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Cleber Barbosa Análise Macroeconômica Volume 1 2ª edição Cleber BarbosaVolume 1 Análise Macroeconômica 2ª edição Apoio: ELABORAÇÃO DE CONTEÚDO Cleber Barbosa COORDENAÇÃO DE DESENVOLVIMENTO INSTRUCIONAL Cristine Costa Barreto DESENVOLVIMENTO INSTRUCIONAL E REVISÃO Alexandre Rodrigues Alves COORDENAÇÃO DE AVALIAÇÃO DO MATERIAL DIDÁTICO Débora Barreiros AVALIAÇÃO DO MATERIAL DIDÁTICO Letícia Calhau Referências Bibliográfi cas e catalogação na fonte, de acordo com as normas da ABNT. Copyright © 2006, Fundação Cecierj / Consórcio Cederj Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, da Fundação. Material Didático 2010/1 B238a Barbosa, Cleber. Análise macroeconômica. v. 1 / Cleber Barbosa. – 2. ed. - Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2010. 158p.; 19 x 26,5 cm. ISBN: 978-85-7648-422-3 1. Macroeconomia. 2. Sistema monetário. I. Título. CDD: 339 EDITORA Tereza Queiroz REVISÃO TIPOGRÁFICA Cristina Freixinho Diana Castellani Elaine Bayma COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO Jorge Moura PROGRAMAÇÃO VISUAL Andréa Dias Fiães ILUSTRAÇÃO Sami Souza CAPA Sami Souza PRODUÇÃO GRÁFICA Patricia Seabra Departamento de Produção Fundação Cecierj / Consórcio Cederj Rua Visconde de Niterói, 1364 – Mangueira – Rio de Janeiro, RJ – CEP 20943-001 Tel.: (21) 2334-1569 Fax: (21) 2568-0725 Presidente Masako Oya Masuda Vice-presidente Mirian Crapez Coordenação do Curso de Administração UFRRJ - Silvestre Prado UERJ - Aluízio Belisário Universidades Consorciadas Governo do Estado do Rio de Janeiro Secretário de Estado de Ciência e Tecnologia Governador Alexandre Cardoso Sérgio Cabral Filho UENF - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO Reitor: Almy Junior Cordeiro de Carvalho UERJ - UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Reitor: Ricardo Vieiralves UNIRIO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Reitora: Malvina Tania Tuttman UFRRJ - UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO Reitor: Ricardo Motta Miranda UFRJ - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Reitor: Aloísio Teixeira UFF - UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE Reitor: Roberto de Souza Salles Aula 1 – Conhecendo a Macroeconomia .................................................... 7 Aula 2 – Medindo as atividades econômicas ...........................................35 Aula 3 – O PIB e os componentes da demanda agregada ...................... 53 Aula 4 – Determinação da renda e da produção de equilíbrio .....................71 Aula 5 – Os investimentos e as taxas de juros .........................................97 Aula 6 – O sistema monetário ..................................................................113 Aula 7 – A demanda por moeda ...............................................................135 Referências............................................................................................155 Análise Macroeconômica Volume 1 SUMÁRIO Todos os dados apresentados nas atividades desta disciplina são fi ctícios, assim como os nomes de empresas que não sejam explicitamente mencionados como factuais. Sendo assim, qualquer tipo de análise feita a partir desses dados não tem vínculo com a realidade, objetivando apenas explicar os conteúdos das aulas e permitir que os alunos exercitem aquilo que aprenderam. Conhecendo a Macroeconomia Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: identificar as quatro variáveis que acompanham o estudo da Macroeconomia; isolar as decorrências dessas variáveis na dinâmica de um sistema econômico; articular duas ou mais variáveis a fim de solucionar problemas reais; identificar problemas econômicos nacionais de interesse da Macroeconomia; explicar o funcionamento de órgãos do governo, como o Banco Central. 1 ob je tiv os A U L A Meta da aula Apresentar as questões econômicas abordadas pelo campo da Macroeconomia através de quatro conceitos-chave: o crescimento econômico; a inflação; as relações externas (dívida externa); a distribuição de renda. 1 2 3 4 5 Pré-requisitos Naturalmente, você se recorda do que estudou em Formação Econômica Brasileira. Pois os princípios abordados naquela matéria, vistos sob a ótica da escassez, que permeia o uso de todos os recursos econômicos, vão ajudá-lo a entender o que será discutido nesta aula. Pronto para aprender? 8 C E D E R J Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia INTRODUÇÃO Figura 1.1: Da tela de Albrecht Dürer, os Quatro Cavaleiros do Apocalipse: a Guerra, a Fome, a Peste e a Morte. No estudo da Macroeconomia, a Inflação, a Recessão, o Endividamento Externo e a Desigualdade Social. Ao iniciarmos o estudo de algum fenômeno ou teoria, precisamos, em primeiro lugar, definir um ponto de partida. Provavelmente, você tem bastante claro que a Economia trata do comportamento do mercado. No entanto, se quiser se ocupar dessa reflexão por mais um momento, vai perceber que o conhecimento macroeconômico parte de princípios gerais que se aplicam a outros ramos do saber. O que é a Economia? O termo “economia” vem do grego, oikos = casa e nómos = distribuição, administração.!! A Economia, grosso modo, é a arte de administrar a casa, o ambiente em que vivemos. Repare que conhecer a origem do termo nos ajuda a compreender nosso alvo de estudo como algo mais próximo, mais palpável. Ou você duvida de que a ecologia, por exemplo, também tem algo a nos dizer sobre a maneira como cuidamos de nossa casa, o planeta? A Economia lida, como princípio, com a noção de escassez, que permeia todas as atividades econômicas. Por escassez queremos dizer que não há recursos disponíveis suficientes para suprir todas as nossas necessidades, sendo C E D E R J 9 A U LA 1necessário, portanto, que saibamos priorizar objetivos e lidar com todas as variáveis envolvidas no processo. Ainda sobre a origem dos termos, pense: será que economia e ecologia têm algo a oferecer uma à outra? Economia ou sistema econômico? Lembre-se: ao longo da aula, você vai conviver com um uso convencionado para o termo “economia”. Compreenda que, ao utilizar esse conceito, estamos nos referindo a um sistema econômico – ou ao conjunto de atividades, de bens e de serviços que movem uma economia. Essas atividades são exercidas pelas empresas e pelo governo, e envolvem todos os indivíduos (consumidores e produtores) concentrados em uma determinada região (um país, um estado, uma cidade). !! O QUE É A MACROECONOMIA? Em termos gerais, a Macroeconomia representa o estudo das grandes variáveis econômicas. Mais precisamente, das variáveis econômicas agregadas. Observe: o termo “agregada” vem do verbo “agregar”, que significar somar, reunir. Assim, as variáveis econômicas agregadas são a soma dos valores de cada um dos elementos que contribuem para a formação de um panorama. Por exemplo: tomemos um gênero alimentício como o arroz. No mercado, o arroz tem seu preço, que varia conforme a dinâmica de todo o sistema. Quando estudamos a Macroeconomia, no entanto, não nos concentramos apenas no nível de preços do arroz. Estudamos como cada fator envolvido no sistema econômico afeta o nível de preços do arroz, do feijão, da carne, dos ovos. Ao longo desta aula, você será capaz de perceber que os preços – ou o nível de preços de um país – podem variar como um todo. Dessa forma, podemos considerar a variável agregada “preço” como um fator homogêneo. A Macroeconomia pode ser entendida segundoquatro variáveis agregadas: o nível de preços, o nível de emprego, a taxa de câmbio e a taxa de juros. Esses elementos se relacionam de forma que um afete 10 C E D E R J Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia todos os outros. Como você verá mais adiante, as interações entre as variáveis macro trazem grandes efeitos à economia. Quatro importantes variáveis da macroeconomia – nível de preços; – nível de emprego; – taxa de câmbio; – taxa de juros.!! MACROECONOMIA OU MICROECONOMIA? A Macroeconomia consiste no estudo do comportamento da economia como um todo, ou seja, de maneira agregada, interdependente. A Microeconomia, por sua vez, concentra-se no comportamento dos consumidores e das empresas, sempre sob a ótica desagregada ou setorial. A Macroeconomia estuda a inflação como problema nacional. A Microeconomia se preocupa com os efeitos das variações de preços sobre as empresas e os consumidores. A Macroeconomia e a Microeconomia constituem a base da teoria econômica. O PREÇO Definidos os conceitos de Economia, Macro- economia e Microeconomia, vamos analisar, uma a uma, cada variável econômica agregada. Para começarmos, apresento a você, neste momento, um importante conceito: o preço. Na forma agregada, o preço representa a soma de todos os preços de todas as empresas que operam em um mesmo sistema econômico (ou em uma mesma economia). Desse modo, encontra-se a variável agregada preço, ou, simplesmente, o nível de preço. Figura 1.2: O preço das ervilhas é determinado pelo lucro do feirante e pelo nível do preço da vagem em todo o mercado. Ja n e C le ar y (w w w .s xc .h u ) C E D E R J 11 A U LA 1 Figura 1.3: A inflação faz seu dinheiro perder o valor. D av id e G u g lie lm o Quanto custa hoje? Ontem você saiu de casa com dois objetivos muito claros e bem distintos: comprar dez quilos de arroz para uma feijoada para a qual você vai contribuir e sondar o preço daquele automóvel importado que você sonha comprar. Ao passar por dois supermercados, você tem uma surpresa desagradável: o arroz está 10% mais caro. Ainda assim, você compra o arroz e parte em direção a uma revendedora da marca de automóveis que lhe interessa. Chegando à loja, você descobre que o preço do automóvel desejado subiu, embora as outras marcas nacionais tenham mantido seus preços. Dito isso tudo, com base no que vimos sobre preços e inflação, discorra sobre os casos do arroz e dos carros. Em algum ou em ambos os casos pode-se concluir que há um processo inflacionário? _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ Atividade 1 1 4 Sobre a variável preço, vale notar que um dos efeitos de sua dinâmica de alteração é a inflação. A INFLAÇÃO A inflação refere-se a um aumento no nível geral de preços. Opõe-se à deflação, que se refere à diminuição do nível geral dos preços. Ambos os conceitos são conseqüências da alteração do valor do dinheiro – da moeda – e não do valor dos bens. Um exemplo: um quilo de feijão que, na virada do mês, passe a custar 20% a mais em qualquer supermercado onde se procure é uma referência de inflação, caso os outros produtos tenham aumentado 20% em média. 12 C E D E R J Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia Resposta Comentada Não há elementos suficientes para identificarmos com precisão se estamos diante de um processo inflacionário. Se observarmos uma grande quantidade e variedade de produtos poderíamos suspeitar que está havendo um aumento generalizado de preços. Quando o aumento ocorre em um ou poucos dos produtos, o caso pode ser de aumento de preços relativos. Isto é, alguns produtos ficaram mais caros em relação aos outros. Uma seca que tenha atingido a plantação de arroz pode ter prejudicado a colheita do arroz repercutindo para o mercado em elevação de preços. Isso não é inflação. Será se o aumento do preço do arroz causar aumento do preço de um almoço no restaurante, que por sua vez causar aumento no preço do táxi porque o taxista almoça naquele restaurante, e tal aumento no táxi implicar aumento na obturação do dente posto que o dentista vai para o trabalho de táxi e assim por diante. O EMPREGO Uma economia, como um automóvel, precisa de combustível para funcionar. Se tomarmos as empresas como o ambiente onde a economia é impulsionada, vamos concluir que o trabalhador é um dos importantes fatores que movimenta a economia. Vale então definir de forma clara o conceito de emprego. O emprego se refere às posições destinadas ao trabalhador – ou à mão-de-obra – como fator de produção dentro de um sistema econômico. Dentro de uma economia, o nível de emprego depende das expectativas dos empresários em torno do que vão produzir (extensão do ambiente empresarial, do número e do tamanho) das empresas que operam ali e até da utilização de tecnologia que substitua o trabalho humano. A luta por melhores colocações no mercado de trabalho e por níveis mais altos de RENDA permeia toda a história do sistema de produção capitalista. RENDA Provavelmente você já ouviu falar em renda, embora talvez não consiga definir o conceito de forma clara. Pois a renda se refere aos ganhos provindos do trabalho. A renda depende também de inúmeras variáveis, desde a demanda do mercado por trabalhadores de um determinado setor até a oferta de trabalhadores disponíveis para determinada atividade. A desigualdade de renda dentro de uma economia é a base de nossa tão conhecida diferença de classes. Ao longo da História, teóricos dos mais diversos campos tentaram explicar e solucionar o problema da diferença de classes, provindo das diferentes funções que trabalhadores exercem dentro de um sistema econômico e dos diferentes níveis de renda que decorrem dessas atividades. Já houve os que defendessem uma igual remuneração para atividades bastante diferentes entre si, assim como houve os que entendessem o abismo que separa ricos e pobres como uma característica imutável do sistema produtivo. Essa é uma discussão em aberto, que vale ser travada com seus colegas, tutores e professores. Figura 1.4: Sua renda é quanto seu trabalho paga. D J A le m ão C E D E R J 13 A U LA 1 Figura 1.5: O uso do vapor na produção industrial foi o primeiro grande avanço tecnológico em direção às economias modernas. M ik e M cG ar ry Onde quer que precisem de mim Você é um metalúrgico. Seu país está vivendo um surto de industrialização, e o mercado pede cada vez mais metalúrgicos. No entanto, sua esposa, agrônoma, recebeu uma oferta de trabalho irrecusável em outro país, onde a economia é principalmente rural. Ali, o pequeno mercado ligado à metalurgia fez aparecer cursos práticos ligados à sua profissão. Há metalúrgicos trabalhando, mas há poucas oportunidades de emprego. Suponhamos que, nesse novo país, você acabe conseguindo na sua área um emprego bastante semelhante ao que você tinha no Brasil. O que deve acontecer com a sua renda nesse novo emprego, em seu novo país? _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ Resposta Comentada Provavelmente sua renda vai cair. Se há muitos trabalhadores disponíveis para uma mesmafunção e se há poucos postos de trabalho à disposição da categoria, provavelmente o empresário pagará menos aos trabalhadores. Como sua renda provém do trabalho assalariado, é seu valor no mercado que vai determinar seu nível de renda. Atividade 2 1 2 3 CRESCIMENTO ECONÔMICO X RECESSÃO O processo produtivo que se percebe dentro de uma economia é algo dinâmico: certos períodos podem apresentar desempenho melhor ou pior, em comparação a períodos anteriores. Daí perceba que, se sob um primeiro olhar trabalhadores e empresários encontram-se em oposição, é o desempenho da economia como um todo que vai determinar seus ganhos e suas perdas. Períodos de alto desempenho para a produção, em 14 C E D E R J Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia princípio, beneficiam a todos e geram o que se chama de “crescimento econômico”. O crescimento econômico representa o aumento das atividades econômicas de um país durante um período de tempo (normalmente um ano). Muitas vezes é medido pelo produto interno bruto (PIB), conceito que abordaremos em nossa segunda aula. Por ora, guarde que o contrário de crescimento econômico é a recessão. Em períodos de recessão, de um ano para o outro, ao invés de produzir mais, o país apresenta níveis de produção e emprego menores. A TAXA DE CÂMBIO Outra de nossas importantes variáveis econômicas agregadas é a taxa de câmbio, ou o preço da moeda nacional em relação à estrangeira. A taxa de câmbio expressa quanto se deve pagar em moeda nacional para adquirir uma unidade monetária de outra moeda, ou seja, de quantos reais precisamos para comprar um dólar, por exemplo. Para cada moeda estrangeira haverá uma taxa de câmbio. Tudo se passa como se a moeda estrangeira fosse uma mercadoria qualquer. A desvalorização da taxa de câmbio significa que a moeda estrangeira encareceu. A valorização do câmbio nos diz que a moeda estrangeira está mais barata. No Brasil, esse equilíbrio entre moedas é administrado pelo Banco Central, em Brasília. Para entender a dinâmica do câmbio, podemos partir de um exemplo bastante simples: imagine que você coleciona um álbum de figurinhas. Você tem o álbum quase completo e tem na manga uma figurinha premiada, a ser trocada por uma outra que lhe falta para completar uma página. Mas então quanto vale aquela figurinha, no ato de trocá-la por outra? Depende. Figura 1.6: Em momentos de recessão, quem mais sofre com os baixos níveis de emprego são os jovens. Por quê? K ad ri P o ld m a C E D E R J 15 A U LA 1 Entendendo a taxa de câmbio Uma moeda fraca, desvalorizada, tem menor poder de compra, o que quer dizer que fica mais caro importar. Se um real vale um dólar, uma máquina fotográfica de 900 dólares custa 900 reais. Mas se dois reais são iguais a um dólar, a mesma máquina de 900 dólares sai pelo dobro do preço para nós, brasileiros: 1.800 reais. Por outro lado, uma moeda forte, valorizada, estimula a importação, ao mesmo tempo que desestimula a exportação. Se um real vale dois dólares, por exemplo, produtos brasileiros tendem a vender menos no exterior, já que quem trabalha em dólar precisa usar mais dinheiro para comprar um produto fabricado aqui. Voltemos à máquina fotográfica: uma máquina brasileira custa 900 reais. Um real vale dois dólares. Logo, um cidadão norte-americano que queira comprar uma máquina no Rio de Janeiro vai precisar pagar 900 reais, ou 1.800 dólares. Depende de quantas figurinhas iguais àquela estão circulando entre seus amigos. Pois é basicamente assim que o Banco Central opera: se há muitos dólares circulando no país, o preço do dólar cai. Todo mundo tem dólares, ninguém quer comprar, então o valor