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Apostila Psicodiagnóstico Interventivo - 6 semestre UNIP

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Apostila Psicodiagnóstico 6º semestre - Valdirene Oliveira - Página 1 
 
 
O material abaixo é composto por: 
 Cópia de trechos dos textos recomendados pelo professor da disciplina com 
marcações das partes consideradas importantes para estudo. 
 transcrições das aulas do 6º semestre do curso de psicologia, acrescidas de 
observações com o entendimento da aluna; 
 pesquisa bibliográfica sobre o tema “psicodiagnóstico” e trechos retirados da 
internet, sem as respectivas referências; 
 
CONTEXTO GERAL DO DIAGNÓSTICO PSICOLÓGICO 
 
Marília Ancona-Lopez 
A palavra diagnóstico origina-se do grego diagnõztikôe e significa discernimento, 
faculdade de conhecer, de ver através de. Compreendido dessa forma, o diagnóstico 
é inevitável, pois, sempre que explicitamos nossa compreensão sobre um fenômeno, 
realizamos um de seus possíveis diagnósticos, isto é, discernimos nele aspectos, 
características e relações que compõem um todo, o qual chamamos de 
conhecimento do fenómeno. 
Para chegarmos a esse conhecimento, utilizamos processos de observações, de 
avaliações e de interpretações que se baseiam em nossas percepções, experiências, 
informações adquiridas e formas de pensamento. É nesse sentido amplo que a 
compreensão de um fenômeno se confunde com o diagnóstico do mesmo. 
Em sentido mais restrito, utiliza-se o termo diagnóstico para referir-se à possibilidade 
de conhecimento que vai além daquela que o senso comum pode dar, ou seja, à 
Nome do Professor Data 6º semestre 
 
PSICODIAGNÓSTICO 
 Apostila Psicodiagnóstico 6º semestre - Valdirene Oliveira - Página 2 
 
possibilidade de significar a realidade que faz uso de conceitos, noções e teorias 
científicas. 
Quando procuramos ler determinado fato a partir de conhecimentos específicos, 
estamos realizando um diagnóstico no campo da ciência ao qual esses 
conhecimentos se referem. 
Uma folha de papel pode ser compreendida através de um estudo do material que 
a compõe, de seu custo, da sua utilidade social ou de seu surgimento histórico, 
dependendo dos conhecimentos colocados a serviço da busca de compreensão. 
Evidentemente, nem todos os conhecimentos podem ser aplicados a todos os fatos. 
Conhecimentos de Álgebra dificilmente nos serão úteis para a compreensão da 
História do Brasil e vice-versa, se, porém, o objeto de estudo de diversas ciências for 
o mesmo, será possível aplicar a esse objeto os conhecimentos de todas essas 
ciências. Por exemplo, ao estudar um animal utilizando conhecimentos da Zoologia, 
enriqueceremos esse estudo recorrendo à Biologia. 
A Psicologia se insere no conjunto das Ciências Humanas. Utilizamos seus 
conhecimentos para a compreensão de qualquer fenômeno humano. Esse mesmo 
fenômeno poderá também ser objeto de estudo de outras ciências, o que permitirá 
integrar conhecimentos, enriquecendo nossa compreensão. Porém, ainda que 
empreguemos dados de outras ciências, ao tratarmos das funções do psicólogo, 
estaremos sempre nos referindo ao conjunto de fenómenos possíveis de serem 
estudados pela Psicologia e ao conjunto de conhecimentos psicológicos que se 
desenvolveram a partir do estudo desses fenômenos. De fato, o objeto de estudo, os 
conhecimentos e métodos utilizados caracterizam nosso trabalho, delimitar 
nosso campo de competência e permitem que se desenvolva nossa identidade 
profissional. 
Os conhecimentos dentro do campo da Psicologia, como de qualquer outra ciência, 
não se agrupam indiscriminadamente. Constituem e estão constituídos em teorias 
das quais decorrem os procedimentos e em técnicas. 
Na história da Psicologia encontramos inúmeras teorias que definem de forma 
diferente seu objeto de estudo e o método a utilizar. Algumas tomaram métodos 
emprestados das ciências naturais, definindo em função dos mesmos o fenômeno a 
estudar, e algumas buscaram criar métodos próprios. Mesmo a classificação da 
Psicologia como ciência humana, ou como ciência natural, e o reconhecimento da 
 Apostila Psicodiagnóstico 6º semestre - Valdirene Oliveira - Página 3 
 
existência de teorias psicológicas foram e são muitas vezes questionados pelos 
estudiosos do conhecimento. Porém, estas são as organizações do conhecimento 
que encontramos no atual estágio do desenvolvimento da Psicologia. São as que 
estudamos, frente às quais nos posicionamos e com as quais trabalhamos. 
Neste livro trataremos do diagnóstico psicológico, O diagnóstico psicológico busca 
uma forma de compreensão situada no âmbito da Psicologia. Em nosso País, é 
uma das funções exclusivas do psicólogo garantidas por lei (Lei n.° 4119 de 27-8-
1962, que dispõe sobre 2a formação em Psicologia e regulamenta a profissão de 
psicólogo). 
Outras funções exclusivas são a orientação e 
seleção profissional, orientação 
psicopedagógica, solução de problemas de 
ajustamento, direção de serviços de 
Psicologia, ensino e supervisão profissional, 
assessoria e perícias sobre assuntos de 
Psicologia. 
 
Quando nos dispomos a realizar um psicodiagnóstico, presumimos possuir 
conhecimentos teóricos, dominar procedimentos e técnicas psicológicas. Como são 
muitas as teorias existentes, e nem sempre convergentes, a atuação do psicólogo 
em diagnóstico, assim como nas outras funções privativas da profissão, varia 
consideravelmente. Em outras palavras, é porque a atuação profissional depende 
de uma forma de conhecimento, método de estudo e procedimentos utilizados — 
considerando que na Psicologia estes são muitas vezes incipientes —, que se 
encontram muitas concepções e estruturações diferentes do diagnóstico 
psicológico. O próprio uso do termo varia, de acordo com essas concepções. 
Encontra-se, muitas vezes, ao invés de “diagnóstico psicológico”, a utilização dos 
termos “psicodiagnóstico”, “diagnóstico da personalidade”, “estudo de caso” ou 
“avaliação psicológica”, Cada um desses termos é utilizado preferencialmente por 
grupos de profissionais posicionados de formas diferentes diante da Psicologia. 
Assim, antes de nos propormos a atuar profissionalmente, será interessante 
explicitarmos sobre que fenômenos pretendemos atuar, quais serão os referenciais 
teóricos, os métodos e procedimentos a utilizar. 
 Apostila Psicodiagnóstico 6º semestre - Valdirene Oliveira - Página 4 
 
A PSICOLOGIA CLÍNICA E AS ABORDAGENS PSICODIAGNÓSTICAS 
O termo Psicologia Clínica foi utilizado, pela primeira vez, eu 1896, referindo-se a 
procedimentos diagnósticos utilizados junto à clínica médica, com crianças 
deficientes físicas e mentais. O interesse por esse diagnóstico surgiu a partir do 
momento em que as doenças mentais foram consideradas semelhantes às doenças 
físicas. Passaram, então, a fazer parte do universo de estudo da ciência, e não mais 
da religião, como anteriormente, quando eram consideradas castigos divinos ou 
possessões. 
Pareadas com as doenças físicas, foi necessário observar as doenças mentais, 
verificar sua existência como entidades específicas, descrevê-las e classificá-las. 
Dessa forma, a par da Psiquiatria, atividade médica destinada a combater a doença 
mental, desenvolveu-se a Psicopatologia, ou seja, o ramo da ciência voltado ao 
estudo do comportamento anormal, definindo-o, compreendendo seus aspectos 
subjacentes, sua etiologia, classificação e aspectos sociais. Do mesmo modo, a 
par do desenvolvimento da Psicologia, isto é, do estudo sintomático da vida psíquica 
em geral, desenvolveu-se a Psicologia Clínica, como atividade voltada à prevenção 
e ao alívio do sofrimento psíquico, 
 
A BUSCA DE UM CONHECIMENTO OBJETIVO 
A forma de atuação inicial em psicodiagnóstico refletir a postura predominante, na 
época, entre os cientistas. Estes consideravam possível chegar-se ao conhecimento 
objetivo de um fenômeno, utilizando uma metodologia baseada em observação 
imparcial e experimentação. Esta postura, na qual a confirmação de hipóteses se 
baseia em marcos referenciais externos, conhecida em sentido amplo como posturapositivista, predominou principalmente no continente americano, Dentro dessa 
orientação, desenvolveram-se o modelo médico de psicodiagnóstico, o modelo 
psicométrico e o modelo behaviorista. 
 
O MODELO MÉDICO 
O trabalho em diagnóstico psicológico junto aos médicos marcou o início da 
atuação profissional. Houve uma transposição do modelo médico para o modelo 
 Apostila Psicodiagnóstico 6º semestre - Valdirene Oliveira - Página 5 
 
psicológico. Este adquiriu algumas características: enfatizou os aspectos patológicos 
do indivíduo, usando como quadros referenciais as nosologias psicopatológicas e 
enfatizou uso de instrumentos de medidas de determinadas características do 
indivíduo. 
No campo da Psicopatologia, multiplicaram-se as tentativas de estabelecer 
diferenças entre desordens orgânicas, endógenas, e desordens funcionais, exógenas, 
procurando se estabelecer relações entre as mesmas e os distúrbios de 
comportamento, estabeleceram-se, também, relações de causalidade entre os 
distúrbios orgânicos e os distúrbios psicológicos, principalmente nas áreas da 
Neurologia e da Bioquímica. Na procura do estabelecimento de quadros 
classificatórios das doenças mentais, precisos e mutuamente exclusivos, buscou-se 
organizar síndromes sintomáticas que caracterizassem esses quadros e pudessem 
ser observadas. 
Os comportamentos considerados patológicos passaram a ser descritos 
detalhadamente. Elaboraram-se testes para determinar e detectar os processos 
psíquicos subjacentes, inclusive detectar tendências patológicas. O objetivo desses 
testes, na prática, era fornecer informações aos médicos que as utilizavam, como 
subsídios para determinar os diagnósticos psicopatológicos. Procuravam-se 
também, nos testes, sinais de distúrbios orgânicos que, pareados aos dados 
sintomáticos, justificassem pesquisas médicas mais aprofundadas. 
As dificuldades encontradas nessa abordagem ligaram-se ao fato de que os 
quadros sintomáticos nem sempre se adequam ao quadro apresentado pelo 
sujeito. Além disto, os mesmos sintomas podiam ter muitas vezes causas diversas e, 
vice-versa, as mesmas causas podiam provocar diferentes sintomas. 
Do Ponto de vista do psicólogo, a grande ênfase nos aspectos psicopatológicos 
deixava em segundo plano características não-patológicas do comportamento das 
pessoas, limitando o estudo e o conhecimento sobre o indivíduo. 
Apesar dessas dificuldades, utilizam-se até hoje classificações psicopatológicas, 
principalmente no que se refere aos grandes grupos nosológicos. Convém lembrar 
que, dentro da Psicopatologia, há diferentes classificações, e estas obedecem a 
diferentes critérios. A UTILIZAÇÃO DE CRITÉRIOS CLASSIFICATÓRIOS JUSTIFICA-SE, 
PORÉM, PELA BUSCA DE UMA LINGUAGEM COMUM. 
 
