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TCC - A IGREJA CATÓLICA NA TRANSIÇÃO DO REGIME MONARQUIA-REPUBLICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX

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CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA 
 
 
 
 
 
 TAINARA TACIANA LOPES MENDES NOGUEIRA 
 
 
 
 
A IGREJA CATÓLICA NA TRANSIÇÃO DO REGIME MONARQUIA-REPUBLICA 
NO BRASIL DO SÉCULO XIX 
 
 
 
 
 
 
 
São João de Meriti - RJ 
2020 
 
 
 TAINARA TACIANA LOPES MENDES NOGUEIRA 
 
 
 
 
 
 
 
A IGREJA CATÓLICA NA TRANSIÇÃO DO REGIME MONARQUIA-REPUBLICA 
NO BRASIL DO SÉCULO XIX 
 
Artigo a ser apresentado à Banca do Curso Superior de 
Licenciatura em História da Universidade Estácio de Sá – 
CSTSP/UNESA. 
 
 
ORIENTADOR 
Profº. João Cerineu Leite de Carvalho 
 
 
 
 
 
 
São João de Meriti - RJ 
2020 
 
RESUMO 
 
O presente trabalho tem como tema a Igreja Católica na transição do regime 
monarquia-republica no Brasil do século XIX. Nesta pesquisa adota-se a 
metodologia de revisão bibliográfica com o intuito de entender o contexto e o que de 
fato ocorreu durante a questão religiosa e dispondo de objetivos específicos como: 
de que forma era praticado o catolicismo durante a monarquia; o que mudou com a 
laicidade brasileira; a Igreja Católica perdeu seu poder de influência. Tendo sido o 
Brasil colonizado por Portugal e possuindo enraizados em sua cultura costumes 
cristãos pretendemos através desse artigo examinar cada item que contribuiu para 
culminar no rompimento do padroado e o afastamento entre a República-Igreja, 
ainda que não fosse do interesse de nenhuma das partes que isso acontecesse. 
 
PALAVRAS-CHAVE: Catolicismo – Igreja Católica – Questão Religiosa. 
 
ABSTRACT 
 
The present work has as its theme the Catholic Church in the transition from the 
monarchy-republic regime in 19th century Brazil. In this research, the literature 
review methodology is adopted in order to understand the context and what actually 
happened during a religious issue and available for specific purposes such as: how 
Catholicism was practiced during the monarchy; what has changed with Brazilian 
secularism; the Catholic Church has lost its power of influence. Having Brazil 
colonized by Portugal and having Christian customs rooted in its culture, we pretend 
through this article to examine each item that contributed to culminating in the 
breaking of the patronage and the separation between the Republic-Church, even if it 
was not in the interest of any of the parties that it happened. 
 
KEYWORDS: Catholicism - Catholic Church - Religious Question. 
 
Sumário 
 
1. INTRODUÇÃO...................................................................................................... 4 
 
2. O NASCIMENTO DA IGREJA CATÓLICO CRISTÃ .................................................. 5 
2.1. O Direito divino dos reis, padroado e o beneplácito ............................................................... 6 
2.2. A Dissimulação religiosa brasileira................................................................................ 7 
 
3. O QUE LEVOU A QUESTÃO RELIGIOSA ................................................................. 8 
3.1. A influência de Ernest Renan .......................................................................................... 8 
3.2. O ultramontanismo ...........................................................................................................10 
3.3. A maçonaria .......................................................................................................................12 
 
4. O ESFACELAMENTO DA ALIANÇA ESTADO-IGREJA ........................................ 13 
4.1. O ápice da questão religiosa ................................................................................... 
4.2. O prelúdio da República .................................................................................................12 
 
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 18 
 
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 20 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
Quando se pensa em religião no Brasil a primeira a ser lembrada é, sem 
dúvida, a religião católico-cristã. Quando se estuda o século XIX ou o descobrimento 
do Brasil ou ainda sobre a mudança do regime Imperial para a República, de alguma 
forma, a Igreja Católica vem à tona. Não há como negar sua enorme influência na 
formação do nosso país. E mesmo que de forma mais branda, ainda hoje se sente 
um resquício da sua influência. Exemplo disso é o fato de que uma grande parcela 
da população brasileira se autodenomina “católico não praticante”1; muito 
provavelmente pelo costume que se adquiriu de fazê-lo na formação da nação, e até 
pela constituição de 1824, que obrigava a confissão da fé religiosa oficial para a 
posse de cargos importantes2 e por tornar os cidadãos que assim o fizessem mais 
bem quistos que os que declaravam outra religião. Esse costume continua vigente, 
embora não haja mais nenhuma obrigação nesse sentido. 
De fato a cultura cristã está irremediavelmente ligada a cultura brasileira, 
assim com um pouco das culturas africanas e indígenas. Verdade é que desde a 
invasão portuguesa em território nacional a instituição que mais contribuiu para 
propagar os costumes europeus, sustentado como o modelo correto a ser seguido, 
seja pela catequização ou pela educação escolar foi a Igreja Católica e era inevitável 
que os que por ela fossem instruídos levassem sua marca. Ganhando força com o 
passar do tempo, possuía uma convivência harmoniosa com o Governo, apesar de 
uma ou outra pequena intercorrência, até que sucedeu um choque entre ambos com 
relação a uma decisão tomada pelo Papa e não confirmada pelo imperador que ruiu 
com a aliança do padroado e a aparente avença dos dois poderes. Deu-se o nome 
de questão religiosa ao acontecido. 
Os efeitos da questão religiosa ecoaram por muito tempo e até hoje se veem 
seus vestígios. Como apontou Wellington da Silva3 (2008) o ocorrido causou: “sulcos 
profundos também na mentalidade católica da segunda metade desse século”. Luiz 
Delgado4 (1970) referiu-se ao quanto marcou a história brasileira e Joaquim Nabuco5 
(apud Costa, 2003) acredita que tenha sido a maior agrura da Igreja em território 
brasileiro. Para Maria Martins de Araújo6 (2007) foi o "momento culminante da luta 
5 
 