do dólar vem abaixo. Pois se o Banco Central deseja elevar o preço do dólar, tornando o real mais barato, ele compra dólares no mercado e os soma à sua reserva. O exato oposto acontece quando há poucos dólares no mercado – o que equivale a dizer que o dólar está caro em relação ao real. Neste caso, o Banco Central vende dólares de sua reserva por valor mais baixo do que o praticado pelo mercado. M ar ci n K ra w cz yk Figura 1.7: O dólar, que era usado como moeda padrão nas negociações internacionais, vem perdendo terreno para o euro, a moeda da União Européia. ?? CÂMBIO: O PREÇO DE SE NEGOCIAR EM OUTRA LÍNGUA O valor e a aplicação de moedas estrangeiras em um país referem-se às nossas relações comerciais com o resto do mundo. Para entendermos melhor a função do câmbio, podemos nos reportar ao que aprendemos sobre preços e à sua função clássica em qualquer transação econômica: a de coordenar os papéis de compradores e vendedores e a de ajudar a elaborar as decisões de consumidores e produtores. O valor de uma moeda estrangeira então é seu preço. Pois se estamos falando em comércio entre dois países, podemos presumir que 16 C E D E R J Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia cada país vai partir de sua própria moeda para calcular se vale a pena ou não “fazer negócio”. A atratividade de um país para o comércio exterior, assim como o controle que se exerce sobre o fluxo de entrada e saída de capitais, é determinado pelo que se chama de balanço de pagamentos. O balanço de pagamentos é o registro sistemático de todas as transações econômicas envolvendo um país e o resto do mundo (países estrangeiros) durante determinado período. As exportações, as importações e o pagamento dos juros das dívidas contraídas no exterior são alguns dos itens contabilizados no balanço de pagamentos. Tomemos um exemplo prático: se ao Brasil interessa ampliar a venda de algodão ao exterior, por exemplo, e se o país encontra-se em um momento em que as importações em geral superam as exportações, vale a pena baixar o valor do real em relação ao dólar. Fazendo isso, compradores estrangeiros precisarão de menor volume de suas moedas para comprar um produto avaliado em reais. Se o valor do real está mais baixo, fica mais barato comprar algodão brasileiro. Figura 1.8: Imagine que uma balança em equilíbrio tem, de um lado, as importações e, de outro, as exportações. Câmbio Fixo x Câmbio Flutuante A administração da taxa de câmbio depende de uma postura muito definida por parte do governo: a de se instituir o chamado “câmbio fixo”. Neste caso, o governo define um valor estável para a moeda, a partir do qual as operações vão ser realizadas. O contrário existe e chama-se “câmbio flutuante”. Em regimes de câmbio flutuante, o valor da moeda oscila segundo as tendências do mercado exterior. !! C E D E R J 17 A U LA 1 O gargalo das exportações Você é o presidente do Banco Central. Em seu gabinete, uma comitiva de grandes produtores brasileiros de soja o aguarda. Eles estão furiosos: suas exportações caíram quase 30% nos últimos meses. Todos eles defendem que é preciso mexer na taxa de câmbio. O dólar, no patamar em que se encontra, inviabiliza a compra da soja por países estrangeiros. O que você faria? Elevaria ou derrubaria o valor do dólar? E como você faria isso, vendendo ou comprando dólares do mercado? ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ Resposta Comentada A soja ou qualquer outra mercadoria a ser exportada está submetida a uma comparação entre duas moedas: a do exportador (aquele que vende para fora) e a do importador (aquele que compra de fora). Se o comprador está pagando muito caro pela soja, é sinal de que suamoeda está fraca em relação à do vendedor – ou do exportador (no caso, os produtores brasileiros de soja). A partir daí, conclui-se que é preciso desvalorizar a moeda do exportador, em relação à do importador. Derruba-se o real e valoriza-se o dólar. Assim fica mais fácil exportar. Duro será convencer a comitiva de importadores de automóveis, que o aguarda no lobby do banco, presidente. Já vimos também como se altera o valor de uma moeda: vendendo-a ou comprando-a no mercado. No nosso caso, queremos que o dólar tenha seu valor aumentado. Logo, precisamos retirar dólares do mercado. O que equivale a dizer que o Banco Central, nesse caso, deve comprar dólares. Atividade 3 1 2 3 4 5 A TAXA DE JUROS Preço, emprego, taxa de câmbio. Uma quarta variável econômica que está no centro de nossas preocupações desta aula é a taxa de juros, ou, sob a ótica do consumidor, quanto o mercado embute no preço de produtos e serviços em função de compras a crédito. 18 C E D E R J Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia Já estudamos o conceito de inflação. Vimos que ele se refere ao aumento da moeda circulante em um país, acompanhado de sua conseqüente desvalorização. Pois a taxa de juros é uma das formas que o mercado encontra para compensar perdas diante da inflação. Quando você deposita uma parte de seu salário em uma caderneta de poupança, sabe que aquela é uma aplicação segura e que rende sempre alguma coisa, por mais modesto que seja esse rendimento. Pois esse rendimento são os juros que você recebe do banco. Aqueles mesmos juros dos quais você reclama quando compra alguma coisa a prazo ou quando toma um empréstimo bancário. É que aí é você quem paga os juros. Vimos então que uma elevação da taxa de juros prejudica as pessoas que compram a prazo. Esses consumidores vão pagar mais caro por seus financiamentos. Por outro lado, aqueles que aplicam seus recursos no mercado financeiro ficarão muito contentes ao receber mais, graças ao aumento dos juros. Comprando devagar Deu no jornal: os juros subiram mais de dez por cento. Absurdo. E você ainda precisa comprar um fogão novo, é urgente. Na caderneta de poupança, você tem três vezes o valor do fogão, embora tenha se planejado para não usar esse dinheiro. Sua idéia era pagar prestações a partir do seu salário, já que em poupança não se mexe. Mas e agora? Será que com os juros muito mais altos do que aqueles que você viu no mês passado continua valendo a pena comprar a prazo? _________________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ Resposta Comentada Embora seu dinheiro aplicado na caderneta de poupança venha render o aumento dos juros, nas compras a prazo implicará pagar muito mais por um determinado produto. Se você tem o dinheiro para cobrir o preço do fogão, vale mais a pena comprar à vista e depositar na poupança o que você havia planejado usar nas prestações. Atividade 4 1 2 3 4 C E D E R J 19 A U LA 1Mercado Financeiro e Especulação No filme Rogue Trader (1999), do diretor inglês James Dearden, um operador da Bolsa de Valores do sudeste asiático joga de forma arriscada com tendências do mercado financeiro e acaba por causar a falência de um dos maiores bancos da Grã-Bretanha. A história é real e serve para ilustrar o funcionamento do mercado de ações. A Economia em Desequilíbrio Um bom exemplo do que acontece com uma economia em desequilíbrio está no documentário Roger & Me (1989), do diretor americano Michael Moore. No filme, uma cidade do interior dos Estados Unidos sente os piores efeitos de uma indústria especializada que fecha suas portas: desemprego, esvaziamento econômico, depreciação imobiliária; a economia local vem abaixo. Sugestão: visite ao site http://www.imdb.com/title/tt0131566/] AS VARIÁVEIS E SUAS DECORRÊNCIAS Essas quatro variáveis agregadas das quais a Macroeconomia se ocupa (guarde, vai ser útil: nível de preços, salários, taxa de câmbio, taxa de juros) irradiam seus efeitos sobre grandes questões nacionais, como o crescimento econômico do país, a inflação, o comércio exterior, representado pelo balanço de pagamentos, e a distribuição de renda. Hoje, uma das maiores preocupações nacionais ao redor do mundo é a competição pelo ambiente industrial perfeito. No momento, as Américas encontram-se negociando acordos multilaterais, dentre os quais a Alca e o Nafta se destacam. A idéia, que segue a tendência atual de que países se organizem em blocos, tenta regular as relações comerciais e culturais entre os países da região, de modo que o crescimento e o desenvolvimento econômicos sejam sentidos por todas as nações envolvidas de forma relativamente eqüânime. A agilidade ou a lentidão desse processo está submetida a uma enormidade de fatores, dentre os quais e de forma prioritária os políticos. 