 Apostila Psicodiagnóstico 6º semestre - Valdirene Oliveira - Página 6 
 
O MODELO PSICOMÉTRICO 
O desenvolvimento dos testes foi, aos poucos, estabelecendo um campo de atuação 
exclusivo para o psicólogo e garantindo sua identidade profissional, embora 
precária, já que condicionada à autoridade do médico a quem cabia solicitar esses 
testes e receber os resultados dos mesmos. Na atuação, foi com o uso de testes, 
principalmente junto a crianças, que os psicólogos ganharam maior autonomia. 
Nesse trabalho, esforçavam-se por determinar, através dos testes, a capacidade 
intelectual das crianças, suas aptidões e dificuldades, assim como sua 
capacidade escolar. Esses resultados, com o tempo, deixaram de set 
obrigatoriamente entregues a outros profissionais. Utilizados pelos próprios 
psicólogos, serviam agora para orientar pais, professores ou os próprios médicos. Na 
utilização dos resultados dos testes, tornou-se menos importante detectar distúrbios 
e classificá-los psicopatologicamente, mas sim estabelecer diferenças individuais e 
orientações específicas. A visão de homem subjacente ao modelo psicométrico 
implicava a existência de características genéricas do com portamento humano. 
Essas características, de ordem genética e constitucional, eram consideradas 
relativamente imutáveis. Os testes visavam a identificá-las, classificá-las e medi-las. 
Entre as teorias da Psicologia que procuraram explicitar essa visão, encontram-se a 
Tipologia, a Psicologia da Faculdades e a Psicologia do Traço, cada um a delas 
definindo um conceito de homem e indicando um a forma de diagnosticá-lo. O 
desenvolvimento da Psicologia nessas direções foi bastante influenciado por 
acontecimentos históricos, principalmente nos Estados Unidos. Neste país, durante 
a Segunda Guerra Mundial atribuiu-se à Psicologia a função de selecionar 
indivíduos, aptos ou não para o exército, e avaliar os efeitos da guerra sobre os que 
dela retornavam. Foi destinada maior verba às pesquisas psicológicas e 
proliferaram os testes. Estes foram amplamente difundidos no Brasil. 
O MODELO BEHAVIORISTA 
Enfatizando a postura positivista, desenvolveram-se as teorias behavioristas. Estas, 
partindo do princípio de que o homem pode ser estudado como qualquer outro 
fenômeno da natureza, incluíram a Psicologia entre as ciências naturais e 
transportaram seus métodos para o estudo do homem. A fim de poder aplicar o 
método das ciências naturais, necessitavam de um objeto de estudo observável e 
mensurável, e declararam o com portamento observável como o único objeto 
 Apostila Psicodiagnóstico 6º semestre - Valdirene Oliveira - Página 7 
 
possível de ser estudado pela Psicologia. Consideraram que o comportamento 
humano não decorre de características inatas e imutáveis, mas é aprendido, 
podendo ser modificado. Passaram a estudá-lo, preocupando-se em alcançar as 
leis que o regem e as variáveis que nele influem, a fim de se poder agir sobre ele, 
mantendo-o, substituindo-o, modelando-o ou modificando-o. Os behavioristas 
criaram formas próprias de avaliação do comportamento a ser estudado. Não 
utilizaram o termo "psicodiagnóstico”, valendo-se dos termos “levantamentos de 
repertório” ou “análises de com portamento”. 
1.2.2. A IMPORTÂNCIA DA SUBJETIVIDADE 
Paralelamente a essas tendências, desenvolveu-se uma nova forma de 
conhecimento que repercutiu consideravelmente na Psicologia. Desde o início do 
século, alguns filósofos insurgiram-se contra a visão de ciência que considerava 
possível uma total separação entre o sujeito e o objeto de estudo. Para esses filósofos, 
todo o conhecimento é estabelecido pelo homem, não se podendo negar a 
participação de sua subjetividade. Dessa forma, não é possível admitir como válida 
uma psicologia positivista, objetiva e experimental. O homem não pode ser 
estudado como um mero objeto, fazendo parte do mundo, pois o próprio mundo 
não passa de um objeto intencional para o sujeito que o pensa. Desse modo, os 
métodos das ciências naturais não poderiam ser transpostos para as ciências 
humanas, já que estas possuem características específicas. Esta forma de pensar 
foi marcante para a Psicopatologia e para a Psicologia. No campo desta última, 
deu origem à Psicologia Fenomenológico-existencial e à Psicologia Humanista. 
Todas essas correntes afirmam que a consciência, a vida intencional, determina e é 
determinada pelo mundo, sendo fonte de significação e valor. Salientam o caráter 
holístico do homem e sua capacidade de escolha e autodeterminação. Partindo 
dessa posição frente ao homem e â ciência, inúmeras escolas surgiram e encararam 
de formas diversas a questão do psicodiagnóstico. 
Na subjetividade as queixas serão semelhantes, porém o contexto será diferente. 
Logo, não será padronizado e nem estigmatizado como por exemplo: “se tem 
problema de aprendizado é porque tem deficiência intelectual” 
O HUMANISMO 
As correntes humanistas, evitando posições reducionistas ao lidar com o homem, 
procuraram manter uma visão global do mesmo e compreender seu mundo e seu 
 Apostila Psicodiagnóstico 6º semestre - Valdirene Oliveira - Página 8 
 
significado, sem as referências teóricasanteriores. Insurgiram-se contra o 
diagnóstico psicológico, criticando seu aspecto classificatório e o uso do indivíduo 
através dos testes. Procuraram restituir ao ser humano sua liberdade e condições de 
desenvolvimento, repudiando o psicodiagnóstico e considerando-o um verdadeiro 
leito de Procusto. 
Para os humanistas, os procedimentos diagnósticos são artificiais. Constituem-
se em racionalizações, acompanhadas de julgamentos baseados em constructos 
teóricos que descaracterizam o ser humano. Esses psicólogos não se utilizam de 
diagnósticos e de testes, considerando que, através do relacionamento 
estabelecido com o cliente, durante a psicoterapia ou aconselhamento, 
alcançam um a compreensão do mesmo. 
Usou exemplo de cortar as pernas para caber ou esticar para preencher 
Abraham Maslow e Carl Rogers: os precursores da Psicologia Humanista. 
Psicólogo americano e considerado até os dias atuais como o pai do 
movimento humanista 
A PSICOLOGIA FENOMENOLÓGICO-EXISTENCIAL 
Algumas correntes da Psicologia Fenomenológico-existencial reformularam a visão 
do psicodiagnóstico. Para estes psicólogos, os dados obtidos em entrevistas e /ou 
em testes podem ser úteis e trazer informações a respeito das pessoas, ajudando-
as no caminho do autoconhecimento. Esses dados devem ser discutidos 
diretamente com os clientes, estabelecendo-se com os mesmos as possíveis 
conclusões. Apesar de empregarem testes e informações derivadas de diferentes 
correntes do conhecimento psicológico, utilizam-nas apenas como recursos ou 
estratégias a serem trabalhadas com os clientes. O psicodiagnóstico é considerado 
mais do que um estudo e avaliação. Salienta-se o seu aspecto de intervenção, 
diluindo-se os limites que se param o psicodiagnóstico da intervenção terapêutica. 
Visão do cliente é de alguém que vai trabalhar junto. Não é só a criança que importa. 
Os pais também são trabalhados 
Não tem intenção de mudar ou modelar o comportamento 
A PSICANÁLISE 
Decorrente da mesma postura que não considera possível a completa objetividade, 
assim como não aceita a completa subjetividade e atribui significação particular a 
 Apostila Psicodiagnóstico 6º semestre - Valdirene Oliveira - Página 9 
 
todo com portamento humano, desenvolveu-se a Psicanálise. Sua influência, 
sentida inicialmente na Europa, fez-se notar no continente americano, 
principalmente no período da Segunda Guerra Mundial, quando houve uma grande 
imigração de psicanalistas europeus. A Psicanálise provê uma revolução na 
Psicologia, explicitando o conceito de inconsciente e explicando, através de 
processos intrapsíquicos, os diferentes comportamentos que procura 
compreender. Através da ótica psicanalítica, rediscutem-se a determinação 
psíquica, a dinâmica da personalidade, reveem-se os com portamentos 
psicopatológicos, sua origem e prognóstico. Embora, desde o início, os estudos 
psicológicos tenham se preocupado em definir e conhecer a personalidade, foi a 
Psicanálise que propôs o complexo mais completo de formulações sobre sua 
formação, estrutura e funcionamento. Entre os psicanalistas, desenvolveram-se 
várias escolas, que se diferenciam pela ênfase colocada em diferentes aspectos da 
personalidade, e pelas explicações sobre o desenvolvimento das mesmas. Todas 
concordam quanto aos conceitos psicanalíticos fundamentais. Apesar das 
diferenças entre as correntes psicanalíticas, sua influência na prática do 
psicodiagnóstico foi a mesma. Acentuou-se o valor das entrevistas como 
instrumento de trabalho, o estudo da personalidade através da utilização de 
observações e técnicas projetivas e se desenvolveu uma maior consideração da 
relação do psicólogo e do cliente com a instrumentalização dos aspectos 
transferenciais e contratransferências. Enfim, a Psicanálise desenvolveu 
instrumentos diagnósticos sutis, que permitem verificar o que se passa com o 
indivíduo por detrás de seu com portamento aparente. 
Será aplicada durante o uso da caixa lúdica, quando a comunicação se dá através 
do brinquedo. 
Também se utiliza a partir de um relato da mãe, durante a anamnese 
Ex.: supondo que não tenha sido amamentada e isso lhe tenha causado uma falta, 
a primeira coisa que a criança vai procurar na caixa lúdica será mamadeira, 
bonecas, panelinhas e coisas ligadas a isso. 
Normalmente, quando se foca no telefone, apresentará problemas na comunicação. 
A PROCURA DE INTEGRAÇÃO 
Todas as abordagens em Psicologia, que surgiram e foram se desenvolvendo ao 
longo do tempo, têm seus equivalentes atuais. Isto quer dizer que. hoje, entre os 
 Apostila Psicodiagnóstico 6º semestre - Valdirene Oliveira - Página 10 
 