 
entre a mentalidade católico-conservadora e o espírito laico liberal". E para Barros7 
(1974) significou uma forma de expressar a voz silenciosa que ecoava na 
mentalidade da sociedade brasileira, mas que até então não havia achado 
oportunidade para ser manifestada. 
Em um levantamento bibliográfico feito em 19508 diz que até aquele momento 
já existiam cerca de 500 obras referentes ao assunto, e passados tantos anos desse 
levantamento e sendo esse assunto ainda foco de interesse de diversos 
historiadores9, é possível que esse número tenha aumentado consideravelmente, 
quiçá dobrado ou triplicado com o advento da internet e das novas ferramentas de 
pesquisas disponíveis. Essa pesquisa tem por objetivo explorar esse assunto tão 
vasto e tão sondado pela perspectiva da pesquisa exploratória acreditando que um 
acontecimento não é apenas resultado de uma determinada situação, mas a soma 
de várias situações. Assim sendo, através desse método de pesquisa observa-se 
todo o contexto anterior, posterior e no momento que acontece a questão religiosa, 
olhando não só para o tema central isoladamente, mas para tudo que se relaciona 
com a questão; utiliza-se também nesse trabalho a metodologia qualitativa por se 
tratar de uma pesquisa que visa mostrar hipóteses e deduções subjetivas dos 
acontecimentos; e aplica a revisão bibliográfica, analisando cuidadosamente a obra 
de alguns importantes historiadores e inquirindo sobre o que realmente levou ao 
evento da questão religiosa, desde as influências intelectuais até o episódio em si, 
passando pelas mudanças que ocorreram legalmentee socialmente desde o 
incidente e constatar como se findou essa cisão. A amplitude da importância dessa 
pesquisa é facilmente verificada pelo amplo material acessível, visto que o 
acontecimento referido, apesar de esperável, mudou o rumo da história nacional. 
 
2. O NASCIMENTO DA IGREJA CATÓLICO-CRISTÃ 
 
Jesus Cristo sempre causa celeuma, assim como tudo que se refere a ele. 
Constantemente quando se fala em religião os ânimos se alteram e uma pacifica 
conversa pode se tornar acalorada. Desde a morte ou, como diz a bíblia, a 
ressurreição e ascensão de Jesus, os seus discípulos divulgaram sua mensagem 
6 
 
 
que ultrapassou os séculos. Depois de um longo período de perseguição massiva, 
mais especificamente os três primeiros séculos, houve uma melhora quando 
Constantino, no século III, reconheceu legalmente o cristianismo como uma religião 
e posteriormente quando Teodósio, no século IV, instituiu tal religião como a oficial 
do império romano. Com o passar do tempo, o catolicismo (do grego kata junto 
e holos todo, comumente traduzido como “universal”) foi se fortificando e com a 
desagregação do império romano, que havia se tornado a base fundamental da 
religião, cada vez mais a Igreja foi se institucionalizando para que continuasse a 
existir caso o império chegasse ao fim, o que de fato aconteceu, por volta do século 
XV. Entretanto a Igreja Católica ainda hoje se mantém viva, com certa influência e 
prestígio mesmo seis séculos após o fim da era romana. 
 
2.1. O Direito divino dos reis, padroado e o beneplácito 
 
Entre altos e baixos, fases de tranquilidade e de dificuldade, a exemplo da 
reforma protestante que teve como líder Martinho Lutero e causou um cisma na 
Igreja no século XVI, a Igreja Católica se manteve com status de poder e muitos 
líderes buscavam nela a legitimação para seus governos, a exemplo do “direito 
divino dos reis”, em que o rei alegava ser o escolhido de Deus para governar 
determinada nação e, mediante aliança com a Igreja, esta confirmava a escolha 
divina para a liderança da nação, exercendo o padroado régio, que aconteceu na 
Espanha, Portugal e posteriormente no Império do Brasil, em que o rei (ou 
imperador) é apresentado pela Igreja como o escolhido por Deus para cuidar não só 
do país em questão, mas principalmente da igreja, em relação à construção e 
manutenção dos templos, da escolha dos párocos e bispos, que depois eram 
confirmados pela Santa Sé, o que tornavam os clérigos funcionários públicos e 
faziam com que seus cargos fossem bastante desejados, porém distribuídos por 
motivos políticos e não por vocação. Apesar de haver certa liberdade religiosa, só 
quem de fato professasse publicamente sua fé católica poderia exercer cargos 
públicos no império2. 
Nessa relação, o imperador, no caso do Brasil, como representante do 
Estado, tinha o privilégio do beneplácito, onde podiria confirmar ou anular os editos 
papais, normas canônicas ou prescrição rituais em solo brasileiro, caso ferisse a 
7 
 
 
constituição, a soberania nacional ou o poder do governante ou quando essas 
regras ultrapassassem a esfera religiosa e atingisse a esfera secular. Essa aliança 
foi confirmada na constituição de 1824, no artigo 5º, que declarava que o país tinha 
uma religião oficial: “A Religião Catholica Apostolica Romana continuará a ser a 
Religião do Império. Todas as outras religiões serão permitidas em seu culto 
doméstico, ou particular em casas para isso destinadas, sem fórma alguma 
exterior de Templo2”. Em outras palavras, até havia liberdade de culto nos lares, de 
maneira discreta, mas somente ao catolicismo era permitido o culto público. 
 
