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CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA TAINARA TACIANA LOPES MENDES NOGUEIRA A IGREJA CATÓLICA NA TRANSIÇÃO DO REGIME MONARQUIA-REPUBLICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX São João de Meriti - RJ 2020 TAINARA TACIANA LOPES MENDES NOGUEIRA A IGREJA CATÓLICA NA TRANSIÇÃO DO REGIME MONARQUIA-REPUBLICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX Artigo a ser apresentado à Banca do Curso Superior de Licenciatura em História da Universidade Estácio de Sá – CSTSP/UNESA. ORIENTADOR Profº. João Cerineu Leite de Carvalho São João de Meriti - RJ 2020 RESUMO O presente trabalho tem como tema a Igreja Católica na transição do regime monarquia-republica no Brasil do século XIX. Nesta pesquisa adota-se a metodologia de revisão bibliográfica com o intuito de entender o contexto e o que de fato ocorreu durante a questão religiosa e dispondo de objetivos específicos como: de que forma era praticado o catolicismo durante a monarquia; o que mudou com a laicidade brasileira; a Igreja Católica perdeu seu poder de influência. Tendo sido o Brasil colonizado por Portugal e possuindo enraizados em sua cultura costumes cristãos pretendemos através desse artigo examinar cada item que contribuiu para culminar no rompimento do padroado e o afastamento entre a República-Igreja, ainda que não fosse do interesse de nenhuma das partes que isso acontecesse. PALAVRAS-CHAVE: Catolicismo – Igreja Católica – Questão Religiosa. ABSTRACT The present work has as its theme the Catholic Church in the transition from the monarchy-republic regime in 19th century Brazil. In this research, the literature review methodology is adopted in order to understand the context and what actually happened during a religious issue and available for specific purposes such as: how Catholicism was practiced during the monarchy; what has changed with Brazilian secularism; the Catholic Church has lost its power of influence. Having Brazil colonized by Portugal and having Christian customs rooted in its culture, we pretend through this article to examine each item that contributed to culminating in the breaking of the patronage and the separation between the Republic-Church, even if it was not in the interest of any of the parties that it happened. KEYWORDS: Catholicism - Catholic Church - Religious Question. Sumário 1. INTRODUÇÃO...................................................................................................... 4 2. O NASCIMENTO DA IGREJA CATÓLICO CRISTÃ .................................................. 5 2.1. O Direito divino dos reis, padroado e o beneplácito ............................................................... 6 2.2. A Dissimulação religiosa brasileira................................................................................ 7 3. O QUE LEVOU A QUESTÃO RELIGIOSA ................................................................. 8 3.1. A influência de Ernest Renan .......................................................................................... 8 3.2. O ultramontanismo ...........................................................................................................10 3.3. A maçonaria .......................................................................................................................12 4. O ESFACELAMENTO DA ALIANÇA ESTADO-IGREJA ........................................ 13 4.1. O ápice da questão religiosa ................................................................................... 4.2. O prelúdio da República .................................................................................................12 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 18 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 20 4 1. INTRODUÇÃO Quando se pensa em religião no Brasil a primeira a ser lembrada é, sem dúvida, a religião católico-cristã. Quando se estuda o século XIX ou o descobrimento do Brasil ou ainda sobre a mudança do regime Imperial para a República, de alguma forma, a Igreja Católica vem à tona. Não há como negar sua enorme influência na formação do nosso país. E mesmo que de forma mais branda, ainda hoje se sente um resquício da sua influência. Exemplo disso é o fato de que uma grande parcela da população brasileira se autodenomina “católico não praticante”1; muito provavelmente pelo costume que se adquiriu de fazê-lo na formação da nação, e até pela constituição de 1824, que obrigava a confissão da fé religiosa oficial para a posse de cargos importantes2 e por tornar os cidadãos que assim o fizessem mais bem quistos que os que declaravam outra religião. Esse costume continua vigente, embora não haja mais nenhuma obrigação nesse sentido. De fato a cultura cristã está irremediavelmente ligada a cultura brasileira, assim com um pouco das culturas africanas e indígenas. Verdade é que desde a invasão portuguesa em território nacional a instituição que mais contribuiu para propagar os costumes europeus, sustentado como o modelo correto a ser seguido, seja pela catequização ou pela educação escolar foi a Igreja Católica e era inevitável que os que por ela fossem instruídos