psicólogos, encontramos aqueles que atuam a partir de conceitos do homem e da 
ciência positivistas, fenomenológico-existenciais, humanistas e psicanalíticos. Estas 
seriam as grandes tendências encontradas em Psicologia. Podemos dizer que, 
apesar de apresentarem diferenças fundamentais, muitas vezes se interseccionam, 
não sendo sempre possível detectar as fronteiras entre as mesmas. Apesar dos 
diferentes marcos referenciais, a conceituação de cada uma dessas tendências 
é muito ampla e cada um a delas apresenta inúmeros desdobramentos, de tal 
forma que, na prática da Psicologia e, portanto, na prática do psicodiagnóstico, 
temos, como já foi dito, várias formas de atuação, muitas das quais não podem 
ser consideradas decorrentes exclusivamente de um a ou de outra dessas 
abordagens. Em outras palavras, quando olhamos concretamente para a 
Psicologia Clínica, verificamos grandes variações de conhecimentos e atuações. 
Alguns podem ser agrupados em blocos razoavelmente organizados, outros são 
ainda muito empíricos e com desenvolvimento bastante incipiente. Na transcorrer 
da história da Psicologia, algumas teorias psicológicas provocaram grande 
entusiasmo por parte dos profissionais. Parecia que sanariam as dificuldades 
internas desta ciência e preencheriam as lacunas de conhecimento, além de 
proverem-na de instrumentos efetivos de atuação. Em alguns momentos, isto 
aconteceu com mais de uma teoria. Estas teorias, desenvolvendo-se às vezes em 
direções diferentes, criaram em certos períodos verdadeiras disputas entre 
profissionais, que procuravam provar a maior ou menor qualidade de suas 
propostas. O fato é que nenhum a teoria, até agora, mostrou-se suficiente para 
responder a todas as questões colocadas pela Psicologia. O que se nota hoje, na 
maioria dos psicólogos, já não é um a acirrada batalha no sentido de fazer 
prevalecer sua posição, mas sim um a postura crítica diante do conhecimento 
psicológico, e a procura de uma integração entre as diversas conquistas até agora 
realizadas em seu campo. Este processo de integração reflete-se também no 
trabalho de psicodiagnóstico. Atualmente, todas as correntes em Psicologia 
concordam, embora partindo de pressupostos e métodos diferentes, que, para se 
compreender o homem, é necessário organizar conhecimentos que digam 
respeito à sua vida biológica, intrapsíquica e social, não sendo possível excluir 
nenhum desses horizontes. Em relação aos aspectos biológicos do sujeito, ao 
realizarem o psicodiagnóstico, os psicólogos se preocupam com os fatores de 
desenvolvimento e maturação, com especial atenção à organização neurológica 
refletida no exercício das funções motoras. A avaliação dessas funções ocupa um 
 Apostila Psicodiagnóstico 6º semestre - Valdirene Oliveira - Página 11 
 
local de importância no psicodiagnóstico infantil (ao lado da avaliação cognitiva) 
pois está diretamente ligada ao pragmatismo e ao sucesso escolar. Ainda, nesta 
avaliação, cabe ao psicólogo perguntar-se sobre possíveis causas orgânicas 
subjacentes à queixa apresentada. Caso suspeite da existência de distúrbios físicos, 
deve remeter o cliente ao médico. Evitará, deste modo, os riscos da '‘psicologização”, 
isto é, fornecer explicações psicológicas a distúrbios de outra origem. A avaliaçãodos processos intrapsíquicos, principalmente da estrutura e dinâmica da 
personalidade, constitui-se no cerne do psicodiagnóstico. É ao redor dela que se 
organizam os demais dados. A relação do cliente com o psicólogo, assim como os 
papéis familiares e sociais, valores e expectativas, não deixam de ser considerados. 
A maior responsabilidade do psicólogo, porém, reside no trabalho de integração 
desses dados, já que a divisão dos mesmos não passa de um artifício para permitir 
um trabalho mais sistemático. Apesar da busca de integração, sabemos que um 
psicodiagnóstico, por mais completo que seja, refere-se a um determinado 
momento de vida do indivíduo, e constitui sempre uma hipótese diagnostica. Isto 
porque a Psicologia, como qualquer outra ciência, não pode ser considerada um 
corpo de conhecimentos acabado, completo e fechado. 1.3. Teoria e prática 
É muito importante conhecermos a situação na qual se encontra a Psicologia, por 
dois motivos. Primeiro, porque sabendo dos problemas de conhecimento com os 
quais nossa profissão se depara, não podemos deixar de lado questões de Filosofia 
e de Epistemologia, que nos impedirão de cair numa atuação acrílica e alienada, 
isto é, uma atuação na qual se utilizem, indiscriminadamente, diferentes conceitos, 
noções e práticas, sem explicitá-los e sem definir nossa posição frente aos mesmos. 
Em segundo lugar porque conhecendo as dificuldades que a Psicologia encontra, 
podemos compreender com maior facilidade como estas se refletem na prática, e 
encontrar formas de atuação, junto aos clientes, que nos permitam agir com 
segurança e tranquilidade. A relação entre a prática e a teoria em diferentes 
ciências e, portanto, também em Psicologia, é um a das questões que ocupa os 
estudiosos. Para alguns, a prática deve decorrer estritamente de uma postura e 
métodos teóricos. Para outros, o importante é a explicitação do cinturão de conceitos 
e noções no qual o sujeito se apoia, sem que, obrigatoriamente, esse cinturão esteja 
organizado anteriormente em um a teoria. O fato é que a prática e a teoria se 
alimentam mutuamente. Uma não se desenvolve sem a outra, não podendo haver 
desvinculação e nem subordinação total entre elas. A incompreensão dos aspectos 
 Apostila Psicodiagnóstico 6º semestre - Valdirene Oliveira - Página 12 
 
implicados nessa relação pode levar a um a desqualificação do trabalho prático do 
profissional, por parte daqueles que se consideram produtores do conhecimento, ou 
a uma atuação desvinculada da teoria e que se. descaracterizaria como prática 
profissional. Por outro lado, a total subordinação da prática à teoria é restritiva e 
improdutiva para ambas. 
A PRÁTICA DO PSICODIAGNÓSTICO 
Na prática da Psicologia Clínica visa-se, basicamente, a aliviar o sofrimento psíquico 
do cliente. Na prática do psicodiagnóstico, o objetivo é organizar os elementos 
presentes no estudo psicológico. de forma a obter uma compreensão do cliente a 
fim de ajudá-lo. Na concretização dessa prática, muitas atuações baseiam-se em 
soluções pragmáticas, mais do que em soluções decorrentes de uma abordagem 
teórica. Isto porque, na prática, entram em jogo novas dimensões. Ao atuar em 
psicodiagnóstico, o psicólogo está atendendo a objetivos definidos teoricamente. 
Está aplicando conhecimentos teóricos, validando-os ou modificando-os. As 
observações decorrentes dessa aplicação, se pesquisadas e informadas, trarão 
subsídios úteis a revisões e reformulações teóricas. Está também cumprindo sua 
função profissional de ajudar o cliente, desempenhando essa função, afirma o papel 
do psicólogo, preserva o espaço da profissão e atende à necessidade da mesma. 
Além desses objetivos, inerentes à profissão, o psicólogo estará servindo a outros 
desígnios que decorrem das condições sociais e organizacionais onde atua. Estas 
condições determinam o contexto no qual vai se desenvolver a atuação. Assim, ao 
realizarmos um psicodiagnóstico, tendo definido para nós mesmos as questões 
ligadas ao conhecimento psicológico e à prática profissional, devemos considerar o 
contexto no qual essa atuação está inserida. 
O CONTEXTO DA ATUAÇÃO 
O maior desenvolvimento dos modelos de psicodiagnóstico atuais deu-se em 
consultórios privados, no atendimento a uma clientela socialmente privilegiada. A 
valorização do psicólogo como profissional liberal contribuiu para a preferência pela 
atuação autônoma, em detrimento da atuação em instituições. Nestas, a mera 
transposição dos modelos de psicodiagnóstico utilizados em consultórios, mostrou-
se ineficiente. A situação passou a incluir, além do psicólogo e do cliente, um terceiro 
elemento, a instituição, que modificou a estruturação do trabalho. Nem sempre a 
instituição, os psicólogos e os clientes apresentam necessidades e objetivos 
 Apostila Psicodiagnóstico 6º semestre - Valdirene Oliveira - Página 13 
 
