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PPssiiccoollooggiiaa IInnffaannttiill Módulo II Parabéns por participar de um curso dos Cursos 24 Horas. Você está investindo no seu futuro! Esperamos que este seja o começo de um grande sucesso em sua carreira. Desejamos boa sorte e bom estudo! Em caso de dúvidas, contate-nos pelo site www.Cursos24Horas.com.br Atenciosamente Equipe Cursos 24 Horas Sumário Unidade 3 – Principais Tratamentos Psicológicos.......................................................... 3 3.1 – O relacionamento interpessoal na infância e a psicologia .................................. 4 3.2 – Stress infantil: causas, sintomas e soluções ..................................................... 12 3.3 – Hiperatividade: o que é? ................................................................................. 21 3.4 – Distúrbios alimentares na infância .....................................................................27 3.5 – Distúrbios na educação e a dislexia................................................................. 39 Unidade 4 – O Processo Psicoterapêutico Infantil ....................................................... 47 4.1 – Os processos da consulta ................................................................................ 47 4.2 – Sessões com os pais........................................................................................ 54 4.3 – Visita domiciliar e visita escolar ..................................................................... 60 Encerramento.............................................................................................................. 67 Bibliografia................................................................................................................. 68 3 Unidade 3 – Principais Tratamentos Psicológicos Olá! Como mostramos nos capítulos anteriores, a psicologia é uma ciência que estuda a mente e o comportamento humano, por ser muito importante, possui diversas especializações. As crianças passam por três fases na infância e com a mudança de cada uma delas, costumam demonstrar problemas característicos da idade, como dificuldade em aprender, em se relacionar com os amigos, de aceitar um novo irmão, de se alimentar e até mesmo de brincar e se divertir. Por isso, nesta unidade, discutiremos como é possível diagnosticar, tratar e avaliar cada problema que a criança pode ter. Além disso, apresentaremos algumas dicas que os psicólogos devem passar aos pais que têm filhos com distúrbios comportamentais e dificuldade de relacionamento. Bom estudo! 4 3.1 – O relacionamento interpessoal na infância e a psicologia Durante a infância, a criança precisa se relacionar com a família, com os amigos da escola, com os professores, com os pais, com os irmãos, sejam eles mais novos ou mais velhos e com o mundo. Embora pareça fácil, como vimos anteriormente, o mundo mudou. As crianças passam mais tempo na frente do computador e da televisão do que interagindo com outras crianças. Não há dúvidas de que essa mudança tenha sido provocada pelo avanço tecnológico, porém, os altos índices da criminalidade e de violência contra as crianças também contribuíram para essa transformação, e nenhum pai pode ser cobrado por deixar o filho se entreter mais com a internet do que com os amigos. Mesmo assim, todos os pais sabem que o relacionamento interpessoal é importante em todas as fases da vida. As crianças precisam brincar e se divertir para aprenderem e evoluírem. É claro, que a televisão e o computador são capazes de ensinar e de passarem valores. Mas, todos esses valores são tratados apenas na teoria e não na prática. Mostrar à criança, dando como exemplo um desenho animando, o quanto é importante compartilhar o alimento com a outra coisa criança é fácil, mas não é eficaz. Uma parte das crianças da geração Z são individualistas, egoístas, não gostam de dividir e por causa disso, o exemplo do desenho não será captado. Portanto, o correto é a família e os professores ensinarem a dividir na prática. Fazer brincadeiras que incentivem a troca de brinquedos, de comida, da importância do trabalho em equipe e da cooperação ajudam muito. 5 Além disso, os pais e professores precisam ficar atentos em relação ao isolamento da criança. Embora as tecnologias tenham dificultado a relação interpessoal é possível amenizar os efeitos dela sobre as crianças. Crianças que não interagem com os familiares, com os parentes que tenham a mesma faixa etária e que não tem amigos na escola podem sofrer de isolamento social e ter sérios problemas na vida adulta. Mas, será que todas as crianças podem sofrer com esse mal? Na verdade, estão propensas ao isolamento, crianças que passam muito tempo sozinhas e que pouco interagem ou praticam atividades com outras crianças. Geralmente, indivíduos que sofrem com esse problema costumam ter problema na linguagem e, consequentemente, na comunicação, não conseguem evoluir em valores morais e também passam a ser mais agressivos e tímidos. Os problemas não param por aí, crianças que sofrem com o isolamento não gostam de frequentar a escola. Muitas delas não conseguem aprender e na adolescência decidem abandonar os estudos. Por isso, quando chegam à fase adulta só se relacionam após tratamento psicológico. Mesmo que as crianças costumem se isolar por causa da falta de companhia ou pelo uso excessivo das novas tecnologias, existem outros fatores que levam as crianças ao isolamento, como: • Ser rejeitada pelos amigos; • Ser vítima de preconceito, racismo ou brincadeiras inadequadas; • Ser simplesmente ignorada, tratada como se não existisse. O isolamento acontece porque as crianças costumam proferir palavras desrespeitosas, que magoam, levando muitas vezes a criança ao choro. Os resultados podem ser: 6 • Crianças que sofrem rejeição ou brincadeiras desrespeitosas preferem não participar de atividades coletivas; • Ficam reservados e não possuem amigos; • Assustam-se com facilidade e choram por qualquer motivo; É importante lembrar que o isolamento é mais severo no ambiente escolar do que em casa, por isso, muitos pais não identificam quando a criança sofre com esse problema. Além disso, as crianças que sofrem com o isolamento costumam ser quietas e não atrapalham a aula, professores despreparados não detectam o distúrbio e deixam de avisar os pais ou de encaminharem o aluno ao psicólogo. Então, como deve ser feito o trabalho do psicólogo? Primeiramente, o psicólogo escolar deve alertar os professores em relação ao problema, apresentar a eles os possíveis sintomas de isolamento. Depois, os profissionais da área precisam discutir o assunto com os pais e mostrar como o tratamento psicológico é importante para amenizar problemas futuros no desenvolvimento. O passo seguinte é cuidar das crianças que sofrem com esse problema. O profissional deverá avaliar o indivíduo, identificar o motivo de seu isolamento, verificar se sofreu rejeição, se foi alvo de brincadeiras inadequadas ou se sofre preconceito. Além disso, o psicólogo deve se atentar à personalidade da criança, entrevistar os pais e familiares para conhecer a rotina do aluno e também suas atitudes, as conversas etc. A partir daí, o profissional pode aplicar as atividades para amenizar o isolamento. Proporcionar jogos em dupla é uma atividade interessante, porque possibilita que o psicólogo acompanhe o desenvolvimento individual e possa avaliar melhor. 7 Consulta individual, que consiste apenas na relação entre psicólogo e o paciente, não é recomendada neste caso. Apenas na primeira fase, quando o profissionalainda está conhecendo a personalidade da criança, as conversas são indicadas, mas os passos seguintes devem ser realizados em grupos pequenos de crianças. Além dessa atividade, existe também a intervenção do psicólogo durante as aulas. Para estimular a participação das crianças que sofrem com isolamento, o profissional pode participar das atividades escolares e incentivar a participação de todos. Crianças que não brincam em grupo devem ser chamadas para participar das brincadeiras e elogiadas com frequência. O profissional precisa reconhecer o esforço e demonstrar ao aluno que suas atitudes são corretas. Em relação às crianças que não têm o costume de conversar ou falar em público, o psicólogo pode orientar o professor a fazer atividades de perguntas e respostas. Por exemplo, ele pode contar uma história e depois fazer perguntas sobre os personagens, sobre os acontecimentos como se fosse uma gincana. As crianças que responderem corretamente deverão receber um prêmio, como lápis de cor, um caderno, canetas coloridas, um livro, entre outros. Essa atividade estimula a participação dos alunos, contribui no raciocínio, na memória e na atenção, resultando na comunicação e interação com os outros alunos. Outro método eficaz é aproximar a criança isolada às outras crianças da turma. Por isso, é tão importante fazer o trabalho psicológico com toda a classe e com os professores. Por exemplo, o psicólogo pode auxiliar o professor a organizar um jogo de futebol para os meninos. Como a criança isolada não vai participar, os outros alunos devem convidá-la pedindo para que ela jogue em determinada função. Caso ela rejeite, os outros alunos devem estar preparados para insistir, usando palavras de persuasão capazes de convencer a criança a participar do jogo. 8 Outra forma de estimular a interação entre as crianças é por meio da observação de modelos. Por exemplo, o psicólogo pode