva e egoísta, por isso, acumula ou coleciona objetos e não compartilha com os amigos; • Tem facilidade para justificar suas atitudes, mesmo que sejam incorretas; • A criança gosta de ser recompensada, por exemplo, quando consegue uma nota alta na escola. Gosta de ir ao shopping, ao cinema, ao parque ou até mesmo ganhar um videogame, uma roupa nova etc. Para que os pais e professores obtenham sucesso, eles precisam aceitar a personalidade do filho ou do aluno. Além disso, precisam demonstrar à criança que são confiáveis e seguros, interferindo assim, nas relações com os amigos. Nesta fase, o pai tem grande destaque e desempenha papel de amigo e conselheiro. Por isso, a ajuda é tão importante. Em todas as idades, as crianças precisam ser estimuladas, incentivadas, ter carinho e atenção dos pais e professores. Para que isso aconteça, fazer leituras ou escutá-las lendo, é uma atividade eficaz de interação entre o adulto e a criança. Aos 10 anos, a criança está a poucos passos da puberdade. Na maioria dos casos, perde totalmente as características infantis em seu comportamento e se mostra feliz, simpática, disposta a fazer mais amizades, responsável e tranquila. Um ponto importante a ser observado é a independência, a vontade exagerada de presentear e agradar as pessoas que a cercam. Já na escola, o aprendizado é mais avançado e composto por um volume maior de informações para que o aluno consiga memorizar, refletir e associar os conteúdos. Porém, alguns problemas são comuns: 41 • A criança gosta de falar o tempo todo com os colegas e deixa a tarefa escolar para segundo plano; • Prefere fazer atividades descontraídas, como: ler, ouvir música ou dançar; • Não gosta de realizar trabalhos domésticos e, tampouco, fazer as lições propostas pelo professor;• Costuma inventar motivos para não ir à escola, caso seja alvo de alguma discriminação. Com o passar dos anos, a personalidade vai determinando sua formação. Por isso, as características de uma criança que possui 11 anos está mais próxima do que ela será quando adolescente e, posteriormente, como adulta. Geralmente, ela não gosta de ficar sozinha, tem um senso crítico aguçado e é muito justa. Além disso, gosta de fazer escolhas e tende a rejeitar tarefas impostas. Nesta fase, os pais e professores precisam ter bom humor e serem animados para conquistar a criança. A disciplina escolar preferida é a educação física, realizada ao ar livre e que permite gastar energia, se relacionar com os amigos e se divertir. Para que o professor seja aceito por crianças de 11 anos, ele precisa ser: • Paciente; • Engraçado; • Compreensivo; • Justo; • Criativo; 42 • Calmo. Aos 12 anos, a criança está saindo da infância e entrando na pré-adolescência. Em alguns casos, essa transição pode ser mais lenta e, em outros casos, a criança sai da infância para a puberdade mais cedo. Mas essa transição não significa que as atitudes consideradas infantis vão deixar de existir. Na verdade, existe uma mistura em relação a isso. As crianças costumam ter atitudes maduras, consideradas à frente de sua idade, porém, podem se mostrar frágeis e inseguras. É comum a criança esconder os medos, evitar o choro e transparecer sentimentos irreais, ou seja, demonstrar felicidade quando na verdade está triste. Em geral, costuma ser sociável, companheira e ajuda os amigos. Chamar uma pessoa de 12 anos de criança pode ser interpretado como um insulto, por ela. Por isso, os pais e professores devem se referir como adolescente, já que ela se vê madura. Além disso, é justa e leal. Como algumas crianças se mostram mais maduras do que outras, a paixão pode ser um sentimento novo e real. Por isso, muitas meninas passam a escrever um diário. Além dessas características, podemos citar: • A criança é impaciente e só se preocupa com os problemas escolares; • É responsável e tenta resolver tudo sozinha; • Administra bem o tempo e cuida dos seus objetos pessoais; 43 Para lidar com as crianças desta fase, os pais e professores precisam estimular o interesse pela aprendizagem. Criar passeios ao ar livre e permitir acesso a filmes, músicas e livros, isso é muito importante. As meninas, em geral, precisam de mais atenção. Algumas têm a primeira menstruação nesta fase e por não entenderem, acabam se fechando muito. Para amenizar essa situação, os professores precisam abordar esse tema com os alunos e a mãe tem que ficar atenta, conversar e estreitar ainda mais os laços de amizade com a filha. Muitas crianças também começam a ter vergonha de tudo e não gostam que os pais interfiram na relação com os amigos da escola. Por isso, os pais precisam compreender que é apenas uma característica e respeitar, moderadamente, a vontade do filho. Além disso, permitir que as crianças façam atividades em grupo e vivam em um ambiente amigável e alegre é importante para a formação da personalidade. Isso porque essas atividades reforçam o respeito, a autoconfiança e o relacionamento em sociedade que são fundamentais para a próxima fase da vida: a adolescência. 