coincidentes. A atuação em psicodiagnóstico prevê o conhecimento das 
necessidades do cliente. Questões éticas propõem ao psicólogo o conhecimento e a 
elaboração de suas próprias necessidades e desejos, a fim de que os mesmos não 
interfiram no trabalho profissional, prejudicando-o. Consideramos necessário que as 
influências institucionais sejam reconhecidas também. O psicólogo, ao atuar em 
creches, hospitais, presídios e outras organizações, encontra-se frequentemente sob 
orientação estranha aos interesses de sua profissão. Apesar da regulamentação 
prever, como função exclusiva do psicólogo, a direção de serviços de Psicologia, essa 
regulamentação nem sempre é respeitada. O psicólogo é muitas vezes pressionado 
a servir primordialmente aos interesses da instituição. Esta, através de regulamentos 
internos ou de poder burocrático, determina a quantidade de trabalho a produzir, 
local, tempo e recursos a serem usados. A própria utilização dos resultados do 
trabalho, por parte da instituição, pode ser contrária aos interesses do psicólogo e do 
cliente. Pressões de mercado e questões trabalhistas limitam a autonomia do 
profissional. Além da influência das condições organizacionais, a demanda da 
atuação profissional é claramente influenciada por condições sociais. Essa 
demanda pode ser verificada mais facilmente em ser viços institucionais, dado o 
grande afluxo de pessoas aos mesmos. Ao examinarmos as características gerais da 
população que procura esses serviços, podemos reconhecer alguns determinantes 
sociais. A maioria pertence a segmentos populacionais desvalorizados social mente, 
por não constituírem força produtiva. A procura do serviço psicológico decorre de 
encaminhamentos de terceiros, verificando-se raramente a busca espontânea. A 
expectativa, nesses casos, é de adequação rápida às exigências exteriores. O 
profissional nem sempre encontra a seu dispor as técnicas mais adequadas ao caso 
em atendimento. A maioria das técnicas à disposição foi desenvolvida em outros 
países, e o acesso às mesmas depende de sua divulgação e comercialização. A 
obtenção de certos materiais implica em alto custo financeiro. Nessa situação, com 
poucos instrumentos disponíveis, o psicodiagnóstico pode transformar-se na 
repetição estereotipada de um a sequência fixa de testes, que nem sempre seriam 
os escolhidos pelo profissional, ou os que melhor serviriam ao cliente. O 
reconhecimento das influências organizacionais e sociais às quais o psicólogo está 
submetido é importante, na medida em que lhe permite compreender melhor a 
função social que a profissão está desempenhando e com a qual o profissional está 
sendo conivente. Permite também que este colabore, efetivam ente, na produção e 
divulgação de técnicas e formas de trabalho voltadas à nossa realidade 
 Apostila Psicodiagnóstico 6º semestre - Valdirene Oliveira - Página 14 
 
socioeconômica e cultural. Como vemos, não é fácil trabalhar em psicodiagnóstico. 
Podemos, porém, utilizar todos os conhecimentos e recursos a nosso dispor, de forma 
criativae coerente, se lembrarmos que o conheci mento é contingente, as técnicas 
não são regras imutáveis, e toda sistematização é provisória e passível de 
reestruturação. 
DESAFIOS NO PSICODIAGNÓSTICO INFANTIL – CAPÍTULO XII 
Rosana F. Tchirichian de Moura 
Silvia Ancona-Lopez 
Durante os 25 anos de nossa atuação com o psicodiagnóstico interventivo, 
confrontamo-nos com diversos desafios que colocaram em xeque a nossa prática, 
obrigando-nos a retomar conceitos, rever técnicas e refletir sobre as contingências e 
características do mundo moderno, contexto no qual estão inseridas as crianças e 
as famílias às quais atendemos. 
Por desempenharmos nossa profissão principalmente em clínicas-escola de 
Psicologia que oferecem atendimento gratuito, grande parte dos clientes tem 
dificuldades socioeconômicas, acarretando carências em diversos aspectos, o que 
induz a atuações que escapam do campo tradicional da psicologia clínica. 
Como lembra o Conselho Federal de Psicologia (2007, p. 8), frequentemente “o 
trabalho profissional requer inventividade, inteligência e talento para criar, inovar, 
de modo a responder dinamicamente ao movimento da realidade”. 
Frequentemente, nas clínicas-escola de psicologia as crianças comparecem 
para atendimento psicológico trazendo como queixa dificuldades na 
escolarização. Na sua maioria, são encaminhadas por escolas públicas, que 
esperam obter dos psicólogos clínicos explicações acerca dos motivos que as 
impedem de se desenvolver pedagogicamente. Atendendo a essa demanda, 
comumente o profissional, restringindo-se à singularidade da criança, realiza o 
psicodiagnóstico privilegiando os aspectos da personalidade, “que resultam em 
uma predisposição para a formação desse sintoma” (Bossa, 2002, p. 13), 
desconsideram, assim, os aspectos institucionais que contribuem para o chamado 
fracasso escolar. 
Embora haja exceções e esforços governamentais e de alguns educadores no Brasil, 
é fato que a escola tem se tornado cada vez mais o palco de fracassos e de formação 
precária, impedindo os jovens de se apossarem da herança cultural, dos 
 Apostila Psicodiagnóstico 6º semestre - Valdirene Oliveira - Página 15 
 
conhecimentos acumulados pela humanidade e, consequentemente, de 
compreenderem melhor o mundo que os rodeia. A escola, que deveria formar jovens 
capazes de analisar criticamente a realidade, a fim de perceber como agir no 
sentido de transformá-la e, ao mesmo tempo, preservar as conquistas sociais, 
contribui para perpetuar injustiças sociais que sempre fizeram parte da história do 
povo brasileiro (Bossa, 2002, p. 19). 
Embora a situação descrita seja a mais comum, é preciso lembrar que estão sendo 
feitos esforços governamentais e de alguns educadores visando mudar essa 
condição. 
Rafael, 8 anos de idade, faz parte desse contingente injustiçado. Como inúmeras 
crianças, foi encaminhado pela escola para atendimento psicológico porque 
apresentava dificuldade de aprendizagem e não estava alfabetizado. A mãe, muito 
preocupada, temia que seu filho fosse portador de deficiência mental. Durante o 
processo de psicodiagnóstico interventivo, a mãe relatou que, em um mesmo 
semestre, o filho enfrentou quatro mudanças de professoras de alfabetização. Essa 
criança confrontouse, como denuncia Souza (2007, p. 6), com: 
[…] uma escola pública cuja má-fé institucional permite incutir, nos próprios pobres, 
vítimas de abandono secular, que seu fracasso escolar é culpa da própria vítima. A 
criança pobre, sem estímulos em casa para apreender, passa a se ver como burra, 
incompetente e preguiçosa, cumprindo a promessa que a sociedade lhe legou […] 
Concordamos com Bossa (2002), quando afirma ser comum que as escolas e os 
psicólogos compreendam o fracasso escolar de uma criança considerando os 
aspectos intrassubjetivos e relacionais, as primeiras possivelmente por uma 
dificuldade de se confrontar com suas próprias deficiências e os segundos apoiados 
na tradição da sua formação profissional que tende a privilegiar o indivíduo. Uma 
visão ampliada da clínica psicológica permitiria levar em conta esses dois aspectos, 
de tal forma que a compreensão da dificuldade de aprendizagem se construísse a 
partir da avaliação do contexto escolar no qual a criança está inserida. Assim, no 
caso de Rafael, antes de pensarmos em uma possível deficiência cognitiva, 
deveríamos atentar para a deficiência da instituição escolar, que, além de não 
oferecer a estabilidade necessária para o bom desenvolvimento do processo de 
ensino-aprendizagem, culpabilizou a criança pelo seu insucesso. 
 Apostila Psicodiagnóstico 6º semestre - Valdirene Oliveira - Página 16 
 
No Psicodiagnóstico Interventivo, cientes da limitação do fazer clínico, 
procuramos engajar a família e a escola num processo que visa não apenas à 
compreensão das dificuldades da criança, mas também encontrar formas de 
auxiliá-la no seu desenvolvimento. Nesse sentido, a visita escolar, que é um 
procedimento nesse processo e tema deste livro (ver capítulo VII), tem uma 
importância significativa, principalmente por possibilitar uma reflexão conjunta 
com as equipes das escolas sobre o seu papel na dificuldade dos alunos. Associado 
a isso, discriminar para os pais quais são as dificuldades de seus filhos e o que é 
responsabilidade das instituições escolares pode levá-los a se colocar mais 
criticamente em relação ao problema e se posicionarem como cidadãos ativos que 
podem fazer suas reivindicações junto às escolas. A participação no 
psicodiagnóstico interventivo pode propiciar aos pais uma mudança de atitude em 
relação aos seus filhos, reconhecendo e favorecendo seus aspectos positivos e 
ajudando-os a encontrar a melhor maneira de auxiliar a criança a superar os 
aspectos negativos. 
Entendemos que ainda temos como desafio no psicodiagnóstico interventivo 
ampliar nosso olhar, de modo a ir além da criança como foco da investigação e 
integrar outros aspectos, como os efeitos do mundo moderno sobre ela e sua família. 
Como é o caso do acesso aos computadores, um avanço tecnológico que já faz parte 
da vida escolar de muitas crianças da rede pública, e se de um lado propicia a 
inclusão em um mundo globalizado de informações, de outro não garante aquilo 
que lhes seria de direito, ou seja, aprender. Um número expressivo de crianças que 
chegam às clínicas de psicologia está prestes a finalizar o primeiro grau 
praticamente sem alfabetização. Para essas crianças, qual sentido terá o uso dos 
computadores e a navegação na internet? O uso dos aparelhos eletrônicos, nesses 
casos, não é uma forma de adquirir ou armazenar conhecimentos, mas uma 
ferramenta de consumo que cria para elas a ilusão de fazerem parte da 
modernidade e do mundo virtual, o que, de algum modo, compensaria o sentimento 
de exclusão no contexto escolar. 
Uma visão sociológica nos parece oportuna para caracterizar o mundo atual. De 
acordo com Baumann (1998, p. 32): O sentimento dominante, agora, é a sensação de 
um novo tipo de incerteza, não limitada à própria sorte e aos dons de uma pessoa, 
mas igualmente a respeito da futura configuração do mundo, a maneira correta de 
viver nele e os critérios pelos quais julgar os acertos e erros de viver. O que também 
 Apostila Psicodiagnóstico 6º semestre - Valdirene Oliveira - Página 17 
 