fazer um grupo que integre crianças isoladas com crianças de fácil interação. A partir daí, o profissional deverá passar atividades divertidas aos envolvidos como música, trabalhos artísticos, dança, entre outros. Com isso, deve-se mostrar à criança isolada como é divertido participar, brincar, jogar, dançar e cantar. Dessa forma, a criança passa a se interessar pelas atividades e começa a interagir com os outros membros do grupo. Um problema evidente nas crianças que sofrem com o isolamento é a ansiedade. Muitas delas não conseguem controlar os sentimentos, os medos, as aflições e, por isso, têm dificuldade de se relacionar com outras crianças. Para amenizar esses sintomas, o psicólogo deve atuar na estrutura mental e estimulá-la a pensar antes de falar e agir, avaliar possíveis sintomas de baixa autoestima, tentando sanar todos os medos e inseguranças. Embora o isolamento seja comum no ambiente escolar, em alguns casos, essa dificuldade em se relacionar pode surgir dentro de casa. É comum as crianças mudarem 9 o seu comportamento durante o período gestacional da mãe ou até mesmo, após o nascimento da irmã ou do irmão. Muitas vezes, o ciúme pode gerar agressividade, desobediência, irritabilidade e em casos extremos, o isolamento. A criança não consegue manter diálogo com a mãe porque acha que não é mais importante, acredita que vai perder suas roupas e brinquedos para o novo membro da família e que não vai mais ter atenção. Quando isso ocorre, os pais precisam procurar imediatamente um psicólogo especializado em crianças para solucionar o problema. É importante lembrar que as crianças costumam levar os problemas familiares para todos os ambientes de convívio, como escola, cursos, esportes que praticam etc. Por isso, a intervenção tem que ser realizada o mais rápido possível, evitando que o ciúme deixe sequelas na vida social e familiar da criança, ou que possa até mesmo, gerar conflitos entre os irmãos. A intervenção imediata é necessária porque muitas crianças começam a agredir fisicamente o bebê. Alguns arranham, mordem e beliscam o irmão mais novo longe da presença dos pais. Em outros casos, a criança ao conviver com o irmão menor, volta a 10 ter hábitos de bebê e querem usar fraldas, fazem xixi na cama, voltam a usar chupeta, não comem mais sozinhas etc. Os psicólogos precisam alertar os pais que as crianças não fazem isso por um desvio de personalidade, egoísmo ou porque não gostam do irmão. Na verdade, essas atitudes são consideradas normais e os filhos só querem chamar a atenção para desviar o foco dos adultos em relação ao bebê que acabou de nascer. Por isso, o castigo não deve ser aplicado. Os pais não devem dar broncas, privar a criança de brincar e de se divertir e, muito menos, agredi-la fisicamente. Na verdade, os pais devem ser orientados a: • Durante a gestação, os pais devem contar sobre o irmão que vai chegar e não podem ocupar o quarto da criança com o berço. É preciso esperar que a criança se acostume com a ideia e não se sinta abandonada; • Dar mais atenção ao filho mais velho; • Fazer atividades com ele como passear no parque, levá-lo à escola, ler um livro etc; • Conversar constantemente com a criança, mostrando-se interessado em sua vida; • Elogiar quando a criança fizer uma atividade escolar ou quando tirar boas notas etc; • Incentivar a relação com o irmãozinho, dizendo que o bebê vai gostar muito dele e terá ele como herói. Ressaltando à criança, que o filho mais velho deve cuidar do mais novo; 11 • Permitir que a criança participe do cuidado com o bebê, deixando que ela auxilie no banho, na escolha a roupa do irmãozinho, no penteado o cabelo etc; • Não fazer comparações entre os irmãos para que o sentimento de rivalidade não seja intensificado; • Tratar os filhos da mesma forma: sempre que comprar um presente para um, compre para o outro também, evitando assim que o sentimento de ciúmes se agrave; • Cuidar do filho mais velho e não levá-lo para ficar na casa de outras pessoas. Quando a mãe, por excesso de atividade, permite que o filho maior se instale na casa de parentes, por exemplo, o sentimento de abandono e de rejeição é maior e a criança pode até mesmo desenvolver sentimento de ódio pelos pais; • Beijar e abraçar constantemente o filho maior na presença do menor para que ele se sinta querido e integrante da família; • Quando notar que o filho vai machucar o bebê, os pais devem conversar com ele, explicar que aquela atitude não é correta. Gritos e agressões físicas pioram o estado emocional da criança; • Com os passar dos anos os pais devem incentivar atividades juntas e trabalhos em equipe, possibilitando a união dos irmãos; • Dar ao filho mais velho alguns privilégios e não deixar que o irmão mais novo quebre seus brinquedos ou objetos; • Tratar os irmãos da mesma forma e não tomar partido. 12 3.2- Stress infantil: causas, sintomas e soluções O excesso de tarefa, a falta de tempo para realizar atividades de lazer e de entretenimento são características comuns para a sociedade do século XXI. Embora todos pensem que apenas os adultos sofram com o stress, essa doença tem se tornado comum em pessoas de todas as idades. As crianças que pertencem à geração Z começam a frequentar a escola desde bebês por causa do trabalho dos pais. Por isso, saem do conforto do ambiente doméstico e passam a viver, a maior parte do dia, no inseguro ambiente escolar. A relação com as outras crianças, a quantidade de atividades, a cobrança dos pais e professores, e o excesso de responsabilidades trazem como consequência o stress infantil. Para comprovar essa afirmação, um estudo realizado pela Children´s Society, uma organização britânica especializada em proteção infantil, mostra que uma em cada onze criançascom mais de 8 anos sentem-se infelizes. Essa pesquisa foi aplicada na Europa, mas o Brasil não apresenta um quadro diferente. Uma pesquisa realizada em 2005, pelo Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo, apontou que as crianças brasileiras também apresentam sintomas de stress e infelicidade. O estudo contou com a participação de 900 pessoas com idades entre 5 a 9 anos e revelou que 22% delas sofriam com ansiedade, 25% tinham déficit de atenção e 21% apresentavam mau comportamento. Todos esses sintomas são resultantes não só do excesso de atividades, mas da antecipação das responsabilidades. O fato das crianças frequentarem a escola antes do tempo, de comprometerem-se com cursos de idioma e praticarem esportes antes do tempo ideal, desencadeiam o chamado stress tóxico que pode trazer muitos prejuízos para as próximas fases da vida infantil e adulta. 13 A imagem abaixo mostra quais são os mecanismos do stress tóxico. Veja: 14 Fonte: http://veja.abril.com.br/noticias/saude/por-que-qs-criancas-estao-cada-ve-mais-infelizes Especialistas da área afirmam que o excesso de atividades dificulta a realização plena. Isso significa que as crianças não conseguem cumprir todas as obrigações e acabam tirando notas baixas nos cursos, na escola, não conseguem reter o conhecimento, se sentem fracassadas e geram o stress tóxico que atua diretamente na diminuição da autoestima, problemas no sono, entre outros. Como identificar se a criança sofre de stress? Alguns teóricos afirmam que o stress infantil pode ser resultado tanto de fatores físicos como de fatores mentais. Quando o problema tem como origem o cansaço ou o excesso de atividade física e pouco descanso, os sintomas são: • Dor de barriga; • Dores de cabeça; 15 • Ânsia de vômito; • Problemas respiratórios; • Disfunção nas necessidades fisiológicas, como excesso de idas ao banheiro; • Pés e mãos frios e constantemente suados; • Insônia. Já os sintomas psicológicos são: • Ansiedade; • Pesadelo; • Isolamento; • Agressividade; • Choro excessivo e sem motivo; • Tristeza; • Medo; • Desobediência; • Falta de vontade de brincar, passear, ir à escola etc. Enganam-se aqueles que acham que o stress infantil é resultante apenas do excesso de atividades. Na verdade, as crianças podem sofrer problemas domésticos e escolares e não descarregarem todo o nervosismo. Por isso, acumulam os sentimentos, medos, complexos e mudam o comportamento. 16 O que leva a criança a desenvolver stress, além do excesso de atividade, pode ser: • Morte de um familiar; • Brigas ou separação dos pais; • Mudança de cidade e de colégio; • Dificuldade no relacionamento entre os amigos da escola ou com o professor; • Viagens constantes e longas; • Nascimento de um irmão; • Familiares estressados. É importante lembrar que uma criança que sofre de stress precisa ter vários sintomas. Indivíduos que apresentam apenas um dos sintomas podem sofrer de outras doenças, mas não apresentam um nível relevante de stress. E por que tratar do stress é tão importante? Se o problema não for tratado adequadamente, o grau de stress pode evoluir e resultar em doenças físicas, como: asma, úlceras, desenvolver alergias, distúrbios nervosos, alimentares, entre outros. Os pais e psicólogos precisam ficar atentos, pois pesquisas demonstram que as meninas estão mais propensas a desenvolver stress ainda na infância e os níveis são considerados mais altos do que em adultos. Porém, especialistas acreditam que com o tempo esses níveis podem diminuir, apenas com a mudança natural da rotina. 