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MATERIAL DIDÁTICO DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR 0800 042 0122 www.ipebras.com.br Impressão e Editoração 2 Sumário O PLANEJAMENTO NA ORGANIZAÇÃO DA PRÁTICA PEDAGÓGICA ................. 3 A didática no ensino superior: práticas e desafios ............................................ 8 DIDÁTICA: CONCEITOS FUNDANTES ...................................................... 10 PROCESSO DE APRENDIZAGEM: DESAFIOS PARA A PRÁXIS DIDÁTICA ........ 14 PRÁXIS EDUCATIVA NA PERSPECTIVA DA DIDÁTICA ................................. 20 História da didática................................................................................ 27 Desafios didáticos .............................................................................. 28 Postura do Professor .......................................................................... 30 Práticas contraditórias ......................................................................... 31 Métodos tradicionais ........................................................................... 32 Professor reflexivo e pesquisador ........................................................... 33 A Didática Moderna ............................................................................ 35 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................... 40 3 Caro aluno, essa disciplina pretende articular os conhecimentos já adquiridos no Núcleo Comum de estudos, e ampliar a discussão da práxis docente. A Didática como ferramenta e metodologia da prática docente deve ser elevada à condição de ciência máxima da docência. Leia os textos abaixo sugeridos e assista aos vídeos. Bons estudos! Disponível em: http://www.portaleducacao.com.br/pedagogia/artigos/57837/a- contribuicao- dadidatica-para-a-pratica-docente-no-ensino-superior- acessoem23/05/2016 O PLANEJAMENTO NA ORGANIZAÇÃO DA PRÁTICA PEDAGÓGICA Sobre o currículo De início, um breve sobre o currículo como a expressão dos vínculos entre a cultura e a sociedade exterior a escola e a educação; entre o conhecimento e a aprendizagem dos alunos, entre a teoria (ideias, suposições e aspirações) e a prática possível, dadas determinadas condições. Neste sentido, o currículo pode ser entendido como o caminho para o conhecimento útil ao desenvolvimento pleno do ser humano em seu meio. Entendido desta forma há, pelo menos, duas perspectivas do currículo: A perspectiva realista, na qual predomina uma visão conservadora da função social da escola/educação; uma teoria curricular e pedagógica tradicional; o conhecimento como objetos e fatos de significado fixo e, consequentemente, a cultura como algo fixo, herdado e estável. A perspectiva da construção social, na qual o currículo é local de http://www.portaleducacao.com.br/pedagogia/artigos/57837/a-contribuicao-dadidatica-para-a-pratica-docente-no-ensino-superior-acessoem23/05/2016 http://www.portaleducacao.com.br/pedagogia/artigos/57837/a-contribuicao-dadidatica-para-a-pratica-docente-no-ensino-superior-acessoem23/05/2016 http://www.portaleducacao.com.br/pedagogia/artigos/57837/a-contribuicao-dadidatica-para-a-pratica-docente-no-ensino-superior-acessoem23/05/2016 http://www.portaleducacao.com.br/pedagogia/artigos/57837/a-contribuicao-dadidatica-para-a-pratica-docente-no-ensino-superior-acessoem23/05/2016 4 construção do conhecimento, onde circulam e são produzidos os significados; o conhecimento é forma de compreender o mundo e torná-lo inteligível e a cultura é prática de significação. Os estudos curriculares têm a responsabilidade específica de analisar as diferentes concepções de currículo e suas relações com o significado das diferentes práticas educativas. As contribuições destes estudos podem ser resumidas a partir da seguinte classificação: Currículo tradicional – currículo abstrato que desenvolve saberes fragmentados, dogmáticos, prontos e acabados. Portanto, é desprovido de significado social, não desenvolvendo a consciência critica do educando. Nesta concepção de currículo o ensino é simples transmissão de conhecimento. Currículo tecnicista – currículo com ênfase excessiva no planejamento e nos elementos técnicos do processo curricular, especialmente na metodologia e nos recursos técnicos. É uma concepção curricular de natureza instrumental, voltada para a racionalização do ensino e para o uso de meios e técnicas consideradas eficazes. Currículo crítico – currículo que desenvolve saberes plurais, inacabados, contextualizados e enriquecidos com uma leitura crítica- construtiva da prática social. Articula a dimensão social e política dos conteúdos curriculares, voltando-se para a formação da consciência critica. Misto de Tradicional e Crítico – currículo com ênfase na concepção tradicional, intercalando, em momentos estanques, com assuntos de contexto social que não se articulam aos demais conteúdos trabalhados. Nessa inaceitável combinação, o que ocorre é uma pseudo-crítica. 5 Currículo contextualizado – o conhecimento é tratado de forma integrada ao contexto social provocando, se bem trabalhado, aprendizagens signifi cativas e uma relação de reciprocidade entre o educando e o objeto do conhecimento. A consonância entre a concepção curricular e a sua prática promove práticas pedagógicas que potencializam a aprendizagem, pois, a depender da concepção curricular - a qual expressa um tipo de relação com o conhecimento e com o contexto - a aprendizagem será configurada a partir destas relações. Os princípios da democracia em curso não nos permitem mais pensar currículos e posturas pedagógicas que não levem a uma gestão democrática e libertadora, onde todos se sintam protagonistas da construção do conhecimento em meio à diversidade cultural. Tais princípios e seus desdobramentos estão explícitos na Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB (Lei nº 9.394/96), no seu Art. 9º, no qual se estabelece que a União incumbirse-á de estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, competências e diretrizes para a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, que nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar formação básica comum‖. E complementa no Art. 26º que os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela. Considerando o aspecto legal, cabe à escola a elaboração de um currículo que se paute nas Diretrizes Curriculares elaboradas pelo Ministério da Educação para criar uma base nacional comum e, ao mesmo tempo, que traduza as características culturais do contexto no qual a escola está 6 inserida. Retomando nosso início de conversa, o currículo se constitui num caminho para a construção do conhecimento útil em determinada sociedade. Percebemos que o currículo não é um fim em si mesmo, um conjunto de saberes legalizados como um ―lugar ou posição a ser atingida. Ao contrário, este currículo deve ser a expressão dos sujeitos da educação no sentido de valorizar a comunidade e promover a aprendizagem contextualizada e significativa. O currículo não é fixo e nem único, pois deve ser constantemente refletido e Retomando nosso início de conversa, o currículo se constitui num caminho para a construção do conhecimento útil em determinada sociedade. Percebemos que o currículo não é um fim em si mesmo, um conjunto de saberes legalizados como um ―lugar ou posição a ser atingida. Ao contrário, Este currículo deve ser a expressão dos sujeitos da educação no sentidode valorizar a comunidade e promover a aprendizagem contextualizada e significativa. O currículo não é fixo e nem único, pois deve ser constantemente refletido e [re] construído no movimento da diversidade cultural, de acordo com o momento histórico e considerando a sua dimensão social. Embora a LDB expresse a intenção de apenas nortear os currículos e seus conteúdos mínimos, bem sabemos que as instituições escolares, ao se submeterem aos processos de avaliações nacionais (a exemplo do ENADE escolas e o IDEB), estão submetidas a cumprir um currículo o qual será objeto da avaliação para identificar a qualidade da educação a partir destas instituições. 