2.2. A Dissimulação religiosa brasileira 
 
Por motivo de ser a religião oficial do império e as vantagens que podia se 
obter ao declarar ser praticante do catolicismo fazia com que toda a elite brasileira e 
grande parte da população assim o fizessem, mas na prática, poucos o eram. Com a 
liberdade de interpretação das regras religiosas, a camada mais inculta da 
população praticava as religiosidades pagãs, sincréticas ou folclóricas, enquanto a 
elite estava mergulhando nos novos conceitos e ideologias que estavam emergindo 
da transição do século XVIII para o século XIV, como o iluminismo, maçonaria, 
cientificismo, positivismo, evolucionismo, materialismo, entre outras envoltas na 
filosofia liberalista que era amplamente recriminada pela Igreja, contudo aceita no 
cotidiano populacional, inclusive pelo clero. Um observador da época, Pereira 
Barreto, descreveu a situação nos seguintes termos: 
 
"O nosso clero é quase em sua totalidade deísta; toda a nossa Câmara 
atual é deísta; quase todo o Senado é deísta; o ensino oficial da filosofia 
nas academias de São Paulo, de Pernambuco, nos liceus, nos colégios, é 
exclusivamente deísta; é em uma palavra o puro deísmo que domina em 
todas as camadas mais cultas da nossa sociedade... Se descermos agora 
às camadas incultas da nossa sociedade, as quais constituem com 
segurança quatro quintos da população... excluída desses quatro quintos a 
população escrava que é totalmente fetichista, não obstante o rótulo católico 
que a cobre, resta-nos uma grande fração que vive engolfada no mais 
profundo politeísmo primitivo
7
”. (Apud BARROS; ROQUE SPENCER DE, 
1974, p.321) 
 
8 
 
 
3. O QUE LEVOU A QUESTÃO RELIGIOSA 
Todo pesquisador entende que a história não se resume a um fato isolado, 
mas a soma de diversos acontecimentos que desencadeiam um fato específico. O 
mais conhecido motivo que levou a crise Estado-Igreja é conhecidamente a 
divergência entre ambas as partes sobre a maçonaria e os eventos que se seguiram 
a isso. Entretanto existiu uma forte influência de um intelectual francês, além da 
busca aos princípios dos primórdios da doutrina cristã que culminaram e 
efervesceram durante a discórdia que se realizou. 
Vale ressaltar que apesar de cada vez mais ter alguma pequena divergência 
ou conflito entre o clero e a monarquia, não era do interesse de nenhum deles que a 
aliança existente fosse rompida. Exemplo dessas desavenças foi o criticado decreto 
3072 de 22 de abril de 1863, que interferiu no sistema de ensino dos seminários, 
que assim como todo o ensino no país até então era de responsabilidade da Igreja e 
esta tinha liberdade para gerir a educação como quisesse, e os protestos que dois 
bispos, Dom Sebastião Laranjeira e Dom Romualdo de Seixas, que se levantaram 
para censurar o uso dos templos católicos para encontros de cunho político e 
eleitoreiro, todavia sem grande reverberação12. 
Somado a esse momento delicado estava à mudança iminente da abolição da 
escravatura que o império adiou tanto quanto pode, permitindo que acontecesse 
gradualmente, primeiro com a Lei do Ventre Livre, de 1871, e a Lei dos 
Sexagenários, de 1885. Essas leis foram feitas de forma que os senhores de 
escravos eram compensados pela sua força produtiva, não causando tanto impacto 
sobre a liberação dos escravos, sendo a segunda lei muito mais favorável aos 
senhores que aos escravos7, como forma de apaziguar os ânimos já abalados pela 
Guerra do Paraguai (1864-1870) e a fragilidade na comunhão com a Igreja Católica. 
Era sem dúvida uma época de muitas mudanças ocorrendo no Brasil em curto 
espaço de tempo. 
 
3.1. O ultramontanismo 
 
9 
 
 
 A Igreja e o Estado tinham uma frágil pacificidade devido ao sincretismo 
tolerado e praticado no país. Bastava que alguém em nome da Igreja confrontasse o 
comodismo existente em busca de uma ortodoxia nas práticas religiosas para que os 
problemas surgissem. E foi exatamente o que aconteceu. Com a ascensão do papa 
Pio IX, que continuou na mesma linha em que vinha Gregório XVI, começou uma 
luta para que se voltasse ao modo de vida medieval e uma vida dedicada à 
observância e cumprimento do cânone sagrado, como uma forma de condenar e 
alertar sobre o perigo do liberalismo e da vida pecaminosa e de víciosque muitos 
levavam, defendendo que Roma deveria ter total autoridade em quaisquer assuntos, 
fosse secular ou religioso. A esse movimento se deu o nome de ultramontanismo10, 
uma menção aqueles que buscavam literalmente sua referência de fé de “além das 
montanhas”, dos Alpes, ou seja, de Roma e da pessoa do Papa, além de buscar 
viver como viviam os primeiros cristãos, seguindo os rudimentos da fé. 
Apesar de bem recebido inicialmente11, como era de se esperar que se 
acontecesse, o movimento ultramontano começou a confrontar o sincretismo 
existente. Além disso, o liberalismo que estava tendo amplo alcance naquele 
momento, inclusive entre os parlamentares, se tornava cada vez mais radical e 
buscava a instituição da república em lugar da monarquia, e principalmente a 
necessidade de separação entre a Igreja e o Estado, o que até então não era 
abertamente discutido, uma vez que a constituição vigente instituía essa unidade. O 
maçom Saldanha Marinho analisou o dilema da seguinte forma: 
 
"Em todo o Estado em que a lei política é baseada sobre a fé religiosa, a lei 
política baqueia, logo que a fé religiosa é atacada... A primeira condição, 
pois, de um tal governo é a necessidade absoluta de conservar intacta a 
força e a unidade da fé religiosa que lhe serve de base - isto é, o impossível. 
É o impossível e também pode-se dizer, o imoral, o bárbaro, e medonho 
abuso do poder! ... Seria preciso que a lei política oprimisse os espíritos, 
lhes impusesse a sua fé, de alguma sorte lhes servisse de consciência, e 
que os algozes acabassem a obra impossível a seus pregadores.... Ora, a 
lei política acha-se então entre estes dois escolhos; não pode viver mais se 
não mantém, pela força, a unidade da fé; e não pode manter essa unidade 
pela força, porque .... a lei política é, pois, apesar de todos os rigores que se 
possa imaginar, impotente para manter as crenças religiosas. Seus rigores 
podem fazer vítimas ou hipócritas, mas não farão crentes
7”. (Apud 
BARROS; ROQUE SPENCER DE, 1974, p.333) 
 