17 Mesmo que existam muitos problemas que geram a irritabilidade e a infelicidade nas crianças, profissionais da área costumam associar a escola como a principal causadora dos problemas na infância. Em relação ao stress também não é diferente, provas, excesso de conteúdo, lições, exercícios e outras atividades são os principais motivos que levam muitas crianças ao desespero e à agressividade. Porém, os problemas não acabam por aí. Da mesma forma que os pais refletem o stress nas crianças, os professores também descarregam toda a agressividade e infelicidade nos alunos. Muitos conseguem projetar problemas emocionais e pessoais, fazendo com que os alunos também sofram. Contudo, esse mal pode ser evitado, os psicólogos precisam orientar os pais e professores em relação a algumas atitudes. O ponto inicial é auxiliá-los em seus níveis de stress. Os adultos não devem demonstrar irritabilidade, falta de paciência e agressividade na frente das crianças. Além disso, os psicólogos devem dizer aos pais para: • Não cobrarem os filhos; • Não colocarem as crianças em muitas atividades; • Procurarem atividades que estejam de acordo com a idade da criança; • Darem mais atenção aos filhos; • Conversarem mais com a criança; • Perguntarem, principalmente, sobre as atividades realizadas na escola; • Verificarem constantemente a agenda escolar do filho, para saber se ele está com tempo adequado de descanso; 18 • Frequentarem todas as reuniões escolares e conversarem com os professores sobre o desempenho e o comportamento da criança na escola; • Levarem periodicamente o filho ao pediatra e relatar comportamentos anormais, como fome em excesso ou falta de apetite, sono em excesso ou insônia, constantes dores de cabeça e de barriga etc. É importante lembrar que as crianças que apresentam sintomas característicos não devem ser protegidas e muito menos deixar de realizar todas as atividades. Na verdade, os pais precisam reestruturar a agenda dos filhos. Analisar quais são as tarefas mais importantes, verificar quais dessas atividades estão de acordo com a idade de seus filhos e quais delas podem ser postergadas. Ter acesso ao desempenho das crianças e acompanhar as suas notas também são atitudes relevantes. Para que o psicólogo consiga realizar o tratamento, é necessário conhecer e detectar qual é o estágio de stress que a criança se encontra. Existem três fases: • Fase de alerta: é uma fase que a criança precisa se dedicar mais para realizar a tarefa e passa mais tempo para cumprir o que se foi exigido; • Fase de resistência: é uma fase em que o organismo se desgasta muito para encontrar a harmonia interior. Se o organismo consegue se adaptar ao que causa o stress, existe uma melhora em relação ao problema. Mas se não consegue, a situação se agrava e evolui para a fase de exaustão; • Fase de exaustão: é quando os sintomas são mais intensos e o indivíduo não consegue lutar contra eles. Essa fase é muito perigosa e gera doenças graves, levando até à morte. 19 A partir da descoberta do nível em que se encontra a doença, o profissional pode estabelecer qual será o tratamento ideal para a criança. Em alguns casos, o psicólogo deve conversar com o paciente e com os pais em entrevistas individuais, ou seja, falar só com a criança e depois só com a família, em outros casos, poderá conversar com todos juntos. Depois da conversa, o psicólogo pode fazer trabalhos de observação. Com isso, deverá solicitar que a criança faça desenhos, brinque ou jogue. Desta forma, o profissional irá verificar o comportamento da criança e com o tempo entenderá o porquê do stress. Existem algumas crianças que não conseguem se abrir com os pais porque elas têm medo de sofrer agressões ou qualquer tipo de represália. Por isso, se abrem melhor com o psicólogo e conseguem transmitir as aflições, os medos, o que acontece na escola, problemas sociais, cansaço, excesso de atividades, entre outros. Porém, existem crianças extremamente tímidas e que não conseguem se abrir com a famíliae nem mesmo com o profissional. Para esses casos, o mais indicado é o trabalho de observação com atividades lúdicas, citadas anteriormente. Existem crianças que desenham nitidamente o foco do problema. Muitas delas fazem desenhos tristes representando a professora, o colega de escola e até mesmo os pais com feições de raiva e conseguem, ainda, desenhar a si próprias com lágrimas nos olhos ou com expressões de infelicidade. É por esse motivo, que o psicólogo deve levar em consideração todos os detalhes do desenho, cada palavra dita pela criança, as expressões faciais e corporais para chegar a um diagnóstico. Na maioria dos casos, a principal ferramenta do psicólogo para amenizar o stress infantil é a conversa com pais e familiares, orientando-os sobre a mudança dos hábitos 20 da criança. Orientar professores sobre o problema, para encontrar formas de minimizá- lo pode ser a solução também. Por isso, cada caso deve ser tratado de maneira específica, por exemplo, se uma criança apresenta altos níveis de stress porque é maltratada ou rejeitada na escola, o psicólogo deve analisar o fato e aconselhar os pais a trocarem a criança de escola ou de sala. Para os alunos que sofrem stress justamente porque mudaram de escola, os psicólogo precisa auxiliá-lo no relacionamento com as outras crianças, incentivar o paciente a fazer novas amizades e alertar os pais sobre o problema. Para solucionar o distúrbio não há uma receita exclusiva, o profissional deve apenas avaliar e usar o bom senso priorizando sempre o bem-estar de cada indivíduo. Os pais, professores e psicólogos precisam estar atentos em relação ao stress porque esse distúrbio pode agravar a ansiedade e gerar depressão, uma doença comum na infância, mas que na maioria das vezes é diagnosticada apenas na fase adulta. Caso a depressão não seja tratada, pode resultar na utilização exagerada de álcool e drogas na adolescência e levar o indivíduo ao suicídio. Além do stress e a sobrecarga de atividades, predisposição genética, castigos e restrições podem levar a criança a desenvolver depressão. Mas quais são os sintomas dessa doença? Para que a criança seja diagnosticada com depressão, ela precisa apresentar: • Sentimento constante de infelicidade e tristeza profunda; • Ansiedade; • Falta de atenção; • Dificuldade em aprender e mau rendimento escolar; 21 • Sentimento de rejeição e perseguição; • Choros sem causa e sem motivo. Os sintomas são parecidos, o stress e a depressão costumam andar juntos e são muito perigosos. Por isso, os pais e professores precisam ficar atentos a irem buscar ajuda o mais rápido possível. 3.3 – Hiperatividade: o que é? As crianças que pertencem à geração Z são bem informadas, comunicativas, gostam de fazer várias atividades e são também hiperativas. A hiperatividade, em alguns casos, pode ser considerada até um distúrbio. Conhecida também como déficit de atenção, a hiperatividade é uma palavra utilizada para designar comportamentos agitados e inquietos, geralmente está associada às crianças. Para entender melhor o que é hiperatividade, podemos exemplificar da seguinte forma: crianças que acordam agitadas, não conseguem se concentrar, realizam atividades o tempo todo, balançam as mãos e os pés ao comer, não conseguem prestar atenção no que fazem, possuem dificuldade em assistir televisão, ler livros ou fazer qualquer tarefa em repouso sofrem de hiperatividade. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, essa doença é denominada Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e afeta mais de 10% da 22 população mundial e não tem cura. As pessoas que sofrem desse distúrbio, levam-no para toda a vida. As principais características de uma pessoa que possui hiperatividade é a desatenção, a inquietude e a impulsividade. Por isso, crianças que sofrem com essa doença podem ter alterações comportamentais com vários grupos de convívio com a família, com os pais, os irmãos, os professores, os colegas etc. Por exemplo, como as crianças hiperativas não conseguem ficar paradas, costumam gritar, chamar a atenção e muitos parentes não gostam de recebê-las em casa. Por isso, os pais sentem grande necessidade de repreendê-las e acabam piorando o grau de agressividade e inquietude. Além disso, crianças hiperativas não conseguem ficar paradas também no ambiente escolar. Como consequência, os professores acabam chamando atenção e colocam o aluno em situações de constrangimento perante os outros alunos. É comum que as crianças que possuam essa doença, tenham dificuldades de aprender e de se relacionar com outras crianças. Como esse transtorno é mais comum em meninos, os pais e professores têm dificuldades em detectar o problema, já que por uma questão biológica, os meninos são normalmente mais agitados do que as meninas. Mesmo que essa dificuldade exista, o psicólogo precisa capacitar os pais e professores com relação aos principais sintomas da doença, que são: • Ter dificuldade em esperar a vez; • Falar constantemente e interromper a conversa dos adultos; • Não se interessar por atividades que exigem concentração e raciocínio; • Perder objetos pessoais com frequência; 23 • Não respeitar datas e não se lembrar de fazer tarefas escolares; • Não ouvir o que as outras pessoas dizem e não cumprir ordens; • Não enxergar detalhes; • Não ficar sentada por muito tempo; • Não conseguir andar, mas correr o tempo todo; • Não conseguir ficar em silêncio; • Ser inquieta e distrair-se com facilidade; • Ter dificuldade de se planejar e de organizar tarefas; • Baixa autoestima; • Responder qualquer pergunta antes mesmo de ser formulada. O transtorno que tem origem nas alterações do sistema central é considerado genético. Isso