7 Esclarecendo: ENADE Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes. Tem o objetivo de aferir o rendimento dos alunos dos cursos de graduação em relação aos conteúdos programáticos, suas habilidades e competências. IDEB Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. Criado em 2007 , é um dos indicadores da qualidade na educação. A partir deste instrumento, o Ministério da Educação traçou metas de desempenho bianuais para cada escola e cada rede até 2022. A despeito da base curricular nacional, a qual pode garantir conhecimentos reconhecidamente válidos para nossa nação, o currículo é prática de significações, de atribuições de sentidos relevantes para os grupos sociais. Portanto é dispositivo de definição de poderes, o local de luta das representações sociais e das identidades e alteridades que se produzem no interior destas práticas curriculares na perspectiva de uma educação que seja, necessariamente, multicultural como é o Brasil. Mais do que conteúdo a ser definido em grades curriculares, o currículo corresponde a uma forma de entender o ensino, a relação educativa, o saber, a experiência de aprender, a importância de escutar o outro, de contar com o trabalho do aluno, de fixar-se no importante sem desprezar o imprevisto. Uma prática aberta ao criativo, ao inesperado, no que está por ocorrer. Muitos adjetivos podem ser usados para o currículo: Flexível, crítico, multicultural ou democrático. Para além destas adjetivações, o currículo como recuperação de uma trajetória do desenvolvimento do ser humano, de uma sociedade democrática, mais igualitária e justa pressupõe não a seleção 8 de conteúdos e práticas, mas a capacidade de autogoverno coletivo das pessoas. Sendo assim, o conteúdo escolar deve ser definido a partir do cotidiano; da possibilidade de transformação do vivido; e da oportunidade de construção do conhecimento significativo. O currículo é o primeiro nível de planejamento, dado que ele expressa a proposta educativa e estabelece objetivos gerais e seus desdobramentos em objetivos específicos. É ele que orienta as ações dos vários educadores envolvidos no mesmo programa. A didática no ensino superior: práticas e desafios A expansão do ensino de nível superior tem demandado cada vez mais docentes qualificados tanto para responder às exigências conteudistas curriculares quanto para a condução pedagógica no espaço da sala de aula, constituindo-se assim num duplo desafio. Este artigo tem por objetivo discutir os aspectos da didática aplicáveis ao processo de ensino aprendizagem no nível superior, considerando-se a necessidade de ressignificação dos modelos de ensino visto que as abordagens didáticas tradicionais amiúde deixam de atender às especificidades da contemporaneidade. Desde a última década do século XX temos observado ampla expansão das instituições de nível superior que buscam suprir a demanda por profissionais cada vez mais qualificados. Somente no Brasil o número de alunos universitários quase que dobrou no período de 2001 a 2010, alcançando o notável montante de 6,5 milhões de ingressos nos cursos de graduação e 173 mil na pós-graduação, conforme demonstram os dados do Censo da Educação Superior naquele país. (MEC, 2011). 9 Esta crescente demanda pela qualificação de nível superior tem elevado a procura por docentes universitários nas mais diferentes áreas de competência. No caso específico do Brasil podem atuar no nível de ensino superior professores que tenham concluído no mínimo um curso de pós-graduação lato sensu¹ e que possuam aderência na sua formação acadêmica e/ou profissional com as disciplinas que porventura ministrarem. ¹ Pela legislação brasileira os cursos de pós-graduação são subdivididos em Stricto Sensu, destinados a formação de mestres e doutores, e Lato Sensu, cursos de especialização em determinada área do saber, com carga horária mínima de 360h. Todavia, diferente dos cursos de pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) que frequentemente incluem nos seus currículos disciplinas relacionadas com a formação docente, os cursos de pós graduação lato sensu são especializações em áreas distintas do saber que raramente oferecem qualificação pedagógica, apesar de também habilitarem seus egressos para o magistério superior. Todavia, muitos países em desenvolvimento sequer requerem que o professor universitário tenha cursado a pós-graduação, admitindo-se assim graduados que desejam lecionar apesar de não terem uma formação pedagógica que lhes auxiliem no desenvolvimento das competências necessárias para o exercício da práxis docente, induzindo os a reproduzirem em sala de aula os modelos de ensino a que foram expostos durante a sua formação nos mais diversos sistemas educativos. Acrescente-se à discussão a dinâmica da vida moderna em que os alunos do ensino superior têm amplo acesso à informação e frequentemente necessitam conciliar sua atividade de estudo com as profissionais, não admitindo aulas que lhe deixe de acrescentar valor. A queixa que observamos por parte dos alunos é que seus professores „conhecem bem a 10 matéria, mas não sabem passar‟, isto é, são especialistas e dominam o conteúdo de ensino, no entanto, deixam de utilizar as técnicas didáticas corretas para ajudá-los a compreender. Com estas ideias como pano de fundo, este artigo busca responder à seguinte pergunta problematizadora: de que forma o docente universitário pode e deve utilizar a didática como elemento facilitador do processo de ensino-aprendizagem? Nosso objetivo é discutir os aspectos da didática aplicáveis ao processo de ensino-aprendizagem no nível superior, considerando-se a necessidade de ressignificação dos modelos de ensino, visto que as abordagens didáticas tradicionais amiúde deixam de atender às especificidades da contemporaneidade. Para tanto optamos pela estratégia metodológica de uma pesquisa exploratória descritiva que utiliza como fonte de dados uma ampla pesquisa bibliográfica sobre a temática. DIDÁTICA: CONCEITOS FUNDANTES A palavra didática origina-se do grego didaktiké e tem sido usualmente traduzida por „a arte de ensinar‟. Pode-se definir didática como um conjunto de atividades organizadas pelo docente visando favorecer a construção do conhecimento pelo estudante, sem caráter normativo ou mesmo prescritivo, ajustando-se ao projeto educativo de uma sociedade. Já o didata é o profissional de ensino que tanto desenvolve como reflete sobre sua prática numa disciplina específica do conhecimento. (FIORE FERRARI; LEYMONIÉ SÁEN, 2007) Até o século XIX a didática aparece no campo da educação fundamentando-se nos estudos da filosofia, tendo-se difundido especialmente a partir do livro de Jan Amos Comenius (1592-1670) intitulado 11 „Didactica Magna‟ ou „Tratado da arte universal de ensinar tudo a todos‟, publicado em 1657. Também são relevantes as contribuições de Jean Jacques Rousseau (1712-1778), Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827), Johan Friederich Herbart (1777-1841) dentro outros autores que discutiram a temática. (GIL, 2008). Todavia, a partirdo início do século XX a didática passou a receber aportes significativos de outras ciências como a Biologia e Psicologia, impulsionando muitos movimentos de reforma escolar que admitiam a falência didática do modelo tradicional e buscavam uma educação que considerasse os aspectos psicológicos relacionados com o processo de ensino e aprendizagem. Com as ideias tecnicistas de meados do século XX, a didática assumiu um conceito instrumental que enfatizava tão somente a elaboração de planos de ensinos, elaboração de objetivos, seleção de conteúdos e técnicas de ensino, confundindo-se assim com a metodologia de ensino. (GIL, 2008; FIORE FERRARI; LEYMONIÉ SÁEN, 2007). Gil (2008) destaca que o conceito meramente instrumental da didática tem sido criticado por educadores da corrente denominada Didática crítico- social dos conteúdo, pois defendem a necessidade de se estabelecer um projeto de sociedade que contemple a educação como elemento transformador da realidade e então uma proposta pedagógica que forneça instrumentos para que o educando atue como cidadão agente de mudança. Nesta abordagem, são