2.3 – As mudanças das gerações ao longo da história 44 Para saber lidar com as crianças de hoje, é preciso entender não só as características específicas de cada idade, como compreender as principais características de sua geração. Isso porque a tecnologia, a cultura e até mesmo a sociedade estão em constante mudança, influenciando assim os hábitos ou a vida, até mesmo das crianças. Para que seja possível identificar essas mudanças, vamos estudar as principais características das últimas gerações. Esse estudo é importante para o psicólogo porque, além de mostrar as características da atual geração, trata também das características dos pais e familiares envolvidos na vida da criança. Para iniciar o nosso estudo, vamos falar da geração “Baby Boomer”, nascida entre as décadas de 1950 e 1960. Este termo foi criado porque, após a Segunda Guerra Mundial, o índice de natalidade foi muito alto, uma explosão demográfica e por isso, podemos chamar a geração de bebês da explosão. A característica principal dessa geração é o entretenimento por meio da televisão. No início, o aparelho ainda era novidade, mas em pouco tempo, boa parte das residências já contavam com um televisor. As crianças e os jovens da época seguiam as regras das programações. A televisão começou a ditar comportamentos, a informar e a mobilizar. Era o principal veículo de comunicação para aquela geração. Por meio da televisão, a sociedade alcançou muitas conquistas. Durante a década de 1960, movimentos sociais ganharam o mundo e os jovens eram os mais dedicados. A TV contribuiu para reforçar os movimentos ideológicos e ganhar novos seguidores. E com essas manifestações as mulheres, os negros e os homossexuais passaram a compartilhar os mesmos direitos. Além de lutar pela igualdade entre as classes, os jovens queriam paz e amor, e organizaram protestos contra as guerras da época. O festival de Woodstock (veja imagem abaixo) foi um dos mais importantes da época. Realizado em 1969, na cidade de Bethel, nos Estados Unidos. O evento contou com a participação de mais de trinta músicos famosos e disseminou a contracultura e o movimento hippie. 45 Fonte: http://bellaonediarys.blogspot.com.br/2011/01/as-decadas-na-moda-anos-60.html O Brasil não ficou de fora. Muitos festivais de música foram realizados como forma de manifestação contra a ditadura da época. A televisão era o principal canal de disseminação desses festivais. Depois da geração “Baby Boomer”, surgiu a geração X, que contemplou aqueles que nasceram durante a década de 1970. No início, essa geração foi chamada de “Baby Bust”, que eram filhos dos “Baby Bommers”. Esse nome foi dado porque as famílias que costumavam ser grandes, passaram a ter menos filhos. Enquanto a outra geração era marcada pela televisão, a geração X foi marcada pela popularização da TV e pelo início da internet. Estudos da época mostraram que as principais características da geração X eram: • Não acreditavam em Deus; • Não respeitavam os pais; 46 • Não seguiam as doutrinas religiosas, por isso praticavam sexo antes do casamento e muitas mulheres, na adolescência, engravidavam sem ter compromisso com o parceiro; • Mulheres passaram a chefiar as suas famílias; • Não se interessavam por política; • Divorciavam com facilidade. Porém, nem todas as transformações foram negativas. Foi a geração X que percebeu a importância do meio ambiente e começou a se preocupar com as questões ecológicas. Foi durante esta fase que aconteceram muitos eventos para minimizar o impacto ambiental. A principal delas foi a Conferência de Estocolmo, realizada em 1972, na Noruega e que discutiu ações quepoderiam ser aplicadas pelos governos de vários países, e por grandes corporações para a preservação do meio ambiente. A foto abaixo ilustra Maurice Strong, à esquerda, um dos principais nomes da Sustentabilidade no mundo e Ingemund Bengtsson, à direita, o presidente da conferência. Fonte: http://www.brasil.gov.br/sobre/meio-ambiente/iniciativas/acordos-globais/print 47 A geração Y é formada pelas pessoas que nasceram entre as décadas de 1980 e 1990. A principal característica dessa geração é a facilidade de se adaptar às transformações tecnológicas. Quando esta geração nasceu, o computador e a internet já existiam, mas eram equipamentos raros nas residências