levassem sua marca. Ganhando força com o passar do tempo, possuía uma convivência harmoniosa com o Governo, apesar de uma ou outra pequena intercorrência, até que sucedeu um choque entre ambos com relação a uma decisão tomada pelo Papa e não confirmada pelo imperador que ruiu com a aliança do padroado e a aparente avença dos dois poderes. Deu-se o nome de questão religiosa ao acontecido. Os efeitos da questão religiosa ecoaram por muito tempo e até hoje se veem seus vestígios. Como apontou Wellington da Silva3 (2008) o ocorrido causou: “sulcos profundos também na mentalidade católica da segunda metade desse século”. Luiz Delgado4 (1970) referiu-se ao quanto marcou a história brasileira e Joaquim Nabuco5 (apud Costa, 2003) acredita que tenha sido a maior agrura da Igreja em território brasileiro. Para Maria Martins de Araújo6 (2007) foi o "momento culminante da luta 5 entre a mentalidade católico-conservadora e o espírito laico liberal". E para Barros7 (1974) significou uma forma de expressar a voz silenciosa que ecoava na mentalidade da sociedade brasileira, mas que até então não havia achado oportunidade para ser manifestada. Em um levantamento bibliográfico feito em 19508 diz que até aquele momento já existiam cerca de 500 obras referentes ao assunto, e passados tantos anos desse levantamento e sendo esse assunto ainda foco de interesse de diversos historiadores9, é possível que esse número tenha aumentado consideravelmente, quiçá dobrado ou triplicado com o advento da internet e das novas ferramentas de pesquisas disponíveis. Essa pesquisa tem por objetivo explorar esse assunto tão vasto e tão sondado pela perspectiva da pesquisa exploratória acreditando que um acontecimento não é apenas resultado de uma determinada situação, mas a soma de várias situações. Assim sendo, através desse método de pesquisa observa-se todo o contexto anterior, posterior e no momento que acontece a questão religiosa, olhando não só para o tema central isoladamente, mas para tudo que se relaciona com a questão; utiliza-se também nesse trabalho a metodologia qualitativa por se tratar de uma pesquisa que visa mostrar hipóteses e deduções subjetivas dos acontecimentos; e aplica a revisão bibliográfica, analisando cuidadosamente a obra de alguns importantes historiadores e inquirindo sobre o que realmente levou ao evento da questão religiosa, desde as influências intelectuais até o episódio em si, passando pelas mudanças que ocorreram legalmentee socialmente desde o incidente e constatar como se findou essa cisão. A amplitude da importância dessa pesquisa é facilmente verificada pelo amplo material acessível, visto que o acontecimento referido, apesar de esperável, mudou o rumo da história nacional. 2. O NASCIMENTO DA IGREJA CATÓLICO-CRISTÃ Jesus Cristo sempre causa celeuma, assim como tudo que se refere a ele. Constantemente quando se fala em religião os ânimos se alteram e uma pacifica conversa pode se tornar acalorada. Desde a morte ou, como diz a bíblia, a ressurreição e ascensão de Jesus, os seus discípulos divulgaram sua mensagem 6 que ultrapassou os séculos. Depois de um longo período de perseguição massiva, mais especificamente os três primeiros séculos, houve uma melhora quando Constantino, no século III, reconheceu legalmente o cristianismo como uma religião e posteriormente quando Teodósio, no século IV, instituiu tal religião como a oficial do império romano. Com o passar do tempo, o catolicismo (do grego kata junto e holos todo, comumente traduzido como “universal”) foi se fortificando e com a desagregação do império romano, que havia se tornado a base fundamental da religião, cada vez mais a Igreja foi se institucionalizando para que continuasse a existir caso o império chegasse ao fim, o que de fato aconteceu, por volta do século XV. Entretanto a Igreja Católica ainda hoje se mantém viva, com certa influência e prestígio mesmo seis séculos após o fim da era romana. 2.1. O Direito divino dos reis, padroado e o beneplácito Entre altos e baixos, fases de tranquilidade e de dificuldade, a exemplo da reforma protestante que teve como líder Martinho Lutero e causou um cisma na Igreja no século XVI, a Igreja Católica se manteve com status de poder e muitos líderes buscavam nela a legitimação para seus governos, a exemplo do “direito divino dos reis”, em que o rei alegava ser o escolhido de Deus para governar determinada nação e, mediante aliança com a Igreja, esta confirmava a escolha divina para a liderança da nação, exercendo o padroado régio, que aconteceu na Espanha, Portugal e posteriormente no Império do Brasil, em que o rei (ou imperador) é apresentado pela Igreja como o escolhido por Deus para cuidar não só do país em questão, mas principalmente da igreja, em relação à construção e manutenção dos templos, da escolha dos párocos e bispos, que depois eram confirmados pela Santa Sé, o que tornavam os clérigos funcionários públicos e faziam com que seus cargos fossem bastante desejados, porém distribuídos por motivos políticos e não por vocação. Apesar de haver certa liberdade religiosa, só quem de fato professasse publicamente sua fé católica poderia exercer cargos públicos no império2. Nessa relação, o