significativas as ideias de José Carlos Libâneo ao afirmar que, [...] não existe o aluno em geral, mas o aluno vivendo numa sociedade determinada, que faz parte de um grupo social e cultura determinado, sendo que estas circunstâncias interferem na sua capacidade de aprender [...] Um bom professor que aspira ter uma boa didática necessita aprender a cada dia como lidar com a subjetividade dos alunos, sua linguagem, sua percepções, sua prática de vida. Sem esta 12 disposição, será incapaz de colocar problemas, desafios, perguntas relacionadas com o conteúdo, condição para se conseguir uma aprendizagem significativa. (LIBÂNEO, 2001, p. 3) Corroborando com esta ideias, os autores Fiore Ferrari e Leymonié Sáen, (2007) propõem que o campo da didática compreenda um estudo de três dimensões distintas, ou seja, o estudante, os saberes culturais e o docente. O estudo de cada uma destas dimensões ajudanos a conhecer melhor os processos de aprendizagem dos estudantes e os de ensino do docente, atentando-se para os obstáculos, propondo soluções de aprendizagem para transpô- los e promover a apropriação dos saberes culturais. Conforme demonstra a figura 1, numa situação didática o docente possui conhecimentos e habilidades que lhe dão competências para atuar com base num contrato didático. A forma de ensinar está cada vez mais voltada para as necessidades e realidades vivenciadas pelos alunos, de acordo com sua comunidade e meio social. Mas a ação do professor precisa estar embasada também em fins pedagógicos de amplitude, pois trabalhar somente o meio social do aluno pode significar que a intenção da escola é aprisioná-lo numa realidade limitada, onde o mesmo não poderia ser nada além do que previsto por ela. Somente o meio social do aluno significa prepará-lo não só para a comunidade na qual vive, mas para todo o meio social. 13 O triângulo didático proposto por Fiore Ferrari e Leymonié Sáen (2007) na figura 1 considera elementos que se relacionam intrinsecamente. Nos vértices do triângulo temos: a) os saberes culturais que representa os conceitos teóricos daquela área do conhecimento; b) no vértice discentes verificamos as distintas estratégias de aprendizagem, a psicologia de quem aprende, suas concepções prévias, condicionadas num modelo sócio cultural; c) no polo docente, percebemos os modelos de ensino, o projeto das atividades, a psicosociologia dos professores condicionados pela instituição e o contexto em que ensina. 14 No nível da sala de aula e conforme evidenciado na figura 1, os autores supracitados propõem o contrato didático, isto é, um acordo geralmente implícito que regula a ação didática, compreendendo o que o docente espera de seu grupo e o que os discentes esperam do docente. Trata-se do conjunto de expectativas do processo de ensino e aprendizagem, abordando-se o que é importante para os estudantes e para o docente. Não obstante toda a evolução observada nos conceitos fundantes da didática, muitos docentes universitários não valorizam a sua importância; deveras, neste nível de ensino as práticas didáticas são reduzidas a aulas expositivas (mais ou menos dialogadas) e o professor aprende a ensinar pela tentativa e erro. O docente normalmente incentiva a memorização dos conteúdos e utiliza a prova escrita e o „dar notas‟ como instrumento de autoridade; quanto aos discentes, só lhe restam colocar-se na posição de meros ouvintes, quais seres sem luz, à espera que os professores deem suas aulas e termine logo a agonia do período letivo. Quantos equívocos! (LOWMAN, 2004; FIORE FERRARI; LEYMONIÉ SÁEN, 2007; GIL, 2008) PROCESSO DE APRENDIZAGEM: DESAFIOS PARA A PRÁXIS DIDÁTICA Compreender como ocorre o processo de aprendizagem é crucial se havemos de obter êxito nas estratégias de transposição didática. Não obstante, o conceito de aprendizagem encontra-se entre um dos mais difusos e controversos, pois no decorrer do tempo tem recebido influências de diferentes doutrinas filosóficas e psicológicas, bem como do próprio patamar em que se encontra o conhecimento científico. (REBOLLO; SCAFO, 1994). Assim, mesmo considerando-se o risco de simplificar o conceito em demasia, por estar inserido num complexo e dinâmico campo interdisciplinar, pode-se buscar os indícios para a sua fundamentação através das 15 proposições de Mizukami (1986 apud GIL, 2008) que apresenta pelo menos cinco abordagens distintas para explicar o processo de aprendizagem e suas consequentes proposições didáticas, a saber, tradicional, comportamentalista, humanista, cognitivista e sociocultural que discutiremos adiante. Na abordagem tradicional o processo de aprendizagem é centrado no professor que transmite os conteúdos para os alunos que por sua vez devem assimilar passivamente as informações. Visto que a característica principal é o ato de transmitir ou transferir valores, Freire (2007) qualifica este método como educação bancária, ou seja, o educador deposita paulatinamente as informações na cabeça de seus alunos, como se estes fossem uma conta corrente num banco e supostamente depositários de todo o conhecimento a que é exposto. A prática da didática na abordagem tradicional resume-se em aulas expositivas ministradas pelo professor especialista e na consequente memorização dos conteúdos pelos alunos, cabendo ao docente a tarefa de verificar se os conteúdos transmitidos em sala de aula foram reproduzidos rigorosamente em seus poucos instrumentos de avaliação de aprendizagens. Embora tais conceitos tradicionais não se coadunem com as concepções da contemporaneidade, infelizmente ainda percebemos que é frequentemente assumida por professores universitários na condução de sua práxis docente, visto que tendem a reproduzir os métodos tradicionais a que foram submetidos durante a sua própria formação acadêmica. (FREIRE, 2007; GIL, 2008). Na abordagem comportamentalista ou behaviorista a aprendizagem é fruto da experiência, como resposta aos estímulos do docente que modela ou reforça o comportamento desejado. De acordo com Sezanowith (2008) é no século XX que o comportamentalismo tem o seu ápice, especialmente entre as décadas de 20 e 50, com os estudos de Pavlov, Watson, Guthrie e Skinner. A teoria behaviorista visualiza a mente humana como uma „caixa preta‟ em que as respostas aos estímulos são mensuradas 16 quantitativamente, ignorando-se a possibilidade de um processo. Também propõe que os comportamentos humanos são determinados pelas condições do meio, ou seja, no tocante à aprendizagem o estudante é um ser passivo que reage aos estímulos do meio, através da associação do estímulo- resposta; assim,nesta abordagem o elemento principal da aprendizagem são os estímulos do ambiente e não o próprio sujeito, uma vez que ao se manipular as condições do meio ambiente gera-se mudanças nos educandos. (SANTO, 2008) No tocante a prática didática, a abordagem comportamentalista pressupõe que o docente seja o responsável pela instrução programada visto que parte do princípio que o ser humano, como produto do meio, pode ser manipulado ou controlado e o papel do professor é manter este controle, independente da interação do aluno. (Gil, 2008) Trata-se do modelo de professor técnico muito comum nas instituições técnicas profissionalizantes em que a formação ocorre pela aprendizagem imitativa; o instrutor é um prático experiente e estabelece o modelo, pois domina as competências técnicas. (PERRENOUD, 2000). Na tipologia de Mizukami (1986 apud GIL, 2008)) outra abordagem que busca explicar a aprendizagem é o cognitivismo, fundamentado nas teorias da reestruturação que concebem a aprendizagem como uma mudança, não automática nem tampouco mecânica, antes implica que aquele que aprende tenha consciência de seus próprios saberes, sendo capaz de refletir sobre eles dando-lhes novos significados a partir dos conceitos atuais. Ausubel (1998) na dedicatória de seu livro resume o conceito ao afirmar que se fosse possível reduzir toda a psicologia educativa num único princípio, este seria que o fator mais importante e que exerce forte influência na aprendizagem é a constatação que o aluno já sabe e a partir disso ensiná-lo adequadamente. Um