é novo em torno da interpretação pós-moderna da incerteza (em si mesma, não 
exatamente uma recém-chegada num mundo de passado moderno) é que ela já 
não é vista como um mero inconveniente temporário, que com o esforço devido 
possa ser abandonado ou inteiramente transposto. O mundo pós-moderno está se 
preparando para a vida sob uma condição de incerteza que é permanente e 
irredutível. 
Esse mesmo autor aponta que a época em que vivemos tem por característica 
privilegiar o consumo, o imediatismo e o individualismo competitivo. Como 
consequência, também os laços afetivos (familiares, amorosos, de amizade etc.)adquirem os atributos de volatilidade e superficialidade, assumindo um caráter que 
Bauman (2004) chama de “amor líquido”. São relações facilmente substituíveis que 
se pautam pelo compromisso provisório e, frequentemente, são de curta duração. 
Na verdade, são vários os fatores que têm contribuído para novos formatos das 
famílias, o que tem redesenhado a constituição dos laços afetivos que tem no âmbito 
familiar a principal matriz das formações vinculares. 
Na nossa prática clínica, esse quadro se reflete em algumas das configurações 
familiares das crianças que vêm para o psicodiagnóstico. Grande parte é de famílias 
monoparentais femininas (mães solteiras ou abandonadas por seus parceiros); 
crianças que têm irmãos de pais diferentes; avós que criam seus netos; casais que 
trazem filhos de relacionamentos anteriores e que geram outros filhos. Enfim, são 
novos modos de organização familiar, como se observa a seguir. 
Marcelo, um menino muito inteligente, de 9 anos, alegre e conversador, começa a 
relatar como é a composição de sua família: Eu tenho muitos irmãos. Tenho um de 
22 anos que trabalha em uma oficina, com o irmão dele de 18. Quer dizer, meu irmão 
de 18 anos, é que eles têm outra mãe. Não é a minha… mas eu tenho um irmão de 12 
que é da minha mãe, e não é do meu pai… é assim… às vezes eu me confundo, sabe? 
Porque eu tenho uma irmã que… é fácil… é assim… vou começar de novo… (sic) 
Paulo, de 11 anos, é criado pelos avós desde bebê. Sua mãe engravidou solteira e não 
assumiu a criança, assim como o pai, que já tinha um filho. Sua mãe teve mais dois 
relacionamentos, e de cada um deles teve mais dois filhos, sendo que um vive com 
ela e o outro com o pai, em outro estado. A avó procura ajuda psicológica para o 
neto, preocupada com os efeitos que essa experiência de vida possa trazer ao garoto. 
 Apostila Psicodiagnóstico 6º semestre - Valdirene Oliveira - Página 18 
 
Ela e a mãe participam do psicodiagnóstico interventivo do menino, que, de modo 
confuso, se refere a ambas como mãe. 
A história de Paulo não é única. Segundo Dias, Hora e Aguiar (2003), na última 
década, aumentou a quantidade de netos e bisnetos criados por avós e bisavós. O 
número foi de um milhão e setecentos mil, o que significa 55,1% mais do que foi 
apurado em 1991, correspondente a um milhão e cem mil. Muitos destes casos 
chegam às clínicas de psicologia, pois, como Silva e Salomão (2003, p. 192) 
constatam, com frequência há conflitos de papéis entre ser mãe e avó, no caso das 
avós guardiãs, conflitos estes que, sem dúvida, se refletirão nas crianças a seus 
cuidados. Dias, Hora e Aguiar (idem) corroboram esta ideia ao afirmar que foram 
identificadas vantagens, dificuldades e necessidades nos lares em que os avós 
desempenham o papel de pais para seus netos na ausência (permanente ou de 
longo prazo) dos genitores. Já no que se refere à situação de corresidência, ainda 
pouco se sabe sobre as repercussões que tal condição acarreta na vida e nas 
relações estabelecidas entre avós, pais e netos. Uma nova configuração familiar que 
está se consolidando, inclusive com o amparo legal, é a das famílias homoparentais. 
Em alguns anos não se ouvirão mais depoimentos como o de Joaquim (12 anos) 
durante uma sessão de psicodiagnóstico: Eu gosto muito da Cleuza. Se minha mãe 
se separar dela eu prefiro morar com ela. Minha mãe é legal, mas a Cleuza me leva 
no futebol, gosta de assistir luta livre, conta piada… é bom. Só que tem uma coisa… 
eu não convido ninguém para ir na minha casa. Não convido meus amigos. Minha 
mãe fala: vamos fazer uma festa de aniversário? Eu não quero, não gosto. Eu acho a 
Cleuza legal, mas… é que… é que… acho esquisito minha mãe ser casada com uma 
mulher. Meus amigos vão zoar… (sic) A esse respeito, Passos (2005, p. 6) comenta: 
[…] as condições por meio das quais os homossexuais constroem seus laços afetivos, 
no Brasil, estão longe de obter uma legitimidade social e jurídica e, enquanto esse 
quadro não se reverte, teremos famílias e pais envergonhados. Resta explorarmos os 
sentimentos desta vergonha nas produções de subjetividade que decorrem daí. Os 
progressos nessa área vêm se desenvolvendo rapidamente do ponto de vista 
jurídico, como a legalização do casamento entre homossexuais, mas, do ponto de 
vista pessoal, a aceitação se dá mais lentamente, mantendo ainda a situação 
descrita pela autora. Cabe ao psicólogo questionar de que forma essas 
metamorfoses nas famílias repercutem na constituição das crianças, e o 
psicodiagnóstico interventivo é um momento privilegiado para esse 
 Apostila Psicodiagnóstico 6º semestre - Valdirene Oliveira - Página 19 
 
questionamento por ter como objetivo conhecer os sentidos e os significados que as 
crianças e seus pais dão às suas vidas e a seus mundos. 
Ainda para a mesma autora, as novas formatações familiares, de famílias 
homoparentais ou não, colocam em xeque os apoios teóricos dos psicólogos. Cabe-
nos também o enfrentamento rigoroso das teorias, que são insuficientes para dar 
conta das profundas transformações processadas nas famílias, sobretudo em seus 
enredamentos afetivos (ibidem, p. 5). 
Marcelo, Paulo e Joaquim são crianças que vivem a necessidade de se adaptar a 
configurações familiares não tradicionais. Assim, também o psicólogo, diante de 
situações novas e inusitadas para ele, sente-se desamparado sem um balizamento 
para suas intervenções. Naturalmente escudado pelas teorias psicológicas que 
conhece, procura, durante o processo diagnóstico, situar-se no mundo do cliente, 
qualquer que seja ele, para compreendê-lo. Entretanto, na contemporaneidade, é 
preciso despir-se das amarras teóricas com o objetivo de acolher o cliente e sua 
família, sem cair na armadilha de considerar que a criança ficará, obrigatoriamente, 
prejudicada no seu desenvolvimento psicológico. Como lembra Passos (2005, p. 14): 
“[…] é necessária a criação de abordagens que apontem para as distintas facetas da 
grupalidade familiar e que permitam a compreensão de diferentes formas de ser 
família hoje”. O que fazer enquanto essas abordagens não surgem? A inventividade, 
o bom-senso e, principalmente, a reflexão poderão auxiliar o psicólogo na sua 
atuação, sempre tendo em mente que, enquanto profissional, deve acompanhar 
essas transformações e os estudos que sobre elas são realizados. 
É possível observar, no entanto, que apesar das questões teóricas que o psicólogo 
venha a enfrentar, o psicodiagnóstico interventivo, ao oferecer a oportunidade de 
uma reflexão conjunta, permite enfrentar as lacunas teóricas através de uma 
compreensão co-constituída que se pauta pelo mundo vivido do cliente. Além disso, 
quando o atendimento a pais e crianças acontece em grupo (modelo usualmente 
utilizado em clínicas-escola e outras instituições), o psicodiagnóstico interventivo 
se enriquece ao facilitar a identificação e a troca entre os componentes do grupo, 
auxiliando na compreensão da própria família, contribuindo, em muitos casos, 
para diminuir a sensação de isolamento e eliminando a impressão de que seu 
caso é diferente, único e que talvez não tenha solução. 
 Apostila Psicodiagnóstico 6º semestre - Valdirene Oliveira - Página 20 
 
Não poderíamos deixar de incluir nessa discussão nossas inquietações frente à cruel 
realidade de crianças que, em circunstâncias mais adversas, são obrigadas a 
conviver diretamente com a violência social e familiar. 
A violência doméstica, incluindo o abuso sexual e psicológico, não é fato dos 
tempos atuais, haja vista ser tema que faz parte dos estudos no campo da 
Psicologia (Azevedo e Guerra, 2000), ocupando sempre, dada a sua 
complexidade, lugar importante nas discussões a respeito do trabalho clínico 
com crianças (Azambuja, 2005; Gay e Costa Júnior, 2005) e impondo dilemas 
éticos que exigiriam um capítulo especial. 
O CFP (2010, p. 38) lembra que a violência sexual é um problema complexo e 
delicado. Suasmúltiplas causas, interfaces e, principalmente, o sofrimento psíquico 
de todas as pessoas envolvidas, exigem extremo cuidado dos profissionais 
responsáveis pelo atendimento e de todos os integrantes da rede de proteção. 
A ocorrência de situações de violência contra crianças e adolescentes não é 
fenômeno exclusivo da atualidade, como também não pode ser analisada de forma 
descontextualizada da cultura e das condições impostas pela vulnerabilidade 
social. 
Como vemos com frequência em nossa rotina de trabalho, o abuso sexual, em 
muitos casos, é um episódio intrafamiliar marcado pela existência de vinculação 
afetiva entre seus integrantes, dependência econômica entre os cuidadores, 
negligências, conivências e vulnerabilidades. O manejo desse assunto no 
psicodiagnóstico é bastante difícil, porque nem sempre essa questão é trazida 
prontamente pelos pais ou responsáveis ou pela própria criança. Temos como 
compromisso profissional zelar pelo bem-estar da criança ou adolescente, mas com 
o cuidado de não cometer imprudências, considerando tratar-se de um tema que 
deve ser “contextualizado e tratado conforme as vicissitudes de cada caso e jamais 
analisado isoladamente” (CFP, 2007). 
Julgamos, ainda, oportuno abordar neste espaço de reflexão outra forma de 
violência, a violência social que, apesar de todos os avanços que vivemos, tem 
tomado forma e dimensão assustadoras. 
Segundo Campos (2004, p. 157), a competitividade e desigualdade têm provocado 
consequências sociais perversas que se traduzem “[…] pelo aumento de: violência; 
 Apostila Psicodiagnóstico 6º semestre - Valdirene Oliveira - Página 21 
 