porque 75% das pessoas que sofrem com a doença têm familiares hiperativos ou foram vítimas de problemas durante o período gestacional. Especialistas afirmam que mulheres que usam substâncias químicas como cigarro e álcool, adquiriram doenças durante a gravidez ou têm problemas durante o parto podem ter filhos com o transtorno. Geralmente, os sintomas aparecem ainda na primeira infância, ou seja, aos 2 ou 3 anos de idade, mas poucos pais percebem o problema e só buscam tratamento quando o filho está com, aproximadamente, 7 anos. Isso porque essa é a denominada fase de 24 alfabetização, mas as crianças hiperativas não conseguem aprender e precisam de tratamento. Para amenizar a hiperatividade, os psicólogos devem orientar os pais e professores a: • Repetirem várias vezes a mesma informação para ter certeza de que a criança entendeu a mensagem; • Fazerem frases curtas e a falarem devagar; • Conversarem olhando no rosto da criança, incentivando-a a prestar atenção na mensagem; • Verificarem se a criança evita participar de atividades em grupo; • Deixarem a criança confortável sem obrigá-la a fazer além de suas possibilidades; • Não enfeitarem o quarto da criança ou a sala de aula para que ela não se disperse com quadros, animais de pelúcia, desenhos, televisão, videogame, entre outros objetos; • Estabelecerem rotina para as crianças, uma vez que elas têm dificuldade em memorizar e não se adaptam com facilidade as mudanças; • Colocarem limites e regras; • Elogiarem as atitudes da criança para estimulá-la a melhorar sempre e elevar sua autoestima; 25 • Não permitirem que a criança fique perto de portas e janelas, evitando assim, dispersões durante a realização de uma atividade; • Compreenderem o problema da criança e não fazerem exigências além da expectativa; • Incentivarem a criança a realizar atividades em casa e na escola. Nomeá- lacomo ajudante é uma alternativa; • Darem carinho e muita atenção, e não repreenderem sem necessidade. Como os principais problemas da criança estão relacionados à aprendizagem, o psicólogo deve fazer o seu tratamento baseado nos princípios da psicopedagogia. Isso significa que, além das conversas e da realização de atividades em grupo, os psicólogos devem trabalhar de formar multidisciplinar, ou seja, buscar apoio de médicos e pedagogos para tentar amenizar os sintomas e efeitos. Geralmente, o tratamento é muito longo e não proporciona a cura do distúrbio, mas ajuda o indivíduo a melhorar a atenção, a memória, o comportamento, a se acalmar, a se relacionar melhor com as outras pessoas e aprender. E por que a figura do médico é tão importante? Em alguns casos, a hiperatividade é tão grave, que a criança só consegue se acalmar, prestar atenção, memorizar as informações e acontecimentos por meio do uso de medicamentos orais. Por isso, apenas médicos especializados estão aptos a prescreverem calmantes ou qualquer remédio. O pedagogo é importante na elaboração da adaptação dos processos de aprendizagem, ao aluno que não consegue memorizar e nem prestar atenção nas aulas. Com isso, ele pode usar ferramentas capazes de ensinar efetivamente o aluno que possui déficit de atenção e hiperatividade. 26 Vale lembrar que nem todas as crianças agitadas ou que têm dificuldade em aprender são hiperativas porque, como mostramos anteriormente, os sintomas de ansiedade, depressão, stress e hiperatividade são muito semelhantes e facilmente confundidos. Por isso, para que o diagnóstico seja realizado corretamente, o psicólogo deve fazer vários testes com a criança, verificar se ela não tem problemas físicos que resultam em agressividade, se não sente dores e por causa disso choram com frequência etc. Além disso, precisam verificar como é seu comportamento e relacionamento na escola e na família, para que a partir daí, possa aplicar o tratamento correto. Durante o tratamento, o profissional deve ajudar a criança a mudar os seus hábitos, estimulá-la a se tornar mais calma, atenta e paciente, focando também na área da comunicação, incentivando a mudança nas formas de comunicação e na relação com o mundo. É importante lembrar aos profissionais da área, que o TDAH evoluiu com o passar dos anos e apresenta algumas variações, como: • Déficit de atenção sem hiperatividade: afeta as crianças com dificuldade de prestar atenção, memorizar e aprender, mas que não são inquietas e nem mesmo agressivas; • TDAH tipo desatento: afeta as crianças que possuem dificuldade em se concentrar, que se distraem com facilidade e que têm dificuldades em seguir instruções, fazer uma atividade até o fim, entre outras; • TDAH tipo hiperativo-impulsivo: é típica em crianças que não conseguem pensar antes de falar, fazem tudo por impulso, realizam várias atividades ao mesmo tempo, como ler um livro, ouvir música e ainda assistir à televisão. São intolerantes, explosivas e não costumam cumprir o que prometem. Agem sem se preocupar com as consequências; 27 • TDAH misto-combinado: é quando a criança possui sintomas tanto do TDAH desatento quanto do TDAH hiperativo-impulsivo. 3.4 – Distúrbios alimentares na infância O mundo passou por diversas transformações no decorrer dos séculos e não há dúvidas que os alimentos, e a forma de se alimentar também mudaram. Produtos industrializados, com excesso de sódio, corantes e conservantes ocupam cada vez mais as prateleiras dos supermercados, chegando aos armários e mesas de todos nós. Esses alimentos em excesso fazem mal à saúde. O consumo exagerado de guloseimas têm resultado em crianças obesas. Muitos pais acham que a obesidade é um fator genético e que mesmo com tratamentos a criança não perderá peso. Outros pais acreditam que a obesidade é resultado de uma alimentação desregrada, pobre em frutas e legumes, e sim, rica em doces, chocolates e frituras. Porém, são raros os pais que percebem um distúrbio na alimentação, que enxergam que a compulsão por comida não está relacionada à fome em si, mas que pode representar problemas em outras áreas como na rejeição, preconceito, dificuldade de se relacionar, ansiedade, stress etc. Crianças que comem em excesso podem se sentir sozinhas, abandonas, sofrer de baixa autoestima e, por isso, descontam suas tristezas, medos e aflições na comida como se o alimento fosse o remédio mais indicado para amenizar esses sentimentos. 28 Pais desinformados procuram ajuda de nutricionistas e endocrinologistas, mas se esquecem de procurar o psicólogo infantil. Dessa forma, o problema se agrava porque os médicos passam dietas restritivas, ou seja, proíbem a criança de comer os alimentos prediletos e não tratam da real causa do distúrbio, a mente. Como consequência, há piora no sentimento de solidão e ansiedade, porque sem o alimento, se sentem ainda mais tristes, inseguras e desamparadas. Em vez de emagrecerem, elas ganham peso e além dos problemas psicológicos, ganham também problemas de saúde como o colesterol alto, a hipertensão etc. Quais são as doenças psicológicas que podem resultar em excesso de apetite? A ansiedade, a depressão, o stress, a rejeição dos amigos e familiares são casos que podem levar a criança a comer compulsivamente. Porém, crianças superprotegidas pelos pais ou vítimas de violência sexual também podem ter o problema. Os pais devem ficar atentos em relação à situação do filho. Porém, apenas o psicólogo está capacitado para avaliar e dizer o porquê do excesso de apetite. O psicólogo é quem deverá conversar com a criança, com os pais e familiares, e ao aplicar brincadeiras lúdicas, tentará buscar respostas para o problema. Desta forma, ele estará apto a dizer quais serão as atividades para amenizar o sentimento de depressão, stress e solidão. Na maioria das vezes, estimular a criança a fazer algum tipo de esporte é a melhor saída. Ao jogar futebol, basquete, voleibol, handebol ou qualquer esporte em equipe, a criança passa a extravasar o stress e a depressão, faz novos amigos, diminui o sentimento de solidão, perde peso e ainda levanta a autoestima. Geralmente, crianças que sofrem de obesidade não gostam de se relacionar com as outras crianças. Muitas delas vivem isoladas e têm vergonha da própria aparência. Por isso, elas não aceitam, na primeira tentativa, praticar algum esporte. Mas os pais e psicólogos não podem desistir. Esse ainda é o melhor caminho para que a criança se liberte de alguns comportamentos indevidos e melhore a sua saúde. 29 Para que o tratamento traga resultado positivo, os pais precisam ser orientados sobre o uso da tecnologia. Como falamos anteriormente, as crianças da geração Z estão antenadas no mundo tecnológico e não conseguem viver longe da televisão, do computador e do celular. Por isso, muitas delas deixam de brincar com os amigos, jogar futebol na rua ou dançar balé e acabam passando o maior tempo livre em frente ao videogame, comendo bolachas recheadas e salgadinhos. Embora muitos pais não percebam, as crianças ganham peso, se afastam ainda mais dos amigos e da realidade. É claro que o uso excessivo da tecnologia não é considerado uma doença psicológica, mas pode causar alguns efeitos nas crianças. Por exemplo: • Ter amigos no mundo virtual é mais fácil e não necessita de um deslocamento para conversar. Tudo é feito de casa e sem muitos esforços. Essa facilidade faz com que a criança foque sua vida nos amigos da internet. Com isso, se acostumam com o isolamento e com a solidão, e não conseguem mais viver relacionamentos interpessoais. Elas perdem a capacidade de conviver socialmente com as outras pessoas, têm mais dificuldade em fazer amigos e de se adaptar às mudanças,o que acaba gerando problemas psicológicos graves que serão levados por toda a vida; • Além de causar isolamento, a tecnologia pode causar frustração. Nem sempre o mundo real é tão bonito como o mundo virtual. As crianças, que não possuem ajuda familiar, amigos e nem mesmo diálogo dentro de casa passam a se dedicar ao mundo virtual, àquele que existe apenas dentro do computador e que não está de acordo com o mundo real. Esse sentimento de frustração gera um sentimento de compulsão, levando as crianças a consumirem comida em excesso sem perceberem. 