dos mais destacados teóricos da abordagem construtivista foi 17 Jean Piaget (1896- 1980), com trabalhos que abrangem diversas áreas como Ciência, Zoologia, Psicologia, Filosofia e Epistemologia. No modelo piagetiano de funcionamento cognitivo, o conceito de adaptação se apresenta sob dois aspectos simultâneos e complementares, a saber, a assimilação e acomodação. A assimilação relaciona-se com o processo em que o sujeito interpreta a informação proveniente do meio em função de suas próprias estruturas mentais internas; todavia é necessário um processo complementar denominado por Piaget por acomodação, em que os conceitos e idéias se adaptam às características reais do mundo. O processo de acomodação não somente explica a tendência dos esquemas e conhecimentos humanos se adequarem à realidade, como também esclarece as mudanças de tais esquemas quando a adequação não ocorre, pois se os esquemas são insuficientes para assimilar uma situação torna-se necessário alterá-los a fim de adaptá-los às características da situação. Cabe observar que a acomodação também supõe uma prévia assimilação ou reinterpretarão dos conhecimentos anteriores em função dos novos esquemas construídos, modificando assim toda a estrutura conceitual anterior. (POZO, 2002). Diante do exposto, percebe-se que os processos de assimilação e acomodação propostos por Piaget são complementares, baseando-se numa tendência de crescente equilíbrio entre si. Quanto maior o equilíbrio entre acomodação e assimilação menor será o fracasso decorrente de uma interpretação errônea, contudo, somente a partir dos desequilíbrios surge a aprendizagem no campo cognitivo (Santo, 2008). Como bem expressa Flavell pela teoria piagetiana “la mente construye sus estructuras de conocimiento tomando datos del mundo exterior, interpretándolos, transformandólos y reorganizandólos [...]” (1996, p. 16 apud FERRARI; LEYMONIÉ SÁENZ, 2007, p. 70) Quais são os impactos na práxis didática da teoria cognitivista? Gil (2008) nos ajuda a compreender que nesta abordagem o ensino deve basear- se na instigação constante por parte do docente, impulsionando os 18 estudantes na busca das respostas e solução dos problemas e não meramente na memorização de fórmulas e definições. A estratégia de ensino é ajudar o aluno no desenvolvimento de um pensamento crítico e autônomo, com ações mediadoras do processo de aprendizagem visando ajudá-los a estabelecer as relações entre os conteúdos e possibilitar entre a interação entre o novo conhecimento formulado e as estruturas cognitivas já existentes. Deveras um desafio para docentes que buscam o aprendizado significativo de seus alunos e não meramente que memorizem o conteúdo! Todavia, uma concepção comumente equivocada da abordagem construtivista é que os docentes nunca devem dizer nada aos seus estudantes, antes permitir que construam o conhecimento por si mesmo. Devemos lembrar que o aluno não é o único responsável pelo aprendizado, pois necessita da ajuda de alguém que detenha algum conhecimento para instigá- lo nesta direção, sem contudo abandoná-lo nesta trajetória. Bransford, Brown e Cocking (2007) admitem que “[...] os professores ainda precisam prestar atenção às interpretações dos alunos e fornecer orientação quando necessário.” (p.20) Adicionalmente Pires de Almeida (2005) pontua que “[...] ser professor, na era do conhecimento, é ser um gestor: líder, motivador, pesquisador, questionador, inovador, criativo, equilibrado emocionalmente, humilde e ecologicamente consciente [...]”. (p.17) Outra abordagem interacionista que busca explicar a aprendizagem é o enfoque sociocultural que atribui ênfase especial ao sujeito como autor e criador de seu próprio conhecimento. Nesta perspectiva, o ser humano qual ser sujeito integrado ao seu contexto é capaz de refletir sobre este e evoluir rumo a uma consciência mais crítica. Desta maneira, as ações educativas devem promover o ser humano e não ajustá-lo à ordem social existente. O principal expoente desta corrente é o brasileiro Paulo Freire que defende a educação problematizadora como 19 ferramenta para a superação da relação opressor e oprimido. (GIL, 2008; FREIRE, 2007) O enfoque sociocultural da aprendizagem preconiza uma abordagem didática de ensino fundamentado na dialogicidade como instrumento que impulsiona o crescimento tanto do educando quanto do educador. Assim, nesta abordagem a aprendizagem não ocorre pela transmissão de conteúdos programados, mas pela transformação e questionamento contínuo da realidade (GIL, 2008). O próprio Freire (2007) resume a práxis didática apropriada para este enfoque ao afirmar que “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar a possibilidade para a sua própria produção ou construção” (p. 22). Ao utilizar o termo construção, Freire estabelece inequivocamente sua proposta colocando educador e educando como parceiros na implementação do dinâmico processo de ensino e aprendizagem. Ao refletirmos sobre as diversas abordagens que buscam explicar o processo de aprendizagem verificamos quantos equívocos os docentes universitários têm frequentemente cometido na sua práxis pedagógica. É evidente que boa parte destes professores aprendeu o oficio no dia-a- dia com raras oportunidades de cursos, seminários ou reuniões esclarecedoras sobre a didática; resultando assim numa visão ultrapassada sobre o processo de aprendizagem e a perpetuação de aulas expositivas maçantes e pouco instigativas. Todavia, ressaltamos que muitos professores do ensino superior estão atentos às novas concepções de aprendizagem e têm se adaptado às inovações pedagógicas, não obstante a atitude conservadora de tantos outros. (FIORE FERRARI, LEYMONIÉ SÁEN, 2007; GIL, 2008) 20 PRÁXIS EDUCATIVA NA PERSPECTIVA DA DIDÁTICA Certamente, a prática didática como já foi mencionada anteriormente, necessita ser vivenciada pelos educadores e não somente descrita como importante instrumento pedagógico que norteia a educação nos projetos políticos pedagógicos das instituições de ensino, desta forma, compreendemos que a utilização da didática assim como suas adequações na sociedade do conhecimento é uma condição sine qua non para a garantia de uma educação deexcelência. Vivenciamos hoje ampla discussão acadêmica em relação ao surgimento da Andragogia que vem se apresentando como a área do conhecimento responsável pelo processo de ensino e aprendizagem dos adultos em adição à pedagogia que discute estas mesmas questões, porém relacionado-as ao universo da criança. Gil (2008) aponta que com a popularização das ideias de Malcom Knowles em seu livro The Modern Practice of Adult education, publicado em 1970, a terminologia Andragogia tem sido utilizada para referir-se a arte de orientar adultos a aprender, ainda que não tenhamos um consenso na literatura, pois alguns preferem chamá-la de pedagogia de adultos ou, no caso do ensino superior, pedagogia universitária. Numa perspectiva Andragógica ou da pedagogia de adultos, a prática docente deve fundamentar-se em cinco princípios básicos, a saber: a) conceito de aprendente: o adulto é responsável pela sua aprendizagem com plena capacidade de auto desenvolvimento; b) necessidade de conhecer: os adultos sabem de sua necessidade de conhecimento e como colocá-lo em prática é o fator decisivo para seu comprometimento; 21 c) motivação para aprender: as motivações externas como incremento salarial, promoções, boas notas são importantes, todavia, as motivações internas tais como vontade pessoais de crescimento, autoestima, autoconfiança são mais relevantes e decisivas para o aprendizado do adulto; d) o papel da experiência: as experiências prévias são decisivas para a disposição para o aprendizado do adulto. Os recursos didáticos pedagógicos não são garantia para que se consiga despertar o interesse do aprendiz, antes devem ser considerados como fontes opcionais colocadas à livre disposição do aluno adulto; e) prontidão para aprender: o estudante adulto é pragmático, pois está pronto para aprender aquilo que decide, razão pela qual se nega a aprender o que lhe é imposto. Ademais, sua atenção diminui quando não percebe