uso de drogas; conflitos e rupturas familiares; alienação social e política; xenofobia; 
conflitos étnicos e religiosos; doenças psicossomáticas”. 
A convivência com episódios violentos vem, dia a dia, se incorporando à realidade 
brasileira, especialmente no cotidiano de crianças e famílias que vivem em regiões 
com alto índice de criminalidade. 
Na sala de espera de um Centro de Psicologia Aplicada, Luiza, com cerca de 10 anos, 
está desenhando enquanto aguarda sua mãe. Uma psicóloga se aproxima e vê o 
desenho de uma casa com uma criança ao lado e no alto um grande coração onde 
está escrito PAZ. Ao perguntar o que ela queria dizer com aquele desenho, a menina 
responde que o lugar onde mora é muito violento e que ela queria que houvesse paz. 
Ana, 5 anos de idade, estava com seu pai quando ele foi assassinado a tiros por um 
assaltante. Os irmãos de 9 e 7 anos de idade, Otávio e Márcia, presenciaram o pai 
matar sua mãe a facadas. Pedro, de 11 anos, assistiu a seu irmão mais velho, usuário 
de drogas, ser espancado por traficantes… 
Esses são apenas alguns dos casos atendidos no psicodiagnóstico. 
Do ponto de vista prático, o que fazer diante dos problemas que aqui apresentamos? 
A proposta do psicodiagnóstico interventivo é de que o psicólogo não atue apenas 
como um examinador ou avaliador, mantendo a neutralidade, mas que, durante 
esse processo, ataque frontalmente esses temas, considerando-os não apenas 
fontes de desestabilização emocional das crianças, compreendidas através do seu 
psiquismo, mas também questões sociais que devem ser discutidas com os pais e, 
eventualmente, também com as crianças (como nos casos de abuso e violência, 
ajudando-as a encontrar formas de se defender). 
Acreditamos que faz parte do papel do psicólogo sugerir, apoiar e incentivar os pais 
ou responsáveis a atitudes ativas, como a de organizar grupos nas comunidades 
para enfrentar o problema das drogas de seus filhos, procurar formas de reagir ao 
banditismo, exigir uma melhor atuação das escolas ou um atendimento adequado 
no que se refere à saúde. Enfim, auxiliá-los a conhecer, reconhecer e batalhar por 
seus direitos como cidadãos. 
Como profissionais da psicologia, cabe-nos, ainda, desenvolver pesquisas sobre 
esses temas que nos desafiam e criar grupos de discussão e estudos sobre eles. 
 Apostila Psicodiagnóstico 6º semestre - Valdirene Oliveira - Página 22 
 
Finalmente, embora alguns dos dilemas discutidos neste capítulo pareçam sem 
solução e em muitos momentos, como profissionais, sejamos tomados por um 
sentimento de impotência que quase nos leva a um estado de paralisação, podemos 
dizer que ainda há um espaço para nossa atuação, que é o espaço da crítica, da 
reflexão, criação e, especialmente, do acolhimento e do respeito. Se as teorias 
psicológicas parecem ter chegado aos seus limites, possivelmente não 
encontraremos uma saída para essas questões pelo “saber” único da psicologia, 
mas pela interlocução com outros saberes, pela ética pessoal, pelo respeito ao outro 
e suas diferenças. Como “profissionais do encontro” (Figueiredo, 1993), lidar com o 
outro (indivíduo, grupo ou instituição) na sua alteridade faz parte da nossa atividade 
cotidiana. Mesmo que cheguemos a este encontro com a relativa e muito precária 
segurança de nossas teorias e técnicas, o que sempre importa é a nossa 
disponibilidade para a alteridade nas suas dimensões de algo desconhecido, 
desafiante e diferente; algo que no outro nos obriga a um trabalho afetivo e 
intelectual; algo que no outro nos propulsiona e nos alcança; algo que no outro se 
impõe a nós e nos contesta, fazendo-nos efetivamente outros que nós mesmos. 
No que se refere ao psicodiagnóstico interventivo, cabe-nos tentar, conforme 
dissemos, compreender e respeitar o mundo do cliente, o que implica contemplar as 
questões políticas, sociais e econômicas que estão imbricadas na sua vida e que se 
não consideradas nos tornarão incapazes de atingir nosso objetivo. Isso significa que 
o psicólogo não deve ater-se apenas ao espaço clínico, mas conhecer o ambiente 
escolar da criança, suas condições de moradia e seu meio social. Contudo, entrar 
nesse mundo implica o confronto com as nossas inquietações e limitações, pois 
frequentemente nos perguntamos o que é possível fazer. 
Após todos estes anos de prática, entendemos que o enfrentamento dos desafios 
aqui apresentados é o caminho que nos levará a manter o psicodiagnóstico 
interventivo como um procedimento útil para a compreensão dos que vêm em 
busca de auxílio psicológico e para a criação de um espaço diferenciado que 
permita àqueles que estão envolvidos no processo compartilhar seu sofrimento 
e encontrar um novo modo de lidar com sua realidade. Desse modo, por ser uma 
prática compartilhada e uma construção conjunta, a resposta para a pergunta feita 
anteriormente só poderá ser encontrada junto com os clientes. 
O ser humano é o ser do desamparo, da falta e a Psicologia, de alguma forma, pode 
atender a essa necessidade, não com a ilusão de preencher esse vazio, mas 
 Apostila Psicodiagnóstico 6º semestre - Valdirene Oliveira - Página 23 
 
comprometendo-se a uma constante atualização de seus conhecimentos, sendo 
para isso necessário estar atento à realidade que se apresenta e na qual os clientes 
estão inseridos (Gelernter et al., 2012, p. 19). 
Acreditamos que o psicodiagnóstico interventivo, pelas suas características de 
valorização do sujeito como indivíduo e cidadão, vem ao encontro do CFP (2007, p. 
20) quando propõe que: 
 Atuar na valorização da experiência subjetiva do sujeito contribui para fazê-lo 
reconhecer sua identidade. Operar no campo simbólico da expressividade e da 
interpretação com vistas ao fortalecimento pessoal pode propiciar o 
desenvolvimento das condições subjetivas de inserção social. Assim, a oferta de 
apoio psicológico de forma a interferir no movimento dos sujeitos e no 
desenvolvimento de sua capacidade de intervenção e transformação do meio 
social é uma possibilidade importante. 
Em artigo intitulado Pós-evolucionismo, publicado no caderno Aliás de O Estado de 
S. Paulo (10 fev. 2013), Paul Kendall refere-se a um robô chamado “Rex — sigla de 
robotic exoskeleton, que foi montado pela companhia de robótica Shadow usando 
membros e órgão artificiais”.Esse robô, exibido no Museu da Ciência de Londres, 
mostra que já é possível reconstruir de 60% a 70% do corpo humano e “prenuncia 
um futuro no qual órgãos artificiais serão melhores do que aqueles com os quais 
nascemos” 
(OESP, caderno Aliás, p. 2). O artigo termina com a afirmação de um psicólogo suíço, 
Bertold Meyer, de que “estamos indo além das fronteiras da evolução”, e de que 
daqui há alguns anos ter um corpo natural, normal “será considerado maçante” 
(ibidem). 
Esse será o novo mundo dos psicólogos que se formarão dentro de alguns anos, os 
quais, como permite antecipar o exemplo acima, encontrarão desafios ainda 
inimagináveis para lidar com a humanidade. 
O PSICODIAGNÓSTICO INTERVENTIVO FENOMENOLÓGICO-
EXISTENCIAL GRUPAL COMO POSSIBILIDADE DE AÇÃO CLÍNICA DO 
PSICÓLOGO 
Paulo Evangelista (Revista da Abordagem Gestáltica - Phenomenological 
Studies - XXII(2): 219-224, jul-dez, 2016) 
 