20 C E D E R J Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia O caso mexicano Acompanhe um caso: nos últimos anos, o México assumiu uma posição mais próxima da economia americana, investindo nessa crença de que faria parte de um sistema econômico maior. Como as leis de defesa ambiental mexicanas são mais flexíveis do que as americanas, e como a mão-de-obra mexicana é mais barata do que a empregada nos Estados Unidos, o México acabou se tornando um belo ambiente para a instalação de indústrias dedicadas a finalizar produtos feitos nos Estados Unidos. No México, essas indústrias receberam o nome de maquiladoras – ou “maquiadoras”, em bom português. As maquiladoras foram responsáveis pelo aquecimento da economia mexicana durante um determinado período. No entanto, diante da eterna busca pelo melhor ambiente industrial, o México vem perdendo terreno para países emergentes como a China, onde a mão-de-obra é ainda mais barata. O processo pode não ter fim. Enquanto isso, nos Estados Unidos, em áreas anteriormente dedicadas à produção industrial, já se fala no surgimento de um Cinturão de Ferrugem (Rust Belt). Para saber mais sobre esse tema, digite “cinturão de ferrugem” ou “rust belt” em um mecanismo de buscas da internet. Há artigos nos jornais O Estado de S. Paulo e The Washington Post. ?? Já está claro que a instalação de indústrias ou de qualquer outro incremento a sistemas econômicos locais está subordinada a variados fatores, desde regras de proteção ambiental até facilidade de transportes, preço da mão-de-obra, proximidade dos mercados consumidores, clima. Tudo influencia no desenvolvimento da economia. Então, ao ler jornais ou assistir à TV, fique atento para perceber que um surto de desenvolvimento local nunca acontece por acaso ou milagre. Figura 1.9: Quando uma grande indústria fecha suas por- tas, não são só suas instalações que sentem os efeitos. Tr ip F o n ta in e (w w w .s xc .h u ) C E D E R J 21 A U LA 1AS VARIÁVEIS APLICADAS A taxa de juros sobre o mercado A taxa de juros, ou seja, aquilo que se paga de juros por pegar dinheiro emprestado, afeta os investimentos dos empresários. Acompanhe: se houver elevação da taxa de juros, os empresários que precisarem recorrer aos bancos para conseguir dinheiro a fim de comprar novas máquinas, por exemplo, vão verificar que está mais caro investir. Logo, tendem a ficar desestimulados para tal. Ainda que eles tenham o dinheiro, poderão perceber que aplicar no mercado financeiro, ou poupar, em vez de investir na compra de máquinas, pode ser mais lucrativo. Assim, a elevação dos juros inibe os investimentos em recursos produtivos (aqueles destinados a aumentar a produção) e estimula a poupança. Muito bem: seos empresários investem menos, como conseqüência, a produção deverá crescer menos. E como produção menor implica menos emprego, percebemos como a taxa de juros pode afetar o nível de emprego de uma economia. Leia isso de novo. Visualize. Juros, para que te quero? Atividade 5 2 3 4 5 Foi dado pelo Banco Central o sinal verde para mais um aumento na taxa de juros. Diferente do que havia declarado há uma semana o presidente do BC, Henrique Meirelles, a partir de amanhã o mercado opera com um aumento de 0,25 ponto percentual. ECONOMIA BC anuncia aumento de 0,25 ponto na taxa de juros 22 C E D E R J Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia Tomando por base os dois fragmentos de notícia, reflita e responda: de que maneira uma elevação da taxa de juros, acompanhada das restrições para a exportação, pode influenciar no preço da geladeira e na sua idéia de comprar uma geladeira? _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ Resposta Comentada Se os juros subiram, isso significa que o financiamento para as compras a prazo está mais caro. Logo, quem pretendia comprar a prazo vê-se estimulado a poupar mais para se beneficiar dos juros pagos pelo banco, até que possam comprar sua geladeira à vista. Ao mesmo tempo, se o mercado dos produtores brasileiros de geladeiras na Argentina foi limitado, isso equivale a dizer que a procura por geladeiras caiu, o que fará aumentar a oferta dela no Brasil. Se já há um estoque formado, é possível que os produtores sejam obrigados a baixar os preços, a fim de escoarem a produção. No meio disso, talvez você consiga até comprar a geladeira à vista. Em mais um capítulo da dura negociação comercial entre Brasil e Argentina, o presidente argentino Néstor Kirchner declarou ontem ser necessário frear o que classificou como uma “invasão brasileira”. O alvo da vez é o setor de eletrodomésticos, que tem na Argentina um de seus principais compradores. A partir de segunda- feira, passam a vigorar naquele país taxas mais altas para a importação de refrigeradores brasileiros. Retornam hoje, pelo porto de Santos, dez cargueiros carregados de refrigeradores brasileiros que foram retidos na Argentina. MUNDO Argentina quer frear "invasão brasileira" A RENDA E A QUESTÃO SALARIAL Os salários são uma via de mão dupla: de um lado, representam a fonte de renda da maior parte da população. De outro, uma importante variável de custos para as empresas. Da mesma forma, um reajuste salarial estimula o consumo, ao mesmo tempo que eleva os custos da empresa. C E D E R J 23 A U LA 1Voltando ao caso do México e ao que explicamos sobre ambientes industriais perfeitos, perceba que países como a China hoje representam um bom espaço para montar uma indústria multinacional, inclusive porque ali a mão-de-obra é muito mais barata do que nos países de origem dessas empresas. Mais adiante: já vimos que um aumento salarial eleva os custos de produção. Agora perceba que esse aumento no custo pode ser repassado para os preços. Se isso se repetir como um processo contínuo e geral (em toda a economia), pode-se assistir ao início de um momento de inflação. A inflação, como você já viu, refere-se ao aumento da moeda circulante em um país. Então perceba: se você ganha mais e o empresário repassa para os preços o novo custo que você gerou, tudo fica mais caro. Se você ganha mais e tudo fica mais caro, o dinheiro vale menos. Acompanhou? Esse processo acaba retirando mais uma vez o poder aquisitivo dos trabalhadores, que, novamente, vão reivindicar outros reajustes. No final da bola de neve, pode se formar um círculo vicioso e inútil de “salários versus preços”, tal qual um cão que tenta morder a própria cauda. A discussão mais detalhada sobre esse aspecto é um dos grandes temas da economia, mas não trataremos dele agora. O que nos interessa saber, no momento, é que os salários são fonte de renda para as famílias e custo para as empresas. Podem, em momentos de elevação, atrair novos empregos e gerar mais consumo. Porém, ao mesmo tempo, causar maiores custos e repasses aos preços. Parabéns, você está um pouco mais rico. Este é seu contracheque. Dois salários mínimos. Atividade 6 1 2 4 24 C E D E R J Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia Esta é a geladeira dos seus sonhos: Isso você leu hoje no jornal: E agora? O que deve acontecer com o preço da sua geladeira Brasfreezer? Justifique sua resposta. ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ Resposta Comentada Provavelmente, o preço da sua geladeira vai subir junto com seu salário. Você é o consumidor do produto que ajuda a fabricar. Se o patrão precisa aumentar seu salário, ele vai passar por uma elevação em seus custos, o que precisa ser compensado de alguma forma. Logo, a menos que seu patrão esteja disposto a ver seu lucro diminuir, ele irá repassar o aumento do custo salarial para o preço da geladeira. Portanto, se de um lado você está ganhando mais, porém os preços das coisas estão mais elevados, é possível que seu poder de compra fique como antes. ECONOMIA Novo salário mínimo é de 350 reais Em pronunciamento em rede nacional de TV, o Presidente Luis Inácio Lula da Silva anunciou, na noite de ontem, um novo patamar para o salário mínimo. A partir desta segunda-feira, o mínimo passa a 350 reais, nível mais alto desde... C E D E R J 25 A U LA 1 Maior remuneração e menor inflação? Talvez você esteja se perguntando se é possível que, em algum caso, um aumento na remuneração não seja inflacionário. A resposta é: claro que sim. Pense em um trabalhador produzindo, por dia, mil mercadorias que, vendidas, valem R$ 1.500,00 (desconsidere qualquer outro custo de produção que não seja o do trabalho). Se sua produtividade – ou quanto o trabalhador produz em média a cada período de trabalho – for dobrada (duas mil mercadorias por dia), o trabalhador pode receber um aumento de renda de até 100%, e tal aumento não será inflacionário. Isto porque ele está reivindicando para si apenas o acréscimo de lucro que sua produtividade gerou. Você está ganhando em cima de um crescimento econômico que gerou com seu trabalho. Moral da história: os aumentos de remuneração em função da produtividade não representam aumento de custos. Portanto, não são inflacionários. !! A TAXA DE CÂMBIO E O BALANÇO DE PAGAMENTOS A taxa de câmbio (ou o valor, o preço da moedanacional em relação ao da estrangeira) afeta o nível de preços e as exportações. Veja que quando o preço do dólar aumenta (nosso câmbio desvalorizado), comprar um produto importado no supermercado fica mais caro. Exemplo: suponha que a taxa de câmbio esteja assim: 1 dólar = 1 real (U$ 1: R$ 1). Daí, um uísque importado ao preço de um dólar valerá, no supermercado, exatamente um real (desconsidere o lucro do supermercado e outros itens de custos). A partir daí, se houver uma desvalorização do real de forma a cotar 1 dólar = 2 reais, então você pagará 2 reais para adquirir o mesmo uísque. Como os preços dos importados aumentam, é de se esperar que aqui se comprem menos importados. Assim, diminuem as importações. 