aplicação imediata do conhecimento e está pronto para aprender o que decide aprender. (LIMA, 2006; GIL, 2008) Outro fator da aprendizagem de adultos que influencia diretamente na prática da didática é a sua reduzida capacidade de retenção e concentração. A nossa experiência docente tem revelado que os estudantes adultos são capazes de lembrar por mais tempo aquilo que e ouvem, vêm e fazem neste mesmo período. Neste sentido, é necessário estabelecer metodologias didáticas de ensino que contemplem diversas técnicas instigativas de ensino, em contraposição à clássica aula expositiva como única técnica. “O professor precisa produzir o mel que alimenta e dá prazer, que atrai que mantém os alunos atentos”. ( PERISSÉ, 2004, p. 30) Oportunas são as reflexões adicionais de Perissé (2004) ao afirmar que, Para fazer com que alguém preste atenção em mim preciso ser um estímulo suficientemente interessante. Para que alguém concentre sua atividade psíquica sobre mim, professor, e, ouvindo-me consiga fixar-se nas minhas palavras, nos meus gestos, consiga definir e selecionar percepções, 22 absorver conceitos [...] para que tal concentração aconteça, preciso desdobrar-me. Só assim conquistarei a atenção de meus alunos, seja essa atenção espontânea ou voluntária, despertando neles o processo intelectivo, afetivo e volitivo. (PERISSÉ, 2004, p. 45, grifo nosso). Não obstante, a maioria dos docentes universitários ainda planejam suas aulas para serem realizadas na tradicional estrutura do modelo de sala de aula, negando a possibilidade da interação e associação das novas tecnologias da educação para uma prática educativa eficiente e positiva no contexto da realidade acadêmica. Morin (2006) afirma contundentemente que os alunos já não mais aceitam essa postura e cobram um processo de aprendizagem mais dinâmico, rápido e eficiente, condizente com os princípios andragógicos supracitados. Desta forma, o nosso desafio quais docentes é pensar em uma aula que atenda essas necessidades muitas vezes imediatistas e conteudistas dos alunos sem perder de vista os objetivos de aprendizagem propostos no contrato didático. Diante do exposto, é oportuno relembrar as ideias de Freire (2007) ao apontar a relação de mão dupla, onde o professor, que além de ensinante, também aprende no processo de ensino e aprendizagem. Assim, torna-se mister a necessidade constante da reflexão docente no que diz respeito a sua arte de ensino a fim de propor movimentos emancipatório e pedagógicos para a formação de um aprendizado que respeite as especificidades dos adultos. Para a ratificação dessa relação apontada por Freire (2007) se constitui com elementos primordiais a compreensão da utilização da didática como instrumento da prática docente, a seriedade na construção dos planos de aula, compromisso na interação com os discentes, a necessidade da formação contínua e a quebra a superioridade da pesquisa em detrimento do ensino e da extensão, práticas comuns na educação brasileira. Desta forma, percebemos que um dos grandes desafios e, 23 sobretudo, oportunidades para uma aprendizagem significativa é transformar a aula em um espaço coletivo e privilegiado que permita não mais a mera transmissão de informações, mas sim a construção de saberes e debates acerca de questões inerentes aos seus estudos e as suas vivencias. A compreensão dessa temática pode ser relacionada ao Relatório Internacional sobre a Educação para o Século XXI, exposto por Jaques Delors em 1999 ao apresentar os quatros pilares para a educação, a saber: o aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser, sustentáculos das novas propostas educativas nos mais diversos níveis de ensino ao redor do mundo, pois tais pilares convidam os educadores a uma mudança significativa e conceitual no que se refere à construção de habilidades e competências. (DELORS, 2006). Todavia, não podemos deixar de abordar algumas questões de extrema relevância no que se refere à necessidade da didática no processo da construção do conhecimento. Como avaliar no processo ensino e aprendizagem dos adultos? Como mensurar o processo de ensino e de aprendizagem em nossas instituições de ensino superior se o tradicionalismo ainda é uma constante neste universo? Tais questões são um calcanhar de Aquiles para os educadores e coordenadores de departamentos das universidades que têm dificuldades para implementar práticas que respondam os desafios da contemporaneidade. Contudo, é notória a insatisfação dos alunos ao se depararem com instrumentos de avaliação desatualizados e excessivamente conteudistas que os impede de socializar suas construções acerca da disciplina estudada, assim como responder com seriedade questões da sua futura prática profissional. Com base nestas discussões, apresentamos abaixo algumas recomendações didáticas que podem ser implementadas com êxito, visando alavancar o processo de ensino e aprendizagem em adultos, a saber: a. elaborar um diagnóstico das necessidades e expectativas dos estudantes. 24 Esta avaliação diagnóstica prévia visa adequar todo o planejamento de ensino aos anseios dos alunos, considerando-se que seus desejos e experiências são decisivas para o desencadeamento do processo cognitivo da aprendizagem; b. definir claramente com os alunos os objetivos e planejamento das atividades e seus respectivos contratos didáticos para que a aprendizagem seja orientada pela tarefa ou na resolução de problemas. Devemos lembrar que os adultos são pragmáticos no tocante à sua aprendizagem e desejam saber para onde estão sendo conduzidos; c. selecionar conteúdos significativos para os estudantes. A Avaliação diagnóstica poderá nos fornecer valiosas pistas sobre os interesses dos alunos, assim podemos utilizar tais feedbacks na busca de conteúdos adicionaisque tenham relação direta ou indireta com as discussões conteudísticas e sejam de interesse e relevante para o grupo; d. estabelecer um clima amigável cooperativo e informal que propicie a aprendizagem significativa. A utilização de técnicas de oratória são muito úteis para nos ajudar a captar e manter a atenção do aluno adulto que rapidamente se dispersa; e. promover projetos de investigação científica conjunto com os alunos. Além de promover o aprendizado no âmbito da sala de aula, tais projetos ajudam a despertar o interesse pela pesquisa e, ao incentivar a apresentação dos resultados conseguidos em eventos científicos da área, propiciamos nos estudantes o desenvolvimento das competências essenciais do saber aprender; f. valorizar a discussão e solução dos problemas em grupo. Muitas técnicas de ensino foram elaboradas para serem utilizadas pelos docentes como ferramentas otimizadoras da dinâmica resultante dos grupos e vale a pena 25 utilizá-las no dia-a-dia das aulas. Adicionalmente as discussões em grupo possibilitam o desenvolvimento e aprimoramento das competências relacionadas com o aprender a conviver, indispensáveis para todos os aspectos da vida em sociedade; g. fazer da avaliação uma prática constante visando obter o feedback quanto a eficácia do processo de ensino e aprendizagem. A avaliação como componente do ato pedagógico deve ser realizada rotineiramente e não tão somente nos períodos estabelecidos nos calendários acadêmicos; assim sugerimos utilização de diversos instrumentos para a avaliação das aprendizagens dos alunos. (LOWMAN, 2004; PIRES DE ALMEIDA, 2005; GIL, 2008; LUCKESI, 2011) Certamente a didática aplicada no ensino superior apresenta muitos desafios, especialmente quando consideramos a pouca qualificação do docente universitário nas questões pedagógicas e a incipiente contribuição que as faculdades de pedagogia oferecem nesta área. Ademais, as especificidades de aprendizagem relacionadas com o estudante adulto nos induzem a constantemente refletir sobre a nossa própria eficácia didática enquanto arte de ensino. Não obstante as dificuldades que se apresentam, o docente universitário tem à sua frente excelentes oportunidades para buscar qualificar-se qual professor reflexivo que na concepção de Perrenoud (2001) é a chave da profissionalização do ofício. Ao analisarmos os conceitos que