imperador, no caso do Brasil, como representante do Estado, tinha o privilégio do beneplácito, onde podiria confirmar ou anular os editos papais, normas canônicas ou prescrição rituais em solo brasileiro, caso ferisse a 7 constituição, a soberania nacional ou o poder do governante ou quando essas regras ultrapassassem a esfera religiosa e atingisse a esfera secular. Essa aliança foi confirmada na constituição de 1824, no artigo 5º, que declarava que o país tinha uma religião oficial: “A Religião Catholica Apostolica Romana continuará a ser a Religião do Império. Todas as outras religiões serão permitidas em seu culto doméstico, ou particular em casas para isso destinadas, sem fórma alguma exterior de Templo2”. Em outras palavras, até havia liberdade de culto nos lares, de maneira discreta, mas somente ao catolicismo era permitido o culto público. 2.2. A Dissimulação religiosa brasileira Por motivo de ser a religião oficial do império e as vantagens que podia se obter ao declarar ser praticante do catolicismo fazia com que toda a elite brasileira e grande parte da população assim o fizessem, mas na prática, poucos o eram. Com a liberdade de interpretação das regras religiosas, a camada mais inculta da população praticava as religiosidades pagãs, sincréticas ou folclóricas, enquanto a elite estava mergulhando nos novos conceitos e ideologias que estavam emergindo da transição do século XVIII para o século XIV, como o iluminismo, maçonaria, cientificismo, positivismo, evolucionismo, materialismo, entre outras envoltas na filosofia liberalista que era amplamente recriminada pela Igreja, contudo aceita no cotidiano populacional, inclusive pelo clero. Um observador da época, Pereira Barreto, descreveu a situação nos seguintes termos: "O nosso clero é quase em sua totalidade deísta; toda a nossa Câmara atual é deísta; quase todo o Senado é deísta; o ensino oficial da filosofia nas academias de São Paulo, de Pernambuco, nos liceus, nos colégios, é exclusivamente deísta; é em uma palavra o puro deísmo que domina em todas as camadas mais cultas da nossa sociedade... Se descermos agora às camadas incultas da nossa sociedade, as quais constituem com segurança quatro quintos da população... excluída desses quatro quintos a população escrava que é totalmente fetichista, não obstante o rótulo católico que a cobre, resta-nos uma grande fração que vive engolfada no mais profundo politeísmo primitivo 7 ”. (Apud BARROS; ROQUE SPENCER DE, 1974, p.321) 8 3. O QUE LEVOU A QUESTÃO RELIGIOSA Todo pesquisador entende que a história não se resume a um fato isolado, mas a soma de diversos acontecimentos que desencadeiam um fato específico. O mais conhecido motivo que levou a crise Estado-Igreja é conhecidamente a divergência entre ambas as partes sobre a maçonaria e os eventos que se seguiram a isso. Entretanto existiu uma forte influência de um intelectual francês, além da busca aos princípios dos primórdios da doutrina cristã que culminaram e efervesceram durante a discórdia que se realizou. Vale ressaltar que apesar de cada vez mais ter alguma pequena divergência ou conflito entre o clero e a monarquia, não era do interesse de nenhum deles que a aliança existente fosse rompida. Exemplo dessas desavenças foi o criticado decreto 3072 de 22 de abril de 1863, que interferiu no sistema de ensino dos seminários, que assim como todo o ensino no país até então era de responsabilidade da Igreja e esta tinha liberdade para gerir a educação como quisesse, e os protestos que dois bispos, Dom Sebastião Laranjeira e Dom Romualdo de Seixas, que se levantaram para censurar o uso dos templos católicos para encontros de cunho político e eleitoreiro, todavia sem grande reverberação12. Somado a esse momento delicado estava à mudança iminente da abolição da escravatura que o império adiou tanto quanto pode, permitindo que acontecesse gradualmente, primeiro com a Lei do Ventre Livre, de 1871, e a Lei dos Sexagenários, de 1885. Essas leis foram feitas de forma que os senhores de escravos eram compensados pela sua força produtiva, não causando tanto impacto sobre a liberação dos escravos, sendo a segunda lei muito mais favorável aos senhores que aos escravos7, como forma de apaziguar os ânimos já abalados pela Guerra do Paraguai (1864-1870) e a fragilidade na comunhão com a Igreja Católica. Era sem dúvida uma época de muitas mudanças ocorrendo no Brasil em curto espaço de tempo. 