26 C E D E R J Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia Agora, se a taxa fosse 2 dólares = 1 real (valorização cambial de nossa moeda), o uísque estaria custando 50 centavos de real. Seria um produto importado mais barato do que o similar nacional, o que nos estimularia a comprá-lo, em detrimento daquele genérico brasileiro. Mas veja, a desvalorização do câmbio é um dos fatores que podem afetar a inflação. Eis um caso: o trigo é um insumo importado para a produção do pão, uma matéria-prima. Se houver desva- lorização da moeda nacional, o preço do trigo importado aumenta, e, por conta disso, poderá haver o repasse desse aumento para os preços na padaria. Em geral, com a desvalorização, todas as matérias- primas importadas sofrerão aumento de preços, com repasses para os preços dos produtos manufaturados, finalizados. Le o n ar d o N o va es Figura 1.10: O trigo que seca nos campos não vira pão, vira aumento de preço. O salário é “imexível” Você trabalha no Banco Central. O presidente, em reunião ministerial, anuncia sua intenção de reduzir a inflação. Só que ele não aceita instituir mecanismos de redução salarial, tampouco admite aumento nas taxas de juros. Através da taxa de câmbio, o que você pode sugerir? ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ Resposta Comentada Ao vender dólares no mercado e ao valorizar a taxa de câmbio, o real subirá na cotação em relação ao dólar. Assim, tudo o que se compra em dólares precisará de menos reais na hora da conversão de uma moeda à outra (a taxa de conversão é a taxa de câmbio), ou seja: os produtos importados, as passagens aéreas ao exterior, as compras que se fazem quando se está em outros países etc. estarão mais baratos. Nos efeitos sobre a inflação, pode-se afirmar: ela deverá diminuir. Os produtos importados que servem como matéria-prima ou como insumo à produção estarão mais baratos. Isto implica dizer que os custos com as compras de bens importados estarão menores, o que possibilita queda nos preços. Conclusão: a valorização cambial tem um efeito antiinflacionário, posto que os custos com matérias-primas e insumos importados diminuem. Pode-se, portanto, repassar essa diminuição de custos aos preços, ocasionando a redução da inflação. Atividade 7 3 4 5 C E D E R J 27 A U LA 1O nível de preços e seu bolso vazio São vários são os efeitos da elevação de preços. Por ora, vamos citar a redução do poder de compra dos salários e a conseqüente queda na demanda agregada (a demanda total da população por um determinado item), ou seja: a redução dos níveis de compra. OS CAVALEIROS DO APOCALIPSE Recessão. Inflação. Dívida externa alta. Níveis complexos de concentração de renda. Ao falar desses problemas, você se recorda de algum país que esteja passando – ou que tenha passado – por tais situações? Se pensou no Brasil, meus parabéns: você está atento ao que acontece ao seu redor. Ainda assim, posso dizer: dos cerca de 200 países existentes no planeta, a ampla maioria enfrenta ou já enfrentou tais desafios. Vale também dizer que todos esses precisam da análise macroeconômica para ajudá-los a solucionar os problemas de baixo crescimento econômico, desemprego, dívidas externas e má distribuição de renda. A recém-criada União Européia, por exemplo, está reorganizando os fluxos produtivos e populacionais do Velho Mundo. Cidades como Frankfurt, na Alemanha, têm suas ruas próximas às estações de trem tomadas por imigrantes do Leste europeu, que, liberados pelo fim da barreiras impostas pela extinta União Soviética, acorrem à Europa Ocidental em busca de oportunidades melhores de emprego. Muitos deles começam a formar uma nova população de desabrigados e desempregados (ver tabela). Tess Figura 1.11: Se o nível de preços da economia sobe, os efeitos são sentidos nos mercados e em sua geladeira. 28 C E D E R J Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia Países da União Européia (EUR 15) Taxas de desemprego e distribuição do emprego Total pelos setores de agricultura, indústria e serviços – 1993 Tabela 1.1: Taxas de desemprego e de emprego por setores dos quinze países que integram a União Européia País Taxa de Desemprego (%) Emprego na Agricultura (%) Emprego na Indústria (%) Emprego nos Serviços(%) Bélgica 9,4 2,9 30,9 66,2 Dinamarca 10,3 5,2 27,4 67,4 Alemanha 7,2 3,7 39,1 57,2 Grécia 7,7 21,9 25,4 52,8 Espanha 21,8 10,1 32,7 57,2 França 10,8 5,9 29,6 64,5 Irlanda 18,4 13,8 28,9 57,1 Itália 11,1 7,9 33,2 59,0 Luxemburgo 2,6 3,1 29,6 67,3 Holanda 8,8 3,9 25,2 70,9 Áustria 3,6 7,1 35,6 57,4 Portugal 5,1 11,5 32,6 56,0 Finlândia 17,9 8,6 27,8 63,5 Suécia 8,1 3,2 26,6 70,1 Reino Unido 10,4 2,2 30,2 67,5 Fonte: Eurostat/IPEA. O Brasil já se consagrou campeão mundial de futebol, vôlei e boxe, não é mesmo? Mas é também medalhista em outros esportes: já foi campeão em maior inflação, maior taxa de juros, menor salário mínimo, maior concentração de renda...!! TRADE-OFF: OS PÉS OU A CABEÇA? Você já ouviu falar do problema do “cobertor curto”? Numa noite de inverno, ao dormir com um desses ingratos elementos macroeconômicos, você passa por um difícil e nunca satisfatório dilema: C E D E R J 29 A U LA 1ou bem cobre a cabeça, deixando os pés ao frio, ou faz o contrário. Isto significa que não há solução ótima. Pois na Macroeconomia isso também ocorre. O trade-off é uma expressão inglesa que, em economia, representa uma situação-dilema (ou um conflito de decisão), em que uma ação em proveito de alguma coisa dificulta uma outra. Você poderia pensar: basta que os economistas tomem medidas para baixar a inflação, estimular a iniciativa privada (nossos empresários), aumentar a produção e o emprego, elevar as exportações para adquirir dólares para saldar a dívida externa e distribuir a renda. O caso é que, infelizmente, há algo que complica um pouco essa história: é o chamado trade-off, que ocorre na hora de procurar resolver tais problemas econômicos. Creio que já reunimos os elementos básicos para entender um pouco da complexidade que envolve os problemas macroeconômicos. Pois se um país tem como metas diminuir a inflação, o desemprego, a dívida externa e melhorar a distribuição da renda, o que se deve fazer? Se utilizarmos as variáveis juros, câmbio, preços e salários, podemos até amenizar um desses problemas. No entanto, fatalmente a gravidade de algum dos outros irá se aprofundar. Como assim? Suponha que a política econômica de um país seja a de elevar a taxa de crescimento econômico. Ao diminuir a taxade juros, os empresários irão investir mais, aumentando o emprego e a produção. Isso é positivo, mas outras coisas não tão positivas também podem ocorrer: taxas de juros mais baixas aumentam o consumo, o que estimula os empresários a aumentar os preços. Esta última relação será tanto mais forte quanto mais intenso for o crescimento da demanda pelos produtos e serviços. Quando os empresários produzem mais, além de contratar mais pessoas, eles também compram mais insumos importados. Desse modo, gastam dólares que poderiam ser utilizados para pagar a dívida externa. Tudo isso pode acontecer em maior ou menor grau de intensidade. Tudo depende de em que nível esteja o desenvolvimento do país em questão ou sua situação econômica. Se o objetivo do país for baixar a inflação, então é preciso conter o nível salarial da população, para que não haja pressão de custos sobre os preços. Parece um pouco chocante, mas lembre-se de que, para a empresa, salário é custo. 30 C E D E R J Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia A diminuição da margem de lucro dos empresários também contribui para reduzir a inflação. Essa diminuição pode ser feita com um volume maior de importações, já que isso impõe uma maior concorrência às empresas nacionais. Ao mesmo tempo, fazer isso é desestimular o crescimento econômico local. Outra séria conseqüência de uma redução no nível salarial é o aumento da concentração da renda da população, problema que conhecemos bem. Em suma, temos aí o trade-off do “cobertor curto”: ao se resolver um problema, quase sempre acentua-se algum outro. É preciso priorizar o que se quer: primeiro combater a inflação e depois fazer o país crescer? Ou o contrário? Essa é uma discussão que permeia todos os momentos políticos dos países, e normalmente é solucionada nesse mesmo ambiente político. Vale notar que, até pela natureza do “cobertor curto”, não há solução puramente técnica para os impasses de que trata a Macroeconomia. CONCLUSÃO Crescimento ou desenvolvimento? Trecho retirado da edição 236 (25/11/02) da revista Época: “Provocado a comparar suas idéias com as do ministro preferido dos militares, Delfim Netto, e as do ex-minstro Pedro Malan, o atual ministro da Fazenda Antonio Palocci faz uma didática culinária. ‘Nem acreditamos que primeiro é preciso crescer o bolo para depois repartir (tese dos anos verde- oliva), nem que o bolo se divide sozinho (tese de Malan). Vamos dividir o bolo durante o crescimento.’ Em outras palavras: Palocci pode até usar o idioma de Malan e receber elogios de Delfim, mas promete ser diferente.” ?? Figura 1.12: Em Economia, há sempre um pé que fica de fora. A grande questão é decidir qual deles. C ri s W at k C E D E R J 31 A U LA 1 Quatro problemas (macro) econômicos nacionais – inflação; – crescimento econômico baixo; – dívida externa alta; – má distribuição de renda. !! A Macroeconomia trata as questões econômicas de maneira agregada. Estas são inter-relacionadas e constituem um desafio à política econômica. Muitas vezes, ao se tentar resolver um problema macro, um outro pode surgir. Muitas vezes, esse dilema é posto de maneira a exigir uma escala de prioridades, já que não se consegue resolvê-los simultaneamente. Ao final desta aula, tendo visto os temas ligados à Macroeconomia e compreendido alguns dos processos de interação entre as variáveis macroeconômicas, eis algumas colocações no mercado de trabalho a serem ocupadas por economistas: • no Ministério da Fazenda, assessorando o ministro em questões nacionais; • em empresas multinacionais, onde tenha a função de estudar o comportamento econômico das empresas concorrentes; • no mercado financeiro, pois ali terá que verificar quais títulos financeiros darão maior rentabilidade com o menor risco; • em bancos comerciais (ex.: Banco do Brasil), uma vez que sua tarefa diária será estimar o volume de recursos que podem ser emprestados aos setores público e privado; • no setor imobiliário, no departamento de lançamentos de prédios de luxo. Cada um desses itens, em maior ou menor intensidade, pode representar algo que utilize o conhecimento macro adquirido. 32 C E D E R J Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia (...) os indicadores da atividade mostram que a economia brasileira, com variação de mais de 5% do PIB em 2004, vive auspicioso momento expansionista que induz a maior investimento, maior emprego e maior consumo. Isso é tudo o que um governante torce para ter e o que toda sociedade almeja, desde que não implique na [sic] volta da espiral inflacionária (jornal Valor Econômico, editorial, p. A14; 18/12/05). Com o que você estudou nesta aula e munido das informações contidas no texto, explique o porquê do risco da espiral inflacionária. Resposta Comentada A citada variação de mais de 5% do PIB significa a magnitude do crescimento econômico do Brasil em 2004. Como sabemos, quando a economia cresce, os empresários vendem mais e fazem mais investimentos. Claro que ao vender e investir mais, eles estão contratando mais funcionários. Com mais salários, o consumo aumenta no país. O risco da inflação está na pressão desse maior consumo sobre as vendas. Afinal, se há maior demanda, há maiores vendas e o risco de proporcionar maiores preços. Com o aumento de preços pode-se ter mais inflação, o que fará o poder aquisitivo dos salários diminuir. A partir daí, pode ser gerada uma corrida de reajustes de salários que acabem representando um aumento de custos e preços, ou seja: está presente na notícia do jornal a relação entre a meta de crescimento econômico e o efeito colateral de gerar inflação. Atividades Finais 54 A Macroeconomia consiste no estudo e na análise das variáveis econômicas de forma agregrada (juros, salários, câmbio, preços) e dos principais problemas econômico-sociais (crescimento econômico, inflação, dívida externa, distribuição de renda). As variáveis tratadas aqui influenciam os problemas econômicos de maneira tal que podem, ao mesmo tempo, reduzir a gravidade de um e acentuar outro. Todo o estudo da Economia, seja a macro ou a micro, aborda o problema da escassez, princípio segundo o qual não há recursos suficientes para atender a todas as demandas geradas em um sistema econômico. R E S U M O 321 C E D E R J 33 A U LA 1 A Economia lida com a articulação entre suas variáveis, e é assim, de forma combinada, que tenta resolver problemas em um ou outro setor de atividades. Cada variável econômica agregada apresentada nesta aula interfere nas demais, e a forma como vão ser aplicados os conceitos econômicos vai ser sempre bastante particular, levando em conta as características próprias de cada sistema econômico. INFORMAÇÕES SOBRE A PRÓXIMA AULA Ao longo desta disciplina, você terá uma visão geral do que se estuda em Macroeconomia, uma das mais importantes disciplinas estudadas pelo curso de Ciências Econômicas. Ali, a Macroeconomia está dividida em três semestres. Nós, por outro lado, preferimos enfocar esta matéria no nível do interesse e da importância que se observa para um futuro administrador de empresas. Na próxima aula, começaremos a abordar a produção e o crescimento econômico de um país. Veremos ainda como se mede seu nível de atividade econômica. Você já ouviu falar em PIB (Produto Interno Bruto) na disciplina Formação Econômica do Brasil, certo? Pois vamos voltar a falar disso na Aula 2. Medindo as atividades econômicas Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: definir produto interno bruto (PIB); verificar a utilidadedo PIB como indicador das atividades econômicas; diferenciar PIB real, PIB nominal, deflator do PIB e PIB per capita. 2 ob je tiv os A U L A Meta da aula Apresentar o conceito de Produto Interno Bruto, suas aplicações, suas variáveis e seus desdobramentos. 1 2 3 36 C E D E R J Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas INTRODUÇÃO Quem nunca se viu, mesmo quando bem jovem, diante de um lampejo de curiosidade sobre algum fato econômico? Ainda que nunca tenha estudado uma única linha sobre economia, quem nunca se perguntou, por exemplo, algo tão esdrúxulo quanto “qual seria o valor somado de todos os salários ou rendas do Brasil”? E se existisse um megamilionário tão afortunado quanto excêntrico que desejasse comprar tudo o que o Brasil produziu em um ano? Como você poderia chegar a esse valor? Por trás dessas inusitadas perguntas estão outras um pouco mais técnicas: como se avalia o crescimento econômico de um país? Por que a renda de um país é exatamente igual à despesa? Qual o peso da produção industrial ou agropecuária na produção total do país? O elemento básico para responder a tais perguntas está na sigla econômica mais popular de todos os tempos: de uma forma ou de outra, não há quem nunca tenha ouvido falar do PIB. O QUE É O PIB? O produto interno bruto (PIB) representa a estimativa do valor de tudo que foi produzido por um país em determinado período. Este valor é calculado com base nos preços de mercado, leva em conta apenas os bens e serviços finais (aqueles destinados diretamente ao consumidor final); o período tomado como base pode ser anual, semestral etc. COMO SE CALCULA O PIB? Tudo se passa como se contratássemos alguém para, desde o primeiro até o último dia de um ano, anotar os preços de todos os bens e serviços finais gerados dentro do território nacional. Nesse caso, teríamos o PIB anual do país. Figura 2.1: Carregamento embarcado em contêineres, rumo a mercados externos. Er ik J as p er s (w w w .s xc .h u ) C E D E R J 37 A U LA 2Para efeito ilustrativo, suponha que, no ano X, um país tenha produzido apenas três produtos (a, b, c), da seguinte forma: Assim, o pib desse país seria: PIB = (2 x 2) + (4 x 3) + (1 x 5) = R$ 21 Lembre-se de que o PIB se refere à soma de tudo o que foi produ- zido em um país. Assim, poderíamos dizer que o valor de tudo que foi produzido naquele país, durante o ano, foi de R$ 21,00. O CONCEITO EM DETALHES Vamos esmiuçar um pouco alguns dos termos que definem o que seja PIB. Para começo de conversa, é importante guardar que o PIB é avaliado em termos do valor de mercado, ou seja, a partir dos preços que são praticados no mercado de bens e serviços. Os preços que você vê nos supermercados, feiras, lojas etc. Quando falamos em bens e serviços finais, queremos mostrar que nossa conta não inclui os bens intermediários, já que estes já estão inseridos nos preços dos bens finais. Por exemplo: o valor do trigo, que serve de matéria-prima à produção do pão, não é contabilizado no cálculo do PIB. Como no valor do pão já está embutido o valor do trigo, o trigo acaba sendo considerado indiretamente. Perceba: se somássemos o valor do trigo (insumo do pão) ao do pão, estaríamos contando o trigo duas vezes. Isso acarretaria o que se chama de erro de dupla contagem no cálculo do PIB. Produto Quantidade produzida (q) Preço de mercado (p) R$ A 2 2 B 4 3 C 1 5 38 C E D E R J Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas QUAL O EFEITO DOS PREÇOS SOBRE O PIB? A essa altura, você já guardou que o PIB é uma medida da atividade econômica ligada à produção de bens e serviços finais. Pois como este indicador é calculado com base nos preços dos bens e serviços, é coerente pensar que seu valor será influenciado pela variação de preços. Então note que, por ser um índice relacionado à produção e ao nível dos preços no mercado, a elevação dos preços irá afetar o valor do PIB, mesmo que a quantidade produzida permaneça a mesma de um ano para o outro. Voltemos à primeira tabela: Suponhamos novamente que, no ano x, um país tenha produzido apenas três produtos (a, b, c), da