balizam a compreensão da didática, percebemos a necessidade de constante reflexão desta temática para a inserção de uma práxis que seja coerente com o projeto educativo proposto pela sociedade em que estamos inseridos. Infelizmente ainda temos instituições que seguem, ainda que não 26 declaradamente, os preceitos da pedagogia tradicional, centrados na figura do professor e que pouco incentiva a interação entre aluno, professor e conhecimento. Cabe ao docente reflexivo compreender o estágio de desenvolvimento da instituição de ensino em que está inserido e realizar ações didáticas condizentes, buscando paulatinamente impulsionar uma melhoria nos processos de ensino e aprendizagem. Esta análise também evidenciou que a compreensão dos processos de aprendizagem do estudante são cruciais para que os docentes desenvolvam estratégias didáticas apropriadas. A compreensão da abordagem interacionista e seus processos na construção do conhecimento induz o docente a atuar qual mediador que deve ser capaz estabelecer o contrato didático e fazer a transposição entre os saberes sociais, estabelecidos nos conteúdos de ensino, e os alunos no exato espaço da aula. Todavia, não podemos ignorar que esta tríade formada pelo aluno, professor e conhecimento é complementada pela retroalimentação fornecida pelos processos avaliativos visto que estes fornecem valiosos inputs para a práxis didática Nesta perspectiva é fundamental que o professor busque uma metodologia de ensino que contemple os aspectos relacionados com a educação de adultos, considerando-se suas peculiaridades relacionadas com as maneiras como aprende. Assim, são relevantes para a prática didática os princípios resultantes da moderna Andragogia ou Pedagogia de adultos/universitária, pois fornecem direcionamentos para a condução de um processo de aprendizagem significativo para o adulto. Podemos afirmar que o docente universitário pode e deve utilizar a 27 didática como elemento facilitador do processo de ensino aprendizagem desde que adote uma postura dialógica subsidiada por técnicas de ensino instigadoras e facilitadoras para a construção do conhecimento, em contraposição ao ensino incentivador da memorização e recheado de autoritarismo. Deveras, os docentes universitários têm a sua frente excelentes oportunidades para desenvolvimento de competências que lhes auxiliem neste desafio. Certamente que não tivemos a pretensão de encerrar esta discussão, pois a didática no ensino superior necessita ser constantemente revisitada visando à reinvenção das nossas práticas docentes. Sugerimos como tópicos de continuidade desta investigação a análise de técnicas de ensino que sejam condizentes com os processos interacionistas de aprendizagem dos adultos, bem como a realização de pesquisas de campo que busquem verificar in loco a sua aplicabilidade. História da didática A história da didática surge das ações de Comênio (1592-1670), que tinha como objetivo reformar a escola e o ensino. Esse termo deriva do grego, cuja significação é “arte de ensinar”. O fundamento da didática magna de Comênio era ensinar tudo a todos, deixando a formação de um homem ideal em segundo plano. Práticas e desafios sobre a forma de ensinar estão cada vez mais voltados para as necessidades e realidades vivenciadas pelos alunos, de acordo com sua comunidade e meio social. Mas a ação do professor precisa estar embasada também em fins pedagógicos de amplitude, pois trabalhar somente o meio social do aluno pode significar que a intenção da escola é aprisioná-lo numa realidade limitada, onde o mesmo não poderia ser nada 28 além do que previsto por ela. É de fundamental importância trabalhar técnicas voltadas à realidade e meio social em que o aluno está inserido, porém não se deve focar somente nesse contexto, engessando a sua aprendizagem de forma a torná- lo limitado em sua comunidade ou meio social. Diante desses pressupostos, o fazer didático que deve ser aplicado, é o que possibilitará a reflexão em relação a cada situação de aprendizagem, partindo da realidade em que professor e aluno estão inseridos e expandindo essa aprendizagem para outras realidades e meios sociais, para que o discente detenha as variadas formas de vivência e habilidades. Os desafios e práticas docentes devem ser exercidos além de uma simples renovação pedagógica de novas formas de ensinar e aprender. Isso remete a superação da visão instrumental didática, em direção a uma didática fundamental. Disponível em: http://www.itpac.br/arquivos/Revista/43/5.pdf- Texto debate o Tradicional e o Moderno em Didática. Desafios didáticos Saber lidar com alunos em sala de aula, manter a harmonia no ambiente, concentração nas disciplinas ministradas e assimilação dos conteúdos são uma tarefa desafiadora para o professor. Isso por que a globalização, acompanhada da tecnologia, traz um envolvimento de distração ao discente em relação às atividades em sala de aula. http://www.itpac.br/arquivos/Revista/43/5.pdf- 29 Mas como agir diante de tamanho desafio? De acordo Içami Tiba (2006), a aula deve ser como uma boa refeição, capaz de despertar o paladar, tem de ser saborosa, ter um cheiro atraente, que mesmo sem estar com fome, irá fazer o aluno querer provar, transformando essa degustação em algo inesquecível e saboroso. Do contrário, uma refeição malpreparada e desagradável ao olhar, faz com que o indivíduo não sinta vontade de comer, mesmo que esteja com fome, pode até provar, mas logo deixará de lado por não ser agradável. Diante disso, cabe ao professor buscar as ferramentas adequadas para atrair a atenção do aluno, despertando nele a vontade de aprender e continuar aprendendo. Os equipamentos audiovisuais auxiliam muito nesse caso, no entanto, não são suficientes. O planejamento, a metodologia, o diálogo, são essenciais para o sucesso da aula. Outra forma de atrair o aluno a participar dessa dialética ensino/aprendizagem é envolvê-lo na aula, perguntando sobre assuntos anteriores, fatos ocorridos na aula passada, falas colocadas em ênfase e argumentos convincentes ou não. Estimular nos alunos o desejo de assistir as próximas aulas, já antecipando algo interessante é fundamental, pois serve como aperitivo, despertando nele a vontade de participar da próxima discussão. Disponível em: https://youtu.be/seiw4gwsfYA-acesso23/05/2016 - Vídeo Prof. Mário Cortella – https://youtu.be/seiw4gwsfYA-acesso23/05/2016 30 Postura do Professor A postura do professor na sala de aula Estar aberto a indagações, questionamentos, à curiosidade dos alunos, faz do professor um ser que ensina, respeita, e não um ser que só transfere conhecimento. Segundo Freire (2006), o educador já não é apenas o que educa, mas o que , enquanto educa, é educado, em diálogo com o educando que, ao ser educado, também educa. Nesse sentido, pode-se afirmar que a postura do professor na sala de aula deve ser democrática, de respeito mútuo e de flexibilidade em relação ao ponto de vista do aluno, sabendo associar sua mediação ao conhecimento dos discentes, ampliando esse conhecimento de forma a somar com o já adquirido pelo aluno no meio social em que vive. É importante saber qual é a visão do aluno em relação a um determinado assunto, pois é dessa forma que o professor mediador constituirá um caminho para ampliar esse ponto de vista ou até mesmo reverter essa ideia que poderá ser equivocada. Impor-se na sala de aula, como se fosse o detentor do conhecimento e o “dono do saber ou da razão”, não é o melhor caminho. O professor que age de forma imperativa, sem diálogo, sem ouvir as justificativas dos discentes, está influenciando-o a perder o interesse pela a aula. Sabe-se que há professores de postura imperativa e grotesca, onde quer mostrar para o aluno que ele é quem manda na sala de aula, deixando o aluno privado de aprender sobre determinado assunto por conta de um ou dois minutos de atraso, na maioria das vezes ele nem começou a apresentar o conteúdo e nem fez a chamada, mas mesmo assim, não permite a entrada do aluno na sala, alegando que se o mesmo tivesse interesse, estaria ali presente desde o início. 