10 
 
 
3.2. Influência de Ernest Renan 
 
Já na Europa, um livro publicado em 1963 causava grande alvoroço. E essa 
agitação chegou a muitos países. A esse movimento deu-se o nome de “busca do 
Jesus histórico”, momento em que foram feitas diversas pesquisas e expedições 
para confirmar ou refutar a verdade das escrituras sagradas. O motivo de tanta 
balburdia foi “A vida de Jesus” (Vié de Jesus), publicado por Ernest Renan. Joseph 
Ernest Renan (1823 - 1892) foi um escritor, filósofo, teólogo, filólogo e historiador 
francês. Apesar de ser muito mais conhecido por sua obra “O que é uma nação?” 
(“Qu'est-ce qu'une nation?” - 1882), reconhecida por historiadores como sendo de 
grande importância no processo de formação da nação brasileira, mas que acaba 
ofuscando sua publicação de possível igual ou maior valor, que gerou grande 
impacto. A Vida de Jesus abalou a Europa e vários outros países, assim como o 
Brasil, a monarquia e a elite brasileira. No mesmo ano de seu lançamento foi 
traduzido para 10 idiomas e no ano seguinte, 1964, ganhou sua versão em 
português. Além da tradução e do original, foi publicado uma compilação da obra 
intitulada A vida de Jesus por Ernest Renan, publicada no mesmo ano da versão 
portuguesa. 
 
Por razões de economia, decerto, e no intuito de aliviar a leitura de uma 
obra original, farta em notas, o editor ou a pessoa encarregada pelo 
estabelecimento do texto adverte os leitores que, na verdade, eles 
encontrarão ali um “resumo” e a tradução dos trechos mais significativos do 
original. O que chamaríamos de infidelidade justificada do tradutor guiou as 
escolhas que o fizeram retirar a totalidade das riquíssimas e elucidativas 
notas de rodapé, dois capítulos dedicados às contextualizações históricas e 
os trechos contendo descrições do meio físico onde evoluía Jesus. O 
primeiro capítulo, redigido pelo responsável pela publicação, enaltece tanto 
os méritos quanto o método científico de um estudioso que, mesmo dando 
provas de “autoridade”, atraiu a iracúndia dos cristãos em vários países
13. 
(FERREIRA; L., 2007, p.281-282). 
 
11 
 
 
No mesmo ano que a versão portuguesa foi disponibilizada chegou ao Brasil 
às críticas ao texto, com o livro Refutação ao romance d’Ernest Renan (Examen 
critique de la vie de Jésus) do monsenhor Charles-Émile Freppel. O exemplar foi 
feito como forma de resposta, mediante a revolta do monsenhor, ou bispo, a 
exposição de ideias feita por Renan sobre Jesus, onde expunha sua concepção a 
cerca do Cristo, que este nada tinha de divino ou sobrenatural, não sendo, portanto, 
filho de Deus, contestando veracidade de seus feitos milagrosos, porém era 
inigualável como pessoa, um líder político de sabedoria única. Como repudia ao 
registro desse conceito de Renan o monsenhor Freppel escreveu obra de forma a 
impugnar as ideias que vinham sendo difundidas no cenário brasileiro, já maculado 
devido aos recentes acontecimentos e fomentado pela recente publicação sobre 
Jesus. 
Ademais de todo contextos já explicitados existem fortes indícios da influência 
direta de Renan na monarquia através de seu constante contato com o imperador 
Dom Pedro II, segundo Lídia Besouchet14 (1973). Foram inúmeras correspondências 
trocadas por ambos, visitas e até indicações mútuas para aquisição de agremiações 
e prêmios em institutos acadêmicos. Era comum que membros do IHGB trocassem 
correspondências com especialistas de diversas áreas afins, como religião, 
arqueologia, entre outros, dos quais Renan era um dos requisitados para dar seu 
parecer e ajudar nas pesquisas. No entanto há documentos, como afirma 
Besouchet, que citam que no hall de visitantes do imperador em sua viagem a Paris, 
em 1871, estava o nome de Renan. Os historiadores Lídia Besouchet e Thiago 
Rudi15 mencionam o fato de que na corte brasileira havia uma prima de Renan, 
sendo este condecorado pelo imperador com a Ordem Imperial da Rosa e em 1875, 
o imperador foi eleito para o Institut de France por indicação de Renan16. 
Romanelli, Soares e Souza dizem sobre Dom Pedro II e Renan: 
...lia obras de grandes estudiosos sobre o Oriente – como as do francês 
Ernest Renan –, discutia o assunto em cartas destinadas ao conde de 
Gobineau, ao arqueólogo e filólogo francês Olivier de Rougé, aos 
egiptólogos Auguste Mariette e Henrich Brougsch, ao próprio Orientalismo e 
tradução: a questão dos nomes próprios na tradução do livro do Hitopadeśa 
96 Dom Pedro II: Um Tradutor Imperial Renan e também ao frei Leivin de 
Hamme, responsável por guiar a corte brasileira em terras do Oriente
17. 
(ROMANELLI; SÉRGIO, SOARES; NOEMIA GUIMARÃES E SOUZA; 
ROSEANE DE, 2013, p.95) 
 
12 
 
 
Besouchet destaca também que a temática expressa na obra de Renan sobre 
a cisão entre a parte espiritual e secular e a forma que foi exposta, com argumentos 
científicos contidos na obra encontraram “na pessoa e na política do imperador um 
local de aconchegante recepção” (BESOUCHET, 1973: 331)14. 
 