seguinte forma: Produto Quantidade produzida (q) Preço no mercado (p) R$ A 2 2 B 4 3 C 1 5 Com quantos pneus se faz um carro Uma montadora de automóveis compra de outra empresa os pneus para a produção de seus veículos. Cada carro, é importante lembrar, chega ao consumidor final com cinco pneus: um em cada roda, mais um estepe. O conjunto de cinco pneus é vendido à montadora por R$ 500. Os carros, depois de prontos, são cotados por R$ 5 mil. Agora responda: para o cálculo do PIB, qual será o montante a ser considerado na produção de dois automóveis? Resposta Comentada No cálculo do PIB, o valor a ser considerado para a produção de dois automóveis é de R$ 10 mil. Se o preço final de cada carro é de 5 mil e se os pneus são bens intermediários à produção dos carros, então os pneus já estão incorporados ao preço final dos carros. Caso somássemos a esses R$ 10 mil os bens intermediários (ou dez pneus, cinco para cada carro), teríamos para o cálculo do PIB o valor de R$ 11 mil, o que causaria certa discrepância na soma final. Este é um exemplo do erro da dupla contagem. Ou seja: neste caso, os pneus teriam sido contados duas vezes: na venda para a montadora e na venda para o consumidor final. Atividade 1 1 C E D E R J 39 A U LA 2Assim, o PIB desse país seria: PIB = 2 x 2 + 4 x 3 + 1 x 5 = R$ 21,00 Agora suponha que todos os preços tenham dobrado, mas que a quantidade produzida tenha permanecido a mesma. Observe que, neste caso, o PIB terá dobrado (PIB = R$ 42). Essa discrepância causará uma grave distorção para um indicador com a função de informar a variação da produção total (agregada). COMO ISOLAR O PIB DO NÍVEL DE PREÇOS? Uma forma de evitar a influência da variação de preços sobre o cálculo do produto interno bruto consiste em medir o PIB em termos reais. Daí, surgem dois conceitos de PIB: um seria o PIB nominal, que representa o PIB a preços correntes, ou o PIB baseado nos preços praticados pelos mercados. O outro, que denominamos PIB real, consiste no valor do produto interno bruto em termos de preços constantes, a partir de um ano considerado como base de referência. Guarde então: suponha que, em 2003, a produção brasileira de bananas tenha chegado ao patamar recorde de x toneladas. Se em 2004 o preço das bananas tiver dobrado no mercado, ainda que a produção tenha se mantido a mesma do ano anterior, nossa soma de todo o dinheiro gerado pela produção de bananas vai dobrar junto com os preços. Uma pessoa desavisada poderia olhar esse novo valor do PIB e concluir que o país alcançou novo recorde produtivo, mas, na verdade, o patamar da produção de bananas é exatamente o mesmo, o que se alterou foi o valor do PIB nominal. Se quisermos avaliar apenas o nível de produção de bananas brasileiras, precisaremos comparar pelo menos dois anos. Então contabilizamos a produção de 2003 e, em 2004, consideramos os preços de 2003. Assim se calcula o PIB real. Aumento na produção ou nos preços? Se o PIB aumentou de um ano para o outro, pelo menos uma das duas coisas ocorreu: ou o país elevou a quantidade produzida em sua economia ou os bens e serviços sofreram aumentos de preços. !! 40 C E D E R J Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas Ano Bananas(QB) Preço (PB) R$ Veículos (Qv) Preço (Pv) R$ PIB= (PBQB+PVQV) R$ 2002 100 1 20 50 1.100 2003 120 2 30 60 2.0402004 140 3 40 70 3.220 PIB REAL: UM EXEMPLO SIMPLES Suponha que, ao longo de três anos, um país tenha produzido apenas dois bens (bananas e veículos). A quantidade produzida, os preços e, por conseguinte, o PIB nominal em cada um desses anos estão relacionados a seguir: Sendo: QB a quantidade de bananas produzidas; PB o preço das bananas; QV a quantidade de veículos produzidos; PV o preço dos veículos no mercado. Inicialmente, observe que o PIB nominal aumenta de um ano para o outro. Essa elevação deve-se ao crescimento da produção, mas também à elevação de preços. Se o nosso interesse for calcular o aumento real da produção, ou seja, aquele não-afetado pelo crescimento dos preços, temos que utilizar o conceito de PIB real. O primeiro passo será escolher um ano-base, ou de referência. Os preços dos produtos naquele ano é que serão utilizados como referência para o cálculo do PIB real nos anos subseqüentes. Para o cálculo do PIB real, portanto, não utilizamos os preços do ano vigente, mas sim os preços do ano de referência. De resto, procedemos da mesma maneira que procedíamos para o cálculo do PIB nominal (preço do produto x quantidade do produto). C E D E R J 41 A U LA 2 A partir da tabela abaixo, tome o ano de 2002 como seu ano-base. A partir daí, como você calcularia o PIB real em cada um dos períodos seguintes? Resposta Comentada Em 2002, o PIB real é 1.100. Como? (100 x 1) + (20 x 50) = 1.100; em 2003, é 1.620. Como? (120 x 1) + (30 x 50) = 1.620; e em 2004, o PIB real é 2.140, já que (140 x 1) + (40 x 50) = 2.140. Como você já viu, o PIB nominal utiliza os preços vigentes em cada ano, enquanto o PIB real fixa os preços de um ano como base para calcular apenas as variações nas quantidades produzidas a cada período. Assim, o PIB real torna-se uma medida mais adequada para estimar a produção total de bens e serviços finais de um país. Atividade 2 2 Ano Bananas Preço R$ Veículos Preço R$ PIB Real*(PBQB+PVQV) R$ 2002 100 1 20 50 2003 120 2 30 60 2004 140 3 40 70 O DEFLATOR DO PIB Como vimos até aqui, variações nos preços dos produtos representam um importante fator a ser considerado no cálculo do PIB de um país. Agora perceba que, quando comparamos um período a outro, somos capazes de identificar comportamentos e tendências dos mercados. Para que tenhamos uma medida da elevação média do nível de preços do final de um ano para o outro, basta que calculemos o que se denomina deflator do PIB. Na aula anterior, você viu que o conceito de inflação se refere a uma gradual perda de valor do dinheiro, diante de um aumento generalizado de preços. Agora note que o deflator do PIB é o índice destinado a isolar o fator inflação do cálculo do produto interno bruto de um país, em um determinado período. O deflator nos dirá qual parte do aumento do PIB nominal cabe somente ao crescimento dos preços e nos ajudará a perceber quanto do aumento do PIB se deve a uma elevação real no nível de produção. * Ano-Base 2002 42 C E D E R J Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas O que calcula cada PIB? O PIB real calcula o crescimento econômico, a partir do aumento ou da diminuição do nível real de produção de um país. O deflator do PIB faz referência ao crescimento médio dos preços da economia. O PIB nominal capta tanto o crescimento do volume da produção quanto a variação de seus preços.!! Note que, a partir do deflator do PIB, é possível inferir a taxa de inflação de um período. A fórmula de cálculo do deflator é: DEFLATOR DO PIB = PIB nominal x 100 PIB real Veja como obter o deflator do PIB a partir dos valores já apresentados nas tabelas anteriores desta aula: Por esses valores, no ano-base do PIB real (2002), o deflator do PIB é igual a 100. Por definição, em todo ano-base, o deflator será sempre 100 (os preços do ano corrente são os preços do ano-base). Em 2003, o deflator do PIB é 125,92. Em 2004, é 150,46. Agora veja: de 2002 a 2003, o deflator passou de 100 para 125,92. Logo, pode-se inferir que os preços aumentaram, em média, 25,92%. Da mesma forma, em 2004, como o nível de preços passou de 125,92 para 150,46, o nível médio de preços aumentou 19,48% em relação a 2003. Fica claro então que o deflator do PIB pode ser interpretado como um indicador da variação do nível médio de preços de um país. Isto é nada mais nada menos do que dizer que o deflator do PIB consiste em uma indicação da taxa de inflação do período. Deflator do PIB Ano deflator = (PIB nominal / PIB real) x 100 2002 deflator = R$ 1.100 / R$ 1.100 x 100 = 100 2003 deflator = R$ 2.040 / R$ 1.620 x 100 = 125,92 2004 deflator = R$ 3.220 / R$ 2.140 x 100 = 150,46 C E D E R J 43 A U LA 2O PRODUTO NACIONAL BRUTO Já vimos que o PIB expressa o total da produção, a soma de toda a renda criada dentro dos limites geográficos de um país. Pois parte dessa renda gerada dentro do país pode ser enviada ao exterior. Isso acontece quando parte da renda pertence a empresas estrangeiras que estejam produzindo no país. Nesse caso, essas empresas podem enviar parte de seu lucro para o exterior. O produto nacional bruto (PNB), por sua vez, representa a produção cuja renda correspondente é de propriedade dos indivíduos residentes no país de forma definitiva. Ou seja: o PNB é a soma de tudo o que é produzido aqui e fica aqui. Portanto, a diferença entre PIB e PNB é a renda líquida enviada ao exterior (RLEE ou a renda que é mandada para o exterior menos aquela procedente do exterior). Um exemplo: um país sul-americano cuja indústria seja exclusivamente dedicada à siderurgia tem um PIB de R$ 1 milhão. No entanto, suponha que, ao longo do ano, esse país tenha importado R$ 200 mil em minério de ferro e exportado R$ 300 mil em aço. Quando calcularmos o Produto Nacional Bruto, chegaremos ao valor de R$ 900 mil. Veja: PNB = 1 milhão – 300 mil + 200 mil = 900 mil Ou ainda: PNB = PIB – RLEE O PRODUTO INTERNO LÍQUIDO Parte do valor dos bens e dos serviços gerados em um determinado período pode ser perdida, seja pelo desgaste, pela perda de utilidade por uso, ação da natureza ou ainda por obsolescência. Pois o produto interno líquido é precisamente o produto interno bruto decrescido dessa depreciação. Assim, nem toda produção acrescenta uma maior quantidade de bens ou serviços à economia ou faz ela crescer. Com um aumento na produção, pode-se apenas estar repondo o que foi depreciado no período. Ou ainda: PIL = PIB – depreciações. 