30 Para resolver esse problema, os pais precisam ser orientados a dosar o uso da tecnologia. Da mesma forma que comida em excesso prejudica a saúde, a tecnologia em excesso também prejudica a saúde mental e pode ter consequência na saúde física da criança. O correto não é proibir o videogame, a TV ou a internet, mas estipular um tempo para cada atividade como ir à escola, brincar com os amigos, fazer um curso extra, praticar um esporte, navegar na internet, ler um bom livro com a ajuda ou não dos pais, assistir um desenho ou filme infantil, conversar com os pais e familiares. Dessa forma, a criança aprende a usufruir corretamente de tudo o que lhe é apresentado, ou seja, a comunicação na internet permite que as crianças conversem com os amigos e se integrem em comunidades virtuais e/ou reais. Isso significa que a amizade e a comunicação com os amigos da escola, do futebol, do balé, do inglês ou de qualquer outro grupo podem ser estendidas ou intensificadas, fazendo com que o relacionamento se estreite ainda mais. Além disso, a tecnologia amplia o conhecimento das crianças, estimula a memória, o raciocínio, ela é uma ferramenta para ajudar a realizar os trabalhos da escola, um mundo capaz de estimular a imaginação e o aprendizado de todos. Mas as doenças psicológicas podem gerar sintomas contrários ao do excesso de apetite. Em alguns casos, as crianças perdem totalmente a fome. A ansiedade, a depressão e o stress fazem com que as crianças sintam-se cheias e percam totalmente a vontade de comer. Em outros casos, o que leva à falta de apetite é uma infelicidade com a aparência ou com as exigências do grupo onde estão inseridas. Meninas que fazem balé ou que são modelos infantis precisam manter o peso e não conseguem comer porque têm medo de engordar. Porém, existem também aquelas crianças que já estiveram acima do peso e que sofreram preconceito dos amigos da escola ou dos próprios familiares e, por causa disso, desenvolvem a anorexia e a bulimia. 31 Embora muitas pessoas acreditem que a bulimia e a anorexia são transtornos alimentares que ocorrem apenas na fase adulta, especialistas afirmam que em muitos casos, essa doença se desenvolveu na infância e se perdurou até a fase adulta. Além disso, são mais comuns em meninas do que em meninos e o grau de periculosidade é tão alto que podem levar à morte. Mas por que as meninas são as mais afetadas? Na sociedade do século XXI, as mulheres são cobradas em relação à aparência desde crianças. A rivalidade é muito grande e os próprios familiares incentivam a busca incessante pela beleza. Toda menina aprende que para ser bonita precisa ser magra. Já os meninos não se preocupam com o peso porque eles seguem outro padrão de beleza. Para que sejam considerados bonitos, eles precisam ser fortes, porque a maioria das mulheres não se interessa por homens pequenos e magros. Por isso, muitos deles comem adequadamente e fazem exercícios regularmente. E é justamente essa diferença comportamental que facilita o processo de identificação de distúrbios alimentares nos meninos. Se o filho está sem apetite e deixou 32 de almoçar, de jantar ou recusou seus alimentos preferidos é porque ele pode estar passando por problemas, como ansiedade, depressão, stress, rejeição, preconceito, enfim ele está infeliz e perdeu a vontade de comer. É claro que para ser considerada uma doença, a inibição de apetite precisa ser constante, observada por vários dias e provocar uma mudança física visível na criança. É preciso lembrar que existem outros fatores que fazem as pessoas perderem a fome e que não estão relacionados à doença psicológica, como dores de garganta, dores no estômago etc. Por esse motivo, os pais precisam ficar atentos. Se a criança não demonstrou nenhuma doença física e está com a sua rotina regular, mas ainda assim passa longos períodos sem comer e joga o alimento no lixo, é preciso procurar um psicólogo para avaliar e diagnosticar a causa da perda do apetite. Mesmo que as meninas estejam mais propensas à bulimia e anorexia, nem sempre a falta de apetite está relacionada a essas doenças. Na verdade, a morte de um familiar importante, a separação dos pais, a ansiedade ou qualquer mudança pode trazer infelicidade e gerar a inibição de apetite. Por isso, diagnosticar o motivo da falta de fome é tão difícil. Para evitar erros, o profissional precisa ser cauteloso, conversar com a criança e com os pais, tentando chegar a uma solução. Se for bulimia ou anorexia, a criança vai dizer que sofreu preconceito e que foi chamada de gorda, por isso, não quer comer mais. Se for stress, depressão ou ansiedade, conversando com os familiares, analisando desenhos produzidos pelas crianças e a execução de atividades lúdicas, poderão trazer a resposta. E o que é bulimia e anorexia? Como essas doenças se desenvolvem nas crianças? A bulimia é uma doença na qual o indivíduo se alimenta em excesso, mas 33 após se arrepender de ter comido, provoca em si o vômito. Geralmente, as pessoas que sofrem com essa doença têm baixa autoestima e estão insatisfeitas com o corpo. Essa doença pode causar alguns efeitos físicos, como: • Arritmia cardíaca; • Inflamação na garganta; • Cáries; • Gastrite; • Desidratação; • Anemia; • Sangramento no esôfago; • Perda da menstruação; • Problemas intestinais. Porém, além dos efeitos físicos, o transtorno pode causar cansaço em excesso, oscilações no humor e depressão. Muitas pessoas não percebem que os filhos ou familiares possuem a doença porque, na maioria das vezes, os indivíduos afetados pelo distúrbio não perdem peso em excesso, já que comem compulsivamente e também provocam vômitos escondidos, evitando fazer barulhos. Já a anorexia é uma doença que afeta totalmente o psicológico da pessoa, ou seja, embora sejam magros e estejam abaixo do peso, eles se olham no espelho e veem imagens distorcidas. Na maioria das vezes, se enxergam gordos. Muitos especialistas 34 consideram a anorexia mais perigosa do que a bulimia. Isso porque os pacientes anoréxicos não conseguem comer, fazem exercícios em excesso, costumam passar longas horas sem se alimentar, tomam medicamentos emagrecedores por conta própria e não percebem que estão abaixo do peso, por isso, morrem. A morte pode ser resultado de diversos fatores. Muitos anoréxicos sabem que estão doentes, mas se recusam a procurar tratamento médico e psicológico. Outros morrem porque não tiveram o diagnóstico da doença, ou seja, não foram ajudados por amigos e familiares. Falecem por causa da falta de alimentação e pelo mau funcionamento dos órgãos e, por último, há casos em que a depressão e a infelicidade com o corpo são tão graves que levam o indivíduo ao suicídio. Para alertar os pais e psicólogos sobre os transtornos alimentares que ocorrem ainda infância, uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de Pernambuco, em 2010, apontou que 90% das meninas entre 10 a 14 anos se achavam gordas e faziam regimes. Fazer dieta nesta fase é preocupante não só por causa dos transtornos alimentares, mas também pelo desenvolvimento da criança. Comer bem e praticar esporte são princípiosbásicos para uma criança crescer saudável. Por isso, os pais e psicólogos precisam ficar atentos. A má alimentação na infância gera doenças físicas e psicológicas, que podem ser levadas por toda a vida e até mesmo, como foi dito anteriormente, causar a morte. É importante lembrar que essas doenças não têm cura e o paciente deve ser tratado por toda a vida. Uma vez que se descobre o distúrbio, o indivíduo deve passar por tratamento psicológico e acompanhamento com nutricionista, cardiologistas etc. O trabalho desses profissionais é essencial. Para amenizar os sintomas dessas doenças, o paciente precisa tomar remédios controlados como antidepressivos, estimuladores de apetite, entre outros. 