3.3. A maçonaria 
 
Apesar de todos os acontecimentos referidos, é tido como rudimento da 
“Questão religiosa” que desencadeou a separação entre Estado e Igreja o dia 03 de 
março de 1872 quando na loja maçônica Grande Oriente do Vale do Lavradio, no 
Rio de Janeiro, após a aprovação da Lei do Ventre Livre, José Luís de Almeida 
Martins, que era padre, parabenizou o visconde do Rio Branco, na época grão-
mestre maçom e presidente do gabinete de Dom Pedro II, pela sua vitória política 
que resultara na promulgação da referida lei. Nada que causasse estranheza se a 
igreja não viesse a algum tempo repreendendo seus clérigos a se voltar estilo de 
vida medieval, ultramontano, que incluía abandonar a maçonaria, ameaçando com a 
excomungação aqueles que assim não o fizessem. O bispo da cidade, Dom 
Lacerda, exigiu que o padre se voltasse à obediência se afastando da maçonaria e 
dos maçons, porém, a ordenança do papade excomungar os maçons ainda não 
tinha recebido o beneplácito imperial, ou seja, ainda não vigorava em território 
nacional. Ignorando a ordem episcopal, o padre difundiu amplamente sua 
mensagem de homenagem ao visconde. A Igreja, por sua vez, suspendeu o padre 
de suas atribuições eclesiásticas. 
Vilipendiada, a maçonaria uniu seus Grandes Orientes, um sob a proteção de 
Rio Branco e outro dirigido por Saldanha Marinho, devido à presença de muitos 
maçons na elite, fez pressão no Senado e na Câmara iniciando uma batalha na 
imprensa contra a Igreja, chegando a fundar jornais que colaborassem com seu 
propósito em várias localidades do país, avidamente atacando e ofendendo o 
episcopado e o principalmente a vertente ultramontana18. 
 
13 
 
 
4. O ESFACELAMENTO DA ALIANÇA ESTADO-IGREJA 
Os acontecimentos que se seguiram foram um a um desmantelando a relação 
Estado-Igreja. O bispo de Olinda, Dom Vital de Oliveira, assumiu seu cargo já 
propagando entre os diocesanos que deviam se afastar da maçonaria, do liberalismo 
e tudo que fosse relacionado ao racionalismo, obedecendo assim à determinação 
papal. Em junho do mesmo ano, os maçons pediram que fosse realizada uma missa 
em celebração ao aniversário da fundação de uma loja maçônica. O bispo ordenou 
em particular que nenhum sacerdote católico o fizesse e a missa não foi realizada. 
Em um curto espaço de tempo, foi pedido que uma missa em memória a um maçom 
que faleceu e novamente essa missa não aconteceu. A maçonaria começou 
campanha de ataque contra a igreja e a pessoa do bispo. O bispo em resposta 
difundiu uma carta pastoral alertando seus fiéis a não se envolver com maçonaria e 
nada relacionado a ela. Agravou-se a situação quando, ao não seguir as ordens do 
bispo de exortar, sob pena de excomungar os membros maçônicos, em especial o 
Dr. Antônio da Costa Ribeiro, pertencente da irmandade do Santíssimo Sacramento, 
a irmandade se negou a fazê-lo, alegando que no Brasil e nos seus estatutos era 
permitida a maçonaria, e acabou recebendo do bispo um interdito7. A circunstância 
tomou tamanha proporção que chegou a Câmara de Deputados do Rio de Janeiro, 
trazendo a tona problemática da qual não era permitido se falar abertamente sobre 
Estado-Igreja. Não tendo acordo entre as partes, a irmandade apelou à Coroa. 
Porém, antes que houvesse uma decisão em favor de alguma das partes envolvidas, 
apareceu novo caso semelhante, dessa vez no Pará. 
O bispo dom Macedo Costa, em 1873, assim como Dom Vital, decidiu seguir 
a ordem de Roma, passando por cima da permissão no Estado, ordenando o 
afastamento de seus fiéis da maçonaria. Mais severo que o primeiro bispo, Dom 
Macedo excluiu os maçons do direito do sacramento da absolvição na hora da morte 
e do sepultamento em solo sagrado a esse fim. Mais uma vez o caso foi levado à 
Coroa. Entretanto, antes que o Estado conhecesse o caso do bispo do Pará, se 
Conselho manifestou sua decisão sobre o bispo de Olinda, dando lhe um prazo de 
trinta dias para que retirar o interdito sobre a irmandade. Não só não acatou a ordem 
recebida, como a contestou e ousadamente respondeu: "Ou o Governo do Brasil 
declara-se acatólico, ou declara-se católico... Se o Governo brasileiro é católico, não 
só não é chefe ou superior da religião católica, como até é seu súdito"19. No mesmo 
14 
 
 
dia em que recebeu o posicionamento do governo referente à sua decisão sobre o 
caso, Dom Vital recebeu a resposta de Roma em que o papa recomendava que 
fosse dado aos maçônicos um tempo, de um ano, para que se se arrependessem de 
suas práticas e se adequassem a ordem de afastamento do racionalismo e seus 
afins, voltando às práticas previstas, aceitas e aprovadas pela Igreja. Caso não 
atendessem a ordenança, poderiam ser usadas todas as medidas possíveis de 
castigo, excomunhão e afastamento dessas pessoas do convívio da comunidade 
católica. Todavia, antes que recebesse o parecer romano, Dom Vital já havia 
suspendido outras irmandades e rebelando-se contra o artigo 102 da constituição 
que vigorava a época, publicou a resposta do Papa sem o conhecimento e 
principalmente a autorização do Estado, sendo acusado por esse ato de 
desobediência, tornando a especulação sobre uma possível prisão em algo concreto 
e certo de ser feito19. 
Entrementes, passava por análise o processo do bispo do Pará, que era 
acompanhado pelo mesmo Conselho que julgou o processo do bispo de Olinda. 
Porém a situação de Dom Macedo era mais complicada pelo fato dele ter 
suspendido o funcionamento de algumas irmandades sem ao menos ter-lhes 
enviado um comunicado ou um alerta, não dando a chance de que as irmandades 
pudessem escolher entre obedecer ou não a determinação do bispo e o bispo nem 
sequer respondeu as indagações oficiais que foram feitas. Em agosto recebeu como 
prazo quinze dias para desfazer seu interdito, mas optou por ignorar a deliberação 
do Conselho do Estado e só em outubro respondeu que não podia obedecer a 
determinação sem afastar-se de sua fé católica, porque se assim o fizesse estaria 
reconhecendo que o poder civil era maior que o da Igreja e que não poderia seguir 
uma ordem que ia contra ordenanças da Santa Sé7. 
 