31 Práticas contraditórias Disponível em: https://youtu.be/msEmUDGYAzs-acessoem23/05/2016 Na educação básica de ensino a postura do professor está voltada para uma forma de diálogo e de mediação. O aluno deve participar das aulas, tendo em vista que o docente ali presente não é o detentor do conhecimento e que a sua presença na aula é uma forma de incentivar o discente a desenvolver ou despertar o interesse pelos conteúdos e colocá-los em prática. Contudo, ao ingressar no ensino superior, a realidade é diferenciada da vivida por ele na educação básica. A forma de mediação dos assuntos desenvolvidos na sala de aula passa a responsabilizá-lo com mais ênfase, a cobrança por conhecimento de assuntos específicos são constantes, fazendo com que o aluno busque em tempo mínimo ao que era acostumado, a desenvolver hábitos e compromisso com a leitura. O problema é que se ele não está engajado nesse tipo de cobrança desde a educação básica, acabará abandonando a escola e não obtendo êxito de conclusão dos estudos. O fato relevante é que ainda há um enorme abismo em relação à didática aplicada no ensino básico para o ensino superior, dificultando o desempenho de alunos que não tiveram ensino de qualidade na educação básica ou que estudaram de forma muito restrita em relação aos conteúdos e métodos de ensino. Diante desse pressuposto, podese dizer que a maneira como a maioria dos alunos de escolas públicas chega ao ensino superior não lhes dão condições que acompanhar de forma eficaz os métodos de ensino do professor, pois infelizmente a didática aplicada por muitos desses docentes ainda tem muito do tradicionalismo. Não se afirma aqui que isso seja o principal problema da aprendizagem, mas que pode se tornar um grande problema quando a educação básica desse aluno foi aplicada com métodos opostos, mesmo que parcialmente, ao dos professores do ensino superior. https://youtu.be/msEmUDGYAzs-acessoem23/05/2016 32 Métodos tradicionais Disponível em: https://youtu.be/YR5ApYxkU-U-acessoem23/05/2016 - Clipe Pink Floyd – Another Brick In The wall. O método tradicional de ensino surgiu no século XVIII, a partir do Iluminismo. Tinha como principal objetivo expandir o acesso ao conhecimento. Esse método possui um modelo firmado e certa resistência para aceitar inovações. As escolas que adotam métodos tradicionais acreditam que a formação de um aluno criativo e crítico dependem da bagagem de informações adquiridas e de conhecimentos consolidados por eles. O professor é o transmissor e detentor do conhecimento e mantém certa distância do aluno, deixando-o como um ser passivo na sala de aula. As avaliações são periódicas, envolvendo provas com a função de “medir” a capacidade individual dos discentes, onde o quantitativo prevalece sobre o qualitativo. Pode-se afirmar que os métodos utilizados no ensino superior são parcialmente aplicados de forma tradicional, mesmo envolvendo um pouco de inovação como o uso de equipamentos tecnológicos, mas a postura de professores em relação à forma de avaliar, ainda provém muito do “medir” conhecimento. Segundo Mizukami (2001), na abordagem tradicional o aluno apenas executa prescrições que lhe são fixadas por autoridades exteriores; é instruído e ensinado pelo professor. Dessa forma a inteligência é concebida pelo acúmulo de informações. Os métodos tradicionais têm como objetivo a transmissão de conteúdos definidos, onde a variedade e a quantidade de noções, conceitos e informações prevaleçam sobre a formação do pensamento reflexivo. https://youtu.be/YR5ApYxkU-U-acessoem23/05/2016 33 Professor reflexivo e pesquisador https://youtu.be/outmfB7-hzI-acessoem23/05/2016 - Vídeo da Profa. Selma Garrido – PUC Santos Refletir significa pensar excessivamente, meditar sobre algo. O professor reflexivo é aquele que medita, pensa o seu fazer pedagógico e seus conceitos didáticos. Segundo CADAU(2000) [...] o educador nunca estará definitivamente “pronto”, formado, pois que sua preparação, sua maturação se faz no dia a dia, na mediação teórica sobre sua prática. A sua constante atualização se fará pela reflexão diurna sobre os dados de sua prática. Os âmbitos do conhecimento que lhe servem de base não deverão ser facetadas, estanques e isoladas de tratamento do seu objeto de ação: a educação. Mas serão, sim, formas de ver e compreender globalmente, na totalidade, o seu objeto de ação. (CADAU, 2000, p.89) A necessidade do professor repensar sua prática pedagógica é fundamental para a construção do conhecimento e problematização de hipóteses. O professor reflexivo vai além dos muros da escola, pesquisa, inova e transforma. Aplicar métodos inovadores na didática do ensino superior, como pesquisas voltadas para o meio social, partindo de sua realidade e abrangendo essas pesquisas para uma amplitude, desenvolverá no aluno uma capacidade crítica e reflexiva dos conteúdos assimilados. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante disso, cabeao professor buscar as ferramentas adequadas para atrair a atenção do aluno, despertando nele a vontade de aprender e continuar aprendendo. Os equipamentos audiovisuais auxiliam muito nesse caso, no entanto, não são suficientes. https://youtu.be/outmfB7-hzI-acessoem23/05/2016 34 O planejamento, a metodologia, o diálogo, são essenciais para o sucesso da aula. Estar aberto a indagações, questionamentos, à curiosidade dos alunos, faz do professor um ser que ensina, respeita, e não um ser que só transfere conhecimento, a ação do professor precisa estar embasada também em fins pedagógicos de amplitude, pois trabalhar somente o meio social do aluno pode significar que a intenção da escola é aprisioná-lo numa realidade limitada, onde o mesmo não poderia ser nada além do que previsto por ela. É de fundamental importância trabalhar técnicas voltadas à realidade e meio social em que o aluno está inserido, porém não se deve focar somente nesse contexto, engessando a sua aprendizagem de forma a torná- lo limitado em sua comunidade ou meio social. A aula deve ser atraente, planejada, participativa e acolhedora, pois avaliar o aluno através de métodos tradicionais pode lavá-lo ao fracasso, “medi-lo” por acúmulo de conteúdos supostamente armazenados não irá transformá-lo num ser crítico e reflexivo, mas transformá-lo em um ser mecanizado, robótico, onde o professor fala e o aluno na sua passividade acumula o que foi falado e armazena na mente para transmitir a outros da mesma maneira que foi transmitido a ele. É importante que seja construída uma visão crítica sobre a metodologia no processo de ensino- aprendizagem, conduzindo a pensar na necessidade da capacidade do professor em refletir em favor de uma metodologia que seja atrativa e interessante. Dessa forma, Zabala (1998) afirma que: As atividades de ensino devem promover aprendizagens mais significativas e funcionais possíveis, que tenham sentido e desencadeiem uma atitude favorável para realizá-las, que permitam o maior número de relações entre os distintos conteúdos, que constituam estruturas de conhecimento, por um lado. Por outro, devem facilitar a compreensão de uma realidade que nunca se apresenta compartimentada (p.186). Portanto, a didática do ensino superior traz práticas e desafios, onde 35 se faz necessário o desenvolvimento de ambientes de ensino- aprendizagem com condições para o desenvolvimento da autonomia dos sujeitos, levando- os a aprender de forma crítica e reflexiva. É importante também que o professor assuma a função de criar situações para momentos de questionamentos, desacomodações, propiciando situações de desafios a serem vencidos pelos alunos, para que possam construir conhecimentos e aprender além do seu meio social, com amplitude de conhecimentos onde não se sintam engessados à realidade fora do seu cotidiano. A Didática Moderna Na história da didática, também ocorreram momentos em que a importância do aprender predominou sobre o ensinar. O momento inicial deste predomínio dá-se com Rousseau, no século XVIII, para, em seguida, ser amplamente desenvolvido pelo movimento da Escola Nova, no século XX. A ênfase no “ser que aprende”, como paradigma para o ensino superior, altera o papel dos participantes do