35 Os pais, familiares e médicos não podem de maneira nenhuma, forçar a criança a comer. A internação e alimentação por meio de sonda também não são aconselháveis e só devem ser realizadas em pacientes que apresentam quadros graves por falta de alimentação. Mas como os pais e psicólogos podem detectar se as crianças realmente estão com bulimia ou anorexia? As crianças afetadas pelo distúrbio, além de não comerem e de emagrecerem, apresentam as seguintes características: • Conhecem todas as informações nutricionais dos alimentos e costumam falar sobre as calorias; • Têm medo de engordar e evitam comer até mesmo os alimentos preferidos; • Falam mal de pessoas gordas, principalmente dos amigos que estão com sobrepeso; • Apresentam dores de barriga, náuseas, falta de apetite e não conseguem engolir os alimentos; • Em alguns casos, inventam doenças, dores ou se mostram indispostas porque não querem almoçar ou jantar. Os pais precisam ficar atentos, porque muitas crianças que sofrem com os transtornos alimentares tomam laxantes e diuréticos escondidos. Além disso, as crianças que já se encontram na última fase da infância e estão chegando a adolescência, podem ter acesso a bebidas alcoólicas ou drogas, por causa da falsa informação de que essas substâncias químicas inibem a fome. Mesmo que o foco esteja nas atitudes dos filhos, os adultos devem se autoavaliarem. Muitos pais são preconceituosos e deixam transparecer que não gostam 36 de pessoas gordas, refletindo esse sentimento na criança. Então, o filho pensa: “Se eu for gordo, meus pais não vão gostar de mim, a minha família vai ter vergonha e meus amigos vão rir e colocar apelidos”. Dessa forma, a criança desenvolve o distúrbio alimentar. A obesidade, a bulimia e a anorexia são os distúrbios alimentares mais conhecidos e divulgados pela mídia. Porém, não são os únicos distúrbios que podem afetar as crianças. Durante a primeira infância, o distúrbio mais comum é o Pica do Lactente ou da Criança. Este transtorno tem como característica o consumo de substâncias que não são nutritivas e que podem trazer graves doenças. Crianças que sofrem com este distúrbio costumam comer terra, barro, cinzas de cigarro ou objetos que encontram pelo chão, como: papel, plástico e até mesmo insetos. Existe também o Transtorno de Ruminação ou Regurgitação que é observado quando o alimento que já foi engolido volta para ser remastigado. Embora esse transtorno seja muito raro, ele existe e muitos médicos não conseguem explicar o que causa a volta do alimento, porque a criança não faz esforços físicos para que isso ocorra 37 e muito menos provoca o vômito. Na maioria dos casos, o alimento volta à boca logo após ser engolido. Esse distúrbio é muito comum em bebês de até um ano, mas pode ser recorrente em crianças que sofrem de doenças mentais. Os principais sintomas são: • Irritação; • Excesso de apetite; • Desnutrição; • Fraqueza; • Perda de peso; • Tristeza aparente. As crianças que sofrem com esta doença costumam ficar durante horas sem se mexer. E ela pode resultar de diversos fatores, mas os médicos afirmam que sua causa está diretamente ligada a alguns problemas psicológicos, como: stress, falta de estímulos, baixa autoestima, problema na relação com os pais etc. Quando o distúrbio acontece em crianças mais velhas ou em pessoas adultas, ela está associada ao retardo mental. A única forma de tratamento é procurar um médico especialista no assunto ou em casos de bebês, os pais precisam procurar ajuda psicológica para aprender como lidar com o problema para que com os passar dos anos, a doença não deixe sequelas nas crianças. 38 Para finalizar, podemos citar o transtorno Seletividade Alimentar, que ocorre quando a criança come determinado grupo de alimento e não aceita fazer mudanças no cardápio, ou seja, incluir ou retirar qualquer tipo de comida. Embora muitas crianças tenham o costume de rejeitar frutas, legumes e prefiram comer doces e guloseimas, essa atitude não é considerada seletividade alimentar. Na verdade, o distúrbio é um caso extremo no qual a criança decide comer apenas um alimento e ela fica fraca, vulnerável e perde peso. Como a seletividade traz consequências sérias à saúde, os pais precisam procurar um médico ou nutricionista para tentar estabelecer uma dieta capaz de solucionar a desnutrição. Porém, obrigar a criança a comer não é melhor forma para resolver o problema, por isso, os psicólogos precisam estar preparados e criar ferramentas que facilitem a mudança de hábito das crianças. Não há dúvidas de que a melhor maneira para amenizar os efeitos do distúrbio é conversar com pais e tentar mudar os hábitos de toda a família, facilitando assim, a mudança e a aceitação da criança. Por isso, vamos dar algumas dicas: • Nunca force a criança a comer; • Dê a ela o quanto ela consegue comer, o que está de acordo com a sua idade. Alimento em excesso causa obesidade e pouca comida deixa a criança fraca e sem disposição; • Incentive a criança a participar do preparo da refeição, peça opinião, ensine-a, sem obrigá-la a nada. Mas para isso, tome cuidado com o fogão 39 e evite que a criança se queime. O ideal é ensiná-la a fazer sanduíches, pedir que ela pegue os ingredientes, alertá-la sobre os perigos da faca e do fogo. Com o passar dos anos, os pais podem ensiná-la a preparar o próprio alimento; • Use a criatividade e faça alimentos diferentes; • Não ofereça comida como recompensa, muito menos doces e sobremesas. Alimento é algo essencial e não deve ser visto como prêmio; • Faça as refeições sempre nos mesmos horários e converse com o seu filho. Tente fazer desse momento uma experiência agradável e feliz; • Coma alimentos saudáveis e estimule a criança a comer verdura, legumes e frutas. Com o tempo, ela se acostuma e passa a enxergar esses alimentos de uma forma mais natural, cotidiana, como algo que faz parte da vida. 3.5 – Distúrbios na educação e a dislexia 40 Além dos distúrbios alimentares, que são muito comuns na infância, problemas de aprendizagem também se desenvolvem e são descobertos nesta fase. Um transtorno que pode trazer problemas no período escolar e prejudicar a alfabetização das crianças é a dislexia. Embora muitos não conheçam este transtorno ou poucos ouvem falar, ele existe e é mais comum do que podemos imaginar. Mas o que é dislexia? Dislexia é um distúrbio considerado pelos especialistas como um problema de linguagem. Isso significa que os disléxicos têm dificuldade de ler, soletrar e escrever. Na maioria das vezes, crianças que sofrem com este distúrbio são chamadas pelos pais e professores de preguiçosas, desinteressadas e irresponsáveis. Porém, ninguém percebe que a criança não consegue aprender por causa de um problema cerebral. Na verdade, uma pessoa disléxica não tem a capacidade de associar um símbolo, ou seja, as letras com o som que elas representam. Desta forma, ela não tem a capacidade de organizara palavra na sequência correta. Na leitura, o problema se agrava, por exemplo, em vez de ler superinteressante, o disléxico leria suprinteressãmt. Para entender um pouco mais sobre este transtorno, os sintomas que aparecem ainda na primeira infância são: • Atraso motor e na fala; • Dificuldade de interpretar a mensagem; • Choros sem motivo; • Agressividade e inquietude; 41 • Dificuldade de adaptação na escola. Como os sintomas são muito parecidos com os sintomas de outros transtornos como hiperatividade, stress, ansiedade, o psicólogo deve ser cauteloso ao fazer o diagnóstico. O ideal é criar uma equipe multidisciplinar, que além do psicólogo, atue os médicos neurologistas, os professores e os fonoaudiólogos. O tratamento correto pode ser feito com exercícios de assimilação de fonemas e memorização das palavras que com o tempo, podem trazer resultados positivos e evolução na aprendizagem. As pessoas disléxicas não podem ser consideradas analfabetas, preguiçosas ou doentes. Elas são normais e têm a capacidade de aprender, trabalhar e de se comunicar normalmente. Veja abaixo a lista que pessoas conhecidas e importantes que sofrem com o distúrbio: Disléxicos conhecidos: Agatha Christie (escritora); Charles Darwin (cientista); Albert Einstein (um dos mais importantes físicos do século XX); Franklin D. Roosevelt (32° presidente dos Estados Unidos); George Washington (1º presidente dos Estados Unidos); Napoleão Bonaparte (imperador da França); Pablo Picasso (artista plástico); Robin Williams (ator); Thomas A. Edison (inventor da lâmpada); Tom Cruise (ator); Vincent van Gogh (pintor); Winston Churchill (primeiro-ministro britânico); Walt Disney (fundador dos estúdios Disney); Leonardo Da Vinci (artista e inventor;) Whoopi Goldberg (atriz). Fonte:htt://www1.folha.uol.com.br/folha/ciência/ult306u334709.shtml 42 Como mostra a tabela, os disléxicos costumam ser pessoas muito inteligentes e de destaque. Por isso, os pais precisam ficar atentos se a criança apresentar inteligência acima da média, mas tem dificuldade de falar, conversar, andar, neste caso é preciso procurar um médico. Especialistas afirmam que a melhor idade para começar o tratamento psicológico é aos 5 anos, mas os profissionais da psicologia podem começar a tratar até mesmo antes de atingir esta idade. Os psicólogos podem orientar a família a ajudar no tratamento. Por exemplo, quando as crianças estão na fase de aprender a falar, elas têm dificuldade em pronunciar as palavras, mas como a memória auditiva dos portadores de dislexia costuma ser muito boa e acima da média, os pais podem exercitar a memória dos filhos falando devagar e pronunciando corretamente as palavras para que eles aprendam, aos poucos, os fonemas, porque esse é justamente o principal desafio para o disléxico: identificar corretamente a composição da palavra, ou seja, cada sílaba. Além disso, os psicólogos devem orientar os pais sobre os acidentes que a criança disléxica pode ter. Como um dos sintomas do distúrbio é a dificuldade em andar, os pais costumam usar andadores para incentivar o desenvolvimento motor. Porém, essa atitude pode ser arriscada e gerar acidentes. O uso de andadores não leva a criança a obter equilíbrio, mas dificulta o processo. Especialistas afirmam que crianças que não usam andador conseguem andar sozinhas antes mesmo daquelas que o utilizam. Isso se dá pelo fato de que elas aprendem a se equilibrar, ao contrário das que usam andador, que se acostumam a ter apoio e não exercitam o equilíbrio. O correto é incentivar a criança a fazer exercícios físicos e a andar sozinha, contando com o apoio apenas de um adulto. 