4.1. O ápice da questão religiosa 
 
O governo temia que os bispos servissem de exemplo e enviou o barão de 
Penedo a Roma a fim de negociar uma forma de resolver a questão antes que se 
tornasse incontrolável. Superando as expectativas ate do próprio barão, a missão de 
paz foi bem sucedida, após muitas negociações. Foi obtida uma ordem do Papa 
15 
 
 
para que o Cardeal Antonelli repreendesse os bispos e mandassem restituir as 
irmandades todos seus direitos, em troca o Papa solicitou que nenhuma medida 
severa fosse tomada contra os bispos. Infelizmente, antes que tamanha vitória 
chegasse ao conhecimento do Conselho, o que ocorreu apenas em 20 de 
dezembro, os dois bispos já haviam sido acusados formalmente de desobediência. 
Dom Vital foi preso em Recife, em janeiro de 1874, e enviado ao Rio de Janeiro para 
ser julgado. Dom Macedo foi preso abril. Ambos nada falaram em sua própria 
defesa, porém contaram com defensores que se apresentaram espontaneamente. 
Mesmo tendo excelentes defesas, o júri os condenou a quatro anos de prisão com 
trabalhos forçados, sendo, pouco tempo depois, mudadas em prisão simples. 
Essa condenação causou grande alarde não só no Brasil, mas 
internacionalmente também. Alguns defendiam a postura do júri em julgar a 
desobediência dos bispos e ainda diziam que a pena foi leve para tamanha afronta. 
Outros defendiam os bispos e recriminavam a condenação. Fato é que o acontecido 
indignou ao Vaticano, que se sentiu lesado pelo barão de Penedo, que não cumpriu 
o acordo. Dom Pedro chegou a receber uma correspondência do Papa que o 
ameaçava com o juízo divino e dizendo que "quanto mais alto estiver alguém, mais 
severo será o ajuste de contas". Com muita perspicácia política, o papa também 
disse que "Vossa Majestade... descarregou o primeiro golpe na Igreja, sem pensar 
que ele abala ao mesmo tempo os alicerces do seu trono7”. 
Devido à grande repercussão do ocorrido, o gabinete do barão de Rio Branco 
foi derrubado e o duque de Caxias foi escolhido para assumir em seu lugar, em 
1875. Este aceitou o convite para o cargo, reivindicando que se os bispos 
recebessem anistia. Atendendo a exigência do duque, aos incessantes pedidos da 
princesa Isabel, conhecida pela sua devoção católica, e pela pressão popular, Dom 
Pedro aceitou extinguir a pena dos bispos, mesmo não desejando fazê-lo. Em 
setembro de 1975 os bispos receberam a absolvição e foram recebidos em êxtase 
em suas dioceses. Em 1976 o Papa fez circular uma carta que dizia que a 
suspensão dos interditos das irmandades não significava à tolerância as práticas 
maçônicas no seio da Igreja. Terminou dizendo que em breve haveria um acerto 
entre o Vaticano e Coroa brasileira, o que nunca se consumou.O imperador esperava que com a anistia fosse colocado um ponto final a esse 
assunto, mas, longe disso, apenas atiçou os ataques, insultos e hostilidade de 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Recife
https://pt.wikipedia.org/wiki/2_de_janeiro
https://pt.wikipedia.org/wiki/1874
16 
 
 
ambos os lados, os que defendiam a Igreja e os que defendiam o Estado, além de 
deixar o poder da monarquia enfraquecido aos olhos do povo. Entretanto, ainda não 
era de interesse de nenhuma das partes envolvidas que houvesse um rompimento 
formal. 
 
5. O PRELÚDIO DA REPÚBLICA 
 
Para Luiz Eugênio Véscio20 (Apud CASTRO, GEANE DE SOUZA, 2006) a 
questão religiosa externou o desejo da sociedade de que o Estado fosse 
independente da Igreja, e aos poucos isso acabou acontecendo. O decreto de 19 de 
abril de 1879 sobre a liberdade de ensino isentou aos profissionais da educação 
pública que houvesse a necessidade de fazer um juramento professando sua fé 
católica, bem como a qualquer outro credo para que pudessem ensinar nas escolas 
primárias e secundárias. Pouco depois, em 1881, houve uma reforma eleitoral 
instituída pela Lei Saraiva que tornava elegíveis pessoas de qualquer credo 
religioso7, ainda que em 1884 haja relatos de Júlio de Castilhos chamando a atenção 
de que a questão não havia sido de todo esgotada e precisava de acompanhamento 
do legislativo21. Nesse momento, os republicanos que antes eram dissociados se 
aliaram para lutar pela imediata separação da aliança Estado-Igreja, buscando a 
plena liberdade de culto e perfeita igualdade estatutária entre todos eles, a 
separação do ensino secular do ensino religioso, a secularização dos cemitérios, a 
instituição do casamento civil e do registro civil de nascimento e óbitos, e, é claro, a 
adoção do regime republicano22. 
Os católicos em sua maioria não desejavam que houvesse uma mudança de 
regime, porém, por ocasião do beneplácito, o clero se via controlado pelo imperador 
e caso viesse a se tornar o país em uma república poderia ser uma equiparar-se a 
uma libertação da Igreja do domínio Estadista. Havia sim uma queixa no que tangia 
ao imperador reinante, todavia, no caso de permanecer a monarquia, criam que no 
governo da Princesa Isabel haveria uma oportunidade de valorização de sua fé, 
devido à devoção que esta tinha no catolicismo. Obviamente a monarquia não foi 
destituída apenas por causa da questão religiosa. 
17 
 