44 C E D E R J Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas EXISTE PIB NEGATIVO? Você já viu que o PIB é o somatório de todas as riquezas produzidas por um país em um determinado período. Compreendeu também que há uma sigla destinada a medir apenas o que é produzido e fica no país (PNB) e outra que considera ainda o que é perdido ou se torna obsoleto (PIL). Quando a taxa de crescimento do PIB é negativa – o PIB real de um ano é menor do que o do ano anterior, diz-se que houve recessão. Isto equivale a dizer que a atividade econômica diminuiu entre um ano e outro. Agora veja: se isso ocorreu, devem ter ocorrido também menor produção, mais baixo nível de empregos, falências de empresas etc. Este quadro de baixa atividade econômica recebe também o nome de depressão. Não há uma determinada taxa de crescimento negativa que caracterize o processo de depressão. Para efeito de curiosidade, uma “piada econômica” define a expressão assim: “Recessão ocorrequando pessoas estão sendo desempregadas. Depressão é quando eu também perco o meu emprego”. O QUE O PIB NÃO MEDE? Como já foi mencionado, o PIB mede o valor da produção de bens e serviços finais de uma economia. Todavia, há toda uma parcela da produção nacional que não é incluída no cálculo do produto interno bruto: é o que se convencionou chamar de economia informal. Drogas, jogos de azar e contrabando são atividades desconsideradas pelo PIB, como seria coerente supor, mas a produção informal não se refere Figura 2.2: Em 1929, com a quebra da Bolsa de Nova York, os Estados Unidos mergulharam no que ficou conhecido como “A Grande Depressão”, cujos efeitos foram sentidos ao redor de todo o mundo. O Brasil soube minimi- zar os males da crise através de políti- cas estatais que visavam a defender os preços do café no mercado interna- cional. O governo brasileiro chegou a comprar e a queimar grandes volumes de grãos, a fim de reduzir a oferta do produto no mercado. Saiba mais no site www.culturabrasil.pro.br/ estadonovo.htm. C E D E R J 45 A U LA 2somente à ilegalidade. Pensemos, por exemplo, nas donas de casa ou nos vendedores ambulantes, que mantêm seus negócios à parte dos impostos e das contribuções. Esses não são contados quando se calcula o PIB. Hoje, estimativas apontam para uma equação assustadora: cerca de 50% da economia brasileira podem estar ligados à informalidade. Repare que as dimensões de uma economia informal podem significar a divisão de um país em dois: um real e um oficial. O crescimento da informalidade pode representar um verdadeiro problema administrativo no âmbito governamental, já que apenas uma parcela da população contribui com impostos, por exemplo, mas é a totalidade das pessoas que precisa ser beneficiada pelas políticas públicas. O PIB DESMEMBRADO O PIB também pode ser desmembrado por setores de atividade. Na Tabela 2.1, você encontra o crescimento do PIB brasileiro por setores, em 2003 e 2004. Os dados mostram, por exemplo, que o PIB agropecuário – o valor da produção total de bens e serviços finais do setor agropecuário – cresceu 4,5% em 2003 e 5,3% em 2004. A tabela revela ainda que o PIB brasileiro cresceu 0,5% e 5,2% em 2003 e 2004, respectivamente. A senhora do lar Explique a razão da frase: “Se um patrão demitir sua empregada doméstica, que tinha carteira assinada, e casar-se com ela, reduz-se o valor do PIB”. ________________________________________________________ _________________________________________________________ _______________________________________________________ Resposta Comentada O serviço de empregada doméstica é uma atividade profissional com valor de mercado. Logo, entra no cálculo do PIB. Demitida, passada à informalidade e casada com o patrão, a empregada passa a ser dona de casa e deixa de ser assalariada. Assim, o PIB cai de valor pelo cancelamento da despesa que o ex-patrão deixa de ter com a nova esposa. Atividade 3 1 2 46 C E D E R J Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas Tabela 2.1: Crescimento do PIB brasileiro total e por setores nos anos de 2003 e 2004 (%) O VALOR DA RENDA É IGUAL AO VALOR DO PRODUTO Além do valor dos bens e dos serviços produzidos na economia, o PIB também mede a renda total gerada no processo da produção. Na verdade, o valor da renda é exatamente igual ao valor do produto. Como assim? Observe que tudo o que se gasta para produzir um bem encontra sempre contrapartida em alguém que está recebendo exatamente tal valor. Vamos a um exemplo: suponha que um refrigerante custe R$ 1,00. Nesse preço, estão embutidos o custo e o lucro. Se o custo de sua produção for de 80 centavos, o restante (20 centavos) será a renda do empresário. Os 80 centavos de custos são divididos em pagamento de funcionários (renda) e pagamento das matérias-primas. Essas matérias- primas têm o mesmo aspecto do refrigerante, isto é, seu preço é composto de custo e lucro, que representarão futuras rendas, e assim por diante. Já os 20 centavos de lucro do comerciante serão pagos por você. Vamos explicar o mesmo fenômeno (valor da renda igual ao valor do produto) de uma maneira “macro”: em um sistema econômico simplificado, os consumidores compram bens e serviços nos mercados. O valor das vendas, que é recebido pelas empresas, é destinado ao pagamento dos seus funcionários, à remuneração dos indivíduos que alugaram o espaço físico das empresas e aos lucros dos empresários. Essas somas são transferidas para os chamados MERCADOS DOS FATORES D E P RO D U Ç Ã O – as imobiliárias, as agências de emprego etc. Setores 2003 2004 agropecuária 4,5 5,3 indústria 0,2 6,2 serviços 0,6 3,7 comércio -1,9 7,9 transporte 1,4 4,9 demais 1,0 2,9 PIB Total 0,5 5,2 O ME RC A D O D E FA T O RE S D E PRO D U Ç Ã O Representa os locais onde se negociam a oferta e a procura por fatores de produção. São as agências de emprego, as imobiliárias, que vendem ou alugam imóveis comerciais etc. Fonte: IPEA C E D E R J 47 A U LA 2Por outro caminho: o total da renda gerada nesse sistema econômico é reutilizado pelas famílias, por meio da compra de bens e serviços no mercado de produtos – os supermercados, as lojas etc. Estes, por sua vez, irão fluir novamente para o mercado de fatores de produção. Como num fluxo circular. O PIB pode ser medido de duas formas: somando as rendas pagas pelas empresas dentro do mercado de fatores (de produção), ou pelo total dos gastos dos consumidores no mercado de bens e serviços. Ainda que na prática haja mais complexidade (há impostos, as famílias não gastam tudo o que ganham, nem tudo o que é produzido é vendido etc.), cada transação tem uma espécie de comprador e vendedor, de forma que o valor do bem ou do serviço coincida com o valor da renda. A seguir, vê-se um diagrama do fluxo circular da renda e dos bens e serviços de um sistema econômico. As setas externas ilustram o fluxo circular da renda. As setas internas representam o fluxo de bens e serviços. Mercado de Produtos Famílias (consumidores) Despesa = PIB Empresas (Unidades Produtivas) Salário, lucro e aluguel Mercado de fatores de produção Bens e Serviços Bens e Serviços Insumos Trabalho Capital TerraRenda = PIB Receita = PIB Fluxo Circular da Renda e do Produto Despesa 48 C E D E R J Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas Entre 2003 e 2004, o Brasil passou de 15º colocado no ranking mundial do PIB para 12º, ultrapassando a Índia, a Coréia do Sul e a Holanda. No entanto, em 1998, o Brasil estava em 8º lugar. Ou seja: mais próximo dos países de maior atividade econômica no mundo. !! AS MAIORES ECONOMIAS DO PLANETA Através do PIB, podemos relacionar os países de maior produção no mundo. Ou seja, as maiores economias do mundo. A Tabela 2.2, embora incompleta, dá o ranking para o ano de 2004. Tabela 2.2: Os países de maior atividade econômica em 2004 País Produto Interno Bruto (US$ trilhões) 1 Estados Unidos 11,757 2 Japão 4,780 3 Alemanha * 4 Reino Unido * 5 França * 6 Itália * 7 China 1,543 8 Espanha * 9 Canadá * 10 México * 11 Austrália * 12 Brasil 0,605 Fontes: IBGE; FMI; GRC Visão Consultoria * Dados não disponibilizados. Valores em US$ C E D E R J 49 A U LA 2A RENDA PER CAPITA A renda per capita é a quantia em reais que cada habitante receberia caso o PIB fosse dividido igualmente entre toda a população. Note que a renda per capita é uma média, uma estimativa, uma vez que desconsidera o fator distribuição de renda. Abaixo,
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