43 É importante alertar os psicólogos também, que com o passar dos anos, os sintomas desse distúrbio mudam. A criança se desenvolve, aprende com dificuldade a falar, a andar e na terceira infância apresenta outros sintomas, como: • Lentidão para fazer as atividades impostas, como ajudar em casa ou lições da escola; • A caligrafia está melhor, mas ainda não compreende o que escreveu; • Não consegue ler e para entender o que escreveu precisa ler em voz alta; • Costuma inverter a ordem das sílabas e das letras; • Tem memória fraca e muitas vezes não se lembra do que acabou de aprender; • Não consegue fazer provas escritas; 44 • Não gosta de frequentar a escola; • Não consegue se concentrar; • Costuma confundir com os opostos, como direita e esquerda, em cima e embaixo, entre outros; • Apresenta dificuldade em aprender matemática, não consegue diferenciar as datas e nem as horas; • Apresenta dificuldade de fazer atividades simples, como abotoar a camisa, amarrar o sapato, entre outros. Como essas crianças não têm problemas sérios em relação ao comportamento, muitas vezes os pais e professores não conseguem notar a presença do distúrbio. A falta de tratamento adequado pode trazer sérias dificuldades futuras. Segundo especialistas, 80% das pessoas que têm o distúrbio não conseguem ler corretamente e a maioria delas apresenta problemas para escrever, costumam ter a caligrafia ilegível e não sabem respeitar as linhas e margens do caderno. Para uma criança ter o diagnóstico do transtorno, ela precisa apresentar vários dos sintomas citados acima. Mas há casos em que a criança apresenta muitos sintomas, porém, em outros casos, o distúrbio só é notado por causa da dificuldade em ler e escrever. Vale lembrar que algumas crianças aprendem a andar e a falar tardiamente, e isso, não está relacionado à dislexia. Como mostramos anteriormente, Leonardo Da Vinci, uma personalidade famosa do século XV, foi diagnosticado com a doença, assim como outros grandes importantes ícones da história mundial, demonstrando que o distúrbio foi descoberto há muitos séculos atrás. 45 Mas a medicina só passou a fazer referências à dislexia no século XIX, quando alguns médicos decidiram estudar as causas e possíveis tratamentos para o transtorno. No começo, os pesquisadores associaram a doença a possíveis problemas de visão. Depois, eles perceberam que essa síndrome era causada por diversos fatores cerebrais e que para ser tratada, deveria ter o trabalho de profissionais pertencentes a diferentes áreas. Os médicos perceberam que a maior incidência da dislexia era a genética. Por isso, para avaliar a criança, o psicólogo precisa fazer entrevistas com os pais e tentar identificar se existem casos semelhantes na família. Após essa identificação, o profissional deve tentar avaliar o potencial intelectual da criança, verificando se ela apresenta boa memória, se consegue ler, identificar letras e sílabas etc. O próximo passo é dizer se o paciente apresenta nível intelectual de acordo com a média, se tem dificuldade de aprender e se apresenta os sintomas citados anteriormente. Embora pareça fácil, o diagnóstico psicológico é muito complexo precisando ser realizado com cautela. Por exemplo, o psicólogo precisa investigar se os sintomas apresentados pela criança são provenientes de problemas emocionais, ou seja, a dificuldade de aprender e de memorizar as informações pode ser resultado do déficit de atenção e hiperatividade, stress, depressão, ansiedade ou problemas familiares. Caso fique comprovado pelo profissional que a criança realmente tem dislexia, médicos de outras áreas devem ser incluídos no tratamento. É importante lembrar que essa síndrome é muito comum e, segundo a Associação Brasileira de Dislexia, quase 10% da população tem o distúrbio. Por isso, os pais devem se preocupar e procurar um profissional da área para fazer o diagnóstico. 46 Para finalizar, veja abaixo as classificações do distúrbio: Dislexia disfonética,que está relacionada à audição. Isso significa que a pessoa que sofre com esse transtorno troca fonemas, sílabas, letras, tem dificuldade de ler, de escrever e troca as palavras por sinônimos. Dislexia deseidética, que está relacionada à visão. A pessoa que sofre desse distúrbio tem pouca noção de espaços, confunde as direções e tem mais dificuldade na leitura do que na escrita. A imagem abaixo mostra como as crianças com dislexia costumam escrever: Fonte: http://trabalhinhos.blogspot.com.br/2011/02/dislexia-o-que-e-e-como-identificar.html 47 Unidade 4 – O Processo Psicoterapêutico Infantil Olá! O curso está chegando ao final e para completar nosso estudo, nesta unidade discutiremos os processos básicos para que o psicólogo realize consultas com crianças e mostraremos ainda, a importância dos pais durante o tratamento do filho. Além disso, vamos falar sobre a presença do psicólogo infantil em ambientes externos, como nas escolas e residências, por exemplo, com a finalidade de alcançar melhores resultados em relação ao problema da criança. Bom estudo! 4.1 – Os processos da consulta Durante todo o curso, falamos da importância do psicólogo para tratar dos problemas infantis. Destacamos como a entrevista com pais e com as crianças é importante, podendo trazer informações relevantes para o diagnóstico e o tratamento. Mas como deve ser realizada essa consulta? Como podemos organizar a sala adequadamente? Primeiramente, vamos falar sobre o espaço que o psicólogo vai ocupar. Seja em um hospital ou 48 em uma clínica, a sala de psicologia infantil precisa ser colorida, ter muitos brinquedos, e, ainda, disponibilizar elementos para que a criança possa desenhar, escrever, pintar, entre outros. Como falamos anteriormente, as atividades aplicadas para diagnosticar os problemas são as brincadeiras lúdicas, ou seja, atividades que divirtam as crianças, como jogos e desenhos. Por isso, é aconselhável que a sala seja ampla, que tenha uma mesa, uma cadeira para que as crianças possam desenhar e fazer trabalhos artísticos, uma cadeira para o psicólogo e uma estante, abastecida com: • Bonecas e ursos de pelúcia; • Carrinhos; • Jogos de raciocínio como dama e xadrez; • Jogos de tabuleiro; • Quebra-cabeça e brinquedo de montar, como Lego, por exemplo; • Livros infantis que sejam coloridos e ilustrados; • Papel, lápis de cor, canetas coloridas, massinha, tinta e outros materiais artísticos. Além da estante, da mesa para as crianças e da mesa para o psicólogo, a sala deve ter também sofás e almofadas para que a criança fique relaxada, confortável e possa passar as informações ao brincar e ao se distrair. 49 Para que o ambiente não fique triste e lembre um hospital, é aconselhável que os acessórios tenham cores vibrantes e alegres, como: roxo, vermelho, laranja, amarelo, azul e verde. Desse jeito, a sala fica mais alegre e atrativa, e as crianças passam a ter mais vontade de frequentá-la. A imagem abaixo mostra como a sala pode ser organizada. Veja: Fonte: http://www.consultoriodepsicologia.net/59/index.html?*session*id*key*=*session*id*val* Após a organização do espaço, o psicólogo deve estabelecer como será a consulta. O tempo indicado para a duração dos encontros é de 50 minutos. Porém, não é possível estipular um prazo exato para a finalização do tratamento. Geralmente, os quatro primeiros encontros são realizados para que o psicólogo possa conhecer o paciente, entender o seu problema e fazer o diagnóstico. Vale lembrar que a avaliação em crianças pode demorar e que quatro encontros, às vezes, não são suficientes. Isso acontece porque muitos distúrbios infantis apresentam os mesmos sintomas. Por isso, os psicólogos precisam analisar com cautela, verificar todas as possibilidades, tentar conversar com a criança e aplicar alguns testes para ter certeza do diagnóstico. Como foi dito anteriormente, uma criança que sofre de dislexia pode 50 apresentar os mesmos sintomas que uma criança que sofre de hiperatividade, porém, o tratamento é totalmente diferente e as consequências que cada distúrbio traz também são diferenciadas. Para facilitar o diagnóstico, o psicólogo deve conversar com os pais e familiares da criança, mas de forma isolada, explicando quais serão os seus métodos e suas atividades. Caso a intenção do profissional seja utilizar as atividades lúdicas, ele deverá explicar para os pais o que são essas atividades, como elas são realizadas e os resultados que podem trazer. Após conversar com os pais e diagnosticar o problema, o profissional deve estabelecer as ferramentas que ele vai utilizar para amenizar os sintomas. Não há dúvidas de que o psicólogo precisa conversar com os pais durante o tratamento. Apresentar a evolução, a conduta da criança e os procedimentos realizados são informações básicas, que devem ser constantemente atualizadas. Uma das ferramentas mais utilizadas é a interpretação dos desenhos. Geralmente, as crianças que apresentam problemas comportamentais, de relacionamento, stress, ansiedade ou depressão preferem desenhar, a brincar. Por isso, para diagnosticar a causa do problema ou até mesmo fazer o tratamento, os psicólogos se baseiam na interpretação dos traços infantis. Mas como é possível fazer essa interpretação? Não há dúvidas de que o desenho é uma forma de expressar os sentimentos interiores, que ficam escondidos e muitas vezes são desconhecidos. Para que a análise do desenho seja positiva e traga resultados satisfatórios, o psicólogo precisa analisar: • A posição do desenho, ou seja, em qual parte