 
"outros ingredientes ainda seriam adicionados ao conflito, 
aumentando o grau de insatisfação e exaltando os ânimos de maçons, 
republicanos, positivistas e dos próprios militares, que, liderados pelo 
marechal Deodoro da Fonseca, derrubaram o 36º Gabinete do Império 
e proclamaram a República no dia 15 de novembro de 1889
23
". (VIEIRA; 
CÉSAR, 2006) 
Existia um tripé que sustentava a monarquia e foi um a um ruindo até que a 
monarquia não mais se sustentou e a monarquia caiu. Em primeiro lugar, a guerra 
do Paraguai deixou insatisfeitos todos os soldados envolvidos na batalha que não se 
sentiram valorizados após a guerra. Em segundo lugar a questão religiosa, que 
agregava uma aura divina ao imperador e o afastamento da Igreja para com ele 
poderia demonstrar que Deus o havia abandonado ou escolhido outra pessoa para 
governar. E em terceiro lugar a elite, em especial os senhores de escravos, que se 
voltou contra a monarquia por se sentir prejudicada por perder sua força de 
produção quando finalmente ocorreu a abolição da escravatura. 
Após a mudança de regime para república, como uma forma de se aproximar 
do governo e tentar melhorar o mal-estar que ficou com a questão religiosa, o papa 
Leão XIII saudou o novo regime e o presidente Campos Sales em 1898 dizendo: “a 
Igreja sente-se melhor hoje no Brasil com suas instituições republicanas, do que sob 
o regime decaído7”. Inevitavelmente aconteceu a separação e o catolicismo deixou 
de ser a religião oficial do Estado, gerando muita oposição do clero, uma vez que 
este perdeu benefícios como imunidade, direitos políticos dos sacerdotes cassados, 
o ensino religioso foi excluído da grade curricular das escolas públicas, a fé deixou 
de ser motivo para exclusão ou desobrigação para o cumprimento das obrigações 
civis e o salário que era pago anteriormente peala monarquia. Seus cargos antes 
desejados agora estavam carecendo de que viessem de outros países, através de 
recrutamento em larga escala, para que fossem preenchidos. Além disso, foi 
instituído o casamento civil, que assim como os registros de nascimento e óbito 
passaram a ser de responsabilidade do Estado. 
A Igreja católica também desempenhava um papel assistencial fundamental 
no Império. Com o rompimento Estado-Igreja, esse lugar essencial de assistência 
social ficou vago, sendo rapidamente preenchido por credos minoritários como o 
judaísmo e espiritismo, mas principalmente pelo protestantismo, vindo em grande 
parte dos imigrantes trazidos para ajudar a colonizar a terra, embranquecer o povo e 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Deodoro_da_Fonseca
https://pt.wikipedia.org/wiki/Proclama%C3%A7%C3%A3o_da_rep%C3%BAblica_do_Brasil
18 
 
 
servir de mão de obra em lugar dos escravos recém libertos. A questão entre 
maçonaria e o catolicismo não foi resolvida até meados no século XX20. Já entre o 
Estado e a Igreja ficou apático desde o início da República. 
Em 1920, na era Vargas, a Igreja começou a buscar novamente o status e as 
regalias que tivera outrora, defendendo que o país era católico e que a Igreja 
representava essa fé. Além disso, voltou a destacar e defender os princípios 
do ultramontanismo e a trazer à tona a conteúdo adormecido e mal resolvido sobre a 
questão religiosa. Muitos intelectuais e juntaram a causa católica, surgiram várias 
sociedades leigas que militavam esse pleito e até a elite política, mediante o 
contexto momentâneo, apoiou a ideia de uma reaproximação, visando os benefícios 
que isso poderia trazer. Destacou-se nessa fase destacou de sobremaneira o ativista 
Cardeal Leme, que em 1921 aprovou a fundação de várias associações, em 
especial uma chamada Centro Dom Vidal, com proposta conservadora e 
direitista. O Cardeal defendia que “Uma autoridade, um centro orientador, uma 
palavra de direção, uma voz de comando é necessária. Essa só pode ser a do Bispo 
a quem pôs Deus no governo de sua Igreja"24 25 . 
Na era Vargas foi quando a Igreja teve uma maior influência, desde o 
rompimento da obrigatoriedade de confissão de credo católico, nesse momento teve 
grande participação e alcançou inúmeras petições como, por exemplo, o direito de 
voto dos sacerdotes, a proibição do divórcio, a volta do ensino religioso nas escolas 
públicas, a possibilidade de subvenção de escolas católicas pelo Estado, o 
reconhecimento de efeitos civis para os matrimônios religiosos, e o direito de os 
sacerdotes servirem no Exército como capelães, que foram atendidas 
na Constituição de 193426. Contudo, como a amizade foi à base da aproximação 
entre Estado-Igreja, quando o Governo Vargas caiu e o novo regime assumiu, deu 
lugar a um crescente distanciamento entre ambos. A Igreja continuou influente, 
porém cada vez menos ligada ao Estado. Houve ainda algumas outras tentativas, 
sem ter, todavia, grande expressividade. 
 