brasileiras. Com o passar dos anos, no final da década de 1990, esses aparelhos tecnológicos ficaram mais populares e muitas famílias das classes mais altas da sociedade já contavam com os benefícios da tecnologia. Mas as crianças e os jovens ainda não estavam acostumados com a novidade e poucos sabiam usar corretamente os equipamentos. Embora cursos de informática fossem comuns na época, o alto valor cobrado não permitia acessibilidade a todos os cidadãos. Por isso, muitos jovens aprenderam a navegar na internet e a usar os softwares sozinhos. A partir daí, eles deram um passo importante e foram incluindo essas novas tecnologias no cotidiano. Além da internet e do computador, a popularização do celular pré-pago que permitia ao usuário pagar antecipadamente o valor que iria utilizar, pode ser considerada outra adaptação às mudanças tecnológicas. Durante a infância da geração Y o celular já existia, mas a linha, o aparelho e o serviço eram muito caros e apenas pessoas da alta sociedade tinham acesso a ele. Porém, a forma de pagamento antecipada permitiu que o celular fosse comprado por qualquer pessoa, inclusive crianças e adolescentes. De repente, o aparelho que não era utilizado com frequência tornou-se comum e estava ao alcance de todos. A utilização desenfreada dos celulares fez com que a sociedade inteira se tornasse refém da novidade e fosse obrigada a ter pelo menos um telefone móvel. Com o passar dos anos, a internet mudou o comportamento das pessoas. Ela se tornou um veículo de comunicação capaz de informar em tempo real, além de ser uma 48 ferramenta de pesquisa utilizada para fazer trabalhos escolares. A internet é também um canal de comunicação que permite que os jovens usuários conversem entre si, entre outras utilizações. Com tanta utilidade assim, não foi difícil compreender a dependência das pessoas em relação à nova ferramenta. Além disso, algumas características mudaram nesta geração, tais como: • Geração mais crítica; • Não aceitam explicações com facilidade; • Tem menos preconceito; • Mudam de opinião frequentemente; • Interagem mais com os amigos virtuais do que com os amigos reais, por causa disso, não costumam ser sociáveis; • Conseguem realizar várias tarefas ao mesmo tempo; • São bem informados; • Não costumam demonstrar interesse nos problemas sociais e políticos. Além disso, esta geração também é curiosa, costuma contribuir com os amigos, tem facilidade em se comunicar e, ainda, tentam abrir o próprio negócio porque são empreendedoras, corajosas, não se importam com o fracasso e sabem recomeçar. A geração atual, ou seja, as crianças que nascem hoje pertencem à geração Z. Esta geração teve início em 1994 e já estavam totalmente ligadas às novas tecnologias. 49 As pessoas desta geração não sabem o que é viver sem celular, internet e sem comunicação. Por isso, a dependência da tecnologia é muito comum entre pessoas desta idade. Por mais que muitas gerações tenham sobrevivido sem a tecnologia, os jovens e crianças Z não são capazes de viver um só dia sem os aparelhos eletrônicos. Desta forma, é comum que eles troquem de celular e computador a cada lançamento e que consumam as novidades tecnológicas como os tablets, por exemplo. As características da geração Z são: • Sempre querem aparelhos avançados e trocam de tecnologia com frequência; • Tem uma vida mais planejada, estruturada e conseguem realizar as atividades com mais facilidade e agilidade, já que contam com a tecnologia; • Vivem mais no mundo virtual do que no mundo real; • São individualistas; • Não sabem se relacionar com as pessoas no mundo real; • São impacientes e não conseguem assistir a um programa de televisão por muito tempo; • Não têm habilidades manuais; • São hiperativos; • Não costumam dar valor à cultura e nem às tradições familiares. 50 A figura abaixo demonstra, resumidamente, como foi a evolução das gerações: Fonte: http://ernaniguaira.blogspot.com.br/2012/01/geracao-x-y-z-baby-boomers-guaira-sp.html?spref=bl 51 Conclusão do Módulo I Olá, aluno(a)! Você está quase chegando ao fim da primeira etapa do nosso curso de psicologia infantil oferecido pelos Cursos 24 horas. Neste módulo abordamos diversos assuntos dentro da área de psicologia infantil. Vimos quando surgiu a psicologia, a psicologia na infância, a educação infantil e a psicologia, as mudanças das gerações, entre outros assuntos. Para passar para o próximo módulo, você deverá realizar uma avaliação referente a este módulo já estudado. A avaliação encontra-se em sua sala virtual. Fique tranquilo(a) e faça sua avaliação quando se sentir preparado! Desejamos um bom estudo, boa sorte e uma boa avaliação! Até logo!