da folha a criança desenhou o principal elemento. Se ela colocou na parte superior, está relacionado com a sua imaginação, curiosidade e com a vontade de aprender. Se for na parte inferior, indica que a criança possui necessidades físicas e 51 materiais. O lado direito está ligado ao futuro, enquanto o esquerdo está ligado ao passado. Já o centro da folha está relacionado ao presente. • Tamanho do desenho, ou seja, desenhos grandes demonstram segurança e desenhos pequenos refletem insegurança; • Quando a criança faz desenhos completos e usa traços contínuos significa que ela está calma, dócil. Porém, desenhos que apresentam traços falhados ou interrompidos demonstram impulsividade; • Quando a criança desenhar com boa pressão, apertar bem o lápis para definir os detalhes, ela demonstra felicidade. Porém, se o traço for muito forte pode indicar raiva, agressividade. Caso o desenho tenha o traço leve ela demonstra falta de vontade e cansaço; • A utilização das cores pode indicar determinados sentimentos, por exemplo: Felicidade, vontade; Impaciência, inquietação; Paz, tranquilidade; Intuição, sensibilidade; Inconsciente; Curiosidade, alegria; Segurança e planejamento; Uma cor Preguiça, infelicidade, descontentamento; É importante lembrar que os desenhos de meninos e de meninas costumam ser bem diferentes. Por exemplo, os meninos gostam de desenhar sobre futebol, lutas, carros e tudo o que envolve o mundo masculino. Por isso, os traços costumam ser mais agressivos e escuros. Já as meninas costumam fazer traços mais delicados, desenham bonecas, flores, amigas, corações, natureza, sol, nuvem, entre outros. Geralmente, o desenho é mais colorido e apresenta elementos imaginários, como fadas, anjos etc. 52 A partir dessas informações, o psicólogo pode entender quando algo está errado. Se uma menina faz desenhos tristes, usa apenas uma cor, faz traços muito fortes e apresenta elementosagressivos. O desenho reflete as insatisfações sentimentais e também distúrbios comportamentais. Além dos elementos que citamos acima, os psicólogos precisam estar atentos em relação a outros aspectos, como: • As cores utilizadas são vivas ou a criança pintou levemente a figura? • A criança fez sombras nos objetos ou personagens? • Existe algum elemento isolado, ou seja, preso em um quadrado? • Quando representou a família ou os amigos, alguém estava ausente? • As feições dos personagens são agressivas? • Há elementos violentos como armas, espada ou faca? • Ela costuma fazer sempre o mesmo desenho? • Ao finalizar o trabalho, ela costuma amassar o papel, jogar fora ou rabiscar algum elemento? • Todos os personagens têm rosto? • O desenho está adequado a sua idade? 53 Embora as atividades lúdicas, inclusive o desenho, sejam importantes para o tratamento, o psicólogo pode utilizar ferramentas que vão além do trabalho no consultório. Por isso, existem as chamadas Lições de Casa. Essa lição é bem parecida como as da escola. O psicólogo pode incentivar a criança a escrever um texto, um poema, escutar uma música, ler um livro ou até mesmo observar algo. Mas essa atividade não é obrigatória nem para o psicológico e muito menos para o seu paciente. Porém, elas são importantes para agilizar o tratamento, para ajudar na avaliação do psicólogo, para que a criança comece a realizar mudanças em algumas áreas da vida, auxiliando tanto o profissional como o paciente a alcançar o objetivo estabelecido: a qualidade de vida e a felicidade. 54 4.2 – Sessões com os pais Durante todo o curso, discutimos como os psicólogos podem ajudar os pais em relação aos problemas com os filhos. Passamos algumas dicas e informações básicas, que todos os profissionais precisam saber para orientar os familiares do paciente. Por que a família é tão importante para o tratamento? A maioria das crianças vê os pais como heróis e os têm como exemplo. Mas muitos desses pais não sabem educar corretamente os filhos e falam coisas indevidas, tratam as crianças com indiferença, agridem e os castigam por causa de determinados acontecimentos. Mesmo que os pais amem seus filhos e tomem essas atitudes porque as acham educativas e eficazes, eles não imaginam que estão seguindo o caminho contrário e podem prejudicar ainda mais os problemas psicológicos das crianças. É por isso, que os psicólogos precisam entender que o tratamento começa com os pais. Eles devem, primeiramente, mudar de atitude para que depois o tratamento foque nas crianças. 55 Mas é claro que fazer os pais mudarem de atitude não é tarefa fácil e, geralmente, eles não aceitam trocar os métodos de educação. Os pais costumam seguir os passos de sua família e usam os mesmos mecanismos utilizados na educação deles. Isso significa que as pessoas que tinham o hábito de apanhar quando faziam algo errado seguem o mesmo método e também agridem os seus filhos. É como um ciclo vicioso, uma cultura, da qual as crianças sofrem com as consequências. São raros os casos em que os pais admitem que estejam agindo de forma incorreta e que precisam mudar. Por isso, também são incomuns tratamentos psicológicos que trazem resultados em curto espaço de tempo. Isso porque as consultas só podem ser consideradas benéficas se houver mudança dentro de casa, na relação com a família. Por exemplo, crianças que sofrem com stress precisam cumprir menos responsabilidades, fazer menos atividades, serem menos cobradas e ter tempo para descansar. Porém, caso os pais não aceitem essa proposta e não façam mudanças em relação à agenda do filho, por mais que a criança passe por terapia, dificilmente apresentará um quadro de melhora. Se a criança tem dislexia e os pais não compreendem os mecanismos da doença e ainda chamam-na de preguiçosa e desatenta, os sintomas podem evoluir e passar de um problema na linguagem para depressão, ansiedade, isolamento e stress, fazendo com que a criança tenha ainda mais dificuldade de aprender e de se relacionar com os colegas. Com o tempo, o resultado será o desinteresse pelo ambiente escolar, o descontentamento com a família e com a vida, podendo se transformar em síndromes perigosas como a síndrome do pânico, por exemplo. Por isso, o intuito de integrar os familiares mais próximos, é incentivar mudanças de pensamento e de atitude dos pais. Tentar diminuir preconceitos, 56 agressividade e falta de compostura, que muitos deles deixam transparecer no ambiente doméstico e na presença dos filhos. Mas como devem ser conduzidas as consultas com os pais? A maior parte dos tratamentos psicológicos infantis inicia-se na entrevista com pais. Assim, os profissionais devem orientar os adultos a deixar a criança em casa, na companhia de um familiar e não leva-lá ao consultório. Essa informação é importante porque os pais costumam achar que a conversa será com todos os membros da família juntos. Porém, não é isso que acontece. Para conhecer melhor o cenário em que se encontra a criança, o psicólogo precisa conversar isoladamente com pais para que eles se sintam a vontade, confortáveis e possam falar tudo sobre a criança. Nesse primeiro encontro o psicólogo deve perguntar: • Por que vocês procuraram a minha ajuda? • O que acontece com o filho de vocês? • Quais são os seus sintomas? • O que ele fez de tão grave para que vocês chegassem a procurar ajuda psicológica? • Houve alguma mudança recentemente, como morte, separação, mudança de escola, de cidade, entre outras? • Qual é a história do filho de vocês? Com quantos anos entrou na escola, por que foi para a escola? Quantos irmãos? Como é a rotina? 57 • Qual é a história de vocês? Brigam com frequência? Possuem algum tipo de doença ou vício? • Quais são as atividades que vocês realizam junto com a criança? Ajudam o filho a fazer a lição de casa? Leva para o parque, zoológico, praça, casa de amigos, shoppings, restaurantes ou festas de familiares? • Como vocês costumam educar a criança? Conversam com frequência, agridem, aplicam castigos restritivos ou não fazem nada? • Como foi a educação de vocês? • Como é a relação de todos os parentes? São muitos os aspectos a serem notados pelos psicólogos. Por isso, muitas vezes, a conversa com os pais pode ser extensa e concluída em dois encontros ou mais. É comum os profissionais perceberem que o problema não está na criança, mas na estrutura familiar. Pais que bebem, maridos que agridem as esposas, adultos agressivos e estressados que batem e castigam os filhos são, na maioria das vezes, os causadores dos problemas infantis. É por esse motivo que muitos pais, quando alertados por professores, não buscam ajuda psicóloga para o filho. Na verdade, eles sabem que os problemas foram causados por suas próprias atitudes e ficam constrangidos de assumir isso ao profissional. Vale lembrar que as consultas psicológicas aos pais não devem ser realizadas como um questionário, no qual o profissional segue cada pergunta, obtém a resposta e faz o diagnóstico. 58 Essa entrevista se constitui em uma ferramenta capaz de detectar o ambiente em que a criança está inserida, por isso, deve ser feita cautelosamente, levando em consideração todos os detalhes, cada palavra utilizada pelo familiar, cada gesto, feição, olhar etc. Por meio dessa conversa é que os pais podem avaliar, por si só o filho, tentando procurar os motivos e as saídas para o problema. Por exemplo, é comum os pais chegarem ao consultório e dizer que após brigar, agredir ou aplicar um castigo, o filho passou a comer em excesso, começou
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