3.1. O ultramontanismo 9 A Igreja e o Estado tinham uma frágil pacificidade devido ao sincretismo tolerado e praticado no país. Bastava que alguém em nome da Igreja confrontasse o comodismo existente em busca de uma ortodoxia nas práticas religiosas para que os problemas surgissem. E foi exatamente o que aconteceu. Com a ascensão do papa Pio IX, que continuou na mesma linha em que vinha Gregório XVI, começou uma luta para que se voltasse ao modo de vida medieval e uma vida dedicada à observância e cumprimento do cânone sagrado, como uma forma de condenar e alertar sobre o perigo do liberalismo e da vida pecaminosa e de víciosque muitos levavam, defendendo que Roma deveria ter total autoridade em quaisquer assuntos, fosse secular ou religioso. A esse movimento se deu o nome de ultramontanismo10, uma menção aqueles que buscavam literalmente sua referência de fé de “além das montanhas”, dos Alpes, ou seja, de Roma e da pessoa do Papa, além de buscar viver como viviam os primeiros cristãos, seguindo os rudimentos da fé. Apesar de bem recebido inicialmente11, como era de se esperar que se acontecesse, o movimento ultramontano começou a confrontar o sincretismo existente. Além disso, o liberalismo que estava tendo amplo alcance naquele momento, inclusive entre os parlamentares, se tornava cada vez mais radical e buscava a instituição da república em lugar da monarquia, e principalmente a necessidade de separação entre a Igreja e o Estado, o que até então não era abertamente discutido, uma vez que a constituição vigente instituía essa unidade. O maçom Saldanha Marinho analisou o dilema da seguinte forma: "Em todo o Estado em que a lei política é baseada sobre a fé religiosa, a lei política baqueia, logo que a fé religiosa é atacada... A primeira condição, pois, de um tal governo é a necessidade absoluta de conservar intacta a força e a unidade da fé religiosa que lhe serve de base - isto é, o impossível. É o impossível e também pode-se dizer, o imoral, o bárbaro, e medonho abuso do poder! ... Seria preciso que a lei política oprimisse os espíritos, lhes impusesse a sua fé, de alguma sorte lhes servisse de consciência, e que os algozes acabassem a obra impossível a seus pregadores.... Ora, a lei política acha-se então entre estes dois escolhos; não pode viver mais se não mantém, pela força, a unidade da fé; e não pode manter essa unidade pela força, porque .... a lei política é, pois, apesar de todos os rigores que se possa imaginar, impotente para manter as crenças religiosas. Seus rigores podem fazer vítimas ou hipócritas, mas não farão crentes 7”. (Apud BARROS; ROQUE SPENCER DE, 1974, p.333) 10 3.2. Influência de Ernest Renan Já na Europa, um livro publicado em 1963 causava grande alvoroço. E essa agitação chegou a muitos países. A esse movimento deu-se o nome de “busca do Jesus histórico”, momento em que foram feitas diversas pesquisas e expedições para confirmar ou refutar a verdade das escrituras sagradas. O motivo de tanta balburdia foi “A vida de Jesus” (Vié de Jesus), publicado por Ernest Renan. Joseph Ernest Renan (1823 - 1892) foi um escritor, filósofo, teólogo, filólogo e historiador francês. Apesar de ser muito mais conhecido por sua obra “O que é uma nação?” (“Qu'est-ce qu'une nation?” - 1882), reconhecida por historiadores como sendo de grande importância no processo de formação da nação brasileira, mas que acaba ofuscando sua publicação de possível igual ou maior valor, que gerou grande impacto. A Vida de Jesus abalou a Europa e vários outros países, assim como o Brasil, a monarquia e a elite brasileira. No mesmo ano de seu lançamento foi traduzido para 10 idiomas e no ano seguinte, 1964, ganhou sua versão em português. Além da tradução e do original, foi publicado uma compilação da obra intitulada A vida de Jesus por Ernest Renan, publicada no mesmo ano da versão portuguesa. Por razões de economia, decerto, e no intuito de aliviar a leitura de uma obra original, farta em notas, o editor ou a pessoa encarregada pelo estabelecimento do texto adverte os leitores que, na verdade, eles encontrarão ali um “resumo” e a tradução dos trechos mais significativos do original. O que chamaríamos de infidelidade justificada do tradutor guiou as escolhas que o fizeram retirar a totalidade das riquíssimas e elucidativas notas de rodapé, dois capítulos dedicados às contextualizações históricas e os trechos contendo descrições do meio físico onde evoluía Jesus. O primeiro capítulo, redigido pelo responsável pela publicação, enaltece tanto os méritos quanto o método científico de um estudioso que, mesmo dando provas de “autoridade”, atraiu a iracúndia dos cristãos em vários países 13. (FERREIRA; L., 2007, p.281-282). 11 No mesmo ano que a versão portuguesa foi disponibilizada chegou ao Brasil às críticas ao texto, com o livro Refutação ao romance d’Ernest Renan (Examen critique de la vie de Jésus) do monsenhor Charles-Émile Freppel. O exemplar foi feito como forma de resposta, mediante a revolta do monsenhor, ou bispo, a exposição de ideias feita por Renan sobre Jesus, onde expunha sua concepção a cerca do Cristo, que este nada tinha de divino ou sobrenatural, não sendo, portanto, filho de Deus, contestando veracidade de seus feitos milagrosos, porém era inigualável como pessoa, um líder político de sabedoria única. Como repudia ao registro desse conceito de Renan o monsenhor Freppel escreveu obra de forma a impugnar as ideias que vinham sendo difundidas no cenário brasileiro, já maculado devido aos recentes acontecimentos e fomentado pela recente publicação sobre Jesus. Ademais de todo contextos já explicitados existem fortes indícios da influência direta de Renan na monarquia através de seu constante contato com o imperador Dom Pedro II, segundo Lídia Besouchet14 (1973). Foram inúmeras correspondências trocadas por ambos, visitas e até indicações mútuas para aquisição de agremiações e prêmios em institutos acadêmicos. Era comum que membros do IHGB