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Div%C3%B3rcio
https://pt.wikipedia.org/wiki/Constitui%C3%A7%C3%A3o_de_1934
19 
 
 
A questão religiosa foi extremamente marcante para a Igreja Católica e para o 
Brasil. Através do presente trabalho, procurou-se relacionar fatos que ocorreram e 
contribuíram para a questão religiosa, que teve enorme importância no processo de 
mudança de regime no Brasil e que até hoje se vê sua influência na sociedade 
contemporânea. Depois do abalo na relação Estado e Igreja era inevitável a 
separação de ambos, ainda que ambos não desejassem que isso ocorresse. A 
primeira mudança que ocorreu no final do século XIX foi a mudançade mentalidade 
pela qual passou a elite nacional. Junto com os ideais iluministas, liberais, etc., 
juntamente com a publicação de Ernest Renan foram em grande parte responsáveis 
por essa mudança. 
A maior modificação se deu no padroado, assim como a Igreja confirmava a 
monarquia como escolha divina, com o afastamento gradativo dela perdeu-se a 
visão sagrada da família real. Juntando aos outros fatores aqui mencionados e a 
pressão popular, a monarquia chegou ao fim e instaurou-se a república. A Igreja 
perdeu foça, mas de maneira alguma teve sua influência anulada. Já o Estado 
ganhou força ao começar a gerir a educação e ao ser o responsável pelos registros 
de óbito, casamento, nascimento, etc., que assim permite que com essas 
informações sejam tomadas as medidas de políticas públicas necessárias além de 
tomada de decisões mais precisas mediante aos dados que estão de sua posse. 
A laicidade brasileira almejada desde a constituição de 1890 e garantida por direito 
na constituição de 1988 perante a lei é uma realidade. Porém nas práticas cotidianas 
ainda existem sequelas dos fundamentos lançados pelo catolicismo, em que muitas 
pessoas se dizem católicos quando não o são apenas para conseguir a aprovação 
que não teriam ao declarar outra fé. 
Diante disso conclui-se que a Igreja Católica teve uma participação essencial 
na formação da nação brasileira, que as influências advindas da Europa causaram 
um ambiente fértil para a busca pela laicidade, principalmente pelo sincretismo 
realizado há tanto tempo e a falta de uma base sólida de fé cristã, ainda que se 
tenha o costume de realizar algumas práticas religiosas. E que apesar de não ter 
sido planejada, essa separação foi benéfica para ambos, uma vez que a igreja tem a 
liberdade de administrar suas regras conforme desejar, ou melhor, como Roma 
determinar, enquanto o governo, que ainda hoje enfrenta problemas para dar conta 
de todas as suas responsabilidades também tem a liberdade de fazer valer suas leis 
20 
 
 
visando o bem estar de todos, sem necessidade de beneficiar uma determinada 
religião. 
 
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao24.htm#:~:text=Perpetu
o%20do%20Brasil.-,Art.,f%C3%B3rma%20alguma%20exterior%20do%20Templo. 
 
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2003, p. 205. 
 
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8. VIANA, Hélio. Estudos de História Imperial. Brasil: Editora Nacional, 1950. 
 
9. Pinto, Jefferson de Almeida. A congregação da missão e a “questão religiosa” no 
segundo reinado. XXVII Simpósio nacional de história: conhecimento histórico e 
diálogo social. ANPUH: Natal, 2013. Acessado em 05/11/2020. 
https://anpuh.org.br/uploads/anais-simposios/pdf/2019-
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10. Ultramontanismo, por T. Tackett, BELIEVE Religious Information Source (em 
português). Acessado em 06/09/2020. 
http://mb-soft.com/belive/ttc/ultramon.htm 
 
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao24.htm#:~:text=Perpetuo%20do%20Brasil.-,Art.,f%C3%B3rma%20alguma%20exterior%20do%20Templo
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http://mb-soft.com/belive/ttc/ultramon.htm
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Regional 13(2): 75-77, Inverno, 2008. 
 
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15. RUDI, T. “Ernest Renan brésilien: dos papéis que um historiador francês teve no 
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16. Cavalcante, Juliana Batista. O tema do jesus histórico na formação do estado 
Brasileiro: a recepção de Ernest Renan junto à Intelectualidade brasileira oitocentista 
à luz dos Escritos de Luiz Gama e Joaquim Nabuco. Tempos Históricos: 2019. 
Volume 23, p. 272-288. 
 
17. Dom Pedro II: um tradutor imperial / Noêmia Guimarães Soares, Rosane de 
Souza, Sergio Romanelli (org.) - - Tubarão: Ed. Copiart; Florianópolis: PGET/UFSC, 
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https://www.skoob.com.br/livro/pdf/maconaria-e-a-igreja-
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19. Monnerat, Patrícia Carvalho Santório. Festa e Conflito: Dom Antônio e Questão 
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Federal Fluminense, 2009. p. 70-71. 
 
20. Castro, Giane de Souza. "A Cruz e o Compasso: as relações entre Igreja 
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22. Bruneau, Thomas C. O Catolicismo Brasileiro em Época de Transição. São 
Paulo: Edições Loyola, 1974. p. 3. 
 
https://www.skoob.com.br/livro/pdf/maconaria-e-a-igreja-catolica/livro:344320/edicao:386317
https://www.skoob.com.br/livro/pdf/maconaria-e-a-igreja-catolica/livro:344320/edicao:386317
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23. Vieira, Cesar Romero Amaral. Protestantismo e Educação: a presença liberal 
norte americana na Reforma Caetano de Campos - 1890. Tese de Doutorado. 
Piracicaba: Unimep, 2006. p. 86-89. 
 
24. Schwartzman, Simon. "A política da Igreja e a educação: o sentido de um pacto". 
In: Religião e Sociedade, 13/1, março 1986, pp. 108-127. 
 
25. Schallenmueller, Christian Jecov. Tradição e Profecia: o pensamento político da 
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e seu contexto social e 
intelectual (1952-1964). Dissertação de Mestrado em Ciência Política. São Paulo: 
USP, 2011, pp. 21-24. 
 
26. Retirado do site da Presidência da República – Casa Civil Subchefia para 
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao34.htm 
 
 
Ferdinand Azevedo, S.J., A inesperada trajetória do ultramontanismo no brasil 
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file:///C:/Users/UPAJAR~1/AppData/Local/Temp/MicrosoftEdgeDownloads/48d70e58-68bf-4e74-b412-2f55f4f89863/1680-Texto%20do%20artigo-6117-2-10-20141219.PDF
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