processo: “ao aprendiz cabe o papel central de sujeito que exerce as ações necessárias para que aconteça sua aprendizagem”. (MASETTO, 2003). A partir desta perspectiva, pergunta-se: Com quem se aprende? Com o professor. Este, porém, deixa de ser sujeito do processo de ensino aprendizagem. Torna-se “apenas um orientador e organizador das situações de ensino”. (PIMENTA; ANASTASIOU, 2005). O professor, hoje, é aquele que ensina o aluno a aprender e a ensinar a outrem o que aprendeu. · Elemento incentivador, orientador e controlador da aprendizagem. Porém, não se trata aqui de um ensinar 36 passivo, mas de um ensinar ativo, no qual o aluno é sujeito da ação, e não sujeito-paciente. Em última instância, fica evidente que o professor, agora, é o formador e, como tal, precisa ser autodidata, integrador, comunicador, questionador, criativo, colaborador, eficiente, flexível, gerador de conhecimento, difusor de informação e comprometido com as mudanças desta nova era. Segundo Vasconcelos (2000), para o professor tornar efetiva: A sua atuação profissional enquanto docente, não há como ignorar o fato de que o centro de toda e qualquer ação didático pedagógica está sempre no aluno e, mais precisamente, na aprendizagem que esse aluno venha a realizar. No desempenho adequado do papel do professor, o que não se pode deixar de cumprir são as funções inerentes ao exercício de uma docência produtiva. O professor, agora, tem o papel de coordenar as atividades, perceber como cada aluno se desenvolve e propor situações de aprendizagens significativas. Torna-se um orientador que remove obstáculos à aprendizagem, localiza e trabalha as dificuldades do aluno. Elabora aulas a partir das necessidades geradas e da interação acadêmico-professor, em sala de aula. Cabe a ele, como mediador dos saberes, dominar a estrutura dos conteúdos, construir a sua estrutura do saber e do saber fazer, de forma organizada, clara e significativa, e ver seus alunos sob outra perspectiva, bem como o trabalho conjunto entre colegas, que favorece também a ação do outro. Além de pensar na elaboração de aulas diferentes, o professor deve contextualizá- las incluindo-as em um planejamento de curso mais dinâmico e completo, fornecendo informação coerente e de forma clara e progressiva. De acordo com Gil, (2005): a preparação do professor universitário, no Brasil, é ainda bastante precária. 37 A maioria dos professores brasileiros, que lecionam em estabelecimentos de ensino superior, não passou por qualquer processo sistemático de formação pedagógica. Porém, esse cenário vem, aos poucos, sendo mudado. Há estabelecimentos de ensino superior isolados oferecendo cada vez mais cursos de Metodologia do Ensino Superior, em nível de especialização, para que o professor seja o elo entre o aprender e ensinar. O professor tem que se adaptar ao meio e tentar transmitir sua didática, partindo de um princípio onde o meio em que o aluno vive deve ser levado em conta, assim buscando sua cultura e sua realidade. Daí então o professor começa a apresentar para o aluno o mundo que ele não conhece (CANDAU, 1999). Na escola de hoje, o professor é um facilitador. Está mais próximo de seus alunos e aberto ao diálogo. Ele é o organizador do espaço da sala de aula, o conhecedor dos objetivos e dos conteúdos da disciplina. É o responsável pela escolha das técnicas mais adequadas para o correto desenvolvimento dos trabalhos didáticos. É o planejador das atividades discentes em sala. É o avaliador constante de todo esse processo. O professor, ao lançar um conhecimento novo, é aquele que, no início da aula, conversa com seus alunos, contextualiza o conteúdo a ser ensinado, dá muitos exemplos, questiona, instiga, enfim, seduz. Só então, juntamente com o aluno constrói o texto da matéria trabalhada, observando os caminhos que essa interação traçou. Como mediador do conhecimento, o professor tem a difícil missão de canalizar as informações necessárias para que os educandos possam apreender os conteúdos interdisciplinares que o ensino os oferece. Logo, o professor precisa se adaptar a realidade de seus educandos instigando o interesse de seus alunos pelas aulas. DIAZ BORDENAVE (2008), afirma: O professor moderno, responsável por sua função, solícito, inteligente, que todos queremos ter em nossas universidades, é aquele que cada dia está ensinando a seus alunos o caminho da biblioteca. O papel do professor será, então, o de desafiar, 38 estimular, ajudar os alunos na construção de uma relaçãocom o objeto de aprendizagem que, em algum nível, atenda a necessidade dos mesmos, auxiliando-os a tomar consciência das necessidades socialmente existentes numa formação universitária. Ser professor hoje (Gadotti, 2004) é viver intensamente o seu tempo, com consciência e sensibilidade. Não se pode imaginar um futuro para a humanidade sem professor. Eles não só transformam a informação em conhecimento e em consciência crítica, mas também formam pessoas. Eles fazem fluir o saber, porque constroem sentido para a vida dos seres humanos e para a humanidade, e buscam, numa visão emancipadora, um mundo mais humanizado, mais produtivo e mais saudável para a coletividade. Por isso eles são imprescindíveis. Nesta descrição do que deva ser o professor do século XXI, não tem mais espaço para professores donos de um saber, mas sós aqueles que tenham a humildade de ser também eles aprendizes e a única diferença que os separa de seus alunos é que eles professores são profissionais do ensino e por isso comprometidos com o aprender e o ensinar. Na escola de hoje, o foco muda de direção e o aluno passa a ser considerado o centro do processo de ensino-aprendizagem. De acordo com esse posicionamento, pode-se levantar a seguinte questão? Quem aprende? O aluno. Colaborador, participativo, ele, ao dominar solidamente os conteúdos que lhe são apresentados, percebe-se determinado e capaz de operar conscientemente mudanças na realidade. Busca informações, aprende a localizá-las, analisá-las. Relaciona estas novas informações com os conhecimentos anteriores, dando-lhes significado próprio. Redefine conclusões. Observa situações de campo e as registra. Trabalha com esses dados e procura 39 solucionar certos problemas. O aluno assume, agora, um papel explicitamente ativo. A aplicação da didática moderna tem possibilitado a formação de alunos que ultrapassam as barreiras da mera assimilação de conteúdos. São sujeitos mais críticos, opinativos, investigativos. A inserção do diálogo, em sala de aula, contribuiu em muito para a constituição de tal situação, visto que, nele, dá-se prioridade à forma como o aluno aprende, enfatizando a construção do conhecimento a partir das relações com a realidade. Um objetivo educacional é, na verdade, a tradução concreta para o aqui e o agora, para uma determinada situação, da finalidade da educação, ou seja, da promoção humana. De fato, tem-se argumentado que um objetivo fornecerá ao professor e ao estudante “alguma direção envolvendo o conteúdo e o processo mental que se espera que o aluno desenvolva” (BLOOM, 1963). É possível inferir que a didática tradicional, centrada na preocupação com o “ensinar”, continua predominando nas práticas pedagógicas do ensino superior, apesar do notável avanço da didática moderna, centrada na preocupação com a “aprendizagem”. Esta última, porém, tem seu desenvolvimento brecado por diversos entraves, dentre os quais, pode-se citar a influência de preconceitos pedagógicos tradicionais, a precária formação dos futuros docentes e as exigências, sobretudo quantitativas, do sistema educacional vigente, principalmente o brasileiro. Apesar disso, percebe-se que muitos docentes, de nível superior, preocupados com a aprendizagem de seus alunos, vêm inovando suas práticas, tornando suas aulas diferenciadas. São esses profissionais que, talvez, expressem melhor o grande desafio da educação superior atual: a constante inovação. 40 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CADAU, Vera Maria. Reinventar a escola. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000 FREIRE, Paulo. 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