trocassem correspondências com especialistas de diversas áreas afins, como religião, arqueologia, entre outros, dos quais Renan era um dos requisitados para dar seu parecer e ajudar nas pesquisas. No entanto há documentos, como afirma Besouchet, que citam que no hall de visitantes do imperador em sua viagem a Paris, em 1871, estava o nome de Renan. Os historiadores Lídia Besouchet e Thiago Rudi15 mencionam o fato de que na corte brasileira havia uma prima de Renan, sendo este condecorado pelo imperador com a Ordem Imperial da Rosa e em 1875, o imperador foi eleito para o Institut de France por indicação de Renan16. Romanelli, Soares e Souza dizem sobre Dom Pedro II e Renan: ...lia obras de grandes estudiosos sobre o Oriente – como as do francês Ernest Renan –, discutia o assunto em cartas destinadas ao conde de Gobineau, ao arqueólogo e filólogo francês Olivier de Rougé, aos egiptólogos Auguste Mariette e Henrich Brougsch, ao próprio Orientalismo e tradução: a questão dos nomes próprios na tradução do livro do Hitopadeśa 96 Dom Pedro II: Um Tradutor Imperial Renan e também ao frei Leivin de Hamme, responsável por guiar a corte brasileira em terras do Oriente 17. (ROMANELLI; SÉRGIO, SOARES; NOEMIA GUIMARÃES E SOUZA; ROSEANE DE, 2013, p.95) 12 Besouchet destaca também que a temática expressa na obra de Renan sobre a cisão entre a parte espiritual e secular e a forma que foi exposta, com argumentos científicos contidos na obra encontraram “na pessoa e na política do imperador um local de aconchegante recepção” (BESOUCHET, 1973: 331)14. 3.3. A maçonaria Apesar de todos os acontecimentos referidos, é tido como rudimento da “Questão religiosa” que desencadeou a separação entre Estado e Igreja o dia 03 de março de 1872 quando na loja maçônica Grande Oriente do Vale do Lavradio, no Rio de Janeiro, após a aprovação da Lei do Ventre Livre, José Luís de Almeida Martins, que era padre, parabenizou o visconde do Rio Branco, na época grão- mestre maçom e presidente do gabinete de Dom Pedro II, pela sua vitória política que resultara na promulgação da referida lei. Nada que causasse estranheza se a igreja não viesse a algum tempo repreendendo seus clérigos a se voltar estilo de vida medieval, ultramontano, que incluía abandonar a maçonaria, ameaçando com a excomungação aqueles que assim não o fizessem. O bispo da cidade, Dom Lacerda, exigiu que o padre se voltasse à obediência se afastando da maçonaria e dos maçons, porém, a ordenança do papade excomungar os maçons ainda não tinha recebido o beneplácito imperial, ou seja, ainda não vigorava em território nacional. Ignorando a ordem episcopal, o padre difundiu amplamente sua mensagem de homenagem ao visconde. A Igreja, por sua vez, suspendeu o padre de suas atribuições eclesiásticas. Vilipendiada, a maçonaria uniu seus Grandes Orientes, um sob a proteção de Rio Branco e outro dirigido por Saldanha Marinho, devido à presença de muitos maçons na elite, fez pressão no Senado e na Câmara iniciando uma batalha na imprensa contra a Igreja, chegando a fundar jornais que colaborassem com seu propósito em várias localidades do país, avidamente atacando e ofendendo o episcopado e o principalmente a vertente ultramontana18. 13 4. O ESFACELAMENTO DA ALIANÇA ESTADO-IGREJA Os acontecimentos que se seguiram foram um a um desmantelando a relação Estado-Igreja. O bispo de Olinda, Dom Vital de Oliveira, assumiu seu cargo já propagando entre os diocesanos que deviam se afastar da maçonaria, do liberalismo e tudo que fosse relacionado ao racionalismo, obedecendo assim à determinação papal. Em junho do mesmo ano, os maçons pediram que fosse realizada uma missa em celebração ao aniversário da fundação de uma loja maçônica. O bispo ordenou em particular que nenhum sacerdote católico o fizesse e a missa não foi realizada. Em um curto espaço de tempo, foi pedido que uma missa em memória a um maçom que faleceu e novamente essa missa não aconteceu. A maçonaria começou campanha de ataque contra a igreja e a pessoa do bispo. O bispo em resposta difundiu uma carta pastoral alertando seus fiéis a não se envolver com maçonaria e nada relacionado a ela. Agravou-se a situação quando, ao não seguir as ordens do bispo de exortar, sob pena de excomungar os membros maçônicos, em especial o Dr. Antônio da Costa Ribeiro, pertencente da irmandade do Santíssimo Sacramento, a irmandade se negou a fazê-lo, alegando que no Brasil e nos seus estatutos era permitida a maçonaria, e acabou recebendo do bispo um interdito7. A circunstância tomou tamanha proporção que chegou a Câmara de Deputados do Rio de Janeiro, trazendo a tona problemática da qual não era permitido se falar abertamente sobre Estado-Igreja. Não tendo acordo entre as partes, a irmandade apelou à Coroa. Porém, antes que houvesse uma decisão em favor de alguma das partes envolvidas, apareceu novo caso semelhante, dessa vez no Pará. O bispo dom Macedo Costa, em 1873, assim como Dom Vital, decidiu seguir a ordem de Roma, passando por cima da permissão no Estado, ordenando o afastamento de seus fiéis da maçonaria. Mais severo que o primeiro bispo, Dom Macedo excluiu os maçons do direito do sacramento da absolvição na hora da morte e do