 Apostila Psicodiagnóstico 6º semestre - Valdirene Oliveira - Página 24 
 
1. Psicodiagnóstico tradicional 
O psicodiagnóstico que aprendi na faculdade, que hoje chamo (à luz da descoberta 
do psicodiagnóstico interventivo) de “tradicional”, é um processo psicológico 
voltado para o esclarecimento da demanda que mobilizou o paciente a buscar 
ajuda psicológica, com o objetivo de propor o encaminhamento mais adequado. 
Na faculdade, o psicodiagnóstico que realizei era de um homem de 40 e poucos 
anos. Estava frustrado com o trabalho e com o casamento. Em cinco sessões realizei 
com ele um levantamento de como a situação chegou a este momento crítico, que 
mobilizou a busca por ajuda, e fiz o encaminhamento. Lembro que ao longo das 
sessões eu me segurava para não fazer perguntas que convidassem reflexões sobre 
seu modo de se relacionar em casa e no trabalho. Fazia isso, pois entendia que o 
psicodiagnóstico era um processo de avaliação, que podia (frequentemente deveria) 
recorrer a testes psicológicos para compreender o sentido do sofrimento 
apresentado. Assim, embora não tenha aplicado nenhum teste nesse paciente, fiz 
um levantamento que confirmou aquela que era minha expectativa desde o 
início dos atendimentos: este homem precisava de psicoterapia. Ademais, minha 
supervisora era uma ótima psicanalista. Às vezes ela recorria à teoria para iluminar 
algumas situações da sessão, outras, para explicar por que o paciente agia do modo 
como agia. Assim, na quinta sessão, retomei com ele o que havíamos explicitado ao 
longo do processo, expliquei a ele por que (as causas!) de seu sofrimento e realizei o 
encaminhamento para a mesma clínica da PUC, só que para o setor de psicoterapia. 
Fiz esse encaminhamento mais ou menos no fim de setembro e não acompanhei 
posteriormente para saber quando ou mesmo se foi chamado. Esse modo como 
procedi está em conformidade com o modelo “tradicional” de psicodiagnóstico. 
Parte-se do pressuposto de que essa modalidade de prática psicológica visa 
esclarecer a demanda no momento de chegada ao serviço de psicologia para, em 
seguida, fazer o encaminhamento correto. Está de acordo com a etimologia da 
palavra, que vem do “grego diagnõstikós e significa discernimento, faculdade de 
conhecer, de ver através de.” (Ancona-Lopez, 1984, p. 1) Ademais, corresponde a uma 
das prerrogativas da profissão do psicólogo no Brasil, determinada pela Lei Federal 
nº 4.119 de 1962, regulamentada pelo Decreto nº 53.464, de 21/01/1964, onde se lê no 
Art. 4 que “São funções do psicólogo: 
1) Utilizar métodos e técnicas psicológicas com o objetivo de: 
a) diagnóstico psicológico; 
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b) orientação e seleção profissional; 
c) orientação psicopedagógica; 
d) solução de problemas de ajustamento” (Brasil, 1962) 
Assim, ao explicar o sofrimento psicológico do paciente e encaminhá-lo ao 
serviço adequado, estou realizando um diagnóstico psicológico. Implicado aqui 
está que eu, psicólogo, tenho um conhecimento científico que, aplicado às situações 
apresentadas pelo paciente, possibilita uma explicação das causas desse 
sofrimento. Conhecendo as causas, é possível uma intervenção adequada. Isso 
também está de acordo com a proposta da psicologia enquanto ciência técnica. 
Como afirmam Pompéia & Sapienza (2010), “Neste nosso tempo da técnica, faz muito 
sentido que, tendo detectado o que a está perturbando, ela [pessoa que sofre] queira 
saber com objetividade se o terapeuta vai conseguir responder à sua demanda e 
quanto tempo levará” (p. 129). No processo que realizei, fiz isso. Identifiquei que havia 
sofrimento psicológico e que a psicoterapia seria a modalidade de prática 
psicológica mais adequada para essa demanda. Nem me dei conta então, que 
estava implicada aqui uma hierarquia na relação com o paciente (provavelmente 
porque, na condição de quarto anista no curso de Psicologia, eu concordaria com 
essa hierarquia). Ele me relatou sua vida e eu, detentor do saber psicológico, 
interpretei-a por ele e para ele, entendendo que a psicoterapia seria o 
encaminhamento mais adequado. Passou-se quase uma década para que eu 
entendesse que o que eu fiz com ele é o que costumeiramente se faz nos serviços 
de psicodiagnóstico em clínicas-escola; a vasta maioria dos pacientes é indicada 
para a psicoterapia. Na UNIP, como supervisor de psicoterapia, chegam 
semestralmente muitos pacientes indicados pelo psicodiagnóstico. Como lá o 
psicodiagnóstico é a porta de entrada das crianças à clínica-escola, elas são 
indicadas para a psicoterapia, assim como seus pais. Num levantamento estatístico 
bem informal dos pacientes atendidos pelos alunos que supervisiono em 
psicoterapia na UNIP, metade foi indicada pelo psicodiagnóstico. Todos esses 
pacientes indicados para psicoterapia também relatam terem passado por uma 
das consequências do método tradicional de diagnóstico psicológico, por qual o 
paciente que atendi na PUC também deve ter passado: receberam informações 
sobre o sofrimento que motivou a busca pelo psicólogo e o encaminhamento e 
depois tiveram que aguardar meses até serem chamados. Não é à toa que muitos 
pacientes desistem do atendimento nas clínicas-escola antes de o iniciarem; com o 
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longo tempo de demora na fila de espera, ou os sintomas desaparecem, ou buscam 
atendimento em outros lugares. Esse é, por- tanto, outro aspecto do psicodiagnóstico 
tradicional que, quando usado em contextos institucionais, exige reformulações. No 
consultório particular ele funciona. Aliás, é do modelo de consultório particular que 
provém. Mas em clínicas-escola e outras instituições voltadas para o atendimento 
de pessoas que não dispõem de recursos para atendimentos particulares, esse 
modelo não se adéqua. Frequentemente os pacientes precisam se deslocar de 
longe, gastando o dinheiro contado para condução, para, após dois ou três meses, 
terem confirmado pelo psicólogo que realmente precisam de um atendimento 
psicológico. Essas mesmas dificuldades acontecem com as famílias que levam seus 
filhos para as clínicas-escola. As crianças, frequentemente encaminhadas pela 
escola por problemas de aprendizagem, vêm com seus pais para terem confirmado 
que precisam passar por um psicólogo. Feito o encaminhamento, precisam esperar 
até serem chamados, o que geralmente leva meses. 
Esse modelo de psicodiagnóstico nasceu nos consultórios particulares, mas não se 
adéqua à situação de atendimento nessas instituições, onde as pessoas vêm 
buscando ajuda para lidar com as dificuldades atuais. Ancona-Lopez (1984) lembra 
que as pessoas nem se preocupam com o nome do serviço psicológico que estão 
recebendo; o que lhes importa é conseguir lidar com o sofrimento atual. Mas o 
psicólogo que realiza o psicodiagnóstico no modelo tradicional acaba por 
desconsiderar o pedido de ajuda, postergando “a intervenção, empobrecendo um 
encontro rico de possibilidades”(p. 32). 
 
2. Psicodiagnóstico interventivo 
Assim, o questionamento deste modelo de psicodiagnóstico surge a partir do 
encontro com a realidade institucional que encontra. O psicodiagnóstico 
interventivo aparece como uma modalidade de prática psicológica mais adequada 
para atender a clientela das clínicas-escola. Por um lado, segue o mesmo objetivo 
do psicodiagnóstico tradicional, a saber, compreender o que ocorre, o 
comportamento interpretado como problemático, e para responder ao pedido de 
modificação por meio de intervenção do psicólogo, indicando o encaminhamento 
mais adequado, caso necessário. Por outro lado, o psicodiagnóstico interventivo 
rompe com o conceito de diagnóstico enquanto coleta de dados para que o 
psicólogo formule uma compreensão sobre o cliente, implicando os clientes no 
 Apostila Psicodiagnóstico 6º semestre - Valdirene Oliveira - Página 27 
 
processo de formulação de uma compreensão sobre si mesmos e utilizando os 
encontros clínicos de maneira a já intervir na dinâmica apresentada, contribuindo 
para o esclarecimento e para a superação do sofrimento que motivou a busca por 
ajuda. 
Quando em 2008 entrei pela primeira vez para supervisionar um grupo de 
estagiários de psicodiagnóstico interventivo na UNIP, deparei-me com um modo 
completa- mente diverso de prática psicológica, cujo objetivo geral é esse 
apresentado acima. O grupo era composto por doze estagiários, que formavam 
duplas. Eles me informaram que em poucos minutos receberíamos seis famílias, 
previamente chamadas pela clínica-escola, para o psicodiagnóstico. Ao longo do 
processo fui descobrindo e compreendendo o sentido deste psicodiagnóstico. 
Primeiramente, as sessões eram realizadas em grupo. Isso é muito enriquecedor 
neste processo, pois possibilita aos pais e responsáveis que ouçam as suas histórias, 
as compreensões que têm dos comportamentos de seus filhos e os modos como já 
tentaram lidar com os comportamentos tidos como problemáticos. Dessas 
discussões surgem muitas possibilidades de ação e compreensão da situação atual 
vivenciada pela família. Lembro-me de uma sessão em que duas mães começaram 
a narrar as dificuldades de suas próprias infâncias, refletindo sobre como o medo de 
que seus filhos passassem por situações semelhantes influenciava a rigidez com que 
os tratavam. Outra se preocupava que seu filho não gostava de brincar na rua. Em 
grupo, relatou que passou sua infância cuidando da casa, enquanto via seus amigos 
brincando na rua, que era o que mais desejava. Essas lembranças as sensibilizaram 
para o quanto a postura excessivamente firme com os filhos poderia estar 
contribuindo para os sintomas que motivaram a busca de ajuda, o que convidou 
todas as mães presentes nessa sessão a experimentarem olhar para seus filhos de 
outro modo. Descobriram que, com a intenção de cuidar, estavam descuidando de 
seus filhos. Esta situação revela um dos aspectos do psicodiagnóstico interventivo, 
que é a implicação dos clientes no seu processo de diagnóstico. Ao considerarem 
sua participação no sofrimento do filho, estas mães descobrem que os sintomas que 
motivaram a busca pelo psicólogo não estão isolados na criança. Ao descobrirem-
se participantes do sofrimento da criança, descobrem sua condição de possibilidade 
de superação das dificuldades vivencia- das. Descobrem que o psicólogo não é o 
único agente de transformação da situação atual, mas os próprios clientes 
descobrem-se responsáveis pelo que se passa consigo. Descobrem também que no 
 Apostila Psicodiagnóstico 6º semestre - Valdirene Oliveira - Página 28 
 
psicodiagnóstico são tão participantes quanto o psicólogo na formulação da 
compreensão da situação vivenciada (Donatelli, 2013). 
Esse modo de proceder exige que o psicólogo mude sua postura. Ele precisa 
abandonar o lugar de conhece- dor para convidar os clientes para que 
participem, para que caminhem junto e se sintam colaborando. Segundo 
Ancona-Lopez (1996), esta colaboração, no entanto, somente será possível se o 
psicólogo se abrir para a coparticipação do cliente e acreditar que este último pode 
compartilhar os conhecimentos que se forem configurando durante o processo. É 
uma atuação que se caracteriza pelo fato de o psicólogo partilhar suas impressões 
sobre (e com) o cliente, levando-o a participar do processo e a abandonar a postura 
passiva de “sujeito” a ser conhecido. A partir daí, o psicólogo manterá sua escuta 
voltada para as possibilidades de intervenção. (p. 33) 
Yehia (1996) indica que o lugar do psicólogo é o de compreender a pergunta, mas 
neste contexto em que os interessados são coautores de seu processo, o 
conhecimento teórico e técnico do psicólogo passa a ser apenas mais um ponto de 
vista. Trata-se de um ponto de vista embasado em pesquisas e observações que 
possibilita a organização dos fenômenos clínicos e o desvelamento de um sentido 
que articule uma compreensão do sofrimento atual, a ser trançado com o saber 
proveniente dos clientes. No caso do embasamento fenomenológico existencial, o 
psicólogo contribui com a perspectiva de que o cliente está, a seu modo, 
respondendo à indeterminação de sua existência e à tarefa de ser, buscando o 
sentido desse modo. É responsabilidade do psicólogo criar o contexto de aparição de 
fenômenos clínicos (setting), ou seja, o campo no qual o que aparecer será usado 
para compreender o sentido da vivência do cliente articulado ao sofrimento que 
motivou a procura. Também cabe ao psicólogo, em função de sua maior mobilidade 
e liberdade, coordenar o processo de busca de ajuda psicológica pela família, 
indicando avaliações concomitantes para esclarecer o pedido se forem necessárias. 
Um dos aspectos principais do psicodiagnóstico interventivo é a liberdade para 
acompanhar o desvelamento do fenômeno que o psicólogo tem diante de si. Por 
isso, a abordagem psicológica mais pertinente é a fenomenologia existencial. 
Liberdade não quer dizer falta de delimitações. Quer dizer que se buscam 
constantemente modos de acesso que facilitem o desvelamento do sentido do 
sofri- mento apresentado. Isso é um dos fundamentos da fenomenologia: “o sentido 
específico do logos, só poderá ser estabelecido a partir da ‘própria coisa’ que deve 
 Apostila Psicodiagnóstico 6º semestre - Valdirene Oliveira - Página 29 
 