sepultamento em solo sagrado a esse fim. Mais uma vez o caso foi levado à Coroa. Entretanto, antes que o Estado conhecesse o caso do bispo do Pará, se Conselho manifestou sua decisão sobre o bispo de Olinda, dando lhe um prazo de trinta dias para que retirar o interdito sobre a irmandade. Não só não acatou a ordem recebida, como a contestou e ousadamente respondeu: "Ou o Governo do Brasil declara-se acatólico, ou declara-se católico... Se o Governo brasileiro é católico, não só não é chefe ou superior da religião católica, como até é seu súdito"19. No mesmo 14 dia em que recebeu o posicionamento do governo referente à sua decisão sobre o caso, Dom Vital recebeu a resposta de Roma em que o papa recomendava que fosse dado aos maçônicos um tempo, de um ano, para que se se arrependessem de suas práticas e se adequassem a ordem de afastamento do racionalismo e seus afins, voltando às práticas previstas, aceitas e aprovadas pela Igreja. Caso não atendessem a ordenança, poderiam ser usadas todas as medidas possíveis de castigo, excomunhão e afastamento dessas pessoas do convívio da comunidade católica. Todavia, antes que recebesse o parecer romano, Dom Vital já havia suspendido outras irmandades e rebelando-se contra o artigo 102 da constituição que vigorava a época, publicou a resposta do Papa sem o conhecimento e principalmente a autorização do Estado, sendo acusado por esse ato de desobediência, tornando a especulação sobre uma possível prisão em algo concreto e certo de ser feito19. Entrementes, passava por análise o processo do bispo do Pará, que era acompanhado pelo mesmo Conselho que julgou o processo do bispo de Olinda. Porém a situação de Dom Macedo era mais complicada pelo fato dele ter suspendido o funcionamento de algumas irmandades sem ao menos ter-lhes enviado um comunicado ou um alerta, não dando a chance de que as irmandades pudessem escolher entre obedecer ou não a determinação do bispo e o bispo nem sequer respondeu as indagações oficiais que foram feitas. Em agosto recebeu como prazo quinze dias para desfazer seu interdito, mas optou por ignorar a deliberação do Conselho do Estado e só em outubro respondeu que não podia obedecer a determinação sem afastar-se de sua fé católica, porque se assim o fizesse estaria reconhecendo que o poder civil era maior que o da Igreja e que não poderia seguir uma ordem que ia contra ordenanças da Santa Sé7. 4.1. O ápice da questão religiosa O governo temia que os bispos servissem de exemplo e enviou o barão de Penedo a Roma a fim de negociar uma forma de resolver a questão antes que se tornasse incontrolável. Superando as expectativas ate do próprio barão, a missão de paz foi bem sucedida, após muitas negociações. Foi obtida uma ordem do Papa 15 para que o Cardeal Antonelli repreendesse os bispos e mandassem restituir as irmandades todos seus direitos, em troca o Papa solicitou que nenhuma medida severa fosse tomada contra os bispos. Infelizmente, antes que tamanha vitória chegasse ao conhecimento do Conselho, o que ocorreu apenas em 20 de dezembro, os dois bispos já haviam sido acusados formalmente de desobediência. Dom Vital foi preso em Recife, em janeiro de 1874, e enviado ao Rio de Janeiro para ser julgado. Dom Macedo foi preso abril. Ambos nada falaram em sua própria defesa, porém contaram com defensores que se apresentaram espontaneamente. Mesmo tendo excelentes defesas, o júri os condenou a quatro anos de prisão com trabalhos forçados, sendo, pouco tempo depois, mudadas em prisão simples. Essa condenação causou grande alarde não só no Brasil, mas internacionalmente também. Alguns defendiam a postura do júri em julgar a desobediência dos bispos e ainda diziam que a pena foi leve para tamanha afronta. Outros defendiam os bispos e recriminavam a condenação. Fato é que o acontecido indignou ao Vaticano, que se sentiu lesado pelo barão de Penedo, que não cumpriu o acordo. Dom Pedro chegou a receber uma correspondência do Papa que o ameaçava com o juízo divino e dizendo que "quanto mais alto estiver alguém, mais severo será o ajuste de contas". Com muita perspicácia política, o papa também disse que "Vossa Majestade... descarregou o primeiro golpe na Igreja, sem pensar que ele abala ao mesmo tempo os alicerces do seu trono7”. Devido à grande repercussão do ocorrido, o gabinete do barão de Rio Branco foi derrubado e o duque de Caxias foi escolhido para assumir em seu lugar, em 1875. Este aceitou o convite para o cargo, reivindicando que se os bispos recebessem anistia. Atendendo a exigência do duque, aos incessantes pedidos da princesa Isabel, conhecida pela sua devoção católica, e pela pressão popular, Dom Pedro aceitou extinguir a pena dos bispos, mesmo não desejando fazê-lo. Em setembro de 1975 os bispos receberam a absolvição e foram recebidos em êxtase em suas dioceses. Em 1976 o Papa fez circular uma carta que dizia que a suspensão dos interditos das irmandades não significava à tolerância as práticas maçônicas no seio da Igreja. Terminou dizendo que em breve haveria um acerto entre o Vaticano e Coroa brasileira, o que nunca se consumou.O imperador esperava que com a anistia fosse colocado um ponto final a esse assunto, mas, longe disso, apenas atiçou os ataques, insultos e hostilidade de https://pt.wikipedia.org/wiki/Recife https://pt.wikipedia.org/wiki/2_de_janeiro https://pt.wikipedia.org/wiki/1874 16 ambos os lados, os que defendiam a Igreja e os que defendiam o Estado, além de deixar o poder da monarquia enfraquecido aos olhos do povo. Entretanto, ainda não era de interesse de nenhuma das partes envolvidas que houvesse um rompimento formal. 5. O PRELÚDIO DA REPÚBLICA Para Luiz Eugênio Véscio20 (Apud CASTRO, GEANE DE SOUZA, 2006) a questão religiosa externou o desejo da sociedade de que o Estado fosse independente da Igreja, e aos poucos isso acabou acontecendo. O decreto de 19 de abril de 1879 sobre a liberdade de ensino isentou aos profissionais da educação pública que houvesse a necessidade de fazer um juramento professando sua fé católica, bem como a qualquer outro credo para que pudessem ensinar nas escolas primárias e secundárias. Pouco depois, em 1881, houve uma reforma eleitoral instituída pela Lei Saraiva que tornava elegíveis pessoas de qualquer credo religioso7, ainda que em 1884 haja relatos de Júlio de Castilhos chamando a atenção de que a questão não havia sido de todo esgotada e precisava de acompanhamento do legislativo21. Nesse momento, os republicanos que antes eram dissociados se aliaram para lutar pela imediata separação da aliança Estado-Igreja, buscando a plena liberdade de culto e perfeita igualdade estatutária entre todos eles, a separação do ensino secular do ensino religioso, a secularização dos cemitérios, a instituição do casamento civil e do registro civil de nascimento e óbitos, e, é claro, a adoção do regime republicano22. Os católicos em sua maioria não desejavam que houvesse uma mudança de regime, porém, por ocasião do beneplácito, o clero se via controlado pelo imperador e caso viesse a se tornar o país em uma república poderia ser uma equiparar-se a uma libertação da Igreja do domínio Estadista. Havia sim uma queixa no que tangia ao imperador reinante, todavia, no caso de permanecer a monarquia, criam que no governo da Princesa Isabel haveria uma oportunidade de valorização de sua fé, devido à devoção que esta tinha no catolicismo. Obviamente a monarquia não foi destituída apenas por causa da questão religiosa. 17 "outros ingredientes ainda seriam adicionados ao conflito, aumentando o grau de insatisfação e exaltando os ânimos de maçons, republicanos, positivistas e dos próprios militares, que, liderados pelo marechal Deodoro da Fonseca, derrubaram o 36º Gabinete do Império e proclamaram a República no dia 15 de novembro de 1889 23 ". (VIEIRA; CÉSAR, 2006) Existia um tripé que sustentava a monarquia e foi um a um ruindo até que a monarquia não mais se sustentou e a monarquia caiu. Em primeiro lugar, a guerra do Paraguai deixou insatisfeitos todos os soldados envolvidos na batalha que não se sentiram valorizados após a guerra. Em segundo lugar a questão religiosa, que agregava uma aura divina ao imperador e o afastamento da Igreja para com ele poderia demonstrar que Deus o havia abandonado ou escolhido outra pessoa para governar. E em terceiro lugar a elite, em especial os senhores de escravos, que se voltou contra a monarquia por se sentir prejudicada por perder sua força de produção quando finalmente ocorreu a abolição da escravatura. Após a mudança de regime para república, como uma forma de se aproximar do governo e tentar melhorar o mal-estar que ficou com a questão religiosa, o papa Leão XIII saudou o novo regime e o presidente Campos Sales em 1898 dizendo: “a Igreja sente-se melhor hoje no Brasil com suas instituições republicanas, do que sob o regime decaído7”. Inevitavelmente aconteceu a separação e o catolicismo deixou de ser a religião oficial do Estado, gerando muita oposição do clero, uma vez que este perdeu benefícios como imunidade, direitos políticos dos sacerdotes cassados, o ensino religioso foi excluído da grade curricular das escolas públicas, a fé deixou de ser motivo para exclusão ou desobrigação para o cumprimento das obrigações civis e o salário que era pago anteriormente peala monarquia. Seus cargos antes desejados agora estavam carecendo de que viessem de outros países, através de recrutamento em larga escala, para que fossem preenchidos. Além disso, foi instituído o casamento civil, que assim como os registros de nascimento e óbito passaram a ser de responsabilidade do Estado. A Igreja católica também desempenhava um papel assistencial fundamental no Império. Com o rompimento Estado-Igreja, esse lugar essencial de assistência social ficou vago, sendo rapidamente preenchido por credos minoritários como o judaísmo e espiritismo, mas principalmente pelo protestantismo, vindo em grande parte dos imigrantes trazidos para ajudar a colonizar a terra, embranquecer o povo e https://pt.wikipedia.org/wiki/Deodoro_da_Fonseca https://pt.wikipedia.org/wiki/Proclama%C3%A7%C3%A3o_da_rep%C3%BAblica_do_Brasil 18 servir de mão de obra em lugar dos escravos recém libertos. A questão entre maçonaria e o catolicismo não foi resolvida até meados no século XX20. Já entre o Estado e a Igreja ficou apático desde o início da República. Em 1920, na era Vargas, a Igreja começou a buscar