ser descrita, ou seja, só poderá ser determinado cientificamente segundo o modo em 
que os fenômenos vêm ao encontro” (Heidegger, 1998, p. 65). Por isso, não há técnicas 
previa- mente delineadas. O atendimento aos pais e às crianças (no caso de 
psicodiagnóstico infantil) é uma ‘ferramenta’ adequada, pois a situação grupal 
facilita a manifestação dos modos de se relacionar. Assim, no psicodiagnóstico 
interventivo se alternam sessões dos pais e dos filhos. 
3. Desvelando os mundos da criança 
Os grupos com as crianças possibilitam a observação e a intervenção nas relações 
com outras crianças no momento em que acontecem. Assim, frequentemente 
chegam crianças com a queixa de que são isoladas ou agressivas com outras 
crianças. Em grupo, pode-se observar como essa criança interage com as demais. 
Por exemplo, será de fato agressiva ou reage agressivamente quando sente que seu 
espaço foi invadido? Será que se sente à vontade para brincar com crianças mais 
velhas ou mais novas, embora não com crianças de sua idade? Em grupo pode-se 
observar tudo isso. E essa observação, diferentemente do modelo tradicional de 
psicodiagnóstico, que seria de coleta de da- dos para formulação de uma 
compreensão pelo psicólogo para posterior devolutiva e encaminhamento, 
possibilita que, imediatamente, intervenha-se na situação, investigando e 
convidando novos modos de ser e estar com outros. 
Outras possibilidades de investigação sobre a situação existencial daquele que 
busca ajuda psicológica são os testes psicológicos (também são prerrogativa do 
psicólogo) e visitas domiciliar e escolar. Enquanto no modelotradicional de 
psicodiagnóstico o interessado vem ao consultório do psicólogo, a visita domiciliar 
propicia ao investigador vários dados de uma só vez: primeiro, pode conhecer o 
espaço habitado pelos pacientes, podendo compreender como é este ‘mundo’ (sua 
organização, seus aspectos, seus significados). O mundo habitado é organizado e 
cuidado por aqueles que o habitam, de modo que a casa é reveladora de seus 
ocupantes e de como significam sua vida (Corrêa, 2004). Ademais, a visita domiciliar 
torna-se uma ocasião para conhecer outros membros da família, com quem os 
interessados habitam e compartilham o cotidiano, e os modos como se relacionam. 
Também possibilita ao psicólogo alguns dados sobre a implicação da família no 
processo. Aceitam ou rejeitam a visita? Cuidam para receber? Quem recebe? Essas 
questões compõem a com- preensão do envolvimento da família com a situação 
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vivenciada por aquele que apresenta os comportamentos problemáticos, 
motivando a busca do psicólogo. 
A visita escolar também é uma possibilidade nesta modalidade. Frequentemente, 
as crianças são encaminhadas ao psicodiagnóstico com alguma queixa escolar. 
Brigam na escola, não conseguem ler ou escrever ou ambos, a professora está 
preocupada com os comportamentos da criança, etc. Não raro é a escola que 
aponta que algo não vai bem. Isso é compreensível considerando que o primeiro 
mundo habitado pela criança é o familiar (Cytrynowicz, 2000a; Cytrynowicz, 
2000b). ‘Mundo’ deve ser entendido como conceito fenomenológico-existencial, isto 
é, como rede de remissões significativas em que os entes veem à luz sob significados 
articulados e sustentados pelo para quê da compreensão (HEIDEGGER, 1998). Assim, 
a família enquanto mundo é uma abertura para a significância dos 
comportamentos cotidianos, abertura esta que previamente indica os 
comportamentos certos e errados, legítimos e ilegítimos, possíveis e proibidos. Ao 
chegar à escola, a criança adentra um novo mundo compartilhado, onde a teia 
significativa é outra, o que pode revelar novos significados para os velhos 
comportamentos. Daí que o início da vida escolar coincide com o aparecimento dos 
comportamentos ‘problemáticos’ que exigem ajuda psicológica. Alguns 
comportamentos que em família são tidos como ‘normais’, no mundo 
compartilhado escolar não o são. É aquilo que Yehia (1996) chama de “ruptura”, 
uma falta de “algo que deveria haver” ou “quando a criança começa a apresentar 
atitudes e comportamentos que rompem com algumas expectativas dos pais, 
professores ou de outros agentes da comunidade” (p. 117). 
O psicodiagnóstico interventivo considera importante a visita escolar por esta 
revelar, como a domiciliar, outro mundo habitado pela criança. Ademais, é a 
oportunidade de conversar com outras pessoas que convivem com a criança – 
professor, diretor, cuidador, etc. – sobre as compreensões que têm da criança e de 
seus comportamentos, assim como implicá-los em novos modos de lidar com a 
criança, sendo esse o caso. Afinal, conhecer alguém é “conhecer a rede de relações 
da qual esta pessoa faz parte” (Ancona-Lopez, 1996, p. 27), seus contextos. A visita 
escolar também possibilita uma compreensão dos significados imbricados na 
organização espacial e física da escola, assim como os valores que sustentam o 
cotidiano escolar. Há espaço para as crianças brincarem? Como é esse espaço? A 
escola é limpa, organizada? Como é o barulho? etc. Estes aspectos não têm 
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significados ‘em si mesmos’, mas podem contribuir para a compreensão global do 
ser-no-mundo infantil quando confrontados com outros aspectos advindos das 
situações de observação lúdica, diálogo com os responsáveis, visita domiciliar, etc 
(Maichin, 2006). 
Como psicodiagnóstico, esta modalidade de prática psicológica ainda está focada 
na compreensão da demanda visando um encaminhamento adequado. Como já 
visto, entretanto, não se restringe a esse levantamento. O grande diferencial do 
psicodiagnóstico interventivo é o fato de que, na busca da compreensão da 
demanda, implicando como participantes dessa busca aqueles que, neste 
momento, sofrem, esta intervenção favorece o surgimento de novas possibilidades 
existenciais. 
Não se trata de uma nova modalidade que surge de uma especulação teórica. 
Conforme mencionado há pouco, a população que procura os serviços de clínicas-
escola investe seus recursos nesse processo. No modelo tradicional do 
psicodiagnóstico, a família saía do processo com a confirmação de que precisava de 
um psicólogo, mas que teria que retornar para iniciar o processo interventivo quando 
fosse chamada. A proposta de que o psicodiagnóstico seja também uma 
intervenção surge da compreensão da especificidade do público que busca este 
serviço, sendo, portanto, fenomenológica. Ao mesmo tempo em que oferece uma 
ajuda, tal como está sendo buscada, possibilita a compreensão sobre a situação 
atual e a abertura de novas possibilidades. Isso favorece, inclusive, que o 
encaminhamento proposto seja seguido. No Centro de Psicologia Aplicada (clínica-
escola) da UNIP, os vários pacientes que chegam encaminhados pelo 
psicodiagnóstico referem-se a esse processo como tendo sido caracterizado por 
importantes mudanças. 
 
4. Psicodiagnóstico interventivo como ação clínica 
O fato de propiciar modificações nos modos de ser permite que se considere o 
psicodiagnóstico interventivo uma modalidade de ação clínica. Alguns autores, 
como Yehia (2009) o aproximam do plantão psicológico. Esta modalidade se propõe 
a acolher a experiência daquele que busca o psicólogo, favorecendo “uma visão 
mais clara de si mesmo e de sua perspectiva ante a problemática que vive e que 
gera um pedido de ajuda” (Mahfoud, 1987, p. 76) a partir das possibilidades do 
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próprio cliente no momento em que a procura pelo serviço psicológico acontece. 
Assim, o plantonista contribui para o resgate da autonomia e da condição de ser-
possível daquele que busca ajuda. Faz isso através principalmente do 
esclarecimento da situação existencial em que está imerso. É o que propõem 
Cautella & Morato (2009) com o serviço de plantão psicológico em instituição 
psiquiátrica: acolher a demanda de forma a contribuir para “articular-se de maneira 
mais produtiva em relação a essa situação de crise e às suas consequências na 
dinâmica familiar.” (p. 154) O psicodiagnóstico interventivo pode ser entendido dessa 
mesma forma, como um modo de responder à necessidade de rearticulação da 
malha existencial rompida no momento de crise (busca do serviço psicológico). 
Além disso, Yehia (2009) aponta que, tanto neste psicodiagnóstico quanto no 
plantão psicológico, o confronto com as compreensões sedimentadas e a 
consequente ruptura dessas pré-compreensões possibilita novos modos de agir na 
situação fáctica. Esse modo de compreender a intervenção em ambas as 
modalidades está sustentado na fenomenologia-existencial, que concebe a ação 
clínica como “um espaço aberto, condição de possibilidade para a emergência de 
uma transformação não produzida, mas emergente em forma de reflexão, aqui 
entendida com quebra do estabelecido e condição necessária para novo olhar poder 
surgir” (Barreto & Morato, 2009, p. 50). 
 
5. Coautoria do saber sobre si 
Essa perspectiva fenomenológica de intervenção, isto é, disponível para acolher a 
demanda tal como aparece, a partir de sua própria especificidade, exige do 
psicólogo uma modificação na sua postura tradicional. O psicólogo não tem como 
fazer isto se estiver apoiado no saber científico sobre o outro, a partir do qual 
elaborará conhecimentos sobre ele. Esta postura exige participação dos envolvidos, 
o que coloca o psicólogo na mesma condição do paciente: diante

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