novamente o status e as regalias que tivera outrora, defendendo que o país era católico e que a Igreja representava essa fé. Além disso, voltou a destacar e defender os princípios do ultramontanismo e a trazer à tona a conteúdo adormecido e mal resolvido sobre a questão religiosa. Muitos intelectuais e juntaram a causa católica, surgiram várias sociedades leigas que militavam esse pleito e até a elite política, mediante o contexto momentâneo, apoiou a ideia de uma reaproximação, visando os benefícios que isso poderia trazer. Destacou-se nessa fase destacou de sobremaneira o ativista Cardeal Leme, que em 1921 aprovou a fundação de várias associações, em especial uma chamada Centro Dom Vidal, com proposta conservadora e direitista. O Cardeal defendia que “Uma autoridade, um centro orientador, uma palavra de direção, uma voz de comando é necessária. Essa só pode ser a do Bispo a quem pôs Deus no governo de sua Igreja"24 25 . Na era Vargas foi quando a Igreja teve uma maior influência, desde o rompimento da obrigatoriedade de confissão de credo católico, nesse momento teve grande participação e alcançou inúmeras petições como, por exemplo, o direito de voto dos sacerdotes, a proibição do divórcio, a volta do ensino religioso nas escolas públicas, a possibilidade de subvenção de escolas católicas pelo Estado, o reconhecimento de efeitos civis para os matrimônios religiosos, e o direito de os sacerdotes servirem no Exército como capelães, que foram atendidas na Constituição de 193426. Contudo, como a amizade foi à base da aproximação entre Estado-Igreja, quando o Governo Vargas caiu e o novo regime assumiu, deu lugar a um crescente distanciamento entre ambos. A Igreja continuou influente, porém cada vez menos ligada ao Estado. Houve ainda algumas outras tentativas, sem ter, todavia, grande expressividade. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS https://pt.wikipedia.org/wiki/Div%C3%B3rcio https://pt.wikipedia.org/wiki/Constitui%C3%A7%C3%A3o_de_1934 19 A questão religiosa foi extremamente marcante para a Igreja Católica e para o Brasil. Através do presente trabalho, procurou-se relacionar fatos que ocorreram e contribuíram para a questão religiosa, que teve enorme importância no processo de mudança de regime no Brasil e que até hoje se vê sua influência na sociedade contemporânea. Depois do abalo na relação Estado e Igreja era inevitável a separação de ambos, ainda que ambos não desejassem que isso ocorresse. A primeira mudança que ocorreu no final do século XIX foi a mudançade mentalidade pela qual passou a elite nacional. Junto com os ideais iluministas, liberais, etc., juntamente com a publicação de Ernest Renan foram em grande parte responsáveis por essa mudança. A maior modificação se deu no padroado, assim como a Igreja confirmava a monarquia como escolha divina, com o afastamento gradativo dela perdeu-se a visão sagrada da família real. Juntando aos outros fatores aqui mencionados e a pressão popular, a monarquia chegou ao fim e instaurou-se a república. A Igreja perdeu foça, mas de maneira alguma teve sua influência anulada. Já o Estado ganhou força ao começar a gerir a educação e ao ser o responsável pelos registros de óbito, casamento, nascimento, etc., que assim permite que com essas informações sejam tomadas as medidas de políticas públicas necessárias além de tomada de decisões mais precisas mediante aos dados que estão de sua posse. A laicidade brasileira almejada desde a constituição de 1890 e garantida por direito na constituição de 1988 perante a lei é uma realidade. Porém nas práticas cotidianas ainda existem sequelas dos fundamentos lançados pelo catolicismo, em que muitas pessoas se dizem católicos quando não o são apenas para conseguir a aprovação que não teriam ao declarar outra fé. Diante disso conclui-se que a Igreja Católica teve uma participação essencial na formação da nação brasileira, que as influências advindas da Europa causaram um ambiente fértil para a busca pela laicidade, principalmente pelo sincretismo realizado há tanto tempo e a falta de uma base sólida de fé cristã, ainda que se tenha o costume de realizar algumas práticas religiosas. E que apesar de não ter sido planejada, essa separação foi benéfica para ambos, uma vez que a igreja tem a liberdade de administrar suas regras conforme desejar, ou melhor, como Roma determinar, enquanto o governo, que ainda hoje enfrenta problemas para dar conta de todas as suas responsabilidades também tem a liberdade de fazer valer suas leis 20 visando o bem estar de todos, sem necessidade de beneficiar uma determinada religião. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Maia, Maria Helena Rodrigues. O catolicismo secularizado: uma análise dos católicos nominais não praticantes. Dissertação de Mestrado em Sociologia. Brasília: Universidade de Brasília, 2020. 2. Retirado do site da Presidência da República – Casa Civil Subchefia para assuntos Jurídicos. Acessado em 06/09/2020. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao24.htm#:~:text=Perpetu o%20do%20Brasil.-,Art.,f%C3%B3rma%20alguma%20exterior%20do%20Templo. 3. Silva, Wellington Teodoro da. 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